quarta-feira, maio 31, 2006

O papel dos cronistas

A Entrelinhas Editora convida a blogosfera nacional para um debate sobre "O papel dos cronistas: peixes dentro ou fora de água?", com Miguel Poiares Maduro, Rui Tavares, Pedro Mexia, Luciano Amaral, Pedro Lomba e Maria de Lurdes Vale (moderadora).
Terá lugar no Café dos Teatros (Rua António Maria Cardoso, 38, em Lisboa, Chiado), no próximo sábado, 3 de Junho de 2006, pelas 18h30, e assinalará a apresentação do livro «Crónicas de um peixe fora de água» , de Miguel Poiares Maduro.

terça-feira, maio 30, 2006

Dois tempos

O rei vai nu?

Estranha discriminação

No semanário "O Diabo" de hoje entrevista com o Padre Rui Pedro, director da Obra Católica das Migrações. Queixa-se que "os emigrantes portugueses continuam a ser uma população invisível", lamenta a falta de políticas para as comunidades lusas e observa que "não há um observatório da emigração mas há da imigração. Há toda uma rede capilar de serviços para os imigrantes em Portugal e uma rede obsoleta no que respeita aos nosos emigrantes".
Também assim nos parecia.

Novas ameaças

No seu relatório entregue no Parlamento Europeu o deputado André Lamassoure (francês, chiraquiano) propõe formalmente que as comunicações electrónicas passam a ser sujeitas no espaço europeu a taxas fixas: para já, seria 1,5 cêntimo por um SMS e 0,00001 cêntimo por um e-mail , expedidos em território da União.
Podeis não acreditar em bruxas, mas lá que as há...

segunda-feira, maio 29, 2006

O estranho caso de Timor...

O factor vontade

A matriz compromissória

A Questão de Olivença segundo a CIA

O Relatório Informativo da CIA de 2006 (“The World Factbook") dá notícia do litígio que opõe Portugal e Espanha a propósito de Olivença: «Disputes - international: Portugal does not recognize Spanish sovereignty over the territory of Olivenza based on a difference of interpretation of the 1815 Congress of Vienna and the 1801 Treaty of Badajoz»

O assunto é explicado por Carlos Luna (membro da Direcção do GAO), em artigo que se transcreve:

AS HESITAÇÕES DA C.I.A.
Tudo começou em 2003. A instituição norte-americana C.I.A. publica, desde há muito, uma espécie de relatório anual, o "The World Factbook", agora na"Internet". Esse relatório, actualizado anualmente, contém dados de todo o tipo sobre todos os países e territórios do mundo. Como estatística. Não se trata de uma selecção com intuitos políticos, ainda que, como sabemos, nada seja neutro neste mundo. No que toca a disputas territoriais, eram assinaladas mais de 160, incluindo discordâncias fronteiriças entre o México e os próprios Estados Unidos. O que era novidade era a inclusão de mais uma disputa. De facto, lia-se, no que a Portugal dizia respeito: "Portugal tem periodicamente reafirmado reivindicações sobre os territórios em redor da cidade de Olivença (Espanha)". Claro que, no que a Espanha se referia, também era assinalada a disputa:"Os habitantes de Gibraltar votaram esmagadoramente em referendo contra o "acordo de total partilha de soberania" discutido entre a Espanha e o Reino Unido para mudar trezentos anos de governo da colónia; Marrocos protesta contra o controle espanhol sobre os enclaves costeiros de Ceuta, Melilla, o Peñon de Velez de la Gomera, as ilhas de Peñon de Alhucemas, as ilhas Chafarinas e as águas circundantes; Marrocos rejeita também o traçado unilateral de uma linha média a partir das Canárias em 2002 para estabelecer limites à exploração de recursos marinhos e interdição de refugiados; Marrocos aceitou que os pescadores espanhóis pescassem temporariamente na costa do Sahará Ocidental, depois de um derrame de crude ter sujado bancos de pesca espanhóis; Portugal tem periodicamente reafirmado reivindicações sobre os territórios em redor da cidade de Olivenza (Espanha)". A disputa de Olivença surgia, pois, naturalmente, entre outras reivindicações ibéricas e mais de uma centena e meia de outras por todo omundo. As reacções em Espanha, todavia, excederam o compreensível. Vários jornais noticiaram que a C.I.A. comparava Olivença a Caxemira e a Gaza, e davam a entender que a C.I.A. via movimentos terroristas (?) na Terra das Oliveiras. Chegou-se ao cúmulo de se fazerem entrevistas com autoridades locais, que troçaram da estupidez da C.I.A. e desafiaram os seus agentes a procurar terroristas por aqueles lados. Nenhum, mas nenhum mesmo, jornal ou revista espanhóis publicou o texto original da C.I.A.! E isto apesar de todos terem recebido, repetidas vezes, o mesmo, em inglês, castelhano, português, e catalão ! O mais bizarro sucederia no ano seguinte. A C.I.A. reformulou o seu relatório, e, no que toca a Olivença, 2004 viu surgir a espantosa afirmação de que "alguns grupos portugueses mantêm reivindicações adormecidas sobre os territórios cedidos a Espanha em redor da Cidade de Olivenza". Note-se que este discurso é, quase palavra por palavra, o discurso "oficial"espanhol sobre este contencioso. Era possível, todavia, fazer pior. Em 2005, desaparecia do relatório da C.I.A. qualquer referência a Olivença. Portugal, no que toca a disputas/reivindicações internacionais, surgia classificado com um "none"(isto é, "nenhuma"; uma só palavra...talvez para poupar espaço... A bizarria ia mais longe. Um pequeno mapa de Espanha acompanhava o texto sobre este país. Pela primeira vez, Olivença surgia nele. Ao lado de cidades como Córdova, Sevilha, Granada, Madrid (naturalmente), Valladolid, e outras, todas capitais de províncias, não o sendo a cidade em litígio. Duma forma afinal cómica, o Mapa não mostrava cidades como Badajoz, Cáceres, Mérida, Salamanca, ou Pamplona. Era evidente que "Olivenza" fora incluída, digamos, "à força". O que causa espanto e indignação neste caso é a facilidade com que a C.I.A., tida como a mais poderosa e "sabedora" organização de informações do mundo, antes decerto de se informar, por exemplo, junto do Governo Português, se foi aparentemente deixando "seduzir" por pontos de vista espanhóis. Felizmente, em 2006, a situação foi recolocada em termos, em geral, correctos. Decerto "alguém" do Estado Português, verificando o erro, se deu ao trabalho de informar a C.I.A. de que Portugal mantém mesmo reservas sobre a soberania espanhola em Olivença. Recorde-se que esta questão ganhou nova importância com o Alqueva, dados os problemas ligados à posse das águas no Guadiana. Assim, desde Maio de 2006, pode-se ler na "CIA Homepage", sobre Portugal, no que toca a disputas internacionais, o seguinte: "Portugal não reconhece a soberania espanhola sobre o território de Olivença com base numa diferença de interpretação do Congresso de Viena de 1815 e do Tratado de Badajoz de 1801." No que a Espanha diz respeito, pode ler-se: "em 2003, os habitantes de Gibraltar votaram esmagadoramente, por referendo, a favor de permanecerem como colónia britânica, e contra uma solução de "partilha total de soberania", exigindo também participação em conversações entre o Reino Unido e a Espanha. A Espanha desaprova os planos do Reino Unido no sentido de dar maior autonomia a Gibraltar; Marrocos contesta o domínio da Espanha sobre os enclaves costeiros de Ceuta, Melilla, e sobre as ilhas Peñon de Velez de la Gomera, Peñon de Alhucemas e Ilhas Chafarinas, e as águas adjacentes; Marrocos funciona como a mais importante base de migração ilegal do Norte de África com destino a Espanha; Portugal não reconhece a soberania espanhola sobre o território de Olivença com base numa diferença de interpretação do Congresso de Viena de 1815 e do Tratado de Badajoz de 1801." A ver vamos se esta "versão", que é razoavelmente correcta, se mantém, e se o Estado Português estará atento a novas "alterações". Na verdade, o conflito (pacífico) fica circunscrito às suas verdadeiras dimensões: um entre outros da Península Ibérica, e entre mais de centena e meia de outros por esse mundo fora, que os interessados deverão resolver quando surgir ocasião. Como deve ser sempre. O que, afinal, já tinha sido escrito em 2003.
Estremoz, 28-Maio-2006
Carlos Eduardo da Cruz Luna

domingo, maio 28, 2006

O 28 de Maio foi há 80 anos

Falam do caso o Horizonte, o Euro-Ultramarino e ATorre de Ramires.

