terça-feira, janeiro 31, 2006

98 anos depois

Dia 1 de Fevereiro

Por iniciativa da Real Associação de Lisboa, neste dia 1 de Fevereiro, pelas 17 horas, será inaugurada uma Lápide no local do Regicídio - Ala Norte Poente do Terreiro do Paço - perpetuando as memórias de Sua Majestade El-Rei Dom Carlos e do Príncipe Real Dom Luís Filipe.
Seguir-se-á uma Missa pelas 19 horas na Igreja de São Vicente de Fora e após a Celebração terá lugar uma romagem ao Panteão Real, onde SS.AA.RR, os Duques de Bragança, depositarão uma coroa de flores junto aos túmulos dos dois martirizados.

O espectro

Se bem me lembro, ainda há pouco tempo Constança Cunha e Sá e Vasco Pulido Valente desdenhavam desta coisa dos blogues.
Não resistiram: e já temos O Espectro em linha (não é o do fascismo, mas sempre é qualquer coisinha).
E não está nada mal; para já, os liberais das várias tribos entraram num frenesim que semelha um formigueiro depois de ter levado um pontapé, e a deputação da república também levou que contar.
Acalento grandes esperanças quanto ao novo blogue: onde VPV se mete causa em geral grandes danos. E a senhora também não é boa de assoar. De maneiras que, no estado em que as coisas estão, em que só se perdem as que caem no chão, é legítimo olhar os recém chegados com esperança. Do que está é que nada se pode esperar.
Venha pois de lá este novo Espectro.

Mea culpa

"O Sexo dos Anjos" também erra! Pouco, pouco, muito pouco, mas também erra.
Ao ler a edição de hoje de "O Diabo" lá dei de caras com o desmentido: Walter Ventura não é açoreano. Fiquei um tanto constrangido, ainda por cima porque não vejo com quem me desculpar: não me lembro porque raio de motivo estava convencido dessa naturalidade, não faço ideia quem me disse ou a quem ouvi dizer. Certo é que estava há muito tempo nessa falsa convicção.
Só dei pela pela falta quando o Engenheiro deu pelo caso e me chamou a atenção (é mais velho do que eu mas tem o computador em muito melhor estado de conservação).
De modos que, não podendo descarregá-la, resta-me arcar com a responsabilidade do erro. Desculpem-me, só por esta vez (o próprio e os outros). Não foi por mal, acreditem...

Concurso Bonecos de Neve


Com um aceno amigo ao Jantar das Quartas, que está cada vez melhor.

Lembrando Jacques Faizant


As velhas senhoras: aula de desenho.

Liberdade condicional


O maior jornalista português (um metro e noventa e um sem sapatos) abandona a Cadeia Central do Linhó, onde tinha estado a conhecer a obra prisional do Estado Novo.
Saía em liberdade condicional, por bom comportamento. Incorrigível, porém, como o próprio confessava. E continuou a fumar.

Saída precária


Múrias falando no Hotel Roma, gozando a saída precária. "Uma visão democrática da Cadeia do Linhó". Era 24 de Junho de 1980, tinha sido uma conferência convocada à última hora, e a sala estava cheia - muito para além dos lugares sentados. Foi uma memorável noite de São João, com um conferencista imbatível de verve e humor. Nunca se riu tanto numa conferência sobre o sistema prisional visto de dentro (nem sei se terá havido mais alguma).

Hotel Roma, 1980


Terça-feira 24 de Junho de 1980. Aproveitando oito dias de saída precária, Manuel Maria Múrias proferiu uma conferência surpresa no Hotel Roma: "Uma visão democrática da Cadeia do Linhó".
"O Linhó era considerado uma das melhores prisões correctoras do mundo, com um elevadíssimo índice anual de recuperações; hoje em dia não recupera ninguém, ou recupera muito pouca gente, não conseguindo sequer, recuperar o conferencista, um caso tipo de criminoso nato, tal qual o descreveu o velho Lombroso nas suas tontas locubrações criminológicas".
Apresentando o conferencista/presidiário, Diogo Miranda Barbosa e Bernardo Guedes da Silva.

Na hora da despedida


23 de Setembro de 1980. O recluso n.º 257, o famigerado 3Ms, abandona a Cadeia do Linhó e despede-se dos restantes meliantes.
"Adeus, senhor Manel. Passe bem e venha ver-nos!"

Um resistente


Fotografia com 25 anos, 4 meses e alguns dias. António da Cruz Rodrigues, cabeça de lista da Frente Nacional em Lisboa nas legislativas de 1980: "Nós somos os que nunca se renderam nem rendem".

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Cavaleiro de Ferreira

Talvez pelo melancólico apelo deste tempo em que entre muitas outras crises vivemos iniludivelmente a crise do Direito, lembrei-me de um Grande Senhor: Cavaleiro de Ferreira. A foto e as palavras datam do dia da inauguração do Tribunal de Beja, em 1951. Nesta época de costas, recordemos um Homem para quem "o homem, como um povo, tanto mais se eleva e se realiza, quanto mais se dá."
Dedico o postal ao Je Maintiendrai, a ver se encontro apoio em mais alguém que ainda tem presentes estas preocupações démodées.

"O Estado não vive por si. Não se organiza, desenvolve ou aperfeiçoa, segundo leis de crescimento natural, ou pela virtude mágica de qualquer regulamentação. Resulta da acção e comportamento livre de todos nós, como nossa criação. Será o que dele fizermos.
Não é uma simples organização de repartições, uma relação entre governantes e governados, de mando e obediência. Antes de se exteriorizar assim, deve estar em nós mesmos, na consciência de todos e de cada um. O Estado polariza e conduz, coordenando-a, a acção da História na História da Nação. É esta a acção mais alta de política, enquanto actuação que nos solidariza e une no mérito e na responsabilidade da defesa do Bem Comum."
(...)

"O avanço da ciência, as realizações da técnica, habituaram-nos no último século a um progresso material, a um desenvolvimento da economia, do bem estar, do nível de vida, que criaram no homem moderno a ideia eufórica dum domínio quase absoluto sobre as forças naturais, reduzidas a seu complacente instrumento. Esse domínio objectivou-se, desprendeu-se dos seus limites morais, ou jurídicos, tornou-se fim de si mesmo como se devesse determinar os homens a agir automaticamente, pela simples lógica das questões científicas, dos problemas técnicos ou dos desígnios políticos.
Esta tendência, fruto dum optimismo enganador, originou a angústia da época presente. Toda a força, todo o progresso como fim de si mesmo tem duplo significado: pode construir ou destruir, criar o bem ou o mal. Importa encontrar para as novas possibilidades postas à disposição do homem a disciplina correspondente. E é essa a tarefa mais permente e mais difícil. O homem tem de aprender a ser senhor de si mesmo. E nas sociedades, e nos Estados como nos indivíduos.
O Estado é o modo de agir da Nação. Esse modo de agir concretiza-se numa ordem, numa estrutura jurídica, que fundamenta e justifica a sua actuação. Quanto mais se abre em possibilidades o campo de acção do Estado, quanto maior é a extensão dos benefícios que concede, dos melhoramentos que cria, das utilidades que produz, tanto mais dificultoso o esforço para enquadrar todas as novas actividades numa Ordem, todas as novas possibilidades num “etos” que as domine e limite. A moral, o direito, as instituições jurídicas, não são uma técnica ao lado de outras técnicas. Não há um direito puramente jurídico, como se preconiza uma ciência puramente científica. Não é um instrumento da administração, ou uma manifestação natural de domínio sobre as coisas ou os homens. Neste aspecto o acréscimo de poder e de força resultará normalmente do progresso; o problema dos seus limites e da sua utilização conformemente com o destino do homem, individual e colectivo, esse constitui a grande tarefa do Espírito, e a grande função da Moral e do Direito."
(Manuel Cavaleiro de Ferreira, no discurso proferido na inauguração do edifício do Tribunal de Beja, a 16 de Junho de 1951)

Outro exclusivo


Antevisão do monumento a inaugurar na gloriosa data, entre o delírio das massas populares.

