sábado, julho 31, 2004

Dois sonetos de JORGE LUÍS BORGES

O escritor Jorge Luís Borges é mais conhecido e admirado, universalmente, pela sua obra em prosa, sobretudo a de ficção, do que pela sua obra poética.
E também é sabido que em Portugal, país com a maior produção poética por habitante, a poesia tem, paradoxalmente, muito pouca leitura.
(É divertida a experiência, já muitas vezes repetida, de quem tenta editar um livro de poesia, ainda que do melhor e mais consagrado autor, e não consegue escoar os magros exemplares, por vezes nem dados; mas se tiver uma folha de poesia em qualquer publicação e pedir colaboradores voluntários logo na volta do correio lhe surgem poetas em barda, em incontrolável explosão de reprimidos talentos).
Apesar de, ou também por causa desse desconhecimento da poesia de Borges, e mesmo tendo em conta o pouco interesse que a poesia lida desperta no leitor português típico (o tal que tem vocação para escrever, e escreve, sem nunca ter lido) ofereço hoje dois raros poemas de Jorge Luís Borges, que, estou certo, irão ao menos por curiosidade provocar algum alvoroço de descoberta em dois ou três dos pacientes que aqui aportam.
Para mais os dois sonetos em questão são ignorados nas antologias do poeta que por aí circulam em português; e creio que também é geralmente ignorado o interesse que Borges tinha bem vivo sobre a sua ascendência lusa (ele investigou, mas descobriu pouco; localizou apenas as raízes em Torre de Moncorvo).
Ora aí vão os poemas.

OS BORGES

Bem pouco ou nada sei de meus maiores
Portugueses, os Borges: vaga gente
Que projecta em minha carne, obscuramente,
Seus hábitos, rigores e os seus temores.

Ténues como se não tivessem sido
E estranhos aos trâmites da arte,
Indecifravelmente formam parte
Do tempo e da terra e do olvido.

Antes assim. Tecida a sua teia,
São Portugal, é a famosa gente
Que forçou as muralhas do Oriente

Dando-se ao mar e ao outro mar de areia.
É o rei que um místico areal colheu,
Mais os que juram que ele não morreu.


A LUÍS DE CAMOENS

Com solene indiferença, o tempo desmantela
As heróicas espadas. Traído e sem vintém,
À nostálgica pátria-tua-mãe
Tornaste, oh capitão, tão-só p`ra morreres nela

E com ela. À flor do mágico deserto,
O valor português tombou ferido
E o áspero espanhol, sempre vencido,
Ameaça desde logo este costado aberto.

Quero eu saber se, aquém da derradeira
Fronteira, pressentiste, humildemente,
Que quanto se perdeu — o Ocidente

E o Oriente, a lança e a bandeira —
Perduraria (alheio a toda a humana
Mutação) nessa tua Eneida lusitana.



As versões acima publicadas são da responsabilidade de Rodrigo Emílio. Mas - para que saibam como este vosso amigo é um poço de boas surpresas, e gosta de mimar os escassos leitores que o aturam - informo que o segundo dos sonetos mereceu também a atenção de António de Navarro, que fez a sua própria versão. Fazei pois o exercício da comparação.

A LUÍS DE CAMÕES

Sem lástima e sem ira, o tempo vela
As heróicas espadas. Pobre e agreste,
À pátria nostálgica volveste,
Ó capitão, para morreres nela

E com ela. No mágico deserto,
A flor de Portugal se havia perdido.
E o áspero espanhol, antes vencido,
Ameaçava o seu costado aberto.

Quero saber se àquém da ribeira
Última compreendeste humildemente
Que quanto foi perdido, o Ocidente

E o Oriente, o aço e a bandeira,
Perdurará (alheio a toda a humana
Mutação) com tua Eneida lusitana.


Existem como se observa escolhas voluntariamente coincidentes, e divergências importantes noutros versos. Fica à apreciação de cada um. Esclareço que a versão de "Os Borges" feita por Rodrigo Emílio e a versão de "A Luís de Camões" devida a António de Navarro estavam prontas em Janeiro de 1977 (fizeram-nas para "A Rua"); a versão de "A Luís de Camões" da responsabilidade de Rodrigo Emílio só a conheci anos depois. Penso, sem ter a certeza, que terá nascido depois, fruto da permanente busca de perfeição que caracterizava o Rodrigo, a qual o levou a trabalhar alguns dos versos do seu amigo António de Navarro (entretanto falecido), procurando uma forma mais ao seu próprio gosto.

sexta-feira, julho 30, 2004

Os primórdios

Assinalando-se o primeiro aniversário, e como a melhor homenagem a um blogue é ler o que lá se escreve, remeti já os meus actuais leitores para a primeira semana de vida d'O Sexo dos Anjos.
E continuando no mesmo rumo recomendo-lhes agora a leitura da segunda semana de vida do mesmo famigerado blogue, este aqui em que ainda nos encontramos.
Os que gostarem podem continuar as explorações por sua conta, na coluna à direita onde está arrumado o Arquivo.
Todos, mesmo os que não gostarem, terão ganho um conhecimento mais rigoroso do blogue e do blogador. Boas navegações!
(Por mim confesso que estive a ler e fiquei agradavelmente surpreendido. Estava então notoriamente mais inspirado. Era mais novo pois claro.)

O tempo que passa

Tempus fugit... A presença de aniversários angustia-me. Sinto a radical impotência da natureza criada perante o tempo. O ser e o tempo, o ser no tempo...
O passado, que se escapa, já não é, o futuro, ainda por vir, também não é, o presente, pois que a cada momento em que o tentamos apreender já ele passou, também não é...
A perplexidade agostiniana ficou-me das "Confissões", oferta generosa que um amigo já passado fez à minha adolescência curiosa. E para reforçar a oferta somou-lhe um dia certa resposta que ainda hoje ecoa no meus ouvidos nestas ocasiões. Foi de uma vez em que nos encontrámos casualmente, e ele inquiriu prazenteiro o que andava eu a fazer. Encolhi os ombros, a sacudir o tédio, e respondi qualquer coisa sobre matar o tempo. O meu amigo sobressaltou-se e retorquiu de imediato em tom alarmado: - "Oh rapaz, não acredites nisso!... Ele é que nos há-de matar a nós!"
O dito causou-me, julgo,um sorriso amarelo, e, garanto, um arrepio na espinha. O tempo é que nos há-de matar a todos... E muitas vezes vai fazendo o trabalho devagarinho, com paciência e requinte. E nós lá vamos morrendo em silêncio, cada dia um bocadinho, sempre por dentro, onde ninguém vê. Chega um dia e descobre-se que de nós já nada resta, com surpresa dos que olhavam e viam só a carapaça ambulante que ia marcando presença entre os vivos.
E nem sei o que fica. Muitas vezes, penso eu, não fica nada. Outras talvez fique, mas isso é consolo para os que ficam, não para quem parte.
Neste ponto caminha-se para T. S. Eliot: - "O tempo presente e o tempo passado/ são ambos presentes talvez no tempo futuro/ e o tempo futuro contido no tempo passado."
Pois. Será assim. Mas eu só sinto que o tempo me foge.

Festas no Alentejo mais a Norte

quinta-feira, julho 29, 2004

O Velho da Montanha

Não tinha reparado que também O Velho da Montanha completava por estes dias um ano de vida.
Na verdade, acompanho fielmente o blogue desde há muitos meses, ainda estava ele na antiga morada, mas só o descobri quando já tinha muito caminho andado, e não logo no início.
Depois habituei-me a considerá-lo como uma das visitas obrigatórias na minha ronda blogosférica. Sobretudo pelo seu traço característico, que é o tom de confessionalidade intimista com que nos fala e nos toca, em acentos de rara sinceridade e por vezes mesmo de autoanálise perscrutante e inquiridora, o blogue foi-me mantendo preso e atento. Em várias ocasiões surgiram afinidades electivas, de gostos e recordações, de leituras e fantasias, que reforçaram a empatia. Mas o mais forte foi mesmo aquela sensação de autenticidade que ressalta do blogue e do seu autor, em que se sente um coração armado de permanente inquietação e um olhar penetrante na observação das pessoas e do mundo, a que não escapa o próprio.
Tudo visto, trata-se de um caso singular, um blogue com marca própria, que nem precisa ser registada.
Daqui lhe envio um sincero abraço de parabéns, e os votos de que continue a valorizar a blogosfera com a sua presença e a sua personalidade.
É forçoso concluir que a época dos incêndios, há um ano a esta parte, coincidiu com uma notável floração de blogues que ainda hoje se situam entre a mais elevada constelação do estrelato blogosférico. Fora o meu, claro. Modéstia oblige.

Atenção aos ex-militares

O Portal Militar abriu recentemente uma nova área dedicada integralmente aos ex-militares. Pretende-se divulgar qualquer notícia de interesse referente aos ex-militares, bem como mensagens diversas que os ex-combatentes (ou simplesmente ex-militares) queiram colocar, e ainda divulgar os encontros, reuniões e outras iniciativas que ocorram envolvendo ex-militares, e também as páginas e sítios ligadas de algum modo a essa temática.
Solicita-se a todos os leitores que na esfera da sua acção colaborem no sentido de divulgar este novo serviço, contribuindo assim para preservar os laços e a memória que unem gerações de portugueses, tantas vezes esquecidos pelo país oficial.

Destaques da semana

Nestes últimos dias tenho andado mais leitor que escrevinhador. Atento e observador, mas com escassa vontade de participar. A culpa é do desencanto, e a este não é estranho o aproximar do primeiro aniversário deste blogue. Estas efemérides têm o condão de me deprimir. Olho para mim, olho em volta, e o que vejo não é animador. Os dias que passaram há um ano atrás, na última semana de Julho, em que me iniciei na blogação, são tão parecidos com os que vivemos hoje... Tão parecidos que até dói.
Não me vou adiantar mais nas lamentações. Sinto que tenho um ano a menos, e tanto basta para me fazer andar com um humor de cão espancado.
Todavia, para demonstrar a minha persistente atenção à blogosfera resolvi dar conta do que aos meus olhos mereceu nestes dias nota de maior realce. Uma espécie de prémios tipo Professor Marcelo.
Sublinho a importância dos textos sobre Ernst Jünger publicados no Pena e Espada e da evocação de Gustavo Corção n'A Casa de Sarto. Para além desses, sublinho a visão geoestratégica de Virgílio de Carvalho, mais uma vez expressa em síntese brilhante no Lusitana Antiga Liberdade.
Finalmente, como o protocolo obriga, endereço os meus sinceros parabéns ao Nova Frente, que completou o primeiro ano de vida (somos do mesmo signo... solar). O meu desejo é que continue, com o fôlego da partida e sem as fraquezas deste que aqui assina.
Nestes quatro casos estamos perante a confirmação de blogues com voz própria, irredutíveis ao coro das banalidades e lugares comuns. A comprovar que há uma cultura e um pensamento que estão excluídos dos circuitos oficiais - e a justificar o interesse na blogosfera por parte de tanta gente que sem ser neste meio nunca poderia escrever o que escreve, nem ler o que lê.
Termino aqui esta entrada, mas não sem remeter os leitores para a primeira semana de vida deste meu blogue. Vale a pena ler os arquivos - para pensar seriamente no balanço deste ano.

quarta-feira, julho 28, 2004

Concerto dos Madredeus no Pátio de S. Miguel

Dia 30 de Julho,pelas 21h30,os Madredeus apresentam no Pátio de S. Miguel - Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, um concerto da sua última digressão, “Amor Infinito”.
Este espectáculo é patrocinado pela Fundação Eugénio de Almeida e conta com o apoio da Câmara Municipal de Évora. Está integrado na programação do Festival de Verão da cidade, que decorre nos meses de Julho e Agosto.
Compostos por Teresa Salgueiro na voz, por Pedro Ayres Magalhães e José Peixoto nas guitarras, Carlos Maria Trindade nas teclas e Fernando Júdice no baixo acústico, os Madredeus contam com 13 álbuns na sua discografia e várias digressões que os levaram em concerto por Portugal e por todos os cantos do mundo. Incontestavelmente, trata-se do grupo musical português de maior sucesso além fronteiras e que conta já com uma longevidade invulgar, de 19 anos.
Os bilhetes para o concerto estão à venda em www.ticketline.pt e na loja da Fundação Eugénio de Almeida, na Rua Vasco da Gama (se ainda houver).
Aqui fica a notícia - que acontecimentos destes por cá não os temos todos os dias.

