sexta-feira, novembro 30, 2007

Perplexidades sobre o liberalismo autóctone

As sociedades anglo-saxónicas, e acima de todas a britânica e a americana, são consensualmente apresentadas pelos assumidos defensores do liberalismo clássico como as mais perfeitas, ou as menos imperfeitas, realizações dos ideais deste. Constituem o modelo sempre presente em todos os debates, apontado como tal mesmo por aqueles que nelas vêem insuficiências que os insatisfazem.
É observável também uma forte ligação afectiva, em que o factor emocional se junta às convicções ideológicas (sendo por vezes difícil distinguir a ordem dos factores e saber se foi a filia que trouxe as convicções ou se foram estas que a trouxeram a ela).
Mas o facto é notório. Por exemplo, se percorrermos a blogosfera ou genericamente a opinião publicada constata-se que os entusiastas do liberalismo entre nós são também em regra apaixonados defensores da política externa americana, aliás de um modo que os afasta flagrantemente das posições dos seus homólogos libertarianos, que nos respectivos países são críticos e opositores das orientações dela.
Este pormenor parece-me significativo de uma desconformidade que me parece inegável entre o que são as posições concretamente propugnadas pelos gladiadores do liberalismo indígena e a realidade das imagens para que remetem, e que aparentemente seriam as suas referências.
Vejam-se as posições tomadas quanto ao papel da religião na sociedade. A maioria (não todos) dos militantes do liberalismo luso alinham por um entendimento radical do laicismo, da separação da igreja e do estado, que os leva a enfileirar com as correntes jacobinas, ou abertamente ateístas, em qualquer polémica que surja a envolver a religião e a sociedade. Não querem crucifixos nas escolas, nem nos hospitais, nem em sítios ou organismos públicos – e nenhum reconhecimento oficial em relação à Igreja, nem a nível protocolar. Cruzes, nesta perspectiva, só nos cemitérios, e até ver.
Porém, as sociedades a que se reportam como modelos a seguir são fortemente marcadas pela presença da religião e dos valores religiosos. Em nenhumas outras da nossa área civilizacional se verifica tanto essa presença. Em Inglaterra o chefe de estado é também chefe da Igreja nacional. Existe portanto religião oficial, caso notável no hemisfério em referência. E a presença da religião impregna necessariamente toda a vida pública, patenteia-se em qualquer acto oficial ou em qualquer ocasião solene.
Na América, encontra-se desde o princípio até aos nossos dias uma sociedade ainda mais fortemente marcada pelo factor religioso. Os presidentes juram sobre a Bíblia, e dirigem orações em público. Qualquer outro titular de cargo oficial segue a mesma prática. Essa é a prática corrente na vida pública. Em nenhum país do hemisfério ocidental a religião é tão reconhecida como elemento essencial da vida colectiva, em nenhum sítio vejo invocar tanto a Deus (creio sinceramente que muitas vezes em vão).
O que levará os nossos tão ardentes partidários das sociedades anglo-saxónicas a fazer derivar das suas teses liberais propostas tão opostas ao que é praticado nos seus modelos de eleição?
Também em nenhumas outras sociedades do nosso arco civilizacional são levados tão a sério os valores grupais. Os rituais de identificação colectiva, o culto das bandeiras, o respeito e a veneração pelas datas, heróis e acontecimentos que definem a memória do todo e dão sentido ao sentimento de unidade de destino. O “my country, right or wrong” é ali vivido autenticamente como expressão da vinculação comunitária.
Escusado será dizer como tais práticas são estranhas e até risíveis para a generalidade dos liberais domésticos. Nem pátrias, nem hinos, nem bandeiras lhes dizem nada. Geralmente proclamam que só o indivíduo existe, e que desconhecem a existência de categorias sociológicas em que se pretenderia enquadrá-lo. Nada há para além dos indivíduos, das suas vontades e interesses.
O que levará os nossos liberais domésticos a concluir internamente de modo tão contrário à realidade dos exemplos históricos que invocam?
Estes exemplos poderiam prolongar-se.
Basta reparar que a transporem para o Reino Unido o assanhado republicanismo que afecta bom número deles os nossos liberais clássicos num instante viravam de pernas para o ar uma construção política de muitos séculos – e destruíam o Reino Unido. Ou que a viver-se nas Ilhas Britânicas ou na Norte América um tão ostensivo desprezo pelas tradições e pelas instituições, encaradas as primeiras como peias limitativas da livre expressão das vontades e as segundas como torpe consagração de suspeitos corporativismos, a vida dessas sociedades deixaria de ser aquilo que realmente é (na verdade caracterizada pelo generalizado enquadramento dos indivíduos e dos interesses segundo as suas afinidades morais ou materiais, com uma lógica muito mais corporativista que individualista).
Não pretendo resolver nenhum mistério, mas desconfio seriamente que não poucas vezes o liberalismo exibido e proclamado não ultrapassa o plano das fantasias ideológicas mal assimiladas.

Manuel Azinhal
manuel.azinhal@gmail.com

quinta-feira, novembro 29, 2007

Comemorações do 1º de Dezembro

Como acontece todos os anos, a Sociedade Histórica da Independência de Portugal organiza cerimónias comemorativas da Restauração da Independência de Portugal, a realizar em Lisboa no próximo dia 1 de Dezembro, sábado.
De entre os actos previstos, destaco a Missa Solene de Acção de Graças, às 12 horas, na Igreja Paroquial de Santa Justa, e à tarde, às 16 horas, a Homenagem aos Heróis da Restauração, na Praça dos Restauradores, junto ao Monumento.

Crítica literária

"Da mesma forma que a deficiência visual desenvolve a faculdade auditiva, a deficiência literária promove o frenesim crítico. (...)
MST tem tudo para vir a ser um excelente crítico literário. Ao contrário de VPV, em quem, apesar de tudo, vislumbro umas certas limitações e handicaps."

Uma privatização consensual

Estou a pensar no Município de Felgueiras. As notícias publicadas sobre a reiterada prática de ser o Município a pagar as contas de D. Fátima Felgueiras, somadas ao que há muito se constata sobre a administração protagonizada pela mesma senhora, permitem já encarar este como um verdadeiro "case study". Um município privatizado, inteiramente nas mãos de quem até pelo nome se identifica tanto com ele que se torna difícil distinguir onde começa a esfera pessoal e acaba a institucional.
Que pague pois aos advogados, aos cabeleireiros, à modista, à manicure... o que é da senhora é de Felgueiras, e o que é de Felgueiras é da senhora.
O que é mais alarmante nesta situação é a aceitação geral, a indiferença resignada com que (não) se reage.
E lembrar que até agora não há exemplo de político apanhado nas malhas da lei que não tenha prosperado depois. Façam um exercício de memória, e vejam o que é feito deles.

Teologia civil socialista

Ainda a formatação ideológica:
"E se eu vos dissesse que uma pessoa que se candidata ao programa Novas Oportunidades tem de realizar uma entrevista onde é questionado sobre causas ecológicas e reciclagem e onde, caso os examinadores considerem não ter obtido aproveitamento (leia-se “ser considerado inimigo do povo”), pode ser sujeito a acções de formação sobre a importância do “vidrão”. Significa isto que não é possível acabar o 12º. ano sem aprender a teologia civil socialista…"

Brave New World

"Já não virá longe o tempo em que "pais biológicos" que sejam considerados "inimigos da democracia" podem ver-lhes retirados os filhos, que seriam entregues a "pais afectivos" - ou a centros de reeducação."

Escola e família

"A batalha da “educação” trava-se principalmente em casa, e depende, além das referências do meio, da persistência e do exemplo categórico dos pais. Na escola, de onde Deus foi definitivamente banido, ensina-se o Mundo de acordo com a cartilha do regime."

quarta-feira, novembro 28, 2007

O declínio da verdade

(artigo para o semanário regionalista "O Almonda", de Torres Novas)