Álbum das glórias


O Presidente da Associação, ensaiando a marcha do proximo 25 de Aberil.
(foto exclusiva "Sexo dos Anjos"/"Jantar das Quartas")

Paradigmas


Comentador televisivo em plena laboração.

domingo, janeiro 29, 2006

Meditando

Choque tecnológico

O novo chefe do Partido Socialista de Vila Viçosa, Dr. Chagas, explica que "A mesa do café, a Praça Pública, o canto da Comercial e até mesmo o Mercado Municipal são e têm sido ao longo de velha data locais onde os homens se encontram para falarem dos mais diversos assuntos" e, contrariando essa tradição venerável, os "blogs são espaços criados pelas novas tecnologias para que os cobardes se manifestem".
Ora nem mais! Esta definição não conhecia eu.
Logicamente, o promissor político defende que é "nos locais atrás mencionados" que "os homens discutem as suas ideias".
Desconfio que este é um inimigo interno do Dr. Zorrinho. Se puder arruina-lhe o plano tecnológico e põe-nos a todos de volta à mesa do café. E quanto a comunicação mais alargada, permitirá uns editais afixados nos sítios do costume (depois de devidamente aprovados pelas entidades competentes). Estou em crer que sim.

Neve na charneca

Há já uma meia hora que estou deslumbrado como um infante a vê-la pelas minhas janelas: a neve cai, cobrindo silenciosamente a nossa cidade como um manto branco e suave.
Há quanto tempo a não via!!!
Cá, nunca tinha visto. A última vez que, ao que dizem, aqui nevou, eu não estava cá para ver. Estava longe, levado nos caminhos da vida. E a última vez que eu a tinha visto foi há muitos Janeiros, noutros horizontes que a vida também fez meus.
Hoje o Senhor foi bom para mim; trouxe um pouco do meu planalto à minha casa da planície.

Oh Calipolense! Essa agora!

O confrade Calipolense, entre cumprimentos que agradeço penhoradamente, desejando-me felicidades para o blogue, veio pedir-me num comentário que "não chame nomes a outros... respeite apenas". E acrescenta que o "sucesso do seu blog não tem nada a ver com o seu mal dizer nem com o seu mau carácter".
Oh Calipolense! Eu não queria desmentir essa do meu mal dizer e do meu mau carácter... mas tenha paciência: eu nem entendi ao que se queria referir! Estou inocente! Esta é uma casa de respeito: nunca, mas nunca, se diz mal de ninguém. Quando não posso dizer bem, digo a verdade.

Pós-eleitoral

A guerra surda, plena de golpes baixos, em que se envolveram Sócrates, Soares e Alegre, fez-me lembrar muitas vezes uma história antiga: o Velho, o Rapaz e o Burro.
Com traços de caricatura, exagerados e acentuados até ao ridículo, mas é a velha história chapada e requentada.
Só que com um Matusalém refinadamente desavergonhado e alarve, um asno vaidoso e muito corrido, com ademanes de cavalo, e um moço deveras velhaco e patifório.

Mouzinho da Silveira

Um interessante trabalho sobre Mouzinho da Silveira, na tasca do Rui Albuquerque.
Eu agradeço a simpatia; dizem que o homem era liberal, mas também ninguém é perfeito. Ao menos era alentejano, e isso ninguém lhe tira. Toleremos, pois, também, o vício danado, ao menos uma vez, já que a qualidade em tal caso vale bem mais que a lastimável fraqueza.
E não vai ser por isto que este castelo vai tornar-se em casa de tolerância.

sábado, janeiro 28, 2006

Brueghel e a Direita

A "Queda de Ícaro" foi pintada por Pieter Brueghel, conhecido pelo Velho para o distinguir do Moço seu filho, cerca de 1558.
Está no Museu Real de Belas Artes em Bruxelas, e tem inspirado um sem número de poetas, desde William Carlos Williams a Gottfried Benn. Uns cinquenta nomes de grandes poetas, calculem, de acordo com as indicações dos especialistas, já se terão inscrito na lista dos mobilizados por esta visão do drama que se desenrola lá nos céus enquanto o mundo segue indiferente, no desabrochar da Primavera.

Como exemplo um poema de William Carlos Williams:
Landscape with the Fall of Icarus

According to Brueghel
when Icarus fell
it was spring

a farmer was ploughing
his field
the whole pageantry

of the year was
awake tingling
with itself

sweating in the sun
that melted
the wings' wax

unsignificantly
off the coast
there was

a splash quite unnoticed
this was
Icarus drowning
***************
Se a minha memória não me confunde (estou a falar de cor) foi da contemplação deste quadro que Pol Vandromme arrancou para, ele também, ir em busca de uma compreensão da Direita, e, inevitavelmente, da distinção entre Direita e Esquerda. Foi a observação daquele camponês sereno e obstinado que lavra a terra fiel aos ritos e aos ritmos do tempo e da vida, sem reparar no que se passa lá no alto, estranho ao despenhar das fantasias e alheio ao desfazer das utopias, seguro apenas do que conhece, que despertou o ensaísta belga para a sua reflexão sobre o homem de Direita e o homem de Esquerda.
Bem sei que estas especulações intelectualóides são por demais maçadoras. Olhai a pintura, então, que os olhos também comem, e esquecei o resto.

10 de Junho de 1978


A mesma manifestação, mas no final. O dispersar, na Praça dos Restauradores. Ou é da minha vista ou estou a ver o riso mefistofélico do tal açoreano da Ericeira.

10 de Junho de 1978


A cabeça da manifestação em frente à entrada da estação do Rossio, depois de passar pela Rua 1º de Dezembro.
É desta que têm falado o Jansenista e o Engenheiro.
Aqui se distingue perfeitamente o pormenor falado pelo Engenheiro: o Joãozinho (Joãzinho porque era o mais novo), que segura a faixa, à nossa esquerda, tem uma das pernas das calças arregaçadas, descobrindo a canela. Tinha levado um tiro durante a confusão do Largo Camões, mas só deixou perceber o facto no final da manifestação, nos Restauradores. Por sinal que, também segurando a faixa, que aliás ele tinha pintado, parece-me descortinar por cima do "TÓ" de vitória um futuro deputado da nação.
E para os que tiverem melhor vista: o rapaz que se está a esgueirar da foto pelo lado esquerdo é, notoriamente, um visitante habitual deste blogue que escreve num semanário com o nome do mafarrico e que pode já considerar-se o açoreano mais ilustre da Ericeira.

Mozart? Sei lá!

Pois é, se o Mozart jogasse na Bundesliga ou fosse um político qualquer...
Mas não é, e o tempo da RTP é escasso para gastar com músicos defuntos.
Sem ser o Eurico de Barros, e o seu amigo melómano, ninguém mais lamentou a falta da televisão estatal.
Tens ainda as telenovelas para te entreter, cala-te lá daí e não sejas má língua.

Alvíssaras


Para quem encontrar este livro desaparecido: saiu em 1959, foi o primeiro da imensa bibliografia sobre Tintin e Hergé, contou com a colaboração e as ilustrações do próprio Hergé, e um magnífico prefácio de Roger Nimier.
No prefácio o hussardo pinta o retrato de Hergé, "cet inventeur de la caméra-crayon-de-couleur", e no livrinho o escritor Pol Vandromme traça o percurso de Hergé e de Tintin, e dos seus próximos. No final, há uma lista de 250 personagens desenhadas...
Um luxo, que devemos a Pol Vandromme. Para quem não conheça o autor de "La droite buissonnière" e de "L'Europe en chemise", ou só conheça um bocadinho, recomenda-se a pesquisa da sua imensa bibliografia: Pol Vandromme e os seus livros.
Hélas, "Le monde de Tintin", c'est introuvable...

Évora megalítica


Portela de Mogos: a terra, o granito e a cortiça

O alentejano Cristóvão Colombo

Pelos Amigos da Cuba, tomei conhecimento que a Fundação Alentejo-Terra Mãe , através do seu presidente, Dr. José Flamínio Roza, anunciou a atribuição de um prémio de 10.000 Euros a quem apresente novas provas sobre a nacionalidade portuguesa e naturalidade alentejana do navegador e descobridor das Américas, que ainda conhecemos na História com o nome de Cristóvão Colombo.
A revista Alentejo-Terra Mãe, no seu número correspondente ao 1º Trimestre 2006, apresenta o programa de acção da Fundação para o ano 2006, onde consta já a atribuição deste prémio.
Ora ainda bem. O assunto merece o interesse de todos. Mas não era má ideia reeditar os livros de Mascarenhas Barreto, que tão pouca atenção pública merecem mesmo de quem abundantemente os pilha, como acontece presentemente com o badalado José Rodrigues dos Santos.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Temas & Debates


Quem é que já leu?

