sexta-feira, junho 22, 2007

Convenções

Esquerda e direita. Esta fórmula tão cómoda para ordenar ideologias, pressupondo a existência de um ponto geométrico à volta do qual se definem as alianças e as oposições, desde cedo revelou a sua dupla face: por um lado o poder de sedução, que a transportou a latitudes muito distantes da política parlamentar onde nascera, tornando-a um dado constante na explicação de quase todos os conflitos humanos. Por outro lado, o carácter esquivo a definições rigorosas, que possam conferir sólida consistência a estes conceitos. Em meados do século XIX, os autores do primeiro Dicionário Político que se publicou em França declararam fora de uso, inúteis e obsoletos os conceitos de direita e esquerda. Já não serviam para descrever as forças em presença na vida política europeia.

Sinais

Um sintoma inquietante do desconforto dos portugueses com Portugal é a tendência para encontrar "pátrias de substituição".
Há portugueses que fogem, fisicamente, porque não suportam mais viver cá dentro.
E há portugueses que fogem espiritualmente, permanecendo cá dentro mas entregando todo o seu afecto a pátrias de eleição.
É psicótico, mas é verdade.

Direitas

Um traço marcante nas direitas tradicionais é o seu horror ao concreto.
Reclamam-se do real, mas refugiam-se no abstracto, no teórico, ou na pura fantasia. Essa tendência reflecte-se quer no desinteresse pelos temas económicos, recorrente na produção intelectual direitista (a economia é a mais prática e concreta das ciências - mas a direita faz gala de desprezar a mercearia) quer nos pequenos hábitos do debate interno.
Tem mais probabilidades de despertar entusiasmo entre certas hostes a discussão sobre a demanda do Graal ou sobre os discos voadores do III Reich do que a análise dos problemas do ensino, do desemprego, ou simplesmente as tarefas a cumprir para umas eleições locais.
Muitos direitistas ofendem-se com o apodo de nefelibatas (quando descobrem o que é) mas ficam deveras incomodados quando os chamamos para que desçam das nuvens à terra.
Não poucos clamam constantemente que nada se faz, e angustiam-se sobre o que se pode fazer, mas debandam embaraçados se lhes apontamos tarefas concretas, programas, metas políticas, realizações possíveis.
Aliás, o impossível é que os atrai, e só o impossível. Se propusermos um objectivo possível fogem alarmados. O possível repele-os, e em geral é desprezível. Além do mais, dá trabalho.
A política é uma chatice.

quinta-feira, junho 21, 2007

Dúvida

Foi noticiado que o primeiro-ministro apresentou uma queixa-crime contra o blogger António Balbino Caldeira por causa de vários escritos sobre a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente.
Faz sentido: uma vez que não se vislumbra a hipótese de um crime público, teria que haver a apresentação de uma queixa por parte do particular que se sinta ofendido para conferir legitimidade ao Ministério Público para agir a esse respeito.
Fiquei só com uma curiosidade aqui a latejar: e quem é o mandatário do primeiro-ministro? A queixa foi certamente apresentada por advogado...
Será que se chama João Pedroso?

quarta-feira, junho 20, 2007

Convite para tertúlia

O CIARI vai realizar a sua 51ª tertúlia no próximo dia 25 de Junho de 2007, em Lisboa, no Palácio da Independência.
Convidamos a participar neste evento que terá o tema: " O mundo visto de Nova Deli: os novos horizontes da política externa indiana".
Data: Segunda-feira, 25 de Junho às 21h00.
Local: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11 (próximo do Rossio.
Orador: Constantino Hermanns Xavier
CIARI
http://www.ciari.org/

Ota e batota

Estive a ler o abaixo-assinado de 114 professores do Instituto Superior Técnico sobre a projectada localização do no Aeroporto de Lisboa:
Um Aeroporto Internacional de Lisboa para todo o século 21

Logo a seguir o texto do Professor Mário Lopes intitulado OTA: o desastre económico. Alternativas

São documentos impressionantes, que recomendo a todos os portugueses.

http://www.somosportugueses.com/

Parque Mayer

Uma ideia boa e simples foi apresentada por José Pinto Coelho em entrevista sobre a sua candidatura à Câmara de Lisboa:

Parque Mayer - A nossa ideia, que ficará expressa no programa, é transformar o Parque Mayer em jardim, através da continuidade do Jardim Botânico, criando assim um novo e aprazível espaço verde da Rua da Escola Politécnica até à Avenida da Liberdade.

