domingo, fevereiro 21, 2021

ESPANHA NA CORDA BAMBA

 É da natureza da Espanha viver perigosamente. A sua situação normal é à beira do abismo. Actualmente tem um governo formado por dois partidos em coligação. Um deles precisa de manter a ordem pública, sob pena de tudo desabar e lhe cair em cima, e o outro precisa de apoiar a desordem da rua, porque as suas hostes não lhe permitem outra atitude.

Podia pensar-se que o governo está por dias, dada a incompatibilidade e a guerrilha constante entre os parceiros, e até pode acontecer que a corda se parta. Mas não é fácil. O PSOE está farto do Podemos e animado com as sondagens, mas teme avançar para eleições e a seguir apesar dos bons resultados precisar novamente de negociar com os mesmos (os bons resultados quase certos não são a maioria absoluta). O Podemos sabe que tem que ser fiel ao seu revolucionarismo congénito, sob pena de se esboroar a base, mas também sabe que em eleições antecipadas ficaria a perder. E as benesses do poder não são nada para deitar fora.


Assim, mesmo detestando-se é provável que se esforcem por aguentar o arranjinho.
Do lado direito não se perfila uma solução viável que permita a governabilidade. Se as eleições fossem agora o conjunto dos três partidos que contam nessa área talvez atingisse 40% dos votos, divididos pelos três. Se demorarem mais tempo, e a manter-se a tendência actual, é muito provável a modificação do equilíbrio entre os três. Mas os três somados provavelmente ficarão no mesmo patamar.
Só poderá alguma vez alterar-se esta situação se a direita conseguir captar o eleitorado da esquerda, o que a meu ver só poderia ser tentado pelo VOX, com muito mais vocação popular, já que o PP e o Ciudadanos não têm essa apetência (podia aproveitar neste ponto para dizer que em Portugal o mesmo se passa, e que o Chega deve dedicar-se a conquistar o eleitorado popular que tem sido abandonado para a esquerda e que agora se sente abandonado pela esquerda, mas espero que os meus leitores entendam isso mesmo sem eu dizer nada).
Voltando a Espanha, de momento, tanto quanto se alcança, não há solução. Estes não conseguem governar, e os outros ainda menos.