Mais uma achega para a história do nacional-sindicalismo

Continuando a série, publico hoje um artigo de Barradas de Oliveira surgido no semanário "A Rua" a 27 de Dezembro de 1979 (n.º 185).
Chamo a atenção dos leitores habituais para dois pormenores para mim da maior importância para o tema genérico em questão.
O primeiro é a afirmação peremptória de que os homens mais marcantes na criação do nacional-sindicalismo foram António Pedro e António Tinoco.
Neste ponto sempre foram insistentes as testemunhas que tenho chamado a esclarecer o caso, Dutra Faria e Barradas de Oliveira (com alguma modéstia, visto que também a si mesmos podiam ser tentados a atribuir esses méritos, dado que qualquer deles tinha tido presença importante no grupo inicial). Nunca ouvi nada nem ninguém que desmentisse que assim foi. A historiografia oficial que aponta Rolão Preto guia-se por critérios compreensíveis, mas superficiais. Para quem ignora, por fora das coisas é que elas são. Basta ver umas fotografias e uns jornais. Para quem sabe, por dentro das coisas é que as coisas são.
Posteriormente, os caminhos da vida de qualquer desses homens haviam de ser variados, e diversos. Mas isso não altera a verdade de uma época.
Realço ainda o pormenor de António Lepierre Tinoco ser o único estudante de Direito do grupo fundador do semanário "Revolução" (curso que aliás não viria a acabar). Talvez assim se explique o intrigante equívoco de nas obras mais divulgadas sobre o nacional-sindicalismno se encontrar repetida a informação de que os estudantes do grupo eram "quase todos estudantes de Direito". Em todo o caso, um não pode confundir-se com quase todos. A formação marcante era a de Letras. E se fosse prestada atenção a este facto seria mais fácil estabelecer a ligação com outros acontecimentos importantes da nossa vida intelectual dese tempo, como tinha sido o "Manifesto Contra a Literatura de Sodoma" e as polémicas daí surgidas, à roda de António Botto, em que se envolveu Fernando Pessoa.
O segundo ponto que queria sublinhar relaciona-se com a actividade intelectual de António Pedro e o seu pioneirismo na revelação em Portugal de certas correntes artísticas, de um modo que é totalmente ocultado nas versões usuais. Também já aludi a isto: para sustentar uma falsidade que consiste em atribuir os louros ao autodenominado "Papa do surrealismo" (na verdade Papisa, para saber mais exacto) é vulgar encontrar a história contada atrasada uns anos - de forma a empurrar os primórdios lá para 1940. Dá-se sempre o aparecimento em Portugal do surrealismo e correntes estéticas a ele ligadas como tendo ocorrido quando Mário Cesarinny de Vasconcelos o decobriu. Ora o certo é que quando a Maria Cesarina aí chegou (quem lhe chamava assim era o Jorge de Sena, que até era correlegionário dele, correlegionário político, que não nas paneleirices) já iam longe as primeiras aparições e tentativas artísticas dessas correntes em Portugal. Neste artigo, Barradas de Oliveira menciona o facto a propósito da pintura de António Pedro. Podia ter lembrado as experiências literárias, nomeadamente as vindas de António Pedro com Dutra Faria e Ramiro Valadão, creio que em 1934, seguindo o modelo conhecido por "cadavre exquis" - coisa estranha e nunca vista em Portugal.
Chega, por hoje, que amanhã também é dia. Aqui fica o "António Pedro e a política". (Se alguém conhecer os Drs. João Medina e António Costa Pinto, façam favor de lhes levar o texto)

António Pedro e a política
Estou a vê-lo na sala de actos da velha Faculdade de Letras, belo e terrível como um deus pagão, com a imponência e a força de sua alta estatura, o cabelo loiro quase encrespado, zupando a cavalo marinho os seus adversários comunistas e democratas.
Era em 1931. António Pedro conquistara já como poeta um nome que o tornara respeitado, mas o que nele predominava era uma ânsia de realização quase ilimitada, o que havia de colidir fortemente com uma variada riqueza espiritual a tentá-lo a dispersar-se pela poesia, pela política, pelo jornalismo, pela pintura, pela cerâmica, pela indústria, pelo comércio, pelo teatro. A par disso, uma originalidade que não afectava o seu extremado bom gosto e os encantos de conversador excepcional, com ampla compreensão dos homens e dos factos, capacidade superior de rir e de admirar e o segredo de discorrer multiplicando-se em observações inesperadas.
O deus pagão, educado pelos jesuítas em La Guardia, donde aliás fora expulso pela sua rebeldia natural, seria mais tarde, na variedade e requinte dos seus dotes de inteligência e de sensibilidade, um autêntico príncipe do Renascimento.
Andam agora a exaltar-lhe os méritos artísticos, esquecendo o António Pedro que expôs numa galeria de arte da Rua Ivens, em Junho de 1936, as suas primeiras expressões de pintura abstracta. E que pela mesma época publicava em Lisboa a tradução do “Manifesto do Dimensionismo”; corrente de arte moderna pouco antes surgida em Paris e encabeçada por um grupo de artistas de que faziam parte um inglês, um norte americano, um chileno, um russo, um polaco, um catalão, um húngaro e um português. Era este António Pedro, que havia trocado as soturnas aulas da Faculdade de Letras pelos estudos de Estética na Sorbonne.
Essa corrente artística, que muitos críticos confundiam com o Surrealismo, do qual seria já uma fase de ultrapassagem, foi a primeira manifestação de arte abstracta havida como tal entre nós. Além de erro histórico, pratica injustiça quem a esqueça em benefício de alguns pretensos inovadores que só apareceram bastantes anos mais tarde.
Mas voltemos ao deus pagão que em 1931 assentava as vergalhadas do seu cavalo marinho nos lombos dos adversários políticos.
António Pedro era nacionalista militante. O seu espírito de inconformismo activo levou-o a publicar nesse ano, com a direcção conjunta de Dutra Faria, um semanário de que saíram apenas nove números. Depois faz na Liga Nacional 28 de Maio uma conferência: "Esboço para uma revisão de valores".
No ano seguinte, alargada a equipa do semanário, é um dos cabeças do grupo de estudantes que se atiram à publicação de um diário académico nacionalista da tarde, que viria a ser um êxito. A tal ponto que os moços lhe suprimiram o atributo de “académico” e chamaram para a sua direcção uma pessoa mais velha e de nome político já consagrado: Rolão Preto.
Poucos meses depois, o jornal - de que António Pedro foi o primeiro chefe de redacção -, era ponto de partida de um movimento político onde eram evidentes as simpatias pelo Fascismo: o Nacional-Sindicalismo.
Na criação deste movimento há dois nomes a fixar, pela sua maior vinculação à iniciativa e ao processo organizativo: o de António Pedro e o de um estudante de Direito, António Tinoco, notável pela intuição política e pelas excepcionais qualidades de acção.
Tem-se levantado por vezes a questão de ter sido ou não o Nacional-Sindicalismo um movimento fascista. Há quem diga que sim, e quem diga que não, e todos se firmam em argumentos consideráveis. Independentemente disso, certo é terem sido precisamente aqueles dois e, entre os "velhos", Alberto de Monsaraz -- os de maiores simpatias pelo Fascismo. Um por motivos estéticos acima de tudo, outro pelas razões de revolucionarismo social. Curiosamente, anos depois do malogro do movimento e da convulsão política da Europa, e embora de relações cortadas, ambos caíram no Socialismo. Tinoco chegaria mesmo a fazer parte do directório do partido. Depois, as desilusões afastaram-no da acção política. Regressou ao fogo do Catolicismo em que se educara e que foi o grande lenitivo na terrível doença que o levou. Morreu como só morrem os santos.
O Pedro, esse foi levado pela sua rebeldia permanente, dada, acima de quaisquer outros factos, a incompatibilidade do seu comprimento de onda espiritual com a fria determinação de Salazar. Firmou-se numa oposição que era ainda a do revolucionário do tipo de exaltação fascista, contra o homem que teimava em não ser chefe de um partido, mas governante de uma nação que tem de se defender e perdurar, para além das ilusões e até das justas discordâncias de uma geração insatisfeita.
Essencialmente artista, o Pedro reagia como tal. Lembro-me de uma noite em que recolhíamos a casa, subindo a pé, lentamente, as ruas da encosta do Castelo. À porta da sua casa, então na Rua de S. Mamede ao Caldas, costumávamos ficar horas em despreocupada cavaqueira. Pois nessa noite dizia-me ele com um sorriso de resignação:
- Sabe que este Salazar conseguiu ir fazendo de mim, cada vez mais, esta coisa vexatória: democrático! Veja lá: democrático! ...
Evidentemente que não era democrático no sentido ideológico, se não apenas na reacção sentimental. Nem podia ser de outra forma o aristocrata do espírito e o jornalista que tinha escrito no jornal "Revolução", entre tantas dezenas de artigos, a série de "Os Sete Pecados Mortais da Democracia". Eram estes:
A soberba individualista;
A avareza capitalista;
A luxúria das palavras;
A ira revolucionária;
A inveja democrática;
A gula do orçamento;
A preguiça constitucional.
Diga-se de passagem que esta série de artigos ganhou, decorridos quarenta e sete anos, uma actualidade flagrante. Algumas vezes me tenho quedado a pensar como a inveja, principalmente a inveja, tem sido, ao longo de tanto processo revolucionário, a grande mola em que os ardores do idealismo não passam de mascarada.
E certo é que da fase pró-democrática de António Pedro não ficou nada de comparável aos seus artigos tão vibrantes e tão inteligentes dos anos 30 e ao magnífico “Poema de Exaltação Nacional Sindicalista”, já conhecido dos leitores de '”A Rua".
BARRADAS DE OLIVEIRA

