domingo, abril 30, 2006

Pelo Trabalho Nacional


Já agora, ante os perigos imediatos, o que resta de Portugal não se defende em casa - defende-se na rua. (...)
Para este 1º de Maio, uma ideia mobilizadora: concentração em defesa do trabalho nacional, pela dignidade do trabalhador português, pelo emprego, pelos salários, pela justiça nas relações sociais, pelas empresas portuguesas, pela nossa agricultura, pescas, comércio - nas Caldas da Rainha, às 16 horas.

Mobilização anti-iberista

Quem manda é o Povo:

Contra o partido de Castela, marchar, marchar: que todos se juntem agora (já!) e mandem mails para o PR (belem@presidencia.pt), para o Marcelo Rebelo de Sousa (asescolhasdemarcelo@rtp.pt) e/ou para quem vos der na gana. Indignem-se, pressionem, usem o teclado como uma arma legítima e legal.

«Não há nada mais perigoso que uma caneta»(MMM).

Política

Um oportuníssimo ensaio de Rodrigo Nunes: O caminho dos partidos nacionalistas.

Leitura de Domingo

O caminho da Roma Eterna, sempre luminosamente apontado pela Casa de Sarto. Um farol que em Portugal continua a ser o único.

Achamentos

Pela estrada segura do Último Reduto, descobri dois lugares blogosféricos do mais alto valor.
São eles o Blogs For Terri, centrado nos problemas da vida, nascido da evocação do caso Terri Schiavo, e o Blogs For Life, inteiramente dedicado a centralizar informações sobre o combate Pró-Vida na blogosfera.
São excelentes de conteúdo e de informação, e autênticos modelos a seguir.

sábado, abril 29, 2006

Futuro Presente n.º 60


Saiu um novo número, o 60, da revista Futuro Presente.

sexta-feira, abril 28, 2006

"Um iberista confesso"

Ainda regresso a Mário Lino: não me apeteceu dizer nada (não quero desafiar a úlcera) mas não resisto a voltar às declarações de que ninguém, pelos vistos, quer falar.
Foram publicadas no "Faro de Vigo", que intitulou precisamente "Un político portugués que se declara "iberista confeso".
A notícia já podia ser lida e apreciada por todos (graças ao Orlando).
Porquê a insistência?
É que, apesar de tudo, estou perplexo. Será possível ser ministro em Portugal, advogando o fim histórico de Portugal? Uma entrevista destas não tem consequências políticas?
Mais: será verdade que "Iberia es una realidad que persigue tanto el Gobierno español como el portugués"? E quando foi que esses governos receberam mandato dos respectivos povos para perseguir esse objectivo comum?

Eis o texto da notícia, antes que desapareça.

Un político portugués que se declara "iberista confeso"
Mario Lino defiende la historia y el futuro común de España y Portugal.
X. A. Taboada / SANTIAGO
Mientras España lleva meses sacudida por los debates sobre los estatutos de autonomía o si el Estado se desmembra y se "rompe" como nación, el ministro de Obras Públicas, Transportes y Comunicaciones de Portugal se confesó ayer en Santiago profundamente "iberista", convencido de que España y Portugal tienen por delante un futuro en común porque su historia es también común y su lengua, similar. Ante unas 150 personas, en su mayoría cargos directivos de la Caixa Geral de Depósitos y de su filial el Banco Simeón, Mario Lino impartió una conferencia obre "El papel de las infraestructuras en el desarrollo del Noroeste Peninsular" y el eje de su discurso fue resaltar la importancia de las relaciones que Portugal debe mantener con España para diseñar su red de infraestructuras.
"Soy iberista confeso. Tenemos una historia común, una lengua común y una lengua común. Hay unidad histórica y cultural e Iberia es una realidad que persigue tanto el Gobierno español como el portugués. Y si hay algo importante para estas relaciones son las infraestructuras de transporte", comentó el ministro, tres horas después de reunirse con Pérez Touriño y en un almuerzo-conferencia.
Mario Lino justificó la demora en definir los plazos del AVE entre Vigo-Oporto porque es "absolutamente necesario" asegurar que esta infraestructura "sea un éxito", por lo que se trabaja con el "máximo rigor". Pero no dio más detalles. Alguien del público le preguntó por los plazos y el ministro se puso a la defensiva: "Ésta es la pregunta de un periodista para ver si doy un plazo y me equivoco. La respuesta se sabrá a final de año, en la cumbre luso-española". Pero la cuestión no fue planteada por ningún periodista, sino por un directivo del Grupo Caixa Geral de Depósitos.
Otro cargo de la multinacional financiera portuguesa intentó poner en apuros al ministro al inquirirle por qué el AVE Vigo-Oporto no se llamaba Vigo-Braga si es un proyecto portugués y la mayor parte del trazado discurre por Portugal. Mario Lino dio vueltas a los argumentos, que si la línea principal era Lisboa-Oporto, que si se buscaba enlazar al mayor número de poblaciones... pero dejó sin contestar la pregunta.
Lino defendió la competencia entre todas las infraestructuras gallegas y las del norte de Portugal, pero advirtió de que se deben "concebir en conjunto para sacar mayores provechos" para ambos territorios. Acompañando a ministro estuvieron el delegado del Gobierno en Galicia, Manuel Ameijeiras, la conselleira de Política Territorial, María José Caride, o el presidente de la patronal gallega, Antonio Fontenla.

Forum Portugal


Um ponto de encontro na net.

Citações

De Mário Lino, ministro português das Obras Públicas, citado por sua vez por Orlando Braga, confrade bloguista que parece não acreditar em bruxas:
«Soy iberista confeso. Tenemos una historia común y una lengua común. Hay unidad histórica y cultural e Iberia es una realidad que persigue tanto el Gobierno español como el portugués»
Bem podes esperar sentado, ó Orlando...

Citações

A proposta de João Tilly, voluntarioso e inconformado:

Citações

Outro 1º de Maio


Uma novidade política para o Primeiro de Maio?

Reformas


A Justiça no tempo dos costas.

quinta-feira, abril 27, 2006

Efeméride

De repente lembrei-me que a 28 de Abril passa o aniversário natalício de um antigo Chefe do Governo que marcou o século XX português. Creio que completaria 117 anos.
Para assinalar a efeméride, uma pequena sequência fotográfica dedicada ao aniversariante.

O expediente do dia

Hora de leitura

Poseur

A sportsman?

Jornais da manhã

Descontraindo

À secretária

Olhando a barra

quarta-feira, abril 26, 2006

"Falar verdade sobre a situação actual"

Relendo o Programa do actual Governo (pois, eu sei que é esquisito, devo ser o único que lê estas coisas, mas eu sou assim, com umas manias estranhas) tropecei a dado passo com uma passagem verdadeiramente extraordinária. Sob o título que coloquei acima, consta isto:
1. A consolidação das finanças públicas foi um dos principais fracassos da governação dos últimos três anos. Este fracasso foi particularmente significativo, pois o combate ao défice foi assumido, de forma obsessiva, como objectivo quase único.
O Governo anterior prometeu:
- a redução do défice orçamental, mas ele aumentou;
- um choque fiscal, mas a carga fiscal subiu;
- a diminuição da despesa pública, mas ela cresceu;
- a redução da dívida pública, mas ela aumentou.
Completou-se entretanto um ano sobre a governação socrática. E agora, José?
O défice orçamental é menor? A carga fiscal desceu? A despesa pública diminuiu? A dívida pública reduziu-se?

"Dê o que não precisa a quem mais precisa"

A Ajuda de Mãe, associação de apoio a mulheres grávidas e mães em dificuldades, vai lançar uma campanha de recolha de donativos e fundos em centros comerciais da região de Lisboa (Amoreiras Shopping Center, Centro Comercial Colombo, Cascais Villa e Oeiras Parque) entre os dias 3 e 5 de Maio.
"Dê o que não precisa a quem mais precisa" é o lema da campanha, que pretende angariar roupa de grávida e de bebé, biberões, chuchas, cadeirinhas, carrinhos, alcofas, camas de grades, fraldas até aos nove meses, leite em pó, papas e brinquedos.
Ao mesmo tempo, irá decorrer uma recolha de donativos.
Para todos, é tempo de mobilização a favor da Ajuda de Mãe.

terça-feira, abril 25, 2006

O arco de Cutileiro (Évora)

O arco de Trajano (Mérida)

O 25 DE ABRIL

Enquanto o país se distrai, de cravo piroso ao peito e com os dedos em V, ao som das ladainhas da vulgata, encontrei um editorial com que Manuel Maria Múrias assinalou o 25 de Abril de 1977.