O constitucionalista Vital Moreira, falando há dias sobre o Tratado Reformador que visa dar forma constitucional à Europa, defendeu que o PS e José Sócrates não devem sentir-se obrigados a convocar um referendo para ratificar o tratado, tal como prometeram durante a última campanha eleitoral, porque «há certos compromissos que o pior que lhes pode acontecer é serem cumpridos».
Um ingénuo poderia estranhar a ligeireza com que se assumem esses compromissos, se empenha a palavra e se espalham promessas, mas está visto que isso são despropósitos próprios de quem não compreende a magnitude do que está em jogo.
Questionado sobre a invasão do Iraque, Durão Barroso explica que as posições que tomou na altura foram baseadas em informações erradas. “Vi os documentos, tive-os à minha frente, dizendo que havia armas de destruição maciça no Iraque. Isso não correspondeu à verdade”. Acrescenta que Bush e Clinton também estavam enganados, e com eles mais de meio mundo, subentende-se que todos pela mesma forma e com a mesma boa fé. Todavia, diz ele, não há que haver arrependimentos. A História logo mostrará o acerto do que se fez.
Eu confesso que gostava de ver mais esclarecimento nisso dos enganos, e mais sentido da responsabilidade. Ao menos, saber quem enganou quem; mas isto obviamente porque ainda estou anacronicamente preso a valorações caídas. Fiquemos, pois, com Durão Barroso; não se deve dar importância ao caso. O que conta são os fins (que eram excelentes, subentende-se).
Vive-se o ocaso da verdade? Que a cotação dela parece andar mais rasteira que barriga de jacaré, constata-se. É valor em que já ninguém aposta, na volátil bolsa de valores que é a vida dos nossos dias. Se fosse só no futebol, onde assumidamente o que hoje é verdade amanhã é mentira... mas não, a queda alastrou a todos os campos e tornou-se geral.
Já não há sector, área ou actividade onde a verdade seja apreciada e situada entre os valores mais altos.
Na política e na governação, então, houve um afundamento dramático. De atributo essencial à credibilidade e respeitabilidade da acção, e orgulho dos homens públicos, a pobrezinha foi degradada para uma posição de atavio incómodo e embaraçoso.
Mantendo a verdade a cotação que já teve, dificilmente os poderosos de hoje estariam nos seus pedestais. Se não fossem corridos e enxovalhados por multidões indignadas, como mentirosos e aldrabões compulsivos, ao menos teriam que recolher-se discretos e envergonhados para algum eremitério recatado. Em vez disso, vicejam e prosperam; e se mudam de poiso é sempre para poleiro mais vantajoso.
Triunfou no mundo a dúvida de Pilatos, que não era bem dúvida, mas cepticismo, desdém, ou cinismo. Quem pergunta “o que é a verdade?” mesmo estando defronte dela, é porque não crê, nem quer crer, na sua realidade. Os homens de hoje não acreditam na verdade, e habituaram-se a viver na mentira. Daí já não nasce revolta alguma, nem incómodo de maior. Consumou-se a transformação: a verdade não é mais critério valorativo, nem virtude a considerar nas relações sociais. Temo que com ela tenha sumido também a honradez, ou até talvez a simples decência, que em tempos eram património indispensável a quem se respeitasse e quisesse ser respeitado.
E lembro-me de Gustavo Corção: “o mundo frequentemente pretende nos insinuar como boa, até como excelente, a filosofia do fato consumado, pela qual, graças à ação dissolvente ou lubrificante do hábito e da repetição, passamos a considerar com naturalidade aquela mesma coisa que nos provocaria gritos de repulsa ou de susto se fosse apresentada de repente, nua e crua.
Não é provável que este caminho traga aos homens, às sociedades humanas, a felicidade, ou ao menos a tranquilidade de espírito para a buscar. Observa-se antes, se bem estou a ver, uma inquietação difusa e profunda que se instala em todas as manifestações humanas, como nuvem de mau estar que nos envolve. Não é de estranhar: Platão já explicava que todo o humano “sabe” o que é a verdade. Conhecer é recordar, descobrir algo já presente em nós. Podem os fumos dos tempos obscurecer esse conhecimento, pode a recordação ser vaga e longínqua, mas sempre subsistirá nas gentes o desconforto e a insatisfação perante a mentira. A nostalgia da verdade.

Manuel Azinhal

manuel.azinhal@gmail.com

Imagens de África e do Oriente

No próximo dia 30 de Novembro, às 17h30, no Palácio da Independência, inaugura-se uma exposição de postais da notável colecção do Dr. João Loureiro, sob o tema genérico "Imagens de África e do Oriente".
A exposição integra-se nas iniciativas destinadas a assinalar a Restauração da Independência de Portugal.

Comemorações do 1º de Dezembro

O PNR - Partido Nacional Renovador leva a efeito em Lisboa uma manifestação para celebrar a independência nacional e assinalar o dia 1 de Dezembro.
A concentração está marcada para as 16 horas na Praça dos Restauradores, seguida de desfile até à Praça do Comércio.
Pretende-se celebrar esta data histórica, evocando a memória dos heróis de 1640 e protestando contra o "Tratado de Lisboa" e a imposição da Constituição Europeia.

Comemoração do 1º de Dezembro

O PNR - Partido Nacional Renovador leva a efeito no Porto uma manifestação para celebrar a independência nacional e assinalar o dia 1 de Dezembro.
A concentração está marcada para as 16 horas na Praça da Batalha, seguida de desfile até à Praça D. João V.
Pretende-se celebrar esta data histórica, evocando a memória dos heróis de 1640 e protestando contra o "Tratado de Lisboa" e a imposição da Constituição Europeia.

Comemoração do 1º de Dezembro

O PND - Partido da Nova Democracia promove uma sessão pública de comemoração do 1º de Dezembro, em Aveiro.
A sessão terá lugar no sábado, dia 1, pelas 15h, no Largo do Rossio, ao lado do Hotel Arcada, em Aveiro.

Um tempo de heróis


Lembrança das nossas enfermeiras-páraquedistas (primeira parte do documentário).

Um tempo de heróis

Angola, os dias do desespero - o livro de Horácio Caio integralmente disponível.

O retrato do abortismo

Descubren en las clínicas abortivas trituradoras de fetos conectadas a desagües:
(...) se encontró una máquina trituradora en la Clínica Ginemedex y los restos de la instalación de otra en otra clínica, TCB. Estas máquinas trituran los fetos-bebés de grandes dimensiones y los reducen a una pasta que luego presuntamente se hacía desaparecer por un desagüe. Así, se borraba la «prueba del delito» y se evitaba la obligación legal de llevar estos «residuos orgánicos reconocibles» a incinerar.

terça-feira, novembro 27, 2007

Contra a discriminação fiscal dos pais casados

O código do IRS penaliza fortemente os pais casados ou viúvos, ao não permitir que possam deduzir ao seu rendimento o valor de 6.500 Eur por filho, permitindo aos pais com qualquer outro estado civil fazê-lo através da pensão de alimentos.
Contra essa discriminação negativa corre esta petição, para que a partir do próximo Orçamento do Estado os pais casados ou viúvos possam ter, relativamente aos encargos com filhos, o direito às mesmas deduções no IRS que os pais com outros estados civis.

200 anos depois

Celebram-se os 200 anos da transferência da Capital portuguesa e da Corte para o Brasil, acontecimento que salvou a Independência de Portugal, o seu Império colonial e a sua Marinha, numa acção de grande imaginação, audácia e demonstração de capacidade nacional. A localização da Capital no Brasil, com a presença do Rei, Corte e todo um aparelho burocrático e cultural, além de criar um pólo de evolução política, legislativa e social acelerada, permitiu consolidar as fronteiras e a coesão do que viria a ser a Nação Brasileira.
Com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Comissão 200 Anos Portugal/Brasil, a editora Tribuna da História promove uma cerimónia de lançamento da obra "A Transferência da Capital e Corte para o Brasil 1807-1808", da autoria de Kenneth Light e seis outros autores, que terá lugar no dia 29 de Novembro, quinta-feira, pelas 17h30m, na Cordoaria Nacional, Torreão Nascente, em Lisboa.
Após a apresentação da obra, será inaugurada a Exposição “Rio e Lisboa - Construções de um Império”.

Nasceu torto

Um artigo de Vasco Pulido Valente, no Público de 2007.11.23:

Quem tiver lido história ou literatura espanhola, ou conhecer alguma oratória política ou alguma colecção de jornalismo ou de ensaios, sabe que a "guerra de independência" ocupa um grande lugar na imagem heróica do país. Deste lado da fronteira, a "guerra da independência" recebeu o nome inócuo e neutro de "guerra peninsular" e foi quase universalmente esquecida. Há cem anos, num momento perturbado ("ditadura" de João Franco, assassinato de D. Carlos, acessão de D. Manuel) ainda a Monarquia tentou comemorar a resistência ao invasor (e ao ocupante) com uma certa dignidade: o Exército encomendou livros, houve conferências, D. Manuel presidiu a uma reconstituição da batalha do Buçaco. Em 2007, só a imprensa, durante uma semana, se lembrou do assunto e, em balanço, sem gastar muito espaço.
Ninguém já conhece o monumento à guerra peninsular como tal (é anonimamente o "monumento - ou a estátua - de Entrecampos"). Ninguém ouviu falar num dos maiores livros da língua, publicado pela última vez por volta de 1980 e hoje completamente esgotado: a História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal, de José Acúrsio das Neves. Como também não se encontra o El-Rei Junot, de Raul Brandão, e já não se lê Arnaldo Gama - o Sargento-Mor de Vilar e o Segredo do Abade - ou A Caçada do Malhadeiro, de Ficalho. E pouca gente se lembra da descrição dos tumultos do Porto contra os "jacobinos" no princípio do romance de Camilo Onde está a felicidade?. Verdade que não apareceu por aqui nenhum Goya, nem os Fuzilamentos do 2 de Maio, nem Os Desastres da Guerra. De qualquer maneira, a ignorância da "guerra da independência", despromovida a "peninsular", é triste.
Por que sucedeu isto? Por causa da subordinação cultural de Portugal à França e ao mito da França como "libertadora da humanidade" (que não se adaptava bem à razia de Bonaparte). E por causa do republicanismo, que nunca desculpou à Igreja, ao "Antigo Regime" e à própria Monarquia liberal a defesa do país contra a "revolução", mesmo sob a forma do império napoleónico. O homem da época passou a ser Gomes Freire de Andrade, um traidor que lutou até ao fim pelo inimigo. Quando por aí a inconsciência política resolve apelar ao patriotismo, nunca me esqueço da omissão e distorção da nossa guerra da independência contra a França. O Portugal moderno nasceu torto. Como, de resto, se viu no PREC.

