terça-feira, março 31, 2009

Razões de esperança

Aqui na internet, ao menos, temos uma TRIBUNA e uma MINORIA RUIDOSA.

Lembrar Agostinho da Silva

O legado de Agostinho da Silva estará em debate sexta-feira num colóquio organizado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL.
Organizado pelo Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e pela Associação Agostinho da Silva, o colóquio - «O legado de Agostinho da Silva: quinze anos após a sua morte» - tem agendadas diversas sessões ligadas aos estudos desenvolvidos pelo filósofo.
Renato Epifânio, docente do Departamento de Filosofia da FLUL, explica que o colóquio a realizar sexta-feira tem «diversos objectivos diferentes». «Do ponto de vista científico - assinalou - será apresentado o portal de Internet «Agostinho da Silva», onde irão estar disponíveis algumas obras completas de Agostinho da Silva».
Outra das iniciativas será a apresentação do terceiro número da «Nova Águia: Revista de Cultura para o Século XXI», com «Agostinho da Silva em destaque», indicou ainda, citado pela Lusa.
Agostinho da Silva, referenciado como um dos principais intelectuais portugueses do século XX, nasceu no Porto em 1906, tendo vindo a falecer em Lisboa em 1994, aos 88 anos de idade.
O colóquio «O legado de Agostinho da Silva: Quinze anos após a sua morte» decorre a partir das 10:00 no Anfiteatro I da FLUL e terá ao longo do dia participações de Adriano Moreira, António Braz Teixeira, Paulo Borges e Manuel Ferreira Patrício, entre outros.

segunda-feira, março 30, 2009

Nuno Álvares Pereira, ventura e aventura

Quinta-feira, 2 de Abril, às 21:30, no Palácio da Independência, em Lisboa:
Falam o Padre João Seabra e o Pedro Picoito, sobre o tema "Nun'Álvares: Ventura e Aventura".
É um dos encontros "Actualidade e Cultura". Veja aqui e aqui.

domingo, março 29, 2009

Cinco anos são passados...

Esquivo, de todo, a qualquer movimento,
divaga o meu Povo nas veias do vento,
já sem alto e altivo alento,
sem novo ou nobre motivo,
que Lhe dê o sentimento —
mais ou menos fugitivo...
— d’estar cem-por-cento
vivo.

Já não sonha, de momento,
com nenhum descobrimento
vivamente afirmativo

A lamentos Lhe alimento
o fastio colectivo...

— Mas, se d’Ele me ausento,
é de mim que me privo.

E, ao peso de tamanho abatimento,
é que todas as manhãs eu experimento
esta vergonha-mor de acordar vivo!

RODRIGO EMÍLIO

quinta-feira, março 26, 2009

Tudo a aumentar

Do Relatório Anual de Segurança Interna referente a 2008:

- Perto de 30 mil residências foram assaltadas em 2008, representando um aumento de cerca de 33 por cento face a 2007;
- Leiria com maior subida de criminalidade, mas taxas mais elevadas são em Lisboa, Porto e Setúbal;
- Violência doméstica registou «aumento significativo» em 2008;
- Apreensões de haxixe aumentaram 37,23 por cento em 2008, em relação a 2007;
- 138 casos de tráfico de seres humanos em 2008...

Então progredimos ou não progredimos?

Prisões: mais do mesmo

Enquanto trovejam as declarações dos políticos sobre as necessidades securitárias e os imperativos de rigor nas leis penais (costuma acontecer sempre nas proximidades de eleições), continuam a dominar nas comissões redactoras as concepções normalmente divulgadas pelo impagável Prof. Boaventura (sem menosprezo para os outros).
Anuncia-se para amanhã a discussão na Assembleia da República da proposta de lei do Código de Execução das Penas. O aspecto mais saliente das novidades em matéria de execução das penas de prisão é o habitual: pretende-se "que o cumprimento da pena, na medida do possível, evite as consequências da privação da liberdade e se aproxime das condições da vida em comunidade."
Se o objectivo primeiro é esse, não se percebe porque não são abolidas as penas de prisão...
Em matéria discilinar, a ignorância roça o delírio: "os reclusos passam a poder impugnar, com efeito suspensivo, medidas como restrições de contactos telefónicos ou de licenças de saída". Os senhores deputados quereriam experimentar dirigir uma cadeia em que de cada vez que por razões as mais diversas resolvessem aplicar a um recluso medidas tão elementares como restrições de contactos telefónicos ou de licenças de saída eles pudessem de imediato impugnar a decisão suspendendo a execução desta? E iam telefonar como e para onde quisessem, e iam passear para voltar ou não...
Em tudo o mais a falta do mais elementar senso comum domina: não podia faltar a consagração legal da possibilidade de "visitas íntimas para homossexuais". Calculo que tenha tanto sucesso como a ideia peregrina das salas de chuto: ninguém aderiu. Os presos têm mais bom senso do que os legisladores: nenhum quis passar à condição de toxicodependente "oficialmente reconhecido e protegido", como muito provavelmente ninguém quererá passar a assumir na cadeia o estatuto de maricas legalizado.
As nossas cabecinhas legisladoras vivem realmente num universo que não é o da gente comum.

Nouveau scandale suite à un propos du Pape !

A son retour à Rome, par une belle après-midi ensoleillée, le Pape aurait confié à une journaliste: "Il fait beau aujourd'hui !"
Ces propos ont aussitôt soulevé dans le monde entier une immense émotion et alimentent une polémique qui ne cesse de grandir.
Quelques réactions:
Le maire de Bordeaux: "Alors même que le pape prononçait ces paroles, il pleuvait à verse sur Bordeaux ! Cette contre-vérité, proche du négationnisme, montre que le pape vit dans un état d'autisme total. Cela ruine définitivement, s'il en était encore besoin, le dogme de l¹infaillibilité pontificale !"
Le Grand Rabbin de France: "Comment peut-on encore prétendre qu'il fait beau après la Shoah ?"
Le titulaire de la chaire d'astronomie au Collège de France: "En affirmant sans nuances et sans preuves objectives indiscutables qu'il fait beau aujourd'hui", le pape témoigne du mépris bien connu de l'Église pour la Science qui combat ses dogmes depuis toujours. Quoi de plus subjectif et de plus relatif que cette notion de "beau" ? Sur quelles expérimentations indiscutables s'appuie-t-elle ? Les météorologues et les spécialistes de la question n'ont pas réussi à se mettre d'accord à ce sujet lors du dernier Colloque International de Caracas. Et Benoît XVI, ex cathedra, voudrait trancher, avec quelle arrogance ! Verra-t-on bientôt s'allumer des bûchers pour tous ceux qui n¹admettent pas sans réserve ce nouveau décret ?"
L'Association des Victimes du Réchauffement Planétaire: "Comment ne pas voir dans cette déclaration provocatrice une insulte pour toutes les victimes passées, présentes et à venir, des caprices du climat, inondations, tsunamis, sécheresse ? Cet acquiescement au "temps qu¹il fait" montre clairement la complicité de l'Église avec ces phénomènes destructeurs de l'humanité, il ne peut qu'encourager ceux qui participent au réchauffement de la planète, puisqu'ils pourront désormais se prévaloir de la caution du Vatican."
Le Conseil Représentatif des Associations Noires: "Le pape semble oublier que pendant qu'il fait soleil à Rome, toute une partie de la planète est plongée dans l'obscurité. C'est là un signe intolérable de mépris pour la moitié noire de l'humanité!"
L¹Association féministe Les Louves: "Pourquoi "il" fait beau et pas "elle" ? Le pape, une fois de plus s'en prend à la légitime cause des femmes et montre son attachement aux principes les plus rétrogrades. En 2009, il en est encore là, c'est affligeant !"
La Ligue des Droits de '¹Homme: "Ce type de déclaration ne peut que blesser profondément toutes les personnes qui portent sur la réalité un regard différent de celui du pape. Nous pensons en particuliers aux personnes hospitalisées, emprisonnées, dont l'horizon se limite à quatre murs ; et aussi à toutes les victimes de maladies rares qui ne peuvent percevoir par leurs sens l'état de la situation atmosphérique. Il y a là, sans conteste, une volonté de discrimination entre le "beau", tel qu'il devrait être perçu par tous, et ceux qui ressentent les choses autrement. Nous allons sans plus tarder attaquer le pape en justice."
A Rome, certains membres de la Curie ont bien tenté d'atténuer les propos du pape, prétextant son grand âge et le fait qu'il ait pu être mal compris, mais sans succès jusqu'à présent.

A bon entendeur, salut !

quarta-feira, março 25, 2009

Um link para hoje

http://www.hazteoir.org/

Atavismos vocabulares

Leio nas notícias de hoje que "Isaltino Morais regressa ao banco dos réus".
Fico impressionado com o desfasamento dos nossos jornalistas em relação à realidade processual-penal: agora já não há réus (a palavra foi banida do CPP), e dos tribunais também desapareceram há muito esses bancos. Isso eram resquícios de outros tempos, definitivamente abolidos pelas leis que progressistamente nos regem, com o louvável propósito de evitar efeitos estigmatizadores. Agora só há arguidos. Quando muito o referido senhor, que temos que presumir inocente por injunção legal, poderá ocupar o lugar reservado aos arguidos, se resolver comparecer em sua defesa, como é seu direito e foi convidado a fazer se for essa a sua vontade. Não é obrigado, e provavelmente terá outras coisas para se ocupar. Se decidir estar presente, também não é obrigado a falar, a lei garante-lhe o direito ao silêncio. Logicamente, é capaz de preferir exercê-lo em casa, ou noutro sítio qualquer.
Creio que a linguagem dos jornalistas é mais agressiva para o prestigiado autarca do que a abordagem judicial.

Da reacção

"Reaccionar no es caer en pasados muertos, sino arrancarse a una enfermedad que mata."

Aforismo de Nicolás Gómez Dávila, para ler em A Casa de Sarto.

O KAGANOVICH DE MIRAGAIA

"Em cada esquerdista cinzento e com ares de intelectual, para lá dos lugares-comuns sobre liberdade de expressão e tolerância, espreita sempre um censor incompleto."

Ler no Nova Frente)

terça-feira, março 24, 2009

Eu prometo pensar no assunto...

Se o PSD não consegue encontrar candidatos para o Parlamento Europeu, podemos falar sobre isso. Pressionem-me um bocadinho, SFF...
(Basta deixar recado na caixinha dos comentários).

segunda-feira, março 23, 2009

O Pasquim da Reacção faz hoje 5 anos!

Entre as efemérides de hoje, outro aniversário: O Pasquim da Reacção completou 5 anos!
Cumpram o vosso dever, e vão dar-lhe os parabéns.
Os meus aqui ficam, públicos e expressos.
Deixo também a minha veemente exortação a que escreva, escreva mais, escreva muito: escrever é uma escolha vital, é a nossa forma de estar presentes no tempo que passa. Escreva!

