domingo, abril 29, 2007

Aditamento sobre as datas


Edição do "Le Monde" em que foi notícia a inauguração do Pavilhão espanhol, com o lançamento público da mistificação "Guernica".
A 4 de Maio de 1937.
"L’Exposition fut inaugurée le 4 mai 1937 par Albert Lebrun, président de la république. Elle se termina le 25 novembre 1937."
Já agora, recomendo uma olhadela à fotografia do Pavilhão de Portugal. Estética "exposição do mundo português" três anos antes.

Mentira e propaganda política: o caso Guernica

A obra foi solenemente apresentada ao público com o nome "Guernica" pelo próprio Pablo Picasso e por Max Aub, subcomissário da exposição, na inauguração do Pavilhão de Espanha da "Exposition Internationale des Arts et Techniques", em Paris, no dia 4 de Maio de 1937.
Esta data pode ser verificada facilmente, uma vez que se tratou de um acontecimento público e que foi amplamente divulgado nas primeiras páginas da imprensa da época.
Todavia, pesquisando na internet sobre o quadro "Guernica", quase sempre se encontram textos em que abundam muitos outros pormenores, muitos inúteis e fantasiosos, mas essa data é geralmente esquecida.
A razão também é fácil de compreender. Logo na inauguração Max Aub afirmou que muito se iria falar daquela pintura. E efectivamente logo a partir dessa apresentação pública a obra converteu-se num símbolo publicitário do Governo Republicano, durante o resto da Guerra Civil e mesmo no exílio posterior. E sobretudo, tal como ainda agora acontece, apresentava-se o quadro como tendo sido elaborado por Picasso como resposta indignada ao bombardeamento que tinha sofrido a cidade de Guernica.
Porém, se atentarmos na data, logo se conclui que não pode ser assim.
Na verdade, o bombardeamento de Guernica ocorreu na tarde de 26 de Abril de 1937. Nos dias seguintes o facto tinha começado a ser noticiado e comentado em Paris, mas o quadro foi apresentado práticamente uma semana depois do acontecimento. Trata-se de uma obra com 3,5 metros de altura por 7.77 metros de largura. Não consta que estivesse a pingar tinta quando foi colocado na Exposição.
O próprio Picasso chegou a declarar que tinha demorado 60 dias a executar o trabalho. Dadas as suas dimensões, não é dizer pouco.
Pensar que o quadro foi iniciado e completado entre 27 de Abril e 3 de Maio não cabe nem na mais delirante imaginação, pese embora a conhecida produtividade de Picasso.
Uma conclusão se impõe: o trabalho não foi inspirado nem representa o bombardeamento da cidade de Guernica.
Na realidade, a história do "Guernica" começou em Janeiro de 1937, quando Max Aub, então adido cultural da Embaixada de Espanha em Paris, além de subcomissário da Exposição que se preparava, encomendou a Pablo Picasso, por ordem do Governo Republicano transmitida ao Embaixador Luís Araquistáin, um mural para ser exposto no Pavilhão de Espanha da dita exposição, mediante o pagamento de 150.000 francos.
Em vez de um mural foi executado aquele enorme painel, em óleo sobre tela, que cumpriu o seu papel na parede. Se foi Picasso, ou Max Aub, ou outro qualquer, que anteviram o potencial da designação, para cavalgar a onda noticiosa, e se lembraram de baptizar o quadro de "Guernica", nos breves dias que antecederam a inauguração da exposição, é facto que dificilmente poderá ser esclarecido. Mas a restante factualidade que envolveu a encomenda é irrefutável.
Desde então, "Guernica" tem sido objecto de estudo, crítica, opinião e inspiração um pouco por toda a parte.
Representará uma visão particular obre os horrores da guerra, de todas as guerras? Segundo alguns a tensão expressa no quadro lembra "Los horrores de la Guerra", de Goya.
O que não se distingue nele, nem podia, é alguma alusão directa aos acontecimentos históricos que então se deram, nomeadamente aos bombardeamentos de Guernica.
A denominação da obra e toda a propaganda desencadeada a partir daí representa apenas uma operação política, em que participou o milionário comunista Pablo Picasso (duas vezes "Prémio Lenine da Paz") e todas as centrais de intoxicação ao serviço das causas do costume.
Algumas más línguas sugerem que o quadro com que Picasso correspondeu à encomenda estava feito antes, ou em adiantada execução, e chamava-se realmente "Lamento en la muerte del torero Joselito", evocando a memória do toureiro Joselito (José Gómez Ortega), morto na arena de Talavera de la Reina a 16 de Maio de 1920. Não sei, mas é verdade que o malaguenho Picasso sempre dedicou grande atenção aos temas taurinos, desde a sua juventude. E observando o quadro podem distinguir-se touros e cavalos, uma composição de motivos tauromáquicos num paroxismo de morte. O que não se consegue descortinar são aviões, casas, guerra ou bombardeamentos.

sábado, abril 28, 2007

Eurasismo : o fascínio das fantasias imperiais

Reproduzindo o artigo que publiquei na ALAMEDA DIGITAL:

Alguns leitores estarão a par da actual popularidade em certos círculos políticos e intelectuais, com expressão nomeadamente em Roma, Paris ou Berlim, para além do óbvio centro moscovita, de teorias geopolíticas que usam a denominação eurasismo.
A esses não escapará a notória diferenciação desse eurasismo digamos que “ocidental” em relação ao fenómeno ideológico, geopolítico e historiográfico que esteve no princípio da designação.
Não são de estranhar evoluções semelhantes, pois quase sempre as ideias ganham vida própria, e nos seus desenvolvimentos assumem até por vezes contornos que pouco se identificam com as origens, sobretudo sob o influxo de diferentes circunstâncias de tempo e espaço.
E frequentemente verifica-se que existem origens diferentes para realidades que circulam com a mesma denominação.
Para alguns dos actuais entusiastas do eurasismo a sua posição representa no essencial a expressão política das aspirações teorizadas há umas décadas por Jean Thiriart.
É a “Europa Unida de Dublin a Vladivostok”. É um sonho a que com mais acerto se chamaria “Grande Europa” do que “Eurásia”, se atentarmos no sentido do movimento da construção proposta.
A visão geopolítica aqui presente é a da “Europa Imperial”, coincidente com a doutrinação inicial de Jean Thiriart e neste ponto também com as posições geopolíticas de Julius Evola.
Nem Ocidente, nem Oriente, sim à Europa Imperial.
Todavia, com o desaparecimento da ameaça comunista, que preenchia o conteúdo que se rejeitava no segundo termo da equação, parece que o “eurasismo”, ao menos em alguns dos seus entusiastas, se foi deslocando no sentido de erigir o “Ocidente”, identificado com o americanismo, como o inimigo único global. Houve uma mudança nítida, de uma posição terceirista para uma concepção bipolar que chega a exprimir-se na oposição dicotómica entre a “talassocracia” e a “telurocracia”, o mar e a terra.
Esta evolução, curiosamente, aproxima o eurasismo das suas origens russas – e do debate fundamental sobre a estratégia nacional da Rússia pós-soviética.
Recorde-se que o eurasismo foi originalmente uma doutrina geopolítica desenvolvida na Rússia. Surgiu nos começos dos anos vinte do século passado, e veio depois a cair no esquecimento.
Após o fim da URSS a doutrina ganhou novo vigor, impulsionada sobretudo pelo filósofo e geopolítico russo Alexandre Douguine, por vezes com o nome de “neo-eurasismo”.
Ao que leio, esta doutrina estará agora muito espalhada na Rússia e no seu “estrangeiro próximo” (principalmente as ex-repúblicas muçulmanas soviéticas da Ásia Central, com o Kazaquistão, o Turqueménistão, o Tadjiquistão e a Quirguízia, e também na Turquia, no Irão, etc.).
Na sua formulação inicial, o eurasismo tinha sido teorizado cerca de 1920 por intelectuais russos da emigração (N. Troubetskoy, P. Savitsky, N. Alexeiev, etc.).
Afirmavam eles que a identidade russa resultara de uma fusão original entre os elementos eslavo e turco-muçulmano, que a Rússia constituía um “terceiro continente” situado entre o Ocidente (já então denunciado como materialista e decadente) e a Ásia.
O livro-manifesto do movimento chamava-se aliás “Tournant vers l’Orient” (Petr Savitsky, 1921).
Para os eurasistas russos os Urais não eram uma fronteira mas o centro mesmo da Rússia.
Os eurasistas demarcavam-se portanto quer dos nacionalistas clássicos quer dos eslavófilos. Sem serem comunistas, olhavam no entanto para a experiência soviética como a continuação da ideia imperial russa.
O neo-eurasismo de Douguine retoma estas ideias mas vai mais longe. Eleva a teoria de Mackinder que opunha talassocracia e telurocracia, “ilha mundial” (América) e “terra mundial” (Eurásia), ao nível de uma explicação da história.
A civilização talassocrática, anglo-saxónica, protestante, de espírito capitalista, seria irremediavelmente oposta à civilização continental, russo-euroasiática, ortodoxa e muçulmana, de espírito socialista.
O Ocidente, onde o Sol se põe, representa o declínio, a dissolução. A Eurásia representa o renascimento, é a terra dos deuses, pois que é lá que o sol se levanta.
O objectivo declarado do movimento neo-eurasista é constituir um grande bloco continental euroasiático para enfrentar em pé de igualdade a potência marítima “atlantista”, que representa o “mal mundial”, arrastando o mundo para o caos.
Deste modo a escatologia mistura-se à geopolítica.
No contexto da política russa, há ainda a destacar entre os diversos movimentos neo-eurasistas que emergiram durante os anos 1990 a corrente protagonizada por A. S. Panarin, da Academia das Ciências de Moscovo.
O seu discurso caracteriza-se por ser imediatamente político, embora muito elaborado teoricamente: o mundo posterior à bipolaridade é um mundo “pós-moderno”, marcado por novos valores (o sentido de colectividade o regresso da religião e do ascetismo, um forte sentimento ecológico, etc.) e à frente dele encontra-se naturalmente a Rússsia pós-totalitária.
Panarin defende para a Rússia, e para o seu “estrangeiro próximo”, uma geopolítica anti-ocidentalista baseada em postulados culturalistas que podemos identificar com os de Samuel Huntington.
Panarin procura sobretudo reabilitar filosoficamente e politicamente, a noção de império. Espera assim ultrapassar as rupturas ideológicas e estabelecer linhas de continuidade entre csarismo, União Soviética e época contemporânea. O império seria então a construção estatal “natural” do espaço euroasiático, única forma de garantir a preservação das culturas nacionais sem deixar de constituir a expressão da identidade russa. O neo-eurasismo de Panarin propõe assim ao seu país uma nova ideologia identitária apresentada como capaz de evitar qualquer divisão nacionalista ao definir uma Rússia tanto russo-ortodoxa como turco-muçulmana.
As ideias eurasistas nunca constituíram, até agora, uma qualquer ideologia oficial na Rússia, mas permitiram uma nova grelha de leitura da história russa, essencial num tempo em que se coloca de modo premente a questão de saber o que é a Rússia.
Neste ponto, importa parar e reflectir sobre a compatibilidade entre este eurasismo “oriental”, cuja essência é a definição da identidade russa e a defesa da sua centralidade no mundo, com o eurasismo “ocidental” que foi referido no início (aquele que nasce fundamentalmente de visões geoestratégicas como o recorrente eixo Paris-Berlim-Moscovo).
Para quem se coloque na perspectiva da “terra mundial”, da Rússia-continente, a península asiática a que normalmente chamamos Europa não excede em importância as restantes periferias, como a Índia, a China, o Japão.
Para quem se situa (pese embora o seu repúdio do “Ocidente” e do “atlantismo”) na perspectiva de Paris, Roma ou Berlim, não parece que possa ser aceitável essa deslocação do centro de gravidade do que sempre considerou a Europa, apagada inevitavelmente nessa outra subalternização alternativa que seria a concretização da geo-estratégia moscovita.
O comum inimigo americano não parece ser cimento suficiente para dar consistência a uma tal confusão.


Da geopolítica da URSS ao advento da "Grande Rússia"

sexta-feira, abril 27, 2007

Vão mas é caçar fascistas!

Segundo a melhor imprensa, no passado dia 25 de Abril, associando-se ao espírito da data, um numeroso grupo de cidadãos da nossa mais promissora juventude transformou a zona do Chiado numa espécie de subúrbio francês em noite de revolta.
Tudo se passou muito rapidamente. Como constava das convocatórias, os militantes concentraram-se e andaram ali pela Praça da Figueira e Rossio, subindo até ao Camões. Pelas ruas do Carmo e Garrett e Largo Camões, paredes foram grafitadas e arremessados sacos de tinta para as montras, aterrorizando turistas, lojistas e transeuntes. Cerca de 150 pessoas, extremistas com simbologia anarco-libertária, pertencentes a movimentos anti-globalização, participaram na marcha não autorizada. Ao longo do percurso partiram montras, roubaram mercadorias de lojas e pintaram graffitis nas paredes. Interpelados pela PSP, agrediram os agentes e atacaram à pedrada os carros-patrulha. Grupos de indivíduos de cara tapada com gorros e capuzes, ostentando barras de ferro e até cocktails molotov, obrigaram os agentes policiais a pedir reforços. No Rossio, e perante a iminente tentativa de invasão da sede do Partido Nacional Renovador (um impulso magnífico de idealismo e coragem!), a PSP foi forçada a intervir. Os manifestantes chegaram a disparar dois very-lights. Cinco polícias foram assistidos no hospital após terem sido agredidos.
Finda a intervenção policial tinham sido apreendidos 26 barras de ferro e de madeira, 21 paus de bandeira, três cocktails molotov. Foram detidos nove homens e duas mulheres, entre os 20 e os 30 anos.
No conjunto, e assim de repente, a PSP encontrou mais armamento numa rua de Lisboa do que a PJ tinha encontrado nas dezenas de buscas domiciliárias da heróica saga de combate anti-fascista que foi celebrada há dias.
No dia seguinte, os detidos foram presentes ao Tribunal de Instrução Criminal e saíram em liberdade e em glória com a medida de coacção mínima. O carácter espontâneo, pacífico e bem intencionado destas acções ficou por demais clarificado aos olhos de toda a gente.
Indignadamente, já na imprensa se fez saber que haverá processo: contra os polícias que assim perturbaram tão meritória e generosa empresa dos pacatos cidadãos vítimas da brutalidade policial. A comoção alastra. Alguns dos jovens tinham hematomas!
Associamo-nos ao clamor geral. A bófia tem que saber com quem se mete.