sábado, maio 27, 2006

Forum para a Competitividade

Portugal é visto no estrangeiro como um país em contínua degradação e declínio no que respeita ao mais variados indicadores económicos, necessitando de um grande abalo. O retrato negro é traçado pelo guru da gestão norte-americano, Jack Welch.

Encontros na rede

(...) um homem que alega não ter cumprimentado um adversário político por se ter sentido gravemente ofendido na sua dignidade no decorrer de um debate e que, dias depois, cumprimenta sorridentemente o «ofensor», posando para a comunicação social, é um homem com problemas de carácter. Quando optou por não cumprimentar Carmona Rodrigues pensou não estar a ser filmado, ou talvez não tenha, no imediato, reflectido sobre o impacto político que esse gesto causaria. Alertado pelos seus assessores para a má imagem pública que terá daí resultado achou por bem, agora com a consciência que estava a ser televisionado, cumprimentar o mesmo indivíduo que havia desferido o que considerou um «imperdoável» ataque à sua honra. O carácter de Carrilho tem, pois, momentos, conforme a agenda política.

Lobos de Ouro

No "Futuro Presente":
"Muita gente deve ter lido nos jornais a notícia que o Público deu recentemente a toda a largura da primeira página: parece que se vai desviar o traçado de uma estrada para não incomodar uma alcateia de lobos; a tranquilidade dessa meia dúzia de animais custará ao erário público, dizem, uns cem milhões de euros. Falávamos no nosso número 60, a propósito dos mais ou menos inconsequentes alarmes ecológicos com que quase todos os dias somos assustados e os poderes públicos e os interesses privados são chantageados, do "império do medo". O que havemos de chamar a isto?"

sexta-feira, maio 26, 2006

Encontros na rede

Encontros na rede

Encontros na rede

Cristóvão Colon era português


O lançamento deste mês de Maio: uma novo livro de Manuel Luciano da Silva, editado pela QuidNovi.

Os 150 anos de Segismundo Freud

Terceiro e último artigo de Gustavo Corção dedicado a Freud e ao freudismo. Graças à Permanência.

O pessimismo de Freud
Referi-me, em artigo anterior, ao pessimismo intelectual, inerente ao analismo e à hipertrofia da investigação das causas materiais, que levava Freud a ver o mundo psíquico como um mecanismo de disfarces e de ilusionismos. Na extensão de sua concepção construiríamos uma metafísica em que o ser, em vez de ser objeto adequado à inteligência, é o enganador, o despistador. Teríamos uma espécie de deslealdade metafísica do ser, e um novo transcendental de perfídia. Daí não é de admirar que o genial investigador, de tanto considerar os fenômenos, tenha perdido a lucidez de ver as naturezas; e por isso não saiba mais distinguir a anormalidade da normalidade. Tratando das aberrações sexuais, eis o que conclui Freud: “Somos levados, diante dessa freqüência da perversão, a admitir que a disposição para a perversidade não é rara e excepcional, mas é parte integrante da constituição normal”. (Introduction à la Psychanalyse, p.424).
A primeira coisa que choca nesse trecho é a impropriedade dos termos. Se ele conclui que tais ou quais fenômenos, pela freqüência com que ocorrem, devem ser considerados normais, como se explica que ainda os chamem de perversões? A segunda coisa que produz espanto é o conceito que esse médico tem da normalidade. Normal, na sua definição, é aquilo que ocorre freqüentemente. Então, se houver uma epidemia que atinja a quase totalidade de uma população, os médicos poderão ficar em casa descansando, porque todos estão normais. Ou deverão talvez procurar os poucos não atingidos pela peste normalizadora para providenciar o enquadramento deles na norma fornecida pelas estatísticas. Já abordei esse problema, há tempo, a propósito de certos sociólogos que, seguindo as lições de Durkeim (Les Régles de la Methode Sociologique), definiam como normal aquilo que mais freqüentemente ocorre. Há erros filosóficos que se explicam pela sutileza dos elementos postos em equação; mas este é tão grosseiro, tão prodigiosamente estúpido que só se explica por uma colossal obliteração da inteligência, ou por uma espécie de fatalidade que leva os homens mais inteligentes a pagar um tributo à burrice universal. Disse atrás que esses analisadores, atentos demais aos fenômenos, não vêem as naturezas. O conceito de normalidade é correlato ao de natureza. Só posso saber, de uma coisa, que está em condições normais quando sei o que ela é. As essências entretanto não se concretizam, não existem em estado puro. Inseridas nas outras existências, sujeitas aos choques, às interseções, elas nos aparecem machucadas, feridas, amassadas. Na medida que sofrem esses acidentes que lhes subtraem alguma perfeição devida à sua natureza, as coisas se afastam da normalidade. A anormalidade é, portanto, definida pela presença de um mal físico ou moral que desfalca uma perfeição exigida por natureza. No compacto universo criado, a anormalidade pode ser muito mais freqüente do que a normalidade. Há mais automóveis arranhados do que ilesos; há mais dentaduras incompletas que perfeitas. E assim, não será por via estatística que poderemos decidir a questão. Nem sempre o cientista está habilitado a se pronunciar sobre a normalidade em que se acha uma coisa, porque nem sempre sabe defini-la, ou nem sempre vê a sua essência. Num caso desses pode lançar mão do que os filósofos chamam “abstração total”, e que consiste na consulta da coleção de coisas da mesma espécie; para ter uma descrição mediana que toma provisoriamente o lugar da definição. Mas tem a obrigação de saber que não pode generalizar esse critério. Na maioria dos casos não podemos dizer que a estatura de um homem é anormal, a não ser por uma comparação com o valor médio. Mas é evidente que o médico, diante de uma apendicite supurada ou de um câncer, não seguirá esse mesmo critério. Como também eu sei que devo procurar um lanterneiro ainda que todos os sociólogos da escola de Durkeim me provem que o automóvel-médio no Rio de Janeiro tem um ou dois pára-lamas amassados.
Se eu me convencesse de que é impossível conhecer uma natureza para poder formar juízo do estado em que tal natureza se concretiza, então, por amor à propriedade do termo e à lógica, eu deixaria de usar as expressões “normal” e “anormal”, substituindo-as por “encontradiço” e “raro”. E, se fosse médico, fecharia o consultório.
É triste ter de repetir coisas tão óbvias. Mas o mundo é assim, cheio de anormalidades. No caso de Freud, dirão que não se pode incriminar o psiquiatra por suas deficiências filosóficas. É exato. Talvez seja mais justo incriminar os filósofos que possuíam a melhor tradição, os mais sólidos critérios, a mais gloriosa herança intelectual, e que, por uma terrível mediocridade, não conseguiram dar o tom à cultura contemporânea. Há, entretanto, um mínimo de bom senso e de saúde de espírito que podemos reclamar em qualquer cientista, e que falta de um modo impressionante em Sigmund Freud.
Atrás daquele erro filosófico, e daquela impropriedade de termos, escondem-se complexos de um radical e profundo pessimismo. Freud pertence a uma família espiritual que traz na alma um certo rancor do ser, um pessimismo infeccioso que vê o mal nas essências, ou que, por fim, já não vê o mal onde ele existe. Se tudo é perversão, alegremo-nos com riso amarelo, e cantemos o cântico novo que anuncia a extinção da secular e incômoda diferença entre o bem e o mal, entre o mórbido e o saudável, entre o reto e o torto. Neurotics, be glad! Amanhã ou depois, pela generalização crescente, será a vez de se alegrarem os homossexuais. E desde já podem aprontar o foguetório de ingresso na normalidade os peculatários, os aproveitadores do poder, os funcionários que ganham pelo que não fazem, porque o padrão de comportamento deles, pela freqüência, está se tornando “parte integrante da constituição normal” de nosso país.
("Diário de Notícias", 3 de junho de 1956)

