segunda-feira, junho 30, 2008

Lançamentos da "Nova Águia"

Durante esta semana estão previstas as seguintes sessões de lançamento da revista "Nova Águia":

3 de Julho, quinta-feira:
- 18h30: na FNAC do C.C. Colombo (Lisboa)
- 20h30: na Quinta da Regaleira (Sintra)

4 de Julho, sexta-feira:
- 21h00: no Moinho de Maré do Cais Velho (Alhos Vedros)

5 de Julho, sábado:
- 17h00: na Biblioteca Municipal de Espinho
- 21h30: na Feira do Livro de Ovar

Acompanhe as notícias sobre a "Nova Águia" através do respectivo blogue.

LEONARDO - revista de filosofia portuguesa

Numa revista substancialmente enriquecida, Francisco Moraes Sarmento recorda o editorial que escreveu para o nº 4 da edição em papel da "Leonardo", em Dezembro de 1988, na primeira fase da vida da mesma que agora se apresenta em formato digital:
"É necessário conceber uma patriosofia que estabeleça premissas e defina as condições necessárias a uma oposição eficaz à decadência dos nossos modos de imaginar, pensar e sentir. Verter na consciência social o ideal pátrio e permitir que outros dela retirem as teorias práticas, segundo os processos próprios das artes e das ciências, que devem orientar e determinar a educação, a política e a religião. Urge, pois, um discurso da Pátria. Onde está, então, o patriotismo dos nossos intelectuais?"
Uma presença a estimular-nos e desafiar-nos: Leonardo.

Curta e breve

P.: Por que votaram os irlandeses contra o Tratado Reformador da União Europeia?

R.: Porque puderam.

(Certeiro, o Pena e Espada)

Trinta e um de boca

Dizem as notícias de hoje que "o PS do Seixal contesta presença das FARC na Festa do Avante".
Em concreto, teria acontecido que "José Assis, vereador socialista na Câmara Municipal do Seixal, manifestou hoje o seu descontentamento pela presença de uma delegação da guerrilha colombiana das FARC na Festa do Avante, organizada pelo PCP."
Nenhum jornalista, desde a LUSA que produziu o trabalho até às redacções que se serviram dele, apontou a evidência: se a delegação das FARC estiver presente na festa isso só acontecerá depois de ter entrado no país com as devidas autorizações legais (afasto por inverosímil a hipótese de tal delegação estar ali clandestinamente, a exigir a intervenção do SEF).
Portanto, o descontentamento do vereador socialista só pode ter um destinatário certo: dirija as reclamações ao governo que permite a entrada e a permanência no país dos indesejáveis em causa.
Enquanto o não fizer, o que se conclui é que a sua agitação inconsequente só tem por objectivo fazer aparecer na imprensa o PS como contestatário dessa incómoda presença - depois de o respectivo governo ter assegurado as condições para ela. E o resto é treta.

A oportunidade perdida do CDS-PP

Quando pensamos no que tem sido a vida política portuguesa destes anos mais recentes, no vasto espaço aberto à direita pela consolidação do socratismo e pelas sucessivas crises e permanente desorientação do PSD, é impossível não reparar no falhanço estrondoso do CDS/PP - que em vez de se agigantar optou por se afundar.
"O contexto político dos últimos anos constituiu uma oportunidade sem precedentes para o crescimento do CDS-PP. Com um governo de maioria absoluta socialista e a notória fraqueza (programática, táctica e comunicacional) das mais recentes lideranças do PSD, o CDS-PP poderia e deveria aspirar a estar actualmente com resultados entre 15% a 20% nas sondagens. Ao invés, é a extrema-esquerda que cresce e o CDS não descola de resultados confrangedores na casa dos 5 %. "
Com este panorama, seria de esperar que os responsáveis do CDS/PP se sentissem obrigados a dar explicações, ou que os militantes do partido aparecessem a exigi-las. Mas nem isso, que seria uma derradeira esperança, porque prova de vida, se vislumbra no horizonte. Todos descansam em paz.

A canção do Piave



O caso de um rio verdadeiramente xenófobo: "il Piave mormorò: "Non passa lo straniero!"
(versão cantada pelo tenor Giovanni Martinelli, 1918).

domingo, junho 29, 2008

Contra Impugnantes

Barbas de molho

Talvez poucos se lembrem já que Gaspar Castelo Branco era Director-Geral dos Serviços Prisionais, e foi assassinado no exercício das suas funções e por causa delas. Não é por acaso que poucos se lembram: um pesado manto de silêncio caiu sobre o caso.
Na altura a classe política, incluindo os mais altos responsáveis do Estado, preferiu esquecer o assunto e prosseguir tranquila, como se nada tivesse acontecido.
Na verdade, fizeram mais do que isso: confraternizaram com os assassinos, negociaram com eles, estudaram em conjunto leis de amnistia que servissem uns e outros. Ainda hoje costumam acamaradar, festejando memórias partilhadas.
Os magistrados devem ter presente essa história, nos tempos que correm. Quando as últimas barreiras psicológicas se desmoronam e o ruído mediático ameaça amplificar tendências que já há muito se podiam sentir, podemos não estar muito longe de assistir a eventos que inevitavelmente farão lembrar a triste sorte de Castelo Branco.
De acordo com a constituição e as leis, os tribunais são órgãos de soberania e o poder judicial é um dos poderes do Estado. Porém, sentem todos e sabem todos que esse não é o sentimento daqueles que exercem o poder político - os quais de há muito olham para os magistrados apenas como uma categoria de funcionários que é preciso abater e diminuir.
Longe de qualquer visão de Estado, que de todo lhe falta, a classe política, incluindo os detentores dos outros poderes do Estado, há muito esqueceu isso de "poder judicial" ou de "tribunais - órgãos de soberania" e passou a encarar os problemas da Justiça exclusivamente numa perspectiva mesquinha ditada pelos cálculos da luta política.
Nessa perspectiva, juízes e procuradores constituem grupos sob permanente suspeita, porque difíceis de controlar politicamente segundo as regras que são de uso quase universal. Eles mantêm ainda, em parte por mero atavismo e em parte por algumas prerrogativas legais, algumas reservas de independência que se tornam extremamente incómodas para quem está habituado a funcionar de acordo apenas com as tais regras.
Dessa atitude entre a desconfiança e o rancor que se instalou no poder político em relação aos tribunais deriva tudo o resto. A sucessão de políticas que desde há décadas têm dominado o Ministério da Justiça, marcadas por uma invariável indiferença ou hostilidade para com os magistrados, detectável desde os planos do simbólico até aos mais insignificantes pomenores do concreto, não permite augurar nada de bom.
Não será daí, do aparelho de Estado, da classe política - ou da classe jornalística que com ela vive em relação simbiótica - que as gentes da Justiça poderão esperar solidariedade.

Sucessos

"Os alunos têm direito a ter sucesso. Talvez fosse útil excluir dos correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações distantes da média. O que louva o trabalho do professor é o sucesso dos alunos."
Vale a pena este artigo de Carlos Botelho sobre a já famosa síntese da política educacional em vigor.

sábado, junho 28, 2008

Não apaguem a memória

Excelente, n'A Cidade do Sossego:
"Não convém não. Por isso há que falar, sempre, do comunismo e dos seus crimes. Se uma das maiores virtudes do Diabo é fazer-nos crer que não existe, como dizia o outro, uma das mais conseguidas estratégias do comunismo consiste em branquear a memória. Apesar de se referirem com frequência à necessidade de preservação da mesma permanecem entre os seus maiores adversários."

O assassinato da Filosofia

(um artigo de Maria Luísa Guerra)

A Filosofia no ensino secundário é uma disciplina decorativa. Sem importância. Morta à nascença. Vai realizar-se no próximo mês de Julho, em Seul, na Coreia, o Congresso Mundial de Filosofia, organizado pelo FISF, organismo que concentra as sociedades dos professores de Filosofia do ensino secundário e do ensino universitário de todo o mundo. Tem a marca da globalização. É um encontro de tradições pedagógicas, de reflexão sobre a natureza e o papel da Filosofia na sociedade. Mostra o interesse dos vários países pelo problema. Mostra o que é evidente: o carácter vivo e actuante da Filosofia. O seu lugar insofismável na formação da mentalidade. Assim acontece no mundo.
E em Portugal? Em Portugal assiste-se ao inédito. Pela primeira vez em mais de um século (desde a reforma de Jaime Moniz, em 1895) destruiu-se decisivamente a Filosofia no ensino secundário. Podemos recuar mais atrás, a 1844, e mesmo aos Estudos Menores, criados pelo marquês de Pombal em 1799. Estudos onde figurava a disciplina de Filosofia Racional. Servia de acesso aos Estudos Maiores. Neste quadro de interesse global já referido, lembra-se também que a UNESCO instituiu o dia 15 de Novembro como Dia Mundial da Filosofia, congregando 36 nações.
E em Portugal? Em Portugal desvaloriza-se o exercício do pensamento, o rigor da análise, a descoberta de paradigmas e de valores, a discussão de problemas, a formação do espírito crítico, a reflexão sobre a aventura humana, parâmetros específicos da Filosofia e do seu ensino.
Sabe-se que a finalidade do estudo em qualquer disciplina não é o exame. Mas também se sabe que, na prática, se não houver exame, os alunos não se interessam. Não estudam convenientemente. Residual e em vias de extinção a Filosofia no 12.° ano. Obrigatória no 10.° e 11.° anos mas não sujeita a exame nacional. "Para que serve?" pensam os alunos.
É uma disciplina decorativa. Sem importância. Morta à nascença. Ainda se rege Filosofia na universidade nalguns cursos, cada vez mais despovoados. Com este vazio no ensino secundário, acabará de vez.
O sucesso escolar não é gratuito. Depende de currículos apropriados, mas depende sobretudo de cabeças bem-feitas, treinadas numa apurada e progressiva ginástica mental, no exercício da abstracção, da comparação, do dissecar analítico. Esse exercício cabe especificamente à filosofia.
No limite, pela depuração que exige e supõe, aproxima-se da Matemática. Não é por acaso que grandes filósofos de referência (de Pitágoras a Descartes, de Leibniz a Russell) foram matemáticos. Tirar aos jovens esta ginástica mental é criar o caos. Multiplica-se no mundo a presença e o interesse pela Filosofia. Em iniciativas globais. De Paris a... Seul. Em Portugal, desvaloriza-se até a morte. Original.

