sexta-feira, julho 31, 2009

Adeus

Foi intenção primordial deste blogue criar pontos de partida. Neste momento em que atingiu o fim, pareceu-me oportuno recordar essa meta.
Aos amigos e a todos os que tiveram a bondade de passar por aqui, fica o meu agradecimento público.

Poderemos ser democratas?

(inserimos hoje, último dia de publicação deste blogue, mais um artigo do nosso desconhecido colaborador José Silva. Aqui fica para apreciação geral).

Quando nos apercebemos do que tem sido este regime, desde há 35 anos, e que ele tem por título – democrático – querendo manter uma consciência sã, forçosamente temos de dizer – se isto é uma democracia, então eu não sou democrata! Melhor é que pensemos: Isto não é uma verdadeira democracia, e eu é que sou verdadeiramente democrata!
Como assim? O dicionário de Figueiredo, por exemplo, dá várias definições possíveis para democracia, a saber: Soberania popular; Governo do povo; Influência do povo na governação pública (...). Já a wikipédia diz que Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), directa ou indirectamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico.
Algures no meio de todas estas definições genéricas eu, e acho que todos vós, podemos encontrar espaço para a nossa consciência política dentro da palavra democracia. Ninguém no seu perfeito juízo poderia hoje em dia excluir toda a participação da população na vida pública – semelhante regime seria, quer no plano interno, quer no internacional, insustentável – para além de que não seria possível de implantar! Qualquer revolução ou golpe de Estado, ou o que lhe quisessem chamar que não leve o nome de democrático, atrai em meia dúzia de dias um porta aviões americano na barra do Tejo com a bênção da restante União Europeia e da ONU!
Deste modo, e embora não possa em consciência aceitar a ideia de soberania popular, já me parece aceitável, a ideia da influência do povo na governação pública, desde que sejam clarificados os moldes em que se processa a dita influência. À luz da wikipédia, poderá o povo tomar importantes decisões políticas, o que não quer dizer que ele as tome todas!
A partir das mesmas definições poderemos igualmente concluir que este regime não é verdadeiramente democrático.
- Em primeiro lugar porque faz subordinar todo o funcionamento da representatividade política, à constituição de partidos. Ora, o Art.º 8 da Lei dos partidos afirma: Não são consentidos partidos políticos armados nem de tipo militar, militarizados ou paramilitares, nem partidos racistas ou que perfilhem a ideologia fascista. Não especificando o que significa para ele fascista, o legislador abre o campo para que se considere fascista toda a oposição ao regime. Portanto, este artigo, na prática é o mesmo que dizer – só se permitem partidos da situação – e é o que temos.
Já o Art.º 9 diz: Não podem constituir-se partidos políticos que, pela sua designação ou pelos seus objectivos programáticos, tenham índole ou âmbito regional. Sendo que algumas das nossas regiões detêm especificidades e problemas, porque não permitir a sua defesa em plenário?
- Depois, uma vez que são permitidas tacitamente todas as formas obscuras de financiamento partidário, temos um regime em que as campanhas eleitorais envolvem exorbitâncias, o que não permite ao cidadão comum, nem às actividades económicas menos lucrativas, a possibilidade de verem ouvidas as suas vozes. No fundo temos um circuito fechado em que os partidos uma vez eleitos promovem obras inúteis, elaboradas por grandes construtoras, que por sua vez os financiam. Quem perde é o país.
- Finalmente, e como resultado destas duas premissas, grande parte da população desistiu de exercer o seu direito de voto, o que só por si poria em causa a legitimidade democrática. Eleitos por uma ínfima maioria, os representantes arrogam-se no direito de alienar partes da soberania nacional, o que para além de ser moralmente reprovável, é por pouco que isso me interesse, inconstitucional. Diz a nossa Constituição, no Art. 5 - O Estado não aliena qualquer parte do território português ou dos direitos de soberania que sobre ele exerce, sem prejuízo da rectificação de fronteiras. Ora, sem qualquer consentimento da população, os sucessivos governos alienaram o direito de cunhar moeda, e de com base nela definir uma economia, o controle das fronteiras, o direito à pesca (ou à não pesca) nas nossas águas territoriais, e por aí fora. Tudo isto são direitos de soberania.
Resumindo - já vimos que podemos ser democratas. Já vimos que este regime não é democrata. Falta ver porque devemos ser democratas cristãos.
Devemo-lo ser porque tão simplesmente o nosso Papa nos abre esse caminho. Ao afirmar: «A lei natural se converte deste modo em garantia oferecida a cada um para viver livremente e ser respeitado em sua dignidade, ficando livre de toda manipulação ideológica e de todo arbítrio ou abuso do mais forte.» (...) «Ninguém pode se eximir desta exigência – continuou advertindo o Papa. Se por um trágico obscurecimento da consciência colectiva, o cepticismo e o relativismo ético chegassem a cancelar os princípios fundamentais da lei moral natural, a própria ordem democrática ficaria radicalmente ferida em seus fundamentos». (http://www.zenit.org/article-16342?l=portuguese). Para Bento XVI e para nós, como católicos, o direito natural é a base da verdadeira democracia e a única garantia da integridade da população.
Compreendemos porém que não cabe à Igreja a criação ou implantação de um regime político. A Igreja tem que se manter acima de todos os regimes, para que lhes sobreviva, como por milhares de anos o tem feito. O papel de construir um regime à luz dos princípios que ela nos indica (cristianismo e democracia), pondo de lado pequenas quezílias e idiossincrasias, cabe-nos a nós! Ao fim ao cabo, e por muito que a palavra democracia tenha hoje uma conotação negativa, será melhor abdicar dessa conotação ou aturar o Sócrates?