O essencial do 25 de Abril é a descolonização, o esfacelar dramático do Portugal de sempre. O mais são desculpas. O que os revolucionários pretendiam fundamentalmente era livrarem-se do Ultramar. A três anos de distância, e como simples verificação histórica, bem se pode dizer que o 25 de Abril se fez porque as Forças Armadas recusavam bater-se Além-Mar. O que dá carácter revolucionário é isso: um exército militarmente vitorioso, rende-se politicamente, vencido por dentro pela subversão dos valores patrióticos.
As alterações de estrutura social subsequentes são consequentes do processo da descolonização, e são formais: — onde estavam uns mandantes passaram a estar outros; saíram 180 presos das cadeias políticas, entraram cerca de 4.000; os polícias foram presos, os presos foram polícias. Como dantes, as oligarquias no poder bloquearam para si o processo eleitoral, servindo-se partidariamente das estruturas administrativas; como antigamente quem não aceita os fundamentos de ideologia dominante é perseguido, e marginalizado, e punido pela lei. O Estado novo defende-se como o Estado velho. O que era substancial ao outro regime é substancial a este. Nem se alterou a semântica. Variam as formas, variam as práticas, variam os homens, que são piores. Essencialmente só Portugal se alterou: não vivemos hoje a mesma nação, nem encaramos o mesmo futuro. Perdemos um projecto nacional. Somos outros. A revolução está aí. Trágica. Sangrenta. Se calhar, mortífera. Parafraseando o heróico general Lourenço: — oscilaram as Forças Armadas, oscilou Portugal.
Por simples decisão administrativa, como quem apaga uns riscos no mapa, desfez-se o Portugal antigo, mais velho que a maioria dos estados do mundo. As Forças Armadas que eram as garantes de integridade territorial da Pátria deixaram de a garantir — porque da Pátria passaram a ter um conceito estreitamente ideológico. Portugal, no seu parco pensamento, não seria Portugal se não fosse democrático. O que nos definia como nação: — a terra repartida lá longe, as gentes diferentes, a língua rica, a história antiga, o hábito secular de viver em comum, tudo se desvaneceu. Portugal passou a ser só um regime, uma fórmula político-constitucional, arbitrária por simples decisão legal, ao sabor dos ventos da história, das conveniências do momento, dos modismos doutrinários. Assim mesmo, milhões de pessoas deixaram de ser portuguesas, porque uns tantos, muito poucos, lhes retiraram a nacionalidade.
Nós não temos qualquer experiência histórica de sermos Portugal sem Ultramar. Vamos recomeçar-nos no desconhecido. O que nos livrou da atracção magnética da meseta castelhana foi a nossa visão terráquea do Oceano. Olhámos as águas como se fossem terra. Tudo o que estava para além do mar éramos nós. Não tem outro fundamento a polémica entre Grotius e o Padre Serafim de Freitas. Um simples encontrão na porta do Quartel do Carmo destruiu-nos. Regressámos ao ponto alpha da nossa criação nacional — e a partir do momento em que tudo pode ser ideologicamente discutido, (o dever criticamente assumido deixou de ser dever), discutimos Deus, discutimos a Pátria, discutimos a Família — temos o direito de discutir a nossa própria existência como Estado soberano.
A quem interessa continuar Portugal? Separado do melhor do seu corpo — Portugal existe? Desde que a conservação do Império foi apenas uma teimosia estúpida de Salazar — não será teimosia, estúpida também, manter este arremedo de soberania que temos agora, constantemente a pedir dinheiro para matar a fome? Se aos açorianos e aos madeirenses interessar mais, por expressa e livre vontade sair, juntar-se aos americanos, temos o direito ideológico de os impedir? Se dermos a independência a Cabo Verde e a S. Tomé, ilhas desertas achadas no mar e que povoámos, e que cultivámos, em que nos fundamentamos intelectualmente para conservar portuguesas a Madeira e os Açores?
Envolvidos que estivemos numa guerra revolucionária conduzida à escala planetária pela União Soviética e pelos Estados Unidos, perdemo-la. Mal acabada estava levantaram-se nas ilhas movimentos separatistas que, tal qual os africanos, sabemos serem comandados pelo estrangeiro. Modestos, românticos, ligeiramente estúpidos, começam eles com as mesmas possibilidades dos antecessores. Se negociámos com os terroristas de África, porque não negociaremos com os terroristas das ilhas? Washington de bom grado juntaria mais uma ou duas estrelas à sua bandeira — se tais estrelas fossem as bases altamente estratégicas do Atlântico. Se Portugal é uma democracia, se o seu território é apenas o que a vontade maioritária dos seus habitantes quiser que seja — porque é que não nos podemos afastar da Madeira e dos Açores?
Por motivos históricos? Por razões de ordem linguística? Pelo hábito que temos de viver politicamente em comunidade? Menos de um século separa o achamento de S. Miguel da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Culturalmente, estamos tão chegados a Goa, como estamos aos Açores. Apesar disso, Mário Soares, assim que pôde, separou-nos juridicamente do Estado da Índia, sem dar cavaco a ninguém. Não terá ido agora aos Estados Unidos fazer a mesma coisa com os Açores?
O precedente aberto em África pode continuar-se com tudo o que resta de Portugal. O consentimento legal duma Liga Iberista que, afanosamente, pede a nossa integração política num contexto federativo espanhol, não é já o princípio do fim?
Aqui há semanas, numa reunião no Norte, o director deste jornal tentou expor com frieza as possibilidades que, através de Melo Antunes ou de qualquer outro, tem o Partido Comunista de se achegar ao poder. Alguém, com ar determinado, logo a seguir afirmou:
— Proclamaremos a independência do Norte — se tal acontecer!
Não têm esse direito as gentes nortenhas? Se Portugal já é só um regime, se tudo o que é português se identifica com a democracia, se em Lisboa estiver instalado um governo antidemocrático — não tem o Porto o direito de continuar a ser o verdadeiro Portugal? Não pretendeu isso Vasco da Gama Fernandes?
Ao separarmo-nos de África, separámo-nos de nós. O verdadeiro significado da revolução do 25 de Abril é esse. O resto são desculpas. Dominados que fomos, durante uns tempos, pela Internacional Comunista — somo-lo agora pela Internacional Socialista. O Internacionalismo proletário que o Partido Socialista representa em Portugal transcende a própria nacionalidade. Os trabalhadores não têm pátria; Mário Soares, como bom intelectual proletaróide, só pode atender aos interesses da classe operária. O que se determinar em Amsterdão é o que se fará em Portugal. Na verdade, nós já perdemos a soberania; dependemos do que quiser Willy Brandt. Tudo é possível, a partir do momento em que se assenta a unidade das pátrias na ideologia do seu regime. Assim o quiseram os revolucionários de 1974. Assim o temos.
Dizia Renan que ter glórias comuns no passado, uma vontade comum no presente; ter feito juntos grandes coisas, querer fazer outras maiores ainda; são as condições essenciais para ser um povo. No passado uma herança de glórias e remorsos; para o futuro o mesmo projecto a fazer. A existência duma nação é um plebiscito quotidiano.
Os portugueses deixaram de ter glórias comuns do passado e uma vontade comum para o presente. Quem nos governa deseja, ardentemente, esquecer o passado — e, para o futuro, pretende apenas arranjar umas massas. Não há um projecto nacional. Sobreviver-se-á?
A grande revolução do 25 de Abril limitou à pergunta dramática e sacramental: — Sobreviver-se-á? Não virá por aí qualquer outro heróico grupo armado que o liberte deste pesado fardo de ser Estado soberano? Em nome da Liberdade, da Democracia, da Paz mundial e da Europa dos Trabalhadores?
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 55, pág. 3, 21.04.1977)

segunda-feira, abril 24, 2006

Manif em Évora!

Para matar saudades, o regresso à rua: na próxima quinta-feira ao meio-dia concentração de agricultores no Rossio, convocada pela CAP e associações do sector (em defesa do mundo rural e da protecção do meio ambiente).
Vamos a ver quantos agricultores ainda subsistem.
Entretanto na blogosfera eborense que persiste (a crise chega a todo o lado) destaque para o Largo das Alterações com um interessante artigo sobre desemprego e formação profissional (provavelmente destinado a ser pouco lido; mesmo entre os interessados os títulos ruidosos são mais apreciados que o aprofundamento das matérias) e o Mais Évora, a arriscar-se em terrenos perigosos, como muitas vezes faz. A senhora Câmara é um poço sem fundo, inesgotável manancial que dava para alimentar uma dúzia de blogues.

As etapas do diálogo entre Roma e a Fraternidade São Pio X

Embora sem poder rivalizar com A Casa de Sarto, apresentamos também aos nossos leitores uma entrevista com Mons. Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, publicada no n° 132 da revista DICI, em que explica a sua visão das conversações com as autoridades romanas.