Livros no Portal Militar


Já tinha manifestado o meu apreço pelo Portal Militar. Renovo essa manifestação de regozijo, até porque continua a ser sítio único - e concentra vastíssima e actualizada informação sobre as coisas militares, desde as revistas aos estabelecimentos de ensino, às associações de militares e ex-militares, etc. etc.
Sobretudo, queria salientar a excelência da oferta que se encontra na secção de livros, e entre estes destacar os da editora Prefácio, que realmente se distingue por um trabalho notável a todos os títulos, nomeadamente sobre a nossa história militar, com realce para a mais recente, e também os da Gradiva, estes mais centrados em questões actuais de política internacional e geoestratégia.
Embora os visitantes deste blogue sejam em geral tão paisanos como o seu autor, são gente muito dada a leituras pelo que não resisto a recomendar-lhes de novo os livros disponíveis no Portal Militar.

SOLILÓQUIO

Julgar-se tudo é vaidade,
Pedir demais é loucura.
Os homens nunca são anjos
Mas céu e barro à mistura.

Mas será pedir demais
Um pouco mais de atenção,
Um pouco mais de humildade
E um pouco de coração?

Um pouco mais de desejo
De subir a grande altura?
Os homens nunca são anjos
Mas céu e barro à mistura...

Pois que sejam mas que tenham,
Ao menos, boa vontade,
Mesmo em caminhos de lama
Que podem ir à verdade.

E sonhos deslumbradores
Nas mãos mudadas em asas
E os olhos feitos estrelas
Nos corações feitos brasas.

E ânsia de chegar ao Sol
E ofuscar a sua luz.
Se o coração não quiser
Não basta o Sinal da Cruz.

FRANCISCO VENTURA

segunda-feira, julho 26, 2004

O Congresso

O Ungido dos Senhores, em tom delicodoce e vagamente sacrista, apresentou-se primeiro:
- Como sabem todos os Camaradas, eu estou nas melhores condições para conduzir a nossa gente de novo no caminho das vitórias... Fui já recebido entre os Eleitos do Clube dos Biltresberas... Quem me apresentou foi o Capitalista Balseirão, e modéstia à parte sou uma figura de consenso.... Capaz de imprimir o rumo da modernidade e do progresso ao nosso histórico Partido, e retirá-lo desta pobre condição em que tem vegetado nestes anos derradeiros, deste que o Furão Manhoso tomou conta da chafarica, por abandono do Camarada Guto Érres...
O Herdeiro, furioso, em voz de falsete, esbracejou logo para os restantes assistentes:
- Eu não me conformo!...  Quem julga ele que é, este jovem Aristóteles? Eu estava primeiro! E a minha Loja é muito mais antiga e tradicional!... Este avental aqui, já foi de meu Pai e de meu Avô... O tipo não passa de um trolha aprendiz! E o nosso Partido não é dirigido por nenhuma mão invisível! Aqui não há disso! Nada de pranchas! Vamos já a votos!
O Poeta, de voz grave e solene, proclamou, enchendo o peito, do outro lado da sala:
- Nem que me rebente o coração! Seja quem for que ousar atentar contra a identidade do nosso glorioso Partido há-de encontrar-me pela frente! Este canto e estas armas se erguerão contra a desvirtuação da nossa memória e do nosso ser! Eu aqui estou, Camaradas!
E o Herdeiro, quase à beira da apoplexia, continuava a barafustar, gesticulando exaltado por entre os circunstantes, que também se agitavam divididos. E o Poeta, do outro lado, declamava em pose heróica e arrebatada.  Crescia a altercação, e do meio do sururu só se distinguiam, mais elevadas, a voz de falsete do Herdeiro e a voz grave e dramática do Poeta. A algazarra crescia, e ameaçava degenerar em tumulto.
O jovem Aristóteles e os seus apoiantes, todos de fatinho bem posto, entreolhavam-se assustados e meio desnorteados, sem saber bem o que fazer.
Ouviu-se então por sobre a confusão o brado do velho Jarrão A. Tantos:
- Camaradas! O que vem a ser isto? Valha-nos o Supremo Arquitecto! Haja decoro e contenção! Uma vez que as coisas estão neste pé, de ora em diante passa a ser tudo à porta fechada! Nem mais! Que eu ainda sou o Presidente... Camaradas: porta fechada, já!
E assim se fez o silêncio na Casa Socialista.

domingo, julho 25, 2004

Envia notícias da tua terra!

Este é o apelo do Portal Tudoben, que se lançou na tarefa de construir um verdadeiro portal dos alentejanos e das coisas alentejanas.
Ambição desmedida, como dirá logo quem conheça esta entranhada maneira de ser dos alentejanos, que os faz sofrer calados, falar sozinhos, morrer silenciosa e discretamente como quem se afasta para não incomodar ninguém.
Raça solidária, e todavia solitária; fundo mistério é o nosso, que cerramos os lábios quando nos apetece gritar, e cantamos quando nos dói a vontade de chorar.
A regra foi sempre a conformada resignação, a indiferença fatalista, condenando à solidão desesperada quem erga a voz esperando o consolo de um eco.
Mas ainda que seja inútil ou vão, aqui deixo o apelo: em todos os cantos da terra imensa pode haver alguém que sinta o gosto de partilhar e comunicar e entrar numa cadeia que alimente um Portal que fale de nós.
Quem tenha algo para dizer ou comentar, informação a passar, notícias a dar, sugestões a fazer, escreva neste formulário, que já foi feito para isso.

sábado, julho 24, 2004

Venha de lá o Terreiro do Paço em peso!

 Afinal não fui só eu que fiquei desvanecido pela benesse concedida pelo nosso amado Primeiro à cidade de Sertório, de Giraldo e do Manoelinho.
O líder da distrital de Évora do PSD ficou muito mais afectado. Em declarações à Lusa, o Ilustre clínico congratulou-se hoje com a instalação da Secretaria de Estado dos Bens Culturais na cidade, manifestando a esperança que, mais tarde, seja transferido o Ministério da Cultura para Évora.  "Espero que esta medida venha a ser complementada, dentro de algum tempo, com a transferência do Ministério da Cultura para a cidade, logo que estejam reunidas as condições para isso", afirmou António Sousa em declarações à Agência Lusa. Nem mais!
Pensava eu que o Dr. Sousa andasse angustiado com o prometido Hospital, que esse sim faz-nos muita falta e ninguém o vê; mas não, o Dr. Sousa anda eufórico com a anunciada Secretaria de Estado.
Suspeito que ainda vai ser este Governo a fazer a sonhada ponte em São Miguel de Machede. Venha ela, que nós depois arranjamos o rio.

Évora honrada com uma Secretaria de Estado

Segundo anuncia o Governo do Dr. Pedro Lopes (hoje, amanhã não sabemos)  será instalada em Évora a Secretaria de Estado dos Bens Culturais, de que é Secretário de Estado o Dr. José Amaral Lopes.
Por mim, que não sei quem é este Dr. Lopes (nem sequer se é primo do primeiro), confesso que preferia a opção pela outra Secretaria de Estado do mesmo Ministério da Cultura. Com efeito, uma Secretaria de Estado das Artes e Espectáculos garantia logo outra projecção. E a senhora que tomou posse como Secretária de Estado, a Dra. Teresa Caeiro, é indiscutivelmente mais agradável à vista do que o Dr. Lopes. Para além de ser pessoa de múltiplos talentos e habilitações,  como se viu do episódio em que passou da Defesa Nacional, para onde estava superiormente apta, para a área da Cultura, onde não o está menos.
Acresce que a senhora traria logo atrás de si (dela, pois claro) um afluxo extraordinário de publicidade gratuita, visto que as revistas do coração não a largam. Haveria até a possibilidade, uma vez que, segundo as revistas, ela é a actual namorada de um tal Piet-Hein, que é empresário de uma produtora de telenovelas, de vir a arranjar-se uma nova telenovela com cenário eborense, agora que está a acabar a "Queridas Feras" (já recebi o convite para o jantar de encerramento!).
Enfim, não querendo parecer mal agradecido (obrigado, Pedro!) eu sugeria que quem puder meta uma cunha para a troca: damos o Dr. José Lopes pela Dra. Teresa Caeiro. Julgo que ninguém ficaria prejudicado.
Já agora, confesso que ainda não percebi o que significa essa instalação da Secretaria de Estado em Évora. São os serviços centrais dessa secretaria de estado que passam todos para Évora? É só o Gabinete do Secretário de Estado? E onde se instalam, fisicamente? Previu o Dr. Lopes, primeiro, a construção de um edifício de raiz? Ou a adaptação de algum grande edifício histórico da cidade, para acentuar a força simbólica dessa descentralização (estou a pensar no Quartel-General, por exemplo)? Ou bastará uma secretária, um telefone e um fax nalgum dos edifícios dependentes do Ministério da Cultura? Ou talvez até, se a coisa for de curta duração, uma suite nalgum dos hotéis da cidade...
Eu, se me fosse permitido decidir, escolhia algo mais fácil, mais prático e mais barato: para o alcance prático que a medida vai ter, um apartado nos correios chegava concerteza.

sexta-feira, julho 23, 2004

Toponímia Eborense

Já está nas livrarias o primeiro volume do livro "Da Toponímia de Évora - Dos meados do séc. XII a finais do séc. XIV", da autoria de Afonso de Carvalho.
A obra é editada pelas Edições Colibri, e tem os patrocínios da Delegação Regional da Cultura do Alentejo, da Câmara Municipal de Évora e da Fundação Eugénio de Almeida.
Resta dizer que se trata de um trabalho excepcional, fruto do labor de muitos anos, que vem colocar definitivamente Afonso de Carvalho na linha dos grandes vultos que a Évora e aos estudos eborenses dedicaram grande parte das suas vidas.
Desde o falecimento deTúlio Espanca que não tínhamos ninguém a continuar o caminho de André de Resende, de Duarte Nunes, de Manuel Fialho, de Gabriel Pereira, de António Francisco Barata e de tantos outros (com ressalva para investigações notáveis de Joaquim Palminha Silva, que estou em crer ainda produzirá a obra de fundo que o seu saber e a sua dedicação à urbe anunciam).
A cidade deve estar grata a Afonso de Carvalho. E sobretudo interessar-se pelo livro - quantos têm gosto pelos temas históricos ficarão surpreendidos e fascinados: puxando pela toponímia vem tudo....
No dia 27 de Julho próximo haverá uma sessão de apresentação no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
Entretanto, aqui "O Sexo dos Anjos", em seu nome e dos mais dois ou três eborenses que o lêem, endereça as mais vivas felicitações ao Dr. Afonso de Carvalho - que continue a ter uma frutuosa reforma!
E já agora fica o recado quanto ao que falta: é preciso que não demore tanto tempo como o primeiro volume.
E não resisto ainda a outro apontamento, visto que se fala de edições e  nestas alturas é ocasião de interpelar quem de direito: o jornalista José Frota tem pronta a sua obra, de capital importância,  sobre a história da imprensa eborense. Para quando  a respectiva edição?

quinta-feira, julho 22, 2004

Avestruzes Líricos

No dia 17 de Janeiro de 1950, embora com data de 15, surgiram nas livrarias lisboetas e nas mesas da Brasileira do Chiado as folhas de poesia "Távola Redonda",  tendo como directores António Manuel Couto Viana, David Mourão-Ferreira e Luís de Macedo.
Tinha sido encarado o nome "Arame Farpado", proposto por Mourão-Ferreira,  a pensar no aviso de Afonso Lopes Vieira ("Há pessoas que entram na poesia como rinocerontes num jardim")  mas acabou por ficar "Távola Redonda", por sugestão de Couto Viana, mais medievalista - e para significar a ideia de fraternidade à mesa da poesia que a revista se propunha trazer.
A originalidade do formato e do papel, a beleza das ilustrações, da autoria de António Vaz Pereira, chamavam à leitura de uma poesia nova naquela hora, onde se fundiam os moldes tradicionais e a modernidade estética, e provocatoriamente se proclamava a ausência de propósitos sociais - num universo pesadamente dominado pelos ditames neo-realistas.
A "Távola Redonda", onde foram figuras marcantes os próprios Couto Viana e Mourão-Ferreira, mas também tiveram presença fundamental, nomeadamente, Sebastião da Gama e Luís Amaro, veio a reunir poesia de mais um sem número de autores, como Fernanda Botelho,  Goulart Nogueira, Fernando de Paços, Maria Manuela Couto Viana,  Maria Judite de Carvalho, Cristovam Pavia, Sophia de Mello Breyner, e muitos outros.
Marco importante na história da literatura portuguesa, a revista "Távola Redonda" representou uma verdadeira revolução lírica, que modificou o panorama poético português - que nunca mais seria o mesmo após esse fecundo e fecundante período de 1950-1954.
Por razões que temos de chamar de extra-literárias, tem a revista sido sempre esquecida ou minimizada pelos supostos donos da cultura portuguesa. Não o faremos nós, que aqui a lembramos e exaltamos.