Limpezas étnicas

Se abstrair de exemplos mais longínquos, em que me parece que o mais completo exemplo será a Tasmânia, o caso mais notável de limpeza étnica que me ocorre é das regiões alemãs mais a Leste.
No entanto, vá lá saber-se porquê, apesar da actualidade do tema limpeza étnica esse exemplo praticamente nunca é referido.
Trata-se no entanto de algo incontroverso: não eram regiões remotas e desconhecidas, nem os seus habitantes eram estranhos marcianos. Estavam ali, bem na Europa, e eram regiões "centrais" na História europeia desde há muitos séculos.
Koenigsberg, a orgulhosa cidade dos cavaleiros teutónicos, pátria de Emanuel Kant, teria feito 750 anos em 2005 (foi fundada em 1255).


De repente, em poucos meses de 1945, pode tão só constatar-se (enquanto não for proibido) que as suas populações desapareceram. E foram substituídas por vagas de novos povoadores. Foi assim na Pomerânia, na Silésia, da Prússia Ocidental, mas sobretudo na Prússia Oriental.
Sobretudo na Prússia Oriental, onde praticamente não restou ninguém.
Acontece que as populações dessas regiões, de acordo com todas as fontes, nunca poderiam ser inferiores em número a 12 ou 13 milhões de habitantes, até 16 milhões seguindo outros critérios.
A impressão que tenho é que as limpezas étnicas só são motivo de escândalo quando são mal feitas; se forem perfeitas, isto é limpezas completas, o assunto esquece.
Ou talvez haja outras explicações, sei lá.

Doctorow, federados e confederados

O comentador Nelson Buiça, liberal-vermelho de fina sensibilidade, fiel aos seus princípios e aos seus sentimentos, sempre generoso e idealista, respondeu às minhas angústias surgidas a propósito do livro "The March", de E. L. Doctorow: a gente do Sul americano mereceu amplamente o que lhe aconteceu na guerra, they were asked for it...
Uma vez não são vezes, vou responder brevemente ao identificado comentador, alinhavando à pressa umas linhas.
Por acaso, é hoje uma posição praticamente unânime que os estados do Sul perderam a guerra precisamente porque a conduziram como uma guerra à maneira antiga, uma guerra entre os guerreiros, entre cavalheiros, sujeita a códigos de conduta que não lhes permitia enquanto soldados destruir cidades, atacar populações civis, incendiar searas e campos de cultivo, resolver na rectaguarda o que se disputava na frente de batalha.
Os generais do Norte, mais livres de preconceitos, decidiram que para ganhar a guerra era preciso exactamente fazer o contrário: atacar na rectaguarda, destruir todas as estruturas civis, incendiar as cidades e os campos, aterrorizar as populações...
Os militares sulistas acabariam por não ter outro remédio senão voltar para casa ao saber que atrás deles as suas mulheres e filhos, as suas casas e as suas plantações, tudo era selvaticamente atacado.
Esas orientações estratégicas desequilibraram a balança. Os militares do Sul, que combateram na ilusão de combater militares, numa guerra clássica, tiveram que se submeter perante a realidade da guerra moderna: sem regras nem limites.
O Sul caiu por força do êxito dessa opção de esquecer os militares e ir bater onde eles não estavam; o que está muito de acordo com a mentalidade vencedora, mas seria impensável para a mentalidade vencida.
Soma-se que para a gente do Sul era uma guerra que não tinham desejado, e onde não queriam conquistar nada. Apenas estavam em guerra porque os atacaram, não lhes reconhecendo mais os direitos básicos em que tinha assentado a fundação da União: cada um era livre de entrar e sair, cada um era livre de seguir o seu destino como entendesse...
Os conquistadores do Norte não tinham essa perspectiva: era preciso submeter o Sul, dominá-lo e obrigá-lo a viver sob as normas ditadas pelos vencedores, moldar ali uma sociedade conforme a queriam.
É todo um mar de diferenças.
Mas o Buiça não tem uma visão hemiplégica, não senhor... usa é óculos de ver pouco.

Facas longas

Vi no Telejornal: o cenário era a Assembleia da República, e os protagonistas eram Duarte Lima e Ricardo Rodrigues, cada um deles rompendo com prolongado período de cautelas e discrição.
O bombo da festa era a Justiça (com mais rigor, as magistraturas). Duarte Lima sugere "que seja repensada uma nova composição para os conselhos superiores do Ministério Público e da Magistratura", de modo a dotar estes órgãos de "uma legitimação democrática alargada e independente"; Ricardo Rodrigues compreende perfeitamente, e concorda em nome da bancada do PS. Duarte Lima propõe que a matéria de escutas telefónica passe a "ser fiscalizada por um órgão independente, eleito pelo Parlamento"; Ricardo Rodrigues, pelo PS, não quer outra coisa e acha uma ideia genial.
A generalidade dos deputados, sobretudo do PSD, do PS e do BE, aplaude: segundo dizem as notícias "Duarte Lima mereceu um aplauso entusiasmado do PSD, PS e BE" (TSF).
Por outras palavras: as ideias de constituir uma comissão de políticos de carreira para fiscalizar e controlar as investigações criminais sensíveis e de dominar por dentro os órgãos de gestão e disciplina das magistraturas, segurando nas mãos todos os poderes em matéria de classificações, inspecções, movimentações, promoções, disciplina e controle dos magistrados - são achados que a classe política aclama em delírio.
Ao mesmo tempo, a suprema inutilidade da nação alvitrou hoje que era tempo de o Supremo Tribunal de Justiça passar a ser ocupado por juristas das mais diversa áreas; traduzindo do politiquês, isto é uma ideia que por aí circula já há certo tempo e que significaria que o STJ passasse a ser um feudo de políticos travestidos em juizes, seguindo o modelo do Tribunal Constitucional, vedando-o sobretudo aos juizes de carreira. E acrescente-se que nos meios políticos que a têm defendido essa composição deveria ser a de todos os Tribunais superiores, quer dizer os Tribunais da Relação. Por essa forma teríamos uma organização judiciária em que todos os recursos seriam decididos por Tribunais preenchidos com pessoal de reconhecida lealdade política. Tásse mêmo a ver, não tásse? Quanto aos juizes propriamente ditos, os que entraram por concurso e se vincularam à carreira, nunca passariam da primeira instância. A isto se tem chamado sem ironia entre esses reformistas iluminados de "carreira plana".
Dizendo por palavras simples: juiz de Fornos de Algodres, enquanto não extinguirem a comarca, poderá ser qualquer um; juiz das Relações ou do Supremo só poderá ser quem a AR e o Governo quiserem. Puxem pela imaginação...
Os ingénuos que não entendem o que aqui tenho procurado transmitir - a grande preocupação da casta política dominante não é que a Justiça não funcione, é que ela funcione - ficam aqui com assunto para pensar.
Os que têm acompanhado as minhas reflexões sabem que nada disto me surpreende. O que mesmo assim me causou espanto foi a identidade dos protagonistas de mais este avanço ofensivo.
Duarte Lima e Ricardo Rodrigues! O que seria deles se a Justiça fosse eficaz e funcionasse...
A generalidade dos que lhes bateram palmas sabe perfeitamente o que a minha pergunta significa. Mas não julguem que isso os perturba: ao contrário, aumenta-lhes a certeza de que é preciso controlar os riscos, e acentua-lhes a sensação de urgência na acção.
Para os meus leitores amigos, deixo só um desabafo: as coisas não são tão más como eu as pinto, muitas vezes são piores - eu é que não sei ou não posso pintá-las com inteiro realismo.
Termino com uma síntese: a crise da Justiça não é para a classe no poder um mal indesejado que eles olham com sofrimento e se esfalfam por nos resolver, como frequentemente representam nos discursos; é um resultado procurado e querido de sectores cada vez mais alargados de gente que se alarma com a simples perspectiva de que a Justiça possa ir além das injúrias de saguão e da zaragata de taberna.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

