sábado, abril 30, 2005

Olhares da Planície

Hoje dia 30 de Abril realiza-se cá em Évora, no Teatro Garcia de Resende, às 17 horas, uma sessão integrada no ciclo "Olhares da Planície".
Um espectáculo com música e poesia de e sobre o Alentejo.
Eu aconselho a ida, mas em alternativa podem sempre ir passear para a "Ecopista".

Fernando Pessoa e Salazar

Ali nas caixinhas de comentários saltou mais uma vez a velha discussão sobre o posicionamento político de Fernando Pessoa.
Não resisto a deitar algumas achas para essa fogueira.
Como se sabe, a esquerda procura utilizar uns conhecidos poemas em que o poeta satiriza Salazar e o Estado Novo para concluir triunfante que o homem era um anti-fascista. O logro está por demais desmontado, e não engana ninguém com um mínimo de conhecimento sobre a matéria. Pessoa efectivamente antipatizava com Salazar e com a situação que este institucionalizava; mas a sua antipatia partia toda do ponto de vista que partilhava com os nacionais-sindicalistas, o de não ser o frio e austero Salazar o chefe que devia incendiar as almas lusitanas...
Posição semelhante à que levava Afonso Lopes Vieira a chamar ao ditador "o escandinavo" ou Tomaz de Figueiredo a designá-lo por "fradalhão de Santa Comba".
Todos eles queriam alguém que fizesse sonhar, alguém que nos fizesse "viver heroicamente" em vez daquele culto da normalidade tão tipicamente salazarista, que proclamava como ideal o "viver habitualmente".
Por outras palavras: Pessoa quando ataca Salazar reprova-lhe o ser tão pouco fascista, o ser tão afastado da imagem ideal do Chefe que o inspirava (e que se vê como construção poética na "Ode ao Presidente-Rei Sidónio Pais", ou nos versos da "Mensagem" que dedica a D. Sebastião, ou ao Condestável).
Isto mesmo já foi explanado por múltiplos autores; e para o efeito recomendo a leitura de dois textos de Alfredo Margarido, insuspeito de simpatias com o salazarismo ou com o fascismo, e que se encontram em linha: "Nota curta para lembrar que Pessoa admirou Mussolini" e "Pessoa, ídolo dos nacionais-sindicalistas".

Ainda o Isaltino

De repente lembrei-me de outra sobre o Isaltino: ele não está completamente descalço em matéria de emprego!
Com efeito, após a sua licenciatura em Direito ingressou na magistratura do Ministério Público. O facto é geralmente desconhecido na imprensa mas é mesmo assim: pouco mais fez do que entrar, logo depois do estágio passou à situação de licença sem vencimento por tempo ilimitado, mas está lá. Basta consultar as listas.
Isaltino de Morais é magistrado do Ministério Público. A todo o tempo pode solicitar a cessação da licença.
Claro que nesta fase teria que se sujeitar a ser Procurador-Adjunto em Figueira de Castelo Rodrigo ou em Vinhais. E o ordenado não lhe chegaria para os charutos.
O estatuto não corresponderia ao que está habituado; mas é estável, e pela progressão normal da carreira se não houvesse problemas poderia ser Procurador daqui a vinte anos, e então já ganharia mais de seiscentos contos por mês, e poderia estar num tribunal lisboeta, perto dos ministérios. Sempre é uma hipótese a considerar.

Isaltações

A mais recente coqueluche mediática é o autarca (autarca significa "o que se governa") de Oeiras, o transmontano Isaltino.
Sorrio ao lembrar-me dele, o Isaltino Isaltado, empregado no Instituto Nacional de Estatística e estudante de Direito, nos corredores da faculdade, carregado de enorme pasta (de livros, de livros...) e pose já ministerial.
Até onde irá neste confronto? Se o tempo não o mudou, se é o mesmo Isaltino, irá borregar no momento que se lhe afigurar mais conveniente (com qualquer explicação estapafúrdia e generosa, sobre os superiores interesses do PSD, ou disto ou daquilo).
Mas nunca se sabe, até pode ser que seja mesmo candidato.
Entretanto, o mais certo é acabar na Quinta das Celebridades. Tenho a certeza que ele aceita.

sexta-feira, abril 29, 2005

Achamentos

Sem tempo para ler coisa de mais fôlego, percorro a net à aventura.
E por acaso descobri um escrito que estive a ler com muito gosto.
É um ensaio interessantissimo e original de Rui Ramos, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com o título Os intelectuais e o Estado Novo.
Não contendo propriamente nenhuma revelação, ou novidade que se assinale, tem o mérito de organizar e sistematizar em moldes académicos uma perspectiva conhecida, por exposta já por outros autores, mas em geral de modo incidental, de passagem, em obras de temática mais alargada.
Recomendo.

Matura idade

Depois de publicar o último apontamento lembrei-me de ir verificar se o GRECE ainda existia. O "Groupement de Recherche et d'Études pour la Civilisation Européenne" foi o enquadramento institucional e orgânico da "nova direita" - in illo tempore...
Existe, acreditando no website (agora quem não tem website não existe, mas daí não resulta que tudo o que tenha website exista mesmo).

Uma nova direita já antiga

Eu ainda sou do tempo... em que a "nova direita" apareceu como grande novidade e Alain de Benoist era para alguns um verdadeiro "maitre a penser".
E agora? Terá leitores? Pelo menos tem muita leitura em linha.

quinta-feira, abril 28, 2005

Aniversário

Comemorou um aninho de vida o Pena e Espada.
Os amigos acotovelaram-se para soprar a vela. Daqui deste obscuro lugar de exílio também lhe enviamos os votos de uma vida longa e feliz.

O banqueiro anarquista

Fernando Pessoa atingiu já um estatuto semelhante ao de Camões: toda a gente "conhece" e ninguém lê.
Estive a reler O Banqueiro Anarquista. Uma delícia. Não sabia que estava em linha.

quarta-feira, abril 27, 2005

A Grande Depressão

Pourquoi cette société nous rend malades?
A esta pergunta tenta responder o último número da revista Éléments, sempre disponível nas Éditions du Labyrinthe.

Não acredito!

Li, mas não acredito:
"Ouvimos nos murmúrios da cidade que o Sr. Presidente pediu aos serviços informáticos a lista dos funcionários que acedem, ou acederam, ao blogue “Mais Évora”.
Não pode ser verdade!

Visita

Hoje, fui até ao já histórico Club de l'Horloge, de Henry de Lesquen - un réservoir d'idées pour la droite...

Imperium Mundi

Está disponível o tomo terceiro da obra decisiva de Jules Monnerot, o clássico Sociologie du Communisme.

Itinerários

Sobre a (re)fundação da direita continuou hoje a discorrer no semanário "O Diabo" este distinto bloguista.
Sobre os tempos da afundação da direita fala este não menos distinto blogador.
Memória e identidade, como titulou o falecido Papa.

Prémio de fidelidade

O mais monteirista dos comentadores do congresso do CDS foi, como não podia deixar de ser, Jorge Ferreira.
Também ainda não largou o tabaco.

BLOGS NA PLANÍCIE - 21 DE MAIO - BEJA

Um novo encontro de blogues, a realizar em Beja: vejam o programa no Praça da República e no Aliciante, que também recebem as inscrições.

Realpolitik

Das notícias:
Gerhard Schroeder insistiu ontem no levantamento do embargo de armamento contra a China, imposto pela UE há 16 anos. No Bundestag o Chanceler defendeu veementemente a sua posição contra as objecções da Oposição e também dos Verdes
Por sua vez, Pequim manifesta-se disposta a apoiar a Alemanha na obtenção de um assento permanente na ONU.
Em Pequim, um porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros disse que o governo chinês apoia um papel maior da Alemanha nas instituições multinacionais, inclusive nas Nações Unidas.

terça-feira, abril 26, 2005

Europae Gentes

Prossegue a campanha contra a eventual entrada da Turquia na União Europeia: como neste sítio, Europae Gentes

Sobre o poeta José Duro

Uma meritória iniciativa do Em Portalegre Cidade: relembrar o esquecido poeta portalegrense José Duro.
Creio que a única edição disponível de "Fel" já tem uns anos mas ainda se pode encontrar na Guimarães Editores.

segunda-feira, abril 25, 2005

OVIBEJA 2005

Decorre entre 30 de Abril e 8 de Maio no Parque de Feiras e Exposições de Beja, e é a 22ª edição da maior feira alentejana.
"Todo o Alentejo deste Mundo" é o mote para expor as actividades culturais, industriais e económicas da região.
É a Ovibeja 2005, e está à vossa espera.

Bulgária e Roménia na União Europeia

A Bulgária e a Roménia assinam, esta segunda-feira, o tratado de adesão à União Europeia. A partir de 1 de Janeiro de 2007, os dois países passam a integrar plenamente a União.
Curiosamente, este alargamento, já uma realidade, quase não tem sido falado (talvez esquecido na sombra da polémica sobre a eventual adesão turca).
Eu gostava de ver analisadas estas adesões, nomeadamente no que se refere a consequências para Portugal, e sugiro a quem sabe dessas coisas (por exemplo, pode ser João Pedro Dias) que escreva sobre o assunto.
Para já, e de acordo com os indicadores conhecidos, parece que no ano de 2007 Portugal deixará de estar na cauda da Europa...

A melhor sobre o congressso do CDS

Veio de José Adelino Maltez, em "Sobre o Tempo que Passa":
"Segundo uma linguagem blogosférica, até podemos dizer que o "No Quinto dos Impérios" suplantou "O Acidental", onde os adjuntos do Parlamento Europeu venceram os assessores do ex-ministro da defesa."

domingo, abril 24, 2005

Deus nos valha!

Podeis não acreditar, mas desde esta manhã que no sítio da Rádio Renascença deparamos com uma notícia que começa assim:
"No primeiro discurso de vitória, José Ribeiro e Castro aceita a vitória, felicita o partido e o congresso e deixa uma palavra de apresso a Telmo Correia."
Será que ninguém lê aquilo?

Artigos de ARBIL

Aqui fica uma página com as ligações para cada um dos mais de 2300 artigos já publicados na revista ARBIL.
Certamente que todos encontrarão ao menos um de que gostem.

Lembranças várias

De Alfredo Pimenta a Manuel Maria Múrias, passando por António José de Brito, recordações avulsas em linha.

Rodrigo Emílio e Couto Viana

A evocação de Rodrigo Emílio pela pena de António Manuel Couto Viana, disponível para ler aqui.

Excursão na memória

Testemunhei há muitos anos a energia transbordante com que o General Themudo Barata conduziu todos os esforços para concretizar a sua ideia: a preservação do local onde decorreu a Batalha de Aljubarrota, a criação ali de um Museu Militar, a salvaguarda e dignificação de todo o Campo de São Jorge.
Foi com grande satisfação que acompanhei a inauguração do Museu.
Com essa mesma alegria verifiquei agora a presença do sítio na internet.
Como estará ao vivo? Passaram 17 ou 18 anos desde a minha última visita!!!

A Igreja e o tempo

Simples e luminosa como a verdade, esta excelente resposta de JSarto.

