sábado, abril 17, 2021

PÉROLAS DE CULTURA


No longínquo ano de 2004 o boletim "Participacção", do Bloco de Esquerda, publicou um artigo de António Inácio Andrioli onde se podia ler:
"O problema, do ponto de vista do conjunto dos trabalhadores, é que uma maior produção de mercadorias por parte dos actuais empregados, tende a aumentar os desempregados, contribuindo para uma maior oferta da mercadoria trabalho, o que por sua vez, tende a diminuir o seu valor no mercado".
Por outras palavras, a tese defendida significa que se aumentar a produtividade aumentará o desemprego, uma vez que poucos conseguirão produzir o que poderia ser feito por muitos, e então havendo mais desempregados o preço da mão de obra desce, logo os que tiverem emprego também ganharão cada vez menos, coexistindo elevado nível de desemprego e baixos salários...
A proposta implícita, fácil de entender, contrapunha-se aos que apelavam para a necessidade de ganhos de produtividade: quem tiver emprego deve trabalhar o menos que puder, para gerar a necessidade de mais empregados, diminuir a quantidade de mão de obra disponível no mercado de trabalho, consequentemente fazer subir o preço do factor trabalho, e então ficar toda a gente a ganhar, com muito mais emprego e muito mais bem pago...
Em termos simples, a solução dos problemas económicos e sociais está em trabalhar poucochinho.
(E não se coloca a hipótese de com essa estratégia em breve prazo as empresas falirem em catadupa, e depois nem produção, nem emprego, nem salário...)
Lembrei-me disso hoje ao ler o título da notícia do Expresso sobre uma entrevista à socióloga Sílvia de Almeida, professora da FCSH, uma das coordenadoras de um estudo sobre a "segregação dos alunos de origem imigrante".
Diz a senhora:
“Enquanto a classe média e alta conseguir escolher a escola onde inscreve os filhos continuará a existir segregação”.
Nem mais. Enquanto não nivelarmos tudo por baixo a destruição tem que continuar.