O OUTRO MAIO DE 68
(Na sequência dos depoimentos sobre o Maio de 68 de Christian Bouchet, Dimitrij Grieb, Alain de Benoist, e Bruno Gollnisch, , publico hoje um texto de Maria José Nogueira Pinto. É já um belo dossier sobre o tema. O Maio de 68 visto da Direita).
A "revolução inexistente" de Maio de 68, que há 40 anos e agora muita tinta e pouco sangue (graças a Deus) fez correr, teve nas suas comemorações por cá aquele lado já nostálgico mas também branqueador com que a esquerda fundamentalista sempre celebra e embeleza os seus mitos.
A bem dizer, recordando esses dias de Maio, que aqui pudemos seguir nos jornais e na RTP dos últimos meses do salazarismo (Salazar deixaria o poder por doença quatro meses depois), para além da espectacularidade das ruas do Quartier Latin em fogo, das batalhas campais dos estudantes contra polícias, da greve geral de sete milhões de trabalhadores com ocupação de fábricas, poucas vezes uma rebelião, no seu curto e médio prazo, pelo menos, terá tido efeitos tão perversos para os seus promotores.
Recordemos. Na noite de 24 de Maio, mais ou menos três semanas depois do início dos tumultos, a violência atinge o seu paroxismo com o ataque, com cocktails Molotov a um Comissariado de Polícia, na Place du Panthéon, no 5ème Arrondissement. Cercados, com a esquadra a arder, os agentes põem a questão e pedem autorização superior de abrir fogo para se libertarem. Os CRS (Compagnies Républicaines de Sécurité) chegam a tempo de dispersar os atacantes e de os livrar. E nessa noite, em Paris e em Lyon, ocorrem os dois primeiros mortos desta revolução até aí sem sangue.
No dia seguinte, a opinião pública virou e começa a condenar os "revolucionários". Georges Pompidou, o mal-amado primeiro-ministro de De Gaulle, põe em marcha a sua estratégia. Já percebeu que os comunistas e a CGT, enfeudadíssimos à linha de Moscovo e de Breznev, não querem criar problemas à França gaullista, que joga no antiamericanismo e terceiro-mundismo, critica a política de Washington no Vietname e perturba a unidade da NATO.
Pompidou avança assim para as negociações sociais com os sindicatos, que não querem confusões com os estudantes, com os "filhos da burguesia" e com as suas proposições de retórica maoísta e radical. Pompidou está a preparar o terreno, através de um jovem secretário de Estado que depois dará que falar - Jacques Chirac. É na Rue de Grenelle que tudo se passa. Estão lá as grandes centrais sindicais - a GGT comunista de Séguy, a CFDT. As reivindicações concretas - aumento do salário mínimo, alargamento dos direitos sindicais, abertura à famosa participação, avançam rapidamente nesse fim-de-semana de 25, 26 de Maio. Os comunistas não se querem deixar ultrapassar pelos socialistas e esquerdistas; na segunda-feira, 27, de madrugada, chega-se a um acordo.
A esquerda parlamentar, com Pierre Mendès-France e François Mitterrand, procurou repescar a crise; mas hesitou na táctica, entre a linha próxima dos esquerdistas e a estrita legalidade, e deixou-se ultrapassar.
O Governo, no fundo, passada a surpresa, fez uma gestão controlada dos medos e indignações da classe média. Depois dos Acordos de Grenelle, que desmobilizavam os sindicatos na via revolucionária, apesar de as ocupações das fábricas só irem terminar em meados de Junho, era a hora da iniciativa.
De Gaulle partiu para a Alemanha em 29 de Maio, para se encontrar com Massu e com os comandantes do Exército do Reno em Baden-Baden e pedir o seu apoio em caso de confrontação. A troco - que lhe foi exigido - da libertação dos oficiais ainda presos por causa da Argélia Francesa, recebeu o apoio dos militares. Com esta segurança voltou a Paris e a 30 de Maio, às quatro da tarde, falou à Nação com aquela voz profunda, solene, histórica, de militar da velha guarda. Que não se ia embora, que conservava o primeiro-ministro, que dissolvia a Assembleia Nacional. Que o povo decidisse.