Outras leituras

Interessante Mote para Motim.
Afinal, os CONTOS PROIBIDOS que ninguém quer reeditar estão na net, à distância de um clic.
Abençoada net.
Também merece visita o Para mim tanto faz, curioso blogue de um jornalista... atípico.

quarta-feira, abril 25, 2007

O tempo das revistas

Está nas bancas mais um número da ATLÂNTICO.
Merece destaque, sem desprimor para o restante, o reconhecimento público a um blogue de serviço público: Do Portugal Profundo.

segunda-feira, abril 23, 2007

Alameda Digital

Está em linha o novo número, o n.º 7, da ALAMEDA DIGITAL.
Continuam disponíveis os números anteriores.
Depois do recente aparecimento do primeiro número da LEONARDO, é novamente a rede virtual a afirmar-se como o lugar privilegiado para a vida cultural no nosso tempo.
A haver uma nova idade das revistas, estas serão electrónicas.

O que a vida mostra e o que ela esconde

Frequentemente o criticismo é apenas má língua, o descontentamento é apenas inveja, a revolta é só o desgosto de não poder fazer o mesmo e ser como eles.
Por isso se enganam tantas vezes os diagnósticos daqueles que tomam como profundo mau estar político o que resulta da soma das conversas de barbeiro, dos desabafos de autocarro, das fúrias dos taxistas, dos boatos insidiosos e das anedotas maldosas dos salões.
A verdade é que vivemos num país de contentinhos, onde a cultura dominante é a do arranjinho, do amiguismo, do fazer pela vida como se pode.
Podemos todos passar anos a dizer o pior possível destes e daqueles e depois vamos votar esmagadoramente neles.
Quem ganha, por responder exactamente ao que a maioria gostava de ser ou ter, são heróis populares como Valentim, Isaltino ou Fátima Felgueiras. Ou Sócrates.
Os nossos contemporâneos empanturram-se com telenovelas, mas têm heróis na vida real. São sobretudo essas legiões de gente desenrascada que triunfa na política e nos negócios, no futebol, na bolsa ou na vida social. Nesses é que o povinho se revê, ora com admiração ora com dor de cotovelo - mas sem sombra de reprovação.
Não venham com moralismos anacrónicos, que o pessoal não se impressiona. O que esses fazem ou fizeram, os outros ou fizeram ou fazem o mesmo e se não fizeram nem fazem é só porque não podem ou puderam.
Como todos sabem, não há ninguém que mexa no mel e que não lamba os dedos. E do que é doce é que toda a gente gosta.

domingo, abril 22, 2007

28 de Abril: honra a Salazar!

Citava-se muitas vezes a ironia de quem escreveu que sempre que ouvia gritar viva a liberdade ia sempre alguém preso.
A atestar como os tempos por vezes pouco mudam os costumes, agora por cá quando se desata a gritar vivas à liberdade e à democracia é sempre para reclamar a prisão de alguém ou a proibição de alguma coisa.
Se pudesse ser, até os mortos eram mortos outra vez...

(Em Santa Comba Dão, ver TIR ou Alma Pátria).

Eleições na Madeira

Parecem que estão esquecidas, mas na Madeira há eleições já a 6 de Maio.
Tive curiosidade e fui espreitar o que dizem as duas listas que, ao menos formalmente, podem representar uma oposição à direita.
Encontrei o CDS Madeira (a chave da mudança) e o PND Madeira (vamos podar o Jardim).
Tudo visto, não fiquei muito impressionado.

O tempo das revistas

Recordo que está em linha o primeiro número da revista electrónica LEONARDO, revista de filosofia portuguesa.

Presidenciais francesas

Ontem tinha visto na televisão um irónico Jean d'Ormesson a evocar "O Leopardo" e Lampedusa, para comentar a vida política francesa. Dizia ele que os franceses são uma gente complexa, por um lado todos querem a mudança e por outro não querem mudar nada.
Pensei na observação agora, ao aparecerem os resultados da primeira volta das presidenciais. A campanha foi feita a falar em mudança, o resultado traduz uma escolha que é a mais situacionista e imobilista de todas as hipóteses possíveis.
A segunda volta será disputada absolutamente dentro do círculo fechado que domina o circo político-mediático gaulês desde há décadas.
Aparentemente, tudo está atado e bem atado - o sistema resiste, por mais crises e explosões que surjam periodicamente para entreter os sociólogos e os telejornais.
O país, esse, parece que é agora o 17º no mundo, quando em tempos não muito remotos aparecia como o 7º nas mesmas escalas de avaliação do poder nacional.
Saboroso foi um comentário a quente de Jean-Marie Le Pen (goste-se ou não o único candidato que significava uma diferença real, o único que corria por fora):
"Les Français sont apparemment très contents de leur situation, je croyais le contraire. Ils ont voulu placer au deuxième tour Nicolas Sarkozy et Ségolène Royal, c’est leur choix."
Escolha ou conformação, será sempre uma escolha. Por agora, tudo continuará na mesma e entre os mesmos. O futuro dirá se a panela aguenta a tampa.

Alerta às meninas casadoiras

"Sócrates está outra vez sozinho".

Longe vão os tempos em que Sócrates aproveitava todas as folgas na sua agenda para se dedicar à namorada, levando-a sempre para gozar uns dias, quer em Portugal, quer no estrangeiro. Desde a Páscoa de 2006 que a jornalista não tem acompanhado o namorado. Este, por seu turno, opta por levar os filhos, o que tem motivado discussões entre o casal, uma vez que, outrora, as férias eram a quatro. A mudança de atitude de Sócrates tem incomodado Câncio que até há pouco tempo se conformava com o facto. Agora, cansada de ficar em segundo plano, a jornalista colocou um ponto final na relação de mais de cinco anos.
Eles terminam e reconciliam-se. Passam a vida nisto”, confidencia ao Correio Vidas um amigo do casal, revelando, no entanto, que desta vez a ruptura parece ser definitiva, sem reconciliação à vista
.
Não perca o próximo episódio!!!