Aplaudo a mãos ambas, e já aqui tinha alvitrado essa solução. Tornar o parque Mayer naquilo que foi: um parque. E criar dessa forma um espaço magnífico, que prolongaria o Jardim Botânico desde a Escola Politécnica até à Avenida da Liberdade. Basta retirar do sítio todo o entulho que lá está, e dar a vez aos jardineiros que ainda existam nos serviços da Câmara. Impedir a ingerência de gabinetes de arquitectura e urbanismo, de financeiros, de empresas de engenharia, imobiliário, construção, etc e tal. (Creio que estão todos a perceber-me). Isto sim: marcaria Lisboa para muitos anos. Um jardim contínuo desde as traseiras do Palácio Mayer até à Faculdade de Ciências. Desde o século XIX que não nasce um jardim a sério em Lisboa. E a grande realização do século XX foi o parque florestal de Monsanto. Se fosse possível transformar aquela encosta, desde o vale, no encanto que o Jardim Botânico ainda é (apesar de todo o desprezo com que tem sido tratado) seria uma extraordinária prenda para a Lisboa do futuro.

terça-feira, junho 19, 2007

Duas escolhas

Boas leituras:
No Vencidos da Vida são lembrados Joaquim Paço d'Arcos, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, e até Vasco Santana e Grace Kelly... São uns vencidos com bom gosto!
No Ave Azul, de Viseu, vejo recordar António de Navarro, Abranches de Soveral...
Um vibrante ave! para Martim de Gouveia e Sousa, paladino das terras que também são de Rodrigo Emílio e de José Valle de Figueiredo.

Atenção: blogar pode dar prémios!

Uma novidade: um concurso de textos sobre "o blogue".
O Prémio Literário Hernâni Cidade, instituído pelo município de Redondo, contempla este ano o texto/comentário sobre o tema «o blogue como espaço de escrita e reflexão».
Informações, e regulamento, aqui.

O aerotorto da Ota

Será verdade que a hipótese Alcochete está destinada a desaparecer a 16 de Julho próximo?

Futuros & perecíveis

in ALAMEDA DIGITAL :

Os vendedores de futuros prometem-nos um século XXI europeu e integrado, como prometeram há cem anos um século XX internacionalista e pacífico. Para quem foi educado na devoção ao progresso contínuo da humanidade parecerá ter havido aqui uma reviravolta estranha, um estreitamento da esfera de acção dos visionários. Aquilo que nos finais do século XIX seria considerado tacanho e sem ambição, o investimento das energias de um continente dentro dos seus limites físicos, é-nos servido agora com manifestações de orgulho próprias de quem apresenta o mais ousado projecto ao alcance da imaginação humana. Para se chegar a este ponto, para se ter tornado aceitável um tão radical recuo nas expectativas, foi preciso passar-se por um traumático processo de desencanto com o “homem” abstracto, racional e cosmopolita que o século XVIII idealizou.

segunda-feira, junho 18, 2007

Onde falha a Direita?

Seguem-se algumas passagens de Thomas Molnar, que me parecem especialmente estimulantes e a merecer debate e análise nos dias que correm.
A expressão "contra-revolução", adoptada por Molnar, coincide largamente com o que na nossa terminologia temos designado por "direita".
Espero ao menos suscitar reflexão, e vir a contar com as opiniões dos interessados.