The March


Uma novela e um autor de que se fala (e ainda não existe filme, embora todos notem que o guião está lá).
E. L. Doctorow e "The March". A guerra. O inferno da guerra. From Atlanta to Savannah and on through the Carolinas, as colunas de Sherman avançam, fazendo a liberdade e a democracia a tiro de canhão, a poder de massacres e destruições. A história não começou ontem; já vem de mais longe.

Lembrando Rolão Preto


Acentuando as características deste blogue, marcadamente histórico - às vezes pré-histórico - aqui vai um rebuçado mais para os que têm seguido as minhas referências ao nacional-sindicalismo. Trata-se de uma caricatura de um semanário portuense da época onde se põe a ridículo a figura do Chefe, Rolão Preto. Eram tramados, estes anti-fascistas.

Aos malévolos detractores do meu blogue


Eis a minha resposta!

Sugestão de leitura


Foi feita por Bin Laden recentemente (passa o tempo todo na internet!), e o livro tornou-se um enorme êxito de vendas: Rogue State: A Guide to the World's Only Superpower, de William Blum.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Semper

As patrulhas ideológicas dos catolaicos tardaram a descobrir a Casa de Sarto.
Tardaram, mas lá começaram a espumar como determinam os reflexos condicionados, sem nada que mereça especial referência.
Divertiu-me a descoberta e a excessiva valorização do facto.
Eu apoio sem reservas a Casa de Sarto.
Lembro-me a este propósito de um padre que conheci em Madrid há muitos anos, padre fogoso e combativo como poucos, que se indignava sempre que ouvia ataques ou críticas ao seu bispo (que ele tinha um pouco abaixo de Deus Nosso Senhor). Pulava logo, e começava com a mesma frase: - "El mio obispo? El único obispo católico de España?!!"
Tenho exactamente o mesmo sobressalto instintivo em relação à Casa de Sarto.
Se dou por estar em causa esse blogue, reajo logo: - A Casa de Sarto? O único blogue católico em Portugal?!!!

Achado

Surpresa agradável: a evocação de António Truyol y Serra no Je Maintiendrai.
Creio que para além de José Adelino Maltez (que aliás já há muito não está em Direito) ainda haverá nas nossas Faculdades de Direito uns quatro ou cinco que sabem quem fosse (estou a lembrar-me de um que muito prezo). Mas não serão muitos.
Se as proclamadas ideias de reformas freito-amaralistas fizerem o futuro, passaremos a ter escolas técnicas de formação profissional em vez de Faculdades de Direito.

O naufrágio



Palavras de outros

Com algum atraso, estive a noite passada a ler o que foi dito no passado Congresso dos Advogados. Entre muita palha e muita banalidade, encontrei uma intervenção digna de ser escolhida e destacada neste podium: as palavras são de José Alberto Morais Sardinha, e raramente se podem ler tantas e tão relevantes verdades em tão curto espaço.
Pode ler-se no Boletim da
Ordem dos Advogados.
Fica à atenção dos leitores, e em especial dos responsáveis do
Verbo Jurídico.
Quanto ao autor, sempre lhe digo que partilho as suas preocupações e estou pessimista: efectivamente quem domina a política, o Ministério, a Ordem, e as reformas, são os tais que vivem muito concretamente do tráfico de influências; essa estranha espécie híbrida de político/advogado/homem de negócios, que se orgulha de nunca ter posto os pés num tribunal e para quem o bom funcionamento quer da máquina administrativa do Estado quer do aparelho de aplicação da Justiça seria, mais do que um sério revés, uma condenação quase certa. Por isso as reformas que virão, e como se vê de muitas fantasias e perversidades anunciadas, não irão no sentido da simplificação e da eficácia; basta saber ler, e ir ouvindo o que se diz, para se ficar certo que ainda serão acrescentados mais uns entraves e uns pauzinhos na engrenagem. Não se pode deixar que a máquina trabalhe, que da impotência desta vivem eles todos.
Eis a comunicação de José Alberto Sardinha:

Sou advogado há cerca de trinta anos e nunca a Justiça Portuguesa me surgiu tão degradada, tão desprestigiada. Nunca os processos demoraram tanto a atingir o seu termo, nunca o público manifestou tanta descrença no recurso à Justiça.
Não sou delegado ao Congresso, nem esta comunicação é uma tese para desenvolver os remédios e tratamentos para a triste situação em que se encontram os tribunais portugueses.
Quero só fazer algumas breves reflexões, com toda a frontalidade que deve caracterizar a nossa nobre profissão, despidas das flores de retórica e conveniência que costumam dominar este tipo de reuniões. Não venho a isso. Quero apenas alinhar uma fracas ideias, ou melhor, exprimir a minha indignação e alinhar alguns tópicos dispersos que ajudem à reflexão dos congressistas.
0 que resultou do célebre congresso da Justiça, senão palavras bonitas, ramalhetes de lugares comuns e consensos improdutivos? E o que vai resultar deste VI Congresso, para além da aprovação de moções bem intencionadas? Afinal, qual é o papel dos advogados e qual o seu dever na resolução dos problemas da Justiça?
A maior parte dos advogados que vêm ocupando a pasta ministerial da Justiça, são no apenas in nomine. Saíram dos bancos da escola para a política e nunca foram a um tribunal. Têm escritórios que se sustentam pinguemente, diga se à custa dos negócios que a política proporciona. Vivem, na verdade, do tráfico de influências. Não sabem nada do funcionamento dos tribunais, nem querem saber. Não precisam de lá ir, porque a sua "advocacia" é outra. Por isso é que quando falam sobre a organização dos tribunais, quando legislam sobre a matéria, só sai asneira.
Não tenhamos medo das palavras. Chegou a hora de dizer alto o que todos nós dizemos à boca pequena.
É preciso denunciar esta situação, pois é ela a responsável pela degradação da Justiça, peta ausência de reformas verdadeiras e eficazes. Não há vontade política para resolver os problemas, porque não há interesse em resolver os problemas.
Quanto mais entraves existirem ao bom funcionamento da administração pública, mais corrupção haverá e mais enriquecerão os políticos especialistas em "vender facilidades".
Por isso tudo continua na mesma, ou cada vez pior.
É simplesmente anedótica a reforma que a acção executiva sofreu e que tornou completamente impossível cobrar uma dívida em Portugal. Os caloteiros rejubilam e continuam impunemente a encher os bolsos à custa dos outros e ao abrigo do chapéu protector que é a inoperância do Estado.
Quem concebeu uma tal reforma já foi identificado? E responsabilizado pelos prejuízos causados aos particulares e às empresas, em suma, à economia nacional? E os políticos que a apadrinharam e assinaram?
Alguém poderá explicar por que razão é obrigatório preencher formulários electrónicos e apresentar os requerimentos executivos pela Internet, quando continua a ser necessário entregar fisicamente a papelada na Secretaria Judicial? E quantas horas mais demoram agora os colegas a redigir um requerimento executivo, se é que conseguem decifrar a verdadeira charada electrónica que nos obrigam a preencher? Andam a brincar aos computadores, ou andam a brincar connosco?
Muitos outros casos poderão ser citados. As situações anedóticas que se vivem diariamente nos tribunais portugueses multiplicam se e poderiam ser reunidas num verdadeiro Anedotário da Justiça Portuguesa com a contribuição de todos e cada um de nós, advogados.
Se, como todos nós sabemos, a grande maioria dos magistrados são trabalhadores, o mesmo acontecendo com os funcionários judiciais, se, como também sabemos, temos mais magistrados e funcionários per capita do que os países europeus, se, mesmo assim, os tribunais continuam atulhados de papel e completamente inoperacionais pelo excesso de processos, a conclusão não parece difícil de tirar: a maior parte do trabalho que realizam é inútil. É inútil (e infantil, para quem conhece a litigância das partes) essa reforma apresentada como um grande avanço civilizacional que se chama audiência preparatória; são inúteis as tentativas de conciliação anteriores à audiência final, é inútil a maior parte das diligências judiciais. Estamos todos nós, advogados, a fazer requerimentos inúteis, os funcionários a praticar actos inúteis, os juízes a dar despachos inúteis.
Em face do estado calamitoso a que chegou a Justiça em Portugal, o que impede uma profunda reforma do processo civil e do processo penal, em ordem à sua simplificação?
E os nossos Bastonários, o que esperam para denunciar tudo isto e exigir essa reforma mas concebida por quem conheça os tribunais, por quem tenha bom senso e espírito prático e não por teóricos lunáticos? Ou será que a Ordem está silenciada pelos dinheiros do Ministério da Justiça para colaborar nessa farsa que se chama apoio judiciário, compensada com outra farsa que se chama formação de estagiários, que tem como objectivo esconder o escandaloso negócio das universidades privadas que deitam anualmente milhares de licenciados para o mercado de trabalho, a maior parte deles incapazes de redigir um articulado sem erros de ortografia ou de sintaxe? Estará a nossa Ordem também ela, a transformar se num monstro burocrático? A ensinar os jovens advogados a serem formalistas e burocratas, como o C.E.J. ensina os jovens juízes a serem? E o C.E.J. não precisa, também ele, de uma profunda reforma?
E a nossa Ordem?

Olivença em Viseu

No âmbito das iniciativas culturais da LIVRARIA DA PRAÇA, em Viseu, terá lugar no próximo dia 3 de Fevereiro, às 21 horas, uma tertúlia sobre a Questão de Olivença, com a participação do Grupo dos Amigos de Olivença.

Tertúlias sobre Música Tradicional

Neste dia 25 de Janeiro, quarta-feira, pelas 22 horas, realiza-se a primeira Tertúlia sobre Música Tradicional no Sítio do Cefalópode.
Esta série de tertúlias terá lugar neste espaço na última quarta-feira de cada mês, contando esta primeira com a presença de José Manuel David e Rui Vaz – elementos dos Gaiteiros de Lisboa. O Sítio do Cefalópode situa-se na Rua do Contador-Mor 4B ao Castelo (junto ao Castelo de S. Jorge, em Lisboa).
Informações na inestimável Associação Gaita de Foles.

Recordando Antunes Varela


Passados que são mais de dois meses sobre a morte de Antunes Varela, verifico que, para além de umas pequenas locais que assinalaram o facto em um ou dois diários nacionais, nada apareceu a lembrar e a homenagear o mais importante juscivilista de língua portuguesa do século XX.
Talvez porque a circunstância de alguém ser de outra estatura incomode insuportavelmente os instintos democráticos das massas, e de todos os anões que se encavalitam para fazer que são gente na vida pública, João de Matos Antunes Varela passou silencioso e desapercebido.
Nem os seus conterrâneos de Avis, as suas gentes do Ervedal, lhe dedicaram ainda a evocação merecida.
Nem os meus amigo do Verbo Jurídico, o melhor portal português sobre coisas do Direito, mesmo sabendo-se todos mais ou menos devedores de Antunes Varela (como qualquer um que tenha estudado Direito em Portugal nos últimos sessenta anos) tomaram ainda a iniciativa de o evocar em termos condignos. Esmagada pelo imediato, a Justiça esquece-se de fazer Justiça aos seus.
Só no Boletim da Ordem dos Advogados encontrei três artigos a recordar o homem, o advogado, o professor.
Transcrevo o primeiro, de Luís Bigotte Chorão. E terei que voltar ao assunto.

Antunes Varela - Testemunho Breve de uma Relação Profunda
Escritas poucas horas após a sua morte, estas breves palavras evocativas do Doutor Antunes Varela serão, inevitavelmente, tocadas pela emoção, tantos e tão fortes são os vínculos de vária ordem que me ligam à sua pessoa. Mas não será por isso que elas deixarão de procurar expressar com sincera e rigorosa objectividade os meus juízos e sentimentos, à margem da retórica que frequentemente inquina os elogios fúnebres.
Lembro o Doutor Antunes Varela como professor de Direito. Tive a fortuna de ser seu aluno em Direito Processual Civil. Já acostumado a ouvir referências muito elogiosas ao talento pedagógico do Mestre – meu Pai fora seu aluno em Coimbra, pude, por experiência própria, comprovar a razão de ser dessa fama. As lições escritas e orais do Professor Antunes Varela primavam, efectivamente, pelo rigor da argumentação e pela harmonia do estilo. Com os mais áridos e complexos temas processuais, Antunes Varela, compunha um discurso admirável na clareza e na eficácia.
Mas, fora dos muros da Faculdade, muitas foram as ocasiões em que pude apreciar as suas qualidades de jurisconsulto e de advogado, vendo-o discorrer com mestria sobre questões jurídicas práticas. Mesmo quando, porventura, houvesse razões para questionar alguma tese, impressionava a sua erudição e experiência e o engenho da dialéctica.
Constituiu para mim um raro privilégio ter o Doutor Antunes Varela como patrono no estágio de advocacia. Recordo esse tempo com saudade; foi-me então proporcionada a oportunidade de muitos diálogos que se libertaram, não raro, das matérias profissionais para enveredarem, pela história, designadamente do Estado Novo e da política da Justiça, de que ele foi responsável ministerial durante mais de uma década. Vi-o defender com especial ardor a sua obra como codificador do Direito Civil e exprimir o receio de que ela fosse sacrificada.
Por minha parte, manifestei-lhe reservas quanto a opções do Estado Novo no campo da Justiça e levei ao seu conhecimento alguns textos pessoais sobre essa problemática. Dessas nossas conversas ficaram apontamentos diversos e correspondência do ilustre professor, que entendeu por bem, nalguns casos, expressar-me formalmente as suas ideias, num diálogo que muito me honrou. Guardo a memória de uma forte personalidade e firmeza nas convicções, que nunca cercearam a sua receptividade, nem inibiram a minha franqueza. Certamente um dia se justificará dar a conhecer esses documentos, quem sabe, num estudo sobre a sua acção à frente do Ministério da Justiça.
As relações académicas, culturais e profissionais com o Professor Antunes Varela foram sempre impregnadas pelo calor de uma cordial amizade que uniu as nossas famílias. Apraz-me salientar, a este respeito, uma nota que constitui um sinal inequívoco da autêntica e leal amizade: sei, por conhecimento directo e indirecto, como o Doutor Antunes Varela se empenhava em fazer o elogio dos amigos a se solidarizava e alegrava com os seus êxitos.
São certamente naturais e legítimas as divergências relativamente às opções religiosas ou políticas do Doutor Antunes Varela, bem como as disputas no plano científico. Isso, porém, não deve impedir-nos da justiça elementar de reconhecer a elevada estatura e os méritos incontestáveis desta figura da vida nacional. A mais condigna homenagem que se pode prestar à sua memória consiste em estudar a sua obra e, na medida do possível, investigar e divulgar, com adequado critério historiográfico, o seu valioso espólio documental, imprescindível à compreensão de mais de meio século da vida política e jurídica do nosso país.
Luís Bigotte Chorão
(14-11-2005)