A coisa está séria!

Ainda há pouco, há poucochinho, era consenso generalizado que as eleições no Partido Socialista iam servir para pouco mais do que uma consagração  do jovem Sócrates, e eis que entra pela janela a História que julgavam ter feito sair pela porta...
Com a sua voz profunda veio de lá o Manuel Alegre protestar pela identidade do partido, ao que se entende contra as desvirtuações em marcha.
E ao Alegre identitário juntou-se agora a revolta soarista.  Soares filho, tendo ao lado Soares pai para que não houvesse lugar a dúvidas, proclamou também a sua candidatura à chefia do partido afirmando que entra na corrida à liderança por temer que o partido seja descaracterizado como uma força política socialista e "dominado por uma mão invisível".
Esta da "mão invisível" dá bem nota do ponto a que tudo aquilo já chegou - a refrega vai ser de criar bicho...
Como os leitores entenderam, isto da "mão invisível" não é remoque aos nossos liberais, como a expressão poderia fazer supôr; é mesmo para dentro do partido, e para dentro de outros areópagos mais discretos, em desafio directo e público, de modo nada habitual.
Temos guerras de aventais, não tenham dúvidas. Não há loja que goste de ver a concorrência a fazer-lhe o ninho atrás da orelha. 

quarta-feira, julho 21, 2004

Jogos de fortuna e azar

As peripécias do processo judicial conhecido como da Casa Pia já deram muito que falar, e, como era previsível, parecem longe de estar esgotadas.
A decisão instrutória de Ana Teixeira da Silva tinha provocado perplexidade e desconforto em muitos meios, sobretudo pela constatação daquilo que o Ministério Público chamou no recurso logo interposto de "contradição insanável da fundamentação". Saltava à vista um duplo critério, em que a dado passo se afirmava para justificar a pronúncia de uns que eles não tinham logrado demonstrar a impossibilidade de ter praticado os factos (exigência diabólica!)  e para fundamentar a não pronúncia de outros(s) que as provas da acusação não eram minimamente credíveis. E a confirmar o que isto indicia (que as premissas da fundamentação constituem tão só um raciocínio justificatório de decisão que existia antes, em vez de delas resultar segundo as regras do silogismo judiciário)  encontrou-se até o caso de a mesma prova ser tida por boa e credível para basear a pronúncia de um, dos tais que teriam que demonstrar a "impossibilidade" da prática dos factos para conseguir a não pronúncia, e logo a seguir ser considerada irrelevante e inverosímil na identificação de outro (que pelos vistos só poderia ser pronunciado se fosse já demonstrada a sua culpa de forma plena e cabal, para além de qualquer dúvida possível).
Em relação a este despacho, na parte em que não pronunciou, foi então apresentado o competente recurso, que subiu entretanto ao Tribunal da Relação de Lisboa.
E apareceu agora a notícia terrível e perturbante: chegado à Relação o processo passou pelo trâmite subsequente, que é a distribuição (para ver a quem calhava). Esse processo, segundo as fontes, é agora da responsabilidade de um programa informático de sorteio; isto é, já não se usa o velho método das bolas numeradas e sorteio manual, agora tudo o que houver é da culpa do programa informático.
E que deu o sorteio? Segundo a imprensa divulgou, o processo foi atribuído a Carlos Almeida, precisamente o Juiz Desembargador que há uns tempos tinha decidido a libertação do deputado Paulo Pedroso, em acórdão justamente comentado pela desenvoltura com que apreciava toda a prova disponível para se pronunciar no sentido de a desvalorizar - quase emitindo expressamente parecer a favor da não acusação ao dito arguido (nessa altura ainda não estava acusado).
Desta celebridade já não se livra Carlos Almeida - menos conhecidos são os seus laços com os actuais inquilinos do Palácio de Belém, laços esses que decerto não têm relação alguma com as opiniões expressas no acórdão que o notabilizou.
Mas o caso ainda é mais digno de registo: com Carlos Almeida, na mesma secção, uma vez que os recursos são decididos em colectivo, estão Rodrigues Simão e Horácio Lucas. Por coincidência, estes Juízes Desembargadores também se notabilizaram um deles por assinar o acórdão que libertou o Embaixador Jorge Ritto da prisão preventiva e o outro por também assinar o tal acórdão que libertou Paulo Pedroso e avançou no caminho da desvalorização de toda e qualquer prova contra ele (caminho que posteriormente seria tomado decididamente por Ana de Barros Queiroz Teixeira da Silva, o que talvez não seja surpreendente para quem saiba).
Quer dizer: o maroto do programa informático  sorteou o processo e foi  logo colocá-lo nas mãos dos únicos três juízes, de entre os quarenta e tantos possíveis, que já tinham uma opinião formada e conhecida sobre o essencial das questões submetidas a recurso.
Dado o sentido dessa opinião, não é de estranhar que logo tenham surgido vozes a insinuar que o tal programa informático se assemelha às máquinas de certos casinos, em que o prémio grande sai sempre aos mesmos.
Aguardam-se agora ansiosamente os desenvolvimentos da novela. De acordo com o Código de Processo Penal, a circunstância de estes juízes já se terem pronunciado anteriormente sobre questões intimamente conexas, e inseparáveis, daquelas que neste momento lhes são submetidas, não constitui causa de impedimento, que lhes proíba a intervenção no processo.  Porém, se considerarem que essa circunstância constitui "motivo, sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade" (art. 43º do CPP), podem os mesmos pedir a respectiva escusa...
A mim parece-me que existe fundamento sério para que a opinião pública duvide da imparcialidade referida. E para os juízes, como para a mulher de César,  não basta ser -  é preciso também parecer.
Veremos portanto se os sorteados pedem escusa de modo a salvar o que resta da credibilidade e da dignidade do processo. E ao mesmo tempo salvar também a honra perdida do programa informático que sorteia a distribuição. Veremos.
Outra possibilidade será que um dos sujeitos processuais (o MP....)  venha a suscitar o incidente processual de recusa dos mesmos juízes, com a fundamentação juridica que eles podem utilizar para a escusa...
E existe ainda a hipótese de a decisão do recurso ser tomada durante as férias dos mesmos juízes...  nesse caso pelos juízes de turno no Tribunal da Relação de Lisboa na data respectiva. O que seria uma boa forma de não haver nem escusas, nem recusas, nem decisões comprometedoras de pessoas comprometidas.  Embora evidentemente também não fosse solução que evitasse futuros comentários, controvérsias e falatórios - nessa altura por motivos diferentes. Mas disso já ninguém se livra.
Aguardamos  com viva curiosidade e expectativa.

terça-feira, julho 20, 2004

CARTA DO CANADÁ, de Fernanda Leitão

Recebemos de novo correspondência de além do mar, gentilmente remetida de Toronto pela jornalista Fernanda Leitão.  Aqui fica para os leitores d'"O Sexo dos Anjos".

"O PROFESSOR DE MORAL 
  
Quando frequentei o Colégio de Nun´Álvares, em Tomar, que por inteiro cabe na sigla CNA a rimar com o grito de guerra do F – R – A, FRA, com que sucessivas gerações atiraram capas negras ao ar em momentos de exaltado júbilo, quando por ali desfiei a adolescência e parte da juventude, há tantos anos, o respeito era uma norma de vida que nos era transmitida em casa desde a primeira dentição. Respeitávamos as convenções, os preceitos, os símbolos, as tradições, os professores, os mais velhos em geral. Verdade seja que eles se davam ao respeito, não se vulgarizavam num nacional-porreirismo que, segundo tudo indica, não deu bons frutos à Nação. Talvez por isso mesmo a minha geração amou o que respeitou e, salvo casos pontuais comprovativos de que não há grande geração sem santo ou ladrão, soube dar a cara pelos princípios em que foi criada. Nem todos os que deram a cara tiveram a pouca sorte de o fazer em palco, com as gambiarras todas em cima, mas todos, mesmo no maior silêncio e modéstia, foram de antes quebrar que torcer. Por isso é que Portugal ainda não foi de vez ao fundo, como afincadamente alguns têm diligenciado. 
Nesse tempo feliz tínhamos tudo sem ter dinheiro nem droga nem boîtes: família, segurança, alegria de viver, esperança no futuro, amizades tecidas desde tenra idade (que haviam de durar pela vida fora). Tínhamos professores que eram pessoas de bem e por isso ganhavam o seu pão honradamente, mesmo quando eram muito chatos ou tinham mau feitio. E uma cidade linda que nos serviu de moldura e de sonho. 
Também tínhamos professores de Moral e de Religião. Lembro-me perfeitamente de três desses professores: o Cónego Adelino Gonçalves, missionário em Angola, velhinho e venerando, que nos contava a Bíblia com muita paciência (ah, a paciência que era precisa para uma turma de raparigas uma mais atravessada do que a outra). O padre Jerónimo, jovial capelão da Força Aérea, cozinheiro de mão cheia, desempoeirado e moderno, a quem muitos anos depois fui dar um abraço a Newark, nos Estados Unidos (e de caminho, bons tomarenses, tomámos um pequeno almoço copioso e gostoso, a que nem faltou o mimo de um naco de queijo da Serra a que o meu antigo professor renunciou em meu favor, prova grande de amizade, prova de arromba porque ele era guloso). E por fim, o padre João Ferreira, que depois de ser pároco em Tomar foi assistente nacional dos Escuteiros e capelão nacional da Força Aérea, onde atingiu o posto de coronel em missões várias em África. Era um homem cheio de vitalidade, de alegria, todo cheio de ideias avançadas quanto à educação dos jovens, muito culto, muito lido, muito viajado. Nós revíamo-nos nele e morríamos por ele.  Tanto que, na primeira grande confraternização de antigos alunos do CNA, que teve lugar em Lisboa em 1977 ou 78, já não me lembro bem, o fomos chamar para celebrar missa em S. João de Deus, em Lisboa. Como estava feliz o nosso antigo professor de Moral e Religião! 
Mas em 1975, em pleno Verão Quente, o padre João Ferreira entrou-me pela redacção do Templário dentro, a pedir desculpa de me interromper o trabalho louco que eu então tinha para me contar uma historieta: “Sabes, dizia ele com os olhos muito fitos nos meus, no tempo da Guerra Civil de Espanha um homem foi confessar-se a um colega meu e perguntou se era pecado dar porrada nos comunistas. E o meu colega respondeu-lhe: despues, solamente despues”. Chegado aqui estacou em silêncio, sem despregar os olhos de mim, e súbito atirou a pergunta: “Tu percebeste, oh cachopa?”.  Respondi com toda a serenidade e lisura: “Percebi sim, senhor padre. Despues, se Deus quiser, ainda hei-de ter tempo de pedir perdão por alguma porrada injusta ou mal dada”. Deu-me um grande abraço e, homem de aviões, voou para a vida dele. 
Viríamos a encontrar-nos várias vezes, nos anos seguintes, em jantares muito conversados em casa do general António da Silva Cardoso, tomarense também ele, antigo aluno do CNA também ele, a quem coube a amargura de ser Alto Comissário em Angola, em 1975, completamente driblado por Rosa Coutinho, o “almirante vermelho”,  e outros dessa pandilha traidora. Jantares onde, posso dizê-lo agora, se juntavam finos e honrados oficiais dos três ramos das Forças Armadas. 
Já eu estava no exílio quando um dia me apareceu em Toronto o já Cónego João Ferreira, convidado que foi por um seu subordinado na Força Aérea, o hoje Monsenhor Eduardo Resendes, um dos meus bons amigos longe da Pátria que deixa nestas terras duas igrejas mandadas constuír para serviço de portugueses, a de São Salvador do Mundo e a de Cristo Rei, ambas em Mississauga. Quis passar todo um dia comigo e conversámos os farrapos da manta. Muito preocupado estava o meu velho professor com dois casos escandalosos de padres tresnoitados que tínhamos por cá, dois infelizes sem remissão. 
Por um jornal de Tomar recebo a notícia a morte de Monsenhor João Ferreira. Acabou os seus dias velhinho. Sinto-me triste por já não o encontrar quando for a Portugal, mas a emigração é isto mesmo: quando voltamos, há casas vazias e sepulturas cheias. Mas sinto a certeza reconfortante de saber que o meu velho professor de Moral e de Religião está à direita de Deus, à espera dos rapazes e das raparigas que ele ajudou a crescer na Fé.