DICI: Monsenhor, desde o início das vossas conversações com Roma, há cinco anos, propusestes duas condições prévias antes de qualquer discussão doutrinal. Trata-se da liberdade de cada padre católico celebrar a Missa Trentina e da retirada do decreto de excomunhão lançada contra os bispos da Fraternidade. Porquê estas condições prévias? Não constituem uma manobra dilatória que permitiria ganhar tempo para tranquilizar os padres ou fiéis inquietos com uma eventual aproximação? Não vos arriscais, assim, a perder uma ocasião inesperada de reconciliação?
Mons. Fellay: Todas estas considerações políticas, direi mesmo, todos esses cálculos políticos são estranhos ao espírito das conversações que a Fraternidade tem com Roma desde que Mons. Lefebvre as iniciou. As condições prévias que propus têm como fim a criação de um novo clima na Igreja oficial. Seriam um primeiro passo para tornar novamente possível a vida católica tradicional. A situação actual impeliu os fiéis, perante os desastres pós conciliares, a afastar-se das suas paróquias para se juntarem à Fraternidade, apesar do opróbrio com que cercam os padres tradicionais. Nenhuma sanção romana, nenhuma prevenção episcopal dissuadem essas famílias de escolher a Tradição. É um facto. Assim, pedi ao Papa a realização de actos públicos a favor da Tradição, porque os nossos fiéis não poderão satisfazer-se com simples palavras de encorajamento. Tais actos são a liberdade da Missa Tradicional e a retirada do decreto de excomunhão. E se os rumores que hoje correm na imprensa sobre a retirada da excomunhão são reconhecidos como verdadeiros, poderá dizer-se que o Soberano Pontífice teve em conta uma das duas condições prévias.
DICI: Não é pedir a Roma que resolva a crise com Ecône unilateralmente, sem contrapartida do vosso lado?
Mons. Fellay: Não, porque a crise com Ecône não é a única. Não passa de reveladora de uma crise mais profunda na própria Roma, e a solução desta crise maior está em Roma. Não se trata, para nós, de uma negociação de tipo sindical, porque não temos interesses próprios nem vantagens pessoais a negociar. Desejamos que Roma reencontre a sua Tradição. Ecône não faz mais do que conservar, antes de tudo, o património da Igreja Universal. Pertence a Roma dar à Tradição o seu lugar, total e inteiro, a fim de que possa desempenhar o seu papel na solução da crise da Igreja.
DICI: Mas a excomunhão é uma situação pessoal que vos diz respeito, a vós e vossos confrades…
Mons. Fellay: Pedimos a retirada de um decreto de excomunhão ao qual nunca concedemos valor canónico, sem o qual, evidentemente, não teríamos exercido nenhum ministério: nem ordenação, nem confirmação… Mas estamos bem conscientes do alcance prático do decreto: a diabolização eficaz da Tradição, o impedimento de os padres tradicionais praticarem o bem nas paróquias. Se uma família nos dirige um apelo para um sacramento no rito tradicional, o bispo ou o cura não têm senão uma palavra: «Não pensem nisso, estão excomungados!» Eis como, concretamente, se neutraliza a Tradição. As duas condições prévias – a liberalização do uso do Missal de São Pio V e a retirada do decreto de excomunhão – visam, para além dos fiéis tradicionais, o bem da Igreja inteira. Trata-se de permitir à Tradição encontrar o direito de cidade na Igreja e de prestar as suas provas no terreno. É assim que podemos ajudar Roma a debelar a crise na Igreja. Estas duas condições prévias funcionam – segundo a expressão dos teólogos – como um removens prohibens, devem levantar os interditos que impedem a Tradição de agir praticamente, pastoralmente.
DICI: Podeis precisar o vosso pensamento?
Mons. Fellay: Deixando a Missa Tradicional de estar em liberdade vigiada e o ministério dos padres tradicionais de estar rodeado da suspeição de excomunhão, nenhum compromisso seria assumido, nem por Roma nem pela Fraternidade. Mas, no fim, Roma poderá julgar, com provas, a obra feita pelos padres tradicionais. E disse que a Fraternidade São Pio X estava disposta a acolher visitadores romanos que poderiam apreciar, no local, o seu trabalho apostólico.
DICI: Tudo isso é prático e pastoral; ora, a crise da Igreja é principalmente doutrinal. Onde estão as questões de fundo, da liberdade religiosa, sobre a qual Mons. Lefebvre emitiu Dubia, dúvidas comunicadas ao Cardeal Ratzinger? Que se passa com o ecumenismo, ao qual consagrastes um estudo, há dois anos entregue a todos os cardeais?
Mons. Fellay: Sobre as questões do ecumenismo, é muito significativo o mutismo dos cardeais aos quais foi entregue o estudo. O seu silêncio mostra bem a distância que nos separa no plano doutrinal. Fez bem em notar que os dois pontos prévios têm um alcance prático, e é por isso que constituem a primeira etapa necessária antes de se poderem abordar as questões doutrinais. Com efeito, as discussões de fundo, empreendidas fora ou antes da etapa pastoral, parecem, a priori, destinadas ao fracasso. Aqui, importa dar-se bem conta que Roma e Ecône – para abreviar – convergem num ponto, mas divergem noutro. As autoridades romanas estão hoje conscientes da situação dramática da Igreja – foi bem o futuro Bento XVI que disse que a Igreja é como «um barco que mete água por todos os lados»; – neste ponto estamos de acordo, mas onde não nos entendemos é sobre a causa da crise. Roma não aponta como principal responsável senão a sociedade secularizada, hedonista e consumista, que ignora ou combate a mensagem evangélica, enquanto que nós, nós afirmamos que o Concílio Vaticano II, abrindo-se ao espírito do mundo moderno, fez entrar no seu seio princípios como o da liberdade religiosa ou o ecumenismo, que são contrários à mensagem evangélica e responsáveis pela situação actual. Nós visamos outra coisa bem diferente de «uma falsa interpretação» superprogressista do concílio. Compreende-se bem que as autoridades romanas dificilmente encarem remontar ao Vaticano II como causa da crise, porque isso equivaleria a pôr em causa o concílio, ao qual permanecem fortemente ligadas. Nesta situação, é preciso reconhecer que nenhuma discussão doutrinal é possível, como declaram justamente Michael J. Matt e John Vennari numa recente declaração comum.
DICI: Assim, pode pensar-se que, no fundo, não encarais seriamente um diálogo com Roma?
Mons. Fellay: Direi que este diálogo deve ser doutrinal e prático, com factos em apoio das argumentações teológicas. Partindo do ponto de convergência de Roma e nosso – a verificação de uma crise desastrosa – devemos tentar resolver a divergência, tentando fazer Roma admitir a verdadeira causa da crise. A discussão doutrinal tem como fim obter o reconhecimento dessa causa por Roma, mas com os princípios modernos de que estão imbuídas as autoridades romanas desde o Vaticano II, tal discussão não pode ter lugar sem o concurso de uma lição dada pelos próprios factos, ou ainda, mais precisamente: não se pode realizar sem a avaliação da obra concreta que a Tradição pode cumprir com vista a uma solução da crise de vocações, da prática religiosa… Do nosso ponto de vista, são os efeitos do apostolado tradicional que farão ver a contrario onde está a causa da crise. Eis a razão por que os pontos prévios práticos me parecem indispensáveis ao bom desenrolamento das discussões doutrinais. A liberdade de acção concedida à Tradição deve permitir-lhe prestar as suas provas e desempatar, com factos, as duas partes, que não concordam doutrinalmente sobre a causa da crise. Esta lição dos factos que pedimos a Roma que aceite, repousa, antes de tudo, na nossa Fé na Missa Tradicional. Esta Missa reclama, por si mesma, a integridade da doutrina e dos sacramentos, garantia de fecundidade espiritual junto das almas.
DICI: A vossa linha de conduta é partilhada pelo conjunto dos padres e dos fiéis ligados à Tradição?
Mons. Fellay: Já Mons. Lefebvre dizia que as autoridades romanas seriam mais sensíveis aos números e aos factos apresentados pela Fraternidade São Pio X do que aos argumentos teológicos. Muito evidentemente, o nosso fundador não pretendia iludir uma necessária discussão doutrinal, por isso queremos, nesta segunda etapa, apresentar em Roma os argumentos da teologia tradicional, confortados com os factos do apostolado tradicional, antes de abordar a terceira etapa, a do estatuto canónico da Fraternidade. Importa ver bem como se articulam as etapas deste diálogo, para compreender que não queremos descurar nem o aspecto especulativo ou doutrinal, nem o aspecto prático ou pastoral, tal como não queremos ignorar a prudência realista e o espírito sobrenatural. Os que não querem reter senão o aspecto prático ou canónico, verão na nossa exigência doutrinal uma perda de tempo, e as etapas serão entendidas como manobras dilatórias. Por outro lado, os que não querem encarar senão o aspecto especulativo, entenderão que as condições prévias pastorais são a colocação entre parêntesis dos problemas de fundo, e dirão que o diálogo é o início de uma adesão ao modernismo. Uns e outros têm razão no que afirmam, mas deixam de tê-la no que negam: é preciso afirmar a necessária lição dos factos e a indispensável discussão doutrinal.
DICI: Então, o acordo canónico é para as calendas gregas?
Mons. Fellay: Fala-se de administração apostólica, de prelatura pessoal, de ordinariato… parece prematuro. Ao querer um acordo canónico agora e a qualquer preço, ficaríamos expostos a ver ressurgir imediatamente todos os problemas doutrinais que nos opõem a Roma, e esse acordo estaria logo caduco. A regularização do nosso estatuto canónico deverá acontecer em último lugar, como para selar um acordo já realizado, pelo menos no essencial, no âmbito dos princípios, graças aos factos verificados por Roma. Aliás, imaginemos por um instante que nós aceitamos uma estrutura canónica para só depois encarar – no interior, no «perímetro visível» das dioceses – as questões doutrinais. Não poderíamos cumprir o nosso ministério com toda a eficácia pastoral. Não estariam reunidas as condições práticas que permitissem uma lição dos factos plena e completa. Como já é o caso das comunidades Ecclesia Dei, o nosso apostolado tradicional estaria em liberdade vigiada, só autorizado a manifestar-se com parcimónia aqui e ali, como em conta-gotas. O essencial é saber se a situação trágica da Igreja, hoje – a crise impressionante de vocações, a queda vertiginosa da prática religiosa… – lhe permitem contentar-se com remédios administrados a conta-gotas.

domingo, abril 23, 2006

Que fazer em relação à PT Telecome?

Segundo um estudo realizado pela consultora «Forrester» comparando outros 17 países europeus, Portugal tem a ADSL mais cara da Europa e mesmo assim será o unico país europeu onde o preço da ADSL vai crescer no período de 2004 a 2006.
Por seu turno, o Eurostat, instituto de estatísticas da União,tinha informado, com referência ao primeiro trimestre de 2005, que o acesso à Internet de banda larga em Portugal ficou-se por 20% das famílias portuguesas, enquanto no resto da União Europeia a penetração da banda larga atingiu em média 23% das famílias (Portugal era o pior dos quinze).
Há ou não há forças de bloqueio?

Había algo de monje en su talante (...)

Belíssimo, o poema do argentino Antonio Caponnetto dedicado ao Presidente Salazar que ficamos a conhecer graças ao Euro-Ultramarino. Um grande obrigado!

sábado, abril 22, 2006

Feliz regresso

Fernanda Leitão voltou com os seus bilhetes do Canadá: Olha bem para isto, Rosa!
O bom sabor dos velhos tempos.

Tenho orgulho

Um bloguista com potencial, o Francisco Múrias.
Esperando que não se ofenda, faço-lhe no entanto um reparo: a composição e a revisão... Tem que tratar disso, a escrita merece!

Ainda, a História

O 25 DE ABRIL E A HISTÓRIA

Na hora que passa, soam mais actuais e dolorosamente certeiras as duras palavras que António José Saraiva escreveu há tantos anos, e que curiosamente julgo permanecerem desconhecidas de muitos portugueses de hoje - e esquecidas de quase todos os portugueses de ontem. Aqui ficam, porque a verdade não prescreve.

Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril.
Na perspectiva de então havia dois problemas principais a resolver com urgência. Eram eles a descolonização e a liquidação do antigo regime. Quanto à descolonização havia trunfos para a realizar em boa ordem e com vantagem para ambas as partes: o exército português não fora batido em campo de batalha; não havia ódio generalizado das populações nativas contra os colonos; os chefes dos movimentos de guerrilha eram em grande parte homens de cultura portuguesa; havia uma doutrina, a exposta no livro Portugal e o Futuro do general Spínola, que tivera a aceitação nacional, e poderia servir de ponto de partida para uma base maleável de negociações. As possibilidades eram ou um acordo entre as duas partes, ou, no caso de este não se concretizar, uma retirada em boa ordem, isto é, escalonada e honrosa.
Todavia, o acordo não se realizou, e retirada não houve, mas sim uma debandada em pânico, um salve-se-quem-puder. Os militares portugueses, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando os portugueses e africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir.
Pelo que agora se conhece, este comportamento inesquecível e inqualificável deve-se a duas causas. Uma foi que o PCP, infiltrado no exército, não estava interessado num acordo nem numa retirada em ordem, mas num colapso imediato que fizesse cair esta parte da África na zona soviética. O essencial era não dar tempo de resposta às potências ocidentais. De facto, o que aconteceu nas antigas colónias portuguesas insere-se na estratégia africana da URSS, como os acontecimentos subsequentes vieram mostrar.
Outra causa foi a desintegração da hierarquia militar a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA explorou ao máximo, quer por cálculo partidário, quer por demagogia, para recrutar adeptos no interior das Forças Armadas. Era natural que os capitães quisessem voltar depressa para casa. Os agentes do MFA exploraram e deram cobertura ideológica a esse instinto das tripas, justificaram honrosamente a cobardia que se lhe seguiu. Um bando de lebres espantadas recebeu o nome respeitável de «revolucionários». E nisso foram ajudados por homens políticos altamente responsáveis, que lançaram palavras de ordem de capitulação e desmobilização num momento em que era indispensável manter a coesão e o moral do exército para que a retirada em ordem ou o acordo fossem possíveis. A operação militar mais difícil é a retirada; exige em grau elevadíssimo o moral da tropa. Neste caso a tropa foi atraiçoada pelo seu próprio comando e por um certo número de políticos inconscientes ou fanáticos, e em qualquer caso destituídos de sentimento nacional. Não é ao soldadinho que se deve imputar esta fuga vergonhosa, mas dos que desorganizaram conscientemente a cadeia de comando, aos que lançaram palavras de ordem que nas circunstâncias do momento eram puramente criminosas.
Isto quanto à descolonização, que na realidade não houve. O outro problema era a liquidação do regime deposto.
Os políticos aceitaram e aplaudiram a insurreição dos capitães, que vinha derrubar um governo, que, segundo eles, era um pântano de corrupção e que se mantinha graças ao terror policial: impunha-se, portanto, fazer o seu julgamento, determinar as responsabilidades, discriminar entre o são e o podre, para que a nação pudesse começar uma vida nova. Julgamento dentro das normas justas, segundo um critério rigoroso e valores definidos. Quanto aos escândalos da corrupção, de que tanto se falava, o julgamento simplesmente não foi feito. O povo português ficou sem saber se as acusações que se faziam nos comícios e nos jornais correspondiam a factos ou eram simplesmente atoardas. O princípio da corrupção não foi responsavelmente denunciado, nem na consciência pública se instituiu o seu repúdio. Não admira por isso que alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial. Em qualquer caso já hoje não é possível fazer a condenação dos escândalos do antigo regime, porque outros talvez piores os vieram desculpar.
Quanto ao terror policial, estabeleceu-se uma confusão total. Durante longos meses, esperou-se uma lei que permitisse levar a tribunal a PIDE-DGS. Ela chegou, enfim, quando uma parte dos eventuais acusados tinha desaparecido, e estabelecia um número surpreendentemente longo de atenuantes, que se aplicavam praticamente a todos os casos. A maior parte dos julgados saiu em liberdade. O público não chegou a saber, claramente, as responsabilidades que cabiam a cada um. Nem os acusadores ficaram livres da suspeita de conluio com os acusados, antes e depois do 25 de Abril.
Havia, também, um malefício imputado ao antigo regímen, que era o dos crimes de guerra, cometidos nas operações militares do Ultramar. Sobre isto lançou-se um véu de esquecimento. As Forças Armadas Portuguesas foram alvo de suspeitas que ninguém quis esclarecer e que, por isso, se transformaram em pensamentos recalcados.
Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regímen, como não se fez a descolonização. Uns homens substituíram outros, quando os homens não substituíram os mesmos; a um regímen monopartidário substituiu-se um regímen pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente. Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: a «longa noite fascista».
Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente. Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção. E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob capa de democratização do ensino; vieram «saneamentos» oportunistas e iníquios, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão, pelo Governo e pelos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco.
Ao contrário das esperanças de alguns, não se começou vida nova, mas rasgou-se um véu que encubra uma realidade insuportável. Para começar, escreveu-se na nossa história uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade, página que, se não for resgatada, anula, por si só, todo o heroísmo e altura moral que possa ter havido noutros momentos da nossa história e que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de nação. Está escrita e não pode ser arrancada do livro. É preciso lê-la com lágrimas de raiva e tirar dela as conclusões, por mais que nos custe. Começa por aí o nosso resgate. Portugal está hipotecado por esse débito moral, enquanto não demonstrar que não é aquilo que o 25 de Abril revelou. As nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se no futuro próximo, merecemo-las, moralmente. Mas elas são uma prova e uma oportunidade. Se formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de nação independente.

Em volta do "pensamento único"

A natureza da blogosfera privilegia o que é breve e superficial; não importa, o que tem valor permanece para além das limitações do meio. É obrigatório ler o excepcional ensaio de Pedro Guedes intitulado Em volta do "pensamento único".

sexta-feira, abril 21, 2006

Lisboa


O Estádio do Restelo, como era quando nasceu este belenense.

Luanda


O Estádio dos Coqueiros, em 1960.

Setúbal


Vista geral de Setúbal em 1907 (ainda o Ruvasa não andava por lá).

Em cima da mesa

O livro está a vender-se bem. Continua disponível na Gradiva, ou em qualquer livraria.
Também é possível travar conhecimento com ele em linha: "O eduquês".
E todavia... será que atingimos já aquela fase em que a verdade pode dizer-se sem risco de desmentido, mas isso não serve para nada?
Há alguns anos também teve boa saída e causou algum alvoroço o livrinho de Maria Filomena Mónica "Os Filhos de Rousseau". Ainda está à disposição na Relógio d'Água.
Suspeito porém que tenha sofrido rejeição pelo silêncio (depois de algum barafustar momentâneo, é certo). O que lá está é verdade, mas convém a muito poucos dos presumíveis destinatários.

A parlamentarização da magistratura (4)

Como já tinha referido, aguardava-se para esta quinta-feira a reunião extraordinária do Conselho Superior da Magistratura convocada para se decidir da resposta a dar ao Governo acerca do pedido de autorização para nomear um juiz para um cargo político exterior à magistratura.
Recordo que o estatuto dos magistrados judiciais prevê que estas nomeações em comissão de serviço extra-judicial têm obrigatoriamente que ser precedidas de autorização do CSM, como órgão legalmente competente para a gestão das carreiras judiciais.
E anote-se, para compreender a relevância do assunto, que este poder do CSM não é bem visto pelos sucessivos executivos, sempre com tendência para encarar com maus olhos os poderes detidos por outros órgãos constitucionais (forças de bloqueio, na feliz terminologia cavaquista).
No momento presente a situação assumia visivelmente aspectos de um braço de ferro, entre os que queriam aproveitar para afirmar a autonomia do Conselho, a sua impermeabilidade a pressões externas, a incompatibilidade destas nomeações políticas com a independência própria da carreira judicial e a essência da separação de poderes, e aqueles para quem o essencial é fazer pública exibição da autoridade governativa (a que se juntavam os que acima de tudo consideram fundamental não causar embaraços à governação socrática).
Parece-me evidente que os responsáveis governamentais da área da Justiça procuraram deliberadamente um confronto: ao ter sido anunciada por todos os órgãos de comunicação a nomeação do juiz de Vila Franca para director-adjunto da PJ, ainda antes de o CSM receber qualquer pedido nesse sentido (contra todas as regras, até as de elementar boa educação), quis-se voluntariamente criar uma situação em que a deliberação do Conselho ficaria reduzida a uma formalidade irrelevante, um sancionamento a posteriori de algo já decidido, quando a lei prevê a autorização prévia como condição necessária – ou então atirar ao Conselho o ónus de dizer não, e ser então apontado como um feudo tenebroso das forças corporativas que conspiram contra o governo do engenheiro, uma fonte de problemas a exigir urgente reforma que lhe dê composição mais adequada.
Em qualquer dos casos, o governo e a sua estratégia de propaganda sairiam a ganhar.
Apesar desse facto, e mesmo também por causa dele, creio que se impunha que o CSM dissesse não. Por questões de princípio, que também existem e valem. E também porque quem não se sente não é filho de boa gente. E também porque quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito. E também porque é por demais sabido que os poderes que não se exercem acabam por se perder. Permitir que se transforme a prerrogativa legal do CSM de autorizar a saída ainda que temporária de um juiz em funções num mero pro-forma, uma formalidade desprovida de qualquer significado real, é abdicar desse poder e gerar uma prática que tenderá a estabelecer-se, como se tem visto e se verá de ora em diante.
Acrescento que existiam muitas razões para dizer não, até bem próximas: o rescaldo das experiências recentes com Adelino Salvado e Santos Cabral é demasiado negativo para que não imponha por si só a preocupação de afastar os juízes desses vespeiros – para salvaguarda da própria magistratura.
Existiam por tudo isto algumas expectativas quanto ao resultado da reunião. Iria o CSM ser capaz de dizer não, ou iria agachar-se perante o facto consumado?
Dizem os jornais que ganhou o Ministro da Justiça por 9 a 7. Ou seja, dos 17 possíveis votantes uma senhora faltou, nove votaram a favor da autorização e sete votaram contra. Foi à justa, mas passou a postura da submissão.
Obviamente que os argumentos trocados só poderão ser conhecidos com a leitura da acta, mas foi divulgado já o sentido de voto dos 16 presentes.
Alguns ingénuos ao ver esse resultado de 9 contra 7, e sabendo que são 7 os membros do CSM que são juízes de carreira e são 9 os membros de nomeação política, seriam tentados a pensar que houve uma vitória do bloco dos políticos contra o bloco dos juízes. Absolutamente errado. Se assim fosse ainda haveria algum motivo para esperanças quanto à saúde interna da magistratura. Mas não foi nada disso que se passou: aquilo que tenho vindo a chamar a parlamentarização da magistratura já se implantou muito mais fundo, e atingiu tanto os que são juízes como os que não o são.
Com efeito, os 7 que votaram contra foram os conselheiros indicados pelo PSD Calvão da Silva, Eduardo Vera Cruz e Moreira da Silva, mais o infeliz Presidente do STJ, Conselheiro Nunes da Cruz, e a que se juntaram outros três juízes. Os 9 que votaram a favor foram três membros indicados pelo PS, mais os restantes quatro juízes eleitos para o órgão (entre os quais o comissário político local do PS), e ainda – ó surpresa! - os dois novos membros nomeados por Cavaco - Laborinho Lúcio e Costa Andrade - que tinham tomado posse minutos antes e participaram desta forma no seu primeiro acto como membros do CSM.
Em suma: a vitória querida por Alberto Costa foi-lhe dada de bandeja pelos dois conselheiros de Cavaco. Tem algum significado? Deve ter. Pelo menos constata-se que existe um PSD instalado no partido, que se expressou através dos homens indicados por Marques Mendes, e outro PSD instalado em Belém, que se exprimiu através dos dois homens nomeados por Cavaco. E quem quiser que tire conclusões sobre a orientação presidencial em relação aos assuntos do governo.
Querem mais elucidativa demonstração do que chamei de “parlamentarização da magistratura” do que tudo o que ficou aqui à vista?

quinta-feira, abril 20, 2006

Para Espinho


Quer-me parecer que a estação de Espinho era mais bonita em 1940, caro Bruno!