Viva o 1º de Dezembro!

No próximo 1.º de Dezembro comemoram-se 367 anos da Restauração da Independência.
Olivença foi das primeiras povoações a aclamar D. João IV como seu legítimo soberano, logo em 5 de Dezembro de 1640, identificando-se com a divisa que lhe fora outorgada pelos Reis de Portugal: NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA!
Ocupada militarmente por Espanha em 1801 e mantida sob o seu domínio, Olivença não pode hoje viver, com os demais portugueses, a sua Portugalidade.
A usurpação de Olivença, em violação do Direito, da História, da Cultura e da Moral, constitui alerta eloquente para todos os portugueses que querem um Portugal livre e independente.
Lembrando a ocupação estrangeira do território oliventino e apelando à participação cívica de todos na exigência da sua retrocessão, o Grupo dos Amigos de Olivença participará como habitualmente nas comemorações nacionais do Dia da Restauração.
Convidam-se todos os associados e apoiantes a integrarem a Comitiva do Grupo dos Amigos de Olivença que se concentrará, no dia 1.º de Dezembro, às 15:30 horas, frente à sua sede, na Casa do Alentejo, dali saindo para comparecer nas cerimónias públicas que terão lugar às 16:00 horas, na Praça dos Restauradores, em Lisboa.
Olivença É Terra Portuguesa!

Lisboa, 25 de Novembro de 2007.
A Direcção do Grupo dos Amigos de Olivença

Agenda cultural

Esta semana na SHIP:

27/11/2007
Curso “A Filosofia Portuguesa no Século XX” - O movimento da “filosofia portuguesa”: II – Afonso Botelho, pelo Prof. Doutor Manuel Cândido Pimentel. Promoção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. Na Sala do Conselho Supremo às 15h00.

29/11/2007
Curso de “História da Arte Portuguesa”: A Escultura e a Talha Barrocas, pelo Prof. Doutor Eduardo Duarte. Na Sala do Conselho Supremo às 15h00.

29/11/2007
Conversas de Fim de Tarde: “Os Lusíadas: Sinopse da revisão da matéria dada”, pelo Eng.º António Fausto de Meneses Mesquita. Na Sala de Convívio às 17h30.

29/11/2007
Lançamento do livro “Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros”, do Cor. Manuel Amaro Bernardo, Editora Prefácio. No Salão Nobre às 18h00.

29/11/2007
Curso “A actualidade das heresias antigas”, do Centro Cultural de Lisboa Pedro Hispano. Na Sala do Conselho Supremo às 20h00.

Sócrates forever?

A governação de Sócrates parece ter gerado um fenómeno paradoxal.
Por um lado, a acreditar no que se ouve, ninguém gosta do homem e todos estão queixosos com as suas políticas.
Por outro lado, desde a tomada de posse o governo tem estado sozinho em campo - sem nunca ter tido oposição. E chegamos a um momento, ao aproximar-se o final do mandato, em que não se vislumbra alternativa nenhuma e entranha-se nas gentes a sensação da inevitabilidade de nova vitória de Sócrates.
Olhando-se em volta, constata-se que o PSD escolheu a sua mais medíocre liderança de sempre e encolheu-se envergonhado, o CDS desapareceu à procura do perdido Paulo Portas, o PCP vegeta no lar da terceira idade, o Bloco gatinha à volta da mesa do poder, e o Dr. Monteiro ocupa-se a combater a extrema-direita.
Não existe oposição política ao governo e ao poder de Sócrates e sua gente.
Ou lhe acontece algum desastre, ou temos Sócrates forever.

segunda-feira, novembro 26, 2007

O Auto dos Nepotes

O teatro é a vida; teatralizemos pois. Sobre o caso Pedroso não há notícias, mas já há esta magnífica peça.

Perder por falta de comparência

"Como sempre, a direita continua a reduzir o debate sobre a cultura ao património (e sabe Deus...).
Não tem discurso nem estratégia para a criação, o que lhe custa uma derrota por falta de comparência de cada vez que vai a jogo na matéria, antes de mais porque aceita que o jogo seja no campo do adversário. Não vê, ou não quer ver, que isto é uma questão vital de legitimação simbólica que a esquerda tem monopolizado, tal como sucede, de resto, com a ecologia ou a imigração.
Não tenho a mais pequena dúvida de que o tão discutido futuro da direita passa por aqui."

Pedro Picoito, no Cachimbo de Magritte.

E só a perdem os que a têm...

Para mim, a blogosfera é um meio de aprendizagem e também uma maneira de confirmar ou infirmar certas teses. Em cada cem bloggers ou comentadores, a minha estimativa é a de que não existem mais de cinco - e, em ocasiões anteriores, eu já identifiquei alguns - que consigam manter um debate racional por mais de dez minutos. A maior parte perde a cabeça ao final de cinco minutos, senão mesmo ao primeiro embate.
(no Portugal Contemporâneo)

O estranho caso da notícia desaparecida

João Pedroso foi contratado duas vezes pelo Ministério da Educação (que não tem juristas nos seus quadros) para fazer o mesmo trabalho.
As notícias sobre o caso é que sofreram eclipse total: leia-se aqui e aqui.
Tão significativo como a notícia é o seu posterior desaparecimento.

Qual é a novidade?

O Corta-Fitas resolveu publicar uma série de posts dedicadas a algumas interessantes criaturas cuja presença está anunciada para breve na capital, sob o título comum "Este ditador vem a Lisboa". Conclui, ao que me parece com mágoa, que "Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras."
Os posts já vão no número 11 (onze).
Eu respeito os desgostos alheios, mas não percebo a relevância do exercício. Era mais fácil averiguar qual foi o ditador que nunca veio a Lisboa... se é que alguma vez houve algum que não fosse recebido por cá. Só os que não quiseram vir...

Normalmente não se fala nisso...

"Morreram mais portugueses em combate na Flandres num ano, entre 1917 e 1918, do que durante 13 anos de guerra em Angola entre 1961 e 1974 (1380 contra 1098)."
Um artigo de Rui Ramos sobre as nossas guerras no século XX.

O futuro que nos preparam

Eles estão doidos! - é o «Retrato da Semana», de António Barreto, no «Público» de 25 de Novembro de 2007.
Está excelente, muito bem visto, vale a pena ler. Mas, pergunto eu se me permitirem, não era assim que queriam???

Mais Évora

Évora: número de habitantes continua a diminuir
(Pois é. Contra toda a realidade, o que poderá valer o discurso da nomenklatura local? A este propósito, ou a despropósito, chamo a atenção para um artigo destemperado que li esta manhã no oficiosíssimo Diário do Sul. Uma Senhora da nossa classe política abespinhou-se e atirou-se violentamente contra o "Mais Évora". Por mim, acredito mais no "Mais Évora" do que na Senhora e amigos todos juntos).

O SIS serve para isto? E pode?

Manuel Monteiro teve conversações com elementos ligados ao Serviço de Informações de Segurança (SIS) sobre a entrada de militantes da extrema-direita portuguesa no Partido da Nova Democracia (PND). O DN sabe que Monteiro foi avisado sobre quem eram os militantes considerados mais perigosos e cujos movimentos e actividades estão a ser acompanhados pelo SIS. O líder do PND terá usado a informação para a cruzar com os dados existentes nos ficheiros do partido.

Esta é parte de uma notícia do DN de hoje. É tão extraordinária que não sei bem como comentar. O SIS intervém na luta político-partidária? O SIS pode vigiar cidadãos e organizar ficheiros com base nas suas tendências políticas? Podem fazer-se licitamente os cruzamentos de dados mencionados na notícia? Algum especialista na matéria pode informar-me de quantos crimes estão aqui indiciados?

domingo, novembro 25, 2007

Para segunda e terça

Na Sociedade Histórica da Independência de Portugal:

Dia 26/11/2007:
Curso “Os Jesuítas e a História de Portugal” - Mitos e Realidades de uma Ordem Controversa: “Arte da Companhia de Jesus no mundo ultramarino”, pela Profª Doutora Cristina Osswald. Na Sala do Conselho Supremo às 15h00.

Dia 27/11/2007:
Curso “A Filosofia Portuguesa no Século XX” - O movimento da “filosofia portuguesa”: II – Afonso Botelho, pelo Prof. Doutor Manuel Cândido Pimentel. Promoção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. Na Sala do Conselho Supremo às 15h00.

sábado, novembro 24, 2007

O caso Esmeralda

Indispensável ler este post.
O José não diz tudo, mas diz muito (sobretudo a quem souber ler). Fiquei até com a impressão de que sabe mais do que diz. Eu também, mas não posso dizer.