JOSÉ SILVA

sábado, julho 25, 2009

HERMÍNIO DA PALMA INÁCIO - Ladrão e Homicida na Forma Tentada

(em breve visita ao lar estive a abrir o correio, e lá encontrei esta carta, da autoria do Sr. General Fernando Paula Vicente, a propósito do recente desaparecimento de um conhecido figurão, digno ornamento deste regime que nos rege)

Faleceu em Lisboa, no passado dia 14 de Julho, Hermínio da Palma Inácio, glorificado pela opinião publicada como um revolucionário artífice da liberdade a quem a democracia portuguesa muito deve. Estamos em democracia e, por isso, toda a gente tem direito à sua opinião, incluindo eu próprio, cidadão anónimo e contribuinte fiscal que nunca roubou o Estado, antes pelo contrário, pelo Estado foi roubado. Só que a minha opinião sobre essa figura sinistra é completamente divergente da publicada.
Antes de prosseguir, quero deixar claro que não conheci Palma Inácio pessoalmente, embora tenha lido, senão tudo, seguramente quase tudo o que sobre a sua personagem foi publicado. Adicionalmente, recolhi de quem o conheceu muito bem, informação insuspeita sobre o seu perfil ético. Essa informação foi-me dada por um General Piloto-Aviador ao tempo Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, e a conversa teve lugar no seu gabinete de trabalho, onde eu procurava despacho para assuntos da sua exclusiva competência, sendo que um deles era a nomeação de um militar para um cargo no estrangeiro. Na pré-selecção feita pelos serviços competentes, estavam nomeáveis três militares que eu conhecia muito bem. Pediu o meu parecer pessoal e eu dei-lho, recomendando um deles que tinha uma folha de serviço exemplar, era reconhecidamente muito competente e pautava o seu comportamento por um elevado padrão ético. O Senhor General ouviu atentamente os meus argumentos e, para minha surpresa, ficou em silêncio por um longo momento. De seguida levantou-se da sua secretária e convidou-me a sentar num recanto do gabinete onde estavam dois sofás e uma mesa de apoio. “Senta-te aqui, tu és muito novo e eu quero contar-te uma história de como gente “muito competente” pode, ao mesmo tempo, ser extremamente perigosa”. E contou-me ali a seguinte história de Hermínio da Palma Inácio.
Esse Senhor General era ao tempo capitão aviador na Base Aérea de Sintra onde Palma Inácio, com o posto de 1º Cabo, tinha, num passado recente, sido mecânico na “linha da frente”, isto é, tinha a responsabilidade da pequena manutenção e reabastecimento dos aviões, portanto da respectiva prontidão imediata para voo, funções que desempenhara de forma comprovadamente muito competente e onde conquistara a estima de todos os pilotos. Depois, saiu da Força Aérea para exercer funções semelhantes no meio civil. Em 1947, já depois da sua saída, aconteceu na Base Aérea o que parecia impensável. Um dos pilotos, ao passar a obrigatória inspecção exterior a um avião no qual iria voar de seguida, notou que os cabos de comando dos lemes do avião (cabos de aço compostos por um enrolamento de fios de aço de menor secção) estavam em mau estado, parecendo meio cortados. Dado o alarme e após pormenorizada análise, confirmou-se terem os ditos cabos sido, não cortados como a imprensa actualmente relatou, mas intencionalmente serrados o suficiente para, com o avião ainda em terra, transmitir movimento aos lemes – e iludir o piloto - mas para inevitavelmente quebrar quando sujeitos à elevada pressão aerodinâmica do voo, deixando o avião no ar sem qualquer possibilidade de controlo, provocando a sua inevitável queda e destruição e a mais que provável morte de pilotos. E constatou-se ainda que tinham sido serrados os cabos de comando de todos os aviões, num acto de sabotagem total da frota, cuja autoria se confirmou ser de Palma Inácio que foi preso pela PIDE. O Senhor General alertava-me desse modo para o facto, aliás bem conhecido, de que uma intenção altamente malévola pode ser – e frequentemente é - convenientemente camuflada com um comportamento profissional irrepreensível.
Certamente a atestar também o seu apreço pelo elevado perfil profissional de Palma Inácio, o então Major Humberto Delgado, aproveitanto um voo de treino chegara mesmo a levá-lo em passeio aéreo, apesar da grande diferença de posições (1).
Ao elevado e generalizado apreço que a Força Aérea Portuguesa lhe demonstrou – depois de lhe ter proporcionado uma formação técnica de grande valia profissional no quadro de um mais que deprimido mercado de trabalho em 1947, Palma Inácio retribuiu com a preparação da destruição material da frota de aviões de treino, essencial ao funcionamento e crescimento da Força Aérea, e com a frieza assassina de quem não hesitou em condenar à morte os seus camaradas pilotos, aqueles mesmos que tanta consideração lhe dispensaram.
À semelhança do que fez a Acção Revolucionária Armada (Partido Comunista Português) em 8 de Março de 1971 na Base Aérea de Tancos onde, durante a noite, destruiu 28 aviões e helicópteros guardados num hangar, evitando deliberadamente atingir pessoas, Palma Inácio podia simplesmente ter cortado os cabos de comando ou podia ter feito explodir os aviões. Mas isso não lhe bastou: quis também assassinar os pilotos!
Foi responsável por algumas imbecilidades como, por exemplo, a tentativa de ocupação da cidade da Covilhã, mas o imaginário nacional relembra-o essencialmente pelo desvio, em 11 de Novembro de 1961, de um avião Super-Constellation da TAP de onde largou sobre Lisboa panfletos contra o regime de Salazar, e também pelo, até recentemente, maior roubo bancário em Portugal quando, em 1967, liderou o assalto à dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, de onde roubou vinte e nove mil contos, uma elevadíssima quantia para a época. Preocupado como dizia estar com a pobreza do País, consequência da “ditadura” do Estado Novo, podia ter copiado do Zé do Telhado o gesto simbólico de uma ostensiva distribuição pelos pobres, o que seguramente teria envergonhado o Regime. Mas não. Palma Inácio não era um altruísta. Levou o dinheiro para Paris, para o banquete da fauna desertora e são conhecidas as desavenças que a farta refeição provocou, porque o objectivo não era envergonhar o Regime, era encher a gamela.
Como terá dito Mário Soares (2), Palma Inácio “Era um homem de grande imaginação revolucionária. Não era propriamente um político…”. Tem toda a razão e por isso os seus actos não põem ser considerados “políticos”. De facto, durante todo o período da “ditadura” não se lhe conhece filiação partidária. Também se lhe não conhece qualquer projecto alternativo de governação que pudesse legitimar uma oposição ao Regime, como foi o caso do próprio Mário Soares e de Álvaro Cunhal. Foi só depois da Revolução de Abril que, a fazer fé na imprensa da época, Mário Soares o convenceu a filiar-se no Partido Socialista e, de seguida, lhe ofereceu, de mão beijada e a troco sabe-se lá de quê, o lugar de Director-Geral do Ministério do Trabalho, função para a qual Palma Inácio não podia ter a menor qualificação. Favores de amigos.
A propósito da morte de Palma Inácio e a fazer também fé na imprensa (3), Almeida Santos, Presidente do Partido Socialista, declarou que Palma Inácio foi “…um exemplar patriota” e terá sido por este mesmo critério que Jorge Sampaio, em Maio de 2000, quando exercia as funções de Presidente da República, o agraciou com o elevado grau da Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Perante tudo isto, ocorre-me perguntar se eu - que não fui, não sou nem nunca serei socialista e que, tal como Palma Inácio não gostava de Salazar, eu não gosto do Senhor Primeiro-Ministro José Sócrates e do seu governo, como não gosto da ditadura de partidos que ultimamente vem governando Portugal – decidir assaltar uma qualquer dependência do Banco de Portugal e roubar pelo menos uns cinco milhões de euros, o que me dava um jeitão para ajudar a educar bem os netos e deixar-lhe algum conforto material que a minha reforma me não vai permitir; se eu que, tal como Palma Inácio tinha, tenho acesso fácil a qualquer Base Aérea nacional, decidir sabotar e destruir o avião Falcon em que o Governo se passeia por esse mundo à nossa custa e atentar contra a vida de uns pilotos, (prometo que, esse caso, eu que, contrariamente a Palma Inácio, sou um democrata, terei o cuidado de não atentar contra a vida do Senhor Primeiro-Ministro porque ele foi democraticamente eleito, ainda que por um povo meio distraído e imbecilizado pelo futebol e pelas telenovelas), será que o Partido Socialista me confere a distinção de me considerar um “exemplar patriota”, me arranja um lugar bem remunerado no conselho de administração de um desses Institutos Públicos para onde é desviado o dinheiro dos contribuintes para aí ser gerido por “exemplares patriotas”, como na opinião publicada se pretende fazer crer que Palma Inácio foi, e depois - a cereja no cimo do bolo – me confere aí um grau qualquer da Ordem da Liberdade (não tem que ser a Grã-Cruz)?
A verdade, a minha e a de muitos outros portugueses da minha geração que lhe conhecem o perfil, é que Palma Inácio não prestou qualquer serviço ao País, por muito que isso doa aos desertores que tudo torcem para justificar a sua deserção, a sua traição à Pátria. Posto em termos simples e claros e entre outras coisas:
- Palma Inácio foi um mero ladrão – procurei mas não consegui encontrar outro adjectivo para qualificar uma pessoa que assalta um banco e rouba vinte e nove mil contos - com os quais muitos se devem ter banqueteado e, porventura, se sentem agora na obrigação de o glorificar em termos nacionais.
- Palma Inácio traíu a Força Aérea, tentou o homicídio dos mesmos pilotos com quem lidou diariamente e que lhe dispensaram uma consideração que não merecia, constituindo-se homicida na forma tentada.
- Mais tarde, já no Brasil, aproximou-se do Senhor General Humberto Delgado (o mesmo que lhe dispensou a consideração pessoal de o levar a voar) tornou-se membro do MNI e na hora certa traiu-o também, o que obrigou Humberto Delgado a “ …expulsá-lo «por traição…” (4)
Ora… façam-me o favor de parar com o sistemático branquear da História. A traição não é, nem nunca será, convertível em virtude. Haja vergonha!