Para eborenses


A Sé Catedral, 1940. Antes das obras no adro e no Largo D. Miguel de Portugal.

Reincidência


Inauguração do BNU, em 1964. Para os laurentinos.

Não resisti


Este é para o Combustões!

Justiça de Arroto a Zurro

Soube agora mesmo, e por acaso, que o Ministério da Justiça obrou recentemente um curioso documento intitulado "Justiça de A a Z - um ano de governo", para assinalar as suas prodigiosas realizações na área da Justiça.
Comentando o opúsculo, assinado por Alberto Costa, Conde Rodrigues e Tiago Silveira (os mestres da obra), Francisco Bruto da Costa fala de presunção e água benta, e chama-lhe um memorando auto-laudatório digno de um estudo psicanalítico.
Acrescenta que os autores dão a sensação de viverem num universo virtual, em que, a par de um notório divórcio da realidade, uma das notas mais salientes é a falta do sentido do ridículo.
Também fui ler esse anuário dos milagres, no qual o Sr. Ministro da Justiça, o Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Justiça e o Sr. Secretário de Estado da Justiça (não me perguntem a diferença entre estes dois cargos) nos dão conta dos seus feitos durante este ano digno de epopeia: "o testemunho das políticas e das reformas que o governo do Primeiro-Ministro José Sócrates desenvolveu e desenvolve na área da Justiça".
São 46 páginas de maravilhas. O estilo literário é o celebrizado como guterrista: anúncios, promessas, projectos, anteprojectos, estudos, relatórios, comissões, avaliações, observatórios, unidades de missão, debate, implementação (muita), processo, procedimento, publicidade, propaganda. Muita treta, e muita peta.
Uma alma menos caridosa do que eu não resistiria a crismar a obrinha de ... Justiça de Arroto a Zurro.

Os deputados, a exclusividade, incompatibilidades e impedimentos

Do meu ponto de vista, o país ganharia com uma assembleia legislativa numericamente reduzida e composta por legisladores em exclusividade de funções.
Segundo opiniões correntes isso seria péssimo porque afastaria definitivamente da função os melhores, sendo garantido que estes optariam por fazer as suas vidas e fugiriam das responsabilidades parlamentares. Os atraídos para esse cargo seriam apenas os que não soubessem fazer mais nada, uma cambada de medíocres.
O argumento tem o seu peso, mas não se pode deixar de retorquir que o actual sistema também não tem assegurado uma composição qualitativa de impressionar. E proporciona o quadro lamentável de serem pessoas que são antes do mais advogados, empresários, professores, e outras coisas mais, a integrar em part-time o órgão de soberania detentor do poder legislativo.
Aquilo é tão pouco relevante que possa ser bem exercido em part-time? Traz prestígio e dignidade ao parlamento observar um deputado a dar umas aulas na Católica, outro a fazer alegações no Tribunal da Pampilhosa, um terceiro a tratar do licenciamento da suinicultura na Câmara da Sertã, e outros tantos ocupados em biscates vários?
E os que são advogados ou sócios de sociedades de advogados, podem livremente exercer o seu cargo político quando ali quotidianamente são tomadas decisões que afectam os seus principais clientes?
Falemos sério: um deputado não deveria poder receber a nenhum título pagamentos de outra origem que não fossem os constantes da folha mensal da sua remuneração.
Um sujeito que é administrador do grupo do Belmiro, ou alguém que tem um vencimento pago pelo Roquette, ou um outro a quem Américo Amorim tenha nas listas como seu empregado, não pode considerar-se apto a desempenhar com independência e isenção o cargo político em causa.
Aquelas funções são das tais que exigem o ser e o parecer.
Como encarar situações em que um deputado/advogado se bate valentemente por uma amnistia para os condenados das FP-25 de Abril, sendo mandatário de alguns desses arguidos no processo respectivo? Um advogado que não consegue os seus objectivos no tribunal e vai tentar resolver o assunto por outra via... Já passou muito tempo, mas passou-se. E como encarar a situação de um deputado que é administrador da Iberdrola, e tem direito a intervir, como se nenhum interesse tivesse no assunto, na definição da política energética nacional?
Até ao presente, quando das várias ocasiões em que isso esteve em debate, nunca foi possível alcançar nada de positivo nesta matéria: nem em matéria de exclusividade, nem quanto às incompatibilidades, nem, mais modestamente, no que respeita a impedimentos - em que ainda recentemente a Comissão de Ética se distinguiu por prodígios de equilibrismo.
Pelos vistos, por si mesma a Assembleia recusa reformar-se quanto a esses pontos.
Consequentemente, continuaremos a assistir, de vez em quando, às dificuldades que agora ressaltaram em assegurar as presenças e a assiduidade necessárias. Compreensivelmente, se pensarmos que eles estão deputados, mas a sua vida é outra. E têm sobretudo que fazer pela vida.

As faltas dos deputados

Começo por esclarecer que sou contrário a qualquer sistema de controlo das faltas dos deputados como têm sido sugeridos: a existência de relógios de ponto, de folhas de presença, de chamadas no princípio, no meio ou no fim, parecem-me práticas de todo incompatíveis com a natureza da função.
Um deputado é titular de um órgão de soberania: o modo como exerce o seu mandato tem que ser da responsabilidade do próprio, sujeito apenas ao consequente julgamento político.
A instituição de mecanismos burocráticos de controle das presenças confunde o mandato parlamentar com qualquer vínculo de nartureza administrativa, como se os deputados fossem funcionários.
Acrescento que esse equívoco tem contribuído muito para os males que sobressaíram à evidência nos últimos dias. Como não tem sido politicamente possível estabelecer remunerações condignas para os cargos políticos, os titulares não se têm importado com isso: dão a volta à situação criando modos alternativos de aumentar os rendimentos, como é o caso das caricatas senhas de presença, ou dos subsídios de deslocação, ou para reintegração, ou as reformas a curto prazo, e mais uns quanto truques de expressão pecuniária.
Pense-se no absurdo das senhas de presença: o titular de um cargo que teoricamente tem uma remuneração fixa recebe compensação diária por comparecer no local onde o seu cargo o obriga a estar.
Essa forma habilidosa de duplicar o rendimento mensal trouxe com ela as inevitáveis assinaturas de presença, com as conhecidas práticas de assinar e ir embora, ou ter sempre quem assine. Tal como os subsídios compensatórios por viver longe tiveram a consequência inevitável de muita gente, apesar de a todos ser conhecida moradia em Lisboa, passar a ter residência oficial declarada a mais de 100 km. da corte.
Qual a minha proposta? Obviamente a abolição de todos esses complexos esquemas de captação de vantagens patrimoniais, com a inerente fixação de um estatuto remuneratório adequado à dignidade da função (o que implicaria também a definição de um regime de incompatibilidades a sério, a que se tem fugido até ao presente).
Creio que as reformas que aponto bastariam para acabar com o espectáculo triste de ver membros de um órgão de soberania a ir a correr todos os dias ao Parlamento só para assinar e ir embora, ou ter um amigo para o fazer quando isso não lhe seja possível, a fim de não perder a retribuição diária e o valor da senha de presença.
Alguns cépticos estarão a dizer que por este modo se atingiria uma situação em que só estaria presente quem quisesse, sem que as ausências tivessem consequências. Não é verdade: recordo que as minhas sugestões se enquadram numa visão geral do que deve ser o parlamento e a carreira parlamentar, e nesta se inclui por exemplo a exclusividade da função, através de um rigoroso regime de incompatibilidades. O deputado teria realmente que passar a ser um deputado, e não apenas o detentor de uma sinecura que soma à sua actividade principal. E, aliás, em muitos outros órgãos, começando pelo Conselho de Ministros, inexiste folha de presenças ou registo de faltas, e todavia os seus membros estão normalmente presentes.
O problema das presenças coloca-se em relação às votações: as leis, as resoluções, as deliberações ou as simples moções da Assembleia da República têm realmente que exprimir a vontade desta, e para isso tem que respeitar-se o quorum adequado.
Mas aqui não existe dificuldade alguma: basta introduzir um sistema de voto electrónico presencial, que seja pessoal e intransmissível, para que em qualquer votação surja de imediato a lista nominal dos deputados votantes. Claro que nas circunstâncias actuais ninguém deseja esta solução (nem os deputados nem as direcções dos grupos parlamentares). Todavia, parece-me incontestável que assim se garantiria inevitavelmente a presença dos parlamentares, por essa forma responsabilizados individualmente pelo que votavam ou não votavam, em todos os momentos relevantes. Creio sinceramente que a ser assim ainda iríamos ver não apenas os deputados sempre presentes (porque nisso teriam interesse próprio e porque desse modo as direcções partidárias que os nomeiam não poderiam prescindir da sua presença) como provavelmente situações em que deputados a arder em febre seriam obrigados a saltar da cama e ser levados ao parlamento - porque o seu voto seria indispensável.