Austrália: Partido Trabalhista vence eleições

Fontes oficiais da Comissão Eleitoral Australiana revelaram que os trabalhistas levam uma forte vantagem. Bush terá sofrido uma pesada derrota.

Soldado português morre no Afeganistão

Um jovem português perdeu a vida num acidente rodoviário durante uma patrulha, perto de Cabul. O que andava ele a fazer tão longe de casa? Quem o mandou para ali?

Durão proposto para Nobel da Paz

A ideia foi anunciada este sábado por Ramos Horta. Não me parece mal. Aquilo já anda tão desvalorizado.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Já não há alumínio??

A notícia:
Évora: água ultrapassa limites de arsénio
Entretanto, a Câmara de Évora esclarece.

Contos proibidos (II)

Muitas vezes perguntei a mim mesmo como foi possível que o PS, depois de tudo o que passou, tenha posto o Dr. Ricardo Rodrigues em posições de tanto destaque e tão grande exposição pública.
Num país onde tudo se sabe e onde todos se conhecem, como foi possível?
Ainda não encontrei resposta. Por vezes penso que o PS seja assim a modos que um gato escaldado com um fascínio irresistível por água a ferver.

Contos proibidos (I)

O livro desaparecido de Rui Mateus está disponível em http://wiki.horabsurda.org, na Media Gallery.
Aproveitem, que vale a pena.

“Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros”

Novo livro do Coronel Manuel Amaro Bernardo, desta vez sobre a guerra na Guiné Portuguesa e um dos temas mais espinhosos da nossa história militar recente.
O lançamento público da obra “Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros” da autoria de Manuel António Bernardo, editada pela Prefácio, realiza-se no próximo dia 29 de Novembro de 2007 (quinta-feira), pelas 18 horas, no Palácio da Independência (SHIP), Largo de São Domingos, n.º 11, em Lisboa, com a presença do autor e apresentação a cargo do General Ricardo Durão.

Concerto coral na SHIP

No sábado dia 24/11/2007, pelas 15h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência:
Concerto pelo Coro Polifónico de Almada, sob a direcção artística do Maestro João Branco.

PGR ignorante ou atrevido?

Diz a LUSA que "O ministro da Justiça, Alberto Costa, assegurou hoje, em Bruxelas, que o Governo respeita a autonomia do Ministério Público (MP), sublinhando que, se o PGR pensa o contrário, trata-se de um "equívoco" que resulta de "desconhecimento" ou "atrevimento".
Comentários aqui.

Revisionismo

Um blogue dedicado à divulgação dos temas do revisionismo histórico: Revisionismo em linha.

Vera Cruz de Marmelar

No sábado dia 24 de Novembro prossegue em Portel, no Auditório Municipal, pelas 16 horas, o ciclo de conferências sobre Vera Cruz de Marmelar, história, arquitectura e arte.
Será conferencista Rafael Alfenim, e o tema do evento é "Igrejas Tardo-Antigas e Alto-Medievais do Alentejo. Conservação e Valorização."

Santo Aleixo da Restauração

A freguesia de Santo Aleixo da Restauração promove, como todos os anos, comemorações do 1º de Dezembro, assinalando a vitória portuguesa nas guerras da restauração da independência.
Veja o programa, e se estiver por aqui não falte.

Memória histórica

Um crime que trouxe um regime: Centenário do Regicídio

Língua Portuguesa

Uma ação em defesa do português, para assinar oje mesmo:
Não ao Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

quinta-feira, novembro 22, 2007

A tribute to the late Ian Smith


Ian Smith - 8/4/1919 - 20/11/2007.

Na morte de Ian Smith


Querem comparar a Rodésia dele com o Zimbabwe de Mugabe? Vamos a isso!

Liberal e Realista

Últimas do Rui:

monarquia ou república: uma posição liberal

um homem como os outros?

quarta-feira, novembro 21, 2007

Interlúdio musical

Ética republicana

É mesmo indispensável ler esta Sociologia da Educação

terça-feira, novembro 20, 2007

Agenda para quinta-feira

No dia 22/11/2007, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal:
Pelas 15 horas, na Sala do Conselho Supremo, curso de “História da Arte Portuguesa”: A Arquitectura Barroca, pelo Prof. Doutor Eduardo Duarte.
Às 17h30, na Sala de Convívio, conversa de fim de tarde: “Para que serve a Investigação Operacional. O caso do aeroporto da OTA”, pelo Eng.º José Luís Teixeira Costa.

A IGREJA É DONA DA VERDADE

(um artigo de Gustavo Corção)

Muitas vezes vemos estampada em revistas da revolução dita “progressista” esta sentença: “A Igreja não é dona da verdade”, com a qual quem a enuncia demonstra uma secreta vergonha de pertencer a uma Igreja de vinte séculos que ainda acredita em coisas que o mundo moderno julga inacreditáveis; ou então pensa estar fazendo um gesto de apreciável humildade quando reconhece as manchas e as rugas de tão antiga instituição. Outros sentimentos ainda menos nobres poderão ditar a mesma sentença. Cardeais, arcebispos, bispos, padres e leigos dizem “que a Igreja não é dona da verdade” dentro de uma faixa de intenções que se estende do simples respeito humano até o repúdio apóstata.
Ninguém, evidentemente, jamais pretendeu ou pretenderá atribuir à Igreja a posse as verdades astronômicas, ginecológicas, paleontológicas, econômicas e sociológicas. Aliás, são justamente os ditos “progressistas” ou “novos bispos” que desembaraçosamente sentenciam sobre esses vários assuntos, e outros mais, em que possuem o que o professor Gudin costuma chamar de “ignorância especializada”. Mas esses personagens, ainda que não tenham apostatado, não são a Igreja: são o que Maritain chamou “son personnel”.
Há, porém, um registro em que é preciso dizer que a Igreja Esposa de Cristo, a Igreja-Igreja, única depositária do Sangue de Cristo (nos sacramentos) e das palavras de Deus (na Sagrada Doutrina da Salvação), é guardiã e distribuidora, Mãe e Mestra de todas as verdades que concernem à Salvação e à união com Deus. Nesse registro, que os homens costumam usar para ostentar uma pseudo-sabedoria que foge de qualquer absoluto, nesse sentido nós podemos e devemos dizer que a Esposa de Cristo, em comunhão de bens com o Esposo, é dona da verdade que liberta e que salva.
O que não se pode dizer é que a Igreja seja a causa primeira e autora dos artigos de Fé. Não se pode dizer, por exemplo: “Creio na ressurreição da carne porque a Santa Madre Igreja ensina”. A maneira acertada é esta outra: “Creio na ressurreição da carne PORQUE DEUS REVELOU e porque a Santa Madre Igreja ensina”. No primeiro PORQUE está a razão, o objeto formal da Fé: a Revelação de Deus; no segundo porque está o condicionamento (conditio sine qua non) de nossa adesão, porque Deus, no plano da Redenção, não quis confiar a cada um diretamente o dado revelado, mas preferiu confiá-lo à Mãe e Virgem: mãe que distribuirá e o ensinará; virgem que não tocará, que não será espessura, obstáculo, nem destruidora da mínima parcela do tesouro que guarda e distribui. Nesse sentido pode-se dizer energicamente com Santo Tomás, que nada e ninguém traz qualquer adição ou restrição ao dado revelado, nem os doutores, nem os anjos, nem a Igreja — “nihil aliquid quam Veritas Prima”. (II, II, 1.1).
Mas na pauta das circunstâncias concretas do plano de Deus, para nós, “quod nos”, não é somente errôneo negar que a Igreja não é dona da Verdade, é ímpio, é malícia contra a fé que devemos ter na santidade, sem mancha e sem ruga da Igreja de Cristo. Os chamados “progressistas” inverteram os termos da questão abordada magistralmente por Maritain na primeira parte de seu livro “De L’Église du Christ”. Os “progressistas” flagelam desembaraçosamente a Pessoa da Igreja, mas não admitem que lhes pisem os purpurados calos do personnel, que são para eles mais sagrados do que as cinco adoráveis chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo.
É preciso dizer por cima dos telhados, aos gritos, com cólera ou com dor, que nós não precisamos dos conselhos e da colaboração dos protestantes para decidir a feição de nosso culto de adoração, isto é, para observar e apartear o que temos de mais íntimo na vida da Igreja. Esta falsa modéstia, esta falsa humildade, este falso ecumenismo é que clamam aos céus e a nós nos ferem em nossa honra e no nosso amor.