Fumo branco!

Agora no conclave do CDS, que resolveu confirmar que quem entra Papa sai só Cardeal...
Uma dura lição de humildade para quem andou dois meses convencido que apenas se discutiam as condições da entronização.
A melhor reportagem, vivida e comentada, foi sendo escrita pelo Absonante.

sábado, abril 23, 2005

Citação do dia

De Nivaldo Cordeiro, em Mídia Sem Máscara:
"O esquerdismo é um infantilismo político que só em sociedades de massas, onde o homem-massa pôde chegar ao poder, alcançou suposta respeitabilidade acadêmica e o poder político. Esquerdismo é a mentira política levada ao paroxismo. Vemos no Brasil o mesmo fenômeno com efeito retardado, já que nosso país está sempre pelo menos uma década atrasado: Lula no poder, o homem-massa por excelência liderando a rebelião de seus iguais, quando alçado ao centro de decisão caiu no imobilismo que contraria frontalmente as suas bases de apoio.
Se correr o bicho pega; se ficar o bicho come. Se não fizer um governo sensato, não sobrevive politicamente; se o fizer, desmascara-se por inteiro o discurso pseudo mudancista que foi a base de sua plataforma eleitoral. Esquerdismo afinal é a irracionalidade aplicada às idéias e à ação política e o seu limite é o caos econômico e político, sempre a ser sucedido por alguma forma de tirania.
"

A VOCAÇÃO DA EUROPA

O espírito europeu é talvez a primeira manifestação histórica da fé e vontade de um futuro.
A humanidade europeia mal poderá dar o salto ousado que os mais confiantes esperam dela, se antes disso se não despir até ao seu ser nu, e se não regressar a sua verdadeira natureza. O entusiasmo que sinto por esta cura de nudez e verdade, a consciência de que ela é inevitável se quisermos abrir o caminho a um futuro digno, impele-me a exigir, perante todo o passado, a liberdade de pensamento. O futuro deve dominar sobre o passado, indicando-nos a nossa posição em face do que se passou. No entanto, devemos acautelar-nos contra o pecado mortal daqueles que dominaram o século XIX: da sua falta de consciência da responsabilidade. Eles esqueceram de se manter vigilantes no seu posto. Aquele que se deixa impelir pela corrente de um decorrer favorável dos acontecimentos, insensível perante os perigos e ameaças que espreitam ainda nas horas mais amenas, esse falha perante a responsabilidade com que foi incumbido. Hoje torna-se necessário despertar uma super-sensibilidade naqueles que podem senti-la.
Para a Europa não há nenhuma esperança, se o seu destino não for posto nas mãos de homens verdadeiramente à altura da época, que sintam o pulsar de todo o passado histórico, que reconheçam o actual nível da vida e detestem qualquer atitude arcaica e primitiva. Nós necessitamos da História em toda a sua vastidão, se lhe quisermos fugir e não recair nela.
Cada geração tem o seu próprio destino, a sua missão histórica. Nós pertencemos à nossa época só na medida em que somos capazes de aceitar as suas alternativas e combater numa das trincheiras abertas por ela, porquanto viver é, num sentido essencial, o alistamento sob as bandeiras e a decisão pela luta. Vivere militare est diz Séneca com o nobre gesto de um legionário.
Existem povos massa que se levantam resolutamente contra os povos grandes e criadores, contra aquela élite da estirpe humana que fez a História.
É ridículo que esta ou aquela pequena república se levante na ponta dos pés e ultraje a Europa do seu recanto do mundo, anunciando a sua retirada da História Mundial.
A retirada da Europa não teria importância, se houvesse alguém capaz de a substituir. Mas não existe ninguém. Nova Iorque e Moscovo não são nada de novo perante a Europa. São zonas à margem do domínio europeu que, desmembrando-se do tronco, perderam o seu significado.
Habituando-se o europeu a que ele não mande, então bastariam uma geração e meia para que o velho continente, e depois dele o mundo, se afunde em inércia moral, esterilidade e barbarismo geral. Só a consciência de dirigir e de se responsabilizar, e a disciplina que daí resulta, podem manter viva a alma do Ocidente. Ciência, Arte, Técnica e todo o resto só podem prosperar na atmosfera estimulante do sentimento de domínio. Se este falta, o europeu decairá cada vez mais. Os espíritos não terão por muito tempo aquela inquebrantável fé em si mesmos que os faz fortes, ousados e persistentes para a criação de grandes, novas ideias. Incapaz de acções de impulso criador, o europeu cairá no passado, no hábito e nos caminhos já percorridos.
Será, porém, tão certo que a Europa se encontre em decadência, renuncie ao domínio e abdique? Não será este aparente ocaso a crise salvadora que permita à Europa de se tornar verdadeiramente a Europa? Não foi a manifesta decadência das nações europeias uma necessidade inevitável, se um dia devesse surgir uma comunidade dos povos europeus que substituísse a multiplicidade da Europa pela sua verdadeira unidade?
Para os europeus irrompe agora a época em que a Europa pode tornar-se uma ideia nacional. E esta crença é muito menos utópica do que teria sido a profecia dalguns espanhóis no século XIX. Quanto mais o Estado nacional do Ocidente se mantiver fiel ao seu verdadeiro ser, tanto mais infalivelmente ele se desenvolverá num poderoso Estado continental.
Mal as nações do Ocidente se espalharam até às suas actuais fronteiras, logo à sua volta e por trás delas se tornou visível como que uma fundação da Europa. A Europa é a paisagem comum em que se movem todos os europeus desde a Renascença, e essa paisagem europeia são os próprios povos.
Enquanto se pelejam sobre uma leiva do solo, em muitos centros de outros estabelecia-se comércio com o inimigo, e trocavam-se ideias, formas de arte e princípios religiosos. O estrondo das batalhas foi, de certo modo, apenas um reposteiro, por detrás do qual com tanta mais tenacidade trabalhava o tear da paz, tecendo uma nas outras a vida das nações inimigas. Em cada geração nova cresce a identidade das almas ou, para nos exprimirmos com mais prudência e exactidão: espanhóis, alemães, italianos e franceses são e permanecem tão diferentes quanto se queira mas eles têm, no entanto, a mesma estrutura psíquica e, principalmente, são constituídos com o mesmo conteúdo, religião, ciência, direito e arte; valores sociais e eróticos são assuntos comuns. Mas estas são porém, as substâncias espirituais, das quais nós vivemos. A homogeneidade é, portanto, ainda mais perfeita do que se as almas fossem fundidas num mesmo molde.
Se fizermos hoje um balanço dos nossos bens espirituais - teorias e normas, desejos e suposições - verificar-se-á que a maior parte disso não deriva da nossa pátria, mas sim do fundo europeu comum. Em todos nós, o europeu sobrepassa de muito o alemão, espanhol, francês...
Se nós, como experiência, imaginássemos que tínhamos de viver meramente daquilo com que nós somos nacionais, se nós acaso experimentássemos despir o alemão médio de todos os costumes, pensamentos e sentimentos que ele tomou dos outros países do continente, ficaríamos surpreendidos como tal existência é impossível; quatro quintos dos nossos haveres são bens comuns europeus.
Só unicamente a decisão dos grupos de povos da Europa, uma comunidade, pode estimular de novo o pulso da Europa. O nosso continente tornará a adquirir a fé em si próprio e, como consequência natural, tornará a exigir novamente de si mesmo algo de grande.
A verdadeira situação da Europa, por consequência, poderia descrever-se da seguinte maneira: o seu longo e glorioso passado conduzia-a a um novo nível de vida em que tudo se engrandeceu; mas as suas circunstâncias estruturais, que se mantêm desde o passado, são anãs e dificultam a força de expansão da actualidade.
A Europa surgiu como estrutura de pequenas nações. Pensamentos e sentimentos nacionais foram, em certo sentido, as suas mais características descobertas. Agora, porém, ela vê-se forçada a dominar-se a si própria. Isto é obra do violento drama que se desenrolará nos anos futuros.

Ortega y Gasset
(in «Agora», n.º 346, 02.03.1968, págs. 6/8)

Livraria ao ar livre

Neste sábado em Évora a Praça do Giraldo promete transformar-se numa autêntica livraria ao ar livre.
Comemora-se o Dia Mundial do Livro, e entre as 10 e as 19 horas a Praça do Giraldo irá acolher as bancas das diversas livrarias, com livros novos e usados a preços especiais.

"Futuro Presente" nº 56

Publicou-se há dias o n.º 56, correspondente a Março/Abril de 2005, da revista de cultura política "Futuro Presente", de Jaime Nogueira Pinto e Miguel Freitas da Costa.
Os pedidos e informações podem ser feitos para a Rua do Corpo Santo, 16-3.º, 1200-130 Lisboa, ou por mail para dina.rebelo@lxgift.com

sexta-feira, abril 22, 2005

Sobre a "renovação"

O congresso do PSD trouxe a vitória de Marques Mendes.
Do congresso do PND saiu triunfante Manuel Monteiro.
Para o congresso do CDS anuncia-se a investidura de Telmo Correia.
Tudo rapaziada que aos quarenta anos já tinha mais de vinte e cinco de politiquice, no sentido mais viciado e viciante do termo.
Seria difícil encontrar melhor prova do isolamento autista da casta.

