CHEGA? OU NÃO CHEGA?
Não costumo fazer aqui análises sobre partidos e movimentos políticos concretos porque em regra os leitores que lhes são afectos reagem como se lhes cuspissem na sopa ou batessem na mãe.
Por mais objectivos e serenos que tentemos ser, o resultado é sempre esse. E assim não há análise que valha a pena.
Hoje vou abrir uma breve excepção e partilhar algumas reflexões sobre o CHEGA e o futuro.
Antes do mais, impõe-se dizer que o futuro ninguém o conhece - e por isso quem quiser acertar nas previsões é melhor esperar e fazê-las depois.
Navegamos pois num mar de incertezas. Mas o que podemos esperar do novo partido político CHEGA?
Como se pode observar na restante Europa, existe potencial para uma efectiva implantação no mapa político nacional, com um papel fulcral nos desenvolvimentos do nosso xadrez político.
Que isso não é um perigo para coisa nenhuma, no que ao essencial do regime diz respeito, também parece óbvio. Nem o CHEGA nem os seus congéneres apresentam qualquer perigo para os regimes onde se movimentam, nem pretendem isso. Só os histéricos propagandistas da esquerda precisam de agitar esse espantalho, por conveniência própria.
Dito isto, que se refere a um potencial, é preciso dizer também que o Chega é ainda uma criança, e vai ter que sofrer muito.
Da mesma forma que nas eleições mais recentes causou um clamor generalizado sobre o seu crescimento (clamor de alarme para uns, clamor de euforia para outros) também tem que contar com os momentos em que o clamor geral vai ser no sentido contrário, que o Chega sofreu uma pesada derrota, que afinal se esvaziou tão depressa como cresceu, que dificilmente sobreviverá, etc.
Serão essas provações a ditar o seu futuro, e não apenas o potencial. Serão os seus militantes capazes de enfrentar e superar esses testes?
Não sei. Por vezes tenho a sensação que o deslumbramento fácil, a falta de experiência política, mesmo a falta de preparação, de mistura com alguma instabilidade psicológica, podem perfeitamente fazer perigar o que já alcançaram.
E por outro lado resta por conhecer a própria solidez e consistência do líder, que em grande medida continua a aparecer como um homem só (confesso que para mim o AV continua a ser um desconhecido e uma incógnita, não sei o que ele vale e parece-me que os verdadeiros testes ainda estão para vir).
Pensemos nas próximas eleições autárquicas. Entre as diversas eleições são as piores para o Chega. São aquelas em que mais conta a falta de organização e implantação a nível local, que os partidos instalados possuem por força de um mundo de ligações já antigo, por mais em crise que se apresentem.
As eleições autárquicas têm tudo para representar um momento espinhoso na trajectória do Chega, muito provavelmente uma derrota no caminho.
Se o contrário acontecer, será uma enorme surpresa. Uma vitória, no jogo das probabilidades.
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