Cannabis legal como a imperial!

É já no dia 5 de Maio, em mais duzentas cidades do mundo: Lisboa e Porto também vão ter a marcha "em defesa da legalização da cannabis para fins recreativos e medicinais".
Veja na Marcha Global da Marijuana.
Global Marijuana March

Forum Pátria

Um forum nacional de debate e informação.

sábado, abril 21, 2007

Nos 150 anos de Fialho de Almeida

A assinalar os 150 anos do maior prosador do Alentejo, leio comentários no Planície Heróica e no Alvitrando. Lembram-no em Vila de Frades e na Cuba, lembra-o em Évora Joaquim Palminha da Silva, anuncia-se obra de Ricardo Revez.
Por mim, diria dele o que ele disse de Camilo. Não está bem dito?

A linguagem de Camilo não é tanto a língua portuguesa genuína e opulentada de todos os vocábulos que uma retentiva paciente é capaz de ir colher aos vernaculismos do povo e das bibliotecas, como o instrumento vivo e acirrante dum espírito de artista que, por profundo e multíplice, houve mester, como os órgãos das catedrais, de exprimir por tubos de cobre a potência orquestral da sua voz.
Outros como ele trabalharam a língua portuguesa, e a souberam com intimidade igual e exuberância parecida; mas nenhum lhe deu aquela alma indómita, transfiltrando-lhe a pompa, o brilho, a energia e a graça em que ele a amoedou.
Estes predicados, muitos são da língua, convenho; quintessenciados porém pelo talento do escritor, e adquirindo pelo individualismo dele uma acuidade incomparável. A prova disto é a prosa de Camilo não ser susceptível de imitar-se. Todos os pasticheurs nela sossobram, porque essa elocução e esse estilo não são como os dos outros, só feitos de palavras: são a voz de um espírito, têm o timbre próprio de uma laringe, são ideias gravadas; e porque na história do português escrito se não chegue a elas por uma evolução metódica, impossível usá-las sem lhes falsear o cunho originário, e impossível assim de tomá-las como ponto de partida para a fundação de uma arte nova de escrever.
Camilo teve este supremo dom de trabalhar, sobre uma língua compacta e por vezes incapaz de traduzir certas finuras, a mais fulgurante e a mais dútil de todas as línguas - isto sem lhe escambar o valor primevo, nem lhe meter de enxertia o estrangeirismo. E conseguiu isto, valendo-se dos seus conhecimentos de purista, e logo exalçando-os com a sua fascinadora improvisação.
Assim, a frase dele morde o assunto, como o ácido a lâmina de gravura sulcada a ponta de estilete; e desta cunhagem modelar brota uma imagem súbita, luminosa, que ainda bem não mexe no nosso ouvido, já se está a mexer no nosso cérebro, com uma estranheza intensa, que muita vez chega a produzir em nós a derrocada...
Um dos predicados admiráveis desta língua é não cheirar ela nunca a literatura: ser uma língua de acção, embora às vezes bizarra e com efeitos orquestrais, que tanto lhe vêm dos assuntos como da combinação rítmica das silabas. Também raros escritores possuem, como Camilo, a intuição da língua em que convêm tratar o assunto, e o poder de inventar para cada género de tema o vocabulário, o estilo, e a fantasmagoria interior que lhe são próprios.

A nossa terra

Diz o José, da Grande Loja:

A degradação moral e autêntica corrupção a que assistimos, com assento nas mais altas instâncias do poder político, atingiu um nível tal que dificilmente arranjamos memória repetida.
A inversão de valores atingiu um patamar tão elevado que daqui para a frente, o descrédito não poupará ninguém. As instituições demitiram-se do seu dever e os poderes públicos imobilizaram-se no atavismo da estabilidade artificial.


Grita João Tilly, do alto da Estrela:

Um país nas mãos de falsários, de vigaristas, de ladrões!...
Portugal foi tomado por um gang de miseráveis vigaristas falsários que transformaram o mais bonito país da Europa numa lixeira intelectual e moral em que a classe politica corrupta que nos atrofia há 33 anos apenas trata de se "encher" e de continua a fazer de nós parvos completos.


Escreve o Miguel, do Combustões:

O país está cheio de pequenos feudos, pequenos ditadores, pequenos chefes que tiranizam, cerceiam, humilham e segregam tudo o que lembra o mérito, a independência, a liberdade e a decência. Eles sabem, no fundo, que o país se limita a 100.000 confrades, que tudo o que acontece, tudo o que importa e lhes perturba os gelatinosos cérebros se prende com a preservação, custe o que custar, das sinecuras, dos privilégios e dos cabedais proporcionados pela "coisa pública". (...) Este país enoja-me a pontos de revoltar o estômago, as vísceras e a razão. Estamos, decididamente, nas vascas da agonia.

sexta-feira, abril 20, 2007

Extremismo

Dans le numéro 28 de la revue «KRISIS» consacrée à la «Politique?» on trouve un intéressant article consacré à l’ «extrémisme politique». L’auteur, Laird Wilcox, universitaire américain, spécialiste des mouvements radicaux (de droite ou de gauche), fait part d’une observation iconoclaste: la plupart des personnes pouvant soutenir des opinions radicales ou hétérodoxes peuvent le faire en demeurant rationnelles, raisonnables et non dogmatiques. A contrario, bien des gens s’exprimant au nom de courants politiques majoritaires le font souvent de manière arrogante, brutale et fermée à tout compromis. Bref, il y a des conformistes extrémistes et des hétérodoxes modérés! Dans les faits le mot «extrémiste» sert moins à qualifier une opinion ou un mode d’expression qu’il n’est utilisé comme invective.
Fort de ce décryptage, Laird Wilcox énumère 21 traits distinctifs des comportements
extrémistes. Force est de constater que la quasi-totalité d’entre eux s’applique aujourd’hui aux tenants de l’idéologie dominante, fussent-ils réputés modérés ou centristes…
En voici la liste :
1 - L’assassinat de la réputation;
2 - L’injure et la disqualification par étiquette;
3 - Les généralisations ravageuses irresponsables;
4 - Les assertions démontrées par des preuves inadéquates;
5 - La défense du double standard;
6 - La tendance à voir leurs adversaires et leurs détracteurs comme essentiellement maléfiques;
7 - Une vision du monde manichéenne;
8 - Le désir de censure ou de répression à l’égard de leurs adversaires;
9 - La tendance à s’identifier à leurs ennemis, c'est-à-dire à ceux qu’ils haïssent ou qui les haïssent;
10 - La tendance à argumenter par intimidation;
11 - L’utilisation de slogans, de mots-clés;
12 - L’affirmation d’une supériorité morale;
13 - Une pensée apocalyptique;
14 - La conviction qu’il est permis de faire de mauvaises choses au service d’une «bonne» cause;
15 - L’accent mis sur les réponses émotionnelles;
16 - L’hypersensibilité et la vigilance;
17 - Le recours à des justifications surnaturelles;
18 - L’incapacité à tolérer l’ambiguïté et l’incertitude;
19 - Le penchant pour la pensée de groupe;
20 - La tendance à personnaliser l’hostilité;
21 - La conviction que le système n’est bon que s’ils gagnent.