quinta-feira, abril 21, 2005

LIBERAIS E CONSERVADORES

Quais são realmente as mentalidades que se defrontam na Igreja de nossos dias, e mais especialmente no Sínodo? Já vimos que as denominações usadas no noticiário não nos parecem adequadas. Que denominações proporíamos nós em lugar daquelas?
Parece-nos mais verdadeira esta outra divisão:
De um lado estão os católicos sem adjetivos, ou então os católicos-católicos que, mal ou bem, apresentam os seguintes traços: eles crêem na Igreja, e crêem que a Igreja, no patrimônio de sua sabedoria e na riqueza de sua vida interior e de seus ensinamentos, dispõe de mais recursos para ensinar e conduzir o mundo do que toda a cultura da humanidade dispõe para conduzir-se a si mesma e para conduzir a Igreja. Sem deixar de reconhecer e de admirar os esforços dos homens, os católicos-católicos sabem que a cultura acumulada e prestigiada pela ida à Lua não tem unidade, nem tem profundidade para resolver os mais humanos e portanto os mais graves problemas do homem. O mundo, em seus registros, não sabe como é feito o homem. Possuirá mil informações preciosas a respeito das estruturas exteriores, mas não sabe de ciência certa o que convém ao homem, na vida de família, no convívio político e principalmente não sabe o que mais convém à alma humana. A Igreja sabe como o homem é, e sabe ainda mais o que Deus quer do homem.
Com esta convicção, e com esta certeza de fé, os católicos-católicos se habituaram a procurar na Igreja de todos os tempos, no depósito de sabedoria acumulada pelos apóstolos, pelos santos Padres, pelos doutores e pontífices e por todos os santos, as respostas às mais altas indagações sobre os problemas humanos. Por mais forte razão, o católico-católico, colocado em situação de influir e de contribuir para os negócios do Reino de Deus procurará na própria Casa de Deus, nos próprios registros da Igreja, e sempre à luz da Fé, as soluções para todas as dificuldades. Ninguém melhor do que a Igreja poderá conhecer as delicadezas dos problemas eclesiais, e nenhuma ciência do mundo poderá trazer mais do que uma subalterna ciência exterior e menor, que só será proveitosa na medida em que puder ser assimilada e norteada pelos critérios espirituais.
O católico-católico sabe que a Igreja deve estar atenta ao mundo, mas não como quem está atento ao mestre, e sim como o mestre que deve às vezes aprender com o aluno, para melhor conhecer suas deficiências e para melhor ensinar, ou como o médico que ausculta, não para ser curado pelo doente, mas às vezes ser por ele informado e para curá-lo.
O católico-católico que estivesse sentado no Sínodo prestaria ouvidos ao clamor de um mundo enfermo, não para tirar deste clamor a ciência e o remédio. E para os grandes problemas da Igreja, só à Igreja pedirá critérios e normas. E em todos os rumores que lhe viessem do mundo saberia sempre vigiar, bem sabendo que haverá sempre no mundo uma corrente de ira e de inimizade que quer a destruição da Igreja.
De outro lado estão os avançados, os modernistas, os progressistas ou liberais, que crêem mais no mundo do que na Igreja, e que, para o suposto bem de uma nova Igreja que julgam ainda estimar, preferem não ouvir a velha antes de ouvir os jornalistas, os economistas, e demais estudiosos da casca do mundo. Acreditam mais na Ciência, na História, no Progresso, no Mundo, do que na Igreja fundada por Jesus Cristo, vivificada por seu Espírito. Daí a espantosa facilidade com que desdenham a obra de um Pio X, recentemente canonizado, e precisamente canonizado como Papa exemplar.
O progressista, o avançado, o historicista, o liberal, acredita mais em Karl Marx do que em Santo Tomás, e vê valores mais apetecíveis em um Guevara do que em um Santo Cura d’Ars, porque toda a sua confiança está sempre posta no lado do mundo, e toda a sua desconfiança está sempre dirigida para este espantalho da história que é a Igreja de Cristo. Queixam-se dela com medidas e critérios pedidos ao mundo; e querem até salvá-la dela mesma, querem servi-la contra o que ela sempre quis, e para isto nada lhes convém mais do que os critérios da História, do Progresso, da Ciência e da Técnica. A convicção central desse personagem é a de que o homem está se saindo muito bem de todas as empresas, inclusive a de se salvar, enquanto a Igreja não fez outra coisa senão tropeçar nas próprias vestes e desacertar. Debalde lhe dirá o católico que a Igreja tem sua vitória no céu, e que Jesus Cristo Nosso Senhor deixou bem claramente dito que Seu Reino não é deste mundo. Debalde lhe dirá o católico que o mundo está condenado, e que a Igreja vive e sobrevive para colher os sobreviventes do naufrágio final.
Jamais se entenderão esses dois homens, a não ser que o católico apostate ou que o progressista ou liberal se converta. E a obra comum que apresentarem será tanto pior quanto melhor imaginarem que é.
Dois católicos podem divergir de mil modos em questões que se referem às coisas da Igreja, podendo ainda essa divergência ser aproveitada em benefício das almas. O entendimento torna-se impossível e inaproveitável o desentendimento quando o católico-católico percebe que esperam dele a renúncia de seu critério central, que é o próprio mistério da Igreja. Temos a firme convicção de que só haverá lucro real para a Igreja se em tais eventualidades, os católicos souberem repelir os critérios progressistas, cientificistas, historicistas, seculares, com a mesma energia que Jesus repeliu a secularização esboçada por Pedro: "retro Satana!"
Realmente o que está em choque na Igreja de nossos dias é o lado católico, que tira da Igreja todos os seus critérios, e o lado progressista ou liberal, que acredita mais no Século do que na Revelação. Ainda há homens na Igreja que crêem na Igreja, e crêem na absoluta superioridade da Igreja sobre o mundo que precisa dela para salvar-se; mas cremos que já são mais numerosos os homens que acreditam na absoluta superioridade do Século, e que, na melhor das hipóteses, ainda desejam recuperar a vetusta organização filantrópica, se essa veneranda recalcitrante se corrigir de suas antigas intransigências e resolver aceitar a mãozinha estendida da mundanização.
Gustavo Corção
(Publicado em O GLOBO de 25/10/69; republicado em PERMANÊNCIA Nº. 232/233, Março-Abril de 1988)

DOIS E DOIS SÃO QUATRO

No primeiro sábado do mês, para cumprir minha devoção por Nossa Senhora de Fátima, procurei um confessor numa igreja que deixara de freqüentar, há alguns anos, por motivos que dispensam fastidiosas explicações. Diziam os persistentes freqüentadores que tudo por lá melhorara, com a saída de 3 ou 4 jovens loucos. Quem sabe? Lembrei-me do velho Pe. X, homem simples e bom, cabeça branca, manso e ingênuo. Um dia, nos tenebrosos tempos em que o ISPAC energicamente se empenhava em perverter padres moços e freiras simplórias, subia eu a Rua Cosme Velho quando avistei o Pe. X, que vinha ao meu encontro feliz e aureolado de novas idéias. Saía do ISPAC e logo que me viu apressou o passo e generosamente veio ensinar-me o que acabara de aprender:
— Sabe? Agora é tudo explicado pela Evolução. Os padres professores estudam muito e explicam que tudo é diferente depois do Concílio.
Diante da transfigurada felicidade do padre, senti a refulgente evidência da inutilidade de qualquer debate. Atirei-lhe pelas costas uma Ave-Maria, “à traição” como dizem lá por dentro do Brasil, e estuguei o passo, já mais atraído pelo café com pão do que preocupado com a sorte do Pe. X. Passaram-se os anos como costumavam passar nos gloriosos tempos pós-conciliares e eu confesso que enterrei o Pe. X no esquecimento, ou perdi-o de vista, sob o volume de escombros ex-católicos e de cadáveres de ex-padres insepultos. Ultimamente tive notícias de que o Pe. X andava muito triste. Alegrei-me eu. Quem sabe se não poderia procurar o Pe. X e pedir-lhe o Sangue de Jesus para o perdão de meus pecados. Tomada a resolução, entrei na sacristia silenciosa e deserta. No altar à direita transcorria a missa das oito. Um moço apiedado de meu ar desamparado disse-me que o Pe. X estava na sala em frente; e efetivamente lá estava ele, todo branco a arrumar não sei o quê num armário: pouco mudado, mais grave, mais sério, mais branco. Quando me viu, alegrou-se e quase correu ao meu encontro. Dias antes eu publicara o artigo Falsa Bondade, que anos atrás, certamente, escandalizaria o Pe. X. Com surpresa ouvi-o:
— Muito bem! Muito bem! Continua! Coragem.
Quando fiz breve alusão à pressão que sofrera o Governo da Espanha, não só dos países, mas do próprio Vaticano, o Pe. X ficou mais rosado e com voz severa começou a falar para interlocutores invisíveis:
— Palhaçada! Palhaçada! Olhe, quer saber o que penso? Só isto: dois e dois são quatro. E a verdade de Deus não se reforma.
E agora, voltado para mim, firme e didático, abria os dedos das duas mãos em VV, como Churchill fazia para anunciar a chamada vitória democrática que entregaria o mundo à URSS, mas para repetir: — Dois e dois são quatro.
Disse-lhe que desejava confessar-me e ele logo me indicou um canto de sala onde eu me ajoelhei ao lado de sua cadeira: — ouviu-me. Prometi a Deus o miserável firme propósito de minha fragilidade que só na força d’Ele poderia cumprir tão audaciosa promessa. Deus meu! Deus meu! E logo depois das palavras que desciam para mim do alto do Calvário, o Pe. X volveu ao seu solilóquio: — Maus tempos. Maus tempos. — Só temos agora diante de nós o Martírio. Estamos no Apocalipse. Continue a luta até o fim e Deus dará o necessário.
Na porta que dá para o jardim, despediu-se de mim, risonho e como se entre nós dois houvesse um segredo delicioso e divertido; tornou a abrir os dedos e repetiu: — Dois e dois são quatro.
Na volta para casa sentia arder-me o coração, e em mais de uma esquina como nos caminhos de Emaús pareceu-me que Alguém me repetia, com infinita doçura e infinita firmeza, aquela tabuada divina: — Dois e dois são quatro.
Em casa, na escuridão e no silêncio de meu escritório, estive a considerar, ora uma ora outra das duas alternativas: o martírio, ou quem sabe? A tênue esperança humana de uma volta ao ponto em que todos se desviaram da “diritta via” e tomaram o caminho do Inferno.
Não é impossível. Em todos os itinerários humanos o que mais prevalece é sempre a volta. Mesmo sem pecado, a simples necessidade do trabalho de cada dia nos obriga a sair de casa, a perder nossa integridade e nosso nome para espalhar pela cidade nossa alma estilhaçada. Depois dessa dispersão, desse pluralismo de títulos e nomes minúsculos o homem empreende a parte mais alta e mais nobre de sua jornada: a volta para casa. O desvairado mundo moderno pensa que o homem é mais homem, mais elevado, quando sai de casa e se empenha na luta que contribui para o Produto Nacional Bruto e para o progresso nacional. A casa deixou de ser o Porto Seguro, o Paraíso Perdido, o Jardim Fechado, o lugar maravilhoso, onde, aberta uma porta-sagrada, o homem recupera o nome de seu batismo, chama por seus nomes os animais domésticos e ouve o passo da companheira nascida de seu sonho de amor.
Mas tudo isto e mais alguma coisa que possa dizer da casa dos homens é pó ou nada quando pensamos numa volta à Casa do Pai que corre ao nosso encontro e nos cobre de beijos. Pater! Pater! Pater! Não é impossível pensar num volta maior e mais animosa do que todas as cruzadas: vejo milhões de Padres X, milhões de bispos e até dezenas de cardeais — todos a seguirem um Papa mais branco e mais firme que o Pe. X a dirigir a Cruzada da Volta, parando de vez em quando nas curvas do caminho para abrir os braços e os dedos, clamando: — Dois e dois são quatro! Amigo! Friend! Cantemos um cântico novo, às avessas da marcha progressista da Nona Sinfonia; cantemos a alegria da volta à verdade e à bondade de Deus.
Gustavo Corção
(O Globo, 23/10/1975)

Novos caminhos

Por indicação do amigo Quietista, a descoberta de novos blogues católicos:

A Saintly Salmagundi
The Pope Blog
Ignatius Insight Scoop
Pope Benedict 16

Boas leituras!

quarta-feira, abril 20, 2005

Dos media e da esquerda

São muito conhecidas as análises sobre o domínio das posições de esquerda entre os profissionais da comunicação social, e a sua falta de correspondência com a distribuição de tendências entre o público destinatário.
Conheço essa polémica recorrente pelo menos em França, na América, no Brasil...
A opinião que se publica está sempre à esquerda das sociedades a que se dirige - e as quais trabalha nessa direcção.
O pormenor mais curioso li-o há pouco tempo, confesso que esqueci onde: segundo um estudo efectuado as proporções desse predomínio variam conforme a área a que se dedicam os jornalistas.
Concretamente: a zona das redacções onde o peso esquerdista é mais acentuado seria na área da cultura, a seguir nas secções de política, e as páginas menos à esquerda seriam as de economia.
Inversamente, as opiniões de direita apresentam-se quantitativamente mais representadas à medida que caminhamos da cultura para a política e desta para a economia.
Esta observação divertiu-me sobretudo porque fiquei convencido que ela mesma parte de conceitos sobre esquerda e direita que, no meu modesto entender, são de esquerda. Falando francamente, a direita a que essa conclusão se refere como pontificando mais nas secções de economia coincide certamente com aquela que partilha com a esquerda a aceitação do primado do económico, divergindo dela tão só nos aspectos organizativos propugnados - em nome da eficácia e da competitividade, e não por força de qualquer princípio filosófico.
Nesta altura estou a pensar em qual seria a situação relativa nas secções de religião, se estas tivessem sido incluídas no estudo.