Madrid: hemos pasao!



No pasarán - decían los marxistas...
No pasarán - gritaban por las calles...

Celia Gamez canta por todos: ya hemos pasao!

sexta-feira, junho 27, 2008

Endireitar o PSD, ou um marciano no congresso

(Discurso de António Maria Pinheiro Torres no Congresso do PSD)

Desde 1997 que existe um fenómeno novo na política portuguesa que pelas suas próprias características acaba por ter pouca visibilidade apesar da sua inegável implantação no terreno. Um movimento de cidadãos que tem estado presente em todos os grandes debates de civilização trazidos por questões da actualidade política. A liberalização do aborto e a introdução da pílula do dia seguinte, a despenalização do consumo das drogas e a questão da referência ao cristianismo no preâmbulo da Constituição europeia, a educação sexual e a procriação artificial, são alguns dos temas que estão na origem de multiformes movimentações populares.
Os números são expressivos. As petições populares reuniram entre 30 mil encarregados de educação (pela liberdade na educação sexual) e 82 mil cidadãos (e um terço dos deputados de então) na reivindicação da referência ao cristianismo na Constituição europeia. Duas petições populares de referendo com 65 mil subscrições em 2001 (sobre a despenalização do consumo da droga) e 80 mil assinaturas em 2006 (sobre a procriação artificial). Por ocasião de um debate parlamentar (em 2004) dá mesmo entrada no parlamento uma Petição (Mais Vida Mais Família) que é a maior já entregue na Assembleia da República desde sempre: 217 mil assinaturas angariadas em apenas um mês. Votações superiores a um milhão e meio de eleitores em dois referendos sobre o aborto (em 2007 mais 200 mil votos que em 1998 e entre estes um terço dos que votavam pela primeira vez). Na sequência destas campanhas nasceram dezenas de associações e o trabalho de assistência social ou formação das consciências atingiu milhares de famílias, mulheres e crianças.
Promovem estas iniciativas gente de proveniência diversa, de diferentes partidos (alguns reconheço os seus rostos nesta sala) oriundos da militância católica, de instituições de solidariedade social e dos sectores da cultura e da educação.
No entanto é desta dinâmica que hoje o sistema democrático mais carece. Nestes movimentos existem causas fortes e convicções firmes que permitem fazer a diferença. Protagonistas que dão a sua vida pelo serviço do bem comum. Se há possibilidade de uma sociedade mais democrática é porque essa dinâmica civil tem crescido ao longo dos anos. Qual o maior obstáculo a uma sua mais efectiva participação no debate político? O sistema eleitoral tratado até hoje como assunto técnico e não como assunto de substância do próprio regime democrático. As eleições dominadas pelas estruturas partidárias sempre tentadas pelo centrão consensual e pelo pântano dos interesses parcelares.
A eleição dos deputados de cada partido num sistema de primárias, a existência de círculos uninominais (com o direito de qualquer pessoa se submeter a eleição mediante a apresentação de um número mínimo de assinaturas), a possibilidade, nas eleições legislativas, europeias e locais, de na lista apresentada a sufrágio e dentro da votação em cada partido escolher o candidato da nossa preferência, o tratamento de uma vez por todas democrático e equitativo de todas as candidaturas pela comunicação social (é um escândalo a definição pelos patrões dos media de quais os candidatos que importam e de quais os irrelevantes…), o fim de um regime absurdo de referendo em que este só tem lugar apesar do povo o ter pedido, se os partidos concordarem com ele, o financiamento das campanhas referendárias nos mesmos termos das campanhas eleitorais, são alguns dos pontos em que uma reforma do sistema eleitoral podia fazer a diferença.
Porque é que este assunto interessa ao PSD? Porque olhando a votação do Não (um milhão e quinhentos mil eleitores) e tendo presentes os últimos resultados eleitorais, ainda que se descontem 400 mil votantes do PP e pelo menos 200 mil eleitores PS, sempre restarão 900 mil eleitores que é razoável presumir pertencem ao núcleo duro do eleitorado do PSD. Que resposta pretende o partido dar a estes cidadãos seus votantes? E aos que não sendo seus votantes, partilham no entanto este quadro comum de valores e objectivos?
A questão é pois se no respeito das nossas diferenças (um partido é uma vasta coligação de forças sociais e morais) está o PSD disposto a tornar-se o partido que em cada circunstância procura defender a liberdade de cada um e das suas comunidades naturais contra a concentração do poder no Estado? Está o PSD disposto a honrar a sua declaração de princípios e a respeitar decididamente a liberdade religiosa (que nos últimos anos tão atacada tem sido pelo Governo do Partido Socialista)? Está o PSD disposto a bater-se pela liberdade de escolha da escola garantindo assim maior justiça para todos? Está o PSD disposto a observar a Constituição e perante o abuso de direito que constituiu a nova lei do aborto aprovar em tempo razoável quando tivermos maioria e se o povo o pedir a realização de um novo referendo? Está o PSD disposto a ser um partido diferente do Partido Socialista? A defender a instituição do casamento e a bater-se pela promoção da família? A honrar o bom trabalho em tantas áreas realizado sob a égide de Durão Barroso, Morais Sarmento e Santana Lopes?
No momento em que se inicia um caminho novo no PSD aqueles que estamos nestes movimentos e participamos ou votamos naquele partido é isto que queremos saber. Se o PSD quer respeitar estes movimentos cívicos. Se quer empurrar para fora do sistema os seus votantes ou tornar-se assim uma alternativa real a um poder de lojas desconhecidas, experiências perigosas e vertigens civilizacionais suicidas. Para Portugal e para o respeito da dignidade humana a resposta a estas perguntas é muito importante. Para nós, no PSD, pode ser decisiva.

O Zé e a Ana na nova lei do divórcio

(um artigo de Isilda Pegado, advogada, no Público de 25/6/2008)

O Zé e Ana estão casados há 15 anos e têm dois filhos, ele é engenheiro e ela secretária. Ele, sabe-se lá porquê, ultimamente chega a casa bebe uns uísques e... bate na Ana. À terceira vez, a Ana apresentou queixa na GNR, para "ver se ele tem respeito a alguém". A Ana gosta do Zé e não se quer divorciar, apenas pediu ajuda para "esta fase má" do casamento. Hoje, com a lei actual, a Ana não tem medo de apresentar queixa porque o casamento não é posto em causa por esse facto. Amanhã, com a nova lei do divórcio, o Zé com cópia da queixa apresentada na GNR pode divorciar--se (art. 1.781.º, al. d), nova versão). O Zé usa a sua própria violência para pôr fim ao casamento.
Acontece que a Ana ganha mil euros por mês, mas o marido aufere 5000 euros por mês. Sempre foi assim. Ele ganhava cinco vezes mais do que ela. É certo que ela orientava a casa, mas ele também ajudava nas tarefas domésticas (como qualquer casal moderno...). Hoje, com a lei vigente, o património que construíram (a casa onde vivem, o carro e os 80.000 euros de "pé-de-meia") é para dividir em partes iguais. A Ana fica com a casa e ele com o carro e o dinheiro. Amanhã, com a nova lei do divórcio, na partilha (art. 1.676.º, n.º 2, nova versão) a Ana tem direito a 1/6 do património e o Zé a 5/6. Contas feitas, a Ana para ficar com a casa terá de pedir ao Banco € 82.000 que dará de tornas ao Zé. Isto é, a Ana terá direito a 37.500 euros e o João a 187.500 (na divisão do património conjugal). Acontece ainda que, nos últimos três anos, o tio do Zé - o tio Arlindo - viveu com eles porque estava velho e não tinha filhos. Prevendo o seu fim fez um testamento ao Zé e à Ana deixando-lhes a casa na Nazaré e três pedaços de pinhal. O Zé e a Ana trataram de tudo e até registaram em seu nome as propriedades. Hoje, com o divórcio, o Zé e a Ana continuam a ser donos em partes iguais das propriedades. Amanhã, com a nova lei do divórcio, a Ana, que não quis divorciar-se, que foi vítima de violência do marido, tendo este obtido o divórcio, perde os bens que herdara do tio Arlindo (art. 1.791.º, nova versão) revertendo os mesmos, na totalidade, para o Zé. Quando a Ana procurou alguém que lhe explicou o que se iria passar, disse em voz baixa (não vá alguém ouvir): "Afinal, a violência doméstica compensa. Ainda dizem eles para apresentar queixa. Estou cada vez mais sozinha".

quinta-feira, junho 26, 2008

Espanha - Rússia


Para todos os que gostam de futebol, e de Espanha...