Imposture égalitaire

Como poderão verificar, tem tanto interesse em Portugal como em França (ainda que de forma menos imediata). Reproduzo aqui a última crónica do escritor e editor Philippe Randa, centrada em acontecimentos recentes. (www.philipperanda.com)


La récente pantalonnade – comment appeler autrement un tel non-événement comme le vote du Contrat Premier Embauche, suivi de son piteux «remplacement» – aura au moins eu le mérite de déballer en place publique la médiocrité d’une partie de notre belle jeunesse: c’est pour une plus grande «sécurité» de l’existence que des milliers de lycéens ont manifesté… quitte à se faire dépouiller et tabasser par quelques hordes de plus jeunes qu’eux, voyant là l’opportunité de s’approprier sans trop de risque leurs téléphones portables. En voilà au moins à qui le CPE aura apporté quelque chose.
Luc Ferry, passé de la Philosophie au Ministère de l’Éducation nationale pour échouer finalement au Conseil économique et social, écrit fort justement(1): «Les organisations de jeunesse, qui naguère encore se voulaient intrépides, audacieuses, voire révolutionnaires, incarnent désormais, si l’on ose ce paradoxe, l’avant-garde du conservatisme».
Et face à ce consternant constat, comment réagit nos gouvernants? Là encore, Luc Ferry écrit assez justement: «Un ministère est comme un cheval: on peut s’en servir pour aller quelque part, mais si l’on se trouve dans un jeu qui s’appelle le rodéo, mieux vaut avoir compris que le but de l’opération n’est surtout pas d’aller d’un point à un autre, mais de rester coûte que coûte sur la bête. Comme le cow-boy qui épouse les mouvements de l’animal, le politique professionnel se contorsionne
pour coller aux ondulations d’une opinion d’autant plus tyrannique qu’elle est amplifiée de façon délirante par la société médiatique».
Reconnaissons au moins à cette jeunesse-là qu’elle n’est pas complètement responsable de sa médiocrité. Pourrait-elle se comporter autrement en ayant été élevée, à défaut d’éduquée, dans la confusion des valeurs et le mensonge délibéré des réalités.

Des bouts de papier dévalués
Gérard Aschieri, le Secrétaire général de la FSU, présenté comme le premier syndicat enseignant, pose(2) cette question: « Voulons-nous, oui ou non, faire réussir tous les élèves ou préférons-nous en abandonner certains parce que la réussite pour tous revient trop chère?»
La réponse est évidente, encore faudrait-il s’entendre sur la notion de «réussite». Peut-elle être la même pour tout le monde? Évidemment, non! et c’est là le mensonge délibéré asséné depuis tant d’années car le niveau de «réussite» ne peut l’être qu’en fonction des possibilités de chacun.
On commence seulement à prendre conscience des dégâts de la politique officialisée par Lionel Jospin – mais en fait mise en œuvre depuis plusieurs décennies – pour que 80 % d’une génération parvienne au niveau du bac.
C'est précisément cette volonté de «réussite pour tous» qui a provoqué «une inflation des diplômes et un écart croissant entre ces bouts de papier dévalués et la compétence réelle».(3)
À une époque que les moins de vingt ans ne peuvent pas connaître, alors que le baccalauréat valait encore quelque chose, on pouvait néanmoins réussir dans la vie sans en être titulaire. Aujourd’hui, il ne vaut plus tripette, mais on a rendu sa détention obligatoire pour légitimer l’imposture égalitaire.


Notes
(1) Le Figaro, «débats Opinions», 6 avril 2006.
(2) Le Point du 13 avril 2006.
(3) Jean-Paul Brighelli, agrégé de lettres et auteur du pamphlet à succès La Machine à crétins, cité dans « Dans les coulisses de la “fabrique à chômeurs”», Cécilia Gabizon et Marie-Estelle Pech, Le Figaro, 14 avril 2006.

quarta-feira, abril 19, 2006

Terras do Barbadão


Photos de Veiros, e Diário de Blogdo.

Festas dos Prazeres


São sempre pela pascoela; este ano calham no fim de semana que vem, ali na Boa Nova, por Terena, a caminho do Alandroal.

Fim de semana


Encontro de Blogues em Alvito

Parada de estrelas

Novidade apanhada no blogue de Miss Pearls:
Sexta-feira 21 de Abril às 18h30m. há evento blogosférico no Palácio Galveias.
Trata-se de uma Mesa Redonda com a participação de Francisco José Viegas (Origem das Espécies), Catarina Campos (100 nada, Devagares, O meu filho e eu e Sociedade Anónima), João Villalobos (Prazeres Minúsculos), Rui Branco (Adufe), Ana Cláudia Vicente (Quatro Caminhos e Amigo do Povo) e da própria Miss Pearls.
O local é a Biblioteca Municipal Central, no Palácio Galveias, Largo do Campo Pequeno, em Lisboa.
Os temas em discussão:
- A dicotomia autor/editor e a questão da validação dos conteúdos;
- Novos caminhos da informação e de debate;
- O uso integrado das tecnologias ao serviço da criatividade;
- O uso de blogues na educação e no desenvolvimento do gosto pela escrita.

Um must.

Olivença-Portugal


Saiu o boletim Olivença-Portugal referente a Março de 2006, e já está disponível na net.
Uma edição do Grupo dos Amigos de Olivença.

Tocar de Ouvido

De dia 29 de Abril a 1 de Maio, Évora recebe o Tocar de Ouvido - Encontro de Tocadores Tradicionais.
Este evento reúne tocadores de várias gerações, para três dias de aprendizagem de vários instrumentos de música tradicional: Canto, Concertina, Flauta de Tamborileiro, Gaita-de-fole, Percussões e Viola da Terra.
O Encontro visa uma passagem directa daquilo que são músicas tradicionais e técnicas instrumentais contidas nos repertórios dos tocadores mais antigos, para músicos mais novos - que possam de alguma maneira dar continuidade àquilo que são as tradições musicais das várias regiões e instrumentos.
Para tal, cada oficina conta com a presença de um Tocador tradicional, um músico que transmite não só as técnicas de execução, mas também a sua experiência e história de vida, bem como o conhecimento dos contextos da tradição.
Para além das oficinas, o programa deste evento inclui muito mais actividades: uma Feira de Construtores de Instrumentos, Encontros-baile nocturnos, Palestras, Exposições e ainda Oficinas para crianças. Tudo isto decorrerá no interior da cidade de Évora, no recém inaugurado Espaço Celeiros (antigos celeiros da EPAC).
O Tocar de Ouvido é organizado em parceria pelas associações Pédexumbo, Gaita-de-foles e D'Orfeu, com a participação especial da Asociación Cultural de Tamborileros Norte de Extremadura Santiago Bejar (Espanha).
Todas as informações estão disponíveis na Associação Gaita de Foles.

terça-feira, abril 18, 2006

Governo quer deslocar prisões para a periferia das cidades?

O título supra, sob a forma afirmativa e não interrogativa, repetia-se na imprensa da manhã de hoje.
O leitor conhecedor da localização geográfica dos estabelecimentos falados olhava para o texto da notícia e quedava-se intrigado: deslocar para a periferia Pinheiro da Cruz? Deve haver lapso... Na verdade não há lugar mais longe de tudo do que Pinheiro da Cruz... será lapso?
Não, não parece haver lapso nenhum. Com efeito Pinheiro da Cruz é uma propriedade vastíssima que ocupa um espaço privilegiado da costa alentejana, logo abaixo das zonas da Comporta e Carvalhal, e de há muito que o sítio é alvo de todas as cobiças. Imagine-se, centenas de hectares de terreno praticamente virgem, com praias extensas contíguas a pinhais e montados intactos... A Câmara de Grândola há anos que fazia pressão sobre o Ministério da Justiça, pressionada ela própria por interesses poderosíssimos, para que a cadeia dali saísse.
O que a notícia trata, portanto, não resulta da preocupação louvável de retirar as prisões de dentro das cidades (ideia que me parece de elementar bom senso, como seria retirar os quartéis e outras instalações militares dos centros urbanos).
O que na verdade se anuncia é uma gigantesca operação imobiliária/financeira, que engloba os terrenos de Pinheiro da Cruz e das Penitenciárias de Lisboa e Coimbra - tudo com um valor de mercado incalculável.
Diga-se que isto em si não me parece passível de censura apriorística: o Estado tem o direito e o dever de procurar a rentabilização do seu património, maxime do seu domínio privado, e a procura das melhores soluções no que respeita às prisões ou às finanças do Ministério constitui uma competência normal do Ministério da Justiça.
O que espanta é como um plano de natureza essencialmente financeira aparece ao público embrulhado nas citadas preocupações altruístas de afastar para as periferias as cadeias, tentando transmitir a impressão que o motor dos projectos é a intenção generosa de libertar os citadinos de tais pesos - mesmo de Pinheiro da Cruz, que é uma zona de pinhal e montado bem servida de praias. Ora o que é voluntariamente embrulhado deixa dúvidas quanto à transparência.
(E ainda há quem duvide que há centrais e há assessores a produzir informação..).
Para boa compreensão dos projectos ministeriais é preciso, como de costume, ler devagarinho, inculindo as entrelinhas.
Veja-se bem o que diz a notícia do "Público" (e tentemos adivinhar que negócios estaremos para ver).

O Governo vai deslocar as prisões de Lisboa, de Coimbra e de Pinheiro da Cruz para a periferia e está a estudar a hipótese de atribuir alguns serviços dos guardas prisionais a entidades privadas, noticia hoje o "Diário Económico".
O diário adianta que a transferência dos estabelecimentos prisionais - que deverá começar já este ano, com a deslocação da prisão de Coimbra - vai acontecer através da permuta de terrenos. Em declarações ao "Diário Económico", o ministro da Justiça, Alberto Costa diz que "o plano que está na base deste estudo consiste em libertar as grandes cidades dos estabelecimentos prisionais".De acordo com o governante, "outra das vantagens de permuta é que torna mais fácil a associação da operação de alienação a um contrato de parceria público-privada. Porque a ideia é permutar os actuais espaços prisionais em troca da construção de novos espaços".O Ministério da Justiça está também a estudar a redefinição das funções da guarda prisional, que poderá passar por entregar ao sector privado algumas dessas funções."O estudo pretende classificar e avaliar as funções do guarda que poderiam, eventualmente, ser desempenhadas por empresas de segurança. A vigilância é um bom exemplo", explicou Alberto Costa.