Presidenciais

Da Universidade de Évora arranca a primeira candidatura às presidenciais: Manuela Magno.
Já tem página oficial e blogue pessoal.
Para bem começar, começa sob o signo da poesia de José Adelino Maltez:

É preciso semear Portugal
dentro de cada português,

ter sinais atlânticos
que nos libertem
dos fantasmas do presente.

São precisos raios de sol,
réstias de sonho, laivos de fogo.

Liberdade é sermos livres
das tormentas ancestrais
e, sem medo de ter medo,
navegar por navegar.


(in "É preciso Portugal")

terça-feira, abril 19, 2005

Sociologie du communisme

Um autor e um livro fundamentais: Jules Monnerot e o seu "Sociologie du Communisme".
Nas Éditions du Trident.

Mobilização

Acções contra as iniciativas pró-aborto:
Nesta terça-feira às 21h30 haverá uma vigília de oração na Igreja do Seminário da Luz, em Lisboa.
Amanhã, quarta-feira, dia 20 de Abril, faz-se uma concentração no Largo de S. Bento (em frente às escadarias da Assembleia da República), entre as 12 e as 14 horas.
Nessa tarde, a partir das 15 horas, pretende-se marcar presença na Assembleia da República, para acompanhar os respectivos debates.
Informem-se no movimento Juntos Pela Vida.

O meu primeiro comentário

Para a Igreja e para os católicos, duros e difíceis são os tempos que hão-de vir.

Bloguistas na imprensa

Na edição de hoje do semanário "O Diabo" encontrei dois bons artigos da autoria de companheiros do ciberespaço: o Duarte Branquinho (uma reflexão sobre a mentalidade dos portugueses ao volante) e o António Maria Pinheiro Torres (sobre as movimentações abortistas em curso).
Enquanto alguns transitam do jornalismo para a blogosfera, outros começam a caminhar no sentido inverso. Sem prejuízo das acumulações, como é óbvio.

Fumo branco

Habemus Pappam!

segunda-feira, abril 18, 2005

NO PLURALISMO HÁ MUITOS MAIS

Sem saberem muito bem o que dizem, os nossos políticos, de vez em quando, enchem a boca com a expressão Estado pluralista; depois, emendando-se na passada, falam em democracia pluralista. O pluralismo é hoje em Portugal uma palavra de passe e de magia como foi o socialismo; renegado este, agarram-se hoje os demagogos ao pluralismo como o náufrago se agarra ao cabo duma navalha. Quem não é pluralista não é democrata, quem não é democrata, ou é fascista, ou é comunista.
Tudo se passa como nos velhos tempos do maniqueísmo gonçalvista. O pluralismo, todavia, devendo ser uma opção fundamental, é muito mais complicado e deve ser mais profundo do que o pensam os democratas indígenas. Exige uma reforma estrutural e revolucionária do Estado e da sociedade.
No pensamento primário dos políticos portugueses, pluralismo quer dizer partidocracia, ou seja, o governo dos partidos para os partidos, restringindo-se a pluralidade das opções populares às formas de organização e conquista do poder político pelos partidos.
Como os partidos portugueses se limitam a querer a posse do aparelho de Estado, sem projectarem a sua reforma essencial, o pluralismo neste país reduz-se à luta livre pelo poder, à luta entre os partidos pelo aparelho de Estado uno, sem se encararem os problemas da sociedade múltipla e, portanto, transcendendo o fenómeno político referido só ao Estado e alargando em concreto o leque das opções possíveis.
Não há liberdade sem diferença. A igualdade, tal qual a postulam todos os partidos portugueses, é estruturalmente antidemocrática. Só há liberdade quando se pode escolher; só se pode escolher havendo por onde. O figurino único que nos oferece a partidocracia releva ilegitimamente a qualidade e, portanto, violenta e restringe a liberdade.
Sendo assim, é fácil verificar como falácia o pluralismo apregoado pelos nossos partidocratas de Direita, já que os de Esquerda — comunistas e socialistas — nem sequer nele falam.
Tal e qual o concebem os políticos portugueses, o Estado pluralista redunda, inevitavelmente, na prática, num Estado fraco e na feudalização da sociedade civil onde os partidos exercem o poder de facto. O que nos dão a escolher aqui não é, na verdade, um modelo de sociedade livre e multiplicada em múltiplas sociedades; o que nos dão a escolher aqui são programas de partido, referidos à organização do poder económico e oscilando entre o monopolismo capitalista e o monopolismo estatista. Onde esteve o sr. X, pessoa privada, pôs-se há quatro anos o sr. J, pessoa pública. Uns partidos pretendem manter esta situação; outros partidos procuram alterá-la. A uns monopólios querem substituir-se outros monopólios. A liberdade real das pessoas nem sequer é aflorada; tudo se desenvolve como se a colectivização, ou pelo capitalismo privado, ou pelo capitalismo de Estado, fosse um dado objectivo, irreversível e inevitável de organização social.
Escolher a escola onde devemos mandar os filhos — porque ensina diferente e melhor; escolher a casa, ambiente familiar, onde melhor cabemos, porque não foi standardizada; escolher a profissão, porque não foi planeada; escolher a própria qualidade de vida, fora da contaminação — tudo isso, que é tudo, porque é a escolha do nosso mundo, não preocupa os pluralistas portugueses. O que os preocupa conseguir é um modelo de sociedade, contrapondo-se a outro modelo de sociedade, sem margem para escolhas, definidas, ou pelo meio familiar, ou pelo meio geográfico, ou pelo meio cultural.
Como poder que é em si e para si, o Estado moderno, até por simples exigência de eficácia, tende naturalmente para o alastramento e, depois, para a concentração, para a centralização e para a igualitarização. São muitos os partidos que disputam a sua posse; são pouquíssimas as opções concretas que cada um deles nos oferece. O Estado, seja qual for o partido que o possui, é sempre uno; falar em Estado pluralista é uma contradição essencial porque não pode haver pluralidade onde a essência é a unidade.
Divertem-se os nossos políticos contando e recontando o número de poderes que constitucionalmente existem. Debruçando-nos com mais rigor sobre a autonomia intrínseca de cada um deles, chagamos todos, com facilidade, à conclusão triste de que são todos braços iguais do mesmo corpo estatal e, perseguindo o mesmo fim, todos se fundem num único ser jurídico, absorvente e dominador, que é o Estado, senhor supremo.
Uma ditadura não deixa de o ser porque o governo, em vez de ser exercido por um só, é exercido por cinquenta mil, executando as mesmas ordens e cumprindo as mesmas leis. Nem o facto de podermos escolher alguns desses cinquenta mil evita que a ditadura seja ditadura.
Ditar é impor — e nós, agora mesmo, estamos a viver a ditadura do parlamento que, impondo-se a todos os outros poderes estabelecidos constitucionalmente, altera as leis em função do interesse dos partidos para dominar os poderes locais, e a economia, e a comunicação social, e os tribunais, e os partidos adversos, e o próprio Presidente da República. Arruinamo-nos, gastando-nos ingloriamente na luta pelo poder. O pluralismo, tal qual se fala em Portugal, reduz-se aos cinco partidos com assento na Assembleia da República; para além da partidocracia, esgotou-se a pluralidade e entramos tristemente no reino fatal da unicidade, tipo de organização política do poder, cujo modelo nacional melhor acabado, depois do Parlamento, ainda é a CGTP-Inter de triste existência.
Não vale a pena discorrer muito sobre o assunto porque os factos históricos são evidentes. Ao bico de pena, como definição melhor, chega-nos a quadra admirável de António Lopes Ribeiro:

Já não é coisa que se discuta
Se a ditadura e o pluralismo são iguais:
Na ditadura há só um f. da p.
No pluralismo há muitos mais.


Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 158, pág. 24, 21.06.1980)

L'oeuvre au noir

Se uns evocam Jünger, outros preferem Yourcenar.
É o caso deste Opus Nigrum.

O quietista

Depois da interessante Serenata de ontem, hoje descobri mais um exilado do interior (mais precisamente de Viseu).
De exílios vários se vai compondo a blogosfera.

domingo, abril 17, 2005

Polémia

Inscrivez-vous à la lettre mensuelle de Polémia - informations et analyses pour des temps chaotiques.

Les partisans du Non

A resposta é não... qual era a pergunta?

A queda

Quando jovem dediquei algum tempo e entusiasmo à leitura de René Guénon.
O autor de "A crise do mundo moderno" interessava-me sobretudo nesta dimensão, de crítico da contemporaneidade.
Naturalmente que tinha a consciência de quão controversa seria sempre a sua personalidade (e não vale a pena comentar porquê, de tal modo foram polémicas as suas escolhas conhecidas).
Com o tempo fui-me afastando dessas leituras, submergido pelo que ele chamava "a ilusão da vida vulgar" (vide, "O reino da quantidade").
Agora lembro-me dele muitas vezes. Não que a sua obra tenha perdido o carácter polémico com o decorrer do tempo. Eu é que tenho cada dia maiores dificuldades em me manter na "ilusão da vida vulgar".
Recordo que Guénon, com muito mais ênfase do que a generalidade dos autores tradicionalistas, não falou apenas de perda, de decadência, de degradação progressiva das sociedade modernas quanto aos aspectos espirituais (neste ponto estaria a par de outros autores usualmente denominados dessa forma) - ele estende esse diagnóstico à vida mental, intelectual. O homem moderno sofre de diminuição de que não pode aperceber-se: as suas faculdades de compreensão tornaram-se mais limitadas e o próprio campo da sua percepção se restringiu.
Nesta altura já alguns leitores estarão ofendidos; mas se pensarem um pouco em Aristóteles e Platão, ou em Santo Agostinho ou em Dante, a ideia de progresso parece mais absurda do que a desconfiança em relação a essa marcha ascensional.
Tenho de memória um trecho de Guénon que não sou capaz neste momento de localizar em que ele apresenta um raciocínio perturbante: na sua época a Summa Theologica foi escrita como um manual para uso dos estudantes - onde estão agora os estudantes capazes de a lerem e entenderem?
Pois é... a Summa Theologica...