Espanha, 20 de Julho de 2009
Fernando Paula Vicente
Major-General da Força Aérea Portuguesa (Ref.)

1 - “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”, pág. 905
2 - “Diário de Notícias”, 15 de Julho de 2009, pág. 8
3 - “Diário de Notícias”, 15 de Julho de 2009, pág. 8
4 - “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”, pág. 905

sábado, julho 18, 2009

Telegrama

Vou estar uns dias longe de computadores. Quando puder darei sinais de vida.

sexta-feira, julho 17, 2009

Admirable!

«Le mauvais goût, c’est de confondre la mode, qui ne vit que de changements, avec le beau durable
(Stendhal)

terça-feira, julho 14, 2009

O problema da direita

(com o devido respeito, transcrevo o artigo de Jaime Nogueira Pinto, hoje publicado no ionline) .

Os valores e princípios tradicionais da direita estão descaracterizados na oferta política portuguesa. É necessária a sua refundação.

Se esquerda e direita significam, para além de lugares do espaço político, conteúdos substanciais, valores, princípios e projectos, tais conteúdos podem ser exercidos e desenvolvidos em diferentes formas e regimes. Em modelos autoritários ou liberais, totalitários ou democráticos.
Em Portugal, a Primeira República foi o tempo de governo dos democráticos de Afonso Costa e António Maria da Silva. Uma esquerda republicana, anti-religiosa, anticonservadora, que se impôs pela força da rua e nas suas formas superiores de luta - a Carbonária, a Formiga Branca, o povo unido! O eleitorado era 7% da população.
A reacção a esta violência foi violenta - as incursões de Couceiro, Sidónio Pais, a Monarquia do Norte; em 1926, a ditadura militar; e depois de 1933 o Estado Novo autoritário de Salazar. Este impôs os princípios da direita - nacionalistas, religiosos, conservadores - num sistema apartidário. O que depois de 1945 era um modelo exótico para a Europa ocidental.
É este o problema da direita portuguesa - os seus valores e princípios foram instituídos e defendidos no Estado Novo, o que os tornou execrados e indesejados no pós-25 de Abril.
E justificou a sua interdição na democracia vigiada pela autoridade instituinte do MFA e do seu pacto com os partidos.
Com excepção da dinâmica do PSD do primeiro cavaquismo e do CDS nacional populista da segunda metade dos anos 90, tais princípios nunca foram assumidos (o que não quer dizer que não servissem às vezes de bandeira de conveniência) por nenhum partido ou programa político. E continuam a não ser.
Esta ausência descaracterizou ideologicamente a oferta política e o eleitorado de direita vota, à mercê das lideranças, das situações e conveniências, no PSD, no CDS e até no PS. No PSD do primeiro cavaquismo, no CDS de Monteiro de 1995 e em Sócrates na dêbacle do PSD de Santana.
Tem sido assim e assim será, enquanto não houver uma força política, existente ou nova, que adopte esses valores e princípios identitários da direita. Que, depois do fim do comunismo e da conversão dos socialistas ao mercado, já não pode ser o liberalismo económico.
A direita ideológica tem a ver com a ideia de valores de orientação permanente, à volta da nação, da religião, da família, de uma certa ordem natural, que admite mudanças, mas rejeita utopias e sobretudo a absolutização do relativo.
E esses valores podem ser defendidos no quadro democrático. Não fizeram outra coisa nos últimos trinta anos os grandes partidos da direita da Europa e dos Estados Unidos.