Éléments n.º 124


http://www.revue-elements.fr/

Leonardo - revista de filosofia portuguesa

Está em linha o primeiro número da revista electrónica LEONARDO, revista de filosofia portuguesa.
Dedicando especial atenção à obra de Orlando Vitorino, este número reúne colaboração de António Carlos Carvalho, António Telmo, Carlos Aurélio, João Luís Ferreira, José Luís Gala, Miguel Bruno Duarte, Pedro Martins e Pinharanda Gomes.
Fruto dos esforços dos mais novos cultores da Filosofia Portuguesa, de entre os quais saliento Francisco Moraes Sarmento, a nova revista, que traz para a net o que já tinha sido um projecto em papel e ao vivo, representa uma esperança acrescida para quantos vêem a autonomia de pensamento como condição indispensável à liberdade de Portugal.
Pela minha parte, tudo de bom para a LEONARDO.

quinta-feira, abril 19, 2007

Não se pode proibir a internet?

Internet enquanto potenciador de veiculação de movimentos ideológicos

"Todos nós sabemos a enorme força e poder que a Internet possui. Essa força permite espalhar e engrandecer movimentos ideológicos, alguns de grande utilidade e razão, outros exactamente o contrário. Infelizmente, um dos movimentos ideológicos que ganhou mais força devido à Internet foi o incentivo ao fascismo, nacional-socialismo e extrema-direita. Este facto aconteceu dado que pela natureza extremamente negativa destes ideais, passou a existir um maior controlo e acompanhamento das autoridades competentes nos meios de propaganda anteriores à web, logo, a escapatório encontrada foi o uso quase ilimitado das capacidades da Internet para engrandecer este tipo de crenças. A presença deste movimento ideológico é facilmente encontrada por todos seja em blogs, vídeos, fóruns, imagens ou sites. Foi, por exemplo, maioritariamente através da Internet que elementos de extrema-direita espalhados por toda a Europa estão a combinar a sua vinda a Portugal. É de facto impossível controlar este crescendo de conteúdo de cariz tão negativo, sendo que este facto é mais uma acha na fogueira na discussão sobre a falta de limites e liberdades proporcionados pela Internet."


(in Cibercultura)

Não se apagam, mas vão presos...


O cartaz do PNR - foi tudo por causa disto???

quarta-feira, abril 18, 2007

A mega operação caça-fascistas

Ao escrever o texto que ficou ali um pouco mais abaixo, com algumas pretensões a sarcástico, não esperava que os acontecimentos viessem tão depressa corroborar o meu pressentimento.
Deve ser da experiência, bem vivida em montagens e inventonas desde o longínquo Setembro de 1974, agora parece que até de olhos fechados os topo à distância.
Com efeito, pouco tempo tinha passado sobre o meu pequeno escrito quando começaram a aparecer na imprensa electrónica as notícias sobre a "mega-operação da Polícia Judiciária" que se desenrolou na madrugada de hoje, trazendo a lume o facto-político a que eu tinha feito alusão no meu prognóstico jocoso.
O que veio a público não pode passar sem alguns comentários, mesmo a quente e sem outra informação que não seja a que foi possível encontrar nos jornais digitais, tão evidentes me parecem os factos.
Segundo as notícias, a PJ reuniu mais de 100 agentes, devidamente enquadrados, para fazerem buscas domiciliárias em algumas 60 residências diferentes, em diversos pontos do país, sobretudo na zona de Lisboa mas também no Porto e em Braga, ao que se noticiou.
É notável: para quem conhece os recursos humanos dessa polícia, isto significa que praticamente tudo o resto foi preterido em favor desta prioridade das prioridades que foi a operação em referência. Agentes de todas as directorias, de todo o país, foram mobilizados para tão gigantesca operação. Não sei há quanto tempo a PJ não realizaria uma acção desta envergadura - desde o desmantelamento das FP-25?
São inevitáveis as perguntas. Não parece provável que a decisão para avançar com a operação tenha sido tomada a nível da hierarquia da PJ. A polícia tem mais que fazer, e não se afigura a ninguém com juízo que isto fosse a sua máxima preocupação em matéria de combate ao crime.
De onde veio então a pressão para pôr em marcha neste preciso momento uma iniciativa destas? Pode ter sido transmitida através da Procuradoria-Geral da República, agora transformada numa espécie de delegação governamental sob a responsabilidade de Pinto Monteiro. Mas como é óbvio a ideia não veio daí.
Tratou-se então de criar ambiente para um ritual colectivo de exorcismo antifascista, para satisfazer as reclamações dos devotos, sofredores após a vitória de Salazar no concurso e mais o fiasco de Santa Comba? Não parece ser apenas isso, embora seja verdade que os sentimentos antifascistas andavam carentes.
Tratou-se de antecipar as mobilizações previstas para dia 21, marcadas para LIsboa, de forma a desferir um golpe decisivo no PNR e nos que militam à sua volta, através do efeito intimidatório e do alarme público? Também não parece que seja apenas isso.
Será então uma resposta ao ruído mediático à volta dos famosos cartazes sobre a imigração, para popularizar o governo entre a sua clientela esquerdista e impaciente? Também não parece que seja só isso, nem mesmo que seja isso mais os factores anteriormente apontados.
O que parece, atendendo ao contexto, é que a razão decisiva para esta montagem foi efectivamente oferecer à comunicação social e à opinião pública alimento que a desviasse dos escândalos que ultimamente a têm entretido.
Por outras palavras, estamos perante uma operação típica de intoxicação, manipulação, propaganda, executada com recurso ao aparelho policial-judicial mas pensada e decidida ao nível político mais elevado.
Não parece que tenha resultado e que vão de repente desaparecer os pesadelos de Sócrates; mas tudo indica que foi esse o cálculo fundamental.
E outras perguntas incómodas têm que ser feitas. De acordo com as notícias, os mandados de busca teriam sido fundamentados em suspeitas de crimes de "discriminação racial". Será que o crime de "discriminação racial" é daqueles que se provam com buscas domiciliárias? Esse crime traduz-se em provas materiais? Quais? São livros, discos, CD's, panfletos? E como foram escolhidos os alvos? Por fotografias nos jornais, ou filmes da televisão? Por indicação do SIS? Por informadores seguros que relataram a sua "discriminação racial"? Por fontes idóneas que atestaram o seu indiciário fascismo?
Algumas notícias deram conta de que tinham sido apreendidas algumas "armas ilegais". Não era essa a justificação legal para as diligências, mas convém também esclarecer o que é que foi encontrado. Uns corta-unhas? Umas fisgas?
Já agora, acrescente-se que para além dos domicilios também foi efectuada busca à própria sede do PNR, na baixa de Lisboa. O PNR é um partido político devidamente legalizado. Isto pode acontecer? O que é que ali foi encontrado que justificasse acto tão excepcional?
Finalmente, dizem as mesmas notícias que algumas dezenas de pessoas foram detidas para ser presentes a interrogório. Por terem os tais livros, a tal "propaganda nazi" a que se referem as notícias? Por terem feito alguma coisa? Por detenção das tais armas? Ou por serem alguma coisa?
Independentemente das respostas a estas perguntas, que duvido tenham resposta pronta e clara, o que pode ver quem não seja cego de todo é que estamos face a um escândalo político de todo o tamanho. É uma monstrusidade. E monstruosidade é também tentar branquear o que não tem desculpa.