Serenata

Neste domingo de Primavera cinzenta e ventosa apareceu um novo blogue, Serenata.
O autor assina Eumeswil, em aceno cúmplice a este rapaz.
Seja pela música seja pela letra, ficamos assinantes e admiradores.

sábado, abril 16, 2005

Maternidade e Vida

A Associação Portuguesa de Maternidade e Vida emitiu uma nota de imprensa a propósito das duas propostas legislativas relacionadas com a questão do aborto que o Partido Socialista apresentou recentemente na Assembleia da República.
A ler no respectivo sítio.

Futuro Presente

Lendo o que escreveu esta semana o Nuno Rogeiro na revista "Sábado" fiquei a saber que saiu mais um número da revista de cultura política "Futuro Presente", que tem sido dirigida por Jaime Nogueira Pinto e Miguel Freitas da Costa.
Logo que me chegar às mãos darei aqui informação sobre o respectivo conteúdo.
Entretanto, podem ir lendo e comentando por aí.

CDSs

Com a aproximação do congresso do CDS repercute-se também na blogosfera a preparação do evento: já tinha aqui dado conta da presença da moção "Combater com Ideias, Lutar por Portugal!", com origem no distrito de Setúbal.
Verifiquei hoje que pelo menos o Axónios Gastos e o João Pedro Dias'Blog apoiam e assinaram esta outra moção.
É o congresso a marcar presença na blogosfera, e a blogosfera a marcar presença no congresso.

Forum Libertas

Um bom jornal digital, feito em Espanha e sobre a actualidade espanhola mas frequentemente com material que interessa de igual modo a quem está para aquém do Caia.

"Who is this guy and why haven’t I heard of him?"

Um artigo de Dale Ahlquist sobre o grande Gilberto...

Novidades

Como tem sido notório para os visitantes mais assíduos, ultimamente não tenho conseguido assegurar a manutenção deste blogue ao mesmo ritmo de tempos idos.
E nem tenho seguido com a atenção antiga o que se vai passando na blogosfera, muito em especial na alentejana.
Ainda assim, nesta manhã de sábado constatei que ela se move, e não posso deixar de partilhar os novos encontros.
Foi assim: de visita ao Geraldo Sem Pavor, como já é habitual, travei conhecimento com o Heródoto.
Apresenta-se como um blogue ligado à história e assuntos afins, feito por estudantes de história da Universidade de Évora. O lema proposto: "Pensar o passado, para viver o presente e sentir o futuro".
Segui para lá, e gostei. Fico visitante.
Depois, reparei na coluna das ligações que havia no Heródoto e não resisti: continuei para Montemor-o-Novo.
Só vos digo que foi também uma agradável descoberta.
E fico por aqui, que para lazer hoje já basta.

sexta-feira, abril 15, 2005

Alliance pour la souveraineté nationale

Quando até os belgas dizem não, algo está mesmo mal nesta Europa pronta-a-vestir.

InfoKrisis

Outra recomendação que faço aos meus amigos é o weblog de Ernesto Milà, o InfoKrisis.
Excelente, riquíssimo de conteúdos e pleno de criatividade.

Puissance chinoise illusions européennes

Eis um interessante artigo de Jean-Gilles Malliarakis, sobre um tema cada dia mais presente.
Subscrevam também o boletim electrónico L'Insolent , que é gratuito e oferece sempre leitura proveitosa.

Análise política

Temos tido muita sorte com o governo de Sócrates: ainda não fez nada.

quinta-feira, abril 14, 2005

Defesa da Vida

A experiência anterior mostrou que é útil ter uma lista de email o mais alargada possível que permita informar rapidamente muita gente sobre o que se passa no campo da defesa da vida (debates, manifestações, iniciativas de todo o género).
Solicito por isso aos leitores interessados que façam a sua inscrição no sítio do movimento Juntos Pela Vida, de modo a que recebam posteriormente toda a informação difundida através dessa lista de correio.
Sugiro ainda aos leitores que participem pelas formas ao seu alcance no debate em curso: por exemplo através das votações on-line sobre o tema, as quais fazem opinião e por vezes são usadas em debates, artigos e noticiários. Nesta altura estão a decorrer sondagens desse tipo no Correio da Manhã e no Público.
É um dever que não custa nada cumprir.

quarta-feira, abril 13, 2005

CRÍTICA LITERÁRIA EM PORTUGAL

O estado lastimoso da actividade literária do nosso tempo tem várias causas; a crise do ensino público e a ausência geral de crítica responsável.
Temos faculdades a mais, professores a menos e estudantes a mais. Programas pessimamente orientados. Donde — ensino deficiente. E deficiente nos três graus.
Estamos a criar élites analfabetas, escolas que tornarão este país um vasto mar de estupidez e presunção tola.
Urge que um pulso de ferro canalize as actividades intelectuais para o campo da vida prática, descongestionando a Universidade e povoando eficientemente as escolas técnicas profissionais das diferentes regiões do país.
Por outro lado é indispensável que a literatura sinta a acção firme da crítica consciente.
Quando eram menos os que escreviam, escrevia-se melhor, porque havia pudor intelectual. Hoje que 100 por 100 dos portugueses são escritores, pensadores, filósofos, sociológicos, etc, — escreve-se pessimamente e pensa-se pior do que se escreve.
Não há escrúpulos de qualquer natureza. E toda a gente se aventura, com pasmosa facilidade, a deitar cá para fora uns versos, que não são versos, e umas prosas que só o são porque é em prosa que o homem se exprime. Ausência absoluta de ideias. Carência escandalosa de forma.
A alimentar tudo isto, o mais repugnantes sistema do Elogio mútuo, a par da atribuição de funções críticas ao primeiro que aparece — a desancar um adversário ou a endeusar um amigo.
A quem faz a crítica em Portugal não se lhe pergunta o que sabe, que competência tem para o fazer, o que estudou e o que estuda. Nada disso se cura averiguar.
O que se lhe exige é que desanque o adversário e incense o amigo. Contando-se com este modo de ser da vida intelectual portuguesa, os autores atiram-se de cabeça, confiados nos aplausos dos companheiros do seu botequim ou da sala das redacções, as quais, por sua vez, confiam na atmosfera, que lhes façam os autores para as suas supostas críticas.
Estamos em plena fase de crítica pessoal — alheios por completo à crítica objectiva, àquela que vê obras e ignora quem as assina, discute pensamentos e directrizes, indiferente a quem formule aqueles ou gize estas.
Isto não teria grande importância se as vítimas não fossem precisamente os valores positivos.
Os bons poetas, os bons romancistas, os bons historiadores, os bons filósofos, os bons ensaístas, os bons pensadores, os bons economistas, os bons homens de ciência vêem-se submergidos nos maus e nos medíocres, confundidos com estes, equiparados a estes, e o desânimo invade-os, por entrar com eles a convicção de que não vale a pena trabalhar com escrúpulo e consciência, num país e numa época em que os valores andam misturados com os não-valores.
Ter medo à crítica severa e honesta é o sentimento mais útil que um escritor pode abrigar. De um modo geral, sem prejuízo duma ou outra excepção, a crítica entre nós nem é honesta nem é severa: é tendenciosa e palavrosa. Insulta ou exalta, sem qualquer fundamento real. Deprime ou estimula por motivos inconfessáveis.
Nunca a nossa literatura foi tão pobre de grandeza, beleza e valor como nos tempos que correm.

Alfredo Pimenta
(In «Bandarra», n.º 2, 23.03.1935, pág. 7)

Je parle portugais!

Conhecem a campanha de promoção da língua portuguesa em França?
Ei-la: Je Parle Portugais!
(Espero que alguém possa avisar os responsáveis do sítio que a frase que aparece em cima na barra azul do Explorer (Porquois choisir le Portugais) não é lá muito prestigiante. Porquois?!!!!

A Direita que não há, e o centro que fugiu

Nos anos trinta, ao tempo em que o Estado Novo erguia as suas estruturas na terra portuguesa, existiam alguns pilares institucionais onde, segundo os tratados, assentou o seu edifício político.
Como é geralmente apontado, a Igreja, as Forças Armadas, a Universidade (ao menos estes, e sobretudo estes) garantiram à nova situação o apoio, o enquadramento ideológico, os quadros, a base social necessária à empresa.
Como aparelhos de produção ideológica forneceram também a justificação doutrinária e os discursos de legitimação, interior e exterior, do regime.
Se procurarmos analisar o que mudou de então para a nossa época, facilmente reparamos que a Igreja ou desapareceu ou mudou de campo, o Exército subsiste em dimensão miniaturizada e musealizada, e a Universidade fragmentou-se e invertebrou-se, perdendo em peso e influência o que cresceu em volume.
Todas as tentativas das últimas décadas para organizar e representar politicamente a direita, designadamente em partido, com finalidades de intervenção eleitoral, esbarram inevitavelmente nestas faltas.
A quem há-de a direita representar? A verdade é que se não contarmos com uma sensibilidade difusa presente em alguns sectores da população e que normalmente só pode ser despertada por factores passageiros, circunstanciais, não existem instituições presentes e activas no corpo social, de âmbito e dimensão que releve, a reclamar essa representação.
Ora sem as referências institucionais catalizadoras e agregadoras não há forma de mobilizar e manter o apoio de faixas significativas da sociedade, com expressão qualitativa e quantitativa que baste a assegurar uma presença política caracterizadamente de direita.
Também por esse motivo tem acontecido o fenómeno dos políticos que começam a carreira galhardamente à direita para depois com a sua imersão no país político irem surgindo cada vez mais esquerdizados. Confrontam-se com o embaraço de verem as suas ambições e expectativas pessoais tolhidas pelas ideias com que avançaram – e a dada altura libertam-se desse lastro.
O que se passou foi que o centro político, entendendo este apenas como o ponto geométrico central entre as diversas forças que actuam e contam na vida política do país, foi-se deslocando cada vez mais para a esquerda.
Quando o Dr. Salazar proclamava as suas grandes certezas podia falar tranquilamente e apresentar-se como um modelo de equilíbrio e bom senso. Era um moderadão – quase um “centrista”.
Na actualidade, as mesmíssimas convicções serão apontadas como taras marginais, exclusivas de grupos extremistas numericamente insignificantes.
O centro deslizou continuamente para esquerda, de modo a fazer aparecer hoje como comuns e generalizadas, para o cidadão médio, propostas que há umas décadas nem a extrema-esquerda apresentaria, e inversamente a deixar isolados na extrema-direita princípios que há cinquenta anos nenhum sector político com respeitabilidade pública poria em causa.
Por este raciocínio se compreende a utilidade operacional deste conceito de centro político: se ideologicamente é o vazio, como é próprio de um ponto abstracto calculado num espaço dado, a imagem serve todavia para uma visão simples e imediata da evolução histórica da vida de uma sociedade.
E também permite visionar num relance os equilíbrios ideológicos de cada momento político. Procure-se onde está o centro, e logo se perceberá muito sobre a nossa própria situação.
Assim cheguei à magna questão da direita, que tem sido tão focada nestes tempos mais chegados e a que comecei por aludir no início.
Arranjem-se instituições, criadas, construídas de raiz, inventadas, ou recuperadas, ocupadas, conquistadas seja lá como for. Sem elas não parece que a direita possa vir a ter mais do que uma expressão inorgânica, marginal e residual.
(em "O Diabo", edição de 12/04/2005)

terça-feira, abril 12, 2005

Cette fois c’est NON !