"O Sexo dos Anjos" na blogosfera

A decisão de não continuar "O Sexo dos Anjos", após os seis anos de publicação que se encontram documentados nos arquivos, foi notada na blogosfera: foi o "Jansenista", foi O Insurgente, foi o Nova Frente, foi o Retorno. (Alguns outros mais devem ter notado, mas então fui eu que não os notei, do que lhes peço desculpa).
Queria dizer-lhes apenas que lhes agradeço, do fundo do coração, as referências pessoais que me dirigiram. Quanto ao mais: creio que os quatro se enganaram na leitura que fizeram da minha decisão. Não sinto desânimo, nem vontade de abandonar. Cessar a actualização de um blogue não equivale necessariamente a esse estado de espírito.

"O Diabo" à solta

Destaques na edição de hoje de "O Diabo":
Um artigo de Francisco Moraes Sarmento intitulado "A religião nacional ou a teologia dos filósofos", e outro de Gonçalo Magalhães Collaço denominado "Subtilezas".
Como sabem, aprecio muito estes nossos publicistas.

segunda-feira, julho 13, 2009

A eficiência, não a auto-satisfação

Num regime em que a representação se faz necessariamente através dos partidos políticos, compreende-se a preocupação de quem sente o imperativo de actuar na vida pública em ter um partido que eficazmente represente as suas ideias e traduza essa vontade de intervenção.
O caso dos nacionalistas, ou mais genericamente da Direita, não é, desse ponto de vista, diferente do das demais correntes políticas. Trata-se de encontrar um instrumento adequado, um meio apropriado. Os fins situam-se noutro plano.
Encarada a coisa assim pragmaticamente, é mais fácil perceber que a realização dessa preocupação tem que obedecer essencialmente às legis artis, às regras da boa técnica, que também as há nessa área do saber. Tem que se procurar a eficiência, não a auto-satisfação.
Percebe-se portanto que, neste momento, impõe-se erguer um partido político que seja a representação de um movimento, obviamente o mais vasto possível sob pena de se consagrar o fraccionismo institucional (e aí cada fracção quer naturalmente ter o seu).
Quanto à sua imagem perante a opinião pública, esse partido tem que surgir na arena política de forma a ser claramente identificável. Se for para se confundir com os outros, ser igual aos outros, ser mais um, não vale a pena. Tem que ser suficientemente diferente para se demarcar da oferta existente, tem que ser associado pelos consumidores a algumas ideias-força facilmente reconhecíveis, tem que agitar bandeiras que possam constituir sinais de presença de todos conhecidos.
Em suma, tem que ser diferente - porque a generalidade das pessoas está farto dos outros. Importa porém dizer, a todos os que até aqui dirão sem dúvida que estão de acordo, que não pode ser tão diferente que ninguém com ele se sinta identificado. Diferente, sim - sem dúvida. Mas as diferenças não podem ser daquelas que repugnem ao homem comum, daquelas que uma vez tornadas imagem de marca constituam obstáculo insuperável à aceitação do produto pela generalidade dos destinatários.
É fácil acontecer que algo seja tão diferente da norma... que consiga concitar sobre si a hostilidade de todas as pessoas normais. Não é isso certamente o que se deseja.
Como evitar esses abismos? Eu diria que, antes do mais, cada militante deve aprender a olhar para si com os olhos dos outros. É um exercício difícil, talvez. Mas necessário. De vez em quando temos que ser capazes de nos projectar para fora de nós próprios, dos nossos pessoalíssimos gostos, preferências e manias, e conseguir olhar para nós com os olhos dos outros, ver-nos como eles nos vêem, entender as visões, juízos e sentimentos que são despertados nos outros por tudo aquilo que fazemos e dizemos.
E não adianta dizer que o público é estúpido; nestas questões da vida política, como no mercado, o cliente tem sempre razão. Se só lhe oferecermos o que não gosta e não quer, somos nós que vamos à falência.

sexta-feira, julho 10, 2009

Uma direita, que não a de VPV

Não basta proclamar que o sectarismo faz objectivamente o jogo dos nossos inimigos, impedindo a união das forças políticas nacionais, nem sublinhar o imperativo de agrupar todas as forças disponíveis para fazer face aos perigos que ameaçam a nossa cultura e a nossa civilização, nem, em suma, declarar-se frontalmente contra o espírito de capela.
Proclamar e declarar essas verdades é, pode-se dizer, um lugar comum. O problema é que muitos vão fazendo efectivamente o que por palavras reprovam. Cultivando a sua capelinha, consolidando seitas e grupúsculos, estimulando divisionismos, acentuando rivalidades mesquinhas, exacerbando antagonismos e inimizades quase sempre exclusivamente pessoais, vivendo mergulhados no caldo de cultura do intriguismo e da má língua.
Nesse clima, nada de sólido é possível construir. A minha defesa tem sido o isolamento, o afastamento, que inicialmente foi acidental, determinado por circunstâncias da vida, e a partir de certa altura passou a ser, resolutamente, um facto deliberado e conscientemente assumido. Quem não faz parte de coisa nenhuma, quem não é afectado por condicionantes da vida social, quem não tem grupo, loja ou tertúlia a que deva agradar, quem não alinhe em festas, encontros ou jantares - tem muito mais condições para dizer a verdade. Em contrapartida, se a disser também dificilmente sairá dessa condição de homem só. Mas creio firmemente que é preciso que alguém a assuma.
Para que venha a existir um verdadeiro movimento nacionalista vivo e presente na vida política portuguesa é necessário optar decididamente por um militantismo de terreno, de base, de longa duração. Renunciar em definitivo a partilhar as disputas, torneios, jogos florais e hábitos rituais da direita histórica, encartada. Escolher a defesa das camadas populares, que são as verdadeiramente ameaçadas pelo rolo compressor da globalização, pela insegurança, pela precariedade, pelas crises de toda a ordem, sejam económicas, morais, de identidade, de cultura, de civilização. Estruturar um verdadeiro "partido do povo", a partir de baixo, pode fazer-se se houver gente para o fazer. A direita que penso - ao mesmo tempo nacional, social e popular - constitui um projecto político exequível para o nosso tempo. Depende das pessoas, das vontades. "O mundo só tem o sentido que nós lhe dermos".

quinta-feira, julho 09, 2009

A opinião pública é a opinião que se publica?