Ignorância e preconceito de mãos dadas

(um artigo de João Mattos e Silva)

A ignorância e o preconceito andam de mãos dadas e entrelaçadas, numa história de amor comovedora, sempre que se fala de monarquia. Dois exemplos recentes chegam para aferir esta afirmação.
Numa entrevista dada em Outubro último, uma conhecida jornalista – que habitualmente discorre ex catedra sobre todos os temas e sobretudo os que considera «progressistas» – a propósito do golpe de estado republicano, acusou a monarquia de ser, em 1910, absolutista e de haver falta de liberdade, entre outras coisas igualmente risíveis, como ter o novo regime dado mais direitos aos cidadãos e ter o novo regime implantado a democracia. Além de desconhecer que em 1910 a monarquia era constitucional, que havia partidos políticos, que havia um Parlamento eleito, que existia um partido republicano, que os republicanos faziam comícios, tinham jornais republicanos, deputados republicanos, em total liberdade e representavam apenas 10% do eleitorado, desconhece que a lei eleitoral publicada pela república em 14 de Maio de 1911 conferia o direito de voto apenas aos maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou fossem chefes de família há mais de um ano (em 1913 os chefes de família analfabetos perderam esse direito), excluindo os analfabetos, as mulheres e os militares no activo. Curiosamente, foi em 1931, na ditadura, que as mulheres, mesmo com limitações, puderam ser eleitoras. Como parece desconhecer que em 1910 havia 850 mil eleitores recenseados e em 1913, apenas 400 mil.
No seu romance «Rio das Flores», o jornalista Miguel Sousa Tavares, situa o início da história no primeiro quartel do século XX e desenvolve o retrato de um personagem, o primeiro de três gerações que a atravessam, grande proprietário no Alentejo, monárquico convicto e homem que, frontalmente, critica a república nascente. Caracterizando o novo regime diz o autor: «O poder autocrático e distante dos últimos anos da Monarquia fora substituído por um poder dissoluto, deliquescente, que parecia sem rumo. A aristocracia caduca e inculta dera lugar a uma pequena-burguesia ávida de acreditação social e de importância pública». E mais adiante, diz sobre outro personagem, que fora tratado por «morgado»: «Diogo atrapalhou-se: não gostava de ser tratado por morgado, esse título que se referia ao iníquo sistema sucessório em que o filho varão mais velho herdava tudo...A República pusera fim legal aos morgadios…» Miguel Sousa Tavares, além de jornalista é licenciado em Direito e tem obrigação de saber História. E é filho de um monárquico ilustre e ilustrado que defendeu a monarquia constitucional contra a maré dos que, durante o Estado Novo, a denegriram, defendendo esse regime de liberdade contra os monárquicos anti-liberais e os apoiantes do autoritarismo republicano. Tem, por isso, a obrigação de saber que o poder nos últimos anos da monarquia não era autocrático, regulava-se por uma Carta Constitucional, liberal, que definia e limitava os poderes dos órgãos do Estado. E que entre a aristocracia, que não era só constituída por burgueses endinheirados, alguns realmente incultos, que foram nobilitados por razões políticas, como muitos outros têm sido feitos comendadores da república, a maioria era culta e havia pessoas de enormíssima craveira intelectual e cultural, de que são meros exemplos Bernardo Pinheiro de Melo, Conde de Arnoso, António Maria Vasco de Melo César e Meneses, Conde de Sabugosa, que pertenceram aos «Vencidos da Vida», António Macedo Papança, Conde de Monsaraz, importante poeta, António Sebastião de Carvalho, Visconde de Chanceleiros, grande político, tribuno e agricultor ou D. Tomaz de Mello Breyner, Conde de Mafra, distintíssimo médico. Sem esquecer o próprio Rei D. Carlos, pintor de valor reconhecido e oceanógrafo notável, E que não foi a república que extinguiu os morgadios, mas a Monarquia Liberal, em 1863.
Entre preconceitos, má fé e ignorância se quer construir a História, se pretende influenciar a opinião pública e se faz a apologia de um regime. Contra essas vozes e outras que se irão fazer ouvir, mentindo e deturpando, para enaltecer os cem anos da república, não podemos calar-nos.

Novo blogue eborense

Uma nova presença na blogosfera eborense: Évora Terra Portuguesa.
É um blogue assumidamente partidário, do PNR, mas propõe-se além do mais "promover o património natural e cultural de Évora" e solicita a colaboração dos leitores na denúncia dos "problemas da sua rua, bairro, cidade".
Desejamos sinceramente que, apesar do alinhamento partidista, seja uma mais valia para a estagnada blogosfera eborense, traga qualidade e elevação, ainda que sem prejuízo do intervencionismo e da militância, e signifique uma mais valia e um contributo decisivo para os objectivos proclamados.

"As eleições ganham-se com mentiras"

Medina Carreira, que acaba de lançar um novo livro intitulado "O dever da verdade", falou ontem sobre os que considera os maiores problemas de Portugal.
Sintetizou ele que a raiz do problema de Portugal resulta da quebra no crescimento económico, concretizando que durante 15 anos crescemos seis por cento ao ano, depois entre 1975 e 1990 crescemos quatro por cento ao ano, e finalmente desde 1990 para cá estamos a crescer 1,4 por cento ao ano.
E prosseguiu declarando com pessimismo que "com esta gente que temos, não podemos ter muitas esperanças"; "as eleições ganham-se com mentiras".
Explica ele o funcionamento do sistema resumindo que neste "ninguém é responsável por nada" e que "o País apenas é governado com rigor durante um ano ou um ano e meio por legislatura" dado que no restante tempo a tarefa da governação consiste em "preparar as mentiras para a próxima campanha eleitoral".
Está visto que este senhor não é candidato.

Lembrar António Quadros

Hoje dia 20 de Novembro, às 15 horas, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, decorre uma sessão do ciclo "A Filosofia Portuguesa no Século XX" dedicada especialmente ao movimento da filosofia portuguesa e à figura de António Quadros. Será orador António Braz Teixeira.

segunda-feira, novembro 19, 2007

BRIC

Há poucos anos vivia-se num mundo bipolar, teorizando-se sobre os dois blocos como se fosse essa a realidade do mundo até à eternidade. Desfeitos esses equilíbrios e essas ilusões, cedo despontou a perspectiva de um mundo unipolar, um universo globalizado onde uma única potência exercia os seus superpoderes.
O Século Americano!!!
Passaram poucos anos, e desconfia-se seriamente que o futuro não vai ser assim.
Ninguém sabe com certeza quais serão os futuros equilíbrios de forças na política internacional, mas avolumam-se os sinais de que a história não caminha para aí.
Agora fala-se cada vez em BRIC, abreviando-se na sigla as previsões da cada vez maior presença na política mundial de potências emergentes como o Brasil, a Rússia, a Índia, a China.
Realmente, como me dizia irónico Orlando Vitorino num já remoto serão no IADE, "nada no mundo é eterno a não ser o próprio mundo".
Podem as relações internacionais manter-se reguladas por um quadro desenhado no imediato pós-segunda grande guerra? Que sentido faz hoje um Conselho de Segurança com aqueles membros permanentes e aqueles direitos de veto? Será possível manter muito mais tempo um tão flagrante desfasamento da realidade? Os novos poderes continuarão a aceitar semelhante anomalia? Nem um país do Hemisfério Sul pode enfileirar entre os grandes?
A lógica da geopolítica, em face da demografia, dos territórios, da massa crítica das novas potências, obriga-nos a concluir que não. Em breve a realidade das economias, e, inevitavelmente, do poderio bélico, obrigarão também a idêntica conclusão.
Não são apenas as potências agrupadas no que se designou por BRIC. Para além do Brasil, da Rússia, da Índia, da China, outros Estados não deixarão de querer também desempenhar papéis de primeiro plano na cena internacional. O Paquistão nuclear, a Indonésia, a África do Sul, o Irão, a Venezuela...
As notícias sobre a crescente cooperação entre Irão e Venezuela, em afrontamento aos americanos, têm significado mais profundo do que as transitórias personalidades dos seus actuais dirigentes. Por enquanto, é ainda o petróleo que faz mover o mundo. O petróleo e os dólares, estamos para ver até quando.
A propósito, intrigou-me a falta do destaque devido para as notícias sobre a abundância das reservas petrolíferas brasileiras. Lembro-me de aqui há anos ser habitual comentar que o Brasil tinha tudo excepto petróleo. Agora constata-se que nem isso lhe falta. O assunto tem alcance muito maior do que a simples vantagem conseguida pela GALP. Na verdade, parece-me que a circunstância de a GALP ter ficado com a terminação releva pouco para o caso: a taluda é que importa.
Quanto tempo mais manterão a sua centralidade conflitos como o Médio Oriente ou a Irlanda do Norte? Num mundo novo em que os parceiros decisivos sejam outros, não é de crer que não mude o olhar da comunidade internacional sobre disputas que vistas de outros pontos do globo surgem inevitavelmente como brigas exóticas e desinteressantes.