"A restauração contra-revolucionária tem falhado regularmente, não por qualquer fraqueza intrínseca da posição ou da filosofia contra-revolucionárias, mas por os contra-revolucionários se revelarem largamente incapazes de utilizar a fundo os métodos modernos: organização, slogans, partidos políticos e imprensa. O processo publicitário foi abandonado aos media revolucionários, de tal modo que os contra-revolucionários regularmente surgem a uma luz desfavorável, quando ao menos conseguem fazer-se conhecer. Nessa conformidade, o homem da rua, mesmo não comprometido, traz em si um pequeno mecanismo que lhe dita reacções simpáticas aos heróis e às causas revolucionárias e um sentimento de estranheza ou relutância perante as causas contra-revolucionárias. Os meios de comunicação contra-revolucionários pouco ou nada fazem para corrigir essa atitude inicial, entretanto permanentemente reforçada pela influência contínua da propaganda de esquerda. Os contra-revolucionários dirigem-se essencialmente aos já convertidos, cujo número pode ser muito importante, e até representar a maioria, mas não aumenta após esse primeiro contacto. Por outro lado, o público contra-revolucionário é, em geral, "estático", não sentindo necessidade ou possibilidade de maior expansão, seja pelo conhecimento, pela mobilidade ou pela conquista das instituições: basta-lhe ser assegurado que as suas opiniões são justas. Os contra-revolucionários lêem os seus próprios jornais e livros para aí verem reflectidas as suas próprias convicções e também para confirmarem a existência de outras pessoas que as partilham.
Esta atitude não prevalece apenas entre os contra-revolucionários de uma Europa activíssima no plano ideológico, mas também nos Estados Unidos, embora aí os costumes políticos encorajem todos os partidos e as opiniões marginais a divulgar as suas ideias; mesmo assim, observa Willmore Kendall a propósito dos legisladores americanos, "é geralmente verdade que os resistentes (os conservadores expostos aos ataques dos liberais no Congresso) não mostraram até agora (1963) grande actividade no sentido de articular princípios. Toda a sua agitação raramente corresponde a uma filosofia conservadora autêntica e combativa, capaz de resistir ao moralismo militante dos liberais".
Na arena política, a contra-revolução deve habitualmente esperar que os acontecimentos persuadam a população e os eleitores a aderir à sua causa; parece incapaz de os persuadir em períodos de calma e normalidade, em grande parte devido ao facto de os contra-revolucionários não fazerem sérios esforços nesse sentido e deixarem campo livre aos meios de propaganda revolucionários. Assim, sobrevinda uma crise, não dispõem de qualquer grupo organizado e experimentado, mas apenas de massas unidas pelas circunstâncias, invertebradas, clamando ansiosamente por imediata protecção - contra a agressão ideológica, o desastre financeiro, a anarquia. Disso duplamente sofre a reputação dos porta vozes contra-revolucionários: primeiro, porque, no período anterior à crise, são apontados como "profetas da desgraça"; depois, porque, eclodida esta, são acusados de incapacidade para restabelecer a situação. De qualquer maneira, fazem-se conhecer, antes e depois, como "homens de crise", emergindo apenas em circunstâncias excepcionais, assumindo os interregnos sob a forma de "homens providenciais" ou "ditadores".
O curioso é haver boa dose de verdade nestes rótulos. O contra-revolucionário deixa, por omissão, os revolucionários encarregarem-se de lhe pintar o retrato, por tal forma que a descrição da sua passagem pelo poder e a reputação que lega à posteridade são igualmente feitas (ou refeitas) pelos adversários. Poderia dizer-se que a filosofia contra-revolucionária, bem como os programas e os actos, são vistos pela opinião pública - e pela história - através das descrições e dos critérios de julgamento, essencialmente hostis, dos revolucionários.
O contra-revolucionário tem consciência deste estado de coisas, mas na generalidade não é capaz de o remediar. A sua análise é normalmente lúcida, mais até que a dos seus adversários. Os contra-revolucionários mediram perfeitamente, após 1789, os perigos da democracia, mas encontraram pouca audiência na imprensa ou nas massas. Pobedonostsev, reputado um ultra-reaccionário, diagnosticou a doença democrática de modo pouco diverso do de Platão. Nas Reflections of a Russian Statesman (p. 45), escreve: "A democracia é o sistema de governo mais complicado e mais difícil de manejar de toda a história da humanidade. Por isso, jamais apareceu salvo como manifestação transitória, as poucas excepções cedendo rapidamente lugar a outros sistemas." Claro está, o período de "transição" pode durar muito tempo, pois a degenerescência da democracia é por vezes muito lenta, por fases dificilmente perceptíveis. Cada uma delas é saudada pelos media revolucionários como um novo avanço, um novo progresso, uma conquista da liberdade, e a opinião pública aceita-a como tal. Em consequência, de cada vez que os contra- revolucionários tentam chamar a atenção para novo aprofundamento na degeneração, as suas exortações afiguram-se à opinião pública ainda mais extremistas que antes. Após 1918, os contra-revolucionários estavam na razão apontando o marxismo como a nova e grande ameaça para a civilização, maior que a democracia, embora emanado da doutrina democrática e encorajado pela tolerância democrática. Quando a chamada experiência russa do comunismo suscitava fortes aplausos dos ideólogos revolucionários ocidentais, foram dos contra-revolucionários as vozes que, não só a condenaram, mas também lhe assinalaram as raízes e a lógica de destruição. Precederam assim, pelo menos de uma geração, os fabricantes de opinião do Ocidente: o comunismo teve de calçar as botas e ocupar a pátria de cem milhões de europeus antes que o Ocidente mostrasse os primeiros sinais de inquietação.
Os contra-revolucionários encontraram-se desempenhando com inquietante regularidade o papel de Cassandra, enquanto a ameaça contra a qual advertiam a sociedade crescia em intensidade e alastrava geograficamente
."