Fernanda Leitão

segunda-feira, julho 19, 2004

OS NÃO-NOBEL

Resolvi oferecer aos leitores mais um artigo de Vintila Horia, este motivado pela notícia da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a um misterioso grego de que nunca se ouvira falar, e que continua hoje tão obscuro e ignoto como na época em que o artigo foi escrito.
Era mais uma demonstração do que Jorge Luís Borges dizia ser a opção da Academia Sueca, a de descobrir talentos desconhecidos.
Como se constata no artigo, Vintila Horia sugeria a atribuição do Prémio aos três escritores então vivos que se lhe apresentavam como os mais merecedores da distinção. Não teve sorte nenhuma na sugestão, porque qualquer dos três veio a desaparecer de entre os vivos sem que a veneranda academia se lembrasse deles.
E a tendência persistiu e agravou-se, continuando a ser premiados por sistema autores em que não é possível descortinar qualquer razão (de ordem literária) para a distinção. Vintila Horia, morreu entretanto - já não conheceu o saramago...
 
 
Os não-Nobel da Literatura: Jünger, Borges, Greene

Permito‑me sugerir à Real Academia Sueca estes três no­mes ‑ os nomes de Jünger, de Borges e de Greene ‑ permito­‑me tirá‑los do olvido em que os deixou a ilustre academia no momento em que ela, mais uma vez, outorga o mais impor­tante prémio literário do Mun­do a escritores desprovidos de qualquer importância.
Com efeito, quem é o cha­mado Poliester, ou Pompílio, ou Pomposideo, que acaba de ser coroado como o melhor en­tre os melhores? Que é que ele escreveu? Dizem os jornais que alguns versinhos de poesia surrealista, da que devia escrever há quarenta ou cinquenta anos, e que exerce em Atenas o mis­ter de industrial e que tem ideias da esquerda. São estes os únicos dados concretos sobre um homem de cuja obra literá­ria ninguém sabe nada.
O simples facto de ser da es­querda (comunista, imagino eu) na vida política e surrealis­ta na vida poética, dá‑nos conta da mediocridade da persona­gem. Se isto é assim, se a im­prensa não meteu uma vez mais o pé na argola ‑ mas eu utilizo os únicos dados que tenho so­bre essa ilustre personagem ‑ a própria circunstância de querer ser ao mesmo tempo surrealista e comunista implica uma con­tradição absoluta. Porque um poeta surrealista não pode ser comunista, já que vive princí­pios fora de qualquer tipo de realismo. Colocou‑se à margem do real, do real como o consi­deram os falsos realistas do ma­terialismo dialéctico. Teria que pôr nos seus livros o realismo socialista, que é a única doutrina consentida a marxistas. Mas ser comunista, ou socialista ‑ quer dizer, ter a marca do mar­xismo ‑ e ao mesmo tempo ser um surrealista mostra bem a es­pécie a que pertence o galar­doado.
Além disso, a que classe de capitalismo industrial poderá pertencer um “homem da esquerda”? Será que, na melhor ­das hipóteses, ganha muitos dólares para os distribuir pelos pobres, depois de os chamar para junto de si e de lhes ler uma poesia surrealista?
Ora a Real Academia da Suécia vive a brincar com a lite­ratura, proclamando vencedo­res anualmente nestes jogos olímpicos do espírito uns po­bres vencidos, e esquecendo al­guns escritores de real actualidade, não só por os seus livros se venderem mais do que os de Pompossideo como também por se encontrarem do lado em que se defende o que periga de essencial no ser humano.
Não me refiro a novelistas que fazem parte das minhas preferências pessoais, mas sim a homens que estão fundamente ancorados nas preocupações deste século e presentes no drama do homem. Ernst Jünger é o maior prosador europeu vivo. As sua novelas, como “Helio­polis” ou “As Abelhas de Cris­tal”, traduzidas em muitas lín­guas, contribuíram para formar um tipo de homem voltado pa­ra o imperecível, até à defesa desesperada da Eternidade. Nos seus ensaios, tão famosos e tão lidos como as suas novelas ‑ refiro‑me a “0 Rebelde”, “0 Trabalhador”, “0 Muro do Tempo” e a muitos mais ‑ Jünger colocou o problema da técnica como instrumento da planetarização do Ocidente e teve directa influência sobre Heidegger. É um dos espíritos mais cultos, mais inteligentes e mais literários da actualidade, este homem que soube inserir o escritor na imagem integral do homem e do mundo. Os seus “Diários” dão‑nos conta das suas preocupações científicas. É através de um homem assim e de uma literatura capaz de o abarcar por completo que te­mos possibilidade de compreender os nossos terríveis problemas e talvez de os resolver. Todavia, Jünger não inte­ressa aos académicos de Esto­colmo. Tê‑lo‑ão lido? Terão ouvido falar dele? Duvido ‑ porque o facto de terem dado o seu prémio a um gato surrea­lista, lido por quatro gatas e de todo em todo ausente da litera­tura contemporânea, parece‑me revelador de uma profunda ig­norância.
Quanto a Borges, para quê citá‑lo aqui? Já toda a gente se inteirou do que propõem os seus contos. É, porventura, o mais hábil contista de todos os tempos ‑ direi mesmo mais há­bil do que Bocaccio ou Guy de Maupassant. 0 seu “Evangelho segundo Marcos” é talvez a obra‑prima do género, tal como “Aleph”. Dizem‑no da Direita, como Jünger. Mas que significa hoje ser da Direita? Não está ele mais próximo dos ideais ‑ pelo menos dos ideais aparentes ‑ da Real Academia Sueca do que a carga anti‑humana patente nos livros dos materialistas dialécticos amantes da uto­pia gulaguista? Ou será que em Estocolmo se está mais próximo do ideal leninista‑gulaguista do que do ideal humano? Não sei como responder a tal per­gunta, que é, de resto, a expres­são de uma terrível dúvida.
Graham Greene ‑ autor de “O Poder e a Glória”, a história antitotalitária mais tremenda deste século rico em tremendis­mo totalitário e em histórias que o  desmascaram, de “O Nosso Agente em Havana” e dezenas de outros livros ‑ con­seguiu pôr em relevo a miséria da alma humana em todas as latitudes e a grandeza do homem até no próprio fundo des­sa mesma miséria, como naque­le padre de “O Poder e a Gló­ria”, mulherengo e bêbedo, que no final do livro escolhe o mar­tírio, só porque alguém ‑ tal­vez ninguém ‑ o esperava do outro lado da fronteira para se confessar. É um livro belo e inesquecível ‑ o inesquecível, nos livros como nas mulheres, representa a marca indelével da qualidade ‑ e uma das coroas de ouro do século XX. Mas Graham Greene é católico...
Cada um dos três grandes acima citados têm, portanto, um “defeitozinho” característi­co e, por isso, nenhum está na linha dos Pomposideos que os afastam, ano após ano, da con­cessão do Nobel ‑ prémio esse destinado a galardoar obras cu­jo fim evidente seja o de nos ajudar a compreender, a viver e a apoiar valores que estão a desfazer‑se pelo seu choque com o que é inumano.
Em que medida se mantém hoje fiel à missão para que foi instituído um prémio tão alto e tão cobiçado e que, pelo nome e pela insignificância daqueles que distingue, está a ser reduzido ao contrário do que deveria ser? Que diria Alfredo Nobel face à espécie de literatura que tem sido premiada ultimamen­te?
De resto, trata‑se de um pré­mio apolítico ‑ mas o que é premiado pelos académicos de Estocolmo são méritos políti­cos, repelindo escritores muito mais conhecidos, repelindo‑os por defeitos políticos, que exis­tem segundo o critério dos aca­démicos mas não segundo o critério dos leitores.
Eu já sabia que neste mundo não há justiça, nem sequer jus­tiça literária. Mas a tal ponto, meu Deus, a tal ponto...
VINTILA HORIA


Recordando Henrique Barrilaro Ruas

A Hemeroteca de Lisboa organizou uma exposição bibliográfica e documental e um ciclo de conferências ácerca de Henrique Barrilaro Ruas.
A Exposição está em exibição até 27 de Agosto (das 13 às 19 h., de 2.ª a 6.ª feira)  na Sala da Música da própria Hemeroteca Municipal,  na Rua de São Pedro de Alcântara, n.º 3, em Lisboa.
Quanto aos colóquios/conferências  já se realizaram dois, um a 14 de Julho, com a presença de Teresa Martins de Carvalho e Manuel Vieira da Cruz, e o segundo no dia 17 de Julho, com a presença de Margarida Simões e José Manuel Quintas.
Vão realizar-se ainda mais dois, para os quais chamo a atenção dos leitores:
No dia 21 de Julho, quarta-feira, às 19 horas, com o tema "Henrique Barrilaro Ruas, O Ensaísta e o Académico", por João Bigotte Chorão e J. Pinharanda Gomes.
No dia 24 de Julho, sábado, às 18 horas, sob o tema "Henrique Barrilaro Ruas, O Político", por Gonçalo Ribeiro Telles, Paulo Teixeira Pinto e Alexandre Franco de Sá.
O local é sempre o mesmo, na Hemeroteca Municipal, Rua de São Pedro de Alcântara, n.º 3, em Lisboa.

Evocação de Panait Istrati

Como tinha prometido, cá está o artigo que Vintila Horia, o autor da “Introdução à Literatura do Século XX”, e farol seguro nessas matérias, escreveu sobre o seu conterrâneo Panait Istrati, há quase 25 anos. 
Pelo caminho acaba também por mencionar os casos literários do norueguês Knut Hamsun  e de John dos Passos, o mais açoreano dos grandes escritores americanos, que Vintila tinha em grande conta, como é patente na citada “Introdução”.
Lembro com saudade o próprio Vintila, que esteve entre nós na época quente do pós-revolução e, mesmo em Madrid, onde vivia, nunca regateou a sua atenção, auxílio e colaboração a quem o procurava. 
 