quinta-feira, maio 25, 2006

Os 150 anos de Segismundo Freud

Graças à editorial Permanência, e para assinalar os 150 anos sobre o nascimento de Freud, segue-se outro artigo de Gustavo Corção surgido na ocasião do centenário, há 50 anos. Não tem nem uma ruga.

UM ASPECTO DO FREUDISMO
Roland Dalbier, num livro que se tornou clássico (O Método Psicanalítico e a Doutrina de Freud, tr. José Leme Lopes, Agir) começa por uma distinção entre a parte científica e experimental da descoberta de Freud, e a parte filosófico-doutrinária, que não chega a ser uma filosofia por sua espantosa falta de coesão racional, mas que os chamados "ortodoxos" (como se houvesse na ciência lugar para ortodoxia!) acompanham com religiosa fidelidade. "O freudismo — diz o mesmo Dalbier — é uma dogmática."
Na verdade Freud pretendeu filosofar. Malgrado suas repetidas declarações em contrário, onde até se advinha um certo desprezo pelas especulações metafísicas, Freud fez metafísica. E nessa parte de sua obra revelou uma incapacidade que muitas vezes tangencia o domínio da vulgar inépcia.
Consideremos, por exemplo, o processo da "sublimação" pelo qual a energia sexual desviada dos obstáculos da censura se manifestaria disfarçada, transformada em atividades psíquicas superiores chamadas culturais ou espirituais. O mestre vienense, depois de ter descoberto os jogos de força que explicam os tiques e os atos falhados, pretende estender o diagrama até a zona dos mais altos feitos humanos, como se houvesse homogeneidade de natureza e de causas entre o homem que coça o bigode e o homem que compõe os concertos de Brandenburgo. O pensamento de Freud, nesse capítulo, não tem a tranqüila nitidez que se encontrará mais tarde entre os discípulos ortodoxos. É sempre assim. O gênio que tem o vigor para descobrir coisas até então escondidas, e que se entrega à tentação das generalizações grandiosas, salva-se pela incoerência. Corrige-se. Hesita. Desdiz-se. Mas o medíocre que o segue não tem a mesma sensibilidade: seu vigor consiste em ser coerente e nítido no erro. O medíocre tem a capacidade de ser lógico no desacerto, o brio de ser fiel ao disparate. Assim são os marxistas e freudianos ortodoxos. Mas aqui, sem intenção de cultivar paradoxos, eu direi que os seguidores medíocres são sempre os que têm razão, isto é, são os que interpretam melhor os erros do mestre, forçando-os até as últimas conseqüências.
O pensamento de Freud, dissemos, é hesitante no que concerne ao mecanismo da sublimação, mas através das reprises e das ressalvas, subsiste o bastante para nos autorizar a dizer que ele considerava homogêneas com o instinto sexual as manifestações psíquicas superiores. Se em algumas passagens o processo é descrito como uma ativação ou estimulação de funções psíquicas pré-existentes, noutros lugares, mais brutalmente, o processo é apresentado como se a energia primitiva engendrasse, sob disfarce, as formas de atividade superiores. No livro em que estuda as reminiscências infantis de Leonardo Da Vinci, diz assim: "A observação da vida cotidiana nos mostra que a maioria dos homens consegue derivar partes consideráveis de suas forças instintivas sexuais em favor de sua atividade profissional. O instinto sexual se presta muito para essas contribuições, pois é dotado da faculdade de sublimação, isto é, capaz de abandonar seu fim imediato em favor de outros fins não sexuais e eventualmente mais elevados no conceito dos homens". (Un souvenir d´enfance de Léonard De Vinci, trad. M. Bonaparte, pg. 52).
A parte por mim sublinhada mostra que Freud quer evitar o julgamento de valor deixando-o por conta do consenso. Não é ele, cientista, psicólogo, que reconhece a superioridade real, a superioridade metafísica daqueles fins, são os homens, é a cultura, será até, digamos assim, a força de um preconceito que estabelece a tal superioridade. Com essa pequena cautela o psicólogo tem as mãos livres para homogeneizar o efeito com a causa.
É aliás inerente ao pensamento freudiano a idéia de um abismo entre a manifestação das coisas, visível ao homem comum, e a fisionomia das causas, visíveis somente para os doutos. O mundo dos fenômenos é um mundo de disfarces onde nada é o que parece ser.
Todo analitismo, ou toda investigação polarizada pela hipertrofia das causas materiais, chegará a esta mesma óbvia conclusão: há entre a fisionomia do todo e os aspectos das partes uma diferença prodigiosa. O físico dirá — como já disse o Edington — que sua mesa só é mesa, sólida, estável, para o olho vulgar. Para o cientista ela é uma nuvem de elétrons e prótons. A idéia de chocar o senso-comum e de mostrar que a face dos fenômenos tem uma epiderme diferente dos nervos e ossos que a sustentam não é de Freud, nem é nova. Em geral, todos os cientistas, e principalmente os tolos, gostam muito de chocar o senso-comum com a exibição das vísceras dos fenômenos. Em Freud, porém, o vezo tem significação mais profunda e revela o pessimismo radical de sua metafísica disfarçada também, já que tudo é disfarçado. Em Freud eu diria que há uma exorbitação do erro nominalista que trouxe a cisão entre a inteligência e o ser. O ser, para o psicólogo vienense, é algo que tem um novo transcendental de perfídia e de deslealdade. É essencialmente enganador.
Mas o que mais espanta na filosofia freudiana é a grosseria com que é tratada a noção de causa. O exemplo da sublimação é frisante. Se a observação dos fatos demonstra, no campo do microscópio psicanalista, a presença de matizes, de lembranças marcadas de sexualidade, o psicólogo, com imperdoável precipitação, afirma a causalidade. Um estudante de filosofia de alguma universidade do século XIII que ouvisse tal raciocínio, piscaria o olho para o colega próximo e diria: "cum hoc ergo propter hoc".
Com isto, logo por causa disto, é o que traduz essa fórmula cunhada para denunciar o erro elementar de julgamento que confunde concomitância com causa.
Todos os casos que ilustram o fenômeno da sublimação só provam que o homem tem a capacidade de elevar o potencial, o nível ontológico de uma experiência primitiva e que a manifestação em nível elevado traz certas marcas do nível inferior. E daí? Concluirei que o maior sai do menor, ou que um ser possa sozinho por sua própria capacidade potencial, galgar o nível entitativo superior? "Nada pode passar da potência ao ato, a não ser por algo que já seja em ato", murmuraria ao nosso ouvido, e em latim, o estudante medieval.
Os mesmos fenômenos descritos por Freud seriam salvos com uma explicação infinitamente mais lógica: o que se passa na sublimação é um processo de erguimento ontológico, um processo de espiritualização semelhante àquele que no dinamismo do conhecimento, por ação do intelecto agente, espiritualiza o conteúdo da imagem dotando-a de inteligibilidade e de universalidade. Como empirista, Freud não podia atinar com esse processo de espiritualização promovida por energias espirituais em ato e capazes de produzir a elevação da experiência primitiva. Situa-se pois em pólo oposto a causa verdadeira do processo, e não é de admirar que no resultado da sublimação subsista o gosto, a cor da matéria in-formada. Basta dizer que a energia transformadora é sexuada e não sexual, uma vez que provém de um espírito vivendo em condição carnal. Salva-se assim o fenômeno sem ser preciso agredir o bom-senso e assassinar a razão.
("Diário de Notícias", 27/05/1956