Censura e diabolização

"Censure et diabolisation sont aujourd’hui les chiens de garde de l’idéologie dominante. Ceux qui les pratiquent dans les médias le font avec la même bonne conscience qu’en d’autres temps les journalistes et les doctrinaires de l’ère soviétique. Ils se donnent l’aspect décontracté mais ont un uniforme dans la tête."
(Jean-Yves Ménébrez, in POLÉMIA)

Política

No forum nacionalista.

Pensando bem...

Eu acho que têm razão todas as vozes que têm apelado à compostura.
Esta conversa das trapalhadas académicas do primeiro-ministro já cansa. E só causa instabilidade, como é óbvio. Para além de atingir desnessariamente gente de bem, que tanto se esforça em prol do país. É preciso acabar com este ruído absurdo e malevolente.
Acresce que, como qualquer pessoa pode sentir, não é aí que estão os males do país, nem esse assunto conduz a nada de construtivo. Não se compreende esta tendência de exploração do lado mais mesquinho da alma nacional, que só se mobiliza pela inveja do sucesso alheio.
Penso que os holofotes e sirenes da comunicação social deviam era centrar-se nos verdadeiros perigos que nos ameaçam.
O fascismo, por exemplo. O fascismo é que é. Não sentem a ameaça? Mais perigosa é, que se disfarça insidiosa sem que ninguém dê por ela. O fascismo é que aí está emboscado, a ensombrar-nos a vida e a roubar-nos o futuro. Uma semanazinha dedicada à ameaça fascista é que vinha mesmo a calhar. Não digam que não vinha a propósito. Querem evidência mais evidente? Desde Loures a Paris, do Marquês de Pombal à blogosfera, a hidra peçonhenta espreita, arfante e terrível.
Vamos lá! Mobilizem-se, porra! Contra o fascismo, marchar, marchar!

Filosofia

O blogue e o forum.

domingo, abril 15, 2007

O país das maravilhas

Sobre os prodígios da nossa engenharia, continuemos a ler:
Do Portugal Profundo
Braganza Mothers
Grande Loja do Queijo Limiano

sábado, abril 14, 2007

A vida humana é quase inviolável

(por João Miranda, investigador em biotecnologia)

A Constituição da República Portuguesa no seu artigo 24º diz expressamente que "a vida humana é inviolável". Trata-se de uma ideia sensata se pensarmos em questões como a pena de morte ou o infanticídio. No entanto, o artigo 24º poderá revelar-se um empecilho ao avanço da civilização no caso do aborto a pedido da mulher até às dez semanas. É que quando se diz que a vida humana é inviolável pretende-se com isso dizer precisamente que a vida humana é inviolável. Não se pretende dizer que é violável até às dez semanas.
Um feto com menos de dez semanas encontra-se inegavelmente vivo. Aliás, creio que o problema é precisamente esse. É por estar vivo que se coloca a hipótese de aborto por vontade da mulher até às dez semanas. E um feto é humano. Por incrível que possa parecer, tem um genoma idêntico ao de um ser humano adulto. É inegavelmente um Homo sapiens sapiens. Não adianta desconversar, alegando que um feto não tem as características necessárias para que possa ser considerado uma pessoa, porque a Constituição não protege apenas a vida das pessoas, protege a vida humana, mesmo as vidas humanas que não têm consciência ou não sentem dor.
Felizmente, o sr. Presidente da República teve a sensatez de não enviar a nova Lei do Aborto para o Tribunal Constitucional. Tal seria extremamente cruel para os juízes do Tribunal, os quais, para não colocar em causa a vontade popular expressa em referendo, teriam que se contorcer para mostrar que, apesar das aparências em contrário, o feto não está vivo nem é humano.
Mas se calhar não precisariam de chegar a tanto. Como se sabe, o constitucionalismo é bem mais do que uma ciência exacta. É duas ciências exactas, uma de esquerda e outra de direita. É possível encontrar pareceres, escritos por doutos constitucionalistas, irrepreensivelmente sustentados, a defender qualquer ideia, desde que vá de encontro às preferências políticas do seu autor.
Esta tarefa encontra-se facilitada, porque a nossa Constituição é a mais avançada do mundo. Nela está consagrado tudo e o seu contrário. Por isso não devemos subestimar as nuances da ciência constitucional. Um constitucionalista mais astuto pode sempre contornar a questão da vida humana do feto, alegando que a lei do aborto é a melhor forma de manter a vida humana inviolável. Contraditório? Só para mentes pouco sofisticadas. Um constitucionalista astuto argumentaria que, dado que vivemos num mundo imperfeito em que se praticam abortos todos os dias, a melhor forma de preservar a vida humana é através da institucionalização da eliminação do feto, de preferência se a prática não tiver custos para quem aborta, isto é, se for realizada em hospitais públicos e se for subsidiada pelo dinheiro dos contribuintes.

terça-feira, abril 10, 2007

Quem conhece Taki?

Com a devida vénia ao Duas Cidades, uma lembrança do fundador de http://www.takimag.com/ .
Aqui está:
“Quis agitar o mundo gelatinoso da chamada opinião ‘conservadora’. Durante uns dez anos pelo menos, o movimento conservador foi dominado por uns gorduchos – com gravatas e blasers azuis - que passaram a juventude a jogar Risco em dormitórios góticos, a beber Porto e a fumar charutos roubados aos pais. Depois da tragédia do 11 de Setembro – e graças a um Presidente complacente e não muito esperto - estes miúdos começaram a jogar Risco com soldados reais. Os patriotas morrem no Iraque numa guerra que não é do interesse da América. E agora estes artilheiros da pastilha elástica, estes falcões de aviário, querem atacar o Irão que não ameaça os EUA. Uma coisa posso eu dizer: pode haver ateus nas trincheiras no Iraque mas neo-liberais ou neo-conservadores é que lá não há. Mandaram para lá os filhos dos operários para morrerem em vez deles e se sentirem machos e compensar todas as vezes que tiveram sarampo na escola. Será nossa tarefa atacar os falcões de aviário e dar-lhes com o sarampo outra vez.”