Estava a acabar o seu discurso, uma gigantesca manifestação das "direitas unidas" e dos gaullistas saía para as ruas de Paris. Semanas depois eram as eleições e a esquerda conhecia uma derrota espectacular.
A "revolução inexistente" de Maio de 68, que há 40 anos e agora muita tinta e pouco sangue (graças a Deus) fez correr, teve nas suas comemorações por cá aquele lado já nostálgico mas também branqueador com que a esquerda fundamentalista sempre celebra e embeleza os seus mitos.
A bem dizer, recordando esses dias de Maio, que aqui pudemos seguir nos jornais e na RTP dos últimos meses do salazarismo (Salazar deixaria o poder por doença quatro meses depois), para além da espectacularidade das ruas do Quartier Latin em fogo, das batalhas campais dos estudantes contra polícias, da greve geral de sete milhões de trabalhadores com ocupação de fábricas, poucas vezes uma rebelião, no seu curto e médio prazo, pelo menos, terá tido efeitos tão perversos para os seus promotores.
Recordemos. Na noite de 24 de Maio, mais ou menos três semanas depois do início dos tumultos, a violência atinge o seu paroxismo com o ataque, com cocktails Molotov a um Comissariado de Polícia, na Place du Panthéon, no 5ème Arrondissement. Cercados, com a esquadra a arder, os agentes põem a questão e pedem autorização superior de abrir fogo para se libertarem. Os CRS (Compagnies Républicaines de Sécurité) chegam a tempo de dispersar os atacantes e de os livrar. E nessa noite, em Paris e em Lyon, ocorrem os dois primeiros mortos desta revolução até aí sem sangue.
No dia seguinte, a opinião pública virou e começa a condenar os "revolucionários". Georges Pompidou, o mal-amado primeiro-ministro de De Gaulle, põe em marcha a sua estratégia. Já percebeu que os comunistas e a CGT, enfeudadíssimos à linha de Moscovo e de Breznev, não querem criar problemas à França gaullista, que joga no antiamericanismo e terceiro-mundismo, critica a política de Washington no Vietname e perturba a unidade da NATO.
Pompidou avança assim para as negociações sociais com os sindicatos, que não querem confusões com os estudantes, com os "filhos da burguesia" e com as suas proposições de retórica maoísta e radical. Pompidou está a preparar o terreno, através de um jovem secretário de Estado que depois dará que falar - Jacques Chirac. É na Rue de Grenelle que tudo se passa. Estão lá as grandes centrais sindicais - a GGT comunista de Séguy, a CFDT. As reivindicações concretas - aumento do salário mínimo, alargamento dos direitos sindicais, abertura à famosa participação, avançam rapidamente nesse fim-de-semana de 25, 26 de Maio. Os comunistas não se querem deixar ultrapassar pelos socialistas e esquerdistas; na segunda-feira, 27, de madrugada, chega-se a um acordo.
A esquerda parlamentar, com Pierre Mendès-France e François Mitterrand, procurou repescar a crise; mas hesitou na táctica, entre a linha próxima dos esquerdistas e a estrita legalidade, e deixou-se ultrapassar.
O Governo, no fundo, passada a surpresa, fez uma gestão controlada dos medos e indignações da classe média. Depois dos Acordos de Grenelle, que desmobilizavam os sindicatos na via revolucionária, apesar de as ocupações das fábricas só irem terminar em meados de Junho, era a hora da iniciativa.
De Gaulle partiu para a Alemanha em 29 de Maio, para se encontrar com Massu e com os comandantes do Exército do Reno em Baden-Baden e pedir o seu apoio em caso de confrontação. A troco - que lhe foi exigido - da libertação dos oficiais ainda presos por causa da Argélia Francesa, recebeu o apoio dos militares. Com esta segurança voltou a Paris e a 30 de Maio, às quatro da tarde, falou à Nação com aquela voz profunda, solene, histórica, de militar da velha guarda. Que não se ia embora, que conservava o primeiro-ministro, que dissolvia a Assembleia Nacional. Que o povo decidisse.
Estava a acabar o seu discurso, uma gigantesca manifestação das "direitas unidas" e dos gaullistas saía para as ruas de Paris. Semanas depois eram as eleições e a esquerda conhecia uma derrota espectacular.
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