Cair na real

Inculcou-se a ideia de se poder aprender tudo a brincar, de que a aula deve ser a continuação do recreio. É absolutamente falso. Claro que o ensino deve ser o mais atraente e motivador possível... não é isso que está em causa. Mas é fundamental o treino da leitura, da ortografia, da escrita, da aritmética elementar. As crianças precisam de ser treinadas para dominar esses instrumentos "automáticamente" e poderem beneficiar da etapa seguinte. Se esta ideologia do "tudo a brincar" não for erradicada, teremos em breve uma escola pública frequentada apenas pelos filhos dos pobres ou dos que não se preocupam com a educação dos filhos.
(Guilherme Valente, no Notícias Magazine (DN))

Escola de ilusões

A ilusão que se dá aos alunos com esconder-lhes na escola as suas insuficiências na aquisição de conhecimentos e de competências, distorcendo as avaliações e evitando as comparações que a justiça impunha, são mais tarde irrecuperáveis; a piedade ideológica provisória na escola gera o efeito perverso de uma impiedosa alienação definitiva depois da escola.
(Mário Pinto, no Público)

A revolução de Maio

Sob este título publica Luciano Amaral no "Diário de Notícias" um artigo notável, cuja leitura recomendo vivamente.
Do mesmo passo aproveito para recomendar o novo número da revista Atlântico, onde se encontra colaboração de real valor e interesse.

A Revolução de Maio
No filme A Revolução de Maio, António Lopes Ribeiro e António Ferro (argumentistas, sob pseudónimo) mostram-nos a conversão do perigoso agitador comunista César Valente aos princípios do Estado Novo. Depois de conhecer Maria Clara, uma bela rapariga do povo, e de constatar os progressos materiais sob o salazarismo inicial, Valente abdica do comunismo. Quando contempla, extático, a bandeira nacional no alto do Castelo de São Jorge, chega mesmo a amarrotar a sua bandeira vermelha. O filme de Lopes Ribeiro reproduz a ideia de que o período inaugurado com o 28 de Maio de 1926 representaria uma notável ruptura (uma revolução) face ao passado da I República. Mas quem estivesse atento ao facto de Valente se converter contemplando a bandeira criada pela I República teria notado qualquer coisa estranha na teoria.
A ideia de ruptura introduzida pelo golpe militar sobre que passam 80 anos no próximo domingo foi cultivada tanto por salazaristas como anti-salazaristas. Os primeiros, para se separarem do passado da I República. Os segundos, para justificarem a sua exclusão do Estado Novo, a que atribuíam uma natureza fascista, portanto radicalmente diferente do que antes existia. Tudo isto quadra muito bem também com a visão da História portuguesa que o 25 de Abril introduziu. De acordo com ela, haveria dois momentos nessa História: a democracia, depois do 25 de Abril, e o fascismo, antes, que durante 40 anos interrompera qualquer coisa vagamente feliz e que todos os anos se comemora a 5 de Outubro.
Ora, o mais interessante acerca do 28 de Maio foi a adesão quase consensual que ele suscitou então, da esquerda à direita. Para entendermos isto, temos de perceber duas coisas. Primeiro, que ele não deu origem imediatamente ao Estado Novo, mas a um regime que ficou conhecido como Ditadura Militar. Acontece que a ideia de uma ditadura que pusesse termo ao domínio quase ininterrupto do Partido Republicano Português desde 1910 era das mais partilhadas na época. Temos de entender, depois, que a I República nunca foi uma democracia (apesar de lhe preservar a forma), mas correspondeu sobretudo ao exercício do poder por uma classe política que declarou guerra à sociedade tradicional portuguesa e governou com uma mistura explosiva de violência de Estado convencional e violência de rua às mãos de gangs políticos a quem a rédea era deixada solta.
Como nota Rui Ramos, num excelente ensaio sobre o 28 de Maio na revista Atlântico deste mês, a ideia original da ditadura era, para a maior parte dos seus apoiantes, cumprir a parcela consensual do programa da República e que ela não fora capaz de executar: equilibrar as contas públicas, desenvolver o País, difundir a educação e restabelecer a autoridade do Estado. Existiam, claro, aqueles (fascistas ou integralistas) que sonhavam com soluções mais directamente inspiradas no fascismo italiano ou mesmo soluções monárquicas tradicionais. Mas eram uma minoria. Só seis anos depois do 28 de Maio (em 1933) é que nasceria o Estado Novo, resultado do confronto no seio da Ditadura e que acabou por representar uma tentativa de conciliação entre todas as facções. Muitos republicanos instalaram-se plenamente no Estado Novo, porque a forma republicana do regime foi mantida (também então se comemorava o 5 de Outubro) e porque a Constituição de 1933 manteve nominalmente os princípios demo-liberais. Muitos simpatizantes do fascismo integraram-se plenamente no Estado Novo, porque o regime também assumiu em parte um aspecto activista de transformação da sociedade e repressão violenta do comunismo. Daqui resultou um animal estranho, nem bem fascismo, nem bem demo-liberalismo - havia eleições, mas eram muito limitadas; havia um Parlamento, mas estava completamente subordinado ao poder executivo; e havia o mundo arbitrário e fora da lei dos "crimes políticos". Mas o grande objectivo do Estado Novo foi o de aplicar o tal programa modernizador da Ditadura.
Nem a Ditadura nem o Estado Novo interromperam a democracia em Portugal. Apenas substituíram um regime terrorista e que nunca conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio por um autoritarismo formalizado, o qual nem sequer impediu grande número de adesões, da esquerda à direita. É por isso que o regime de 1976 herdou dele mais do que julga. Afinal, o 25 de Abril foi feito por soldados com brilhantes carreiras militares e políticas no Estado Novo. José Saramago disse há uns anos que estávamos hoje na mesma situação em que estávamos antes do 25 de Abril. Em certa medida, teve razão. Para quem, em 1974-75, quis instaurar o comunismo, o que existe não pode deixar de ser mais ou menos o mesmo (o "fascismo societal", do prof. Boaventura Sousa Santos). Mas quem atribui valor aos mecanismos formais demo-liberais, percebe como isto que existe é bem melhor, mesmo se não tenha feito completa tábua rasa do que existia e nele tenha em parte a sua origem.

quarta-feira, maio 24, 2006

Feiras do Livro



Estão aí as Feiras do Livro de Lisboa e Porto. Pede-se encarecidamente aos indígenas desses lugares a fineza de partilharem aqui as suas notas de visita, sugestões e recomendações, para que o demais povinho saiba o que comprar e onde se encontra. Obrigado!

Questão de consciência

Pedagogia

"As pedagogias que desvalorizam a função da memória, ou se batem contra o «ensino memorialista», são as responsáveis pela incultura dominante e pela perda do sentido de tempo e de História, sem a qual ninguém se acha e os portugueses muito menos."
João Bénard da Costa, no Público.

