quinta-feira, julho 31, 2003

Casais do mesmo sexo?

Torna a mania dos "casais de homosexuais".... sempre me irritou a designação. Em português, acho eu que um casal é a unidade formada por dois seres da mesma espécie - e de sexo diferente. A união entre dois seres do mesmo sexo poderá formar, a ser precisa denominação, uma parelha. Uma parelha, uma junta... o que quiserem. Casal é que não. Ou julgam os senhores que um passarinheiro ao anunciar um casal de pintassilgos quer referir-se a uma dupla de pintassilgos-macho ou de pintassilgos-fêmea? Mal iria a criação!
Vai um alarido enorme sobre a igualdade de direitos, os quais os homosexuais e seus entusiastas apoiantes (por cá a alegre rapaziada do Berloque de Esquerda) dizem que têm a menos que os outros cidadãos. Ninguém ainda explicou, porém, quais são os direitos que um heterosexual tem e que um homosexual não tem. Casar com uma pessoa do mesmo sexo? Ninguém tem: o casamento é um contrato entre dois seres de sexo diferente (código civil dixit...)
Logo, aí não existe desigualdade, mas sim perfeita igualdade. Qualquer um, seja lá o que for, só pode casar com quem seja de sexo diferente do seu. O que os homosexuais reivindicam apresenta-se portanto, notoriamente, como uma outra coisa: um novo contrato civil, de união pessoal (entre duas pessoas, entre várias pessoas, sei lá...).
Não é um casamento: este destina-se a formar casais...
E, já agora importa dizê-lo, as reivindicações trazem atrelada a ideia de uma sociedade que já não é aquela baseada na família, tal como a conhecemos. Esta guerra tem portanto outro alcance, e reveste natureza essencialmente política, social, ideológica e revolucionária. Desculpem a pompa da circunstância.

sexo, mentiras e escutas

O sexo é coisa do diabo; caminho de perdição; maldição de socialistas... Não vou até ao ponto de escrever que "pelo sexo os conhecereis", porque na verdade nunca se sabe.... quando o que aparece como público não coincide com a realidade privada. Ao que parece, os anjos não têm sexo; de onde decorre a inutilidade da discussão sobre o sexo dos anjos.
Mas os socialistas têm. Que o digam o Paulo Pedroso, o Carlos Cruz, o Ferro Rodrigues - tudo gente que nesta hora amaldiçoa essa dádiva da natureza.
Entretanto, parece que o sexo dementa os que quer perder. O Partido Socialista exige hoje que o PGR esclareça se os seus dirigentes estão ou não sob escuta (o Dr. António Costa diz "sobre escuta"). A seguir-se tal critério, de ora em diante, quando em sede de investigação criminal se puser a questão das escutas telefónicas, torna-se necessário comunicar aos investigados a diligência em causa - antes que ela produza resultados. Os leitores estão a ver: investigam-se crimes de tráfico de estupefacientes, de corrupção, redes organizadas, mas se for questão de escutas primeiro faz-se a comunicação formal: "meus senhores, atenção, atenção, cuidado com a língua, passamos à escuta!"
Deste modo serão respeitados todos os direitos humanos consagrados nas convenções, e mais alguns ainda desconhecidos.
Evidentemente que o resultado do exercício será inócuo; mas também não se pode ter tudo. Teremos um processo justo, equitativo, aberto, amplamente democrático.
Enfim, as tolices de estação. As impossibilidades estatísticas acontecem: a um governo tão fraquinho corresponde uma oposição pior ainda. Assim qualquer um ganharia as próximas eleições...
Entretanto, o governo anuncia-se decidido a combater as baixas fraudulentas. Não é mal pensado. Mas esperemos que não apliquem as novas medidas aos senhores deputados. Como raciocinava há dias no "PortugalDiário" o José Júdice, os senhores deputados causam mais dano quando estão presentes do que estando ausentes. Logo, não será do interesse do país colocá-los na alternativa difícil entre mentir ("estava doente em casa fortemente engripado") e ser sujeito a junta médica, ou dizer a verdade ("fui ao futebol a Sevilha") e levar logo falta injustificada. Embora, como já se sabe, tais faltas não tenham nenhuma consequência: não contam nem descontam no ordenado. São como a causa monárquica de outras eras (e actualmente..... cala-te boca!): uma causa sem efeito, em manifesta violação das leis da física.