A DUPLA MORTE DE PANAIT ISTRATI


Num dia de Janeiro de 1921, num jardim público de Nice, um fotógrafo ambulante golpeou a garganta, perante o público que se passeava ao sol medi­terrâneo. Salvou‑se, depois de dura e demorada luta com a morte, mas os médicos tiraram­‑no do hospital antes de se restabelecer, por uma enfer­meira haver encontrado num bolso do seu casaco uma carta dirigida ao jornal comunista “L'Humanité”, saudando a re­volução como o nascimento de um mundo novo e de uma nova esperança. O vagabundo voltou às suas deambulações, mas agora com uma nova razão para viver: tinha recebido uma carta do escritor Romain Rolland, que o incitava a aban­donar o género epistolar para se dedicar a escrever livros. E Panait Istrati, protegido e ajudado agora por um compatrio­ta de Paris, o sapateiro lonescu, escreve “Kira Kiralina”, a histó­ria de uma prostituta que, ao entregar‑se aos homens, cum­pre dessa forma o seu dever para com Deus.
O livro publicou‑se em 1924 e foi um dos maiores êxitos do século. O vagabundo e autodi­dacta Panait Istrati, nascido no porto romeno de Braila, em 1884, tornou‑se célebre e rico de um dia para o outro. Fartos da literatura falsa e rebuscada dos anos vinte, os leitores admiraram no novo escritor o poder da sua inspiração e o colorido do seu mundo danu­biano, semi‑oriental, povoado de estranhas personagens, pecadores e santos ao mesmo tempo, movidos por paixões às vezes primitivas e às vezes sublimes.
Três anos depois (entretanto havia publicado “O Tio Ângelo” e “A Vida de Adriano Zograti”) Istrati é convidado a visitar Moscovo, onde conhecerá a grande desilusão. Em primeiro lugar ‑ conforme o conta Nikos Kazantsakis no seu livro de memórias intitulado “Do Monte Sinai à Ilha de Vénus” (Paris, 1958 ) -  por encontrar no ídolo da sua juventude, Máximo Gorki, uma espécie de funcio­nário do novo estado soviético, frio e indiferente; em segundo lugar, por encontrar uma Rússia em nada parecida à dos seus sonhos e ilusões. Percor­reu‑a de uma ponta a outra e, de regresso a Paris, escreveu “A Rússia a Nu” (1929). que foi outro êxito e o começo de no­vos sofrimentos. Caiu‑lhe em cima toda a Imprensa de esquerda, os seus amigos aban­donaram‑no, a perseguição contra ele tomou formas inaudi­tas de crueldade e de cobardia. Era a época da íntima e gozosa colaboração entre os grandes intelectuais europeus e o co­munismo. Louis Aragon podia ser então, ao mesmo tempo, surrealista e admirador do rea­lismo socialista, homem livre e membro do partido. Ninguém queria saber dos campos de concentração, dos assassínios em massa, da fome ou das façanhas quotidianas da poli­cia política. Panait Istrait foi um dos primeiros escritores capa­zes de dizer a verdade sobre o monstro que acabava de nascer, semelhante ao engendrado pela doutor Frankenstein, mas que os ocidentais confun­diam com Apolo e Adonis.
Doente de tuberculose, abandonado, pobre, autor já de muitos livros, Istrati decidiu vol­tar ao seu país. Regressa pois à Roménia, onde dedicará os seus últimos anos de vida a colaborar num semanário da extrema‑direita. Em 1935 morre num hospital de Bucareste, rodeado de jovens amigos e colaboradores que o acompa­nharam ao cemitério, homem puro, que se havia enganado muito, mas que também havia amado muito, semelhante às suas personagens e, sobretudo, àquele “Adriano Zograti”, que é o seu “alter ego”.
A sua vida e a sua obra não deixam de ser modelares neste momento, quando o desengano começa a corroer a boa consciência dos intelectuais ociden­tais, testemunhas oculares do processo comunista e da sua evolução, mas cegos, todavia, até hoje, perante aquela tremenda injustiça. lstrati deu‑se conta dela logo no seu primeiro en­contro com a Rússia. Não possuía muita cultura, e, tal como o seu contemporâneo Knut Hamsun ‑ ex‑comunista arrependido, transformado em inimigo visceral do sistema soviético igualmente depois da sua primeira visita à Rússia ‑também o autor de “Kira Kyra­lina” nunca soube mentir.
Defensor do homem numa época em que se fala dos direi­tos humanos, mas já ninguém os sabe defender a não ser na tribuna dos congressos e nas reuniões de juristas, enquanto os governos os ignoram na maior parte da geografia uni­versal, Istrati descobriu aos seus leitores o mundo do homem vencido, humilhado e agredido pelos poderosos, do homem fiei à sua humanidade.
As suas personagens são gente humilde, enferma de pai­xões, mas disposta sempre a estender a mão e a compreen­der. A sua poesia em prosa é, por vezes, comovedora. A cena de “Os Cardos de Baragan” (Novelas e Contos‑ Madrid, 1973) quando o menino foge de casa e corre ao longo da planura do Baragan, juntamente com os cardos que o vento leva, é de uma grande beleza simbólica: pois tem a latejar em si o eterno mito da aventura humana, a correlação neo‑romântica que o leitor logo estabelece entre o puro furor da natureza e o impulso vital que leva a criança a participar naquela tormenta.
O caso Istrati é sumamente interessante e instrutivo, do ponto de vista político e do lite­rário. Ele não foi o único vaga­bundo autodidacta capaz de dar uma tal volta. O autor de “Fome”, Prémio Nobel, ator­mentado por passado muito parecido ao de Istrati, é igual­mente característico. Knut Hamsun foi defensor do marxismo na sua juventude e passou para o outro lado quando tomou contacto com a encarnação visível dos seus so­nhos. No seu ódio, chegou a aceitar os nazis durante a segunda guerra mundial, para depois acabar por ser perse­guido pelos seus, humilhado e torturado psiquicamente, tal como em novo havia sido tortu­rado pela fome. Mas John dos Passos terá sido, porventura, o esquerdista mais violentamente direitista da história das Letras deste século. Socialista ao longo das suas novelas mais conhecidas, tornou‑se fanati­camente da Direita depois dos sessenta anos e morreu isolado, incompreendido e boicotado, sobretudo pelos ambientes uni­versitários dominados então (Dos Passos morreu em 1970) pelo clã dos marxistas de salão. Todavia, ninguém, nenhum escritor do nosso século, conheceu tanto a dor, o desengano, o desejo de abandonar a vida, o êxito e a perseguição como o romeno uni­versal que foi Panait Istrati. Ter morrido duas vezes parece pouco para um homem assim. Significa, no fundo, não morrer nunca. Que é, afinal, o destino dos grandes forjadores de mitos, aliados dos homens.
VINTILA HORIA

domingo, julho 18, 2004

Do Rodrigo e da Pintasilgo

Em tempos, estava o governo da nação sob a asa maternal da Mademoiselle Pintasilgo...
Juro que não quero faltar ao respeito à senhora, recentemente desaparecida, e que sempre recordarei com “o seu petit sourire de holandesa gorda”, para usar a caracterização divertida do Orlando Vitorino. Nem irei falar dos seus tiques de “peixinho vermelho em pia de água benta”, para lembrar o dichote inspirado desse passarão que foi o Prof. Salazar.
Fui forçado a recordá-la por ter deparado com uma velha crónica do Rodrigo Emílio (como vêem ainda não mencionei ninguém que não tenha já partido desta vida), desse tempo em que ele publicava as suas “crónicas satânicas”. Mais uma das “bagatelas para um massacre” em que o seu formidável talento se comprazia, torrencial no sarcasmo e no humor corrosivo.
Ora leiam a entrevista imaginária, com pergunta e resposta como é de regra.
  
 
ENTREVISTA IMAGINÁRIA
 
Indo eu levar alpista
a uma ave que eu cá sei,
tropecei num jornalista
e uma entrevista lhe dei.

 
Esta:
 
P. ‑ Podemos, ou não, chegar à fala?
R. ‑ Bem sabe que, com o advento da Pintassilgo, voltámos ao tempo em que os animais falavam. Por isso, fale.
P. ‑ Sendo assim, fará a fineza de me dizer onde é que estava e o que fazia, aqui há dez anos?...
R. ‑ Estava em Nampula e passeava‑me por avenidas e avenidas de acácias.
P. ‑ E hoje?
R. ‑ Hoje em dia, estou em Lisboa e passeio‑me por avenidas e avenidas de Acácios.
P. ‑ Que eu saiba, nunca foi outra a paisagem humana desta terra... Já assim era, por exemplo, na infância da Re­pública.
R. ‑ Só que nesse tempo, ainda Sá‑Carneiro era nome de poeta. Não era, como agora, o nome de um “pulhítico”...
P. ‑ Por onde mais tem andado, neste meio‑tempo?
R. ‑ Se quer que lhe diga, principalmente por Espanha.
P. ‑ E aquilo por lá, que tal vai indo?...
R. ‑ Quase tão mal como aqui. Situações, no fundo, bastante parecidas, sabe o senhor?!
P. ‑ Não me diga outra!!...
R. ‑ É o que lhe digo: nós, à pega  com “os Vascos”; eles, à nora com “os bascos”.
P. ‑ Então, e a Falange?... Que é feito da chamada Falange “de apoio”?...
R. ‑ Desmembrou‑se em Falange, falangina e falangeta, calcule só!
P. ‑ Mudando de assunto, diga‑me cá: que vida leva?
R. ‑ Vida literária. Que me lembre, nunca tive outra; e assim como assim, agora também já não quero outra vida...
P. ‑ Quando recebeu “ordens” de escritor?
R. ‑ Saiba o meu caro senhor que eu nunca recebi ordens de ninguém.
P. ‑ A sua divisa?
R. – “Poésie d’abord”.
P. ‑ Considera‑se um poeta “engagé”?
R. ‑ Considero‑me, sobretudo, um poeta “engageant”.
P. ‑ É curioso que a esquerda também está cheia de poetas “comprometidos”...

R. ‑ Engana‑se. A esquerda está cheia de poetas “comprometedores”.
P. ‑ Que diferença existe, no seu entender, entre um poeta de direita e um poeta de esquerda?
R. ‑ A mesma que existe entre um poeta “cósmico” e um poeta “cómico”.
P. ‑ E em matéria de bagagem cultural, qual é, a seu ver, a distância que vai de um homem de direita a um homem de esquerda?
R. ‑ É a mesma que vai do grand Littré ao petit Larrousse, meu caro senhor.
P. ‑ Que pensa da Catarina Eufémía?
R. ‑ Penso que é o cúmulo do eufemismo.
P. ‑ Sabe que passa por ser uma caneta endiabrada?...
R. ‑ Dizem que sim.
P. ‑Afinal, porquê?
R. ‑ Olhe: primeiro que tudo, porque me dou ao luxo de não ter “apoderados”, o que desde logo significa que não sou uma caneta  “de vida fácil” ...  E depois, também, porque não sou artigo “de utilidade pública".
P. ‑ Ai não?!...
R. ‑ Não. E já agora, em vista disso, passe vocência me­lhor do que merece, só para não dizer que passe o pior possível!... De jornalistas estou eu fartinho até aqui. Perce­beu? Até aqui!
(Socorri‑me das pontas do cabelo, e desandei). 

Domingo em casa

Nesta manhã de domingo divaguei em leituras várias. Quase todas para dar de beber à literatice, contrariando a sugestão do Eurico que me manda falar de férias grandes num comentário ali abaixo. Mas eu de férias entendo pouco. Se quiser ler sobre férias grandes pode o Eurico regressar a leituras juvenis e entreter-se com Júlio Verne, que escreveu precisamente uns aventurosos  e refrescantes "Dez anos de férias". Ou então, com o mesmo lema, estudar a presidência do Dr. Mário Soares.
Eu prefiro estas divagações, onde encontro sempre umas pérolas esquecidas. Deparei por exemplo com um artigo do Rodrigo Emílio  sobre a novela "Le coup de grace" de Marguerite Yourcenar, de que não me lembrava. E, maravilha dos encontros de família espiritual, lá está estampado e impresso o meu fascínio pela autora da "Memória de Adriano", e concretamente por essa pequena novela (circula por aí em português, "O Golpe de Misericórdia", com um excelente prefácio de Agustina Bessa Luís).
Como estará agora o Eurico a pensar, também desta saiu um fime, de Volker Schlöndorff, tal como aconteceu com o "Singe en hiver" de Henri Verneuil. E o mesmo aconteceu também, para continuar a falar de gente da família, com "Uma mulher à janela",  de Drieu La Rochelle, que originou um filme de Pierre Granier-Deferre.
Só curiosidades. E nestas, vaidade à parte, sou um poço sem fundo. Já agora aqui vai uma, esta em desafio ao Walter Ventura: quem é que na sua (sua dele, não do WV)  juventude escreveu nos jornais sob o pseudónimo de "Dr. Miunças", em defesa da língua portuguesa, sobre questões de filologia e afins? O Barradas pode ser que lhe tenha falado nisso; mas se não for por essa fonte...
Achei também um artigo de Vintila Horia sobre Panait Istrati, outro grande esquecido. Esse não resisto a copiá-lo para aqui. Como já ficou evidente, quando falei de Mircea Eliade, ou de Ionescu, de Cioran, ou do próprio Vintila Horia, tenho grande simpatia por romenos - esses misteriosos "romanos do Oriente", que nos deram Codreanu e Horia Sima, misturando um misticismo indefinível tão próprio da alma eslava com um intransigente culto da romanidade.  Povo da fronteira, sentinela da Europa em milenar tensão perante a Ásia imensa e ameaçadora.
Aprecio Panait Istrati, e irei digitalizar e publicar esse artigo de evocação da vida dramática do autor de " Os cardos de Baragan".
Agora ponho ponto final na escrita, que vou almoçar. Nem cheguei a falar do governo santanista. Haverá tempo. Para já só queria chamar a atenção do pessoal dos jornais quanto a uma troca de fotografias (e logo na primeira página!). Por uma confusão já antiga alguns insistiram em publicar uma velha foto de Manuel Marques Ferreira dizendo que se trata do novo Ministro da Administração Interna, Daniel Sanches. Eles têm umas parecenças, mas não é tanto assim. Quem os conhece distingue perfeitamente. Vamos lá a rectificar esses arquivos!