Nos 150 anos de Segismundo Freud

Assinalando os 150 anos do nascimento de "um dos pensadores que mais influenciaram o curso do pensamento moderno", a editora brasileira Permanência (re)publicou alguns textos de Gustavo Corção surgidos fez agora 50 anos, a propósito do centenário do psiquiatra vienense.
Pareceu-me que valem bem a reprodução, para leitura e apreciação dos estimados leitores. Eis o primeiro.

O CENTENÁRIO DE FREUD, por Gustavo Corção
O século vinte será marcado na história como um período de profundas subversões. Comparado com os três anteriores, que por contraste chamaríamos de cartesianos, o nosso glorioso e doloroso século é confuso, contraditório, tumultuoso e trágico. Em todos os domínios da cultura houve ganho, mas o crescimento da humanidade esteve sempre envolvido numa angústia crepuscular que é a antítese da claridade ou da pretendida claridade dos dias em que triunfava um insolente racionalismo. Vejam a física. A herança newtoniana, com sua admirável construção, onde a nitidez de seus conceitos — ponto material, sólido indeformável, equações diferenciais — que faziam da física uma espécie de geometria de massas e forças, achou-se em poucos anos transformada num inquieto probabilismo, numa espécie de drama de incertezas equacionadas, onde os principais personagens se ocultam, um apenas se manifestam por um sinal indireto entrevisto na câmara de Wilson. Vejam a biologia. Cai por terra o esquema bem ordenado, bem arrumado, arrumado demais, do evolucionismo darwiniano e lamarquiano; e onde se via, nos quadros seculares da paleontologia, a natureza a trabalhar aplicadamente na ortogênese dos eqüídeos, como se fora um técnico das coudelarias inglesas, vê-se agora a genética a produzir transformações caprichosas, lotéricas, que não parecem seguir nenhum ideal zootécnico. Na política, o mundo que assistiu à festa da Exposição Universal de Paris, em 1900, onde se anunciava o século da concórdia promovida pelas luzes da ciência, vê agora a ruína de duas guerras totais com todo um cortejo de horrores promovidos pela mesma ciência. No panorama da vida das nações domina a insegurança e o medo da liberdade, como assinala Erich Fromm, por onde se vê que o claro otimismo que vinha da renascença deu lugar à mais obscura das humanas paixões — o medo.
Mas nenhuma dessas transformações foi mais radical e mais caracterizadora da atual cultura do que a revolução psicológica trazida por Sigmund Freud. Agora, depois de Freud e da resposta que ele deu ao antigo enigma proposto pela esfinge de Tebas, não é somente a substância de minha mesa que se perde num enxame de elétrons e de prótons, não é somente o mundo material que se move por forças escondidas na obscuridade dos corpúsculos e somente manifestadas aos nossos olhos sob disfarces; nem é apenas a origem das espécies que se torna confusa, ou a sorte das nações que se torna incerta: agora é o próprio homem que aparece mais enigmático do que nunca, e que já não pode ir e vir inocente e despreocupado, parar numa vitrine, esquecer um encontro, assobiar, coçar o queixo, sem que esses mínimos gestos tenham significação na câmara de Wilson da psicanálise e se inscrevam no que o sábio judeu chamou de psicopatologia da vida quotidiana.
Como disse Joseph Nuttin (Psicanálise e Personalidade, Agir ed.), "estamos longe da clara psicologia das obras clássicas e das paixões transparentes e bem ordenadas de um Racine. O fatum das tragédias antigas, essa potência misteriosa e trágica que do exterior conduzia o homem, tornou-se uma potência interior do indivíduo, a própria força de sua vida psíquica inconsciente."
Antes porém de formularmos qualquer restrição a sua filosofia, agradecemos a Freud, como já o fez Maritain (Creative Intuition in Art and Poetry, Pantheon), o golpe de morte que deu na psicologia cartesiana que limitava a vida psíquica ao domínio do consciente, e que assim interrompia a tradição da psicologia profunda. Desde Platão, como se vê no segundo discurso de Sócrates sobre o amor e a poesia (Fedro), a cultura estava encaminhada no sentido de aceitar a existência de processos intelectuais e afetivos que ultrapassavam o iluminado cenário da consciência. Para Platão, o apaixonado e o poeta eram homens que não se possuíam a si mesmos e que não seguiam os assentados ditames da clara razão. Mas, a quem pretendesse dizer que não há verdade no discurso desses homens possuídos de transcendente loucura, Platão respondia que "de todos os nossos bens, os maiores são aqueles que nos vêm de um delírio".
Esse delírio platônico, mania em grego, tinha entretanto uma exteriorização, uma procedência transcendente que era exigida pela metafísica platônica e por seu excessivo transcendentalismo. Foi Aristóteles que trouxe para a imanência do humano psiquismo as forças delirantes que escapam ao consciente, quando assentou o conceito de razão intuitiva, distinta e complementar da razão discursiva. E em toda a escolástica, na análise do dinamismo do conhecimento intelectual, e sobretudo no papel atribuído ao intelecto agente, havia lugar para a psicologia da profundidade inconsciente da alma humana.
Depois da decadência da escolástica, do nominalismo, e principalmente do cartesianismo, interrompeu-se a tradição da psicologia profunda. E foi por causa desse encolhimento da cultura filosófica, dessa atrofia da pesquisa psicológica, que a humanidade teve a má sorte de dever a um materialista, a um homem de deformada filosofia, a genial re-descoberta das dimensões da alma. Na verdade — e isso é uma das mais dramáticas contradições do freudismo — a derrocada da psicologia racionalista foi feita por Freud, em termos de uma metafísica racionalista e cartesiana. Negando os abismos do espírito, Freud tentou explicar a vida humana com um esquema quase mecânico, quase geométrico, de forças inconscientes. E assim, por estranha e curiosa derrisão, ao mesmo tempo que fornecia matéria para uma renovada psicologia, dava-lhe limites metafísicos mais estreitos do que nunca. Qual é então o resultado do balanço que os séculos futuros levantarão? Foi benéfica ou maléfica a resultante final da obra de Freud? É difícil responder. Tudo dependerá do modo, da simpatia lúcida e generosa com que a cultura presente e vindoura puder assimilar os elementos de verdade deixando na beira do prato as espinhas do erro. O que se pode dizer desde já é que Freud não respondeu de modo inteiramente satisfatório à esfinge, e que seremos todos devorados por ela se engulirmos sem o necessário discernimento o anti-cartesianismo de Sigmund Freud.

("Diário de Notícias", 20/05/56)

terça-feira, maio 23, 2006

Le temps des cerises

segunda-feira, maio 22, 2006

Os indiferentes

Comentário meu ao comentário do Horizonte:
Nada parece indicar que o futuro seja de liberdade. Os liberais é que parecem não ver.

Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Terão lugar no Palácio da Independência as Cerimónias Comemorativas da Fundação da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com o seguinte programa:

Dia 23 de Maio
17h00: Abertura do Salão Filatélico comemorativo do 145º Aniversário da SHIP sob o tema “História de Portugal”.

Dia 24 de Maio
17h00: Benção da imagem de Nossa Senhora da Conceição, no Pátio Principal do Palácio da Independência, por Sua Excelência Reverendíssima D. Manuel Clemente, Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa. - Intervenção de um Coral da Guarda Nacional Republicana.
17h30: Inauguração da sala Evocativa da S.H.I.P.
18h00: Sessão Solene no Salão Nobre com a entrega dos Prémios, proclamação de Sócios de Mérito, Assinatura de Protocolos de Cooperação e outras actividades.- No átrio de entrada, exibição do Grupo de Danças da Casa de Goa.- Exposição "Património Cultural de Macau"- Aposição de um carimbo comemorativo da SHIP.