Na corrente

Bem vi no Horizonte o repto.
E logo tentei, ainda que atarantado, corresponder sem mentira nem batota. Sabendo embora que não resultava, comigo não resultava, há muito que as tentativas de inserção social para mim estão votadas a fracasso certo. De imediato, o livro mais próximo era um só, o único, não podia haver engano voluntário ou involuntário. Pouco lancei a mão, que estava quase na mão. Era o Código de Processo Civil anotado, o popularissimo calhamaço que tem feito a fortuna do Dr. Abílio Neto. Acabrunhado folheei à procura da página 161, e lá estava: a quinta frase completa respeitava ao vínculo dos jogadores de futebol, era uma citação de um Acórdão da Relação de Lisboa a explicar que esses profissionais fornecem a sua prestação laboral de forma subordinada, sob a autoridade, a direcção e a fiscalização da entidade que os contratou, pelo que estamos realmente perante contratos de trabalho...
Bati em retirada, e desisti da correnteza. Estes jogos blogosféricos só funcionam com o seu q. b. de mentira (benevolente, pois claro).
Roía-me a consciência, e já em casa, horas mais tarde, lembrei-me outra vez do Horizonte. E não resisti, em sobressalto olhei para a prateleira mais perto, ao alcance do braço... e qual era o livro, qual era, o que se ofereceu logo ali, mais pertinho que os outros todos? Era uma edição da Bíblia Sagrada, que estava insofismavelmente colocada à ponta da fila e a oferecer-se à mão estendida, e que tinha inequivocamente bem mais do que as páginas precisas. Abri a página 161. Calhou no Levítico, e a quinta frase era uma em que o Senhor Deus de Israel estatuía que para o seu serviço não queria ninguém com aleijão ou deformidade, para que os filhos de Levi estivessem atentos aos coxos e zarolhos e demais impuros que pudessem existir entre eles...
Desisti. Fechei o Livro.
Passo. Agora queria ver a experiência contada pelo Bernardo, pelo Rui e pelo António Maria.

Amândio César

Alguém disse que a vida é um caminho ladeado de túmulos e em que o último é o nosso. Com a idade tenho vindo a compreender a totalidade deste aforismo. À medida que vamos subindo os degraus da escalada da Vida, chegamos a uma altura em que começamos a ouvir – com insistência e nitidez -, vozes do passado, a chamar-nos. Amigos que nos deixaram e que “nos abrem, na alma, sulcos de dor e amargura”.
"Um César das Letras e da Portugalidade", por José Carlos Craveiro Lopes.

domingo, novembro 18, 2007

Filosofia portuguesa actual

in LEONARDO, revista portuguesa de filosofia:
Francisco Moraes Sarmento, director da Leonardo, é um dos oradores do colóquio que se realiza no próximo dia 24, pelas 16 horas, na Biblioteca Municipal de Sesimbra. Subordinada ao tema "Filosofia Portuguesa actual", a conferência tem também a participação de António Cândido Franco, Joaquim Domingues e Abel Lacerda, sendo o debate moderado por Roque Braz de Oliveira. A conferência é antedida pela apresentação da obra que António Telmo intitulou "Contos Secretos" por Pedro Sinde. A iniciativa insere-se nas comemorações dos 150 anos de Filosofia Portuguesa.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Arqueologia política portuguesa

Um excelente artigo de Rui Ramos.

António Quadros


Recordando António Quadros

Pela Filosofia

Através do Forum Filosofia, soube que a Sociedade Portuguesa de Filosofia e outras organizações como a Associação de Professores de Filosofia e os Departamentos Universitários de Filosofia juntaram-se para criar uma petição dirigida à Ministra da Educação, com dois pedidos essenciais:
1) que reintroduza nos Cursos Científico-Humanísticos de nível secundário de educação o exame final nacional de Filosofia (10.º/11.º anos), simultaneamente para efeitos de aprovação e de ingresso no Ensino Superior nos cursos que o requeiram;
e
2) que integre a disciplina de Filosofia A como opção, da componente de formação específica, em todos os Cursos Científico-Humanísticos de nível secundário de educação.

Assinar esta petição é muito fácil: Forum Filosofia ou Sociedade Portuguesa de Filosofia

Mais Vida Mais Família

Um blogue de informação sobre as questões da Vida e da Família.

Populismos

quinta-feira, novembro 15, 2007

Pode a deontologia ser alterada por decreto?

Os médicos entendem que não.
O Ministro da Justiça, e com ele um parecer da Procuradoria-Geral da República, defendem que sim.
Por esta lógica, os Dez Mandamentos não se escapam de revisão obrigatória.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Centenário do Nascimento de Raymond Abellio

Lembrança da "Voz Portalegrense": passaram cem anos sobre o nascimento do autor de "Para um novo profetismo".
Centenário do Nascimento de Raymond Abellio

segunda-feira, novembro 12, 2007

Nem mais

No Portugal dos Pequeninos:

Bento XVI recebeu os bispos portugueses no Vaticano e, sumariamente, exortou-os a serem menos cortesãos. A palavra "igreja" significa comunhão e, tantas vezes perdida em "colóquios" e em "diálogos" com o regime, a nossa igreja supõe que fala com a sociedade. Não fala e, pelo contrário, é "engolida" pelo "sistema". Viu-se no debate sobre o aborto em que pesou mais a salvaguarda da instituição dentro do "sistema" do que os princípios, com uma lamentável retirada de cena durante toda a campanha. Não tivemos uma igreja empenhada, tivemos uma igreja conformada.

Ideologia e anti-ideologia

Recordando-me um recente número da Alameda Digital, um artigo de Olavo de Carvalho:
O pragmatismo supra-ideológico não só é uma ideologia, mas é mesmo uma das mais enganosas, já que a maior parte de seus seguidores lhe ignora totalmente as origens e por isso mesmo dificilmente se encontra entre eles um manipulador consciente: são praticamente todos vítimas da ilusão que propagam.
Embora leve o nome da escola filosófica fundada por Charles Sanders Peirce e William James, essa ideologia tem pouco a ver com ela; e, embora seja hoje moeda corrente entre os liberais, ela se origina no que pode haver de mais oposto ao liberalismo, isto é, a tecnocracia positivista com seu sonho de substituir a vida política por uma administração científica centralizada.
Os pragmatistas supra-ideológicos são tão inconscientes das implicações reais da sua escolha que nem percebem que a hegemonia da racionalidade econômica sobre os fatores ditos ideológicos e “irracionais” da vida social não traria jamais a vitória da liberdade de mercado, mas a expansão ilimitada da administração estatal.
Um mundo sem ideologias é o mesmo que um mundo sem política – é o projeto da “sociedade administrada”, isto é, totalmente controlada, para o qual tantos liberais contribuem inconscientemente por meio de sua adesão ao pragmatismo supra-ideológico, que deveriam antes combater por todos os meios ao seu dispor.

De novo as caricaturas e a História

No Insurgente, anuncia-se uma obra que visa "recuperar a verdade sobre o Senador Joseph McCarthy".
"Blacklisted by History: The Untold Story of Senator Joe McCarthy and His Fight Against America’s Enemies", por M. Stanton Evans.
Desmantelando os mitos instalados, combate-se a imagem convencional construída para McCarthy ao longo de décadas de propaganda unilateral.
O revisionismo alastra perigosamente.

Agenda cultural

Decorrem hoje à noite e amanhã à tarde na SHIP duas sessões do maior interesse cultural.
Hoje dia 12/11/2007 às 20h00, na Sala do Conselho Supremo, pode saber-se mais sobre "A Actualidade das Heresias Antigas", uma iniciativa do Centro Cultural de Lisboa Pedro Hispano, onde se espera a presença de todos os interessados e que se recomenda vivamente até a blasfemos confessos .
Amanhã dia 13/11/2007, na mesma Sala do Conselho Supremo, às 15h00, fala-se sobre "A Filosofia Portuguesa no Século XX" - mais especificamente a Prof. Maria de Lourdes Sirgado Ganho vai discorrer sobre o tema "A perspectiva existencial: Vergílio Ferreira".

Pode lá ser!

Um político (...) apanhado numa escuta a dizer com as letras todas que só não abandona(va) o Parlamento por causa da... imunidade parlamentar.

Judeus

Com uma desesperança talvez excessiva, Alexandre Franco de Sá referiu uma vez "a absoluta impotência de qualquer estudo sério e demorado perante a força e o poder de uma caricatura".
As polémicas que têm agitado a blogosfera a propósito de judeus e temática associada têm para mim aspectos inequivocamente anacrónicos, como se reconhecerá nos termos em que se situam e nas referências utilizadas, de sabor oitocentista, fin de siècle. São intrigantes as paixões e os entusiasmos desencadeados.
E a força das caricaturas sempre presente.
Já detectei várias almas ardentes a atribuirem à Inquisição Portuguesa a expulsão de judeus decretada no reinado de D. Manuel, e também os tumultos da Páscoa de 1506.