Uma das queixas recorrentes entre a direita refere-se à sua constante subrepresentação, ou à sua total ausência, da opinião publicada. Também eu apresentei inúmeras vezes essa queixa, por se me afigurar bem real e constatável por qualquer observador. A essa verificação acrescentava ainda uma outra: por razões de ordem cultural, sociológica, histórica, etc., os grupos profissionais que detêm as chaves do poder mediático estão condicionados, formatados, segundo modelos que tornam muito difícil a modificação a breve prazo da situação apontada.
Para fácil compreensão, pense-se na imediata receptividade alcançada entre os meios ligados à comunicação social de massas por qualquer causa fracturante que se lhes apresente.
Por isso mesmo, na altura do Verão de 2003 em que me lancei na feitura deste blogue, encarei como uma oportunidade única as potencialidades oferecidas pela blogosfera. Esta última dava o que nos outros meios a direita não podia nem em sonhos ambicionar (por vezes nem pagando como publicidade se conseguia fazer sair nos media tradicionais um miserável texto expondo qualquer opinião que fosse considerada politicamente incorrecta sobre assuntos-chave, os mais diversos).
Consequentemente, apelei à mais ampla mobilização possível em torno desse novo meio de comunicação - que, não sendo ainda de massas, possui certamente em si a virtualidade de atingir directa e indirectamente, por efeito de multiplicação, ou por efeito cascata, camadas muito mais vastas e numericamente representativas do que uma análise superficial levaria a concluir.
Queria eu que todos aqueles que nas mais diversas circunstâncias se queixavam amargamente da impossibilidade de fazer ouvir a sua voz fizessem finalmente o exercício de tentar comunicar o que tivessem a dizer. Foi a fase "para a blogosfera, rapidamente e em força".
Usando da sinceridade que é exigível na hora de fazer contas, tem que dizer-se que houve efectivamente uma movimentação, nas variadas famílias direitistas, que foi possível de acompanhar por qualquer observador da nossa blogosfera. Durante bastante tempo brotaram por aí fora blogues como cogumelos, desde os mais banais aos mais extraordinários, representando toda a formidável panóplia das infinitas correntes em que se divide habitualmente a direita, a extrema-direita, e afins. Foram dezenas e dezenas, creio mesmo que não será exagero dizer centenas.
Quase todos foram de duração efémera, e a qualidade média não se recomenda. A verdade, cumpre reconhecer, é que os seus autores ou tinham muito pouco para dizer, ou não sabiam como o dizer, ou não sentiram que fosse necessário o esforço. E pouco ficou.
Não sei se deverá concluir-se que estamos perante um fracasso clamoroso; o que foi feito, permanece - e o tempo dirá se aquilo que ainda assim se fez com qualidade e mérito que valha criou ou não raízes, lançou ou não sementes, que venham um dia a permitir-nos congratular por esse movimento.
Mas que para já o resultado não se apresenta famoso, isso é verdade.

quarta-feira, julho 08, 2009

Pantanal

Não se pode estranhar que os estivadores insultem o primeiro-ministro num país onde todos eles viram há uns dias pela televisão um ministro a agitar cornos, de dedos em riste, para um líder parlamentar, e pouco antes tinham visto um deputado de um dos grandes partidos a mandar outro para sítio nada próprio, tudo em plena Assembleia da República. Quem não se respeita não pode esperar respeito, e a verdade é que a classe política portuguesa afunda-se mais e mais na pura ordinarice, como se não lhe bastasse já a absoluta mediocridade e a completa venalidade.
O que é legítimo estranhar, para quem conserva algum interesse pelos assuntos da vida pública, é a apatia total com que o triste espectáculo da degradação e da decadência é observado pela generalidade dos portugueses. Como se tivesse desaparecido de todo a capacidade de indignação e de revolta.
Como observador afastado, e isolado, confesso a minha perplexidade. Se todos se dizem insatisfeitos, porque se portam todos como se estivessem satisfeitos? Se todos dizem que a situação é insustentável, porque a sustentam? Se todos dizem que é preciso mudar, porque não mudam?
A verdade é que tudo aponta, tanto quanto é possível antever, olhando o horizonte temporal tanto quanto a vista alcança, para a consolidação da mesquinha oligarquia que se apoderou do país - e do mesmo passo o aprofundar da indiferença geral. A desmoralização, um ambiente de deliquescência, o viver habitualmente por entre o apodrecimento da vida pública, a habituação resignada, compõem o quadro da decadência.
Eu, apesar de reconhecidamente asceta e sisudo, não queria identificar-me com aquele personagem de Eça que protestava desesperado, sempre que via os amigos enlevados com os prazeres da boa vida, que não compreendia como podiam eles pensar em divertir-se "enquanto a Polónia sofre". Mas, efectivamente, não consigo compreender a autocomplacência, a ligeireza, a deserção, de tanta gente que tinha e tem responsabilidade para com o seu país e o seu povo - e opta por se entreter em jogos de salão.

Retrospectiva e balanço

Olhando agora à distância de seis anos para aquele mês de Julho de 2003, em que surgiu este blogue, surpreende-me a visão de uma política portuguesa em que nada parece ter mudado. Sobretudo os protagonistas. Como se estivesse a ver uma peça de teatro que se mantivesse em cena, com os mesmos actores, desde tempos maiores que a memória.
Estão notoriamente mais envelhecidos, alguns mudaram de papéis, mas no essencial são os mesmos. Vamos ter todo este ano de 2009 dominado por intensa luta política, e tudo gira à volta de rostos que já em 2003 apareciam com as marcas de uma longa presença.
Nada se renovou, nem nos partidos nem fora deles. Pelo contrário, os partidos têm cada vez menos gente - e a gente que têm é, cada vez mais, sempre a mesma.
Fixando o olhar à Direita, verifico, também com alguma surpresa, que a fotografia do Verão de 2003 podia passar por actual. Continua a ausência e o alheamento, como se a inexistência fosse um modo de existir.
Na blogosfera, que foi o terreno novo onde então me empenhei, animei esperanças de consolidação de uma intervenção política da Direita. Uma comunidade diversificada mas presente, activa e interveniente, uma corrente de opinião que com naturalidade exprimissse uma cultura própria. De Direita e à Direita.
Obviamente, não posso gritar vitória. Mesmo as vozes que então se levantaram foram esmorecendo, ou calando. Seis anos depois, o marasmo a que se chegou quase iguala o silêncio de que se partiu.

terça-feira, julho 07, 2009

Destaco da edição de hoje de "O Diabo": um artigo de Francisco Morais Sarmento sobre "A traição dos intelectuais, outro de Gonçalo Magalhães Collaço sobre "Portugal, Espanha e o TGV", e a presença do Pasquim da Reacção. Está nas bancas!

segunda-feira, julho 06, 2009

A (não) democracia cristã em Portugal

Do misterioso colaborador José Silva recebemos um novo e polémico artigo, que de pronto oferecemos aos nossos leitores.