Em França, o não avança - à direita e à esquerda.
A confirmar-se nas urnas, será o acontecimento político do ano.
A propósito desta batalha, remeto para o blogue Cette fois c’est NON!, ilustrativo do ambiente de debate e mobilização que se vive neste momento na sociedade francesa.

«A Constituição da República e a Questão de Olivença»

O Grupo dos Amigos de Olivença realiza durante o ano corrente um Ciclo de Colóquios/Debates subordinado ao tema “Portugal, Olivença e a Dinâmica Peninsular”, no qual participam personalidades reconhecidas da Política e da Cultura.
No próximo debate, a ter lugar no dia 18 de Abril (2.ª Feira), às 18.30 horas, na Casa do Alentejo, em Lisboa, o Professor Jorge Miranda (Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa) falará sobre “A Constituição da República e a Questão de Olivença”, sendo moderador o Jornalista Carlos Albino (Correspondente Diplomático do "Diário de Notícias").
Dada a relevância do tema e a autoridade do conferencista aguarda-se casa cheia na Casa do Alentejo.

Raízes do Som: encontro em Évora

Entre 15 e 25 de Abril vai ter lugar em Évora o 1º Encontro de Música e Tradição de Évora "Raízes do Som".
Esta iniciativa visa permitir a todos os participantes marcar encontro com os sons do passado, revisitados pelo universo musical contemporâneo, com vista a
reflectir sobre o nosso património cultural, nomeadamente o património da musicologia tradicional portuguesa.
Através das realizações previstas procura-se mostrar qual a situação actual da música tradicional e tirar algumas conclusões quanto à sua revitalização e às várias formas e funções que foi conquistando nas sociedades contemporâneas.
Para efeito haverá diversas actividades, nomeadamente oficinas, seminários, exposições, projecções de filmes documentários, concertos e animações de rua, de forma a criar um novo espaço para a música tradicional.
Estarão presentes em Évora também sons de outros lugares, que irão emprestar ao encontro uma dimensão nacional e internacional.
Para mais informações, visitem o blogue Raízes do Som.

segunda-feira, abril 11, 2005

A (re)fundação da direita

Continuando a trazer para aqui textos alheios que me parece importante partilhar neste diálogo com os leitores deste espaço, reproduzo a seguir o artigo de Jaime Nogueira Pinto publicado na última edição do "Expresso".

A (re)fundação da direita (II): Méritos
A discussão pós 20 de Fevereiro sobre a «(re)fundação» da direita teve já alguns méritos:
1. Mostrou que há gente que se afirma de direita, a pensar, a escrever e a debater a direita e as direitas.
2. E a fazê-lo em termos de ideias e polemicamente. Na direita cabem, assim, nacionalistas e europeístas, tradicionalistas e liberais, conservadores e progressistas, estatizantes e libertários, organicistas e individualistas.
3. O que marca, também, o fim de alguns clichés ou preconceitos enquistados domesticamente: que a direita não quer saber de «ideologias», coisa que, prática e empreendedora, deixa para as esquerdas! Que a diferença direita/esquerda é só quanto à economia, a direita pelo mercado e a esquerda pelo «socialismo»! E, finalmente, a versão patética mas ainda ouvida de que a direita são «os ricos» e a esquerda «os pobres».
Parece que já ultrapassámos este estádio primitivo do fundamentalismo «antifascista» ou do fascismo «arrependido» de pôr a questão. Ainda bem, mas aonde estamos?
No meu anterior artigo sobre este tema (EXPRESSO, 12/03/05), sublinhei o problema que Salazar e o Estado Novo colocaram, historicamente, à direita em Portugal: a defesa autoritária de determinados valores religiosos, nacionais, familiares baniu esses valores do mapa das opções ideológicas «democráticas», facto que persiste trinta anos depois do 25 de Abril...
Esta é uma questão que não se deve escamotear. Mas parece me que aqui preguei aos peixes, pois houve quem a tomasse por veleidade «restauracionista». E o tal anátema persiste, a avaliar pelos exercícios de reconstrução e «lifting» de imagem e biografia a que se entregam, ainda, ex-personalidades do anterior regime.

O denominador comum. Deixando estes detalhes e voltando a coisas sérias: se «as direitas» são tão diversas assim, por que é que são «direitas», de direita, o que é que as faz assim e as une? Observadas as coisas, creio que continua a ser a rejeição da esquerda, ou mais exactamente do modelo evolutivo, isto é, do paradigma filosófico e histórico que identifica História e Progresso, no sentido de uma perfectibilidade da natureza humana e das sociedades humanas, através da razão, da ciência e da técnica. Este é o paradigma iluminista, fundamentado pelo optimismo antropológico. E servido, a partir do materialismo finalista de Thomas Hobbes, «com a ideia do Estado ao serviço do bem estar material do maior número», mais o pacifismo «internacionalista» de Kant, as «idades» de Comte e a aceleração revolucionária de Marx e Lenine.
O que une as «direitas» é a rejeição desta descrição da História, do «processo» que lhe é imanente, e deste destino «inevitável» da Humanidade, e da realidade antropológica e social que os fundamentam; não crêem no discurso do progresso, na transformação da natureza humana, no igualitarismo como limite; não partilham o optimismo kantiano da Paz pela Lei nem querem o fim dos Estados e das soberanias inúteis e dissolvidos num espaço económico globalizado.
A partir deste denominador (negativo) comum tudo é diverso: há uma direita «religiosa», isto é, com valores de origem revelada e orientação permanentes, o que não quer dizer que os queira (ou possa) impor a mais ninguém; e há uma direita que não tem tais preocupações transcendentes, optando por viver e deixar viver. Há uma direita que privilegia a independência da nação, a direita com preocupações de identidade e de unidade sociocultural do «povo», que corresponde às direitas «populares» europeias e aos «jacksonianos» nos Estados Unidos; e há uma «direita» que é cosmopolita, «business oriented», internacionalista, «hamiltoniana», em termos americanos.
Esta é uma direita economicamente (e politicamente...) mais anglo saxónica menos Estado, liberalismo ou libertarismo económico social, sobrevivência dos mais aptos (para a competição do mercado). Como a outra, a popular continental, é uma direita economicamente (e politicamente) dirigista, solidarista, partidária da «economia social» e da redistribuição justicialista.
Quanto às novas gerações, o que as leva para «a direita» (a avaliar pelos «blogues») é também a reacção à hegemonia instalada das referências da esquerda, esta cultura político literária mediática do conformismo mais pleno e correcto, disfarçado de retórica inconformista. Penso que, no nosso tempo, foi também o que nos lançou na leitura de escritores «alternativos» que eram então chamados «malditos» - Pound, Drieu, Céline, Von Salomon, mais Jünger e T.E. Lawrence os autores da «Europa negra» e de uma linha de realismo heróico nos antípodas do bem pensante, da cartilha estabelecida, dominante, «correcta», então neo realista ou tecnocrática.
E já dá também para ver, na breve «polémica» entre as «direitas», uma normal clivagem em Portugal entre a geração que viveu a crise do Império e da guerra de Africa (que fez, a par com a questão académica e o «antifascismo», a clivagem histórica esquerda direita anterior) e as gerações que vêm depois, e para quem tudo isso é «archeologia».
Em conclusão, «as direitas» afirmam se, distinguindo se na Direita, combatem e combatem se; e fora de um quadro político partidário cuja ignorância e indigência ideológicas parecem ser reconhecidas e apontadas por toda a gente outro ponto positivo no debate como uma das razões do insucesso conhecido e reconhecido.

A defesa do real. A grande reivindicação da direita tem de ser a defesa da política do real, isto é, de uma política que, sem perder de vista a eticidade e até a perfectibilidade das instituições humanas em ordem aos valores, não perca a referência e o respeito pela natureza do homem e da sociedade, uma natureza que só podemos compreender a partir da História e dos seus mecanismos observados e interrogados, em ternos de crítica da cultura, como fez Nietzsche. Uma realidade que não se deve adulterar, sublimando a ou abaixando a, à mercê de um discurso retórico e de conjuntura, politicamente correcto. Que a esquerda, com felizes mas raras excepções, se obstina em repetir e que hoje, por cá, encontra o seu paroxismo no humanitarismo histérico, inquisitorial e farisaico dos neo trotskistas e de outras intolerantes «famílias democráticas».

Jaime Nogueira Pinto

PATRIOTAS ÚTEIS

Com a devida vénia, à revista e ao autor, copio para aqui o artigo de Nuno Rogeiro na última edição da revista "Sábado". É o que se segue.

PATRIOTAS ÚTEIS
Acho que, no fim dos anos 70, escrevi os meus primeiros editoriais sobre a "morte da Pátria". Porém, mais de vinte anos depois, ela ainda aqui está.
Muitos, por ironia, metaforicamente, por "impressão", ou de forma convicta (até "científica") fizeram o mesmo. Suponho que é preciso dissertarmos acerca do abismo para o evitarmos; mas também é certo que os caminhos das pátrias, como os das pessoas (que são as pátrias, se não pessoas de pessoas?), aventuram se misteriosos, tortuosos, imprevisíveis.
Nas vésperas da queda do Muro de Berlim, cientistas sociais sérios juravam que a RDA já não era Alemanha. Em Londres, dizia-se que Margaret Thatcher, pouco tempo antes da unificação, considerava esta uma "fantasia".
Na estreia de Gorbachev, alguns "Kremlinologistas" ilustres acharam que a Perestroika iria acelerar as hipóteses de sucesso da URSS, até um analista da CIA ter descoberto que as casas de banho de Moscovo continuavam a não funcionar.
Não é seguro que Portugal (ou a Espanha) dure tanto como a humanidade, até ao Juízo Final. Só durará, aliás, até ao momento em que o último português do mundo deixar de se lembrar dele.
Astecas, maias, austro húngaros, checoslovacos, jugoslavos, soviéticos, são apenas alguns dos nomes de cidadãos feitos em pó.
Mas, por outro lado, croatas, eslovenos, timorenses e quirguistaneses, e outros povos impronunciáveis, que nunca tinham tido direito a Estado, mostram que, em política nacional, o desespero é uma estupidez.
São precisamente os perigos evidentes de extinção (sem dramas ou com canhões) que exigem à Pátria, mais do que discursos e bandeirinhas, gerações de mulheres e homens esforçados, capazes não só de morrer por Portugal, em última instância, mas de viver por ele, todos os dias.
O Deus das Nações (Agostinho da Silva dizia que Portugal era "um dos nomes de Deus") também escreve direito por linhas tortas.
É verdade que, por um lado, apetece ciclicamente lavrar um solene discurso sobre a crise derradeira. Mas legiões de polícias, militares, cientistas e técnicos, diplomatas e funcionários, artistas e pensadores, operários e criadores, de Paris a Macau, são o contingente diário de patriotas úteis, que torna esse fim proibido.
O eurodeputado comunista Sérgio Ribeiro, lutando pelo povo nação, em Bruxelas, Jorge de Sena extinguindo se entre o velho e o novo mundo, Vieira da Silva a pintar a Pátria às costas, com vista para um boulevard, Rodrigo Emílio trovando refúgio no Brasil, Pulido Valente, aqui mas fora, revoltado com o estado de coisas (a pena é maior que a espada), Durão Barroso como grande timoneiro da burocracia europeia, José Mourinho, o treinador-profeta, estão ou estiveram também entre os milhões de soldados desses exército de luzes.
Não nos esqueçamos, como alguém dizia, que Cristo nasceu no exílio.