domingo, junho 17, 2007

A educação em Portugal

Não há dúvida que a blogosfera nos oferece por vezes descobertas notáveis. Há pouco li um comentário de um leitor, deixado a propósito do texto "O Desastre no Ensino da Matemática".
Pareceu-me a descoberta valiosa, e procurei o blogue do comentador.
Recomendo-vos um e outro, e aqui deixo a ligação para o Educação em Portugal, e o comentário que lá me conduziu.

O desastre no ensino da Matemática é um dos indícios principais da crise educativa generalizada, resultado das políticas governamentais dos últimos 20 anos, que empreenderam experiências pedagógicas malparadas na nossa Escola.
Ora, devemos olhar para o nosso Ensino na sua integra, e não apenas para os assuntos pontuais, para podermos perceber o que se passa. Os problemas começam logo no ensino primário, e é por ai que devemos começar a reconstruir a nossa Escola. Recomendo a nossa análise, que identifica as principais razões da crise educativa e indica o caminho de saída. Em poucas palavras, é necessário fazer duas coisas: repor o método fonético no ensino de leitura e repor os exercícios de desenvolvimento da memória nos currículos de todas as disciplinas escolares. Resolvidos os problemas metódicos, muitos dos outros, com o tempo, desaparecerão. No seu estado corrente, o Ensino reproduz a Ignorância, na escala alargada.
Devemos todos exigir uma acção urgente e empenhada do Governo, para salvar o pouco que ainda pode ser salvo.

sábado, junho 16, 2007

Perversões sistémicas

Está em crescendo a utilização política do aparelho judicial: foi convocado como arguido (outra vez!) o colega António Balbino Caldeira, ao que parece por causa da divulgação do dossier licenciatura/Sócrates.
É uma vergonha.
Apesar da formação política das pessoas agora colocadas nos lugares chave de onde podem ser despoletadas estas práticas persecutórias (pense-se em Maria José Morgado, Cândida Almeida, Alípio Ribeiro, Francisca Van Dunem), e apesar de quem os nomeou, ainda pensei que um sentido de honra pessoal, e autorespeito, pudessem superar o handicap - e estas coisas fossem evitadas.
(Não falo do chefe máximo, o comissário governamental para o Ministério Público Dr. Pinto Monteiro, que desse não esperava nada).
Mas infelizmente os sintomas são de aumento do recurso a estes instrumentos no combate político corrente.
Pobre Justiça.

sexta-feira, junho 15, 2007

A direita que não quer ser

O meu contributo para o mais recente número da ALAMEDA DIGITAL. A direita, essa desconhecida.