O fascismo faz hoje 90 anos!

Il 23 marzo 1919, a piazza San Sepolcro, a Milano, venivano fondati i Fasci di Combattimento, nucleo primigenio di un fascismo, nato dal matrimonio celebrato in trincea, con spirito e sangue, tra futurismo, arditismo e sindacalismo rivoluzionario.

domingo, março 22, 2009

O pensamento único


sábado, março 21, 2009

Eu nas redes sociais

Estou em vias de sociabilização (não é socialização!):
Ainda agora lá cheguei e já tenho 29 "seguidores" no Twitter. (A expressão é engraçada, faz-me lembrar aquelas fotografias célebres de Konrad Lorenz com os patinhos atrás, numa longa fila impecavelmente alinhada).
No Facebook, só lá estou há uns dias e já tenho 112 "amigos". Nunca eu desconfiei que tinha tantos! E ainda há quem fale no meu mau feitio...

Um blogue para hoje

Esplanada ao Sol - e aproveitem o dia!

A parvoíce do dia

O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais explicou que a violência nas escolas é culpa da crise (sic).
E adiantou que o que é preciso são "equipas multidisciplinares", para enfrentar o problema. Pois claro. Muitas e boas.
Fez-me lembrar o que se costuma dizer sobre a estupidez e a inteligência: a primeira parece ser infinita, a segunda é sempre escassa.

sexta-feira, março 20, 2009

Milagre!

Há pouco vi no telejornal uma peça noticiosa sobre a visita do Papa Bento XVI a Angola. O enviado especial era o Padre António Rego, e envergava um cabeção, ainda com a goma e os vincos de fábrica. Um cabeção! Nunca tal houvera visto no Padre Rego, e se não visse não acreditava.

Facebook

O Facebook é o único local conhecido onde, por mais que se tente, não se consegue encontrar um único inimigo. Só há amigos.

Estado estacionário (com paragem no Facebook)

Ultimamente, quando me perguntam como me sinto lembro-me da resposta daquele nosso amigo portuense, filósofo anti-democrata, que em situação similar, andando de médico em médico sujeito aos tratos de polé que são de regra na arte, dizia resignado: - "Sabes, agora andam a enfiar-me coisas no cu... O que vale é que com a minha idade já não deve haver perigo de me habituar!"
Penso que o desabafo traz implícito uns laivos de homofobia, não sei se susceptível ou não de responsabilização criminal, e consequentemente não posso identificar o agente do crime para fora do círculo restrito dos amigos que nesta altura se estão a rir (mas recusarão certamente reconhecer o culpado se para tanto forem instados pelas novas brigadas de correcção de costumes). Seja como for: a fonte é fidedigna e já nos rimos os dois com gosto à conta do achado.
Entretanto continuo por aqui, até o cansaço me vencer (os blogues normalmente nascem e morrem por causas dos autores, ao contrário do que seria de bom tom dizer - fica bem responsabilizar os leitores, fazer-lhes coceguinhas no ego a ronronar que ficamos enquanto eles quiserem, etc. e tal, mas é patentemente falso).
E fui descobrindo agora o fabuloso universo das "redes sociais"!... Aquilo sim - um autêntico universo paralelo, que está entre nós e que eu desconhecia de todo na ignara placidez em que vivia. Então o Facebook!... O amigo Walter crismou-o de hi5 da terceira idade. Pode ser que tenha alguma pontinha de razão (não tem, a verdade é que por lá encontro os amigos mas encontro cada vez mais os filhos dos amigos). Mas a diferença mais notória é outra: descrevi-a eu em correspondência com o amigo João, explicando-lhe que o Hi5 está para o Facebook assim como a Costa da Caparica aos domingos de verão está para (por exemplo) São Martinho do Porto no tempo em que lhe chamavam o "bidé das marquesas". Tenho-me cansado a explorar o Facebook e ainda não encontrei nem uma Kátia Vanessa. E a maioria dos frequentadores não dispensa, pelo menos, dois apelidos.
Todavia, fora os tiques e ademanes de tasca burguesa, com muitas vénias e salamaleques, prendinhas e mariquices (caramba, lá estou eu inadvertidamente a escorregar na homofobia...) de circunstância, aquilo até tem piada. É viciante. E tem imensas potencialidades. Um mundo por explorar.
Já sabem: agora encontram-me no Facebook.

Um culto verdadeiramente nacional

A crer num livro agora lançado pela Bertrand, o Dr. Salazar afinal era maçon. Eu estou em condições de asseverar que, além disso, o homem era comunista. Disfarçava era tão bem, tão bem que conseguiu enganar-nos a todos durante uma eternidade - até mesmo aos comunistas e aos maçons.
A notícia tem perigos inesperados para os anti-salazaristas mais zelosos: corre-se o risco de se universalizar a veneração dedicada a Salazar. Agora já não será, obviamente, restrita às camadas mais afectadas pelo obscurantismo fascista. O culto pode legitimamente ser partilhado pelos mais iluminados e progressivos sectores da nossa sociedade. Uns continuarão a admirá-lo pelo que ele foi às claras, aberta e declaradamente; e os outros podem passar a admirá-lo pelo que ele, afinal, era às escondidas, no segredo e no escuro das lojas, no silêncio da clandestinidade.
Os que sempre o admiraram pelo que ele publicamente foi continuarão a homenageá-lo, em romagens a Santa Comba Dão, em jantares evocativos ou em petições para dar à Ponte o nome que lhe pertence.
E os que agora ficam obrigados a prestar-lhe homenagem terão que render tributo ao que ele sofridamente foi no fundo do seu coração, com sessões solenes no Grande Oriente Lusitano e palestras e exposições na Festa do Ávante.
Resta-me ainda uma desconfiança: suspeito que ele além de tudo o mais também se dedicava ao espiritismo. Era um fiel seguidor do Alain Kardec! Torna-se urgente esclarecer mais este facto, para que não continue encoberto esse importante aspecto da vida do eminente estadista. A partir daí, a Sociedade Espírita não mais hesitará em patrocinar de igual modo o consenso nacional à volta de tão excelsa personalidade.
Teremos então, generalizadamente por todo o país, Salazar a ser ouvido por atento auditório, rodeando, na obscuridade, velhas mesas de pé de galo; e em Lisboa, no Campo de Santana, não tardará muito a ser erguida estátua apropriada, a rivalizar com a do Dr. Sousa Martins. Contem comigo para a subscrição pública, e não faltarei com uma velinha por semana.

Insólito

Das notícias de hoje:
"O Papa Bento XVI lembrou hoje, em Luanda, que as riquezas “materiais e espirituais” de Angola” devem ser mais bem distribuídas pelos seus habitantes e que o país deve usar o seu poder para ajudar a construir uma África mais solidária."

Como é se chega a um ponto em que uma declaração destas, que devia ser banal, simples e evidente, seria completamente impossível de ouvir a qualquer dos políticos portugueses de primeira linha - quer estivesse a falar em Luanda, quer, até, falando em Lisboa, em qualquer ajuntamento desses em que entretêm os dias?

Este artigo é magistral

Digo-vos eu:

A eutanásia e o Tio François

quinta-feira, março 19, 2009

Atenção, à maioria silenciosa:

Um blogue para visitar hoje mesmo: Minoria ruidosa - cultura e política não-alinhadas.

quarta-feira, março 18, 2009

Blogue para hoje

A Tribuna, de Afonso Miguel.

terça-feira, março 17, 2009

Navegando encontrei...

De Maurice Barrès a Charles Maurras.

A situação não é má, é pior

Dizem que não se olha de frente nem para o sol nem para a morte. Eu diria que há ainda algo mais que a gente não gosta de encarar: a verdade. Em regra, as pessoas preferem enganos que os confortem a verdades que os incomodem. Estava a pensar isso a propósito da actual situação portuguesa, que agora a todo o momento ouvimos dizer que é má. Creio que na maioria dos casos quem fala assim não diz a verdade: a situação é bem pior do que eles estão a pensar.
Eu explico, exemplificando. Todos sabemos que mais dia menos dia o actual poder socrático se vai desmoronar, como antes dele caiu o guterrismo, e antes o cavaquismo. Só não sabemos quando: se nas eleições, se depois das eleições, se mais cedo, ou mais tarde. Porém, sabemos que Sócrates e a sua corte se hão-de ir embora. A seguir, também penso que ninguém ignora, em termos genéricos, o que virá. Só pode ser um novo ciclo político polarizado no PSD, seja quem for que o protagonize. Não adianta analisar variações em torno disto: se o PS coligado com o CDS, se este último em aliança com o PSD, se um Bloco Central, etc.
Julgo que neste momento alguns leitores já estão a acompanhar-me. O que vai então mudar? Como é fácil reconhecer, e só negará quem fizer questão nisso, a mudança principal vai ser a rotação do pessoal político.
Existem em Portugal uns milhares de lugares que dependem de quem ocupe o poder político. São esses milhares de postos que são o alvo principal da colonização operada pelo socialismo da era Sócrates, na senda do que anteriormente outros fizeram. São uns milhares de cargos que é possível inventariar quase um por um acompanhando diariamente o Diário da República. A nível central e a nível regional, todos os leitores sabem perfeitamente ao que me refiro. Tanto as pequenas classes políticas locais como a classe política nacional sabem disto, e vivem disto. Em Bragança ou em Évora, quando muda o governo, nas sedes dos dois partidos principais fazem-se listagens com os lugares a preencher, e os candidatos a contemplar. Cada um tem os seus. Todos os organismos dependentes da Administração Central, desde a Cultura à Agricultura, da Saúde à Educação, passando pelos Governos Civis ou pela Juventude, mudam de imediato. Essa bolsa de empregos, que nos sítios citados pode perfeitamente rondar uns parcos cento e poucos tachos, é tão essencial à vida dos partidos referidos, ao nível local, como os tais milhares são indispensáveis para o aparelho central, nas imediatas vizinhanças do Terreiro do Paço.
E aqui temos a mudança que se perspectiva na generalidade dos discursos que nos enchem os telejornais: a rotação periódica do pessoal político.
O que implicitamente se tem em vista não é portanto nenhuma verdadeira alternativa política: é só alternância política. Nem é alternância de políticas, que estas previsivelmente hão-de manter-se, como se mantêm há muito, no essencial, com mais ou menos pormenor de maquilhagem. Ou alguém está convencido que as políticas da Dra. Ferreira Leite representaram ontem ou representarão amanhã uma diferença substancial em relação às políticas do Eng. Sócrates? Nem o mais ingénuo...
Assim chego ao ponto de onde parti. A situação não tem saída, dentro dos pressupostos em que assenta. Se os problemas de Portugal se resolvessem com o simples tirar de uns para pôr outros, que feliz seria Portugal. Mas não. O pessoal pode mudar, mas as políticas vão permanecer, as formas de exercer o poder vão continuar a ser as mesmas (como já eram). Não foi Sócrates que inventou a promiscuidade enttre o poder político e o poder económico, nem a indústria dos pareceres, nem o carrocel das empreitadas, nem os sacos azuis, as contas paralelas, as malas de dinheiro. A bancocracia, a parecerística, a dependência das grandes máquinas partidárias de financiamentos ocultos, hão-de manter-se depois de Sócrates, e com elas também as grandes obras e as grandes derrapagens.
A política de funil, que se encerra cada vez mais no círculo de interesses que tentei descrever, vai continuar, ou acentuar-se. O esquecimento do Portugal restante, também.
Importa recordar tudo isto quando assistimos a manifestações de descontentamento ritualizadas, que muitas vezes não exprimem mais do que uma aspiração impaciente - pela rotação, e não pela mudança.
Quem sonha sinceramente com mudança, não pode iludir-se com a rotatividade. Além de não trazer nada de novo, fica-nos caríssima. Quando uns já encheram a barriga, são substituídos por outros cheios de fome.