Porque é que não há democracia cristã em Portugal? Afinal, os democratas cristãos são a segunda maior força política na Europa. Neste, como em muitos outros assuntos, Portugal não parece ter muito a ver com os seus congéneres europeus. Porquê? Afiguram-se-nos muitas possibilidades:
1 - Os democratas, em Portugal, não são cristãos.
2 - Os cristãos, em Portugal, não são democratas.
3 - Os cristãos, em Portugal, não sabem que são cristãos, nem democratas.
4 - Ser democrata-cristão não implica ser democrata nem cristão.
5 - Em Portugal, nada faz sentido desde 1974.
Esperamos que o leitor tenha meditado, ainda que brevemente, em cada uma das possibilidades. Se de facto o fez, deve ter concluído como nós, que por muito estranho que pareça, TODAS as hipóteses, têm o seu quê de verdade. De facto, a verdade, parece ser a soma de um pouco de todas elas.
Senão vejamos:
1. Democracia, é um termo que permite uma multiplicidade de aplicações. Serve para caracterizar a Alemanha de Leste, no pós guerra (separada de uma Alemanha federal, aos nossos olhos muito mais democrática!?!). Serve para caracterizar o regime chinês e o americano. E, porque não, o da Coreia do Norte? No Portugal do pós 25 de Abril, serviu para caracterizar os modelos de Estado de herança marxista-leninista ou trotskista – incompatíveis, de facto com o cristianismo (vejam-se as encíclicas sobre o comunismo). Serviu igualmente, para caracterizar um modelo de Estado não marxista, mas dirigido por aqueles que pertenciam a, pelo menos, duas diferentes lojas maçónicas – outra incompatibilidade com o mesmo cristianismo (vejam-se as encíclicas que proíbem aos católicos pertencerem à dita organização). Resumindo, os não-cristãos apropriaram-se do exclusivo da palavra democracia. Os restantes eram “faxistas”!
2. Perante semelhante quadro, um cristão poderia facilmente chegar à conclusão: Se ser democrata é pactuar com esta gente, então não sou democrata. E, de facto, a essência do cristianismo não é a democracia. O povo não detém o poder de per si, como o teria a partir duma concepção materialista do Universo. O povo detém uma parcela do poder divino, pois todo o poder, de facto, provém de Deus. Um cristão que pense nestas coisas a sério pode concluir razoavelmente: Eu sou verdadeiramente teocrata. Aceito a democracia, como forma de expressão de uma teocracia universal. A democracia é uma concessão, não um imperativo.
3. É triste, mas é verdade. Mercê de catequeses superficiais ou não existentes, de casamentos católicos feitos à pressa, e de famílias divididas, ou pura e simplesmente incapazes, o jovem católico dos dias de hoje não tem, regra geral, uma formação cristã aprofundada. Não consegue compreender que, embora a religião que professa não subscreva este ou aquele modelo político (nem tal seria desejável uma vez que os ditos modelos vão e vêem e ela permanece), a religião indica princípios que são aplicados ou não em cada um desses modelos.
Mais do que acreditar em Deus e fazer bem aos pobres, ser católico implica uma noção diferente das concepções actuais do Direito, que se materializa em diferentes formas de encarar os direitos individuais, a família, a propriedade - por consequência a economia - e finalmente o governo e a representatividade.
4. Tal como a palavra democracia foi sendo apropriada por comunistas e maçons, a expressão democracia-cristã foi apropriada por liberais protestantes no centro da Europa. (Para uma melhor compreensão do fenómeno veja-se, de Max Weber A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo). Ser democrata-cristão é hoje, aos olhos de muitos, ser capitalista moderado. A verdade é que as duas realidades não têm nem devem ser necessariamente associadas. Ser capitalista no verdadeiro sentido da palavra não é, como Bento XVI tem várias vezes explicado, ser cristão.
5. É verdade, e igualmente triste. Pior do que qualquer censura do Estado Novo, é a censura pós Estado-Novo. A primeira era conhecida e institucionalizada. Sabíamos de onde vinha e o que proibia. A segunda parece (embora, de facto não o seja) generalizada. Aparentemente proíbe apenas e simplesmente, a verdade. Oficialmente, caminhamos constitucionalmente para uma sociedade sem classes (classes essa que nunca existiram nos termos marxistas). Oficialmente, temos partidos baseados em ideologias, mas que são na verdade associações de clientes. Oficialmente somos europeus – mesmo que o nosso modo de vida, e não falamos só de economia – tenha pouco a ver com o dos nossos vizinhos. Os nossos filhos não aprendem História de Portugal nem Língua Portuguesa em condições. A verdadeira censura inunda-nos de informação enquanto nos retira a identidade. Por isso, a maioria de nós já não sabe ser democrata nem cristão.
A isso acresce um outro problema: Neste jogo às escondidas com a verdade, em que nada é o que parece, tivemos dois fenómenos (quiçá bem intencionados) que desacreditaram a democracia cristã em Portugal aos olhos do grande público:
5.1 – O PDC/MIRN/FN. Quando era miúdo eu era do Mirn! Simpatizava com um partido que soasse contestatariamente mal Mirrrrnnnn! Simpatizava com quem se opusesse às roubalheiras que o Dr. Almeida Santos fez aos nossos retornados. Apoiava quem fizesse frente a quem entregou as casas e os bens dos meus familiares (que nunca tiveram qualquer actividade política e sempre trabalharam honestamente) aos descolonizadores marxistas. Pressentia o mais tarde revelado terrorismo impulsionado por Rosa Coutinho e seus comparsas.
Poucos simpatizaram com esta coligação e só o entendi à medida que fui crescendo e aprendendo: O PDC/MIRN/FN era reacção lógica dos que escaparam ao exílio. Eram poucos e resistiram juntos. Mas era igualmente uma incongruência ideológica: Não se pode misturar democracia-cristã, com extrema-direita. O cristão não é de direita nem de esquerda: é cristão – preconiza a conciliação e o humanismo mais perfeito e mais duradouro a que a humanidade já assistiu – Deus feito Homem para os homens. Mas na mente das pessoas, democracia cristã era extrema direita, era nazismo e anti-semitismo, era ser skinhead e matar pretos no Bairro Alto. Nunca o foi, mas nunca conseguiu libertar-se dessa imagem.
5.2 – Como alternativa surgiu o CDS. Não se afirmava plenamente democrata-cristão, mas parecia mesmo. Muitos dos que eram mesmo democratas e cristãos votaram nele. Mas essa falta de afirmação política, essa falta de definição e coerência internas foram-lhe fatais – pendeu para o tal capitalismo moderado, e depois de uma série de líderes válidos, mas com concepções políticas díspares, acabou sem espinha dorsal nas mãos de um homossexual. Alguns, por falta de alternativas, ainda lhe concedem o voto útil enquanto tentam esquecer episódios de corrupção.
Eis então porque não há democracia cristã em Portugal.
Se não há em quem votar – não votamos. Para existirmos e para nos organizarmos não precisamos de votos nem de partidos. Precisamos constituir uma oposição unida, coerente e organizada, não ao governo, mas ao regime!
Se no regime vigente acharmos necessidade duma organização formal acharemos suporte legal para o fazermos. No final de contas, o que contam não são os nomes nem os papéis. O que conta somos nós.
JOSÉ SILVA