Nuno Rogeiro

domingo, abril 10, 2005

José Gil em Évora

Para apresentação e debate do seu último livro, "Portugal Hoje - O Medo de Existir", estará em Évora no próximo dia 14 de Abril, quinta-feira, o filósofo José Gil.
A iniciativa é da Livraria SOM DAS LETRAS e a sessão terá lugar às 18H 30M, no Palácio D. Manuel, no Jardim Público.
Além do autor, este encontro contará ainda com as presenças do Prof. Olivier Feron, do Departamento de Filosofia da Universidade de Évora, e do jornalista António Guerreiro, do "Expresso".

Liberais e liberais

Já faz algum tempo que um ilustre bloguista, com assento no Blasfémias, publicou obra em que dava conta de como é difícil ser liberal em Portugal.
Deve ser mesmo; repare-se por exemplo como é frequente os mais encartados liberais dos nossos meios empresariais e respectivas associações começarem os seus discursos públicos tecendo loas ao liberalismo, e à livre concorrência, e acabarem-nos a pedir subsídios para fomentar a competitividade.
Mas faço notar que também é muito difícil ser anti-liberal. Por isso normalmente me abstenho de entrar nessas conversas. É que nunca se sabe onde atacar; liberais há muitos...
Falando sério: o nome da coisa pouco nos diz sobre a coisa. A palavra serve para tanto que já serve de pouco.
E não estou a referir-me à conhecida divergência semântica entre a Europa e a América, que faz surgir geralmente como antagónicas famílias políticas aqui designadas como "liberais" e os que lá se designam pela mesmo termo.
Refiro-me mesmo ao que se passa no nosso pequeno meio, e na Europa, e nos EUA... e já agora no Brasil.
Há tantos liberalismos que me parece que chegam para todos. Cada um tem o seu.
Este postal foi suscitado sobretudo pela leitura de Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro que tem sido uma das vozes mais destacadas no combate de ideias na grande nação sul-americana.
Apesar de já ser bastante conhecido junto de alguns meios restritos considero que merece maior divulgação entre o público portugês.
Deixo portanto a ligação para o sítio pessoal do pensador e polemista, e transcrevo o mais recente artigo por ele publicado em Parlata, outra página a seguir com atenção.

Escolha o Adjetivo
Como a expressão “Católicas pelo Direito de Decidir” (CDD) aparece na mídia sem nenhuma ressalva, o leitor entende que se trata realmente de um grupo de mulheres católicas. A impressão é reforçada pelo fato de que elas ocupam um conjunto de salas do prédio da Ordem Carmelita de São Paulo, ao lado da CNBB, sob o olhar complacente de monges, padres e bispos. Mas elas não são católicas de maneira alguma: se entraram na Igreja, foi com o propósito consciente e deliberado de parasitá-la, parodiá-la e destruí-la. A CDD é o braço nacional de uma ONG mundial, a Catholics for a Free Choice, CFFC. Frances Kissling, líder da CFFC desde 1980, não poderia ter sido mais clara quanto ao objetivo da organização: “Passei a vida procurando um governo que eu pudesse derrubar... até que descobri a Igreja Católica.” O Conselho Nacional dos Bispos dos EUA também foi muito claro: “A CFFC não merece reconhecimento nem apoio como organização católica.” Não pensem que o Conselho disse isso por estar repleto de direitistas e reacionários. A CFFC se gabava de ter “estreitos vínculos” com os bispos esquerdistas de Chiapas, México. Mas eles mesmos, em pastoral de julho de 1991, declararam: “Se essas mulheres apóiam o aborto legalizado, temos de afirmar com máxima clareza que isso anula sua pretensão de ser católicas. Elas se excomungaram a si próprias, colocaram-se fora da Igreja.” O primeiro escritório da CFFC foi na Planned Parenthood Foundation, dona da maior cadeia de clínicas de aborto nos EUA, e uma de suas principais financiadoras foi a Sunnen Foundation, que lutava para que o Estado, arrogando-se a autoridade dos antigos imperadores romanos em matéria religiosa, forçasse a Igreja Católica, por lei, a mudar sua doutrina quanto ao aborto. A Sunnen foi também patrocinadora do famoso processo “Roe versus Wade”, apresentado como um caso de estupro, que em 1973 resultou na legalização do aborto nos EUA. Passadas três décadas, a suposta vítima pediu pessoalmente a revisão do processo, confessando que não sofrera estupro nenhum mas fora subornada pelos líderes abortistas para declarar isso no tribunal. O caso agora está de volta na Suprema Corte. Toda a história do abortismo é uma história de fraudes. A atividade da CFFC segue meticulosamente a regra de Antonio Gramsci: não combater a Igreja, mas apossar-se de suas estruturas, esvaziá-las de seu conteúdo espiritual e utilizá-las como instrumento para transmitir a mensagem anticristã. Mas o mal que essa organização faz à Igreja, infiltrando-se nela para corroê-la desde dentro, não se esgota em puro maquiavelismo político. Quando digo que o catolicismo da CFFC é uma paródia intencional, não estou usando de uma figura de linguagem, mas descrevendo um fato: o primeiro ato público da organização, tão logo inaugurada em 1970, foi sagrar sua fundadora, Patricia F. McQuillan, como “Papisa Joana I”, numa cerimônia realizada nas escadarias da catedral de São Patrício em Nova York. Como se isso não bastasse, a revista do movimento, “Conscience”, está repleta de declarações de satanismo explícito, como por exemplo versos ao “doce nome de Lúcifer, lírico, santo”, ou esta ode ao ídolo bíblico Baal: “Do solo onde semeou o trigo novo, Baal levanta-se. Num grito de exaltação, rejubilamo-nos: o Senhor ergueu-se, está sentado novamente no trono. Ele reina. Aleluia!” Em contraste com a ternura kitsch desses louvores ao Príncipe das Trevas, Kissling e outras líderes da CFFC já se referiram ao Papa João Paulo II como “raivoso”, “insensível”, “perigoso”, “fanático”, “hipócrita”, “mentiroso”, “pernicioso”, “cruel”, “mesquinho” e “obsessivo”, entre outras dezenas de adjetivos. Incorrerei em crime de injúria se usar um desses adjetivos, um só, para qualificar a autoridade religiosa que acolhe paternalmente devotas satanistas e se acumplicia com seus feitos anticristãos? Pois bem, o leitor que escolha. João Paulo II nunca mereceu nenhum deles. Mas o clérigo que estende sua proteção mesmo indireta e sutil sobre o satanismo para que seja oferecido aos fiéis como catolicismo merece pelo menos alguns."

Mais Évora

É de esperar que depois da última edição do "Expresso" o número de visitantes do "Mais Évora" aumente brutalmente. É bem feito.

sábado, abril 09, 2005

Arbil com destaque para De Bonald

Tenho seguido sem muita regularidade a revista ARBIL; e cada vez que vou verificar os artigos disponíveis fico sempre a lamentar a escassez de tempo, que não me permite dedicar-me à leitura tanto como eu gostaria.
Recomendo aos meus amigos uma pesquisa no vasto recheio oferecido por esta "revista de pensamento e crítica", e a verificação do altíssimo valor intelectual que tem mantido sem falhas.
No mais recente número, o 91, destaque máximo para o estudo sobre as "Líneas maestras del pensamiento político de Louis-Ambroise de Bonald" - um pequeno mas precioso ensaio sobre a génese do pensamento contra-revolucionário.

Actualizações da disputa

Trazendo para o presente a polémica a que se aludiu atrás:
A D. Fátima Lopes, estilista de fama, parece ser convicta partidária de Renato Descartes e de Gomes Pereira na querela sobre a natureza mecânica dos animais.
Pensa como o cartesiano criticado por Feijoo e Pereira de Castro, o qual "encaprichado de la insensibilidade de los Brutos, pretendió mitigar la aflicción de unas Damas, que se compadecían mucho de un toro, a quien con exceso lastimaban los Toreros, asegurándoles que no había por qué condolerse, porque el toro (decía el buen Maquinista) juro a Dios, y a esta Cruz, que no siente más que este banco, donde estoy sentado."
Já o Sr. Tomé de Barros Queiroz, e as associações de defesa dos animais, parecem acompanhar as posições de Miguel Pereira de Castro. Sem precisar de o ler, evidentemente.
Mas também é provável que Fátima Lopes não terá lido Descartes, nem a "Antoniana Margarita".
Estou certo que o "Jansenista" concorda comigo.

www.filosofia.org

Regresso ao sítio onde estava a ler a "Propugnación de la racionalidad de los brutos", agora para uma referência mais enfática: este projecto de filosofia em espanhol pareceu-me deveras interessante para qualquer estudioso da filosofia portuguesa (tão escassa em obras de fundo que simplesmente a historiassem).
Chamo a atenção para a publicação de "La Historia de la Filosofia según Teodoro de Almeida", figura e obra quase desconhecidas em Portugal (apesar de Almeida ter sido um dos fundadores da Academia das Ciências e personalidade destacada na Lisboa culta do seu tempo).
Mas percorrendo os conteúdos encontram-se com frequência ligações a Portugal (como é natural ao falar-se de filosofia em espanhol).
Fica a recomendação aos colegas do Caminhos Errantes e do Pasquim da Reacção, os únicos visitantes que conheço que se dedicam, embora com interesses diferentes, a estudos filosóficos.
E se encontrarem por aí o Pinharanda Gomes assinalem-lhe a curiosidade, que ele também gostaria de passar revista ao local.