O estranho caso dos julgados de paz, ou um crime inútil

Se os senhores jornalistas tivessem algumas luzes sobre esta coisa dos tribunais, poderiam perceber e esclarecer a enormidade que isto representa: os tais julgados de paz são um sorvedouro de dinheiros públicos sem nenhuma utilidade prática. Trata-se de uma estrutura paralela aos tribunais, em que já foram gastos milhões de contos em apenas um ano de funcionamento, e cujos resultados se traduziram, como consta das notícias, na solução de 350 litígios... ou seja, muito menos do que o mais pequeno dos tribunais comuns. E acresce que esses 350 processos nem sequer foram retirados aos tribunais: dado o seu insignificante valor são causas que de outro modo ninguém levaria a tribunal... Todavia, o Ministério, que não tem dinheiro nem projectos, para esta política de faz de conta não poupa meios: entre edifícios novos, funcionários, "juízes", mediadores, peritos, a ideia peregrina dos "juízos de paz" instalou já uma estrutura que na hora de desfazer o circo vai invocar direitos adquiridos, e vai colocar um problema gravissimo de resolver. Entretanto, aos tribunais tudo se nega: não são preenchidos os quadros de funcionários e centenas deles estão há anos a trabalhar na condição de eventuais; extingue-se a segurança onde ela existia porque fica cara; há umas largas dezenas de tribunais sem juiz, há umas fartas dezenas de magistrados do MP a menos... Sem meios humanos, sem dinheiro por vezes para pagar as contas da electricidade ou para comprar papel, os nossos tribunais definham, na total indiferença do governo e do seu ministério da Justiça. Todavia, gastam-se milhões em puras actividades de propaganda, que ao fim de um ano de funcionamento pomposo os seus próprios responsáveis reconhecem que para nada servem - juízos sem trabalho, estruturas burocráticas para enfrentar umas dezenas de processos por juízo, desperdiçando meios humanos e materiais, enquanto nos tribunais comuns pendem cerca de um milhão de processos...

Calores infernais

Hoje está um destes calores que fazem lembrar o desabafo do alentejano que chega ao inferno - "compadre, isto aqui é pior que Beja!"
Mas continuo a digressão pela blogosfera. Encontro afinal um amigo, saudoso amigo. Há quantos anos falto eu à conversa, inesgotável, estimulante, que nos entretinha horas a fio Chiado abaixo Chiado acima.... Entretanto, passaram uns dezoito anos, e nem sequer sei como estará agora o Chiado. Sei que morreu o Manuel Maria Múrias, incomparável companheiro, iconoclasta genial, insubmisso e turbulento - e o maior jornalista português (estou a ouvi-lo tonitruar: "um-metro-e-noventa-e-um-sem sapatos!"). Deve estar lá em cima a contar, sarcástico, como sofreu prisão por no seu jornal aparecer escrito coisa tão banal que nenhum português passou sem dizer ou pensar alguma vez ("Soares é um mentiroso relapso e contumaz").
Famigerado três émes! Faz-me falta, e julgo que ele nem sequer percebeu como eu gostava dele. Morreu também o António Lopes Ribeiro, eterna fonte de juventude e bom humor, brilhozinho nos olhos sempre a anunciar comentário sábio e mordaz.
Ocupados sempre com a transcendência, ele trazia-nos à terra com uma observação simples, uma história banal, uma quadra popular, tudo salpicado de ironia fina de alfacinha matreiro. Aquele eléctrico a descer a Calçada da Estrela não pode ser o mesmo sem o António.
Vivo e respirando juventude, o António da Cruz Rodrigues. Cheio de ideias, projectos, iniciativas, dinâmica - o seu blog diz-me que está na mesma. Deus o queira, e que o conserve assim muitos anos.

Coisas do diabo

Entrada, hesitante. Que faço eu aqui? Lembro-me de Papini. Un uomo finito. Bem, depois de se declarar finito fartou-se ele de escrever, muito e bem. Um homem nunca sabe quando está finito. Sabe quando está só; e nessa altura fala sózinho, sempre com a esperança de que alguém escute.
Assim entro eu na blogosfera - com o maravilhamento temeroso com que entrava um recém chegado na Índia de quinhentos. Tanta gente, tanto ruído, e tudo parece estranho.
Familiares são as vedetas. Domina o Pacheco Pereira, com aquele ar reflexivo de quem procura não sabe bem o quê desde que lhe passaram os juvenis entusiasmos estalinistas. Do lado esquerdo avulta o beato Louçã, mais os pregadores restantes, sempre de dedo em riste, impantes de virtude, combatendo a besta.
Para a direita domina o Pedro Mexia, só ou acompanhado por Pedro Lomba ou Pereira Coutinho, dando cartas e passando descomposturas nos desconformes, com a autoridade do seu profundo conhecimento do país de São Sebastião da Pedreira (aquela área entre a Alfredo da Costa e a Gulbenkian, agora com capital no El Corte Inglés) e do seu entranhado patriotismo (do ponto de vista anglo-saxónico, ao que me parece). Trata-se de uma direita catita, a la page, chic a valer. O Mexia é uma espécie de reedição do Dâmasozinho Salcede.
Existem depois umas meninas que procuram marido, e uns meninos que querem casar.
Tudo certo; e pode-se dizer o que em tempos se dizia de uma conhecida marca de relógios e actualmente se diz por vezes do nosso venerável presidente: não adianta nem atrasa.