Ainda mais conversas em família

Quando a generosidade e a esperança com que deviam ser acolhidas e encorajadas as iniciativas que surjam a propor-se animar uma área, aliás decrépita, são substituídas pela acidez corrosiva, a maledicência permanente, o bota-abaixismo intransigente, não se pode estranhar que poucos resistam ao desânimo, que poucos sejam capazes de persistir.
Ao ambiente externo que todos sabem ser fortemente hostil, soma-se a surpresa dos factores internos, a convergir na ânsia de dar fim a qualquer veleidade de construção. Em vez da solidariedade, a inveja e a dor de cotovelo. Chega-se mesmo ao regozijo indisfarçado pelo falhanço de quem ousou arriscar.
Como não compreender, assim, o abandonismo, a rápida desilusão daqueles que sonharam e lutaram, e estavam preparados para se confrontar com o inimigo que viam em frente, mas não contavam com o inimigo que tinham ao lado, ou atrás de si?
Urge uma mudança das mentalidades, mas esta tem que começar em casa.
Quando não, continuaremos indefinidamente a despertar vocações políticas que irão depois realizar-se noutros lados.

Mais conversas em família

Em Portugal, e não sei se noutros sítios, a Direita só se mobiliza contra a Direita. Assim mesmo lapidarmente o escreveu alguém muito melhor do que eu, e desde então o diagnóstico não perdeu pertinência. Podem as hostes andar adormecidas num anquilosamento que semelha o coma, mas é certo e sabido que se alguém tentar de súbito romper o marasmo logo lhe saltam às canelas os mais imprevistos e inesperados adversários - surgidos não se sabe como nem porquê das desconhecidas reservas de tão minguadas hostes.
Dir-se-ia que há muitos cuja única ocupação na causa é vigiar a inactividade dos outros - para se lançarem zelosamente ao ataque caso detectem algum movimento. Nunca fazem nada, e têm raiva a quem faça. Nunca foi possível criticar-lhes uma acção, por motivos óbvios, mas não perdoam que outros se mexam.
Esta constante, observável em todo o longo período de conhecimento directo que já acumulei, e que ao que dizem é ainda notavelmente mais antigo, é certamente um dos factores determinantes de um dos fenómenos mais perturbantes que afectam a militância nessa área. Estou a pensar na extrema fluidez, tanta vez a efemeridade, dessa militância. Em tantos movimentos com boa presença juvenil, nunca foi possível superar essa transitoriedade do compromisso e assegurar uma continuidade ao empenhamento de tantos e tantos militantes. Dito de outra forma: nunca deixaram de aparecer os militantes, ardentes e entusiastas, a cada projecto que se desenhou e se lançou ao mundo. O que nunca se conseguiu foi a capacidade para segurar essa gente, dar permanência e consistência a esse combate, estruturar e consolidar um autêntico projecto político servido por quadros esclarecidos e capazes.
Encontrar militantes foi sempre muito mais fácil do que mantê-los. Daí uma insuficiência e uma fragilidade evidente da área. Cada projecto vê-se obrigado a começar tudo de novo.

Conversa em família

Nos seus melhores tempos, o "Sexo dos Anjos" apresentou continuadamente, durante semanas e meses, médias de visitantes/dia que sistematicamente ultrapassavam os 500, quase 550.
Actualmente, pouco passa dos 200.
O primeiro número é notável, considerando as condicionantes existentes: o público/alvo representa um mercado já de si restrito, o autor é um desconhecido também um tanto limitado.
O segundo número é compreensível. O cansaço, a repetição, o esgotamento, atingem obviamente os leitores, como o próprio autor.
Atingiu-se um ponto de saturação, que tornava cada dia mais penoso o exercício de o ler, e de o fazer. É natural, é a vida.
Obviamente que em muitas situações é imperioso enfrentar a contrariedade que uma tarefa nos provoca; faz-se porque se deve fazer. Sempre fui desse parecer, e desse proceder. Acontece porém que no caso também não se vislumbra vantagem que valha o esforço. O que havia a dizer, ou a demonstrar, está dito, e feito.
Estas razões bastam para fundamentar a decisão que anunciei há alguns dias: o blogue aproxima-se do seu sexto aniversário, e já não entrará no sétimo ano de publicação. Existem ainda outros motivos, que não posso explanar neste lugar (apesar de tudo, é público...) e que coincidiram no tempo, reforçando e forçando a mesma determinação.
Sendo esta um facto irreversível, restam portanto alguns dias em que se poderá dizer o que ainda vier a propósito.

quinta-feira, julho 02, 2009

Não destruam os livros!

Dispensando-me da maçada de explicar motivos, declaro formalmente o meu apoio à petição "Não destruam os livros!". Reproduzo a seguir uma explicação de alguns dos responsáveis.