OTA

No Miniscente o Power Point "OTA2" assinado pelo Engº. Luís Leite Pinto.

O engenheiro que antes de ser já era

Sobre o "caso exemplar" do esforçado estudante Sócrates, e o prodígio dos graus académicos antecipados.

sábado, abril 07, 2007

Encontro de blogues


2º Encontro de Blogues em Alvito
Alvitrando
Beja
Gastreat
Mar adentro

Não sejam OTÁrios!

A blogosfera mobiliza-se: contra a Ota, marchar, marchar.
Para saber mais, leiam em ALAMBI.

O sargento negro

Das vezes em que mencionei aqui a RTP Memória foi quase sempre para lastimar as suas escolhas, e a sua orientação, mas hoje compenso com uma referência mais simpática.
Na noite de ontem deu-me para ver um clássico, creio que integrado num ciclo com que se evoca John Ford (já há umas noites tinha visto outro).
Tratou-se do Sgt. Rutledge, que em Portugal circulou com o título "O Sargento Negro". Um filme velhinho, mas onde não faltam pontos de interesse. Tem o Monument Valley, presente como se fora ele mesmo um personagem da fita, a natureza imutável onde se desenrolam todos os dramas da vida do único bicho capaz de pensar em libertar-se da natureza. Tem um longo julgamento, a lembrar outros "filmes de tribunal" que escolheram esse palco privilegiado para encenar a vida. Tem como pano de fundo o racismo, e os valores, o culto dos valores, numa perspectiva que faria alguns nacionais-socialistas de que me lembro repetir enfaticamente que a raça define-se pelo espírito, a raça define-se pelo espírito...
Tem de mistura os habituais ingredientes fordianos, o humor aqui e ali a colorir o drama, uma extraordinária galeria de secundários, formidáveis grandes actores menores que povoavam um filme. Tem cinema.

Desinibidores

Quando falei do poder desinibidor da internet esqueci-me de uma comparação óbvia, esta muito mais frequentemente analisada.
É o automóvel, o volante, e as transformações fantásticas que operam nos condutores.
Toda a gente já viu como mudam os comportamentos e as atitudes de tanta gente de seu normal murcha e apagada e que por aí fora com um volante nas mãos e um acelerador à sua mercê surge de repente impante e agressiva, capaz de heroísmos inimagináveis no tempo sem fim em que se desloca apenas sobre os próprios pés, ou permanece humilde à secretária ou ao balcão.
São euforias com muito de semelhante, e quase sempre com manifestações idênticas.
Provavelmente, as máquinas mudam os homens mais do que os homens mudam as máquinas.

Imagem fugaz

A melhor das interpretações que me ocorre sobre o resultado do concurso "Grandes Portugueses" é que talvez ainda haja uns milhares dos nossos conterrâneos em quem subsiste a sensação difusa de que Salazar foi o último dos nossos governantes onde é possível vislumbrar grandeza. Mas tenho poucas ilusões em que seja assim. Nos homens contemporâneos as preocupações raramente sobem acima do estômago, e normalmente só oscilam entre essa zona e outra mais abaixo. Mais elevado do que isso, é pouco visto.
Provavelmente o que aconteceu foi que bastantes milhares tomaram como paradigma do mal absoluto o exemplo que lhes foi apontado na escola e nos jornais, e resolveram lançar mão dele para exprimir o seu desprezo pelos que hoje mandam. Só para chatear, que o gesto esgota-se nisso, não tendo outra finalidade ou dimensão.

A nova desordem mundial

"O mundo está mergulhado em nova desordem: o enfraquecimento dos EUA e a desautorização do Presidente dos EUA pela maioria democrata no Congresso, o surgimento da China, o retorno em força da Rússia e a nova arquitectura da energia no mundo, a afirmação da Índia, que dentro de 10 anos estará ao nível da China, a rebelião na América Latina, a revolução e a contra-revolução muçulmana, o regresso à ortodoxia na Igreja Católica e a paralisia da União Europeia são os sinais evidentes."
(Rui Teixeira Santos, no Semanário).

sexta-feira, abril 06, 2007

Colonização e descolonização

"Um dia, quando se fizer a história da África desaparecida, haveremos de chegar à conclusão de que, muito pior e muito mais imperdoável do que os cinco séculos de colonialismo europeu, foram estas cinco décadas de cumplicidade com o que há de pior em África."
(Miguel Sousa Tavares, "Triste África", no Expresso).

Internet

A internet actua como um poderoso desinibidor. Deve ser esse mais um dos motivos que explicam a extraordinária expansão da rede, e particularmente da blogosfera. Repare-se como tantas vezes os mais tímidos e pacatos cidadãos quando levados pela embriaguez do teclado se transformam em energúmenos vociferantes. Há uma misteriosa euforia nisto, para além do sentimento de segurança e de conforto que a distância física proporciona, o que tudo contribui para o fenómeno de desinibição que é constatável.
É frequente encontrar gente habitualmente recatada e discreta metamorfoseada em matilhas de ferozes opinadores, com posição radical sobre tudo o que sabem que ignoram. Ao vivo manter-se-iam sensatamente calados, e pelo menos faziam que escutavam, ainda que não percebessem.
E no que respeita ao relacionamento pessoal e regras de civilidade, é tudo mão na anca e chinela no pé.
Indivíduos habitualmente cordatos e, acredita-se, com algumas noções de urbanidade desatam ao mais leve impulso a insultar quem lhes aparece à frente sem a menor contenção. Acontece em relação aos que não se conhecem, tratados como não se trata o pior dos inimigos, e acontece também entre pessoas que se conhecem, e que cara a cara nunca experimentariam tal situação.
Falo por experiência: mal apareci na rede recebi de chofre umas enormidades da parte de dois ou três sujeitos (com cartaz na praça) que não sabem quem sou, nem estão interessados em saber - mas injuriaram na mesma, sem contemplação nem hesitações. E também aconteceu um exemplo dos outros, com um que até me conhecia e nunca presencialmente me fez senão vénias e salamaleques e que surgiu aí desembestado a vomitar injúrias e ameaças.
Pelo que vou observando, são estas as regras comuns.
A internet é um poderoso desinibidor. Quase uma droga: um ecstasy da infralhada.
Neste sentido, é realmente um meio novo e diferente. E teria forçosamente que ser muito popular um meio em que todos aparentam ser iguais.