Dia 25 de Maio
18h00: Abertura do Ciclo “Os Grandes Desafios de Portugal”: palestra proferida pelo Prof. Doutor Adriano Moreira, sobre “Portugal no Mundo”.

Número 120 de "Éléments"


Dois temas fortes, "Le cinéma français est-il le plus bête du monde?" e "Faits, méfaits et bienfaits de la colonisation", num sumário bem recheado.
São já 30 anos de "Éléments"!

Debate sobre a reprodução artificial

Em breve, será discutida a lei sobre reprodução artificial (PMA) na Assembleia da República.
Por isso, é urgente exigir o debate público de todas as questões que se ocultam sob as aparências do articulado legal.
Tem sido essa a tarefa que se propôs o Movimento Pró-Referendo da Lei de Procriação Medicamente Assistida, que solicita neste momento a continuação do nosso apoio e o reforço das nossas assinaturas. Todas as informações em http://www.referendo-pma.org.

II Encontro Mundial de Jovens Luso-Descendentes

A Sociedade Histórica da Independência de Portugal acolhe hoje, dia 22 de Maio, pelas 15 horas, a sessão inaugural do II Encontro Mundial de Jovens Luso-Descendentes, a ter lugar no Salão Nobre do Palácio da Independência.
Este Encontro Mundial, conta com a participação de meia centena de jovens portugueses, vindos dos cinco Continentes.
Mais uma razão para visitar o Palácio da Independência.

domingo, maio 21, 2006

Criatividade jurídica

Já tinham imaginado a pena de admoestação de pessoa colectiva?
Os nossos legisladores, com o génio criativo e a originalidade que lhes são conhecidas, lembraram-se disso: o art. 90.º-C do projecto de revisão do Código Penal estabelece que se à pessoa colectiva ou entidade equiparada dever ser aplicada pena de multa em medida não superior a 240 dias, pode o tribunal limitar-se a proferir uma admoestação.
As perspectivas são elevadas: imagine-se o potencial para o teatro de revista que será colocar os Juízos Criminais de Lisboa a admoestar a Carris ou a Caixa Geral de Depósitos. Eu só completaria o elenco punitivo com a previsão de umas chibatadas: se a admoestação não for suficiente, cheguem-lhes!! Ora aqui vai disto, senhora pessoa colectiva!! Uma dúzia de chibatadas no lombo!
E se ainda não chegar, recorra-se então à mais gravosa das penas: prisão com elas, que as pessoas colectivas também são gente! Eu gostava de ver a Portugal Telecom na prisa! E o BCP na cela ao lado! E a CP? Se nem as admoestações fizerem chegar os comboios a horas, se nem umas chibatadas chegarem para assegurar a limpeza nas carruagens, não se hesite: CP para a cadeia já! E a TAP, cada vez que vender bilhetes a mais? Primeiro uma censura solene em audiência, a TAP envergonhada e contrita na sala apinhada; depois, não bastando, duas dúzias de chibatadas no cachaço. E se ainda assim não se emendar, a TAP para a penitenciária, a ver passar os aviões. Nem mais!

Reinterpretar Hans Freyer

O gosto de pensar, no "Batalha Final":
"Hans Freyer é um nome pouco conhecido entre aqueles que se destacam vulgarmente naquilo que chamaremos a direita revolucionária alemã do pré-guerra.(...)
Ler, pensar, escrever, são das armas supremas que nos restam. Treinem muito!

sábado, maio 20, 2006

205.º Aniversário da Ocupação de Olivença

Recordando ao representante do país vizinho a desonrosa ocupação de Olivença, o GAO entregou hoje na Embaixada de Espanha em Lisboa uma carta em que diz:

Excelentíssimo Senhor Embaixador do Reino de Espanha
No dia 20 de Maio de 1801, há exactamente 205 anos, os exércitos de Espanha, conluiada com a França napoleónica, invadiram Portugal e ocuparam a vila portuguesa de Olivença. Manifesta ofensa ao Direito das Gentes, assim foi entendido pelas Potências de então que, no Congresso de Viena de 1815, onde Espanha também teve assento, reconheceram absolutamente a justiça das reclamações de Portugal sobre Olivença. Por isso ficou consignado no Tratado de Viena, seu Art.º 105., «Les Puissances, reconnaissant la justice des réclamations formées par S. A. R. le prince régent de Portugal e du Brésil, sur la ville d'Olivenza et les autres territoires cédés à Espagne par le traité de Badajoz de 1801, et envisageant la restitution de ces objets, comme une des mesures propres à assurer entre les deux royaumes de la péninsule cette bonne harmonie complète et stable dont la conservation dans toutes les parties de l'Europe a été le but constant de leurs arrangements, s'engagent formellement à employer dans les voies de conciliation leurs efforts les plus efficaces, a fin que la rétrocession des dits territoires en faveur du Portugal soi effectuée; et les puissances reconnaissent, autant qu'il dépend de chacune d'elles, que cet arrangement doit avoir lieu au plus tôt». Como melhor saberá Vossa Excelência, em 7 de Maio de 1817, há 189 anos, Espanha assinou o Tratado de Viena e reconheceu sem reservas os direitos de Portugal. Decorridos dois séculos sobre a desonrosa ocupação de Olivença, o Estado que Vossa Excelência representa jamais respeitou o compromisso assumido perante a Comunidade Internacional. Do carácter honrado, altivo e nobre que Espanha diz ser o seu, não houve manifestação e, ao contrário, actuando com ostensivo desprezo pelo Direito e pela palavra dada, Espanha cobriu-se com o labéu da vilania. Eis, singela, a «Questão de Olivença»: uma parcela de Portugal foi usurpada militarmente pelo Estado espanhol, há 205 anos, extorsão não reconhecida e ilegítima face ao Direito Internacional. Não obedecendo ao Direito nem respeitando os seus compromissos, é Espanha, de que Vossa Excelência é Embaixador, que se desonra. Quanto à ofensa que a ocupação de Olivença constitui para Portugal, compete aos Portugueses apreciá-la e julgá-la. Da ofensa feita à Justiça e ao Direito, bem como da desonra trazida pela quebra da palavra dada, pertence a Espanha e a Vossa Excelência conhecer do seu significado. Atentamente,
Lisboa, 20 de Maio de 2006.

Progressistas

Um progressista devia estar sempre contente. Afinal, pela marcha contínua da humanidade estamos no melhor dos mundos alguma vez conhecidos. E como a marcha não pára e segue sempre em frente, ámanhã tudo será melhor.
Não compreendo por isso quando leio por aí certas amarguras e desencantos. Se é essa a vossa Fé, de que vos queixais?
Que me revolte eu, que sou um reaccionarão incorrigível e impenitente, entende-se. Mas vós, que tendes nas mãos o fruto dos vossos esforços e dos vossos sonhos, de que vos queixais?
Eu sou um vencido. Nunca participei em nada que decidisse fosse o que fosse, nunca apoiei nada que obtivesse ganho de causa, nunca sequer votei em quem ganhasse eleições. Quando celebro memórias, são das derrotas de que me orgulho. Quando celebro datas ou pessoas, são de causas perdidas e de gente que morreu por elas.
Não é motivo para alegrias, mas tem o seu lado gratificante: não tenho culpas nem responsabilidades.
Mas vós, que sois os vencedores, que comandais a História e o Mundo, que ditais as Leis e sois os donos das Ideias que contam, de que vos queixais?
De onde vos nasce a inquietação que vos apoquenta? De onde vem a angústia que vos aflige? De onde o mal estar que vos perturba?

