domingo, fevereiro 28, 2021

FALEMOS ENTÃO DO MRPP

 Um tema curioso a explorar seria o impulso policial que sempre esteve presente no MRPP. Depois do 25 de Abril são conhecidos os episódios dos sequestros e perseguições por parte do MRPP, inclusivamente com prisões particulares (o que implicou organizar gente e casas secretas já como um embrião de polícia política). Os relatos vindos a público sobre Marcelino da Mata e os restantes dessa ocasião são uma afloração disso (lembro o Conselheiro Agostinho Veloso e seu filho, mais tarde Professor José António Velozo). Mas não se julgue que a obsessão persecutória virada contra os "fascistas" em 74 e 75 era limitada a esse combate "anti-fascista". Desde o início a preocupação de policiar estava também virada contra os seus próprios membros. Daí os acontecimentos ocorridos quando das dissidências, e a violência que assumiram. Insere-se nisso o episódio recentemente recordado de Maio de 76 em que o dirigente Fernando Rosas comandou uns capangas de pistola em punho no assalto às casas de uns dissidentes, com o respectivo espancamento, para lhes retirar o espólio que diziam pertencer ao partido (a questão do arquivo fotográfico do fotógrafo Eduardo Miranda tem a ver com isto, as notícias não explicavam). Quem tiver memória pode lembrar-se daquilo a que chegaram os combates entre a "gloriosa linha vermelha" do "grande educador do proletariado" Arnaldo Matos contra a excomungada "linha negra" do "renegado Saldanha Sanches". Mas deve dizer-se que a purga muito mais recente contra Garcia Pereira, ainda comandada por Arnaldo Matos, assumiu contornos verbais muito semelhantes (neste caso parece que só verbais). Porém, parece-me acertado observar que o impulso policiesco e terrorista esteve sempre presente no movimento, logo nos anos iniciais, antes do 25 de Abril (e não se trata só da Ana Gomes..) Como algo significativo, deu-me para reparar na quantidade de militantes da primeira vaga, como Ana Gomes, que na altura de normalizar as suas vidas ingressaram no Ministério Público, onde fizeram excelente carreira. Assim de repente e só de memória: Maria José Morgado, Dulce Rocha, Lucília Franco (agora PGR), Carlos Morgadinho Gago (marido da actual PGR), Liliana Palhinha, Aurora Rodrigues, Teresa Almeida ... Outro pormenor interessante, é a transição de outros para o universo jornalístico. O que sempre assegurou uma excelente cobertura para as carreiras de uns e outros.