segunda-feira, março 16, 2009

«If Spain wants Gibraltar, when is it planning to give up Olivença?»‏

Daniel Hannan, político, escritor e jornalista inglês, com vasta obra publicada sobre política europeia, debruçou-se agora, com saber e perspicácia, sobre a Questão de Olivença em artigo no Daily Telegraph, cuja tradução para português se transcreve.


E se tivesse sido ao contrário? E se a Espanha tivesse tomado um pedaço de território de alguém, forçado a nação derrotada a cedê-lo num tratado subsequente, e o mantivesse ligado a si? Comportar-se-ia Madrid como quer que a Grã-Bretanha se comporte em relação a Gibraltar? Ni pensarlo!
Como é que eu posso estar tão certo disso? Exactamente porque existe um caso assim. Em 1801, a França e a Espanha, então aliadas, exigiram que Portugal abandonasse a sua amizade tradicional com a Inglaterra e fechasse os seus portos aos navios britânicos. Os portugueses recusaram firmemente, na sequência do que Bonaparte e os seus confederados espanhóis marcharam sobre o pequeno reino. Portugal foi vencido, e, pelo Tratado de Badajoz,obrigado a abandonar a cidade de Olivença, na margem esquerda do Guadiana.
Quando Bonaparte foi finalmente vencido, as Potências europeias reuniram-se no Congresso de Viena de Áustria para estabelecer um mapa lógico das fronteiras europeias. O Tratado daí saído exigiu um regresso à fronteira hispano-portuguesa (ou, se se preferir, Luso-espanhola) anterior a 1801. A Espanha, após alguma hesitação, finalmente assinou o mesmo em 1817. Mas nada fez para devolver Olivença. Pelo contrário, trabalhou arduamente para extirpar a cultura portuguesa na região, primeiro proibindo o ensino do Português, depois banindo abertamente o uso da língua.
Portugal nunca deixou de reclamar Olivença, apesar de não se ter movimentado para forçar esse resultado (ameaçou hipoteticamente com a ideia de ocupar a cidade durante a Guerra Civil de Espanha, mas finalmente recuou). Embora os mapas portugueses continuem a mostrar uma fronteira por marcar em Olivença, a disputa não tem sido colocada na ordem do dia no contexto das excelentes relações entre Lisboa e Madrid.
Agora vamos analisar os paralelismos com Gibraltar. Gibraltar foi cedida à Grã-Bretanha pelo Tratado de Utrecht (1713), tal como Olivença foi cedida à Espanha pelo Tratado de Badajoz (1801). Em ambos os casos, o país derrotado pode reclamar com razões que assinou debaixo de coacção, mas é isto que acontece sempre em acordos de paz.
A Espanha protesta que algumas das disposições do Tratado de Utrecht foram violadas; que a Grã-Bretanha expandiu a fronteira para além do que fora estipulado primitivamente; que implementou uma legislação de auto-determinação local em Gibraltar que abertamente é incompatível com a jurisdição britânica especificada pelo Tratado; e (ainda que este aspecto seja raramente citado) que fracassou por não conseguir evitar a instalação de Judeus e Muçulmanos no Rochedo. Com quanta muito mais força pode Portugal argumentar que o Tratado de Badajoz foi derrogado. Foi anulado em 1807 quando, em violação do que nele se estipulava, as tropas francesas e espanholas marcharam por Portugal adentro na Guerra Peninsular. Alguns anos mais tarde, foi ultrapassado pelo Tratado de Viena.
Certamente, a Espanha pode razoavelmente objectar que, apesar dos pequenos detalhes legais, a população de Olivença é leal à Coroa Espanhola.
Ainda que o problema nunca tenha passado pelo teste de um referendo, parece com certeza que a maioria dos residentes se sente feliz como está. A língua portuguesa quase morreu excepto entre os mais velhos. A cidade (Olivenza em espanhol) é a sede de um dos mais importantes festivais tauromáquicos da época, atrai castas e matadores muito para além dos sonhos de qualquer pueblo de tamanho similar. A lei portuguesa significaria o fim da tourada de estilo espanhol e um regresso à obscuridade provinciana.Tenho a certeza que os meus leitores entendem aonde tudo isto vai levar. Este "blog" sempre fez da causa da auto-determinação a sua própria causa. A reclamação do direito a Olivença (e a Ceuta e Melilla), por parte de Espanha, assenta no argumento rudimentar de que as populações lá residentes querem ser espanholas. Mas o mesmo princípio certamente se aplica a Gibraltar, cujos habitantes, em 2002, votaram (17 900 votos contra 187!!!) no sentido de permanecer debaixo de soberania britânica.
A Grã-Bretanha, a propósito, tem todo o direito de estabelecer conexões entre os dois litígios. A única razão por que os portugueses perderam Olivença foi porque honraram os termos da sua aliança connosco. Eles são os nossos mais antigos e confiáveis aliados, tendo lutado ao nosso lado durante 700 anos - mais recentemente, com custos terríveis, quando entraram na Primeira Guerra Mundial por causa da nossa segurança. O nosso Tratado de aliança e amizade de 1810 explicitamente compromete a Grã-Bretamha no sentido de trabalhar para a devolução de Olivença a Portugal.A minha verdadeira intenção, todavia, é a de defender que estes problemas não devem prejudicar as boas relações entre os litigantes rivais.
Enquanto Portugal não mostra intenção de renunciar à sua reclamação formal em relação a Olivença, aceita que, enquanto as populações locais quiserem permanecer espanholas, não há forma de colocar o tema na ordem do dia. Não será muito de esperar que a Espanha tome um atitude semelhante vis-a-vis Gibraltar.
Uma vez que este texto certamente atrairá alguns comentários algo excêntricos de espanhóis, devo clarificar previamente, para que fique registado, que não é provável que estes encontrem facilmente um hispanófilo mais convicto de que eu. Eu gosto de tudo o que respeita ao vosso país: o seu povo, as suas festas, a sua cozinha, a sua música, a sua literatura, a sua fiesta nacional. Amanhã à noite, encontrar-me-ão no Sadler´s Wells, elevado até um lugar mais nobre e mais sublime pela voz de Estrella Morente.
Acreditem em mim, señores, nada tenho de pessoal contra vós: o problema é que não podem pretender ter uma coisa e o seu contrário.


(trad. Carlos Luna)

domingo, março 15, 2009

Outsorcing

Ministério da Educação fez a encomenda e tem o resultado esquecido numa sala fechada: trabalho de João Pedroso é quase só fotocópias de diplomas legais.
Meia centena de pastas cheias de fotocópias do Diário da República e de índices dos diplomas fotocopiados é praticamente tudo a que se resume o trabalho pelo qual o Ministério da Educação (ME) pagou cerca de 290 mil euros ao advogado João Pedroso (mais cerca de 20 mil a dois colegas).

(Ler no Público)

De cá da Planície

O homem parece-se cada vez mais com o Calimero...

A TERRA A QUEM A TRABALHA

Li no Castelo de Vide:

O território, uma das nossas maiores riquezas, está votado ao abandono. Este é mais um sintoma do nosso subdesenvolvimento. Ou talvez uma das suas causas. Uma viagem pelo interior de Portugal dá-nos hoje uma visão deprimente. Não há praticamente emprego. Por regra, a Câmara Municipal local é o maior empregador, logo seguido do sector público administrativo do Estado, das instituições particulares de solidariedade social e pouco mais. E isto nas sedes do concelho. Porque as restantes localidades são habitadas por reformados, ex-emigrantes e beneficiários do rendimento mínimo, do subsídio de desemprego ou de subsídios do Ministério da Agricultura. A maioria das localidades já nem tem sequer viabilidade econónica.
A indústria é residual, porque longe dos grandes centros urbanos não se gera massa crítica que a justifique. E as actividades mais tradicionais, agricultura e pecuária, foram destruídas por políticas suicidas dos últimos trinta anos.
Aquando da revolução de Abril de 74, havia mais de trinta por cento da população activa no sector primário. Esta situação era insustentável e própria de uma agricultura de subsistência, que gerava fome e miséria. Centenas de milhar rumaram então às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, em busca de novas oportunidades.
Esperar-se-ia que os restantes se tornassem produtivos e ricos. Mas as políticas europeias, em particular a mais injusta de todas, a política agrícola comum (PAC), encarregou-se de destruir de vez a agricultura portuguesa. Com uma lógica de subsídios que pagavam e premiavam quem não produzia - a PAC condenou os agricultores à subsidiodependência, muitas das vezes à indigência, e desestruturou todo o território. A honrosa excepção foi a produção vitivinícola. O regresso aos campos é agora um imperativo. Um imperativo económico, já que um povo pobre não se pode dar ao luxo de esbanjar uma das suas maiores riquezas. Um imperativo social, pois só com uma agricultura, pecuária e silvicultura pujantes se reorganiza o território, se repovoa o interior e se dignifica a vida no mundo rural. E um imperativo moral, pois num mundo com biliões de famintos, não se podem desperdiçar os bens agrícolas, como actualmente acontece na Europa.
Para que se cumpra este desígnio, os agricultores têm de voltar a ser os verdadeiros donos da sua actividade. Devem poder produzir livremente, sem o jugo dos tecnocratas de Bruxelas ou dos seus lacaios de Lisboa.

