terça-feira, março 09, 2021

BOCAGE E O POLITICAMENTE CORRECTO


Em tempos a esquerda literária parecia gostar muito de Bocage. Ficava fascinada pela liberdade, e mesmo a libertinagem, atribuídos ao poeta.

Agora, perante as modas ditadas pelo politicamente correcto, não sei como será. Com efeito, com os critérios hoje vulgarizados, o grande poeta sadino não se safa do banimento. 

Lendo toda a poesia erótica e satírica ressalta um insuportável machismo, ultramachismo. A cada passo ele mostra e diz para que servem as mulheres, na vertente mais utilitária e pragmática. Soma-se que para além do machismo sofria de indisfarçado racismo. Basta ler as repetidas investidas contra Caldas Barbosa, apelidado de "neto da rainha Ginga", ou os gozados versos ao preto Ribeiro, o garanhão setubalense. E mesmo na homofobia se distinguiu o Elmano Sadino: até no início da Ribeirada brinca com o deus Príapo, que segundo ele era fanchono e aproveitou o sono do preto Ribeiro para, guloso, lhe agarrar o mangalho.

Coitado do Manuel Maria, parece-me irrecuperável. Branco, machista, racista e homofóbico. É muito divertido este exercício, de calcular até onde as modas podem chegar.