terça-feira, janeiro 24, 2006

Maiores contribuintes líquidos

Uma vez que é das visitas que se sustenta esta casa, apeteceu-me averiguar qual a origem dos visitantes que aqui chegam e colocar por ordem os blogues de onde vem o maior número de visitantes.
Deste modo, e excluindo outras origens, como é o caso dos motores de busca, ou outras páginas, os blogues que no corrente mês de Janeiro mais contribuiram para a afluência a este lugarejo provinciano foram os que se seguem, e por esta ordem (façam favor de os visitar para lhes retribuir a gentileza).
novafrente.blogspot.com
doportugalprofundo.blogspot.com
jantardasquartas.blogspot.com
batalhafinal.blogspot.com
ultimoreduto.blogspot.com
lusavoz.blogspot.com
jansenista.blogspot.com
combustoes.blogspot.com
orestauradordaindependencia.blogspot.com
misantropoenjaulado.blogspot.com
emportalegrecidade.blogspot.com
nacionalismo-de-futuro.blogspot.com/
maisevora.blogspot.com
interregno.blogspot.com
dragoscopio.blogspot.com
geracao1987.blogspot.com
santoscasa.blogspot.com
ablasfemia.blogspot.com
liberalred.blogspot.com
cegosmudosesurdos.blogspot.com
penaeespada.blogspot.com
reconquista2006.blogspot.com
fascismoemrede.blogspot.com
largodasalteracoes.blogspot.com
ecosdaprovincia.weblog.com.pt
geraldosempavor.blogspot.com/
margemsul-nacional.blogspot.com
planicie-heroica.weblog.com.pt

A hora é deles

Surgiram nos últimos tempos alguns blogues de gente nova a reclamar a nossa atenção e apoio:
Portas do Cerco
Estado Novo
Integralmente Lusitano
Geração 1987
Por mim, daqui lhes digo: contem comigo! Como disse um nosso amigo já desaparecido, "não vos peço que me sigam, exijo-vos que me empurrem!".

O último abandono

Tango


Desenho de Mário Saa para o número inaugural de "Tempo Presente"

Ficha técnica


A ficha técnica e o sumário do primeiro número de "Tempo Presente".

Bibliofilias


Capa do primeiro número de "Tempo Presente", de Maio de 1959.
Uma raridade. Uma revista que continua a ser a mais elevada realização cultural da direita extra-orçamental em Portugal desde há muitas décadas.

O chapéu não chega


e a chuva é demais!

Um casamento já antigo

Reincidência


De novo recordando os jovens mancebos da mesma incorporação.

Memórias jurídicas


Para os alistados da Faculdade de Direito de Lisboa, últimos anos setenta e primeiros de oitenta - do século passado...

Blogueiros à solta

O semanário"O Diabo" é certamente o periódico como maior presença de blogadores por edição. Na de hoje, vendo assim à pressa, encontro pelo menos Carlos Abreu Amorim, José Adelino Maltez, Bruno Oliveira Santos, Paulo Cunha Porto e João Pedro Simões Dias. Que eu veja, e saiba.
A mais, assinam o ponto Pinharanda Gomes, Walter Ventura, Silva Resende, Alberto João Jardim, João Coito, Veiga Simão, Rui Falcão de Campos, Miguel Monjardino, e mais um nutrido grupo de entrevistados (Daniel Serrão, Marques Bessa, Loureiro dos Santos, Costa Andrade, Carlos Azeredo, Vilaverde Cabral, Pires de Lima, Rosado Fernandes, Eduardo Lourenço, Fernando Dacosta, D. Serafim Ferreira, Romão Lavadinho, Manuel Meirinho....)

Tempos modernos

Coisas do Nonas

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Rede Liberal

Os liberais estão cada vez mais convencidos das vantagens da organização e do planeamento: montaram agora a Rede Liberal, um oportuno mostruário destinado a divulgar os blogues e organizações liberais em português.
Como dizia uma velha dama que às vezes falava comigo quando morei ali juntinho ao Bairro Alto e deambulava pelas leitarias da zona, senhora entradota mas liberal de toda a vida - força na verga, rapazes, que só se perdem as que não se dão!

Domingo à tarde, em Paris


Ontem foi dia de manifestação promovida em Paris pela associação "30 ans ça suffit!", destinada a relembrar a tragédia dos trinta anos de vigência em França da legislação pró-abortiva (a famosa lei Veil).
Ao que parece, um grande êxito de mobilização: "Pour un monde plus beau, défendons nos berceaux!" - um grito que também se impõe na nossa terra.

Apresentação de novo livro de Couto Viana

O poeta, contista, ensaísta, actor, dramaturgo, encenador e figurinista António Manuel Couto Viana completa amanhã, dia 24 de Janeiro, 83 anos de idade.
A coincidir com o aniversário realiza-se o lançamento de mais um livro de poemas de sua autoria: "Restos de quase nada e outras poesias", editado pela Averno.
Terça-feira, pelas 18.30 horas, no Círculo Eça de Queirós, no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, n.º 4, ao Chiado, em Lisboa.

Reforços

E eis quando surge em meu auxílio o camarada Engenheiro!!!
Venha de lá um abraço, homem!

Boletim clínico

Triste fim

Bodas de prata


Um número já antigo do "Futuro Presente", de quem se esperam muitos mais.

Lembrança


No Jantar das Quartas também se senta este conviva?

Supermário


As ilusões dos sentidos

Pedido de ajuda

Prémio Fidelidade

Vai, inteirinho e merecido, para a "Eurosondagem".
Na disputa eleiçoeira, o aspecto mais interessante foi sem dúvida a disputa entre o peru que julgava ser pavão e o pavão velho armado em carapau de corrida. Nesta, ganhou amplamente o pateta alegre, que esmagou o seu anafado camarada.
Mas seria injusto não reconhecer o esforço heróico da "Eurosondagem". Fiel às suas tradições, mesmo quando todas as congéneres insistiam em mostrar a inutilidade do gesto, a "Eurosondagem" manteve-se firmemente, até ao fim, na inteireza dos seus princípios matriciais.
Que importa o fracasso? A beleza da atitude comove até os corações mais insensíveis (e leva às lágrimas todo o pessoal das sondadoras - mas estes de riso).

E agora me lembro

Que resultados teriam Paulo Portas ou Manuel Monteiro se se tivessem candidatado?
Por vezes, o que conta no salto não é só o cavalo: é o coração do cavaleiro.

Prémios melhor cobertura da noite eleitoral

Directamente para os comentadores Rui Albuquerque e Bruno Oliveira Santos, pela perspicácia das observações e pela pertinência das interrogações.
Bem hajam!

Um espanto

Cavaco, surpreendente e original: "Serei o Presidente de todos os portugueses".
Quem diria?!!

domingo, janeiro 22, 2006

PFFF!!!

A correr contra um octogenário, uns coxos e uns aleijados, Cavaco conseguiu quase não ganhar. Passou à justinha os 50%.
SÓÓÓÓ?!!!

Já está!

Uma maioria, um governo, um presidente?

Realidades que contam

Não perder o novo postal do Dragão sobre "The Pentagon's New Map", um livrinho onde se expõe "a practical strategy for a Second American Century".

e as que não contam

Quem foi que disse que se as eleições mudassem alguma coisa já tinham sido proibidas?

Reflexões pré-eleitorais

Cada vez que Alexandre Franco de Sá aparece na blogosfera, é motivo de grande alegria. Pena que seja acontecimento tão raro. Se houver aí alguém que possa dar-lhe uma palavrinha...

A vida mata qualquer um

A frase com que eu pretendi responder a quem me levantava certas interrogações foi encontrada insatisfatória por alguns dos destinatários.
Não encontro tal, e continuo a responder: a vida mata qualquer um. Deve ler-se até ao fim e até ao fundo. Está lá tudo. Mata com balas de plombo e com balas de plata, mata de morte matada e mata de inanição e cansaço; mas mata que se farta. A uns mata de repente e a outros permite que aí andem, quais mortos de vida em pé; a uns permite que se safem para outra vida, e a outros nem isso. Mas poucos sobrevivem.
De sobreviventes e náufragos, faz-se a História.

