segunda-feira, outubro 31, 2005

O que a vida mostra e o que ela esconde

Há dez dias publiquei umas notas avulsas onde dava conta de algumas movimentações previsíveis relacionadas com a substituição de Souto Moura como Procurador-Geral da República.
Recordo agora que apesar de o assunto por força das circunstâncias ter ficado em banho-maria, adiado para momento oportuno, não perdeu actualidade e sobretudo não perdeu a importância crucial que lhe atribuí nos meus citados escritos.
Saliento aliás, imodestamente, que o referido artiguelho merecia mais atenção do que a que obteve, e convido os leitores a nova leitura.
Hoje de manhã logo me ressaltou essa ideia, ao ver a peça mais destacada do matutino "Público".
Saliento que não possuo informação que me permita perceber em todo o seu alcance o que está subjacente ao trabalho do "Público", nomeadamente quem estará por detrás da peça jornalística em questão e quais os alvos verdadeiros e os objectivos reais que se pretendem atingir.
Aparentemente, trata-se de artilharia pesada direccionada contra Souto Moura.
Todavia, a verdade é que o caminho normal da substituição deste é o que traz menos custos políticos, e o tempo aproxima-se, com naturalidade, pelo que usar mais esforços para queimar o homem se apresenta algo desnecessário - ele não será reconduzido.
As guerras de bastidores centram-se sim na substituição, tal como deixei explicado no outro artigo. E pensando assim talvez se entenda melhor todo o destaque do "Público" de hoje sobre o caso Fátima Felgueiras e o MP.
Com efeito, depois da edição de hoje do "Público", e possivelmente de outras peças de reforço já em preparação, será muito difícil nomear José Luís Lopes da Mota para Procurador-Geral da República. Ora há indicações sérias de que era isso que estava na mente de Sócrates, ou pelo menos suspeitava-se disso em muitos círculos.
Querem lá ver que Sócrates está também entre os alvos do "Público"?
Na verdade, o jornal nunca diz o nome da pessoa de quem fala, ao referir o alto dignitário do MP que terá protegido Fátima Felgueiras, diferentemente do que faz em relação a todas as outras pessoas a que se refere. Mas quase afixa a fotografia, ao mencionar que é o representante actual de Portugal no Eurojust em Bruxelas, ou que foi Secretário de Estado da Justiça de Guterres.
Estou em crer que o "Público" também sabe perfeitamente que Lopes da Mota goza há muito de apreciável intimidade com Sócrates, e que a mulher de Lopes da Mota foi chefe de gabinete de Sócrates, e que há pouco tempo houve reuniões privadas e discretas entre Sócrates e Lopes da Mota (Negociações? Sobre Felgueiras ou sobre a PGR? Será que o "Público" virá esclarecer?).
Esta matéria ficou guardada para próximas edições?
O que me parece certo é que vai marcando pontos o partido dos que têm como ponto inegociável do seu programa aproveitar a substituição de Souto de Moura para colocar à frente do MP um "político de reconhecido mérito" - e não um Procurador-Geral Adjunto, ainda que de indiscutível fidelidade política.