A parlamentarização da magistratura (3)

No seguimento dos anteriores, aqui vai um artigo do "Diário de Notícias" de hoje, assinado por CRL, que ilustra às mil maravilhas o que toscamente procurei dizer. Leia-se, com olhos de ler e entender (o que se diz e o que não se diz).
Membros indicados pelo PSD decidem nomeação para PJ
A nomeação do juiz José Moreira da Silva para director adjunto da Polícia Judiciária pode estar presa pelo sentido de voto dos três nomes indicados pelo PSD para o Conselho Superior da Magistratura (CSM). Este órgão vai realizar na próxima quinta-feira um plenário extraordinário para discutir a nomeação. E nesta reunião já estarão presentes Laborinho Lúcio e Costa Andrade, na qualidade de membros indicados pelo actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. A antecipação do plenário (agendado para 2 de Maio) deveu-se, ao que o DN apurou, à controvérsia gerada no seio do CSM pelo facto de o vice-presidente, juiz-conselheiro Santos Bernardino, estar a contactar telefonicamente os membros do CSM indicados por Jorge Sampaio (o juiz-conselheiro Sampaio da Nóvoa e Guilherme da Palma Carlos) para recolher a sua posição quanto à escolha do juiz José Moreira da Silva para director adjunto da PJ. Aliás, como o próprio Santos Bernardino admitiu ao DN (ver edição de 13 de Abril). A correlação de forças, segundo fonte do CSM, estará muito equilibrada entre os votos favoráveis e contra a nomeação. É que se a um bloco de cinco juízes, que se preparam para votar contra, se juntarem os votos dos três membros indicados pelo PSD - Eduardo Vera Cruz Pinto, José Luís Moreira da Silva e João Calvão da Silva -, a nomeação pode ser chumbada ou, de acordo com um segundo cenário, passar por uma diferença de um ou dois votos. Até porque não são conhecidas as posições que Laborinho Lúcio e o penalista Manuel da Costa Andrade tomarão. Sendo certo que, daqueles três elementos, Eduardo Vera Cruz Pinto tem assumido no CSM uma posição contra as comissões de serviço dos juízes. "Sempre votei contra as comissões de serviço quando não está expresso na lei que deva ser um juiz a exercer o cargo. Podem afectar a dignidade estatutário- institucional da magistratura judicial, não tendo a ver com a sua formação para o exercício da judicatura ou para a melhoria do serviço público de justiça", disse Eduardo Vera Cruz Pinto, numa declaração de voto a propósito da nomeação do juiz Antero Luís (em Outubro de 2005) para a direcção do Serviço de Informações e Segurança (SIS). A escolha do Governo deverá contar com os votos favoráveis dos elementos indicados pelo PS e por alguns juízes, entre os quais o vice-presidente do CSM, Santos Bernardino. O grupo de cinco juízes, do qual fará parte o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, conselheiro Nunes da Cruz, deverá alegar na respectiva declaração de voto que o processo de demissão do juiz-conselheiro Santos Cabral não foi o mais transparente, assim como não deverão aceitar o facto de um juiz, José Moreira da Silva, estar na dependência de um magistrado do Ministério Público, Alípio Ribeiro. A reacção negativa dos juízes a uma nomeação do Governo para a PJ não é uma novidade no CSM. Já em 1999, na sequência da demissão do então director nacional Fernando Negrão, o CSM não aprovou a escolha de Santos Cabral, escolhido pelo então ministro da Justiça Vera Jardim. José Moreira da Silva é actualmente juiz no círculo de Vila Franca de Xira. Passou pelos tribunais de Paredes, Penafiel e por uma comissão de serviço no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

A parlamentarização da magistratura (2)

Para melhor compreensão da novela que segue, parece-me útil recordar que o Conselho Superior da Magistratura é composto por um total de 17 membros, não contando com o Juiz-Secretário, que não vota.
Assim: o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça é por inerência o Presidente do Conselho Superior da Magistratura, e a eles juntam-se dois vogais designados pelo Presidente da República, sete vogais eleitos pela Assembleia da República, e sete vogais eleitos pelos Magistrados Judiciais (destes, um tem que ser juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e exercerá as funções de Vice-Presidente do CSM, dois têm que ser Juízes dos Tribunais de Relação, e os restantes quatro são Juízes de Direito, um por cada distrito Judicial). Acrescente-se o Juiz-Secretário, que como decorre do nome só secretaria.
Da análise desta composição logo pode deduzir-se o essencial: os sete vogais nomeados pela Assembleia da República têm na prática resultado de uma negociação entre os partidos de governo. O PS indica os seus, e os PSD indica os seus. Têm sido sempre uns políticos de formação jurídica, com mais ou menos ambições no sector- como era de esperar. E os dois vogais nomeados pelo Presidente da República reflectem também a fonte da nomeação: com Sampaio eram uns, agora há uns dias entraram os dois cavaquistas.
Em suma: o CSM, pese embora o verniz inevitavelmente cultivado por todos (noblesse oblige) parlamentarizou-se. As votações, sobretudo quando se sai das banalidades e se entra em questões politicamente candentes, tendem a reproduzir a Assembleia da República (ou o Tribunal Constitucional, que é a mesma coisa).
Alguns leitores estarão a objectar que ainda assim os nove membros de origem imediatamente política, no sentido de exterior à magistratura, só fariam a maioria se votassem todos em consonância, o que dificilmente acontece dada precisamente a origem das respectivas indigitações. Pois é. Mas será que os mesmos leitores não estarão a ver que os sete que são eleitos entre os seus pares nem sempre estão isentos do vírus que a partidocracia instila onde quer que se instale? Lembrem-se do escândalo do dia seguinte às últimas eleições legislativas; aquele senhor que apareceu em todas as televisões e jornais ostentando um cachecol do PS, na sede do PS em Leiria, aos pulos de alegria, abraçado ao Dr. Alberto Costa, actual Ministro da Justiça, é o Conselheiro António Santos Bernardino - precisamente o actual Vice-Presidente do CSM.

A parlamentarização da magistratura (1)

A propósito da nova direcção da Polícia Judiciária, tudo indica estarmos à beira de uma nova crise "político-judicial", com grande expressão pública e grave dano para o que vai subsistindo do "Poder Judicial".
Recorde-se que na sequência da agitada queda da anterior direcção da PJ o Ministério da Justiça anunciou já uma nova direcção para a PJ, que inclui um juiz colocado em Vila Franca de Xira.
O Estatuto dos Magistrados Judiciais prevê essa possibilidade de nomeação de juízes em comissão de serviço extra-judicial, subordinando-a porém à prévia autorização do Conselho Superior da Magistratura. Ora quem pode autorizar pode não autorizar...
Diga-se desde já que essa previsão legal se vem mostrando, cada dia mais notoriamente, uma porta aberta para a desestabilização e desprestígio da magistratura, para além do evidente prejuízo para a gestão corrente do pessoal (numa carreeira onde é premente a falta de gente como justificar que se desviem umas dezenas de unidades para fora das suas funções específicas?) - pelo que bem se justifica a sua abolição pura e simples (creio que a última voz a pronunciar-se neste sentido foi a do Prof. Jorge Miranda, e falou bem).
Com efeito, os políticos vêm usando os juízes exactamente como o fazem os patrões do futebol: para dar uma imagem de isenção e independência sempre que lhes convém a imagem sem que a ela corresponda conteúdo algum. Deste modo, da mesma forma que há sempre uns juízes disponíveis para integrar órgãos de fiscalização de clubes e federações que, quando a porca torce o rabo, logo se verifica que nada fiscalizavam, assim aparecem uns juízes de nomeação governamental para umas direcções-gerais, ou cargos de direcção policial, tipo PJ, SEF, SIS, até PSP, ou ainda comissões do género Alta-Autoridade para isto ou aquilo.
Por outro lado, há sempre umas dezenas de juízes - que ao que penso se julgam muito mal empregados nas suas funções - que estão disponíveis para tais nomeações. E, como o mal já vem muito de trás, não faltam exemplos de quem tenha feito toda uma carreira em cargos exteriores à judicatura - ou seja, vem a reformar-se como juiz sem, praticamente, nunca ter permanecido efectivamente nos tribunais.
Lembro-me de há uns anos ler nos jornais o curriculum de um senhor que atingia os 70 anos, sendo Presidente do Conselho de Administração da RTP, e no curriculum constava uma lista de 17 ou 18 tribunais onde o tal senhor teria servido. O leitor ingénuo ficava enganado: na maioria desses 17 ou 18 tribunais o referido Sr. Conselheiro nunca tinha ido, nem para tomar posse. Na realidade passou a vida em comissões de serviço, políticas todas elas. E todavia tinha percorrido todo o "cursus honorum"!
O certo é que este mal, que como se disse já vem de longe, se tem vindo a agravar mais e mais; e tornou-se evidente que se formaram no seio da magistratura uma espécie de bolsas de juízes a que o PS e o PSD, à vez, recorrem quando querem fazer o habitual número do cidadão independente. A par dos juízes que estão nos tribunais com os olhos postos nos próprios tribunais coexistem aqueles que lá estão a suspirar pela nomeação governamental.
Trate-se pois de revogar a norma; comissões de serviço, que as haja dentro do serviço, quando o serviço o justifique. São um instrumento de gestão necessário. Quanto a comissões de serviço extra-judicial, que se acabe com a figura. A magistratura não se compadece com situações de ser e não ser.
Ao mesmo tempo, que se clarifique devidamente a incompatibilidade das funções judiciais com os cargos futeboleiros - dando ao Conselho Superior da Magistratura a força que lhe tem faltado para impedir essa fonte de equívocos, anedotas e escândalos.

Agenda de hoje

Hoje dia 18 de Abril de 2006, às 18.00 horas, na Sala D. Henrique o Navegador, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, na Palma de Cima, terá lugar uma sessão pública de apresentação, presidida por João Carlos Espada, do livro de André Azevedo Alves "Ordem, Liberdade e Estado", que se propõe a ser uma reflexão crítica sobre a filosofia política dos economistas Hayek e Buchanan.
Por seu lado, a Juventude Popular de Odivelas promove também neste dia 18 de Abril de 2006 pelas 21.30 horas um debate com as presenças de Marcelo Rebelo de Sousa e de José Ribeiro e Castro, sob o tema " Constituição - 30 Anos Depois". O evento realiza-se no Auditório dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Odivelas sita na Quinta da Memória, Rua Guilherme Gomes Fernandes, em Odivelas.

segunda-feira, abril 17, 2006

Novo livro de Rodrigo Emílio

Matando a Sede nas Fontes de Fátima - O livro é uma admirável sequência poética mariana, e conta por epígrafe com um extraordinário elóquio de António Manuel Couto Viana, e ainda com um posfácio de Silva Resende.
Uma obra verdadeiramente antológica, editada por Antília Editora.
Antília Editora Lda. - Rua 15 de Novembro, 43 - 2.º 4100-421 Porto, Telef. 226068828
Email: antiliaeditora@gmail.com
Leia, ouça, conheça e encomende Rodrigo Emílio em http://www.rodrigoemilio.com/.