Literatura clandestina

Há livros que, estranhamente, desapareceram da circulação e tornaram-se raridades impossíveis de encontrar. Digo estranhamente porque, de certeza certa, venda não lhes faltaria se voltassem a ser editados. Mas o certo é que não têm reedição. Desapareceram e pronto.

Como exemplo, o famoso livro que o antigo dirigente do PS Rui Mateus escreveu há uns anos atrás, onde explicou alguns dos esquemas obscuros através dos quais o PS se financiava no tempo em que o secretário geral era Mário Soares, e que tinha como título: "Contos Proibidos- Memorias de um PS desconhecido".
Pode agora ser acedido através da internet, e descarregado integralmente:
http://rapidshare.com/files/23967307/Livro_Contos_Proibidos.pdf

É também o caso do "Livro Negro da Descolonização", de Luiz Aguiar, de 1977, onde este escalpeliza e documenta o infame processo a que os seus responsáveis chamavam então "descolonização exemplar".
Pode ser encontrado e guardado no seguinte endereço internético:
http://www.xiconhoca.com/livronegro/index.htm

E um terceiro: Angola, os dias do desespero - é um célebre livro de Horácio Caio, repórter da RTP, onde este relata os cinco primeiros meses do terrorismo em Angola, entre 14 de Março de 1961 e 8 de Julho de 1961. Está integralmente disponível online. São cerca de centena e meia de páginas que todos ganhamos em conhecer.

Aberrações

"A maternidade e a paternidade constituem valores sociais eminentes, constitucionalmente tutelados, cuja protecção compete à sociedade e ao Estado".
Assim começa o Decreto-Lei n.º 105/2008 de 26 de Junho, agora publicado em Diário da República.
Não serei eu a dizer que começa mal.
E como se propõe o legislador fazer, para proteger esses valores sociais eminentes?
Explica-se logo a seguir no mesmo diploma que para prossecução do objectivo de reforço da protecção social nessas eventualidades são instituídos subsídios sociais.
O artigo 1º proclama enfaticamente que "o presente decreto-lei institui medidas sociais de reforço da protecção social na maternidade, paternidade e adopção integradas no âmbito do subsistema de solidariedade" e que "as medidas referidas no número anterior consubstanciam-se na atribuição de subsídios sociais".
Continuo a não achar nada mal, mesmo na equiparação da adopção às "eventualidades" mencionadas em primeiro lugar.
A aberração surge na regulamentação do subsídio de maternidade, constante do art. 4º, n.º 2: "o subsídio social de maternidade é garantido às mulheres nas situações de parto de nado-vivo ou morto, de aborto espontâneo, de interrupção voluntária da gravidez (...)"
É mesmo assim: de súbito e sem pré-aviso a "interrupção voluntária da gravidez" surge equiparada à maternidade, para efeitos de definir quem tem direito a receber o subsídio social de maternidade.
O acto voluntário de quem recusou a maternidade aparece contemplado com o subsídio que a lei anuncia e proclama como destinado a reforçar a protecção social da maternidade!
O aborto, que já é financiado pelos impostos de todos no sistema nacional de saúde, dá ainda direito ao "subsídio social de maternidade"!
(Não sei como se safava este legislador se o "subsídio social de maternidade" fosse satisfeito em géneros, tipo fraldas para bébé, alimentos, vestuário, etc.)
Assim se tropeça, pelo meio de um diploma e metida a martelo, com a prioridade social deste governo: estimular o aborto. Este não é apenas um acto livre e gratuito (ou seja, cujos custos são suportados pelo Estado). Passa a ser também um acto subsidiado pelo Estado.
Valha-nos que ao menos na regulamentação do subsídio social de paternidade foram mais comedidos: este só "é garantido ao pai nas situações de parto de nado-vivo". Não tem direito nos casos de parto de nado-morto ou de aborto espontâneo. E também não tem nos casos de interrupção voluntária da gravidez.
Todavia, bem vistas as coisas, talvez o legislador devesse pensar nisso: garantir também o subsídio de paternidade nos casos de interrupção voluntária da gravidez. Então é que seria: finalmente, abortos em barda, uma chuva de abortos... o êxtase!

quarta-feira, junho 25, 2008

A perseguição religiosa no século XX


No próximo sábado, na SHIP.
Atenção ao almoço: inscrição prévia para ana_ludovice@hotmail.com

Céline em foco

Muito interessante o apontamento da Odisseia sobre o recente número da revista Lire dedicado a Louis Ferdinand Céline.
Eu (que não sou um entusiasta, mas um curioso) fiquei impressionado com o fascínio que continua a envolver a personalidade e a obra do maldito Dr. Destouches.
Não tenho a certeza se, quando chegar o momento de poder avaliar com a devida distância a literatura do século XX, o escritor Céline (como o escritor Joyce, por exemplo) ocupará o lugar que muitos têm como certo (e refiro-me às obras, que da personalidade nem falo).
Mas certamente não será a minha dúvida a diminui-los. Entretanto, faço votos para que a sua correcta valoração e situação literária seja feita com conhecimento e sem preconceitos.
A ler, esta edição da Lire destacada pela Odisseia.

terça-feira, junho 24, 2008

Amanhã: colóquio sobre o pensamento de António José de Brito

A pretexto da celebração dos 80 anos do filósofo, vai decorrer em Lisboa, a 25 de Junho de 2008, no anfiteatro da Sociedade Histórica da Independência de Portugal – SHIP (Palácio da Independência, Largo de São Domingos, n.º 11) um colóquio sobre o pensamento de António José de Brito, na qual participam algumas das mais destacadas personalidades da vida cultural portuguesa.

Programa, e intervenientes:

10 h - Início dos trabalhos
- A noção de “Insuperável” – Miguel Real
- O conceito de razão – Manuel Candido Pimentel
- O idealismo – Carlos Morujão
- A dialéctica – Samuel Dimas
- O argumento ontológico – Carlos Silva
13 h - Intervalo para almoço

15 h - Recomeço dos trabalhos
- O direito natural e os direitos humanos – Mário Bigotte Chorão
- Integralismo, Nacionalismo e Democracia – Ana Paula Loureiro de Sousa
- O diálogo crítico de António José de Brito com Miranda Barbosa e Cabral de Moncada – António Braz Teixeira
- António José de Brito perante o problema da filosofia portuguesa – Celeste Natário
- Perspectiva Ética do pensamento de António José de Brito – Carlos Leone
- Breve reflexão a propósito de António José de Brito – Renato Epifânio
19 h - Encerramento do Colóquio

Alternadeiros

A política de alterne protagonizada pelos dois grandes partidos portugueses é garantia segura de que nada de substancial mudará, naquilo que depender deles.
Sendo assim, como é, observa-se com estranheza a súbita mudança de tantos comentadores que ainda há poucos dias ferviam de indignação e revolta contra os males da Pátria - ameaçando rivalizar no seu zelo retórico com os mais radicais dos críticos da situação.
Afinal, bastou mudar a chefia no agrupamento alternante para as hostes retomarem o optimismo habitual. Uma senhora de quem se desconhecem os méritos políticos, uns quantos quadros amigos a compor a equipa aspirante, e parece que tudo se poderá resolver. O mal não era grave.
A política assemelha-se assim cada vez mais ao jogo das cadeiras, tudo se resumindo a saber quem se consegue sentar e quem é que fica de pé, enquanto aguarda a volta seguinte.
De resto, não há mudanças na sala.

Outro postal, amarelecido, de Madrid

A net está cheia de Javier Barraycoa.
"El hombre bueno por naturaleza de Rousseau, se mea y caga encima."
"El 100% de los no fumadores también muere."
De Madrid, lembro-me de Javier como um jovem discreto, onde se notava alguma timidez. Tinha prestígio entre os do seu grupo, estudantes como ele, que conheciam o seu valor, mas não tinha conquistado ainda o à vontade e a segurança que parece denotar agora.
A inteligência e a perspicácia sentiam-se mais na capacidade de observação e de síntese.
Tinha uma cara que me lembrava Mário Laginha, que eu tinha conhecido algum tempo antes em Lisboa (um estudante de piano muito promissor, encarado com admiração pelos confrades).
Pois o jovem Don Javier prosseguiu a sua carreira na Catalunha, de onde tinha vindo, e ao que vejo faz furor até em terras de França e Navarra. São livros, artigos, conferências, uma actividade transbordante.
E ganhou um lugar na academia. Entre as frases míticas, esta espantosa apresentação: "Me llamo Javier Barraycoa. Mis amigos me llaman Javier. Ustedes pueden llamarme Dr. Barraycoa."
O que o tempo pode dar!