Escolha

Se me pedissem para nomear os três maiores venenos da Idade Contemporânea, não hesitaria muito: Marxismo, Determinismo e Psicanálise.

sábado, novembro 10, 2007

Patranhas de Outubro, ou intrujices instituídas

A mitificação anda geralmente a par com a mistificação.
Andam agora no ar velhas imagens da revolução de Outubro, imagens de Épinal acompanhadas pelos acordes heróicos estabelecidos por 90 anos de propaganda. O quadro é afinal sempre o mesmo, a revolta da liberdade contra a tirania, o derrube de um regime opressivo e cruel, uma maravilhoso momento de sonho e poesia na história da humanidade.
A verdade não é essa, e seria conveniente baixar a febre aos comemoracionistas.
A revolução soviética não pôs fim a nenhum regime opressivo e cruel, nem inaugurou nenhum período de liberdade. A revolução comunista em causa derrubou o governo de Kerenski e acabou com o regime democrático e parlamentarista vigente. Os comunistas apoderaram-se do poder, e lançaram de imediato uma perseguição sanguinária e impiedosa a todos os seus reais ou presumidos adversários políticos - de dimensões, intensidade e duração sem paralelo na história. A época iniciada pela revolução de Outubro foi infinitamente menos livre do que aquela que a precedeu.
O czar e sua família foram chacinados, mas não porque detivessem algum tenebroso "poder czarista" contra o qual a fúria revolucionária se desencadeasse - tudo isso já tinha ficado para trás, ultrapassado pela marcha dos tempos.
Quanto mais olharmos para os acontecimentos desse ano de 1917 na Rússia, ou para a sequência que vinha desde 1905/1906, mais nos confrontamos com a espantosa quantidade de mentiras que são constantemente repetidas e pacificamente aceites como versões consagradas.
Entre nós, também temos uma revolução de Outubro que é de bom tom venerar no mesmo estilo. E também aqui se detecta a mesma inversão que parece ser característica dos revolucionários: acusar os outros de serem e fazerem aquilo que normalmente eles é que fazem e são.
Apresentar como liberticida o regime demoliberal derrubado entre nós em 1910, e libertador o que se se lhe seguiu, é pôr a verdade de pernas para o ar. Ver a tirania personificada no infeliz D. Manuel, ou a ditadura no frágil governo de Teixeira de Sousa, ou o obscurantismo e a opressão no parlamento de então, é deformação risível que ninguém pode sustentar seriamente.
Mas o progresso deve ser isto. Para que a teoria esteja certa é preciso fazer a realidade coincidir com ela. O que foi tem que ser necessariamente muito mau, e o que veio um passo em frente na marcha da humanidade. Mesmo que essa legitimação posterior exija a caricaturização, a falsificação, a inversão da realidade.

Escola de facção?

João Miranda continua o debate sobre o ensino:
A ESCOLA DA FRACÇÃO PROGRESSISTA

Marcel Aymé

Entre as leituras da manhã, lembranças de Marcel Aymé:

Uma, Marcel Aymé, 1902-1967

Duas, Un des plus grands écrivains français, un homme d’une infinie bonté

sexta-feira, novembro 09, 2007

Família, Escola, Educação

«La débâcle de l'école/ Une tragédie incomprise», obra colectiva reunida por Laurent Lafforgue e Liliane Lurçat.
Trata-se da colectânea das actas do colóquio organizado a 17 de Maio de 2006 em Paris pela "Association Famille, École, Education", sob o lema "La finalité de l'école".

A bagunça legislativa

Saiu hoje no Diário da República o diploma de rectificação do diploma de rectificação do novo Código de Processo Penal. Republica-se novamente o dito CPP. É a terceira vez em dois meses que o calhamaço sai no jornal oficial. Pode esperar-se que à terceira seja de vez, mas a fé é pouca.
No linguajar instituído, trata-se da "Declaração de Rectificação n.º 105/2007, D.R. n.º 216, Série I de 2007-11-09", na qual a Assembleia da República "Rectifica a Declaração de Rectificação n.º 100-A/2007, de 26 de Outubro, que rectifica a Lei n.º 48/2007, de 29 de Agosto, que procede à 15.ª alteração e republica o Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 78/87, de 17 de Fevereiro".
Estão a compreender?

Olhando de longe vê-se melhor

Deixem-se de pedantices e venham aprender a arte da humildade

Sobre gastronomia

Ao Gosto do Gosto - a excelente caneta de António Manuel Couto Viana continua em acção.
Sob a chancela da Antília Editora, Couto Viana acrescentou mais um livro à sua longa, vasta e variada bibliografia. Desta vez, é o sétimo livro sobre um dos seus temas, a gastronomia.
Profusamente ilustrado, com um magnífico trabalho de design e 184 páginas, este livro é «a memória das mesas a que me sentei, bem como a evocação de outras a que desejei sentar-me, além de algumas pesquisas literárias, sempre no meu espírito. Oxalá, tais memórias, evocações e pesquisas vão ao encontro do gosto do leitor».
António Manuel Couto Viana, um Senhor da Cultura Portuguesa, poeta, crítico literário, ensaísta, contista, dramaturgo, memorialista, gastrólogo e prefaciador, reúne neste volume textos “publicados na imprensa, não só sobre a cozinha e a adega portuguesas, mas também estrangeiras, sobretudo europeias".

Entretanto, aqui na blogosfera surgiu um blogue que promete, sobre a antiga cozinha tradicional portuguesa. Por agora, serviu-nos o caldo e um pudim. Mas espera-se coisa de maior sustância.

quinta-feira, novembro 08, 2007

EDUCAR É CONTRARIAR

(artigo de Maria José Nogueira Pinto, em www.dn.pt )

Esta fórmula simples era usada pela minha tia e provocava-nos, a nós crianças, os piores sentimentos. Já o povo dizia que de pequenino se torce o pepino. O tempo deu-lhes razão! Toda a polémica em torno de duas questões - o ranking das escolas e o novo regime de faltas - obriga a refrescar a memória sobre quais foram, nos últimos trinta anos, os pressupostos filosóficos do modelo educativo português.
O primeiro e o mais nocivo é o princípio rousseauniano da criança boa, ou boazinha, ou tendencialmente boazinha. Daqui decorre a ideia peregrina de que a escola tem de ser um sítio divertido e os professores uns amigalhaços.
O segundo princípio é o da absoluta igualdade entre todas as crianças. Se a todos devem ser dadas, igualmente, oportunidades, isso não significa que todos, igualmente, as aproveitem. Ao não se querer estabelecer diferenças, optou-se por um nivelamento medíocre, em vez de dar a mão aos mais problemáticos sem tolher os melhores.
Durante trinta anos, diabolizaram-se os valores da autoridade, do rigor, da exigência e da disciplina. O esforço e o mérito, factores que diferenciavam os melhores dos piores, foram tidos como uma ameaça à pureza dos dogmas da bondade natural e da igualdade.
O modelo educativo, objecto de sucessivas tentativas experimentalistas, foi-se reduzindo à mais elementar expressão: uma educação sem memória, métodos simplificados, todo o esforço removido, um excesso de especialização roubando qualquer perspectiva de conjunto, noções fragmentadas sem referência a qualquer pano de fundo. O pensar, o exercício sistemático do raciocínio, o ginasticar do cérebro como única forma de o fortalecer, tudo isso era contra-indicado: aborrecia os alunos, acentuava as diferenças, revelava o potencial e o esforço de uns e o desinteresse ou incapacidade de outros, o mérito e o demérito.
A título exemplificativo, imaginemos como se sairia, hoje, um aluno de dez anos de idade, se submetido a provas idênticas às que enfrentámos nos exames de admissão às Escolas Técnicas e aos Liceus. Decerto não as superaria. Por ser menos inteligente? Não. Por não ter sido capacitado para tal.
O objectivo deixou de ser o de educar e ensinar. A escola tornou-se um entreposto de todos os problemas, desde os meramente burocráticos até aos eminentemente sociais. Sobre o emaranhado legislativo, as instalações sem condições e a falta de orçamento, caíram as circunstâncias dos próprios alunos: a fragilidade das redes familiares, a solidão, os comportamentos aditivos, a pre-delinquência, o abandono.
Politicamente, não foi relevante saber se se estava a produzir iletrados ou se muitos dos alunos faziam da escola um mero local de passagem. Politicamente, o mais importante eram as estatísticas e os indicadores. Para cumprir estes desideratos impunha-se que todas as crianças estivessem inscritas numa escola. Mesmo que a frequentassem pouco e mal.
Comparar o ensino privado e o ensino público, hoje, é comparar o incomparável. O ensino público português formou gerações e gerações com excelente qualidade. Eu frequentei o ensino público, os meus filhos frequentaram o ensino público. Mas, actualmente, as circunstâncias específicas das escolas públicas, que não podem fechar-se à massificação, não podem selecionar os seus alunos, se desgastam a resolver problemas a jusante e a montante, não têm autonomia organizativa e reflectem as ameaças da sua envolvência externa, impedem-nas de disputar rankings.
Tudo isto é óbvio. Desperdiçámos muito do nosso capital humano ao mergulhá-lo num caldo de cultura laxista, bacocamente tolerante e permissiva, que infantilizou as crianças e os jovens. Mudar é quase um acto revolucionário, é ontológico e do domínio da filosofia dos princípios. Não vale a pena culpar a ministra. Melhor será perceber que a educação não é um problema governamental. É, certamente, um problema nacional com culpas partilhadas. E de díficil solução.