Lisboa, 10 de Junho de 1978


Concentração no Largo de Camões, em 1978, instantes antes de começar o arraial.
Ao mesmo tempo, no Porto, encontro marcado no Largo de D. João I, seguindo-se uma tarde também muito agitada.
Era a esta que o Jansenista queria referir-se. Mas deixo-o, que dos pecados dele cabe-lhe a ele a confissão e a penitência.

Mais do mesmo


Foto tirada uns minutos depois da anterior; era 10 de Junho de 1979, e a marcha organizava-se, a frente já pronta para entrar no Largo das Duas Igrejas.
No Porto a manifestação paralela tinha sido proibida pelo Governador Civil, Cal Brandão.
"Queremos que os portugueses se convençam de que existem forças bastantes para destroçar estes dias ainda sombrios e libertar o nosso futuro".
"Que importa que os políticos traidores nos combatam se os seus filhos estão connosco?"
Deus há-de ter ouvido, Vítor!

Lisboa, 10 de Junho de 1979


Concentração no Camões em 1979 (setenta e nove), momentos antes de se organizar a marcha que desceu o Chiado para findar nos Restauradores.
Portugal era um jovem rebelde da nossa idade!!!
(O Jansenista está a reconhecer alguém?)

Constatações

Falando do elevado número de participantes nas iniciativas nacionalistas do final dos anos 70 e inícios de 80 e seu desaparecimento posterior, diz o nosso comentador Flávio Gonçalves:
"Tanta gente... depois acabaram os cursos, namoro, casamento, emprego, empréstimo para comprar casa (hipotecou-se o seu futuro...) e actualmente... por onde andarão? E ainda se recordarão?"
Não lhe sei responder com rigor, mas uma coisa lhe digo:
- A vida mata qualquer um.

Sobre o "terrorismo global"

Leia-se Nuno Rogeiro no "Correio da Manhã":
"Em 1938, um obscuro esloveno chamado Vladimir Bartol escreveu ‘Alamut’, romance histórico situado na Pérsia de 1092. Recordava esse “velho da montanha”, o sufi Ibn Saba, “terrorista místico”, chefe da seita dos assassinos (fumadores de haxixe), que vibrava os seus golpes contra impérios e pensava na eternidade. Muito mais tarde, o autor de ficção científica, Isaac Asimov, descrevia (em ‘Fundação’) um poder subversivo, baseado na aliança entre intelecto e técnica, que desestabilizava a ordem inter-cósmica".
Continuação...

sábado, janeiro 21, 2006

A providência zela

Segundo o Rui Albuquerque, "começa a resultar evidente a inoperacionalidade da União Europeia" e o falhanço do modelo "poderá bem determinar o fim da própria União Europeia".
E eu que estava mesmo a precisar de uma boa notícia...

O decálogo conservador

Are you a conservative?
Desconfio que a mania da sistematização é algo esquerdista (a crença nas definições, na classificação, na arrumação taxonómica, são taras do cientismo, que tiveram a sua expressão mais obsessiva no sociologismo positivista) mas ainda assim cedo a recomendar uma espécie de decálogo organizado por Russel Kirk para tentar fixar o que define um conservative.
Façam favor de analisar os Ten Conservative Principles. Se acaso couberem no retrato, descobriram: são todos uns conservadores segundo Russel Kirk.
Podem ler ainda a esse propósito The Essence of Conservatism (essence como essencial, e não combustível).

A Operação Excel

Sobre o tema que dominou os últimos dez dias, leia-se o Duas Cidades seguindo José António Barreiros.

Escutas e dislates

A capa do "Correio da Manhã" de hoje afirma em letras garrafais que o "Parlamento quer controlar escutas".
Acrescenta que o PS e o PSD estariam de acordo em que um comissão constituída na dependência da AR superintendesse nessa matéria.
Confesso não entender muito bem do que se trata. Já tenho ouvido umas ideias, e há dias ouvi Jorge Coelho teorizar sobre uma comissão "com plenos poderes" que deveria ser formada pela AR para esse efeito.
Mas tudo o que me chega e ouço mais contribui para adensar as minhas interrogações.
As tarefas de investigação criminal vão passar para a Assembleia da República? Como será a distribuição dos processos? Vão seguir o falado modelo da Câmara da Amadora quanto aos processos imobiliários do concelho: um para o PS, outro para o PSD, e assim sucessivamente?
Quando puderem, se puderem, publiquem o projecto.

A "crise da justiça"

Diz o "Diário de Notícias": nos tribunais portugueses as facturas da água, da luz, do telefone, dos serviços de limpeza deste mês (estamos em Janeiro!) provavelmente não serão pagas. Não há dinheiro. Se raciocinarmos segundo a lógica dos duodécimos, o que acontecerá até Dezembro!
Os senhores jornalistas poderiam acrescentar muito mais, se estivessem interessados em saber e se sujeitassem a passar algum tempo em tribunais. Aprenderiam por exemplo que os tribunais geram grandes receitas (durante esta semana em conversa com vários advogados todos se queixavam das dificuldades que sentiam por causa das custas) mas que todas entram directamente numa conta lisboeta; e que cada tribunal por si não tem um chavo, seja para comprar o papel higiénico seja para consertar os estores.
São órgãos de soberania que só comem do que os senhores Directores-Gerais quiserem por graça conceder.
Podiam explorar-se situações de comédia: os casos em que entram no tribunal acções de despejo contra o Estado por falta de pagamento das rendas do edifício do próprio tribunal, as situações em que vem pedida a inquirição por videoconferência em sítios onde nunca houve videos nem lugar para conferências com mais de três pessoas (se aguentarem o frio, porque não é possível ligar aquecedor já que a corrente não aguenta).
As anedotas: os quadros eléctricos que disparam dez vezes até que se consiga fazer a inquirição de uma testemunha...
A "Justiça" funciona realmente muito mal. E pensam acaso que os políticos e os governantes responsáveis não sabem disso? Sempre que falei com algum, por um momento em excursão fora do ar condicionado, e se chega a essa conclusão, noto-lhes logo um brilhozinho nos olhos e um gesto inconsciente de esfregar as mãos... Como poderia funcionar? Eles esforçam-se tanto!

Barraca das farturas

Repararam na chuva de investimentos de centenas e centenas de milhões que se abateu lá dos altos céus governamentais entre sexta 13 e sexta 20? Caramba, o que seria a nossa economia se houvesse eleições mais vezes!

Perplexidade

O que são "Gay families"? As bichas já fazem criação?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Do Portugal Profundo

Precioso, o mais recente artigo de ABC sobre O Mostrengo.
Todavia, e com vontade somente de ajudar, gostava de fazer uns pequeninos reparos.
Apenas dois.
1) A mulher do Dr. Mário Manuel Varges Gomes não é Cacilda, embora a terminação esteja certa. É a Dra. Isilda Gomes, dirigente socialista em Portimão, vice-presidente da Câmara local.
2) O advogado Ricardo Sá Fernandes não confessou apenas "ter visto a informação": ele confessou expressamente (ver "Correio da Manhã" de hoje) ter feito cópias das disquetes do processo que lhe tinha sido confiado. Ora a confiança dos autos ou de elementos determinados deste constitui um direito processual, mas a partir daí... esta cadeia de acontecimentos... cala-te boca.
Os irmãos Sá Fernandes são realmente terríveis (estou a pensar no José vereador, no Ricardo copiador e na Paula desembargadora; nem sei se há mais). Uff!
Finalmente: congratulo-me com a escolha de Arnaldo Mesquita para fazer a cobertura do caso Casa Pia no Público. Assim o assunto terá um jornalista à altura da cobertura pretendida: chega para aí um pouco abaixo do ombro do Marques Mendes... Pode é afogar-se na lama.

Mais futuro presente?

Um novo número e um blogue em linha: há mais Futuro Presente à vossa espera!

Jansenista ha sempre ragione!

Começo a desconfiar que o Jansenista tinha razão: estou a converter-me ao poder das imagens...

Caminhos do progresso

Abaixo!