Um postal velho, de Pozuelo de Alarcon

O auge da minha carreira de futebolista, no plano internacional, aconteceu um dia em Pozuelo. Joguei contra Espanha num seleccionado resto del mundo, e o resultado não foi brilhante.
Para dizer a verdade, foi um massacre. Podia estar aqui a dizer que a arbitragem foi um tanto suspeita, que a organização caseira nem deu tempo a que as estrelas adversárias pudessem minimamente conhecer-se, que até os equipamentos eram emprestados e não dá jeito alinhar com chuteiras próprias de outros pés, mas tudo isso pode parecer desculpa de mau perdedor. Para a eternidade ficou gravado um episódio digno de figurar entre as páginas mais gloriosas da História de Espanha.
Digo isto a pensar na assistência, e nos anfitriões, que estavam radiantes.
Confessada esta recordação pouco honrosa, devo acrescentar que naqueles dias distantes eu era substancialmente mais jovem - e o tempo tinha outro sabor.
Só escrevo isto a pensar nas desgraças que afligem os nossos representantes actuais no desporto do pontapé na bola, e que decerto os trazem acabrunhados. Deixai lá, um dia lembrareis isso com outros sentimentos.
Não sei que será feito dos companheiros de então. Os meus colegas de equipa devem ter regressado às suas terras, ninguém naquela constelação de mexicanos, peruanos, argentinos tinha raízes que o prendessem a Madrid. Dos portugueses que comigo estavam em Pozuelo nesse dia também a vida me foi separando, um no Porto, dois em Lisboa, eu na minha toca. Espero que a vida lhes tenha sorrido.

sábado, junho 21, 2008

Amanhã, o decrescimento?

Degradação do meio ambiente, contaminação, esgotamento dos recursos naturais... Pode haver um crescimento infinito num mundo finito? A actual civilização industrial não poderá estender-se a todo o planeta. O "desenvolvimento sustentável" não fará mais que adiar as consequências se não se acaba com a lógica do "cada vez mais" e a busca permanente do benefício financeiro. É necessário acabar com a hegemonia dos valores mercantis e voltar a expor o problema da relação do homem com a natureza. Estas são as ideias principais que Alain de Benoist desenvolve no seu último livro: Demain la décroissance. Penser l’écologie jusqu’a bout.

sexta-feira, junho 20, 2008

Identidade e Individualidade Nacional Portuguesa

(excerto de um trabalho do Tenente-Coronel João José Brandão Ferreira)

Conhecer as pessoas que connosco partilham a cidadania faz parte do cartão de identidade de cada nação. Por isso não resisto a dar-vos um pequeno apontamento sobre o modo de ser português.

"Sendo nós Portugueses convém saber o que é que somos".
Fernando Pessoa

Que se poderá então dizer dos portugueses? Comecemos por uma frase do Professor Jorge Dias em "Ensaios Etnológicos":"é um povo paradoxal e difícil de governar, os seus defeitos podem ser as suas virtudes e as suas virtudes os seus defeitos, conforme a égide do momento".
O povo português é profundamente individualista, tem grande dificuldade em trabalhar em grupo e em se entender com os outros. É muito cioso das suas ideias, o que por vezes revela uma certa intolerância. É vaidoso, no sentido de gostar de ostentação, de riqueza e do luxo, e susceptível quanto aos seus preconceitos, formulas e ilusões. Possui temperamento amoroso e é humano e bondoso. Usa mais o coração que a cabeça.
É desorganizado e imprevidente, mas possui um extraordinário poder de improvisação. A sua capacidade de adaptação a outras gentes, culturas, climas, línguas e profissões é tremenda, com a particularidade de não perder o seu carácter.Tudo isso, ligado ao sentido humanista, caracteriza e explica a colonização portuguesa. Possui espírito aventureiro e messiânico, que é bem demonstrado pela emigração. O português é independente e gosta da sua liberdade. Tem dificuldade em aceitar regras e autoridade. Só trabalha bem quando é bem dirigido. Leva as coisas pouco a sério. Não é persistente, o que de certo modo está ligado ao seu espírito aventureiro e ao ser sonhador. Apesar de possuir grande dose de solidariedade não deixa de ser invejoso em relação ao que outros alcançam. O português é idealista, emotivo e imaginativo, não é dado a reflexão, não quer discutir o mundo nem a vida, contenta-se em viver exteriormente. O português possui pouca alegria e exuberância, mas um forte sentido do ridículo, tendo em conta as opiniões alheias. O seu sentido de humor traduz-se mais em forte sentido de crítica, troça e ironia. O português não é fraco nem cobarde. É, de certo modo, derrotista ou fatalista, revela ainda um certo pendor para a imitação - tendendo até a pôr as coisas nacionais em segundo plano em relação ao estrangeiro -, o que se traduz em falta de iniciativa e actividade criadora. Possui grande afectividade, não gosta de fins trágicos, não devendo ser por acaso que em Portugal não há pena de morte e nas touradas os touros vêm embolados e não são mortos. A sua religiosidade foi moldada ao longo dos tempos pelas suas características. Por fim, há a saudade, esse estado de espírito muito próprio do português, que tantas coisas podem querer significar, e que a tantas coisas pode conduzir.
(...)

Identidade e individualidade nacional

(reflexões do Tenente-Coronel João José Brandão Ferreira)

Falar de identidade e individualidade nacional é um assunto de todos os tempos e de todos os cidadãos.
Sem embargo, a sua relevância varia com a conjuntura quer nacional, quer internacional e a sua importância abrange os portugueses de todas as condições sociais sem todavia pôr em causa a prioridade que deve ser dada àqueles que se destinam a ocupar lugares de responsabilidade.
Tenho para mim que, actualmente, vivemos tempos em que a reflexão sobre estes conceitos é mais importante do que nunca. Por um lado, vivemos tempos de globalização em todos os aspectos da actividade humana - e não quero deixar passar a oportunidade para frisar que a primeira globalização foi feita pelos portugueses, não só porque puseram todo o mundo em comum mas, ainda, porque tentaram construír um projecto de unidade espiritual sob a égide portuguesa.
Ora só sobreviveremos a esta globalização se conseguirmos manter uma mais valia colectiva em termos qualitativos e quantitativos.
Por outro lado, o mundo cada vez é mais atravessado por internacionalismos e por organizações de carácter transversal. E Portugal pertence ainda a diversas organizações internacionais políticas, económicas e de segurança e defesa.
A nível da União Europeia existem teses de futuro de carácter federalista e de ambos os lados da fronteira Luso-Espanhola continuam vivos sonhos de União Ibérica. As ameaças à identidade e individualidade portuguesa são pois vastas e de muitos matizes. Mas não ficamos por aqui - o nível da consciencialização da sociedade para esta problemática está cada vez mais frágil.
Primeiro pela escola que não ensina; depois pela acção deletéria dos media; por correntes doutrinárias e filosóficas com preponderância em meios intelectuais e artísticos; pelo fim do serviço militar obrigatório, etc. E também pela desagregação da família tradicional. Não nos devemos esquecer que uma Nação não é mais do que um conjunto de famílias, se quisermos, uma família grande.
Finalmente pelo próprio discurso oficial que maioritariamente esquece estes conceitos. E quando fala limita-se a aspectos de identidade - como a língua, por exemplo -, deixando cair o termo individualidade que obviamente está ligado à soberania e independência.
Ora, caros leitores, eu não sei como se consegue manter uma sem a outra. E pergunto ainda para que é que nos serve a identidade se não quisermos assumir uma individualidade ...
Vou tentar ilustrar o que estou a dizer com um pequeno exemplo.Todos os 1º de Dezembro comemora-se o feriado do 1º de Dezembro, onde se comemora a restauração da independência nacional, ou melhor dizendo, se comemora a data em que a coroa portuguesa deixou de estar associada à coroa espanhola.
Quantos dos leitores já participaram nas cerimónias?. E no 10 de Junho, onde se comemora o dia de Portugal? Muito poucos,certamente!
Mas não fiquem acabrunhados,a maioria de quem está a ler este escrito faz parte do esmagador número de portugueses para quem os feriados são apenas um dia para folgarem.
E o mesmo se vai passando com as entidades oficiais, que se limitam a promover pequenas cerimónias algo soporíferas.
Ora se quase ninguém no País liga ao significado dos feriados, justifica-se que eles existam? E notem que não estou a falar de feriados religiosos que apenas vinculam os crentes, nem de datas que possam não ser consensuais na sociedade portuguesa, como sejam o 5 de Outubro ou o 25 de Abril, por exemplo, mas sim a duas efemérides em que se comemora e exalta a nação dos portugueses e a Independência Nacional.

(...)

Corrupção e poder local

A SEDES vai realizar uma conferência sobre "Corrupção e poder local", nas instalações da SEDES, na Rua Duque de Palmela, n.º 2, 4º Dto., em Lisboa, no dia 24 de Junho de 2008 (terça-feira) às 21.30 horas.
A conferência será proferida pelo Prof. Paulo Morais, ex-vereador da Câmara Municipal do Porto e autor do livro "Mudar o poder local".
Seguir-se-á uma intervenção do Dr. Ricardo Sá Fernandes, advogado, que entre outras coisas relatará a tentativa de corrupção de que foi alvo.
As intervenções e o debate serão moderados pelo Dr. Eduardo Dâmaso, jornalista.
A entrada é livre, e creio que o tema interessa.

quinta-feira, junho 19, 2008

Impasses do vazio

«As lideranças da direita continuam a fazer política como se a actual "crise" não fosse mais do que uma dificuldade temporária, feita à medida para as oposições se habilitarem à herança de S. Bento. Por isso, discutem se lhes convém ir pela "esquerda" ou pela "direita", serem mais "liberais" ou mais "sociais", na suposição de que essas coisas devem ser vistas como simples alavancas eleitorais, dispensando qualquer convicção. É esta leviandade justificada? Os portugueses estão a passar pelo mais prolongado período de divergência em relação à Europa desde a década de 1930. A Europa ameaça reencontrar os dilemas da inflação da década de 1970, com os decorrentes conflitos. Portugal, como os outros países europeus, precisa de orientações definidas com clareza e convicção. As nossas direitas não parece terem dado por nada. E arriscam-se a que os portugueses dêem por isso.»