domingo, novembro 04, 2007

Paquistão

No Iraque e no Afeganistão, passados estes anos, a aparência de ordem que por lá existe, mesmo frágil e precária, só subsiste enquanto os contingentes de ocupação se encarregarem de a assegurar. E não se descortina qualquer perspectiva de mudança, nem sequer uma saída airosa.
Mas continuar fica caríssimo, é incomportável.
As notícias que vêm do Paquistão são alarmantes. Ninguém sabe o que se vai passar, mas todas as apreensões são legítimas. Como noutras partes, a América para defender a democracia no mundo tem sustentado custosamente o ditador local e a clique militar em que este se apoia. Pode ter chegado o momento em que nem isso baste, e para manter de pé aquele edifício instável seja requisitado um outro tipo de empenhamento.
Será isso possível à América?
O que se tem passado com a Turquia e a frente curda, e o que se pressente nesse remoinho de tensões, tem visivelmente exasperado os governantes de Washington. O mundo é realmente complexo. Em nenhuma área os problemas aparentam estar em vias de apaziguamento. Nem na Palestina, nem no Paquistão, nem no Iraque, nem no Afeganistão, nem na Turquia.
Alguns entusiastas mais ardentes das políticas que têm triunfado nos anos mais recentes são capazes de propor, como o têm feito, que se fuja para a frente: em força para o Irão. Obviamente que nesta altura quase todos responderão instintivamente: mais do mesmo? E a Rússia, e a China (e a Síria, e a Arábia, e o Egipto... e o Líbano, a Jordânia...)???!!!.
Pode atrair alguns, isso do Irão. Mas alguém acredita seriamente que do derrube do regime dos aiatolás surgirão a calma e a estabilidade? Muito mais provável é a previsão oposta: surgirá mais uma vasta área negra, onde um turbilhão de forças se vão desencadear e colocar de novo a mesma questão - ou a América em força, ou o caos generalizado.
Poderá e quererá a América fazê-lo?
O pior risco das profecias é o de falharem, mas estou com o presentimento de que a América, com o pragmatismo que caracteriza a sua cultura anglo-saxónica, vai procurar uma solução para os seus problemas. E se os americanos se convencerem que há um nó górdio que é preciso cortar, cortam-no mesmo.
Prosseguir em frente, no mesmo rumo e no mesmo caminho, é insustentável.

Blogosfera e nomenklatura

Vemos muitas vezes a blogosfera elogiada por ser um espaço de liberdade, e logo também um domínio caracterizado pela igualdade entre todos os participantes.
Nada mais longe da realidade. Quanto à liberdade aceito que sim, já que cada um escreve o que quer e ninguém o impede disso. Mas no que respeita a igualdade o que se verifica é que o meio reproduz as desigualdades da vida.
Não estou a referir-me a essas desigualdades que resultam do mérito e das aptidões individuais, que também existem, mas que aqui acabam por nem ter a expressão que naturalmente seria de esperar que tivessem. Penso concretamente nas desigualdades que são provenientes de estatutos adquiridos, obviamente fora da blogosfera, e que nela se fazem sentir com o mesmo peso com que se impõem nos alinhamentos de qualquer órgão de comunicação social tradicional.
Existe uma nomenklatura, que se conhece como tal e é geralmente reconhecida e venerada como tal. Percorre-se o território e identificam-se sem custo as sumidades da praça, que efectivamente contam na definição dos temas e dos debates. Distingue-se a seguir um séquito um tanto histriónico dos que aspiram a entrar nesse círculo algo fechado, e tudo fazem para se fazer notados. E há depois a multidão dos que estão só para se ler a si mesmos, ou pela ilusão de que mais alguém dá importância ao que escrevem, ou mesmo pelo gosto de partilhar umas palavras com dois ou três cúmplices. Em todo o caso, multidão que nunca passará disso. Na rede como na Cidade.

sábado, novembro 03, 2007

O referendo

A ideia de referendar o tratado europeu tem sido combatida com dois argumentos que há alguns anos sem dúvida causariam a maior repulsa aos seus utilizadores de agora.
O primeiro argumento relaciona-se com a complexidade da matéria. Aquilo de que se trata é um tratado imenso, ilegível e confuso, e não pode ser objecto de apreciação séria e de decisão fundamentada por parte da multidão que seria chamada a pronunciar-se. O mais certo é que os votantes se decidissem com base nas mais diversas motivações, que não no documento em si.
Não serei eu quem vai negar a pertinência dessas objecções, mas não posso deixar de notar que a fixar-se esta doutrina ela tem campo de aplicação muito mais vasto do que este caso concreto. Como é bom de ver, aplica-se a qualquer processo de decisão por via eleitoral. Difíceis e complexas são indubitavelmente as tarefas da governação, nada há de mais delicado do que a escolha de quem governa, e tem-se aceite geralmente a metodologia eleitoral como processo de escolha dos governantes.
Houve quem pusesse em dúvida a bondade do método, mas esses foram há muito amaldiçoados e proscritos dos manuais, como antidemocratas horrorosos.
O outro argumento, adiantado com frequência de Lisboa a Bruxelas, é de uma franqueza desconcertante: a seguir-se a via dos referendos corre-se sério risco de acontecer o que já aconteceu, haverá resultados negativos e o precioso processo de edificação da Europa arquitectada sofrerá forte contrariedade. Não se pode fazer referendos porque o resultado pode não ser o desejável, e o que está em causa é demasiado importante para dessa forma insensata ser posto em perigo.
Como se concordará, esta doutrina ainda levanta mais perplexidades do que a anterior. Só pode submeter-se a decisão popular matéria irrelevante? Em se tratando de coisa séria o povo só pode ser consultado havendo prévias garantias sobre o resultado da consulta? As votações, sempre incertas, são para afastar na construção arquitectada?
Talvez o tempo venha a desvendar o pensamento verdadeiro desta escola de arquitectura.

O espírito do forum

Este postal é de louvor às improváveis virtudes de um forum em rede.
Já por várias vezes tentei incentivar os meus leitores à participação activa no forum pátria livre.
O forum internético devolve-nos a possibilidade de discussão que a modernidade fez desaparecer dos cafés, dos clubes, das tertúlias, das praças e dos lares.
O calor da esgrima verbal não está já na impossível proximidade física, mas subsiste na imediação, no debate em tempo real, no livre fluir das ideias sem as peias das agendas, dos programas, dos horários, das convenções, ou de conveniências e venerações.
Por isso sou entusiasta das potencialidades desses lugares onde se reencontra o prazer de conversar, o convívio, a possibilidade de encontrar gente - mas gente mesmo, não os zombies da multidão formatada, cinzenta e uniforme.
Obviamente que ao entrar somos assaltados por vezes pela visão de mais do mesmo; não faltam ali, como não faltam em parte nenhuma, as mãos na anca e os "eu acho que", e o lá vai disto.
Mas, num mundo cada dia mais vazio, num tempo que se sente a caminhar rapidamente para o ser unidimensional, a quem a simples lembrança de ter uma ideia que o distinga do rebanho aterroriza e imobiliza, não é pequeno tesouro a hipótese rara de encontrar gente. A persistência pode compensar.
E depois, as impressões, as sensações, as opiniões, os gostos, também se discutem, se partilham, se educam e se refinam (quem costuma dizer que gostos não se discutem são pessoas com notório mau gosto). A probabilidade de aprender vale o esforço.
Cultivemos a arte, o pensamento, a cultura, a força interior para permanecer gente entre a multidão. Fujamos à asfixia do todos impotentes todos iguais todos amorfos todos conformados e cloroformizados.
Tentaremos numa ilha só nossa, como robinsons sem televisão?
Talvez a rede nos permita esta outra via. Tentemos o forum.

Identidade nacional, brasileiros e portugueses

Gostei de ler este artigo de Olavo Carvalho, e parece-me recomendável a todos os que se interessam por esses atavismos da identidade nacional (sobretudo brasileiros e portugueses, que são os falados na peça) : Quem come quem

Presença de D. Manuel Mendes em Torres Novas

A propósito do meu texto sobre D. Manuel Mendes da Conceição Santos publicado no semanário "O Almonda", de 26 de Outubro, onde me interrogava sobre a presença do Ilustre Arcebispo de Évora na sua terra natal, escreveu-me outro ilustre torrejano, Joaquim Rodrigues Bicho, com algumas informações que de algum modo respondem à interrogação levantada.
Informa Joaquim R. Bicho que já em em 5 de Abril de 1972 a Câmara Municipal de Torres Novas deliberou dar o nome de "Arcebispo de Évora" a uma rua da Cidade, o que o livro "Toponímia da Cidade de Torres Novas" refere em duas meias páginas; que no seu livro "Anais Torrejanos" Artur Gonçalves dedica 26 páginas e uma fotografia à sagração episcopal de D. Manuel Mendes da Conceição Santos; que junto da pia baptismal da igreja paroquial de Olaia, tem o Senhor Arcebispo inscrição e medalhão de bronze com o seu busto; que no livro "Torrejanos de Vulto" reproduz-se o seu retrato e desenho da pia baptismal, dedicando-lhe cinco páginas; que a "Colectânea de Textos de Autores Torrejanos" reserva-lhe dez páginas, com pequena biografia e fragmentos dos seus escritos.
Conclui, e bem, o meu atento leitor que "nunca é demais lembrar D. Manuel Mendes da Conceição Santos, que foi grande Bispo, grande Torrejano e grande Português".
Agradeço a atenção e amabilidade com que fui lido lá pelas margens do Almonda. E recomendo aos leitores interessados nas coisas daqueles sítios algumas publicações sobre Torres Novas.