Morangos com coca

Vive-se um tempo algures entre o "Rollerball", o "Brave New World", o "Farenheit 451". Pelo meio, imagens de "Laranja Mecânica".
Nos meses próximos, é a hora do Jogo.
Fauna humana, a geração morangos com coca.

Misantropo

Ao longo da vida já conheci muita gente, e poucos valiam a pena.
Agora resguardo-me.

Mocidade Portuguesa

sexta-feira, maio 19, 2006

Ponto de encontro


Forum Portugal, pela independência nacional.
Para visitar e participar.

O Código d'Avintes

"Hermenegildo Rui Lopes, conceituado filósofo e gastrónomo, está no salão da Junta de Freguesia a proferir uma conferência sobre «A Implantação da República e a Gnosiologia da Broa de Avintes» quando recebe uma notícia inesperada: a velha Maria Tarreca, a maior especialista na fabricação da iguaria, foi encontrada morta com um código indecifrável no bolso da bata: 500 FM. 300 CT. 5-6 czd. "

Estratégias de comunicação

“A forma como são anunciadas medidas fantásticas todas as semanas, sempre no mesmo dia da semana. O enquadramento anterior e posterior a esses anúncios. Tudo é pensado ao pormenor. A comunicação deixou de ser um meio e passou a ser um fim em si mesmo."

Os selo da fortuna

"Futuro Presente":
"(...) o facto é que Albertino Figueiredo tinha chegado aos píncaros da consagração e da condecoração políticas, em Lisboa e Madrid.
Se os "grandes" deste mundo o acolhiam, porque haviam os pequenos de desconfiar?"

A era do "como se"

"Caminhos Errantes":
(...) E os homens entregam-se a processos que, no seu desenvolvimento mecânico, determinam a sua vida como se estes fossem produtos da sua escolha ou resultados da sua deliberação.

quinta-feira, maio 18, 2006

Socorro!

Já não aguento mais "códicodávintchi"!!!

quarta-feira, maio 17, 2006

A Nação instrumental

Apresenta-se como evidente que nacionalismo só pode chamar-se a uma doutrina que proclame o primado da Nação.
Esta entendida como um ente moral que não se confunde com os seus componentes. As partes não são o todo, e muito menos uma das partes se confunde com o todo.
Posições em que o primado seja atribuído aos nacionais e não à Nação, esquecendo que o elemento humano que em dado momento integra a Nação é tão só um dos constituintes desta, e aliás circunstancial e passageiro, significa contrariar todas as doutrinas conhecidas do nacionalismo.
Os portugueses de hoje não são os portugueses de ontem, nem se confundem com os de amanhã. As vontades individuais ou somadas dos portugueses numa certa hora não coincidirão certamente com as existentes noutra hora dada. Nem os interesses.
E afigura-se desnecessário entrar em considerações sobre outros componentes necessários da entidade nacional; uma história comum, um destino comum, uma unidade de destino no universal, um território, uma organização política… Tudo está discutido, estudado e analisado à saciedade, não interessando agora rememorar convergências e divergências.
O que não é possível encontrar é uma doutrina nacionalista em que os termos se invertam, isto é em que o primado pertença aos nacionais e não à Nação, em que esta exista para servir e não para ser servida.
Como poderia à Nação prestar-se homenagem, e esta reclamar serviço e sacrifício, se a realidade nacional fosse vista como uma utilidade momentânea dos nacionais?
Uma tal inversão conduz inevitavelmente a uma concepção que se poderia caracterizar como de “nação de conveniência”, ou seja esta só teria valor na medida da sua utilidade (para os nacionais), seria uma realidade instrumental, segunda e não primeira como é próprio das doutrinas nacionalistas.
Por seu lado, os nacionais teriam com a Nação uma relação de interesse. Entende-se, logicamente, que cessando o interesse cessa a Nação.
Ora uma Nação nunca foi entendida como um clube social, que os membros de um dia podem a seu bel prazer dissolver porque lhes apraz, e em que naturalmente dispõem de um poder de veto quanto a novas admissões: bola branca ou bola preta, entra sócio não entra sócio.
As confusões ideológicas do género “Portugal é dos portugueses”, traduzindo uma horripilante coisificação de Portugal, assim reduzido a objecto de propriedade, em vez de valor supremo na ordem temporal, arrastam consequências gravíssimas no domínio do pensamento e das propostas políticas concretas. Inevitavelmente deixa de pensar-se como prioritário o que melhor servirá Portugal para em cada minuto incessantemente se procurar o que melhor sirva “os portugueses”, e logo depois estes ou aqueles portugueses – terreno movediço em que ninguém se pode entender, pois o que agora serve logo já não serve, e o que a este grupo serviria a outro é de todo inconveniente.
Cai-se no instável e no acidental, na dissolução e na desordem no plano das ideias e da existência social, que é precisamente o que o nacionalismo, procurando firmar-se na solidez do permanente, intentava evitar.
Reponham-se as ideias no lugar: Portugal não é dos portugueses, os portugueses é que são de Portugal.
Veio este arrazoado a propósito de um escrito do Corcunda, que na verdade às vezes parte de intuições fulgurantes para arrancar observações de igual fulgor.
Leia–se sem demora.
Proclamando que Portugal pertence aos portugueses, ideia que é a antítese do nacionalismo (se a Pátria fosse propriedade de alguém o proprietário seria livre de a dissolver segundo seus desejos), o nacionalismo "agrupado" assume a sua rendição ao espírito moderno do nacionalismo democrático.”

terça-feira, maio 16, 2006

Blogues alentejanos


Há mais blogues alentejanos!

Encontro em Vila Viçosa


Um empreendimento do "Restaurador da Independência".

100.º Aniversário do nascimento do General Humberto Delgado

Na passagem do 100.º Aniversário do nascimento do General Humberto Delgado, o Grupo dos Amigos de Olivença presta sentida Homenagem ao Lutador pela Causa da Olivença Portuguesa e seu antigo Dirigente.
Defensor apaixonado das causas em que acreditava, o General Humberto Delgado desde cedo manifestou a mais ardorosa determinação na sustentação dos Direitos de Portugal e desenvolveu esforços para alcançar a retrocessão de Olivença.
Quando apresentou a sua candidatura à Presidência da República, em 1958, era Presidente da Assembleia Geral do Grupo dos Amigos de Olivença.
Combatente da Liberdade e da Justiça, ao General Humberto Delgado não podia passar silenciado o drama histórico que a ocupação estrangeira de Olivença significava.
O seu amor à Velha Terra Portuguesa de Olivença foi das grandes motivações a que não regateou esforços.
Honrando a memória do General Humberto Delgado, lutemos nós, Portugueses de hoje, tal como ele o fez, pela Olivença Portuguesa!
Essa é a Homenagem que lhe devemos.

segunda-feira, maio 15, 2006

De Mahmoud Ahmadinejad para Bush

Bem sei que uma carta presidencial feita para a opinião pública é essencialmente um trabalho de propaganda: diz-se o que se quer dizer.
Mas isso não lhe tira interesse: normalmente, é importante saber o que nos querem dizer. E soma-se que com alguma frequência também por essa via é possível entender mais do que o emissário queria dizer.
Para os curiosos, recomenda-se a leitura integral da famosa carta de Mahmoud Ahmadinejad para Bush.
Conforme as aptidões linguísticas de cada um, em inglês e em francês.

domingo, maio 14, 2006

Aldous Huxley

E de súbito o Dragoscópio lembrou-se de Aldous Huxley. Concretamente, está fascinado com as observações reunidas em "Sobre a Democracia e outros estudos". Também a mim me parece um autor singularmente actual. Tanto pelas páginas desse volume, "Sobre a Democracia", como pelo "Admirável Mundo Novo". Por vezes parece tão actual que creio mesmo que isso o levou para o índex - sobre a sua obra caiu um silêncio suspeito.
O "Brave New World", hoje, surge realista demais para ser chamado ficção. E os considerandos sobre a democracia, que na época pareciam o fruto de um espírito que sempre cultivou paradoxos e originalidade, aparecem hoje como embaraçosas heresias - inconveniências que atentam contra a religião secular, que a veneração manda respeitar ainda que a fé seja cada vez menos.