( Paulo Morais )

Porque hoje é Domingo

Adopto o estilo TWITTER:
Estive a ler acerca da exposição sobre Charles Darwin que anima agora Lisboa.
E fiquei a saber que António Mega Ferreira ambiciona demolir o Museu de Arte Popular.

sexta-feira, março 13, 2009

Lições de vida

Ontem um cidadão explicava-me a sua vida. Tinha sido apanhado com droga num dos bolsos, e disse-me com naturalidade que era toxicodependente há uns trinta anos. É um rapaz da minha idade... Saiu há uns meses da cadeia, onde tem passado quase toda a sua vida adulta. Não tem emprego, nem rendimento algum. Intrigou-me então a compra: quanto lhe tinha custado aquilo? Disse-me que tinha sido 150 euros. Mais perplexo fiquei: como? E ele esclareceu-me com simplicidade: tinha recebido o rendimento mínimo garantido ("rendimento social de inserção??), que era de uns 180 ou 190 euros, e tinha ido abastecer-se. A minha curiosidade ficou ainda mais insatisfeita: mas então...? E ele, como quem explica evidências: então, a casa foi-me arranjada pela segurança social; e a alimentação está garantida pela Caritas; quando recebo o rendimento mínimo garantido, é assim...
Fiquei a pensar no caso. A casa, e as contas desta, são da segurança social; a alimentação é fornecida pela Caritas; alguma roupa que precise também se encontra na Caritas ou na segurança social; portanto, logicamente, o tal rendimento mínimo vai directamente para as necessidades essenciais. Isto mesmo me explicava ele, com pena de si mesmo: nunca consegui ver-me livre disto, está a ver; se não consumo não fico bem...
Pois. Pelos meus cálculos, para este cidadão estão a ser canalizados recursos que ascendem necessariamente a umas tantas centenas de euros. Se fosse trabalhar, com um ordenado pouco superior ao mínimo nacional, nunca poderia sustentar as despesas que refere. Nem para a renda da casa, quanto mais para o consumo da droga. Lembrou-me um rapaz que há dias me explicava, com a mesma simplicidade, que estava a ganhar subsídio de desemprego; e que ao mesmo tempo, como vive perto da fronteira, tinha arranjado emprego à noite, numa discoteca espanhola (cá não poderia trabalhar, perdia o subsídio!). Sempre conseguia uns 1200 euros lá, e mais uns centos cá... Há uns tempos também deparei com o engenho de uma série de famílias ciganas que vão andando entre Elvas e Badajoz: conseguem ter residência lá e residência cá, e auferir subsídios dos dois lados... Havia mesmo uns, mais desenvoltos, que têm mais do que uma identidade: conseguem receber a dobrar. Qualquer funcionário de Conservatória pode explicar como se faz, duas declarações, e dois BI's verdadeiros...
A partir das situações particulares somos forçados a pensar nas situações gerais. Tropeçamos a cada passo com gente que está a ser empurrada para o parasitismo, a inacção, a dependência iremediável, como doença crónica. (Quem pode receber, dados, uns 400 euros, facilmente consegue com um pequeno biscate fazer mais 100 ou duzentos; nunca aceitará um emprego pelo salário mínimo nacional, ou pouco além disso, que implicaria a escravatura do trabalho, com horário, para um rendimento efectivamente inferior).
Parece termos uma sociedade organizada intencionalmente para condenar à marginalidade efectiva, e definitiva, largas franjas da população (dez por cento? vinte por cento?). Não posso crer que o facto não seja notado por quem manda. O que acontece é que lhes parece preferível pagar este preço. Seiscentos ou setecentos euros por cabeça de despesa mensal, se for para um milhão de pessoas resulta num custo de seiscentos ou setecentos milhões de euros por mês. Em princípio, isso chega para garantir que essa massa de gente fica sossegada (quando se cai naqueles níveis o grau de exigência não passa daquilo mesmo). Mesmo em termos criminais, dessa multidão nunca sairão mais do que os crimes que lhes são próprios. Não afectam quem decide. O custo, afinal, é barato. Condenamos à degradação mais aviltante uma parte substancial da nossa população, de onde não mais sairá, mas pelo menos não há risco de revoltas.
É imoral, não é? Sem dúvida. Todavia, é capaz de não ser mais do que outros aspectos da mesma política. Uma decisão como a da intervenção estatal no BPN custou, só ela, cerca de mil e duzentos milhões de euros; é o dobro do que custará mensalmente anestesiar um milhão dos nossos compatriotas, e condená-los à indigência perpétua, pelo estímulo à dependência que acima descrevi. Com a diferença de que essa verba de mil e duzentos milhões funcionará como subsídio directo não a um milhão mas talvez a cem ou duzentos indivíduos...
De que nos queixamos, afinal? Penso muitas vezes que somos um país rico, ao contrário do que por vezes se afirma. E se estas coisas são como são é porque a generalidade de nós aceita que elas sejam assim, e nada quer fazer para que sejam de outra maneira.

Mais uma notícia do dia

Criminalidade atinge a maior subida de sempre: O DN teve acesso a dados oficiais que fazem parte do Relatório de Segurança Interna de 2008 e estes confirmam as piores expectativas. No ano passado o crime violento aumentou 10,7% e a criminalidade geral subiu 7,5%. O que significa o maior crescimento dos últimos dez anos em Portugal
O tabu do ministro da Administração Interna, sobre as estatísticas da criminalidade de 2008, está prestes a terminar e Rui Pereira vai ter de reconhecer as piores previsões.

(FONTE)

Outra notícia do dia

Documentos foram colocados no site Fórum Nacional: São 67 páginas de documentos bancários de Celestino Monteiro, irmão de Júlio Monteiro, ambos tios de José Sócrates, que Mário Machado, líder dos Hammerskins portugueses, colocou na Internet. Os papéis publicados vão desde os certificados de constituição de uma offshore até aos movimentos bancários efectuados durante alguns meses do ano de 2001. Entre compra e venda de acções, o valor global das transacções do tio materno do primeiro-ministro ultrapassou os cem milhões de euros.
Fontes: Diário de Notícias, Forum Nacional.

Uma notícia do dia

A nova Lei do Financiamento dos Partidos Políticos e das Campanhas Eleitorais, que está em fase de conclusão no Parlamento, prevê um aumento dos apoios financeiros do Estado aos partidos.
Além disso, as negociações, lideradas por PS e PSD, vão também no sentido de fixar em quase três mil salários mínimos nacionais (SMN) por ano as despesas não tituladas por cheque (o dobro do limite de 1500 SMN hoje existente). A ser assim, em 2009 os partidos poderão gastar 1,35 milhões de euros sem apresentação de cheque.
Mais pormenores das negociações:
- A nova lei vai permitir aos comunistas resolverem o diferendo com a Entidade das Contas por causa das receitas da Festa do Avante.
- 18,5 milhões de euros foi quanto o Estado deu em 2007 a PS, PSD, CDS, PCP, BE e Os Verdes.
- 70,5 milhões de euros é quanto se calcula que custem as campanhas eleitorais em 2009.
(Fonte)

Só não entende quem não quer. Mas mesmo nesse caso é preciso ter uma grande força de vontade.

quarta-feira, março 11, 2009

Humberto Nuno de Oliveira: nas eleições europeias, por Portugal

O meu entrevistado de hoje é o Humberto Nuno de Oliveira, que conheci há umas três décadas, ao tempo em que ele iniciava o seu curso de História no casarão do Campo Grande (até hoje nunca mais largou a História, com mais umas tantas paixões associadas). Já era como hoje: um homem de causas, um idealista generoso e sempre disponível. E a somar a isso um modelo de companheirismo e boa disposição, bem longe do estereotipo da direita roncante, a direita permanentemente zangada, caricatural, de que tantas vezes nos rimos com gosto, criticando sem complexos os tiques, as taras e os ridículos da família.
É claro que o tempo, em trinta anos, alguma coisa mudou no Humberto; mas creio que foi sobretudo no visual. Na época estava longe do look skinhead que agora ostenta, por fatalidades biológicas.
A entrevista ao Humberto Nuno tem uma motivação imediata: a sua candidatura às eleições europeias, como cabeça de lista pelo PNR. Foi a primeira a ser apresentada, e apesar disso foi rigorosamente ignorada por toda a comunicação social. Aqui não se respeitam esses interditos: é com todo o gosto que convidámos o amigo Humberto a dizer aqui o que entendesse sobre a sua candidatura às próximas eleições europeias.
Aqui fica a entrevista, para apreciação geral.

1 - Faltam apenas três meses para as eleições europeias. Como pensas fazer, neste espaço de tempo, para convencer os portugueses a caminhar até às urnas de voto - e a votar em ti?

HNO - É uma excelente questão, nem sempre de fácil resposta. Como bem sabes, tendo sido o primeiro candidato anunciado às eleições europeias ninguém o noticiou. É este o tipo de cortina de silêncio que se vai abater sobre nós, tentando-se que as nossas propostas sejam silenciadas. Mesmo o “Diário de Notícias”, que me contactou, a quem concedi uma entrevista e que me veio fotografar, acabou por nada publicar. Como em situações anteriores é evidente que muitos portugueses só tomarão contacto com a candidatura do PNR nos tempos de antena, é uma tristeza mas é assim esta nossa “democracia”.
Mas é sobretudo importante que, nestas eleições que são as que apresentam sempre mais elevadas taxas de abstenção, não faltemos. É verdade que esta Europa nos diz pouco, ou nada, É verdade que tudo o que lhe diz respeito jamais foi referendado ou sequer seriamente discutido, mas não é menos verdade que é ela que, na presente conjuntura, manda em nós. Há, portanto, que combatê-la. Cada voto desperdiçado, cada “euro-descontente” que ficar em casa, está, passivamente, a contribuir para a destruição de Portugal.
Votar no PNR nestas eleições é votar no único partido que tem a frontalidade de dizer que a União Europeia prejudica Portugal. Creio pois que é suficiente motivo para todos os que se preocupam com PORTUGAL.

2 - Quais são os temas fortes que identificam esta candidatura, que aceitaste encabeçar?

HNO - Acho que, face à situação dramática em que nos mergulharam, muito se poderia elencar. Optámos assim apenas por uma mão cheia de razões: Moeda, Crescente dependência externa, Anti-federalismo, Proteccionismo e desenvolvimento da produção Nacional e a limitação de Schengen e da Imigração.

A Moeda
Para além da questão sentimental em que o escudo funcionava como símbolo pátrio, e um dos símbolos mais visíveis da nossa soberania, o euro agravou os custos de vida dos Portugueses em pelo menos 100%. Não seria possível outro cenário? Claro que sim! Mas uma vez mais, apressadamente, os políticos do sistema quiseram fazer boa figura face a Bruxelas. Os Portugueses e a sua vida, não foram preocupação quando tal se decidiu. Cremos que é, pois, tempo de dizer basta!