Fim-de-semana em New York

Para que não se perca nas páginas ignotas do obscuro semanário que ninguém lê, reproduzo aqui uma crónica de Jaime Nogueira Pinto onde anota as impressões de viagem, no regresso de Nova Iorque. Com os melhores cumprimentos ao Expresso, e votos de prosperidade. Não tem de quê.

AMÉRICA: RADICAIS LIVRES
Fim-de-semana em Nova Iorque: as avenidas rasgadas norte-sul, com os «yellow cabs» precipitando-se do «upper east side» para «down-town», como uma força de blindados ligeiros à desfi­lada, ao abrir do verde; lá em cima nuvens brancas, douradas, ensolaradas, atrás do cinzento forte dos arranha-céus; na rua, estas multidões multiétnicas culturais, este «bom dia Babilónia» das elegantes entre o Pierre e o Metropolitan Museum, dos polícias negros e dos hispânicos obesos de Times Square aos visitantes «cowboyescos» do Sul e do Oeste pro­fundos, aos mendigos das escadas de St. Patrick, tudo nos mesmos passeios, nos mesmos espaços, à porta da «sopa dos po­bres» ou do Bergdorff-Dorman. Esta é a cidade da nossa memória do cinema - ­com Brooklyn, New Jersey, Long Island do W. Allen de Radio Days e e Oedi­pus Wrecks, das «tribos» e gangues de Cotton Club e Hoodlum e, sobretudo, daquele Verão longínquo de 1945, em que D. Vito Corleone casou a fIlha Lucy e Mi­chael Corleone voltou da guerra fardado de capitão dos «marines» ...
Duas exposições, uma no Moma - de Edward Munch, The Modern Life of the Soul - sobre o pintor norueguês de O Grito, um itinerário dos temas e fantasmas de um Norte burguês, de luzes, noites e praias frias, com uma abertura ao fan­tástico e a uma pintura metafísica, simbó­lica, entre os pré-rafaelitas e De Chirico. No Metropolitan, um paisagista inglês do século XIX, Samuel Palmer, pintor do campo, das nuvens, de temas bíblicos e pastorais, um rigor renascentista de traço e uma espiritualidade pré-vitoriana, em que a ordem externa das coisas reproduz a ordem interior do autor e da Criação.
Esta ordem e harmonia não existem hoje na política americana. Em Washing­ton, já numa Primavera quente, encon­tro uma sociedade ideologicamente divi­dida, com fracturas por «causas» ; enquan­to na Europa reina o «centrão» social-de­mocrático, do centro da esquerda ao cen­tro da direita, meio-céptico, meio-capita­lista, meio-social, meio-político-correc­to, não-afirmativo, «federal» e «atlântico» quanto baste, e sobretudo sem compromisso fora das banalidades admissíveis e admitidas por todos, a América é hoje uma sociedade ideologicamente plural, isto é, com alternativas: dos «nacio­nal-isolacionistas» anti-Bush e antigloba­lização, como Pat Buchanan e o seu Ame­rican Conservative, aos radicais comunis­tas à Chomsky; dos judeus conservado­res do «Commentary» aos judeus liberais e anti-sionistas tão fortes nas artes e no cinema; dos intelectuais cristãos de First Things, de Richard John Neuhaus aos esquerdistas do «The Nation», aos li­berais intervencionistas da «New Repu­blic», aos neoconservadores da «Weekly Standard», ou aos direitistas do «Ameri­can Spectator»; toda esta gente, pensa, escreve, publica, discute, debate, comba­te, por ideias, afirmando-as com radicali­dade e frontalidade. Livremente.
Um dos exemplos deste clima é a «vi­ragem» de Francis Fukuyama, cele­brizado nos finais da Guerra Fria pela sua teoria-profecia de um novo «fim-da-História», actualizando o Hegel pos-Con­gresso de Viena. A questão é que Fukuyama - um dos símbolos do movimento neoconservador, identificado por ex-trotskystas vindos para a direita, co­mo Irving Kristol e Norman Podhoretz, ou homens políticos das Administrações Reagan e Bush Jr. como Richard Perl e Paul Wolfowitz - rompeu com a «família»; fê-lo em America at the Crossroads (Yale University Press, New Haven, 2006), o que lhe valeu duríssimas e até injuriosas críticas de um Charles Krauthamer ou uma educada mas dura recensão de Aaron L. Friedberg, no «Commentary» de Abril.
Porque entre as «direitas» americanas há muitas e diversas posições quanto à polí­tica externa e ao Iraque: os realistas da esco­la de Kissinger e de Brent Showcroft, que escreve em «The National Interest», acham os neoconservadores uns missioná­rios fanáticos e falhados da democracia. Os conservadores tradicionais respeitam a reli­gião e a história (dos outros, incluindo dos Árabes) mas hesitam entre os «neocons» e os «realistas». Mais radicais, os nacio­nais-populistas, ao modo de Pat Buchanan, consideram a guerra do Iraque uma estupi­dez inútil e defendem o «America first» integral. E uma figura de referência, William B. Buckley, o fundador da «National Re­view», confessa que se soubesse o que sabe hoje, não teria apoiado a guerra do Iraque. Os neoconservadores, no «Commentary» de Neil Kozodoy e no «Weekly Standard» de William Kristol, continuam firmes no princípio da democratização global, como interesse dos Estados Unidos, superpotên­cia democrática. Contam com solidarieda­des fortes, como o historiador militar Vic­tor Davis Hanson; ou, na direita conserva­dora, com outra referência central do movi­mento - Ed Feulner, presidente da Herita­ge Foundation.
A divisão ideológica e estratégica é profunda na direita, mas, entre os democratas, também se repetem estas li­nhas divisórias quanto às guerras do Is­lão, de Israel, e às bases de uma política internacional (e de uma geopolítica) nor­te-americana para o século XXI que te­nha resposta para questões como o que fazer com o Islão, a China, a Rússia e Israel; ou a identidade americana, levan­tada pela imigração. Leiam-se, por exem­plo, «The New Yorker» e «Atlantic ... »
Há 40 anos, esta «Life of the Mind», esta vida das ideias e das contra-ideias, esta paixão espiritual pelas causas, ou, para os ideologicamente mais cépticos, a preocupação e o gosto de ler, de pensar, de ra­cionalizar, de debater, de atacar, de defen­der, alternativas sociais, personalidades históricas, princípios abstractos, era mais um apanágio da Europa e da política euro­peia. E dos americanos, dizíamos que de­mocratas e republicanos eram mais ou me­nos a mesma coisa e que as suas discussões políticas se ficavam por subtis diferenças na política exterior, ou então por mais ou menos «country club» ou «main street», na origem ou no enquadramento social.
Hoje, trocaram-se as realidades e os papéis: os moderados conformados do centrão são os europeus. Na América vivem os radicais livres. Sorte deles!

domingo, abril 16, 2006

Christopher Lasch


Christopher Lasch, visto por David Levine.
Destaque hoje para uma interessante introdução a Christopher Lasch apresentada por Rodrigo Nunes: Christopher Lasch, a direita, o povo e as elites.
Para mais desenvolvimentos, podem partir deste resumo internético das páginas sobre Lasch.

Rumo a Alvito


ENCONTRO DE BLOGS

Estevas, com Guadiana ao fundo

Ó terra das claras vilas com cegonhas...





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Uma velha interpretação do rancho da Casa do Povo de Portel.

Um abraço para Portel

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Da 1ª Guerra Mundial: A Lenda do Piave.

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Da 2ª Guerra Mundial: Das SS Lied.

sábado, abril 15, 2006

Da virtuosa blogação, ou os mandamentos do bloguismo

Actualizações constantes, combinação adequada de texto, imagens e som, utilização sistemática de hiperligações, interactividade com o público destinatário - quantos são os bloguistas que procuram de forma metódica explorar o potencial do utensílio que têm em mãos?
A verdade é que em regra os bloguistas não conhecem o seu público, nem o que têm nem o que poderiam ter, e nem sequer lhes ocorre essa preocupação. Todavia, conhecer esse público, identificá-lo, entender a sua composição, as suas motivações, os seus interesses, os seus gostos e insatisfações, seria crucial para o bom sucesso da empresa.
Certo é porém que para além da intuição, de algumas impressões, do feed-back que exista, são escassos os instrumentos para alcançar essa finalidade.
Recorre-se aos contadores de acessos, verificam-se o número de visitantes e de visitas, observam-se as páginas que agradaram ou que ficaram na indiferença, seguem-se os desabafos dos comentadores, mantém-se um olho no blogómetro - objecto fundamental para nos medirmos com o próximo, e o próximo nos medir a nós, segundo critérios democráticos - e tudo isto deixa-nos com uma ideia imperfeita e insatisfatória do que se pretendia saber.
Um conceito ficou entretanto esquecido na poeira do passado: que um blogue seja por natureza algo de pessoal, no sentido de íntimo, particular, do autor para consigo mesmo. Que seja pessoal é sempre possível (este, por exemplo, é-o sem dúvida, na acepção de que é apenas da responsabilidade de quem o faz, e exprime tão só pontos de vista, pensamentos ou posições próprias, que não vinculam mais ninguém nem têm a pretensão de representar mais do que a expressão individual do autor). Todavia, que é feito para os outros e que possui por isso um público destinatário, mais ou menos definido, isso também parece ser um ponto que ficou assente pela experiência da vida da blogosfera. Um blogue é um meio de comunicação, com emissores e receptores, logo com mensagem, estando já longe o tempo em que se falava de um "diário em linha" como se se ficcionasse uma forma diferente de manter um diário, no mais idêntico ao que se escreve solitariamente em monólogo interior e se guarda à chave na gaveta do quarto.