CARTA ABERTA AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL
Senhor Primeiro-Ministro
Excelência

Os actuais estatutos da Imprensa Nacional – Casa da Moeda (DL 170/99, de 19 de Maio), na sequência do que faziam já os anteriores, incluem no seu objecto social “a edição de obras de relevante interesse cultural”, sendo, para esse efeito, a sua administração assistida por um Conselho Editorial, composto por "personalidades de reconhecida capacidade literária, artística e cultural" e ao qual compete “dar parecer sobre os aspectos literário, cultural e artístico da actividade editorial” da empresa.
Durante as três últimas décadas, que correspondem ao retomar de uma função editora que a antiga Imprensa Nacional longa e abundantemente exerceu no passado, sempre a actividade editorial da empresa pública INCM foi entendida, tanto pelas suas sucessivas administrações como pelas respectivas tutelas governamentais, como devendo revestir uma função supletiva relativamente à actividade, predominante e legitimamente comercial, das editoras privadas, função que revestia, inequivocamente, o carácter de serviço público e não de uma actividade que visasse, directamente, o lucro. Daí que, como o seu catálogo claramente ilustra, se tivesse concentrado na edição de obras de reconhecido interesse cultural, desde clássicos até obras fundamentais de ou sobre a cultura portuguesa, que, em regra, não interessam às editoras privadas, e em edições preparadas pelos melhores especialistas, cuidadosamente revistas, ainda que, muitas vezes, de escoamento lento, que poderia demorar décadas.
Era a importância cultural atribuída por lei ao serviço público que a INCM desempenhava no plano da edição que explicava não só que, durante duas décadas, os membros do seu Conselho Editorial fossem designados em Conselho de Ministros, sob proposta do membro do Governo responsável pela Cultura, como, ainda, que entre os seus membros se tivessem contado personalidades da envergadura intelectual de Fernando Gil, Jacinto e Eduardo Prado Coelho, Andrée Crabbé Rocha, Pedro Tamen, António Alçada Baptista, Fernando Moser, Francisco da Gama Caeiro, José Mattoso, José Augusto França, Aníbal Pinto de Castro, Ivo Castro, Luís Oliveira Ramos, António Machado Pires ou Manuel Villaverde Cabral.
Este entendimento sobre a função de serviço público da actividade editorial da INCM parece não ser partilhado pela sua actual administração, que, movida, porventura, por um ilegal e anti-estatutário intuito de reorientar aquela actividade num sentido predominante ou exclusivamente comercial, não só tem vindo a abrandar, progressiva e significativamente, o ritmo daquela mesma actividade, como suspendeu a publicação da 3ª série da revista cultural Prelo, e, num acto de barbárie cultural sem precedentes na empresa, admite agora, em cartas que está dirigindo aos seus editados ou respectivos herdeiros, vir a proceder à destruição de exemplares de obras cuja venda tenha tido pouca expressão nos últimos anos. Esta destruição não pouparia, sequer, alguns dos volumes que integram edições, em curso, de Obras Completas de autores como Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Adolfo Casais Monteiro, José Régio, Domingos Monteiro, Vitorino Nemésio, Tomaz de Figueiredo ou José Marinho, e, talvez, das edições críticas de Garrett, Eça ou Pessoa ou de clássicos como Hesíodo, Aristóteles, Aristófanes ou Plauto!
Seriamente preocupados com este inominável acto de barbárie cultural que se anuncia como um novo Fahrenheit 451, agora mais ecológico, já que substituiria o fogo pela guilhotina, os signatários vêm apelar para Vossa Excelência, Senhor Primeiro-Ministro, para que seja ordenado, imediatamente, que a lei e os estatutos da INCM sejam respeitados e a empresa, em vez de proceder à destruição de quaisquer obras, procure melhorar o seu sistema de vendas e mantenha e amplie o número de ofertas a bibliotecas públicas, escolares e universitárias portuguesas, tanto públicas como privadas, e dos restantes países lusófonos, de Goa e de Macau, e aos centros culturais portugueses no estrangeiro, designadamente em países em que existam emigrantes nacionais.
É esse, de resto, o teor da Petição “Não destruam os livros!”, que, em escassos dias, foi já subscrita por cerca de um milhar de pessoas, entre as quais se contam figuras muito relevantes da nossa Cultura:
http://www.gopetition.com/online/28707.html

Com respeitosos cumprimentos

António Cândido Franco
Arnaldo Saraiva
Dalila Pereira da Costa
Joaquim Domingues
Maria Celeste Natário
Miguel Real
Pinharanda Gomes
Renato Epifânio

quarta-feira, julho 01, 2009

De como o futebol pode ensinar política

Acontece o futebol trazer-nos lições até de política internacional. Eu, por exemplo, estava a olhar distraídamente para as imagens de um importante match internacional e fiquei a meditar sobre o Irão.
O que me atraiu a atenção foi o EUA-Brasil, recentemente disputado na final de uma competição de projecção mundial. Os americanos dominavam os brasileiros, pareciam já donos do jogo, e só mesmo no final o forcing das vedetas canarinhas trouxe ordem à situação. Poucos dias antes os mesmos americanos tinham ganho à Espanha, selecção invencível havia um ror de tempo, e então em número um no ranking universal da FIFA... O mundo do futebol, definitivamente, já não é o que era.
Os americanos, que ainda não há muito desconheciam de todo esse jogo, são já uma potência mundial da modalidade. E não são só eles que estão capazes de se bater de igual para igual com as velhas potências; da África do Sul à Austrália, um novo mapa futebolístico tomou forma.
Tudo indica que caminhamos para um Mundial que pouco terá a ver com os antigos, em que os melhores europeus disputavam os primeiros lugares com os melhores sul-americanos. Agora, as potências emergentes, da América à China, da Coreia à Austrália, do Japão à África do Sul, podem ombrear com as antigas - e discutir com elas a vitória em cada jogo e em cada competição. Precisamente: estava ao rubro a batalha pelo poder em Teerão e em Moscovo reunia-se a cimeira dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China). E, com toda a desfaçatez, e absoluta indiferença pelas sensibilidades feridas, as novas potências decidiram ostensivamente enviar ao mundo inteiro a mensagem do seu apoio a Ahmadinejad, honrando-o com o convite para a visita oficial a Moscovo. A posição foi aberta e assumida por parte de russos e chineses, mais discreta da parte de indianos e brasileiros, que têm mais razões para cuidar do estado das suas relações com os EUA, mas não deixou dúvidas a nenhum observador.
Provavelmente (digo isto assim porque nenhum de nós sabe verdadeiramente o que se passou ou passa no Irão) este alinhamento decidiu a partida. E veio demonstrar para quem ainda não tivesse reparado que agora esse campeonato já não tem vencedores antecipados. Estabeleceu-se um novo equilíbrio, com novos protagonistas, e a realidade do jogo mudou.
Outro exemplo engraçado é o que vem das Honduras: primeiro parecia tudo igual ao costume, e, para salvar a democracia, foi corrido o presidente em funções; porém, ao que parece, os poderes regionais, através da OEA, resolveram recolocar lá o mesmo (também para salvar a democracia, claro). Aguarda-se com expectativa o final do jogo; mas tudo indica que naquela zona também não subsistem os temores reverenciais de outros tempos.
Assistiremos a muitos torneios, em muitos pontos do globo; mas agora cada torneio é uma incógnita. Passou o tempo em que bastava a alguns entrar em campo para estar decidida a sorte dos jogos.