sábado, julho 17, 2004

Um macaco no Inverno

Há quarenta e dois anos Antoine Blondin publicou o seu romance "Un singe en hiver",  evocação desencantada, entre o poético e o melancólico, de um homem perdido na confusão do nosso tempo. Que, todavia,  por entre os acasos da vida encontra o calor de uma amizade,  coisa difícil e rara, periclitante, sempre.
Depois Henri Verneuil faria com isso um filme, com diálogos de Audiard, e um bom naipe de actores, em que se destacam Jean-Paul Belmondo e Jean Gabin.
O filme teve algum êxito, pese embora alguns  problemas com a censura francesa, estúpida, que viu naquilo uma perigosa apologia da bebedeira.
Mas deixemos a literatura e o cinema. Lembro-me muitas vezes do título devido a esta sensação de desconforto que carrego comigo há muito, esta impressão dolorosa de estar aqui sem ser daqui. Uma carta fora do baralho, um macaco no Inverno,  por mais asfixiante que me chegue o Verão.
Antoine Blondin, que sabia do que falava, foi capaz de sublimar, melhor ou pior,  o seu próprio desacerto com o seu tempo, dando-se a temas onde podia sobreviver, sem a marca dos reprovados. Estou a referir-me ao desporto, de que foi escritor apaixonado, ao serviço de "L'Équipe".  Antoine Blondin ficará para sempre o grande cronista do "Tour". Um pouco como Nelson Rodrigues é o maior escritor do futebol brasileiro. Mas Blondin não se ficou pela paixão do ciclismo: também o rugby ficou a dever-lhe páginas da melhor literatura.
Nisto Blondin seguiu o entusiasmo pelo desporto daquele que foi uma referência para toda a geração literária a que pertencia: Drieu La Rochelle.  Este grande desaparecido era o ponto de partida para muito do combate a que se dedicou o grupo que, por facto imputável  ao mais marcante deles, veio a ser conhecido pela designação de "hussardos".  Roger Nimier havia feito tropa num regimento de hussardos, e o seu romance "Le Hussard Bleu"  acabou por apadrinhar o conjunto de escritores que sob os mesmos estandartes apareciam a marcar a actualidade literária francesa, contra os modismos de então, fossem existencialismos espúrios ou "nouveau roman" desestruturante.
Rodrigo Emílio escreveu por várias vezes sobre a obra dos "hussardos",  nomeadamente sobre Nimier, que muito prezava. João Conde Veiga também, pelo menos sobre "Histoire d'un Amour".
E páro por aqui, que a situação agrava-se. Bem dizia um deles que para encontrar os nossos mestres é preciso dar um longo passeio  por entre campas.

sexta-feira, julho 16, 2004

Ernst Jünger no "Pena e Espada"

Recomendo aos meus leitores que não percam a evocação de Ernst Jünger em curso de publicação no "Pena e Espada", a partir do material disponibilizado por Roberto de Moraes, que protagonizou os contactos pessoais com o escritor aí relatados.

Não sei se já receberam...


Bons tempos


 
Apeteceu-me colocar aqui este belo banner dos antigos alunos do Liceu de Évora.
Que saudades dos tempos em que estaria por esta altura a começar as férias grandes!
Agora... Férias?!!!! O que são férias???

quinta-feira, julho 15, 2004

Évora em movimento


 
Em Évora continua o Festival de Verão,  e nos dias 16 e 17, sexta e sábado, vamos ter também, na Praça de Giraldo, o Évora Moda 2004. 
Podem ler a notícia e o programa no Notícias Alentejo,  o nosso jornal em linha.

Os mistérios da casa rosada

Refiro-me ao casarão do Largo do Rato que foi do Sr. Marquês da Praia e há um quarto de século alberga o Partido Socialista. Estou inclinado a acreditar que há ali assombração. Depois de tudo o que aconteceu ao Sr. Ferro Rodrigues nestes últimos dois anos parece-me que é inevitável encarar essa possibilidade. Pensem bem: como ele era feliz, com o Gastão, e restante família, fazendo de burguês tranquilo no idílio sintrense! Passou a chefe da agremiação e não houve desgraça que não lhe chegasse. A culminar nesta, da morte política de Sampaio, no dizer de alguns, ou no assassínio político de Ferro, no dizer de outros (em todo o caso morte de homem).
Agora decorre o concurso para o lugar vago. Com peripécias misteriosas. O Dom Sebastião lá da chafarica, um dom sebastião pequenino, sorridente e galhofeiro, como seria de esperar nos tempos presentes, veio cortar cerce as expectativas da claque - antes que a coisa crescesse. O homem sabe mais do que nós, e tem o olho noutro lado - digo-vos eu.
Fico intrigado porque não sei o que é que ele sabe e nós não sabemos - aquilo é casa de mistérios. Já quando do auto-afastamento do Costa, que de repente saltou da boca de cena e passou só a dar os mínimos, me tinha assaltado a mesma sensação. Há muito mais do que eu sei... E o Sampaio também sabe, pelos vistos.
Paciência: tenho que me contentar com o que está à vista, mesmo correndo o risco de estar a olhar para o que menos importa.
Temos então como candidato o Sr. Sócrates, excelente exemplo do que é a classe política no sentido mais rigoroso da expressão: um profissional, que nunca teve na vida outro emprego ou outra experiência que não fosse a política a tempo inteiro, desde a mais tenra adolescência.
E antes dele já estavam na competição outros ilustres conhecidos, João Soares e José Lamego, cada um representando o respectivo clan - pelo que é razoável supôr que estão a marcar presença para negociar.
Nada vou dizer sobre a categoria e os méritos das pessoas em causa - não quero rivalizar com o comedimento diplomático da Dra. Ana Gomes.
Mas sempre digo que conheço suficientemente o Vitorino para vos garantir que ele estava a gozar quando exprimia o seu sentimento de congratulação pela floração de talentos que se aprestam a tomar as rédeas do partido da casa cor-de-rosa.

Coisas do Zé Manel

No "Diário Digital" o cronista João de Mendia atira-se com justa indignação às últimas façanhas do Zé Manel - aquele rapaz que tratou de se insinuar como candidato a presidente da comissão europeia enquanto nos desmentia tal hipótese, para pouco tempo depois reagir com fingida surpresa e deslumbramento pacóvio ao convite por que ansiava e nos bastidores tinha lutado. Vale a pena ler.

Feira de Actividades Culturais e Económicas do Concelho de Odemira


A partir deste 15 de Julho vai decorrer a Feira acima referida, com múltiplas realizações no Concelho de Odemira.
Mantenha-se informado lendo o AlentejoMagazine.

Telegrama

A falta de tempo, implacável, tem determinado escassa produtividade. Tem por isso que lançar-se mão de palavras de outros, à míngua de produção própria.
Os dois poemas que deixei agora publicados pertencem a António Manuel Couto Viana, e são de 1946. Pareceu-me que mereciam entrar neste meu diálogo com os leitores, não só pelas razões de merecimento que se aplicam a toda a obra de Couto Viana mas também pela sua singularidade nesse conjunto. Mostram uma outra faceta: o jovem Couto Viana não foi apenas "avestruz lírico", como ironicamente se auto-apelidou, mas foi também apelativo e mobilizador; não foi apenas clássico na forma e no conteúdo, cultivou também ritmos, estéticas e técnicas mais modernizantes. Vejam bem o "Apelo" e a "Exortação".

quarta-feira, julho 14, 2004

EXORTAÇÃO

Tu
praí sentado,
curvado,
que esperas,
fumando um cigarro?
Quimeras...
Um sonho falhado...
Café, o jornal,
mentiras,
intrigas,
só fumo, só fumo
no ar...
e a Vida,
ai, a Vida com tanto pra te dar!

Tu,
praí sentado,
curvado,
em quatro muros fechado:
Não ouves, no vento,
rumores de bandeiras?
Não sentes, ao Sol,
uma vontade forte de cantar?
- Mas tu não sabes cantar
e nem conheces o Sol!
Vives uma noite escura,
uma noite sem estrelas...
Não vês no mar
o Longe
e a Aventura
no pano branco das velas?
No pomar,
tanto fruto maduro por colher
e tanto malmequer
pelo caminho!
E, entre a folhagem,
mistérios subtis: “um ninho”!
Mas tu
praí sentado,
curvado,
em quatro muros fechado:
Não ouves...
Não sentes...
Não vês...
Coitado!
E a vida,
ai, a Vida com tanto pra te dar!

Vá,
deixa as figuras mortas
de museu,
e abre as portas
para entrar
o Ar,
o Mar,
o Céu!
Amigo:
Vem daí comigo.
Que esperas agora?
Que eu finde o poema?
O poema é lá fora!

APELO

Poetas
que ides cantando
um sonho de caravelas,
um velho sonho passado
e estafado
com nuvens, luas, estrelas:
deixai o adeus e a saudade
e esse ficar
aí, de braços cruzados,
a recordar:

-“Conquistas, Índias, mistérios...
Tudo se foi.
Só nos resta chorar idos Impérios.
Como isto dói!


Poetas,
fatal engano:
se o que foi já não é,
temos ainda os mesmos braços
e a mesma fé.
À nossa volta há tanto que fazer,
tanto mundo a construir...
E vós, a ver!
Que triste Alcácer-Quibir!

Irmãos:
Parai um momento de cantar
Quimeras, sonhos vãos,
e ide lançar,
pelas vossas próprias mãos,
um barco ao mar!

terça-feira, julho 13, 2004

Mircea Eliade em Portugal

O autor de tantas obras que figuram entre as mais conhecidas e divulgadas do século XX, como "O Mito do Eterno Retorno" ou "O Sagrado e o Profano", mundialmente aclamado sobretudo pelo seu trabalho no domínio da história das religiões, beneficia de justa popularidade, e é fácil encontrar mesmo na internet inúmeras biografias e bibliografias sobre ele.
E todavia, com alguma estranheza, constato que em geral é passado em silêncio o seu período de permanência em Portugal - apenas se referindo brevemente que esteve colocado na Embaixada Romena em Lisboa entre 1940 e 1944. Ignora-se a importância dessa época para a sua vida e para a sua obra, como se ele nesse período não tivesse feito nada, nem escrito nada.
Ora nada mais falso: como ele mais tarde fez constar, nomeadamente no seu "Diário", e quando escolheu Portugal para cenário dos seus romances ("Bosque Proibido"), o período em Portugal foi dos mais relevantes e determinantes da sua vida.
Já antes, na década de trinta, durante os seus anos na Índia, onde se dedicava ao estudo da religião e da cultura indianas, nascera-lhe a paixão por Portugal, pela cultura portuguesa, e particularmente por Camões. Germinaram aí os projectos de escrever sobre Camões e a sua obra, que nunca se vieram a concretizar. Mas logo então começou a estudar a língua portuguesa, ainda durante a sua permanência em Bengala.
Veio depois a fase turbulenta do seu envolvimento no turbilhão da política romena, quando em 1938 chegou a ser enviado para um campo de concentração durante a ofensiva governamentalista contra a Guarda de Ferro. Superado tudo isso, surge em Lisboa, após breve passagem por Londres.
Em Lisboa o seu círculo de relações estabelece-se em torno de Victor Buescu, essa notável figura de exilado romeno que, como Eliade, ou Vintila Horia, nunca voltaria a ver o seu país, e à cultura portuguesa, particularmente à Faculdade de Letras, dedicaria toda a sua vida. E entre os portugueses Mircea Eliade relaciona-se com o círculo dos tradicionalistas de extrema-direita, com quem encontra naturais afinidades culturais: Manuel Múrias, João Ameal, Alfredo Pimenta, Pedro Correia Marques. Consequentemente, torna-se colaborador regular do jornal destes, "Acção".
Consegue também a simpatia e a colaboração de António Ferro.
No seguimento dessas amizades vem a publicar em 1942, na Roménia, o seu livro "Salazar e a Revolução em Portugal", onde expressa a sua admiração pelo então Presidente do Conselho, com quem nessa altura chegou a entrevistar-se. O livro só em parte foi traduzido para português, e geralmente nunca aparece mencionado nas bibliografias do autor.
Também durante esses anos, e no âmbito do seu trabalho de divulgação da cultura romena em Portugal, publica trabalhos no "Acção" sobre a cultura, a história, os mitos e a literatura do seu país, divulgando sobretudo o grande poeta nacional, Eminescu.
Nessa época publica também a sua obra "Os Romenos - os Latinos do Oriente", que regra geral também é ignorada na sua bibliografia.
E ficamos por aqui, porque já chega para realçar a importância da passagem por Portugal do grande escritor romeno. Até no plano do sofrimento pessoal, pois aqui morreu a sua primeira mulher, Nina. Ao longo de muitos anos, até ao final da sua vida, Mircea Eliade foi evocando esses tempos portugueses - a casa do Estoril,o Buçaco, a Estufa Fria, o sanatório da Lousã...
Espero que tenha contribuído para despertar o interesse pelo sábio romeno. Para quem queira ler mais sobre este tema recomendo o excelente estudo de Albert von Brunn disponibilizado pelo Instituto Camões. E sítios em linguajar estranho há por aí aos pontapés.