Rui Ramos, no Público

Encontros na Sociedade Histórica

Para a semana que vem na SHIP:

Terça, 24/06/2008
Curso “A Filosofia Portuguesa no Século XIX”: “A reacção espiritualista: VI – Antero de Quental”, pela Prof.ª Dra. Maria de Lourdes Sirgado Ganho, promovido pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. Na Sala do Conselho Supremo às 15h00.

Quarta, 25/06/2008
Colóquio de Homenagem a António José de Brito, promovido pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. Na Sala do Conselho Supremo, das 10h00 às 19h00.

Sexta, 26/06/2008
Curso “Portugal na Alta Idade Média”: “A regência de D. Pedro e o reinado de D. Afonso V”, pela Mestre Julieta Araújo e Esteves. Na Sala do Conselho Supremo às 15h00.

Cria-se uma comissão

Tremei, ó corruptos do meu país: a nossa Assembleia da República acordou hoje metida em brios, toda assanhada no combate à corrupção.
Atirou-se a discutir (discutir é como quem diz, nesta altura do discurso está toda a gente de acordo) nem mais nem menos que uma proposta do Partido Socialista para criação de um "Conselho de Prevenção da Corrupção", nova entidade a funcionar futuramente junto do Tribunal de Contas.
Lembrou-me irresistivelmente a "Alta Autoridade Contra a Corrupção", que funcionou um ror de anos junto da Presidência do Conselho de Ministros e nunca encontrou corrupção nenhuma (embora tenha servido para oferecer bons lugares a umas quantas inutilidades).
Neste caso não vai ser assim, nem por sombras. Não senhor: este "Conselho de Prevenção da Corrupção" não vai servir para criar mais uns tantos empregos para a classe política, e jura bem jurado que vai ser um exterminador para o flagelo.
Pairando nas alturas da assembleia, por sobre as excelsas cabeças dos venerandos deputados, um diabinho chavelhudo ria a bom rir. Dizia ele, piscando o olho, que ainda ele era novo e já ouvia dizer que em não se querendo resolver mesmo um problema criava-se uma comissão.

quarta-feira, junho 18, 2008

A glória editorial do Estado Novo

Multiplicam-se as edições sobre o período do Estado Novo.
Passeando por aí, só nos Livros Horizonte encontram-se as três obras que vou referir, de diferente temática, e que têm em comum a época em estudo.
O Embaixador Fernando de Castro Brandão, em tempos assistente de Borges de Macedo, já autor de uma "História diplomática portuguesa" e um volume sobre "Relaciones diplomático-consulares entre México y Portugal", fez agora sair um novo livro: "Estado Novo - uma cronologia", que se apresenta como a primeira cronologia com carácter monográfico que se publica acerca do Estado Novo.
A mesma editora já tinha publicado antes "Exposições do Estado Novo, 1934-1940", de Margarida Acciaiuoli, e "A Arquitectura no Estado Novo", de Pedro Vieira de Almeida.
Quem tiver tempo, dê-me novas do resultado das leituras...

O lodo que faz músculo

Bela passagem do esquecido Herculano, esta que encontrei no Do Portugal Profundo:

"Na maioria das sociedades actuais falta geralmente aos homens públicos o valor não só para ousar o bem, mas, até, para praticar francamente o mal. Deste facto psicológico, que assinala as épocas de profunda decadência moral, deriva principalmente a hipocrisia; a hipocrisia, que é a anemia da alma. A altivez insolente do poder que se coloca acima do decente e do legítimo e que ri das invectivas da opinião indignada, como de um clamor sem sentido, tem o que quer que seja de grandioso, como o raio de luz que serpeia ainda na fonte do anjo das trevas; a maldade impenitente que se desculpa, que busca aninhar-se no manto da inocência, que a ocultas se reclina num leito de alheias agonias, e que, firmado o pé sobre o chão húmido das lágrimas que faz verter, inclina a fronte com a resignação do martírio e inventa uma força estranha para se declarar constrangida, é vil, dez vezes vil: é o lodo que se faz músculo."

A culpa é do sistema

Paulo Marcelo, n'O Cachimbo de Magritte:

"Que me desculpem os ministros da Justiça que gostam de ter o nome ligado aos novos "códigos". Mais do que mais ou melhores leis, o sistema judicial precisa de mais meios e melhor organização. O que é menos visível mas muito mais eficaz."

terça-feira, junho 17, 2008

Pais de afecto

O país acompanhou com comoção o caso do bebé que foi raptado sábado à tarde na maternidade do Hospital Padre Américo, em Penafiel.
Devido à rápida actuação das autoridades, a criança foi encontrada algumas horas mais tarde.
Foi entregue aos pais biológicos.
Quanto à presumível raptora, vai aguardar julgamento em prisão domiciliária.
Teve azar, a rapariga. Ela só aspirava à maternidade, e também era esse o sonho do namorado.
Tivessem-lhe dado tempo, e teríamos ali um casal de pais afectivos erguidos em triunfo por toda a comunicação social, mais o movimento nacional feminino das ex-presidentas da república e os influentes da associação 25 de abril.
Não houve foi tempo para consolidar os vínculos da paternidade psicológica.
Raios.
Para a próxima deviam fugir para mais longe, ou esconder-se melhor - ou garantir uns protectores capazes de evitar surpresas policiais.

A BELA SITUAÇÃO A QUE CHEGÁMOS

(artigo do Tenente-Coronel Brandão Ferreira)

O único local em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário
(lema da Escola de Karate Shotokan da A.E.I.S.T.)

Jornais e televisões ingleses, em passado recente, davam conta das conclusões de um estudo encomendado pelo Ministério da Defesa Britânico mandado efectuar na sequência de se ter verificado a desistência de cerca de um quarto dos voluntários para as Forças Armadas de Sua Majestade durante a recruta. O estudo concluiu e o respectivo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas (CEMGFA), corroborou publicamente, que a dificuldade de retenção dos candidatos a militar (num regime muito louvado de voluntariado puro …), se resumia na dificuldade que os mancebos actualmente têm em “aguentar” a disciplina castrense. Tal é fruto da evolução da sociedade, que faz com que os jovens cheguem à idade adulta sem qualquer tipo de organização mental, hábitos de trabalho, disciplina de vida, referências morais sedimentadas, nem dispensarem uma panóplia variada de cómodos e artefactos de diversão (por ex., terem um toca CDs no quarto), e reagirem muito mal a que se lhes eleve a voz. E afirmava pesaroso o CEMGFA (nós ouvimos): “os jovens chegam até nós, sem qualquer tipo de respeito ou deferência …”. E acrescentava, que dadas as facilidades actuais, jovem que se aborreça na recruta, telefona para casa (por telemóvel obviamente) e a sua mãezinha vem de imediato buscá-lo!
E por isto tudo, o relatório recomendava que se abrandasse a disciplina, facilitasse a vida aos recrutas, se melhorassem um certo número de instalações e da parafernália electrónica e, “last but not least”, se melhorasse o acesso aos preservativos alargando generosamente a distribuição das respectivas máquinas! No fim, o malfadado general (mais um a fazer o frete …), sossegou os seus concidadãos afirmando que tudo se iria fazer para que o produto acabado, não perdesse a qualidade. Presume-se, é bom de ver, com a ajuda do Harry Potter!
Ora aqui temos mais um exemplo desta desgraçada civilização ocidental, desta vez pela mão da velha “Albion”, que dispõe (ainda) de um dos melhores exércitos do mundo e onde se suporia habitarem mentes mais atinadas. É que, de facto, e lamentavelmente, o relatório em vez de apontar as causas profundas e bastas que levaram a este estado de coisas e os remédios para as mesmas (que são da responsabilidade de todo o governo e não apenas do ministro da Defesa), se limita a constatar com fatalidade a triste realidade e a propor acções sobre os efeitos. O que só irá agravar as causas e afastar para as calendas gregas a resolução dos problemas. Daqui a pouco tempo surgirá outro estudo a propôr qualquer coisa do género: quartos para unidos de facto; casas de banho para homossexuais, heterossexuais, transexuais, mistas, bi e outras que se inventem; camarões grelhados para o lanche; shows de “strip” antes do recolher; massagens após a instrução de “aplicação militar” (leve); intervalos obrigatórios nos exercícios, para o pessoal poder telefonar à namorada(o) etc. Um etcetera que apenas encontrará limites na degradação da coluna vertebral (vulgo carácter) dos envolvidos e, claro, no dinheiro disponível. Todavia pensamos, que tudo isto só se irá inverter quando houver um susto grande e se, nessa altura ainda houver capacidade de reacção. O assunto é grave e não se limita a um ou dois países: vai do Atlântico aos Urais e por isso é de muito mais difícil resolução. É uma espécie de fim do império romano, que acabou por cair quando os cidadãos romanos deixaram de querer defender a cidade e contrataram “bárbaros” para protegerem as suas fronteiras. Os bárbaros, ao fim de algum tempo, e já que estavam lá dentro, acabaram por tomar a cidade. Quando uma qualquer tribo aguerrida de “tártaros” se aperceber deste estado de coisas e chegar à fronteira, bastar-lhes-à levantar a cancela (se esta ainda existir ou não tiver sido aberta antes), e tomar conta de território e populações, sem disparar um tiro. É, apenas, uma questão de tempo.