A Dependência
Alguém nos perguntou se queríamos, ao entrar na União, abdicar de valores sagrados e transferir para as mãos de federastas valores fundamentais de uma Pátria soberana? Não! Tudo nos foi ocultado até supostamente um ponto de não retorno. É tempo, pois, de afirmarmos alto que queremos de volta um Portugal verdadeiramente independente.

A Europa das Pátrias
Uma Europa de Pátrias pressupõe uma Europa de Europeus e dos seus valores. Por tal razão entendemos que jamais a Turquia poderá entrar nesta, ou noutra qualquer, União Europeia. A Turquia não é culturalmente europeia como não o são outras entidades existentes na Europa e patrocinadas pelos americanos. Queremos uma Europa onde as pátrias tenham voz, onde os valores europeus possam ser defendidos, uma Europa em suma, onde não tenhamos de abdicar de nada do que somos para sermos algo que nos é inato: sermos Europeus.

A Produção nacional
Será lícito que governantes pensem que a troco de betão e alcatrão, além evidentemente de chorudas verbas para os bolsos de tantos, um país deva submeter o seu aparelho produtivo às decisões de terceiros, tantas vezes contrárias aos seus interesses? É óbvio que não! Por isso temos a frontalidade de dizer que a UE prejudica Portugal.

Schengen/ Imigração
Será lícito que, sem termos sido consultados, nos escancarassem as fronteiras, ao abrigo de objectivos mundialistas e multiculturalistas, deixando a nossa Europa, e suas Pátrias, à mercê de uma crescente criminalidade e uma progressiva subversão dos seus valores? Conhecemos a Vossa resposta que é a nossa: Não.

O PNR tentou nestes simples preceitos identificar, assim, algumas das preocupações por muitos partilhadas nesta Europa que insistem em subverter. Jamais abandonaremos a defesa de Portugal e dos Portugueses. Jamais pactuaremos com tratantes e federastas que nos vendem a retalho.


3 - Em alturas de aproximação de eleições europeias, abundam sempre as manifestaçoes de eurocepticismo oportunista. O teu caso será provavelmente o único a poder afirmar que as tuas preocupações em relação à Europa não são de hoje, porque são de sempre. A tua lista quer assumir sem complexos a representação de todos aqueles, e são de muitas e diferentes famílias, que sempre foram críticos quanto a este modelo de construção europeia?

HNO - É verdade. É curioso verificar como nestas ocasiões surgem tantos críticos e eurocépticos de ocasião. É bom que os Portugueses se lembrem nestas eleições do discurso pró-federal que elees mantêm e que alteram à boca das urnas. No meu caso tens razão, as minhas dúvidas quanto a esta Europa são de sempre, mas esse é apenas um crédito que te agradeço teres lembrado. Quanto à convergência, foi, como sabes, sempre aquilo por que mais trabalhei na nossa área. Algumas manifestações, mesmo de gente não tradicionalmente votante do PNR, parecem demonstrá-lo. Acho que o mote escolhido: A União Europeia prejudica Portugal não podia ser mais explícito na congregação dos verdadeiros críticos.

4 - A base eleitoral da candidatura apresentada pelo PNR coincide naturalmente, à partida, com os votantes deste partido. Existem perspectivas reais de ampliar essa base, de alargar os apoios à candidatura não só através do crescimento do próprio PNR mas também com a construção de uma plataforma mais vasta, que faça reconhecer-se na tua lista outros sectores, não identificados normalmente com o PNR?

HNO - Como já disse, recebi já apoio de gente que costuma votar nos partidos do sistema e que, desta feita, votará em nós. Também da sempre desavinda “direita” recebi claros apoios de gente que não se identifica com o PNR. Sobretudo gostaria que se identificasse esta candidatura como aquela que coloca Portugal e os Portugueses como sua razão de ser. Rótulos, esses sempre nos colarão...

5 - Os resultados eleitorais das próximas eleições europeias parecem-te importantes para a evolução da política portuguesa? Porquê?

HNO - Creio que face à actual conjuntura que mostrou a dependência em que levianas políticas mundialistas nos colocaram a alternativa nacionalista só pode crescer. É essa a minha convicção se bem que a memória curta de tantos Portugueses não me deixe completamente descansado...
Mas quero crer que persiste um substrato cultural nacionalista em muitos portugueses que pode emergir em momentos de grave crise como a presente.

6 - A teu ver, quais são os factores que conduziram a que grande parte da Direita portuguesa se tenha mantido afastada e desconfiada em relação ao PNR? São superáveis?

HNO - A Direita Portuguesa, são, como bem sabes, muitas. Essa tem sido a nossa triste sina. Onde há três cria-se uma cisão, tantas vezes o dissemos entre risos e justa preocupação. Tem sido esse o nosso problema. É por outro lado um percurso árduo e marginalizador. Os da nossa geração que trairam os princípios há muito se sentam à mesa do orçamento, sendo apenas de Direita das 17 às 9, ou seja no tempo que sobra do emprego que a traição das convicções lhes arranjou... Faltam-nos quadros. Faltam-nos militantes e os que temos são sempre alvo de tratos de polé como se neste mundo “moderno” o pior crime seja ser de Direita. Existem divergências antigas e novas que se revelam de difícil superação. O sistema estigmatiza-nos e apresenta-nos como justo motivo de crítica, condenação e escárnio. Enfim muitos factores, uns exógenos, outros endógenos contribuem para essa desconfiança.
Se é certo que o óptimo é inimigo do bom o PNR é certamente, na actual conjuntura, a plataforma pela qual tantos anos ansiámos: um Partido legal, concorrente às eleições, aglutinador das “direitas”, que nos permita expressar o nosso descontentamento na área nacionalista. Não será um partido ideológico, mas também não creio que o deva ser na actual conjuntura.
Será perfeito e ideal? Não, claro. Mas podemos sempre almejar contemplativamente os arquétipos, esperar por aquilo que exactamente gostamos e permanecer tranquilamente no nosso sofá...

7 - Considerando que és um homem da Universidade, apetece-me perguntar-te: que diferenças mais relevantes se notam entre os jovens universitários de agora e os do nosso tempo? Nomeadamente em termos de politização, de cultura, de interesses, etc.

HNO - Nós (de direita e esquerda) erámos jovens politizados, idealistas que acreditavamos na política. Hoje as preocupações são, lamentavelmente bem diversas e a descrença na política e nos políticos afasta muitos jovens da luta por ideais. Hoje vivemos num mundo materializado onde desde logo a escolha da formação superior é determinada pela empregabilidade e não pelo gosto ou vocação. Ninguém o fazia no nosso tempo, como bem te recordas. Aí tens a diferença fundamental: o abastardamento a que a materialização, que impôs o parecer/ter sobre o ser, nos conduziu.

8 - Que conselhos fundamentais gostarias de transmitir aos militantes mais jovens das causas que tu defendes? As verdades são as mesmas, mas as formas de afirmação política passam hoje por outros meios e outros métodos que não são os de há trinta anos? Como perguntaria Lenine - que fazer?

HNO - Gostaria de começar, aproveitando esta tribuna, para realçar um simples aspecto fulcral. Na tua pergunta detecta-se muito, algo próprio da nossa geração e que hoje seria impensável: um homem de Direita conhecer Lenine e citá-lo. Tal seria impensável hoje. Os que são de direita apenas devoram autores de direita, os de esquerda idem, frequentemente mal, ambos. Há uns anos uma aluna minha, militante do Bloco de Esquerda, ficou estupefacta com a obra social do Fascismo italiano. De ascendência italiana, jamais se tinha apercebido, no mundo em que se movimentava, que muitas das medidas sócio-laborais que acreditavam serem de “democratas” o eram na realidade de “monstros fascistas”. O preconceito imperava. Creio que não minto se disser que, depois de tais leituras, jamais me procurou para discutir política.
Gostava de lhes aconselhar que leiam, tudo. Que leiam Gramsci, apesar de prisioneiro político do fascismo italiano. Percebam a importância do seu legado, admirem o sabor dos seus “Apontamentos da Prisão”, onde diz que, no seu julgamento, os tribunais fascistas, que o condenaram, acabaram por lhe outorgar o maior elogio: “temos de parar, durante vinte anos, este cérebro de funcionar”. Melhor ler Gramsci e perceber a importância do seu combate cultural que empinar uma qualquer vulgata de Spengler ou Gobineau que não conseguem compreender...
Nesse combate cultural usem tudo o que o sistema vos permitir. Hoje, meu caro, como muito bem sabes é muito mais fácil disseminar a verdade que no nosso tempo. Aos mais novos, pois, a tarefa de erguerem o facho.
(Nota: para evitar uma estúpida, mas recorrente, imbecilidade, esclarece-se que facho é um archote, um farol, algo que por extensão se pode aplicar a tudo o que possa esclarecer a inteligência [do latim fasculu] e que nada tem a ver com Fascismo, que provém do latim fasces, feixe de varas utilizado pelos lictores romanos e que foi utilizado por Mussolini como símbolo visual da união nacionalista).

9 – Saltando do imediato para um plano mais distanciado, que críticas gostarias de formular em relação ao que tem sido a Direita portuguesa desde que estás presente na vida política? Quais as razões essenciais para o défice de representação política das famílias ideológicas da Direita em Portugal?

HNO - Invejas, “fuhrerites”, maledicência e muita traição aos princípios. Acho que é tudo...

10 - Mantendo-nos em questões de fundo, quais as propostas que gostarias de sublinhar, como decisivas, numa visão de futuro? O que deve a Direita portuguesa fazer que se tenha esquecido de fazer nas últimas décadas?

HNO - Parece-me que um claro Não a Bruxelas é um passo fundamental. Ao fazê-lo garantimos a Soberania Nacional. Devemos com carácter de urgência travar a invasão que sobre nós se abate. Invasão geradora de desemprego, angústria e crime. Devemos apoiar a família, célula base de qualquer sociedade, e não gastarmos tempo e energia com “bizantinices” e aberrações. Garantir que no nosso país a justiça seja justa e célere, que o direito seja direito e não ínvio, que a segurança seja assegurada, em suma, devolver aos Portugueses valores nos quais cada vez mais, e com fundada razão, não acreditam. Economicamente fazer dos portugueses proprietários e de Portugal um país produtor, na agricultura, na indústria, combatendo o “subsídio-dependentismo”, a cultura da dependência e a “resortização” do País. Desenvolver a Marinha de Guerra, de Pesca e Comercial e as inúmeras actividades a elas associadas e nalguns casos criminosamente desmanteladas pelo Portugal de Abril. Apostar na formação e na educação, com seriedade, sem espectáculos mediáticos, ou informáticos...
Combater a corrupção dos políticos e assegurar uma vida digna aos Portugueses.
Finalmente e permitindo-se-me alguma ironia: erradicar essa grande conquista de Abril que (seguramente por alguma malévola intenção havia sido extinta nos tempos da “tenebrosa opressão fascista”) foi a Tuberculose...
Assumir, em suma, o que nos fez grandes sem complexos e remeter para o lixo da história o que nos conduziu à apagada e vil tristeza...