segunda-feira, julho 12, 2004

Em Évora


Por aqui, na cidade sede deste meu blogue paroquial e provinciano, continua disponível no Fórum Eugénio de Almeida, até 29 de Agosto, uma exposição de gravuras de Vieira da Silva. Pode ser visitada diariamente das 9h30 às 18h30.
Não faltem, que há poucas oportunidades de dar uma nota cosmopolita cá à parvónia.
Entretanto, a notícia política do burgo é o anúncio da candidatura de António Dieb a presidente da distrital do PSD. Uma coisa é certa, ninguém dirá que lhe falta estatura... Se os homens se medissem aos palmos!...
Por mim, sempre insatisfeito, não posso deixar escapar uma perplexidade: entre os laranjinhas locais não há um alentejano capaz de fazer esta pega de caras?
Mira, Branquinho, adelante és el camiño!

domingo, julho 11, 2004

Vivaz

O mês de Julho de 2003 assinala um momento de grande crescimento da blogosfera.
Nasceram então muitos e variados blogues, dos quais alguns ficaram pelo caminho e outros se mantêm activos, imprimindo aqui a sua marca própria.
Entre os eborenses surgiu então o VIVAZ, com a assinatura de Mário Simões, nome bem conhecido de quem acompanha a imprensa eborense. Desde então teve momentos de floração mais intensa e outros de pousio, como é natural (e ainda mais se pensarmos que o autor tem por obrigação produzir trabalho escrito para satisfazer compromissos profissionais - pelo que o blogue não pode ser uma prioridade, e tem de sofrer as consequências da falta de tempo e do cansaço normais em tal situação).
Mas o VIVAZ aí está, cumprindo um ano de vida. Para o Mário Simões envio os meus sinceros parabéns.
O blogue irá continuar, estou certo, fiel ao nome e ao estilo pessoal que é o seu.
Na entrada com que assinalou a passagem do primeiro aniversário, e apresentou uma espécie de balanço analítico da sua existência, e da blogosfera eborense durante este ano, brindou-me com referências elogiosas, lisonjeiras e, digo mesmo, para mim surpreendentes (de gratificante surpresa, obviamente). Esclareço melhor: não sendo eu modesto, sei no entanto que o meu blogue, como também os outros, é obra pessoal, que reflecte os gostos, as disposições,as simpatias ou as antipatias de quem o faz. Assim sendo, essa característica, que é agradável no que tem de livre expressão da personalidade do seu autor, tem o natural reverso, que é essa estrita singularidade - pelo que o encontro com outros que gostem, que simpatizem, que se identifiquem neste ou naquele ponto, pesando embora todas as diferenças, é um acaso estatístico. O mundo é feito de gente diferente que por vezes se encontra, identificando-se por improváveis particularidades partilhadas - mas é mais frequente o desencontro, necessariamente.
Quer isto dizer que não tenho a ilusão, nem a pretensão, de agradar a muita gente. Quando acontece descobrir o agrado de alguém - aleluia! - sinto a alegria de um encontro inesperado numa esquina da vida. Venha de lá um abraço!

sábado, julho 10, 2004

Família no futuro: que presente?

Aqueles que puderem comparecer no Grande Auditório do Parque de Exposições de Braga amanhã dia 11 de Julho não deixem de marcar presença no 1º Congresso da Família.
O programa é aliciante, e sobretudo a realização marca a continuidade do trabalho de fundo desenvolvido por um importante conjunto de associações dedicadas ao combate pelo futuro, entre as quais salientamos a APFN e o Juntos pela Vida.
O acontecimento não pode ser ignorado por quem sinta que alguns dos mais relevantes problemas do nosso tempo estão centrados na problemática da família, da natalidade, da demografia, da defesa da vida e da dignidade da vida.

Expo nas Azenhas

Os nossos amigos das Azenhas do Mar inauguram este sábado dia 10 de Julho pelas 19 horas uma exposição de "arte para vestir".
A "Expo by Maresia" decorre no Brisa do Mar, situado nas Azenhas do Mar .
Na inauguração haverá um pequeno cocktail, oferecido pela casa, e se gostarem da ementa poderão jantar ali mesmo.
Quem estiver perto das Azenhas já sabe: não pode perder a Expo "by Maresia"!

Novos analistas políticos?

A grande revelação desta crise no domínio da análise política veio a ser o José Sarto.
Publicou três artigos de grande inspiração a dissecar a "crise partidocrática".
E não consigo esquecer também as intuições, pelos vistos certeiras, vindas do Portugal Profundo... Quanto às razões de Sampaio, parece realmente ser mais importante o que ele não diz, nem pode.
Mas parece-me que a "crise" ainda vai dar muito que falar.
Para já, vamos ter o processo de formação do novo Governo. Será interessante observar quem embarca com Santana.
E o congresso do PS, quando é? Estou inclinado a acreditar que este vai ajudar a entender...

sexta-feira, julho 09, 2004

O país das maravilhas

Jorge Sampaio, depois de ter passado duas semanas a fazer que decidia, decidiu não decidir nada.
Ferro Rodrigues, depois de ter passado duas semanas a desancar Durão Barroso porque se tinha demitido, apresentou a sua demissão.
A primeira grande vítima da retirada de Durão acaba assim por ser, paradoxalmente, o líder do PS.
E a instabilidade que todos queriam evitar no Governo rebentou antes na oposição.
Tudo para abrir caminho ao regressado António Vitorino?
A ver vamos. A coisa promete.

CARTA DO CANADÁ, de Fernanda Leitão

NOTA TRISTE
Henrique Mendes foi a sepultar no dia 9 de Julho. Tinha-lhe sido diagnosticado cancro um mês antes. Contra o que era a sua maneira de ser, saíu da vida sem se despedir de Portugal e dos amigos que tem espalhados pelo mundo. Não teve tempo. Por isso todos os amigos estão ainda mais desolados, porque a surpresa também destrói.
Não posso dizer que o Henrique Mendes e eu fomos amigos muito próximos. Mas estou em posição de saber que nos respeitávamos e estimávamos. Não me lembro de algum dia ter tomado uma refeição com ele, ao contrário do que, nos saudosos tempos da RINA, no Bairro Alto, sucedeu com Artur Agostinho – que ali ia uma vez por semana jantar com a rapaziada do RECORD, logo se misturando com os comensais diários (uma massa colorida e piadista de gente dos jornais, da rádio, da TV, do teatro, das cantigas, das touradas, das artes, do corpo diplomático, que só a paciência da Rina, a dona da casa, aturava com bonomia). O Artur Agostinho que os revolucionários prenderam alarvemente e empurraram para o exílio no Brasil. Não me lembro sequer de ter tomado café com o Henrique Mendes, como aconteceu com o Pedro Moutinho, outro grande senhor da rádio e TV que os revolucionários sanearam. Ou de termos conversado com um whiskey à frente no SNOB, essa outra praça forte dos jornalistas, como aconteceu com o Mário Meunier e a Luísa Pinho em noites inesquecíveis (e cuja lembrança hoje faz doer, quando penso que o Mário se suicidou em Washington, para onde a abrilada de 1974 o empurrou e onde anos depois chegou o braço comprido e horrendo da intolerância e da injustiça que certos “democratas” praticam).
E no entanto, o Henrique teve dois gestos de grande carinho por mim. Quando soube que eu vinha para Toronto, pediu-me que passasse pela Rádio Renascença, onde voltou a trabalhar depois de ter estado exilado no Canadá durante os quatro anos de maior loucura revolucionária. Para me dizer como era a cúpula desta comunidade portuguesa e me avisar, de modo claro, acerca de dois padres muito infelizes por terem enormes contas a prestar a Deus, já que é tenebroso pecado causar escândalo entre o povo e afastá-lo da sua Igreja por revolta ou desalento. Foi preciosa a informação e pude eu mesma avaliar in loco a extensão do estrago.
Muitos anos depois teve comigo outro gesto de carinho: mandou-me o seu livro, com uma muito afectuosa dedicatória. De vez em quando mandava-me um e-mail com uma graça ou com uma curiosidade.
Era assim o Henrique Mendes. Delicado, bom, cuidadoso com os amigos, sofrido sem se queixar, leal e sensato. E um grande profissional da televisão, um verdadeiro profissional pois que falava um português escorreito, era culto e elegante, não dizia palavrões nem era grosseiro ou vulgar, tratava com toda a cortesia os convidados dos seus programas. Era, em suma, o oposto de vários que trabalham na TV e rádio.
Quando a intolerância de meia dúzia de mentecaptos o empurrou para o exílio com a sua exemplar e talentosa mulher, a actriz Glória de Matos, o Canadá abriu-lhes os braços. Trabalharam ambos muito e muito bem nesta terra. Deixaram bom nome. Por isso pairam acima de intrigas e aleivosias cobardes que a ingratidão sempre gera. Foi um nosso amigo comum que lhes pôs fim ao exílio, o Raúl Solnado. Um socialista. Aponto este pormenor para que quem me lê perceba que já vi e vivi o suficiente para saber que há muita gente boa na esquerda e há muito bastardo à direita. Não quero saber de rótulos como nunca quis saber de partidos. Quero saber de pessoas com carácter, com palavra, com coração.
Temos ainda, o Henrique e eu, outro amigo comum muito querido, o Alfredo Marques da Costa, que por mais de 30 anos foi quadro superior da Canadian Pacific. O Santo Alfredo, como lhe chamam emigrantes, que ele tem ajudado aos milhares.
Posso medir, nesta hora triste, a desolação do Solnado e do Marques da Costa pela que sinto perante este desaparecimento tão rápido do Henrique Mendes.
Que ao menos o Céu nos garanta uma vasta nuvem para a tertúlia da eternidade. Amen.
Fernanda Leitão

Palavras de outros

Gostei muito de ler os dois artigos assinados por Manuel Brás no Aliança Nacional com os títulos "E agora, Portugal?" e "A filosofia do desporto".
Bem escritos e bem pensados. Recomendo este autor, que aliás não conheço nem sei quem é, mas pelos talentos revelados merece ser seguido com toda a atenção.

quinta-feira, julho 08, 2004

Exposição no Grupo Pró-Évora


Abre sexta-feira dia 9 pelas 18 horas com uma breve cerimónia inaugural na sede do Grupo Pro-Évora uma exposição de fotografia de Jorge Molder, denominada "O Pequeno Mundo".
A exposição estará aberta ao público entre 9 e 25 de Julho na sede da referida associação, na Rua do Salvador, n.º1, das 15 às 19 horas, excepto à segunda-feira.

O Portal Alentejano


Um novo e belo projecto, para o qual peço o apoio de todos os meus conterrâneos: o Tudoben, um portal dedicado a toda a Região Alentejo e a tudo o que se faz por cá.

Ajuda de Berço


Secundando o Ultimo Reduto, venho também congratular-me pelo êxito da associação Ajuda de Berço, que conseguiu abrir a casa que ambicionava, e apelar à minha gente para que auxiliem por todas as formas a instituição.
Por exemplo, e não custa nada, carregando todos os dias no botão da campanha um colo a cada criança.
Já que nem todos podem colaborar no terreno, ao menos todos podemos contribuir desse modo para as finanças da casa.