Propugnación de la racionalidad de los brutos

Não sei qual será a posição dos leitores nesta polémica que ocupou os filósofos durante os séculos, nem isso interessa.
Venho apenas partilhar curiosidades. É que lendo a interessantissima "carta apologética" em que Miguel Pereira de Castro Padrão surgiu em socorro da tese do ilustre frade ovetense Benito Jeronimo Feijoo, (este concedia sensibilidade e razão aos nossos irmãos animais) verifiquei que o opúsculo, embora escrito em castelhano e impresso em Lisboa, foi escrito em Évora.
E descasca num pensador francês não identificado que estaria em Beja e teria escrito contra Feijoo, defendendo na senda do mecanicismo de Descartes e Gomes Pereira que os brutos são destituídos de razão (e quiçá de sensibilidade, como era de regra em quem não desligasse a capacidade de julgar da capacidade de sentir).
Não sei bem o que dizia o francês, o certo é que o nosso Miguel Pereira de Castro segue entusiasta na senda de Feijoo, e pugna bravamente pela racionalidade das criaturas.
Pelo meio o autor cita o pensamento do seu amigo Luiz José Pereira, Doutor em Medicina nesta cidade de Évora e que andava a escrever um tratado sobre a "vegetação das pedras", e as opiniões do Padre Franco, Mestre Oratoriano em Estremoz, sobre a alma humana. Muito se filosofava então por estes lados!
E assim se chega ao problema da alma dos brutos...
É melhor ficar por aqui, que o assunto está a complicar-se.
Sublinho no entanto que já tenho visto, tal como o autor, alguns animais obrarem prodígios.
"Aquí en Evora Ciudad, en que escribo, anduvo un Italiano con unos perros que hacían maravillas: parecía que entendían perfectamente lo que su amo les mandaba, o las palabras, porque les imponía el precepto; pues al instante obedecían, y con ladridos noticiaban a su dueño que tendrían pronta obediencia a lo que les ordenaba."
Ainda hoje é assim.

Meio ano de Santos da Casa

Mesmo sem milagres, já há meio ano que temos Santos da Casa.
Para a média da blogosfera, já é uma longevidade assinalável. Ainda mais de notar se atendermos aos níveis de produtividade e de qualidade sempre mantidos.
Se os portugueses se habituassem a estes índices de exigência já estavam invertidos os maus indicadores da economia.
Venham de lá muitos mais anos de blogação!

Em Portalegre

Ao contrário do que acontece noutros sítios, inclusive da vizinhança, a blogação em Portalegre não tem prosperado.
Maleita não identificada tem atacado ainda na infância os blogues lançados a este mundo, e o certo é que eles não têm vingado.
Agora temos este Em Portalegre Cidade, com nome de regianas conotações.
Vamos acompanhá-lo, e desde já lhe enviamos um abraço e os votos de sempre - que venha para criar raízes, crescer, e tornar-se uma pujante realidade ao serviço da sua terra.

sexta-feira, abril 08, 2005

Dos amigos

A minha fase lunar dos últimos tempos deu causa a algumas manifestações de preocupação, que como é natural me deixaram muito sensibilizado.
Quero destacar e agradecer o incentivo e apoio do Alentejano, que ainda por cima me mimoseou publicamente com elogios superlativos.
Fica aqui o meu obrigado aos amigos, e a confirmação de que cá estou e continuarei, uns dias melhor e outros pior.
Quanto à motorização da blogosfera alentejana, quer-me parecer que o melhor e mais seguro é fazer funcionar isto a vários motores. Assim quando um falhar a máquina não pára.

Combater com ideias

Como sabem aproxima-se o congresso do CDS, ocasião para discutir as ideias e os protagonistas para o futuro da agremiação.
Entre as moções presentes a debate foi anunciada uma com origem em militantes do Distrito de Setúbal, embora perfilhada por gente de outros pontos do país.
E para conhecimento desta foi lançado um blogue: Combater com ideias, lutar por Portugal!.
Fica aqui à disposição da vossa curiosidade.

A opinião pública é a opinião que se publica?

Quando acossados os jornalistas têm tendência para retorquir com o argumento da mensagem e do mensageiro.
Isto é, contra-atacam o crítico atirando-lhe que ele está simplesmente desagradado com a mensagem e por isso dispara sobre o mensageiro.
Apresentam-se deste modo implicitamente na posição modesta de portadores de mensagens em que não interferem, como o carteiro anónimo que deixa a nossa correspondência na caixa de correio sem lhe imprimir qualquer marca pessoal ao conteúdo.
Evidentemente que esta imagem, para além de modesta, é flagrantemente falsa.
Todas as operações em que se concretiza o trabalho dos jornalistas implicam escolhas, sempre dependentes da idiossincrasia pessoalíssima de quem as faz.
Nem a escolha de uma notícia é anódina, nem a sua apresentação é irrelevante, nem o modo ou o relevo que lhe são dados são independentes dos factores subjectivos que determinam quem executa essas tarefas.
O que se publica, o que surge aos destinatários como o produto final das funções desses profissionais, não é de todo uma mensagem a que eles são alheios e que se limitam a transmitir.
Ao contrário, o produto disponibilizado a público é inteiramente moldado pelas mãos por que passou na cadeia de fabrico.
E verdade seja dito que também não é difícil encontrar ensaios, estudos ou manuais a dar como axiomático que não existe jornalismo a que se possa chamar neutro.
Porém, se assim é, impõe-se não ter contemplações com exercícios de fingimento em tudo contrários à realidade, defesas de conveniência que não passam de representação hipócrita de um papel que os próprios actores, enquanto capricham em afixar a máscara toda feita de pureza ideal, irradiando ingenuidade e candura, sabem perfeitamente ser estranho à verdade.

quinta-feira, abril 07, 2005

Eu??

Com tanto para fazer, e tão pouco tempo para isso, só agora me dei conta que há quem me queira dar novo emprego.
Fico muito honrado com a lembrança, mas nem pensem nisso.
Tentem o Dr. Manuel Monteiro, que está muito desocupado e está sempre disponível para ser candidato a tudo, ou o Dr. Pedro Santana Lopes, que não é menos voluntarista e fica disponível lá mais para o Outono.

Património e Cidadania

Realiza-se no próximo dia 8 de Abril, sexta-feira, pelas 18 horas na sede do Grupo Pro-Évora, R. do Salvador n.º 1 (à Praça do Sertório), a primeira sessão de um ciclo de conferências/Debates organizadas pelo Grupo Pro-Évora e pelo Evorafórum, subordinadas ao tema "Cidadania e Acção".
Serão oradores o Dr. Luís Andrade, Prof. da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que falará sobre "O Combate Cívico no início do século XXI: o exemplo antiproibicionista", e o Dr. José Sá Fernandes, Advogado, sobre o tema "O Património e os Cidadãos"
O Grupo Pro-Évora e o Movimento Cívico Evorafórum convidam todos os interessados a participarem nesta sessão.

segunda-feira, abril 04, 2005

ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.


Fernando Pessoa (1913)

domingo, abril 03, 2005

Sombrio

Este mês de Abril veio carregado de nuvens negras.

sábado, abril 02, 2005

Terri Schiavo

Que sentido faz manter artificialmente viva uma pessoa cujos sinais vitais dependem exclusivamente de uma máquina a que está ligada?
Normalmente é assim a interpelação interrogativa do discurso defensor da eutanásia.
Compreende-se por isso muito bem que, apesar do aparente ruído mediático, o caso de Terri Schiavo se tenha desenvolvido e o resultado se haja consumado no meio de um estranho e incomodado silêncio sobre os aspectos mais relevantes da situação.
Na verdade, a vida de Terri não era artificialmente mantida por máquina alguma: ela carecia apenas de alimentação, como qualquer ser vivo, e não podia providenciá-la por si mesma, o que já nos aconteceu a todos em algum momento das nossas vidas.
A decisão de retirar um tubo de alimentação, e de proibir a administração de qualquer alimento, vai muito para além da vulgar discussão sobre a eutanásia.
Terri Schiavo não morreu de doença, não sucumbiu de morte natural resultante da evolução normal de qualquer patologia que a afectasse: faleceu por inanição, à sede e à fome, depois de quinze dias sem água ou alimentos.
É difícil apresentar como "morte digna", para lembrar os slogans usuais, esta execução lenta e cruel.
E a vítima nem estava em coma, ao contrário do que vi abundantemente referido, nem consta que lhe faltasse a sensibilidade, e nem sequer é verdade que estivesse inconsciente (estava vigil, apesar da gravidade das lesões cerebrais que a diminuíam).
A sua vida era "indigna"? Onde residia a "indignidade"?
Vão as nossas sociedades enveredar por este caminho de seleccionar as vidas que são "dignas" e as que não o são, e passar à prática os padrões que ficarem definidos?
E quem ficará com o poder de julgar se uma vida atinge o grau mínimo de "dignidade" para ser mantida? Os médicos? Os tribunais? As famílias? Alguma repartição pública? Comissões parlamentares?
O que se passou é grave demais, no seu significado e nas suas implicações, para caber num comentário.
Faço questão tão só de remeter os leitores para o que encontrei de melhor na blogosfera sobre o caso Terri Schiavo.

Sobre Clint Eastwood

Por entre a tal prolixidade assinalada nos blogues encontro sempre leitura a merecer destaque. Há também qualidade, sim senhor, e não é verdade que o pessoal que publica neste meio seja constituído por canhestros e frustrados sem acesso a outros meios.
Quem gosta de cinema (fica à atenção do Eurico e do Mendo) gostará de ler este belo artigo sobre The Outlaw Josey Wales.
I reckon so...

Poisson d'Avril

O mais inspirado postal de primeiro de Abril foi escrito pelo Rui, sob o título auspicioso de "Boas notícias à direita".
Tem graça, até porque sabendo nós que non è vero não podemos deixar de sorrir e reconhecer que ... è bene trovato!
E depois... sabe-se lá... nestes futebóis o que hoje é verdade amanhã é mentira, e o inverso também pode acontecer.

O mar da fertilidade

Dizia há dias atrás um dos nossos mais perspicazes blogadores que "ao ver a quantidade de textos que são diariamente publicados na lusa blogosfera, concluo que boa parte dos portugueses andou durante décadas a escrever para a gaveta. Faltava-lhes liberdade e democracia? Qual quê! Faltava-lhes um PC e banda larga."
Nem sempre a quantidade equivale a qualidade, mas não há dúvida que a abundância observada é constatável por qualquer um.
E não pode deixar de ser motivo de regozijo! O que haviam de fazer os portugueses em lugar de alinhavar umas prosas na internet? Num tempo em que só parecem proliferar os centros comerciais e os bares de alterne, que enxameiam uns e outros todos os recantos do país, em que haviam de entreter-se os portugueses? Gastar os sapatos a deambular pelos corredores dos shoppings? Curtir as insónias abancando nos night-clubs?
Creio que até em termos laborais a opção é vantajosa. Enquanto um em seu computador se concentra no blogue, espremendo as meninges, o colega do lado não tem com quem discutir as peripécias da bola. Desconfio que aumenta o rendimento global da secretaria.

sexta-feira, abril 01, 2005

Homenagem a Rodrigo Emílio

É amanhã, sábado, 2 de Abril, pelas 15 horas, que se realiza na Sociedade Histórica da Independência de Portugal a homenagem ao poeta e ensaísta Rodrigo Emílio, falecido no ano passado.
A sessão, no Salão Nobre do Palácio da Independência (Largo de São Domingos, n.º 11, em Lisboa) conta com alocuções de António Manuel Couto Viana, Carlos Eduardo de Soveral, António José de Brito, João Bigotte Chorão e Pinharanda Gomes; e leitura de poemas de Rodrigo Emílio por Couto Viana, António José de Almeida e Luís António Serra, para além da voz de José Campos e Sousa, que encerrará a sessão interpretando alguns dos poemas do Rodrigo por si musicados.
Conta-se ainda com a presença de ilustres bloguistas, como o Absonante e o Jansenista e sabe-se lá quantos mais...