segunda-feira, março 15, 2021

A importância de uma mudança cultural


 A candidata a governar Madrid pelo PP, partido que desempenha em Espanha sensivelmente a mesma função do nosso PSD, pode emitir esta proclamação desafiadora: quanto te chamam fascista é porque estás a agir bem! Repare-se que se o faz é porque pensa que esta postura lhe traz vantagens políticas. Parece-me essencial sublinhar este facto, que implica uma enorme mudança ao nível das estruturas mentais generalizadas. Em Portugal um político que fizesse esta declaração seria trucidado no espaço público e na arena política, sem hipóteses de se levantar. Fosse quem fosse. Em Espanha isto já é possível. O antifascismo está tão gasto e desacreditado e as pessoas estão tão fartas dele que já é vantajoso usá-lo para obter o efeito contrário. É a cabeça de lista do PP, não é do VOX nem de nenhum grupelho extraparlamentar. Note-se que em Espanha nada é fácil para a direita, ao contrário do que se poderia precipitadamente pensar. Mas a direita já conseguiu esta libertação da linguagem e das mentalidades, este romper dos diques e dos bloqueios que desequilibravam todo o combate político. Esta desinibição é fundamental. Temos que trabalhar muito em Portugal para alcançar esta ausência de condicionamentos. No dia em que a banalização dos termos e a normalização dos conceitos permitir simplesmente encolher os ombros e passar à frente com um sorriso perante a acusação de fascista (sim, e daí?) estará consumada uma relevantíssima alteração da cultura política das massas.