Em Reguengos: nova cooperativa de intervenção sociocultural


Reguengos não é só vinho: conta agora com uma nova cooperativa, esta destinada às coisas da cultura, não especificamente da vinha.
A Menir – Cooperativa de intervenção sociocultural, realiza este sábado em Reguengos de Monsaraz a sua primeira iniciativa. No programa consta um passeio na vila medieval de Monsaraz, por trajectos e locais descritos no livro «As Horas de Monsaraz», acompanhado das explicações do autor, Sérgio Luís de Carvalho.
Constituído por um grupo de naturais e residentes de Reguengos de Monsaraz, o projecto Menir pretende contribuir para a realização, promoção e divulgação de acontecimentos culturais e de actividades de animação.
Recordamos que também em Reguengos nasceu há meses um inovador espaço dedicado aos livros e à cultura: o Sítio das Letras, instalado na Rua de São João de Deus, n.º 18. Bom fim de semana, em Reguengos e Monsaraz. Mantenham-se a par de tudo, no Notícias Alentejo.

A Escola e o Hino

No "Público" de 7 de Julho foi publicado um artigo de opinião do Prof. Manuel Antunes, conhecido catedrático da Universidade de Coimbra. Pela relevância indiscutível da sua personalidade e pela projecção das suas posições cívicas, aqui fica, na íntegra, o artigo mencionado.

"A Escola e o Hino
A propósito da intenção do governo de instituir exames nacionais para os alunos no último ano do ensino básico, intenção que desencadeou as reacções das mais diversas, ouvi o responsável máximo de uma associação de pais, em tom depreciativo, perguntar, mais ou menos nestes termos, "e porque não também o hino nacional e a formatura à entrada da escola?"
Não sei se aquele senhor é representativo do pensar da maioria dos pais portugueses. Sinceramente espero que não. Certamente não me representa a mim. Escrevo estas linhas como professor, marido de uma professora mas, sobretudo, como pai de três filhos, um ainda na escola. Vi estes meus três filhos passar por várias reformas curriculares. Inclusivamente, tive a experiência de dois deles terem frequentado parte do ensino oficial num país estrangeiro, pelo que penso estar em condições de fazer comparações directas.
Tenho assistido, com grande desgosto e algum grau de desespero, a uma "liberalização" cada vez maior do ensino que, a meu ver, nada tem contribuído para melhorar a formação dos nossos jovens. Com apreensão, tenho visto desaparecer do currículo escolar disciplinas orientadas para a formação cívica, moral e religiosa por cuja falta tenho a certeza viremos a pagar muitíssimo caro no futuro.
Sou do tempo em que a actividade escolar era mesmo começada a cantar o Hino Nacional e em que a entrada para a sala de aulas era feita em formação ordenada. Estes dois tipos de prática são para mim simbólicos apenas porque representavam a disciplina e o respeito pelos valores sociais que hoje tanta falta fazem nas nossas escolas, e que é também, em minha opinião, uma das principais causas do nosso atraso cultural. Penso que a nova ordem democrática, que levou ao abandono destas e de outras práticas, não serve afinal a democracia que se baseia em cidadãos bem formados, conscientes dos seus deveres cívicos.
Nalguns países europeus muito mais avançados do que o nosso, exemplos de grandes democracias, continuam a ser prática corrente. O ensino britânico ainda hoje não dispensa o uniforme escolar que não é sinónimo de falta de liberdade mas, ao contrário, fomenta a igualdade. Os nossos melhores colégios privados também fazem uso dele. Por contraste, sabe-se bem como são desprezados pelos colegas os meninos que nas nossas escolas públicas não usam roupa de marca, que se tornou um dos principais símbolos do "ser bem".
Independentemente destas considerações, faz-me aflição ver que a maior parte dos nossos jovens não sabe a letra completa do nosso Hino Nacional, facto aliás bem patente quando olhamos pela televisão para o balbuciar de alguns dos nossos jogadores de futebol durante os jogos da selecção, ao contrário daquilo que vemos na maior parte dos nossos adversários. Há dias, quando o Euro já se iniciara, uma das nossas televisões fez um inquérito de rua e não conseguiu encontrar um só cidadão (?) que soubesse a letra completa da "Portuguesa". Tenho quase a certeza de que a maior parte sabia os nomes de todas as personagens e dos actores das muitas telenovelas que ela passa diariamente.
Em qualquer país civilizado, o Hino Nacional, tal como a bandeira, é um símbolo máximo da cidadania. No nosso caso, a sua ausência simboliza também a nossa falta de cultura cívica. Os nossos jovens têm, desde pequeninos, de aprender que a liberdade não significa apenas fazer aquilo que a cada um apetece. O País, a sociedade, têm que estar acima dos valores individuais. Nos Estados Unidos, na Inglaterra e mesmo na Alemanha o culto pelos símbolos nacionais (não nacionalistas) é demonstrado pela bandeira exibida na porta principal da grande maioria das casas. Até na vizinha Espanha esse culto é bem visível.
Mas o nosso sistema escolar assimilou o culto do facilitismo, bem caracterizado pela eliminação de provas de avaliação (exames) periódicas, de carácter nacional, que, ao contrário do que defendem os pedagogos da "nouvelle vague", é causa de (e não solução para) graves assimetrias. O mesmo pode dizer-se da quase exigência de passar os meninos para o ano seguinte para que as taxas de sucesso sejam (artificialmente) melhoradas. Abandonou-se, ostensivamente, a cultura da excelência em favor da mediania, isto é, optou-se pelo nivelamento por baixo. Fazem falta os quadros de honra e os prémios anuais. Enquanto outros se orgulham das suas elites, nós autoconfortamo-nos com o nivelamento cinzento pseudo-democrático. A autoridade deu o lugar ao deixa andar que é tido como o símbolo da afirmação da identidade pessoal e que, não infrequentemente, degenera na indisciplina que, infelizmente, nos parece estar no sangue.
Não existe no nosso curriculum escolar nenhuma disciplina orientada especialmente para o ensino dos valores cívicos, sociais e políticos e a maior parte dos nossos jovens demonstra uma profunda ignorância destes aspectos fundamentais da cultura de cidadania. Não pretendo fazer aqui a apologia da re-introdução do Hino nas escolas, mas a declaração feita por aquele responsável da organização de pais é demonstradora do muito que temos a percorrer na formação do nosso povo. E é aqui que temos que apostar se quisermos vencer a batalha do desenvolvimento. A União Europeia foi agora enriquecida com a entrada de dez novos países do Leste Europeu. Independentemente do seu passado político recente, ou até por isso, é sabido que as suas populações têm um índice cultural e de instrução geralmente bastante mais elevadas que o nosso, o que apenas pode contribuir para que nos afundemos cada vez mais na nossa posição já desprivilegiada no contexto do grupo das nações.
A restauração, desde o ensino básico, de uma escola cada vez mais consciente do seu papel fundamental na formação cívica dos cidadãos, tanto quanto no ensino das ciências ou das letras, é a reforma de que mais urgentemente necessitamos. Conhecedor do ambiente, sempre fui bastante critico da atitude dos professores que há muito parecem querer demitir-se desta responsabilidade. Ouvir um pai falar daquele modo fez-me reconhecer o meu erro. Nós, os pais, somos, afinal, os principais responsáveis. Não podemos transferir para os professores as nossas obrigações específicas.
E por isso, temos que nos reeducar também a nós próprios.
"

quarta-feira, julho 07, 2004

Paradoxos

Nem sempre os caminhos mais curtos conduzem aos sítios desejados.
Jorge Sampaio está neste momento a balançar num dilema terrível. Pode escolher a atitude passiva, comer a sopinha como lhe foi servida, e empossar Santana. Ou fazer birra e convocar novas eleições.
No primeiro caso fará uma triste figura e será vituperado por todos os amigos - cuja sofreguidão é patente.
Mas provavelmente ao fim de dois anos à frente do Governo, e apesar de, ou por causa de, tudo o que será feito para garantir a vitória eleitoral, creio que Santana entrará nas eleições em condições difíceis. Terá provocado o cansaço do público, e um sentimento de saturação que reverterá contra ele.
No segundo caso Sampaio terá os aplausos delirantes de toda a esquerda e extrema-esquerda - que concluirá alegremente que afinal o camarada não é nenhuma rainha de Inglaterra.
Mas dará a Santana uns meses para se preparar para as eleições, e campanhas é aquilo que ele melhor pode fazer. Santana com as mãos livres, em campanha aberta, com o PSD unido atrás dele (o que neste momento não tem), e com o estatuto de vítima que não deixará de reivindicar - pode bem vir a conquistar a vitória que lhe conferirá a legitimidade de que se fala.
Ainda por cima o povo português, que está bastante farto de campanhas e eleições, costuma pregar partidas a quem as provoca. Já aconteceu no passado, precisamente nas situações em que foram antecipadas eleições para uma finalidade anunciada.

SEF recusou entrada a 7333 estrangeiros durante o Euro 2004

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) recusou a entrada em Portugal a 7333 estrangeiros entre 26 de Maio e 4 de Julho, período em que foram repostos os controlos fronteiriços devido à realização do Euro 2004.
Segundo os dados finais do SEF o maior número de recusas verificou-se no Sul do país, tendo sido recusada a entrada de 2733 pessoas na área do Guadiana.
Na região do Alentejo (Caia, Marvão, São Leonardo e Vila Verde de Ficalho) registaram-se 1668 recusas de entrada, no Centro (Vilar Formoso e Termas de Monfortinho) 307 e no Norte (Tuy, Valença e Quintanilha) 1882 recusas.
Nas fronteiras aéreas, o Aeroporto da Portela, em Lisboa, registou um significativo número de recusas (663) em relação aos aeroportos do Porto (66) e Faro (14).
A ausência de vistos e de documentos de viagem e a apresentação de identificação falsa ou falsificada estão entre os principais motivos de recusa de entradas.
A maioria dos estrangeiros que se viram impedidos de entrar em Portugal eram de nacionalidade romena, marroquina e brasileira. Entre os cidadãos comunitários, foram impedidos de entrar maioritariamente espanhóis e ingleses.
O SEF destaca ainda dez recusas de entrada a cidadãos alegadamente venezuelanos por posse de bilhetes de identidade falsos e passaportes emitidos indevidamente, e a cidadãos de nacionalidade brasileira por bilhetes de identidade portugueses falsos.
No âmbito do Euro 2004 foram ainda instaurados cerca de 80 processos de expulsão a cidadãos estrangeiros, a maior parte dos quais já saiu de Portugal.
O Algarve foi a zona onde se verificou a maioria das expulsões por comportamento violento com 54 pessoas a serem deportadas (51 cidadãos britânicos, um holandês, um russo e um sueco). Na zona Norte foram afastados cinco cidadãos alemães.
Como se verifica destes dados, apenas umas poucas dezenas de casos estão relacionados com o acontecimento circunstancial que foi o Euro. O restante traduz um movimento de fundo, estrutural e sustentado - um fluxo contínuo de cidadãos de origem extra-comunitária.
Será que o controle das fronteiras só se justificava entre 26 de Maio e 4 de Julho?
Não será que estamos a negligenciar perigosamente as preocupações elementares, contribuindo para a rápida formação de um vasto segmento populacional em situação de clandestinidade - com o que isso implica a nível de segurança pública e privada, de fomento da economia paralela, de fenómenos de contrabando, trabalho ilegal, prostituição, criminalidade organizada, tráficos vários, seja de droga seja de pessoas, fraude sistemática e generalizada ao fisco e à segurança social, criação de "guettos" e disseminação de uma marginalidade difusa?

Évora: livros no Alçude

No âmbito da sua 3ª Feira do Livro, a Associação Cultural Alçude promove na próxima sexta-feira, dia 9 de Julho, uma "Conversa com o público" com a presença da escritora elvense Teresa Direitinho, autora de "O Princípio da Atracção", seguida de sessão de autógrafos.
A sessão, com entrada livre, decorre nas instalações na Avenida de São Sebastião, ao Chafariz das Bravas, em Évora, e tem início às 22 horas.

Campo Maior


Entre 28 de Agosto e 5 de Setembro irão realizar-se as Festas 2004 - uma nova edição das Festas do Povo de Campo Maior.
Uma vez que estou em maré de recomendações turísticas, digo-vos que é de marcar já na agenda. As festas seguintes provavelmente só serão daí a quatro anos.
Entretanto, vão visitando as Festas on-line.