11 - Finalmente, que mensagem gostarias de deixar aqui, para os nossos leitores, a pensar concretamente no acto eleitoral de 6 de Junho, em que meio Portugal estará, segundo tudo indica, na praia e arredores?

HNO - Que, nestes tempos de uma cultura de chinelização e meramente hedonista, não desistam de Portugal. Acreditem que vale a pena a aposta no PNR para aqueles que amam a Nossa Pátria. Acreditem que, na política fora dos partidos do sistema, há seriedade e vontade de trabalhar. Resta aos Portugueses a vontade de quererem mesmo mudar...

O retornado Santos

É a casa de Santos, e já temos Santos em casa: de novo arribou à sua Ítaca o nosso amigo FSantos.
Vamos lá visitá-lo, e dizer-lhe como a Pátria precisa dele: para que nunca mais nos deixe, o Santos retornado.

Bons ventos sopram em Coruche

Foi formalmente apresentado o MIC – Movimento Independente de Cidadãos por Coruche.
Este movimento de independentes (que são efectivamente independentes, e não meros dissidentes saídos de qualquer disputa interna dos partidos do poder) propõe-se intervir politicamente em nome das gentes e das tradições das terras do Sorraia, tendo como alvo as próximas eleições autárquicas. É uma nova esperança na política coruchense, e atrevo-me a dizer que não só...
Pela minha parte (que bem conheço e estimo Coruche, dos quatro anos em que razões de trabalho aí me levaram) desejo os maiores êxitos ao novo MIC. Os seus triunfos serão vitórias também para os que querem acreditar que a renovação e transformação da política portuguesa ainda são possíveis.
Para acompanhar Coruche nos blogues:

Aniversário

Hoje faz aninhos o Luís Miguel Bonifácio. Parabéns!

terça-feira, março 10, 2009

Conversa com Bruno Oliveira Santos: por um projecto de vanguarda assente no que sempre fomos

Esta entrevista saiu na verdade um diálogo, em que tanto falam entrevistado como entrevistador. O perguntador sou eu, o questionado é o Bruno Oliveira Santos, que abriu um blogue (o Nova Frente) mais ou menos nos mesmos dias em que este viu a luz da tela, e desde então o tem mantido aberto, dando combate sem tréguas ao conformismo, à mediocridade e à vulgaridade que assolam o nosso tempo como pragas do Egipto. Os leitores talvez não acreditem, mas não conheço o Bruno; nunca o vi; se acreditarem nisso talvez calculem a alegria deste encontro que já leva mais de cinco anos e meio, e que a rede tornou possível. O Bruno, que nunca vi, tornou-se um companheiro de todos os dias. Ainda por cima um companheiro bem disposto e transbordante de talento, que nos reconcilia com a existência cinzenta em que somos forçados a viver.
É por todas as razões e mais algumas que publico aqui esta troca de impressões com o Bruno. A conversa saiu muito politizada, mas o ano obriga.


1- Uma vez que ambos nos empenhamos politicamente, cada um a seu modo, começo por uma reflexão sobre um tema que me interessa. A Direita tem-se limitado normalmente, e desde há muito, a ser o que a Esquerda não é. A sua intervenção centra-se no combate ao que rejeita, e a sua definição faz-se pela negativa, em face da Esquerda. Será possível que a Direita passe de uma existência de reacção para um papel histórico novo, de criação, de proposição? Que assuma no nosso tempo a iniciativa política e uma função transformadora?

BOS - É desejável, mas difícil. De qualquer modo, faço notar que o combate ao que se rejeita também tem virtudes. A própria esquerda, historicamente, definiu-se em várias épocas apenas pela negativa e pela rejeição dos princípios dominantes. Hoje, para a direita assumir o papel de proposição e de iniciativa política, será necessário descobrir novos temas, novas propostas, novas ideias. É preciso pôr um pé no futuro e na inovação, rompendo com os dogmas prevalecentes, e outro pé no passado e na tradição. E tudo isto sem perder o equilíbrio. Enfim, importa desenvolver um projecto de vanguarda assente no que sempre fomos. Não faltam áreas onde inovar. O sistema actual não dá resposta às necessidades mais básicas. Em matéria de segurança, parece impotente face à criminalidade galopante. No que toca à educação, não consegue ensinar as crianças a ler e a escrever. Na economia, é o desastre que se vê. E o mesmo se aplica à saúde, à justiça, a todos os sectores. Dois milhões de portugueses vivem em situação de pobreza. Esses e os outros são atormentados pelos flagelos da droga, os ataques à Vida e à Família, a corrupção. Este regime vive e sustenta-se na ladroagem.

2 - Virando a atenção para o caso português, penso muitas vezes que nos ficou uma herança do antigo regime que condicionou toda a vida política posterior: a Direita desabituou-se de fazer política, e a pouco e pouco esqueceu-se de como se fazia, e até ganhou desprezo a quem faça (a conotação negativa do "ser político" tem raízes muito profundas). Hoje, passadas décadas, será possível reverter esta situação? Trazer à Direita o gosto e a paixão da política? Ou, numa formulação certamente mais direitista, fazer com que ela sinta o dever da política - e acabar com as sistemáticas derrotas por falta de comparência?

BOS - É lamentável perder por falta de comparência. Há razões objectivas, porém, que explicam por que a esquerda intervém mais e goste de “fazer política”. Entre outras coisas, a esquerda partilha a ideia de que o mundo pode ser inventado ou transformado por via política ou ideológica, e que esta transformação é sempre para melhor, a caminho do «progresso». A direita não acredita nesta insanidade utópica. No caso português, sobrevém outro problema. Este regime é hemiplégico: vai da extrema-esquerda ao centro. A social-democracia, que é uma criação dos marxistas do princípio do século passado, é considerada entre nós de centro-direita, e um partido voluntariamente do “centro” como o CDS passa por direita populista.

3 - No imediato, aproxima-se a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Ninguém ignora que a abstenção é a favorita, e ainda mais entre a Direita, por natureza eurocéptica. Acresce que a desilusão e a descrença, longe de trazerem o perigo de responsabilização dos responsáveis, costumam até favorecê-los - o povo afasta-se, dizendo que "eles" são todos iguais, e esquecendo que há uns piores que outros e outros que são piores que tudo.
Neste contexto, como se deve estruturar uma candidatura da Direita? Quais os eixos essenciais em que deve assentar?


BOS - Esta união política tem pouco a ver com a comunidade económica em que há 20 anos nos forçaram a entrar sem sequer um simulacro de plebiscito. Trata-se de uma construção artificial, com matizes totalitários. O objectivo é impor a todas as nações europeias, num processo gradual, a mesma moeda, a mesma constituição, a mesma bandeira, o mesmo hino, o mesmo governo. Por isso, nas próximas eleições europeias, vou apoiar a candidatura do PNR, encabeçada por Humberto Nuno de Oliveira. Julgo que é preciso defender intransigentemente as soberanias nacionais, ameaçadas por Bruxelas, e rejeitar por todos os meios a entrada da Turquia. De resto, como europeu, faço votos para que os diferentes Estados possam entender-se em matérias como a segurança, a defesa (mas sem exército único), ou a cooperação científica e cultural. O que importa, com ou sem União Europeia, é repelir as construções mundialistas e multiculturais, que deixam os países europeus à mercê da criminalidade organizada e dos gangues étnicos.

4 - É comum entre nós citar-se a advertência de Prezzolini, de que a Direita é o conjunto das Direitas, as que recordamos e as que esquecemos... Nunca houve no entanto, nestes trinta e tal anos que levo de conhecimento directo dessa realidade, nenhum iniciativa política da Direita portuguesa que lograsse chegar ao conjunto das Direitas, e muito menos que alcançasse o que se costuma designar de "direita sociológica" (seja lá isso o que for, se é que existe). Em regra, a direita desconfia da Direita. Por consequência, as iniciativas políticas franca e abertamente de Direita têm ficado confinadas a uma situação de marginalidade. E as direitas vão vivendo encostadas à esperança de que os menos maus, a quem dão os seus votos, quando votam, contenham os piores. Haverá, realmente, um caminho à Direita?

BOS - Sou pessimista por natureza. É um facto essa degradação que refere, em que as direitas vão sufragando os menos maus para conter os piores. Os adeptos incondicionais do dr. Salazar passaram a apoiar em 1968 o dr. Marcello Caetano, convencidos de que eram ambos da mesma cepa. No 25 de Abril, por desinformação ou para evitar males maiores, fizeram-se spinolistas. Logo a seguir, com a mesma lógica do menos mau, passaram a delirar com Sá Carneiro. Em 1986 votaram em Freitas do Amaral contra Soares. Mas em 1991, a conselho de Cavaco Silva, votaram em Soares contra os outros. E assim vemos a progressão da “direita sociológica”: evoluíram de Salazar a Mário Soares em menos de um quarto de século. Não estou a brincar. Houve gente que fez mesmo este percurso político.

5 - Entrando num terreno que lhe é caro, o da Cultura. Generalizou-se a convicção de que isso é coutada da Esquerda. E o facto conexo a essa convicção, já que, como frequentemente acontece, a convicção criou factos. Contra isso nem vale a pena observar que os grandes criadores estão muito longe de ser de Esquerda - sejam Rilke, Pound, Elliot, Dali ou Pirandello... Os pequenos e médios intelectuais são de Esquerda, e isso tem feito a história. Considera que existem sinais de viragem, ou ao menos de mudança, nessa área?

BOS - A ditadura cultural de esquerda mantém-se. Existem novos meios, como a blogosfera, mas nos principais órgãos a direita continua a ser a caricatura que dela faz a esquerda. Eu não quero ir tão longe como aqueles que afirmam que só há cultura de direita, mas coincido em que os grandes criadores não são de esquerda. Para além dos exemplos que referiu, veja o caso do século XX português: há mais alguém para lá de Pessoa? Onde a esquerda domina é nos pequenos e médios intelectuais, aqueles tipos ignorantes de barbicha e óculos redondos, que coçam a caspa nos cafés da Baixa.

6 - Salientava há pouco tempo o Pacheco Pereira, que tem qualidades de observador arguto, que existe uma cultura radical chic que faz a glória do Bloco de Esquerda e que em muitos aspectos é partilhada desde franjas de extrema-esquerda até sectores identificáveis muito à direita (v. g. o portismo). Eu a esse respeito gosto de dizer que um facto extremamente significativo na política portuguesa é que o Paulo Portas é irmão do Miguel Portas... O fenómeno em causa nota-se se abordarmos certos "temas fracturantes", ou referências culturais, ou visões da história, e da vida. Não o nota presente na blogosfera? O que foi feito da "nova direita" que por aqui pontificava há uns seis anos?