João José Brandão Ferreira
TCOR PILAV (R)

segunda-feira, junho 16, 2008

Quando regeneração se escreve com d

As eleições autárquicas de 2009 ameaçam tornar-se uma apoteose no combate pela moralização e credibilização da vida política em Portugal...
Em Marco de Canavezes, Avelino Ferreira Torres anunciou que é de novo candidato à Câmara local.
Ao que diz, havia milhares de marcoenses a pedirem o seu regresso (e como se compreende o homem tem um coração de manteiga, é incapaz de dizer que não).
Mais ou menos o mesmo já tinha anunciado Narciso Miranda, em relação a Matosinhos. Nem que Cristo venha à terra a pedir-lhe que não (ou que Sócrates lhe transmita idêntico pedido, pessoalmente ou por intermediário credenciado), Narciso será candidato.
Como todos concordaremos, são inevitáveis também as candidaturas de Fátima Felgueiras, de Isaltino de Morais e de Valentim Loureiro, nos respectivos feudos (já se ouvem todos em coro, a cantar eu daqui não saio, eu daqui ninguém me tira).
Tudo porque os povos não podem viver sem eles, é claro.
Até na Guarda já se ouviu a voz quase esquecida de Abílio Curto a recordar que ele é que é (será) o Presidente da Câmara...
Não é possível percorrer o país e esgotar a lista desta galeria de horrores que se faz anunciar triunfalmente com a antecedência de quem se sabe firme e seguro - receia-se que ainda apareçam muitos mais...
Uma coisa é certa: as chefias dos partidos políticos do arco governamental não têm a autoridade necessária para se oporem eficazmente a esta avalanche. Os conselheiros até lhes vão lembrar que ou ganham com eles ou perdem contra eles.
A captura dos poderes locais por este tipo de cacicagem (captura total, dos poderes político, económico, cultural, desportivo, associativo, etc.) coloca problemas ao regime que podem começar a perfilar-se como inultrapassáveis.
Com toda a facilidade, ainda poderemos ver um dia destes os governos reféns de algum ou alguns desses influentes (a chantagem da Madeira ainda vai aparecer como um problema menor, dos tempos em que era só essa).
E a regionalização, alguém quer avançar com a regionalização sem que ao menos um sobressalto lhe agite o ânimo?

COLÓQUIO SOBRE O PENSAMENTO DE ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO

A pretexto da celebração dos 80 anos do filósofo, vai decorrer em Lisboa, a 25 de Junho de 2008, no anfiteatro da Sociedade Histórica da Independência de Portugal – SHIP (Palácio da Independência, Largo de São Domingos, n.º 11) um colóquio sobre o pensamento de António José de Brito, na qual participam algumas das mais destacadas personalidades da vida cultural portuguesa.

Programa, e intervenientes:

10 h - Início dos trabalhos
- A noção de “Insuperável” – Miguel Real
- O conceito de razão – Manuel Candido Pimentel
- O idealismo – Carlos Morujão
- A dialéctica – Samuel Dimas
- O argumento ontológico – Carlos Silva
13 h - Intervalo para almoço

15 h - Recomeço dos trabalhos
- O direito natural e os direitos humanos – Mário Bigotte Chorão
- Integralismo, Nacionalismo e Democracia – Ana Paula Loureiro de Sousa
- O diálogo crítico de António José de Brito com Miranda Barbosa e Cabral de Moncada – António Braz Teixeira
- António José de Brito perante o problema da filosofia portuguesa – Celeste Natário
- Perspectiva Ética do pensamento de António José de Brito – Carlos Leone
- Breve reflexão a propósito de António José de Brito – Renato Epifânio
19 h - Encerramento do Colóquio

Como Joaquim Paço d'Arcos sentiu o 25 de Abril

(Transcreve-se um poema de Joaquim Paço d'Arcos, que muito provavelmente não constará das selectas oficiais).


25 de Abril de 1974

Duzentos capitães! Não os das caravelas,
Não os heróis das descobertas e conquistas,
A Cruz de Cristo erguida sobre as velas
Como um altar
Que os nossos marinheiros levavam pelo mar
À terra inteira!
(Ó esfera armilar.
Que fazes hoje tu nessa bandeira?)
Ó marujos do sonho e da aventura,
Ó soldados da nossa antiga glória,
Por vós o Tejo chora,
Por vós põe luto a nossa História!
Duzentos capitães! Não os de outrora...
Duzentos capitães destes de agora,
(Pobres inconscientes)
Levando hílares, ufanos e contentes
A Pátria à sepultura,
Sem sequer se mostrarem compungidos
Como é dever dos soldados vencidos.
Soldados que sem serem batidos
Abandonaram terras, armas e bandeiras,
Populações inteiras
Pretos, brancos, mestiços
(Milagre português da nossa raça)
Ao extermínio feroz da populaça,
Ó capitães traidores dum grande ideal
Que tendo herdado um Portugal
Longínquo e ilimitado como o mar
Cuja bandeira, a tremular,
Assinalava o infinito português
Sob a imensidade do céu,
Legais a vossos filhos um Portugal pigmeu,
Um Portugal em miniatura,
Um Portugal de escravos
Enterrado num caixão d’apodrecidos cravos!
Ó tristes capitães ufanos da derrota,
Ó herdeiros anões de Aljubarrota,
Para vossa vergonha e maldição
Vossos filhos mais tarde ocultarão
Os vossos apelidos d'ignomínia...
Ó bastardos duma raça de heróis,
Para vossa punição
Vossos filhos morrerão
Espanhóis!


10 de Junho de 1975 (antigamente Dia da Raça).
Joaquim Paço D'Arcos

JOAQUIM PAÇO D’ARCOS – CORRESPONDÊNCIA E TEXTOS DISPERSOS

(Na altura do centenário do escritor Joaquim Paço d'Arcos, que passou a 14 de Junho, a Dom Quixote publicou um volume póstumo do autor, sequência e encerramento da sua obra literária e de memorialista) .

Joaquim Belford Corrêa da Silva (Paço d'Arcos) nasceu em Lisboa, a 14 de Junho de 1908. Em França, em 1931, escreve o seu primeiro romance, Herói Derradeiro. Ergueu uma abundante e vigorosa obra literária, com 50 títulos publicados, como romancista - donde se destacam os seis volumes de "Crónica da vida Lisboeta" -, novelista, contista, dramaturgo, ensaísta, poeta. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores, membro da Société dês Gens de Lettres de France e da Academia Brasileira de Letras. Os seus livros de memórias ficaram interrompidos no final do terceiro volume por ter falecido a 10 de Junho de 1979, em Lisboa.
Este livro corresponde, afinal, a um IV volume de "Memórias da Minha Vida e do Meu Tempo", editado postumamente. Cumpre-se assim um dos últimos desejos de Joaquim Paço d’Arcos, no ano em que se comemora o 100.º aniversário do seu nascimento.

sábado, junho 14, 2008

Vladimir Bukovsky: a União Europeia e a URSS

sexta-feira, junho 13, 2008

Assine a "Nova Águia"

Assine a "Nova Águia", uma revista de cultura para o século XXI:

Como é sabido, A Águia foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal, em que colaboraram algumas das mais relevantes figuras da nossa Cultura, como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Leonardo Coimbra, António Carneiro, António Sérgio, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.
A NOVA ÁGUIA pretende ser uma homenagem a essa tão importante revista da nossa História, procurando recriar o seu "espírito", adaptado aos nossos tempos, ao século XXI.


Mais informações no blogue Nova Águia.