Aceitando os dados oferecidos pela experiência histórica, é forçoso constatar que a direita existe. Tem existido sempre, na vida política contemporânea, uma esquerda que se identifica e uma direita identificável. Pese embora a frequente ausência de autoidentificação, esta é geralmente encontrável e localizável, em cada confrontação política.
Penso por isso que, ainda que não diga o nome, parece não suscitar dúvidas a sua existência – com o respeito devido aos que já explicaram que ela não existe.
Já quanto aos que sustentaram que a direita é uma invenção da esquerda, desde que com isso não se entenda a falta da sua existência real parece-me mais difícil negar-lhes significativa razão. Efectivamente, pode observar-se que a direita não gosta de ser, e nunca gostou.
Esse facto aliás esteve na origem da tese de um politólogo que já foi célebre segundo o qual se um indivíduo diz que não é de direita nem de esquerda podemos ficar certos que é de extrema-direita. A dupla negação traduz a identidade.
Tanto entre os que teorizaram a inexistência da direita (gente firmemente direitista), como entre os que defenderam que a direita foi inventada pela esquerda (pessoal não menos direitista), como entre os que concluíram que a negação da dicotomia esquerda-direita era a essência do direitismo (intelectuais de esquerda) o que se nota é que a direita resiste ao rótulo, foge à identificação, recusa a definição e a identidade.
Pode realmente ter-se por fundamentalmente correcto que a direita teve geralmente a sua situação determinada a partir da esquerda.
A direita é em geral a não-esquerda, não se assume, disfarça-se de centro, às vezes diz-se o centro-direita, e no tempo comum encolhe-se e esconde-se.
Consequentemente, nada tem de estranho que habitualmente a direita apareça como reacção. São as ideias e as iniciativas da esquerda que assinalam esta e é a sua rejeição que demarca a direita.
Este fenómeno implica uma extraordinária debilidade no confronto político.
Fazer política é uma actividade em que uns quantos que estão convencidos forcejam por convencer os que não têm as suas convicções, e na sua esmagadora maioria não têm convicção nenhuma.
Quem se apresenta ao debate afirmativo, seguro, firme, vivendo a sua verdade, leva vantagem.
Ora a esquerda apresenta-se forte na sua identidade, de bandeira erguida, orgulhosa de ser, proclamando as suas ideias e avançando nos seus planos políticos.
E a direita surge geralmente atrasada, contrafeita, a fazer o contraponto – e sem ousar dizer o nome. Opõe-se, mas não passa de ser oposição. Aparece para dizer não, muitas vezes quando é insustentável persistir no sim, mas geralmente fica-se por aí. Não raras vezes a direita acaba por chegar ao poder; mas quase sempre porque a inépcia e as asneiras da esquerda comprometem o exercício a que esta se lançou.
Fica então a direita temporariamente a gerir o que a esquerda lhe deixa, umas vezes mal e outras vezes pior. Porém, a superioridade da esquerda, a sua famosa superioridade moral, permanece intocada. O que se conclui nessas ocasiões é que a esquerda é necessariamente boa, e generosa, tem as melhores ideias e excelente coração, mas não sabe gerir. Pensa bem, mas gere mal. E a direita cala e consente: vai gerindo. Até os desastres da esquerda. Algum tempo depois, repete-se o ciclo. A esquerda regressa e a direita reage, aflita e a correr atrás dos acontecimentos.
A falta de autoestima e de consciência de si tem ainda outras consequências curiosas.
Por exemplo, impressiona ver como tantas vezes as organizações políticas de direita insistem enfaticamente logo na sua apresentação em afirmar que são algo de radicalmente novo, rejeitando qualquer ligação a formas e modelos passados. Com essa atitude não são os do passado que perdem, são os do presente que se encontram subitamente num processo político que é cumulativo, feito de aquisições sucessivas, de evoluções e transformações, e em que tudo o que existe hoje está em relação com o que existiu ontem - mas esbracejando para negar influências, heranças, continuidades.
Vão tão longe na sua teimosa originalidade que estão sistematicamente a partir do zero, a arrancar do nada. Com a preocupação de não imitar, parece até que se negam a aprender.
A esquerda ostenta a sua história e genealogia, exibindo-as em tons épicos e heróicos – mesmo que seja preciso inventá-las ou pintá-las a gosto.
A direita esquece e esconde, na tentativa de se demarcar do passado e aparecer sem carga histórica – deixando à esquerda o domínio do passado e da história.
E o pior é que desse impulso de autonegação tem resultado um verdadeiro desconhecimento de si. A direita, que deveria ser forte em história, em raízes e memórias, apresenta-se hoje no terreno político, não raramente, despida de referências, de ideias, de fundamentos. Vai pelo imediatismo, pelo que está a dar, mobiliza-se pelo circunstancial.
Como é lógico, desse modo pode às vezes apanhar uma boa onda e ter o seu momento, mas inevitavelmente a onda desfaz-se e o momento passa. E não fica nada.
Outro fenómeno curioso que radica na mesma vontade de não ser é a extraordinária propensão da direita para o que Molnar chamou “o falso herói contra-revolucionário”. É realmente espantoso observar a facilidade com que as direitas na história se aprestaram em levar às costas personagens que patentemente reuniam todos os requisitos para comprometer as suas causas e princípios – só porque na aparência exterior, por uma ou outra característica, na pose ou na oratória, ostentavam algum traço grato à sensibilidade e à estética direitista.
Apesar das repetições amargas, a tendência para o “falso herói” persiste inalterável - desde que pareça ser, há fortes probabilidades de ser aceite como sendo, por muitos que o lamentarão depois por muitos e amargos anos (a direita diz-se com muita frequência traída, depois de ter feito o que era preciso para tal).
Perguntarão os leitores onde pretendo chegar com estas considerações mal alinhavadas. Obviamente, como calculam, é na direita portuguesa que estou a pensar, mesmo quando o discurso divaga. Dizer que a conheço bem, não seria verdade. Os apontados hábitos de ocultação são por cá mais fortes ainda do que em outros lugares. Aqui, por atavismo entranhado, até a política é sentida como coisa vergonhosa e a evitar. Políticos são só os outros. Com isso de não nos metermos em política até assistimos ao insólito de um regime que perdurou mais de 40 anos com geral agrado e aceitação não ter na altura da sua queda nenhum defensor ou partidário (nem mesmo entre os seus ministros). Ora quem de fazer política faz cruzes de ser de direita benze-se e arrenega.
Não é possível, portanto, avaliar com nitidez o que seja a direita em Portugal actualmente, e onde estará ela, e qual a sua força, e qual o seu futuro. Uma vez admitido que existe, ela andará por aí, provavelmente disfarçada com outros nomes e outros rostos. Com a confusão não se pode saber o que é autêntico e o que é fingimento.
Confesso-me por tudo incapaz de análises e prognósticos, e frustrado por essa confessada incapacidade. Mas um axioma me parece seguro, e dele tenho a certeza. Deixo-o aqui sintetizado e sublinhado, para que seja tido em conta na hora de se pensar em algum futuro para a direita.
É este:
O primeiro passo para ser é realmente querer ser.