Telejornal

O canudo do primeiro-ministro é um assunto sério demais para brincar. Como aliás se pode ver. Nem os Gato Fedorento ou o Herman José irão cometer a irresponsabilidade de tocar em assunto tão sério. Há humorismo oficial, como há imprensa oficial. As regras e os limites não constam de documento nenhum, mas gozam de geral aceitação. E a Universidade Independente irá ser encerrada? Não pode ser. Um estabelecimento que consegue conferir licenciaturas em engenharia civil quando ainda só tem a funcionar os dois primeiros anos do curso é uma instituição inestimável. Bem podem esforçar-se os desalinhados, aqui ou acolá, que nada sairá da linha. Como deve ser. A Universidade já se dotou de um Reitor novo, por coincidência um socialista da Caixa Geral de Depósitos. Tal como o Eng. António Morais, o homem que examinou Sócrates em quatro disciplinas técnicas e o achou brilhante. E tal como Morais e o Reitor Roberto também o Dr. Armando Vara é administrador da CGD. Notável. Antes da Independente Vara não era Dr. Tem um licenciatura em Relações Internacionais pela Independente. Também irão investigar esta licenciatura? Só mesquinhez e inveja! O Sr. Ministro da Ciência já se insurgiu contra este clima de suspeição. Tem toda a razão. Sem os socialistas, a Caixa Geral de Depósitos, a Independente, e todas as restantes instituições que se têm imposto ao respeito geral, o que seria do país?

quinta-feira, abril 05, 2007

Fascistas em Marte (parte IV)


Continua a saga da aventura espacial fascista.
As peripécias sucedem-se, como a presença surpresa de um hóspede indesejado que se junta à expedição.
E suspenso sobre os expedicionários continua o mistério capital: há ou não há vida em Marte?
Ignora-se a posição oficial dos manuais antifascistas, e o corpo interplanetário fascista ainda não alcançou a resposta.

Cortem-lhe a cabeça!

(um artigo de Luciano Amaral, no DN)

Portugal tem mesmo coisas engraçadas. Um grupo de maduros sem mais nada para fazer põe-se a telefonar para a televisão do Estado e "elege" Salazar como o "maior português" de todos os tempos. Foi quanto bastou para as nossas almas pensantes se mortificarem em reflexões espantosas sobre um sinistro salazarismo latente ou renascente. Parece que não eram só os maduros dos telefones que não tinham mais nada para fazer.
Dos múltiplos e vastos lençóis perpetrados sobraram dois excelentes artigos de Jorge Almeida Fernandes e Pedro Magalhães, ambos no jornal Público. Concentro-me no primeiro, por ter apreciado especialmente algumas considerações. Almeida Fernandes relembrou a atávica "dificuldade da esquerda em pensar o salazarismo", nunca ultrapassando o prisma da caricatura. Coisa que, como muito bem notou, "saiu-lhe cara". Recorda ele que, ao longo dos anos 60, Portugal conheceu as mais elevadas taxas de crescimento da sua História, viu os campos esvaziarem-se e o país urbanizar-se, viu nascer uma nova classe média, viu os costumes alterarem-se. E podia ter ido mais longe: também foi sob Salazar que Portugal entrou na "Europa", a Europa da Escandinávia, do Reino Unido, da Suíça e da Áustria, que se juntou na EFTA em 1960; também foi sob Salazar que o analfabetismo se reduziu drasticamente no País; também foi sob Salazar que começou a primeira expansão séria da Segurança Social (ainda com o nome de "Previdência"). Tudo coisas que podem ser feitas sem liberdade política. Dito de forma breve, foi sob o salazarismo que o País começou a "modernizar-se", no sentido que o termo adquiriu no século XX, algo que entretanto prosseguiu até hoje, agora incluindo também a tal liberdade política. Fernandes nota até como, por causa disto, a oposição se sentiu obrigada nos anos 60 a alterar o seu discurso: da crítica "antifascista" passou à crítica "anticapitalista", precisamente porque via o País aproximar-se dos índices do "centro" capitalista.
Para Fernandes, estranho é o "antifascismo" serôdio que agora deu em aparecer. E está muito bem estranhado. Na verdade, não se percebe a que "fascismo" se opõe ele. Ou talvez perceba: também as crianças têm os seus amigos e inimigos imaginários. Parece a rainha de copas de Alice no País das Maravilhas, que via adversários por todo o lado e passava o tempo a mandar cortar-lhes a cabeça.
Donde se conclui que o mais interessante não foi o resultado do concurso mas as reacções da intelligentsia nacional a ele. Esta intelligentsia mostrou que não percebeu, não quer perceber e provavelmente nunca perceberá o século XX português. De facto, o nosso século XX só poderá ser percebido se também o salazarismo for percebido de forma apropriada. O salazarismo é o momento pivot do século, que define o seu passado e o seu futuro imediatos. Prova disso é o facto de tanta gente precisar ainda hoje de definir o nosso regime relativamente a ele, nem que seja por oposição. O que, aliás, não é bom sinal. O regime deveria valer pelo que tem a oferecer de positivo e não por comparação com uma coisa que, pelos vistos, era tão notoriamente má.
A concentração da reflexão (?) na violência política do salazarismo impede muita gente de perceber que ele teve mais adesões do que se julga. A maior parte dos que estavam com ele não era por medo da pancadaria e da censura, mas por gostarem da solução. Não falo de casos raros e minoritários, do estilo do comunista Carlos Rates, que se passou para o regime. Falo sobretudo do pessoal político da I República, gente que teria de ser considerada de "esquerda" e aderiu em grande número ao salazarismo. De facto, o salazarismo dividiu esse pessoal político entre um grupo que se lhe opôs e outro que se lhe juntou (talvez a maioria). Basta pensar em alguns colaboradores de Salazar, que incluíam maçons, carbonários e constituintes de 1911, como Albino dos Reis, Manuel Rodrigues, Bissaia Barreto ou Duarte Pacheco. Porque é que isto aconteceu não se percebe com as banalidades costumeiras sobre o assunto.
Salazar não merece certamente ser considerado o "maior português", mas merece algo mais do que aquilo que apologistas e detractores andam por aí a dizer. Sobretudo, merece ser estudado e des-mitificado. Se isso já tivesse sido feito, provavelmente nem sequer ganharia o famoso reality show histórico. Como em muitas outras coisas, parece que o cidadão comum percebe melhor o que se passa do que tantas cabeças atafulhadas de livros e teorias. Quando perguntados sobre quem achavam ser o maior português, em sondagens que cumpriam os necessários requisitos técnicos, nomeadamente sem o enviesamento da amostra que existiu no concurso da televisão, os portugueses votaram nos clássicos Afonso Henriques, Camões ou D. Henrique. Mostraram ser bem mais crescidinhos do que as luminárias que querem guiar o nosso caminho.

terça-feira, abril 03, 2007

Recomenda-se vivamente

O livro do Dragão: À Queima- Roupa.
Para encomendar já, antes que esgote.

Fascistas em Marte (parte III)


Prossegue a epopeia heróica de Barbagli e seus squadristi, na submissão do planeta hostil.
Umm esforço hercúleo hoje recompensado com uma descoberta histórica: há água em Marte!
As forças antifascistas continuam sem dar sinais de vida.

domingo, abril 01, 2007

Descolonização

Fazendo a história dos últimos 50 anos, pode dizer-se que o processo de descolonização representa uma das maiores tragédias da história da humanidade.
É verdade, mas é raro alguém dizê-lo.