Dar o dito por não dito

Ao que dizem as notícias, confirma-se o terramoto com epicentro na Irlanda.
Os únicos europeus que tiveram a possibilidade de votar, disseram que não.
Como se esperava, os responsáveis do cozinhado feito em Lisboa expõem a sua conclusão: o erro foi permitir a consulta. São assuntos importantes demais para permitir a ingerência da populaça.
Já por aí vai um alvoroço, no afã de encontrar forma de retirar qualquer efeito ao resultado do referendo.
Por este andar ainda será a própria democracia a ser mandada para a reforma, como coisa imprevisível e sem préstimo, a todos os títulos perigosa para o projecto.
Não que eu lamente a velha meretriz, mas estes gajos são piores que tudo.
Ainda são capazes de fazer de mim um democrata.

quinta-feira, junho 12, 2008

Partir para outra

Diferentemente da selecção nacional de futebol, Sócrates parece estar a jogar sozinho. Desta forma, enquanto ela pode ser que ganhe, em relação a ele tudo se encaminha para que ganhe - inevitavelmente.
A oposição desertou o campo. Ninguém sabe do PSD, e o outrora famoso Dr. Portas só esbraceja de vez em quando para aparecer nos telejornais, e até isso muito raramente.
Os únicos receios da maioria socretina parecem ir para a agitação à sua esquerda. Se crescerem para além do conveniente, o PCP e o BE podem dar cabo da maioria absoluta. Uma tragédia, governar com essas limitações. É preciso estar atento a tão negra perspectiva. Mas não há crise: o Alegre e a Roseta podem perfeitamente andar por aí durante um ano, à solta, a soprar virtude e indignação. No último momento trazem o rebanho ao redil, quer dizer, os votos ao sítio.
Da esquerda nada mais pode vir além do que temos; é ela a matriz fundacional deste estado de coisas, e esgotou-se. Por mais que pareça mexer-se será sempre como um cão que morde a própria cauda, às voltas sem sair do mesmo sítio.
Mas que fazer com esta direita? A verdade é que com esta não há muito a fazer, nem nada a lamentar. Se por direita entendemos aquela parte da classe política instalada no PSD e no CDS, e que tem protagonizado a alternância com o PS, é preciso dizer que a generalidade dela está satisfeita, e tem razões para isso. Sócrates serve-lhe perfeitamente.
Se por direita quisermos referir outra coisa, então será preciso construí-la, como realidade presente no panorama político português. Quanto a ser isso possível ou não, não sei. Nesta matéria sou decididamente um voluntarista. É uma empresa humana: será possível se houver gente com vontade de a realizar, em número e qualidade bastante. É redundante (será possível se for) mas parece-me a única certeza firme que se pode afirmar. De resto, toda a especulação sobre "condições objectivas" surge-me como meramente académica. É matéria útil a estudar, para orientar a acção - se esta existir. As condições objectivas criam-se, quando as subjectivas existem.
O importante é mesmo acentuar este ponto: transformar a realidade política portuguesa é uma empresa humana, e as empresas humanas dependem dos homens e das vontades.
Obviamente, se a direita está bem assim não há que contar com ela para derrubar o que está.
Se não estiver, não faz sentido que continue a insistir em mais do mesmo.
Vamos para outra, que está tudo por fazer.

Divulgar a Fraternidade São Pio X

Um leitor deixou-me um recado, que com todo o gosto transmito aos outros leitores:

Sou católico e simpatizo com a obra que a FSSPX realiza. Chamo-me Vítor e venho aqui pedir ajuda para divulgarem a FSSPX. Quer concordemos com as posições da FSSPX quer não concordemos, ela é a única em Portugal a pôr à nossa disposição a Missa Tradicional, a Missa de Sempre. Sou do Porto e tenho pena de tão poucos católicos daqui conhecerem a Missa de S. Pio V. Ajudem a divulgar a FSSPX. Quem quiser contactos da FSSPX, locais de missa, é favor enviar um mail para vilar.vitor@clix.pt a pedir. Estou completamente ao dispor.

Centenário do Nascimento de Joaquim Paço d'Arcos

A assinalar o centetenário de Joaquim Paço d’Arcos, que passa no dia 14 de Junho, acaba de ser editado pelas Publicações D. Quixote um volume de "Correspondência e Textos Dispersos 1942-1979".
Chama-se vivamente a atenção para a efeméride. Aos que aqui passam, recomenda-se que homenageiem Paço d'Arcos da melhor maneira possível: leiam a sua obra.

quarta-feira, junho 11, 2008

Tragédia!

O presidente do Instituto da Droga está desolado: o programa de troca de seringas nas cadeias correu mal, nenhum recluso reclamou seringas oferecidas para se drogar.
Mas o Instituto não esmorece: vai realizar inquéritos à população prisional para perceber a falta de adesão ao programa.
E aponta já a necessidade de tomar medidas para que a situação seja alterada.
Receio que, a vingar a sensibilidade da diligente instituição, ainda se venha a estabelecer uma espécie de sanção acessória, a acrescer obrigatoriamente às penas de prisão: todo o condenado em pena de prisão efectiva fica condenado cumulativamente a aceitar e usar as seringas do Instituto.
Salve-se o programa, caramba!

Entroncamento: exige-se segurança!

Os nossos amigos do Entroncamento reclamam mais segurança na sua cidade: têm todo o direito a isso....
É de assinar, a petição Entroncamento seguro.

Outro 10 de Junho


A inauguração do Estádio Nacional

Outro 10 de Junho


Inauguração do Estádio Nacional

Outro 10 de Junho


A inauguração do monumento aos combatentes do Ultramar

sábado, junho 07, 2008

10 de Junho em Lisboa


10 de Junho em Sintra


http://blogidentitario.wordpress.com/

Irish friends vote no for me!

Uma campanha necessária, e uma petição para assinar.
Últimos dias!

quinta-feira, junho 05, 2008

“Os valores da Nação e o papel das Forças Armadas nas sociedades desenvolvidas”

Pela primeira vez este ano, a Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes 2008, em colaboração com a Revista Militar e a Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional, promove uma Conferência subordinada ao tema em epígrafe que decorrerá durante o dia 9 (nove) de Junho no Anfiteatro 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. A Comissão tem a honra de convidar todos os interessados a estarem presentes nessa sessão pública.
As sessões decorrem a partir das 9.30 e até às 17H30, e entre os intervenientes contam-se o Tenente General António Jesus Bispo, o Prof. Adriano Moreira, o Prof. João Ferreira do Amaral, o Almirante Nuno Vieira Matias, o Embaixador Leonardo Matias, o Prof. Joaquim Aguiar, o Dr. Paulo Teixeira Pinto, o General Gabriel Espírito Santo, o Prof. Jaime Nogueira Pinto, a Dr.ª Maria Perpétua Rocha, o Prof. Carlos Gaspar, e o Dr. Vítor Augusto Bento.

Encontro Nacional de Combatentes 2008

A Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes 2008 tem o prazer de convidar V. Exa., família e círculo de amigos a participarem nas comemorações do Dia de Portugal e na homenagem à memória de todos quantos, ao longo da nossa história, chamados um dia a Servir, tombaram no campo da honra, em qualquer época ou ponto do globo. As cerimónias decorrerão na Igreja dos Jerónimos e junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém, Lisboa, e serão marcadas pelo espírito de fraternidade lusófona e pela elevação e dignidade do único propósito que as enforma, que é celebrar a Pátria e honrar os nossos mortos.
O Presidente da Comissão
Manuel José Taveira Martins
(General)

As cerimónias decorrem a partir das 10h30 na IGREJA DOS JERÓNIMOS, e a partir das 11h30 junto ao MONUMENTO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR, terminando com um Almoço-convívio no local.

O OUTRO MAIO DE 68

(Na sequência dos depoimentos sobre o Maio de 68 de Christian Bouchet, Dimitrij Grieb, Alain de Benoist, e Bruno Gollnisch, , publico hoje um texto de Maria José Nogueira Pinto. É já um belo dossier sobre o tema. O Maio de 68 visto da Direita).

A "revolução inexistente" de Maio de 68, que há 40 anos e agora muita tinta e pouco sangue (graças a Deus) fez correr, teve nas suas comemorações por cá aquele lado já nostálgico mas também branqueador com que a esquerda fundamentalista sempre celebra e embeleza os seus mitos.
A bem dizer, recordando esses dias de Maio, que aqui pudemos seguir nos jornais e na RTP dos últimos meses do salazarismo (Salazar deixaria o poder por doença quatro meses depois), para além da espectacularidade das ruas do Quartier Latin em fogo, das batalhas campais dos estudantes contra polícias, da greve geral de sete milhões de trabalhadores com ocupação de fábricas, poucas vezes uma rebelião, no seu curto e médio prazo, pelo menos, terá tido efeitos tão perversos para os seus promotores.
Recordemos. Na noite de 24 de Maio, mais ou menos três semanas depois do início dos tumultos, a violência atinge o seu paroxismo com o ataque, com cocktails Molotov a um Comissariado de Polícia, na Place du Panthéon, no 5ème Arrondissement. Cercados, com a esquadra a arder, os agentes põem a questão e pedem autorização superior de abrir fogo para se libertarem. Os CRS (Compagnies Républicaines de Sécurité) chegam a tempo de dispersar os atacantes e de os livrar. E nessa noite, em Paris e em Lyon, ocorrem os dois primeiros mortos desta revolução até aí sem sangue.
No dia seguinte, a opinião pública virou e começa a condenar os "revolucionários". Georges Pompidou, o mal-amado primeiro-ministro de De Gaulle, põe em marcha a sua estratégia. Já percebeu que os comunistas e a CGT, enfeudadíssimos à linha de Moscovo e de Breznev, não querem criar problemas à França gaullista, que joga no antiamericanismo e terceiro-mundismo, critica a política de Washington no Vietname e perturba a unidade da NATO.
Pompidou avança assim para as negociações sociais com os sindicatos, que não querem confusões com os estudantes, com os "filhos da burguesia" e com as suas proposições de retórica maoísta e radical. Pompidou está a preparar o terreno, através de um jovem secretário de Estado que depois dará que falar - Jacques Chirac. É na Rue de Grenelle que tudo se passa. Estão lá as grandes centrais sindicais - a GGT comunista de Séguy, a CFDT. As reivindicações concretas - aumento do salário mínimo, alargamento dos direitos sindicais, abertura à famosa participação, avançam rapidamente nesse fim-de-semana de 25, 26 de Maio. Os comunistas não se querem deixar ultrapassar pelos socialistas e esquerdistas; na segunda-feira, 27, de madrugada, chega-se a um acordo.
A esquerda parlamentar, com Pierre Mendès-France e François Mitterrand, procurou repescar a crise; mas hesitou na táctica, entre a linha próxima dos esquerdistas e a estrita legalidade, e deixou-se ultrapassar.
O Governo, no fundo, passada a surpresa, fez uma gestão controlada dos medos e indignações da classe média. Depois dos Acordos de Grenelle, que desmobilizavam os sindicatos na via revolucionária, apesar de as ocupações das fábricas só irem terminar em meados de Junho, era a hora da iniciativa.
De Gaulle partiu para a Alemanha em 29 de Maio, para se encontrar com Massu e com os comandantes do Exército do Reno em Baden-Baden e pedir o seu apoio em caso de confrontação. A troco - que lhe foi exigido - da libertação dos oficiais ainda presos por causa da Argélia Francesa, recebeu o apoio dos militares. Com esta segurança voltou a Paris e a 30 de Maio, às quatro da tarde, falou à Nação com aquela voz profunda, solene, histórica, de militar da velha guarda. Que não se ia embora, que conservava o primeiro-ministro, que dissolvia a Assembleia Nacional. Que o povo decidisse.
Estava a acabar o seu discurso, uma gigantesca manifestação das "direitas unidas" e dos gaullistas saía para as ruas de Paris. Semanas depois eram as eleições e a esquerda conhecia uma derrota espectacular.