quinta-feira, junho 14, 2007

A Geração de 57 na Hemeroteca

Até 30 de Junho, a Hemeroteca Municipal de Lisboa expõe uma mostra bibliográfica e documental dedicada ao jornal "57: folha independente de cultura", e ao Movimento 57 na Cultura Portuguesa. Pelas 18 horas, do próximo dia 28, Álvaro Costa de Matos vai falar sobre a história e a memória do "57".
Em Maio de 1957 aparecia em Lisboa um novo jornal, o "57: folha independente de cultura", com direcção de António Quadros. O 57 apresentava-se como órgão de um movimento de cultura portuguesa, radicado no magistério filosófico de Leonardo Coimbra e dos seus discípulos, herdeiro de movimentos anteriores, como a “Renascença Portuguesa”, o “Orpheu” e a “Renovação Democrática”, crítico em relação ao statu quo cultural e defensor de teses originais.
Nos 50 anos do seu nascimento, a Hemeroteca Digital de Lisboa publicou no ciberespaço, os textos programáticos do movimento 57, a saber: “Manifesto de 57”, “Manifesto sobre a Pátria”, “12 Teoremas do «57»”, “12 Problemas Concretos da Cultura Portuguesa” e “O Movimento da Cultura Portuguesa no ano de 1961”.

Ver:
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/57/Movimento57.htm
http://www.leonardo.com.pt/revista1

quarta-feira, junho 13, 2007

Alameda Digital

Já está disponível um novo número da revista ALAMEDA DIGITAL.
Sirvam-se, antes que esgote!

sexta-feira, junho 08, 2007

Dia de Portugal

14º Encontro Nacional de Combatentes
Na sequência de uma tradição já com catorze anos, o Encontro Nacional de Combatentes será este ano novamente realizado em 10 de Junho, Dia de Portugal e de Camões, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém, Lisboa.
Este Encontro tem por objectivos comemorar o Dia de Portugal e homenagear a memória de todos quantos, ao longo da nossa História, chamados um dia a servir Portugal, tombaram no campo da honra em defesa da Pátria.

10 de Junho em Constância

quarta-feira, junho 06, 2007

Lisboa cidade portuguesa

É o blogue de campanha da candidatura de José Pinto-Coelho à Câmara Municipal de Lisboa: Lisboa Cidade Portuguesa.

10 de Junho em Lisboa

10 de Junho em Coimbra