BOS - Anda a fazer pela vida nos órgãos de comunicação da esquerda. Quando os esquerdistas começam a dizer que eles são da direita “moderna” e “inteligente” querem significar com isso que os totós já defendem o aborto, os casamentos gay e emborcaram o discurso contra a xenofobia e outros crimes hediondos. Fora os nacionalistas, que eles não toleram, os nossos “neo-direitistas” toleram tudo e mais alguma coisa. São uns meias-tintas, incapazes de dizer sim ou não. Foram contaminados pelo relativismo. Nunca leram o passo do “Teeteto”, de Platão, em que Sócrates refuta a tese de Protágoras, segundo a qual o homem é a medida de todas as coisas. Para cada um sua verdade, como a peça de Pirandello. Alinho com Bento XVI na crítica ao relativismo. Aliás, a tese de que há tantas verdades quantas as opiniões admite por força a verdade dos que afirmam que ela é errónea, o que é contradição patente. Mas como é que se vai explicar isto à direita “moderna” e “inteligente”?!

7 - Procurando descer à terra, vamos à política que se vai fazendo. Em termos orgânicos, a Direita portuguesa tem a expressão que conhecemos. É notório que o PNR, que tem persistido nestes últimos anos, ainda não deu mostras de ter ultrapassado as resistências que em relação a ele se levantam, entre as gentes da Direita. Esta tem-se mantido, generalizadamente, à margem, em atitudes que vão da indiferença à suspeição. O que pode e deve fazer-se para modificar este panorama? Pode o PNR, antes do mais, conquistar a Direita?

BOS - Pode e deve. A direita e não só, porquanto creio que as propostas nacionalistas apelam, nos dias de hoje, a franjas até agora iludidas e burladas pela esquerda. O problema português é que não existe uma tradição de direita. Fala-se às vezes entre nós no caso do «Front National» e das expressivas votações que regista em França, mas nesse país há uma grande tradição nacional e de direita. Os resultados não dependem apenas da performance eleitoral de Le Pen ou da filha. Há um substrato nacionalista e de direita na sociedade francesa. Remonta ao nacionalismo francês do século XIX, ao rescaldo da derrota frente à Prússia em 1870-71 e às ideias de recuperação da Alsácia e da Lorena. Está ancorado no historicismo voluntarista de Ernest Renan, nas teses de Maurice Barrès, nos escritos de Léon Daudet e de Maurras. E houve o apostolado e a influência de vários movimentos importantes, como a Action Française, e de um sem-número de autores consagrados e bem diferentes, de Rivarol a Bonald, de Brasillach a Céline. Ainda agora, apesar de tudo, se sente que há em França espaços respiráveis. Há jornais, rádios, clubes e associações de direita, nacionalistas, monárquicos, tradicionalistas, e por aí fora. Em Portugal não temos nada disto. O país foi cunhalizado. E não me venham falar do Estado Novo. O Estado Novo foi fundado pelo dr. Salazar e desapareceu com este.

8 - Como somos precisamente da mesma geração blogosférica, não resisto a fazer uma pergunta: passados mais de cinco anos e meio, sente que o "Nova Frente" perdeu o fôlego, ou que já não tem nada para dizer? Que balanço faz do caminho andado?
E nós? Digo nós propositadamente, dando à expressão o significado que lhe é próprio. Os, alguns, que apostámos tanto esforço neste meio, podemos ao menos dizer confiantes que o rumo estava certo?


BOS - Acho que sim. Eu, pelo menos, não me arrependo. Também não me espanta a quantidade de blogues que surgiram a representar os vários nacionalismos e as diversas direitas, tão-pouco a qualidade de muitos deles. A blogosfera é o único meio de que dispõem para expressar livremente as suas opiniões. Quanto ao “Nova Frente”, sofre com os desacertos e afazeres do autor. Todavia, mantenho o blogue on line por duas razões principais. Em primeiro lugar, é um blogue pessoal, pessoalíssimo até, que me permite a qualquer hora do dia ou da noite lavrar protestos ou estados de alma. Em segundo lugar, por um motivo que o João Marchante resume lapidarmente: os jornais são todos iguais, os blogues são todos diferentes. Hoje não é preciso censura. Nenhum jornalista se atreve a sair fora dos cânones estabelecidos. Nessa medida a blogosfera é e continuará sendo um espaço de liberdade que importa frequentar.

segunda-feira, março 09, 2009

Riso amarelo

Foi-me enviada a brincar, mas esta brincadeira, infelizmente, tem que ser levada a sério. Não porque não tenha graça, que até tem, mas pela desgraça que também tem.
É a evolução do ensino da matemática desde 1950, a partir dos exemplos de exercícios simples para os alunos. Obrigado ao Nonas, e um abraço ao Mário, que também anda preocupado com o ensino da Matemática.

1. Em 1950:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.
O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda .
Qual é o lucro?

2. Em 1970:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.
O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de
venda ou €80,00.
Qual é o lucro?

3. Em 1980:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.
O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.
Qual é o lucro?

4. Em 1990:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.
O custo de produção desse carro de lenha é €80,00.
Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( )€ 20,00 ( )€40,00 ( )€60,00 ( )€80,00 ( )€100,00

5. Em 2000:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.
O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.
O lucro é de € 20,00.
Está certo?
( )SIM ( ) NÃO

6. Em 2008:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.
O custo de produção é € 80,00.
Se você souber ler coloque um X no € 20,00.
( )€ 20,00 ( )€40,00 ( )€60,00 ( )€80,00 ( )€100,00

Radiografia

Em Portugal há muito quem se governe e não se preocupe com o país”. “Os partidos têm dado muito maus exemplos”. Quem o diz é uma autoridade moral a quem todo o país venera e respeita - a Dra. Fátima Felgueiras. Que na ocasião aproveitou ainda para incentivar ao aparecimento de mais independentes, que é que o país precisa (disse ela). O recado era em primeiro lugar dirigido a Narciso Miranda, anfitrião no Jantar da Lampreia, mas não haja ilusões: a sementeira de Isaltinos e Valentins tornou-se praga incontrolável. Já aqui tinha escrito sobre isso, mas os tempos que se avizinham tornam ainda mais oportuna a lembrança. De facto, este é o ano de todas as eleições. Ainda há pouco tempo apareceu num jornal do Porto um artigo de Paulo Morais, o antigo vereador do Urbanismo, a recordar o que isto significa. Os rios de dinheiro que são indispensáveis para as máquinas partidárias, porque é só com esse combustível que elas funcionam, têm que vir de onde o há. E os métodos de angariação não podem ser muito diferentes do que têm sido até agora. Com a diferença que este ano terão que ser praticados em muito mais larga escala. Quem não alinhar, perde - facto que é conhecido e devidamente valorizado nos directórios partidários. Ironicamente, quando se fala de crise, este ano surge como uma época de oportunidades, quase única, para esse ramo de negócio. Um El Dorado para os especialistas, os intermediários, os homens dos sacos e das malas, uns azuis e outras pretas, que são o sangue e o nervo do regime.
Neste contexto, há duas certezas: a) se em períodos normais o discurso anticorrupção não tem gozado de receptividade nenhuma junto da classe política, neste ano que corre essa conversa não tem outra hipótese que não seja ser rechaçada como ruído desagradável e importuno; b) os tais, que a Dra. Fátima chama independentes, podem estar descansados que se há ano em que a sua força surge acrescida e temida é neste de maratona eleitoral. Nem precisarão, regra geral, de independentizar-se, que os responsáveis dos partidos não querem correr o risco de perder Câmaras e apoios (na verdade até são mais os que estariam dispostos a pedir desculpas por intransigências passadas).
As notícias recentes sobre velhos negócios de submarinos, de sobreiros, de licenciamentos imobiliários, de concessões e empreitadas (sempre relacionados com períodos pré-eleitorais) constituem uma amostra do que podemos ter como certo nesta temporada, mesmo que seja para só se saber anos depois.
Acontece que este sistema não é reformável. Os portugueses deviam tomar consciência disso, e agir em conformidade.

Guénon, sim e não

O autor da "crise do mundo moderno", o crítico do "reino da quantidade", posso lê-lo com admiração sincera. Posso, e não me inibo de recomendar a leitura aos amigos. Todavia, importa esclarecer que nunca passarei daquilo que qualquer adepto chamaria "uma leitura profana" de Guénon. Não posso acompanhar o restante (que é muito). V. g., a crença na sobrevivência a Oriente de uma Tradição que se perdeu irremediavelmente a Ocidente.
O caminho de Guénon levou-o ao islamismo, convencido que aí tinha encontrado uma espiritualidade superior. Julgo que se tratou de um equívoco, do tipo "pensamento desejoso". Tanto queria encontrar, que julgou encontrar. O Islão, como certos resquícios de civilizações do Oriente, recebeu com atraso o choque de uma modernidade que há muito triunfou a Ocidente. Olhando quase há cem anos, admito que aquilo que me parece a mim simples atraso cronológico tenha surgido aos olhos de Guénon como algo de mais substancial. Porém, não é tal. Muito do que podemos ver hoje em dia confirma, do meu ponto de vista, que os efeitos do contacto com a modernidade serão muito mais devastadores no mundo islâmico do que o foram para a antiga sociedade ocidental.
Costumam retorquir-me que na actualidade o Islão é, de entre as grandes religiões, aquela que cresce. Estatisticamente é verdade. Porém, parece-me mais verdadeiro do que a fria estatística o que se pode ver com outras observações. O Islão cresce nas franjas, expande-se - mas sobretudo em África. A missionação constante, e o abundante dinheiro do petróleo, e a paralisia mental do cristianismo (onde se passou a condenar o proselitismo!) explicam facilmente esse crescimento - feito num terreno onde a produção autóctone nunca originou senão formas primitivas de espiritualidade. O Islão cresce também na Europa, no Ocidente rico e vazio - mas como não compreender que isso acontece devido à deserção das Igrejas, sobretudo da Igreja Católica, que deixaram de satisfazer as necessidades espirituais das gentes?
O Islão cresce, nas franjas. A cabeça vai apodrecendo, e o corpo estremece, em estertores violentos que se prolongam e previsivelmente se prolongarão não se sabe até quando. No final, todavia, o resultado surge-me como inevitável. Sociedades "ocidentalizadas". Ainda será no nosso tempo que veremos um McDonalds a ladear a Caaba. Ah, e o Irão potência nuclear, é claro. É tudo a mesma coisa.