quarta-feira, junho 04, 2008

Para que serve este jornalismo?

Abro o "Expresso" electrónico e sou surpreendido com um título: "Alegre surpreende a esquerda". Leio, curioso de saber qual seja a surpresa, e fico a saber que, segundo o articulista, "Manuel Alegre surpreendeu os presentes no Teatro da Trindade com um discurso inflamado de condenação da política do governo PS".
Nem mais nem menos: um discurso pré-anunciado, longamente, por todos os meios de amplificação à disposição dos promotores, uma semana inteira a rufar os tambores à procura do clímax emocional desejado, uma coisa analisada e dissecada até à exaustão por todos os comentadores, e o principal semanário português faz primeira página a dizer que foi uma surpresa. Não sei de onde terão vindo os "presentes no Teatro da Trindade", e o jornalista redactor desta acta, se da Lua se de Marte.
Uma peça destas lembra uma encenação de récita escolar: agora eu faço que surpreendo, agora vocês fazem-se de surpreendidos, depois eles escrevem a dizer que foi uma surpresa... Ou talvez um ensaio daqueles programas de televisão com público ao vivo: quando eu levantar este cartaz riem-se muito, quando levantar este batem todos palmas, quando fizer sinal ficam todos muito surpreendidos...
Um espanto. Confesso a minha ingenuidade, mas ainda me surpreendo.

Nota: eu penso que os portugueses que estão desempregados e passam dificuldades merecem a nossa preocupação e a nossa solidariedade. Duvido é que tenha legitimidade para dizer isso um figurão que desde há décadas tem todas as responsabilidades políticas na situação, e vive à grande com uma choruda reforma que abichou por via de um cargo que nunca exerceu e que acumula desavergonhadamente com os privilégios próprios de um dos mais elevados cargos do Estado a que isto chegou.

segunda-feira, junho 02, 2008

Um julgamento do regime?

Está marcado para o próximo dia 9 de Junho o início do julgamento de António Balbino Caldeira, do blog Do Portugal Profundo, no processo instaurado por Paulo Pedroso devido à cobertura que o blogue foi dando sobre o evoluir do caso conhecido como da Casa Pia.
Através do Público, ficou a conhecer-se a lista das testemunhas de acusação:
Ferro Rodrigues, Vieira da Silva, António Costa, Jorge Sampaio, Jaime Gama, Miguel Júdice, Manuel Alegre, Almeida Santos, Vera Jardim, António Guterres, Mário Soares e José Sócrates.
Como se comenta na Grande Loja, "são estas testemunhas que integram o PS histórico e o seu actual estado-maior que se preparam para prestar juramento em tribunal, assegurando dizer a verdade sobre o que lhes irá ser perguntado. Pelo tribunal, por quem os indicou e pela defesa do arguido que responde por uma caterva de crimes de difamação, por causa do que escreveu num blog, onde exprimiu o seu direito de opinião". (...)
"Ao confundir, mais uma vez, um tribunal com as escadarias da AR, o poder político associado ao queixoso deixa uma mensagem inequívoca de solidariedade entre correligionários. Uma mensagem, mais uma vez errada e deslocada".
Há julgamentos que são só por si uma condenação viva dos acusadores. Seja qual for o resultado.
Pela nossa parte, exprimimos a nossa firme solidariedade a António Caldeira.
E fazemos votos para que aquele tribunal possa efectivamente portar-se como um tribunal verdadeiro.

A APATIA DA FORTE GENTE

(artigo de João César das Neves)

A economia portuguesa é uma das mais flexíveis e dinâmicas do mundo. Esta frase, hoje tão controversa e quase contraditória, permanece indiscutivelmente verdadeira. As provas são fáceis de apresentar.
Portugal tem sido um sucesso notável de desenvolvimento registando, no produto por habitante em paridades de poder de conta, a oitava taxa de crescimento mais elevada do mundo na média de 1960 a 2001. Só sete países no planeta melhoraram mais que nós na segunda metade do século XX. Na União Europeia, o "bom aluno luso" ainda é exemplo: mantém-se como uma das economias pobres que mais se desenvolveu nos primeiros três anos após a adesão, só atrás dos três bálticos e Eslováquia. Além disso, nos 20 anos de 1980 a 2001, tivemos a taxa de desemprego mais baixa da Europa do Sul e a terceira mais baixa dos Doze da UE.
Outros sinais são claros. O nosso país permanece a única economia mundial onde um plano de estabilização do FMI correu bem. Aliás, por duas vezes, em 1977 e 1983. Em ambos os casos, a austeridade funcionou rapidamente, resolvendo o desequilíbrio em menos de três anos. Na sequência, conseguimos ser um dos poucos países a viver 13 anos no sistema cambial de crawling-peg, mecanismo que conta mais fiascos que sucessos na sua história. É precisa muita flexibilidade para sustentar a rigidez dessa disciplina.
Também os importantes fluxos migratórios, característica histórica hoje renovada, são sintomas dolorosos do mesmo dinamismo e flexibilidade. A enorme emigração lusa dos anos 50 e 60 bateu recordes mundiais, com valores só ultrapassáveis por casos de catástrofes naturais. Por outro lado, os episódios de imigração, quer no regresso dos "retornados" em 1975 quer desde a viragem do milénio também são fenómenos em escala incomparável, absorvidos na sociedade com custos elevados mas sem perturbações de maior. Até algumas das chamadas "chagas", como a precariedade do emprego e economia paralela, são evidentes sinais de flexibilidade.
Muitas outras provas poderiam ser aduzidas para substanciar a afirmação. Ela sente-se na recente e incrível transformação estrutural no produto, emprego e comércio externo. Em 35 anos absorvemos 40% da população activa, que estava na agricultura em 1950. Em 15 anos substituímos 20% das nossas exportações, que em 1990 eram têxteis. Hoje as mudanças continuam evidentes, com o crescimento dos serviços e o aparecimento de novos sectores. Se é assim, porque estamos em crise há tanto tempo?
Existe uma serpente neste paraíso, uma Dalila para este Sansão, uma kryptopnite deste Superman. O País que fundou o mais longo e vasto império colonial da História, que defrontou com sucesso a EFTA, a CEE e o mercado único, conhece bem o veneno que corroeu os sucessos iniciais nessas realizações. Não é difícil compreender porque os dois trunfos do nosso desenvolvimento, flexibilidade e improvisação, não têm hoje os resultados de outros tempos. Contra eles conspiram múltiplas forças paralisadoras, as mesmas que nos bloquearam no passado. Enorme camada de parasitas suga o progresso.
Os portugueses, que se excedem nos momentos de dificuldade, costumam cair numa modorra quando tudo corre bem. Após o obstáculo, onde revelámos o nosso melhor, deslizamos para a complacência e cumplicidade, pela instalação dos interesses, bloqueio das corporações, paralisação das burocracias. A economia portuguesa continua tão dinâmica e flexível como sempre. A globalização impõe hoje, como no passado, uma reestruturação, que se verifica. Mas muito lentamente. O motor está atrelado a um peso morto que tem de arrastar: regulamentos e portarias, burocratas e mandarins, impostos e multas, fiscais e inspectores, directivas e diuturnidades, direitos adquiridos e justas reivindicações.
Nos reinado de D. Fernando, D. João III e D. João V, nos consulados do Duque de Loulé, António José de Almeida e desde António Guterres, "um fraco rei faz fraca a forte gente" (Os Lusíadas III, 138). Porque a forte gente se deixou adormecer na apatia das repartições.