Eastwood como John Wayne

Clint Eastwood aproxima-se dos 79 anos. Não é pouco, e faz pensar no vigor com que marcou o ano cinematográfico. Duas obras de autor, os filmes que ficaram conhecidos como "a troca" e "gran torino", oferecidos para a discussão interminável sobre os méritos do actor/realizador. Nesta altura, todavia, parece um dado adquirido que o nome de Clint está definitivamente inscrito entre os grandes do cinema. Lembra-me constantemente John Wayne. Uma longa carreira de actor, a tarimba feita em filmes menores, a desconfiança quanto às suas qualidades dramáticas - e a resposta feita de persistência, de trabalho, de convicção. Depois, a consagração ao fim da estrada. E a insatisfação. O fascínio da realização (De Wayne, ficam "o Álamo" e "os boinas-verdes", de Clint, há que reconhecê-lo, ficará muito mais. Mas em ambos houve este impulso de mostrar que tinham algo para mostrar, do outro lado das câmaras.)
Em ambos, a dureza ("feo, fuerte y feroz") a que muitos chamaram inexpressividade. Em ambos, um reaccionarismo insubmisso, contra a corrente, por vezes desafiante, como em "Dirty Harry" ou em "Boinas-verdes". Em qualquer deles, personalidades singulares, que ficam a marcar o seu, e nosso tempo. Dois heróis do nosso tempo.

domingo, março 08, 2009

Dia de Aniversário

Fez anos (poucos) o João Marchante. Ora ide lá e dai-lhe os parabéns.
Daqui das profundezas do Alentejo seguem já, direitinhos, uma carrada deles.

(Isto de fazer anos lembra-me sempre os versos de João de Deus: (...) "Que tolo!/ Ainda se os desfizesse.../ Mas fazê-los não parece/de quem tem muito miolo."

Como os versos são uma delícia, e admito que sejam desconhecidos de alguns leitores, fica aqui, em homenagem ao João Marchante, o poema de João de Deus: "Dia de Anos".

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!

sexta-feira, março 06, 2009

Teoremas do "57": ciclo de simpósios, em Montemor-o-Novo

Ao longo de 2009, os Cadernos de Filosofia Extravagante promovem em Montemor-o-Novo, na Livraria Fonte de Letras (sita na Rua das Flores, 10/12, junto à Câmara Municipal), um ciclo de quatro simpósios dedicados à apresentação e ao debate dos 12 Teoremas do «57», originalmente publicados em Dezembro de 1957, num número duplo (3-4) daquele órgão do Movimento de Cultura Portuguesa.
O primeiro dos quatro simpósios dedicados aos doze teoremas do 57 teve lugar no dia 1 de Março, foi coordenada por Hélder Cortes e teve casa cheia.
Elísio Gala foi o primeiro dos oradores a usar da palavra e, antes de apresentar o teorema da antropologia, fez uma breve e oportuna introdução histórica e filosófica ao jornal 57 e ao Movimento de Cultura Portuguesa. Seguiu-se a intervenção de Isabel Xavier, que abordou o teorema da poesia e, citando Álvaro Ribeiro, salientou a relevância da doutrina de Arte Poética, de António Telmo, na revalorização da poesia lírica. Por fim, foi justamente António Telmo quem falou, para apresentar o teorema do romance.

Grandes cromos!

O que se há-de dizer de uns sujeitos com idade que as convenções mandar ser já de ter juízo e que vamos encontrar extasiados à volta de umas cadernetas de cromos - como aqueles miúdos de joelhos esfolados e dentadura em vias de renovação que se reuniam aos cantos do recreio nos intervalos das aulas?
Pois é, a angústia febril da procura, o tenho-não-tenho, a emoção angustiada do "tens prá troca?", têm qualquer coisa de anacrónico.
Não é que sejam maus rapazes, mas andam carecidos de estímulos mais fortes e adequados. (Nesta altura estou a ver o que o Nonas dirá que eles andam precisados, mas aqui não cabem brejeirices - só queria mandá-los empenhar-se em matérias mais elevadas).
Já não bastava o Eurico, agora temos o Mário e o Duarte - e daqui a pouco uma geração promissora perde-se a remexer o pó dos velhos baús familiares, e a traça das hemerotecas municipais, tudo em demanda das cadernetas esquecidas, com a energia luminosa com que os cavaleiros de Artur procuravam o Graal.
Dava um filme, desses infindáveis que a nossa televisão nos pespega aos sábados e domingos à tarde - "À Procura do Cromo Perdido".

quarta-feira, março 04, 2009

SOS Capuchos

Há lugares mágicos entre nós, que geralmente os indígenas fazem caprichosamente por ignorar (nos dez anos em que vivi em Lisboa esforçava-me por passar sempre que podia pelo Jardim Botânico, e repetia-se de cada vez o mesmo espanto: nunca há lisboetas no Jardim Botânico!). Quando posso, em Almada, subir à Casa da Cerca, fico ali extasiado a olhar para Lisboa (não sei de sítio onde ela surja assim larga e esplendorosa) e penso sempre o mesmo: nunca nenhum lisboeta me falou disto - julgo que não há nenhum que saiba!...
Vejam-se as vistas do terraço de Santa Engrácia, ou do alto de São Vicente de Fora, e encha-se a alma de Tejo e luz, magnífica, incomparável - pois aposto que se perguntarem por isso a algum vosso amigo lisboeta... nunca nenhum lá foi. (Os lisboetas são, aliás, no geral, uma gente muito estranha, no que se refere à sua cidade. Pouco mais conhecem do que a rua deles, e olham com admiração quem lhes pergunte o que há além da esquina).
Deixando os lisboetas, e voltando aos lugares mágicos, um desses sítios em que uma magia estranha e indefinível ficou no ar, para os que sabem sentir, é o lugar dos Capuchos, em plena Serra de Sintra. O Convento da Cortiça, onde nos falam as presenças de Frei Agostinho da Cruz, de D. João de Castro, de Diogo Bernardes, de Camões, de D. Sebastião... como bem se mostra neste blogue que lhe é dedicado.
É frágil, como quase todas as coisas simples e belas. Nem pode ser aproveitado para empreendimento turístico ou reconvertido em projecto imobiliário de luxo. Não dá. A tendência, desde há muito, tem sido abandoná-lo. Honra ao SOS Capuchos, que nos vem acordar a memória.

Pirandello em Lisboa

Lembro-me de Orlando Vitorino a dizer que o grau de cultura de um povo pode avaliar-se pela qualidade do seu teatro (ele acrescentava que em Londres é que se fazia o melhor teatro do mundo). Nada sei de Londres, mas a questão estava em que em Lisboa se produz muito pouco, em geral fraquinho.
Nesta cena normalmente pobre é evidentemente um acontecimento a aparição de Pirandello nos grandes palcos da capital.
Amanhã, em Lisboa, no D. Maria II, estreia-se a peça "Esta Noite Improvisa-se", pelos Artistas Unidos (diga-se Jorge Silva Melo).
Luigi Pirandello, escritor italiano (1867-1936), prémio Nobel da Literatura em 1934, é um dos nomes fundamentais do Teatro do Século XX.
Peças como "Esta Noite Improvisa-se", que agora sobe ao palco do Nacional, ou "Para Cada Um Sua Verdade", que ali mesmo fez sucesso em 1963, com encenação de Palmira Bastos e interpretações de Varela Silva e Cecília Guimarães, ou "Seis Personagens em Busca de Autor", que se anuncia para Setembro no São Luiz, também sob a responsabilidade de Jorge Silva Melo, são acontecimentos culturais de primeira grandeza em qualquer lugar do mundo.
"Esta Noite Improvisa-se" é uma peça escrita em 1929, que exige uma encenação com grandes meios humanos (sobem ao palco 32 actores e quatro músicos). Um desafio para o encenador, e para o elenco escolhido. Destaque para a actriz Sílvia Filipe, e outros antigos colaboradores dos Artistas Unidos, como António Simão, Lia Gama, Pedro Lacerda, João Meireles, Andreia Bento ou Pedro Carraca.
Para completar o elenco, Jorge Silva Melo reuniu muita gente nova, através de casting para encontrar jovens actores-cantores. Declara o encenador que ficou surpreendido com a qualidade que encontrou, o que me fez lembrar a minha própria surpresa com o grupo que Filipe La Féria reuniu para levar à cena o "West Side Story" (fui assistir sem expectativas nenhumas, e dei por mim agradavelmente surpreendido com aqueles rapazes e raparigas, de notável entrega e talento).
Em resumo: temos Pirandello no Teatro Nacional, já a partir de amanhã: "Esta Noite Improvisa-se". E em Setembro anuncia-se mais Pirandello, desta vez no Teatro São Luís: "Seis Personagens em Busca de Autor".
Não faltem.
E falem-me das vossas impressões (os leitores de um blogue também têm que ter voz activa nele!).

Portugal em grande

Um sítio contra a corrente: "Portugal é um País fabuloso e o potencial está nos Portugueses. Há que "pensar diferente" e criar um ciclo virtuoso focando no que Portugal tem de melhor!"
Pedem-se notícias positivas!

terça-feira, março 03, 2009

Medalha de Mérito Cultural para Couto Viana

O Município de Ponte de Lima decidiu atribuir a Medalha de Mérito Cultural ao escritor António Manuel Couto Viana, nome cimeiro da Literatura Portuguesa cujo mais recente título, “Os despautérios do Padre Libório e outros contos pícaros”, é uma edição da Opera Omnia, edição comemorativa dos 60 Anos de Vida Literária do Autor.
A cerimónia de entrega da Medalha está marcada para amanhã, dia 4 de Março – Dia de Ponte de Lima.
(Informação colhida no Nonas)

A eles!

Uma descoberta, nestes tempos em que se lembra D. Nuno: a Fundação Aljubarrota.

domingo, março 01, 2009

Qual é o pior Presidente de Câmara do Distrito de Évora?

Acabou o mês e acabou a votação: Manuel Condenado conquistou uma vitória arrasadora, com 48% dos votos, seguido a longa distância por José Ernesto Oliveira com 22%, e depois por José Figueira com 10% e Estêvão Pereira com 5%...
Estão de parabéns os nossos leitores calipolenses, que conseguem ter o Pior Presidente de Câmara do Distrito de Évora, e o próprio vencedor, que começa o ano com uma votação muito melhor do que o irá acabar.
Ao pé dele, o Oliveira, o Figueira e o Pereira ficaram reduzidos a um insignificante pomar de bonsais.
Mas o importante, como se diz sempre nos discursos de encerramento destas provas, não é ganhar - é participar. E a todos queremos dizer que, se é certo que só um podia ser o pior, os outros não deixam de ser maus.
Até Outubro, então.