205.º Aniversário da Ocupação de Olivença

No dia 20 de Maio de 2006, passam 205 anos sobre a usurpação da Praça portuguesa de Olivença pelos exércitos de Manuel Godoy.
Recordando a data e o seu significado, o Grupo dos Amigos de Olivença leva a efeito nesse dia, em Lisboa, um conjunto de iniciativas, de que destacamos:
- 11:00 horas, Missa na Igreja de S. Domingos, em memória dos oliventinos e de todos os portugueses que se destacaram na defesa da Causa de Olivença Portuguesa.
- 13:00 horas, Almoço num restaurante da Baixa.
- 16:00 horas, entrega de uma Carta na Embaixada de Espanha (no Consulado, Av.ª da Liberdade).
Convidam-se todos os Amigos de Olivença, todos os Portugueses, a comparecer e dar o seu apoio!

Verão



A brandura que cai ao fim da tarde
Liberta em nossos campos maresia.
A minha terra, jacente ao sol que arde,
Respira, quando a noite principia.

(obrigadinho ó Giraldo!).

sábado, maio 13, 2006

A crise da Igreja Católica

No jornal romano anti-modernista "Sim Sim Não Não" encontrei um interessante estudo sobre o fenómeno a que se vem chamando a crise da Igreja Católica, e que superficialmente se sinttiza assim:
"De um ponto de vista puramente descritivo, parece-nos poder enumerar os traços mais visíveis da crise atual do seguinte modo:
1 — Forte diminuição das vocações religiosas, seminários e conventos esvaziando-se em massa (caindo em ruínas ou sendo vendidos a agências imobiliárias, que às vezes os põem abaixo para construir conjuntos residenciais).
2 — Anarquia substancial em toda a Igreja visível, onde a autoridade não é exercida efetivamente, nem na alta hierarquia nem na baixa. Se a autoridade é exercida, ela é contestada, ou no mínimo poucos a seguem. A impressão geral é de que as declarações do Magistério (feitas em geral timidamente, num tom de convite cordial) não mudam nada em nada; que a maioria das conferências episcopais e dos eclesiásticos continuam a se governar segundo suas idéias próprias em inúmeras questões.
3 — Anarquia substancial no domínio da liturgia, onde abundam a criatividade, a espontaneidade, as “missas ecumênicas”, a “intercomunhão” com os membros das seitas protestantes e ortodoxos et similia.
4 — Ignorância do clero em teologia e doutrina.
5 — Relaxamento da moral no clero, fenômeno sabiamente amplificado pela mídia, mas que não podemos negar.
6 — Ignorância dos fiéis, algumas vezes inutilmente instruídos sobre questões de exegese tão complicadas quanto artificiais, e que muitas vezes não sabem nem o “Pai Nosso”.
7 — Igrejas cada vez mais vazias (caindo elas também em ruínas ou vendidas) e queda vertical na freqüência aos Sacramentos (a confissão sacramental parece ter desaparecido completamente).
8 — Corrupção generalizada da moral nas nações antigamente católicas, conseqüência da predominância em massa do hedonismo e do materialismo, do indiferentismo material e religioso. Essa corrupção engendra a crise da família, cujo modelo não é mais o modelo católico. Ela vem sendo substituída pela família divorcista, a família “de fato”, a família “monoparental” e até a família “homossexual”.
9 — Avanço em massa das piores seitas protestantes (das Testemunhas de Jeová aos Mórmons, aos Pentecostistas e aos Carismáticos), do islamismo, do budismo, de todos tipos de esoterismo, do ateísmo. A cada ano um número impressionante de católicos apostata, sem falar daqueles que não apostatam, mas vivem fiando-se mais nos astrólogos e videntes do que na verdadeira fé, ou então, que vegetam no total indiferentismo.
10 — Pressão sempre forte do movimento inovador no seio da Igreja, amplamente tolerado por uma parte do episcopado e apoiado pela imprensa democrática mundial. Esse movimento gostaria de impor a ordenação das mulheres, o casamento dos padres, talvez também a ordenação de homossexuais, o acesso dos divorciados e “recasados” a certos sacramentos. Gostaria também de impor uma direção efetivamente colegial à Igreja (reedição da colegialidade anterior) e um ecumenismo ainda mais forte que o atual.
"

Conclui o estudo que este é " o quadro geral da Santa Igreja visível na sua atualidade. Dizer que ele é desolador seria pouco.
Convidamos os nossos leitores a ler com atenção as reflexões em causa. Creio que um dia se tornará evidente a importância crucial desta "crise da Igreja Católica" para compreender tudo o resto (tudo aquilo que nos ocupa e preocupa nas sociedades em que vivemos, e constitui tema habitual de atenção para os leitores).
Encontra-se no sítio da editora Permanência, no espaço reservado ao jornal Sim Sim Não Não.

quinta-feira, maio 11, 2006

Sampaio vai acabar com a tuberculose

O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, nomeou hoje o ex-Presidente da República Jorge Sampaio primeiro enviado especial do plano da ONU "para acabar com a tuberculose", missão que cumprirá ao longo dos próximos dois anos.
Tem graça e não ofende.

Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Terão lugar no próximo dia 24 de Maio as cerimónias comemorativas da fundação da Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
Para consulta do programa, visitem a própria SHIP.

Salazar em linha

Eis um sítio inteiramente dedicado à personalidade de Salazar e ao regime que personificou: descubram os conteúdos já reunidos no novo Salazar.

O Salústio Nogueira

Conheceis o nome de Teixeira de Queiroz? E de Bento Moreno? Não? Pois está na hora de travar conhecimento com o Balzac de Arcos de Valdevez.
Numa feliz homenagem do Arcos Online temos agora disponível na íntegra em pdf "O Salústio Nogueira" - um romance de ontem para hoje.
Tratem de ler "O Salústio Nogueira"! (E imprimir, são só 263 folhas A4).

José de Almada Negreiros


A ler: Direcção Única.

terça-feira, maio 09, 2006

Desertai do sono que vos prende

Venham todos todos os que cantam
E os que choram a Pátria assombrada
Os que sabem os versos que espantam
Sacerdotes da deusa alvorada


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Vem connosco e semeia cantando
A beleza dos dias a vir
Jardins de mil fontes triunfando
Do deserto de Alcácer-Quibir

Maternidade de Elvas encerra já esta semana?

"Espero ter ainda esta semana a resolução justificativa enviada para a publicação e dizem-me que - estando já terminado o protocolo com Badajoz - muito provavelmente a maternidade de Elvas será encerrada ainda esta semana", declarou hoje o ministro da Saúde Correia de Campos.
Andaram os alentejanos da raia durante centenas de anos em guerras e sobressaltos permanentes para evitar ser espanhóis - para chegar agora um executivo socialista que os obriga a nascer espanhóis.
Este governo é inimigo de Portugal e dos portugueses.

Um brinquedo um sorriso


Criatividade e política.

Impasses


(Pilhado no Jantar das Quartas).

Pela independência de Portugal


Um forum aberto a todos: passem por lá e deixem as vossas opiniões.

Blogues alentejanos


Ponto de encontro de blogues alentejanos

Para Julho


Encontro de Blogues em Vila Viçosa

segunda-feira, maio 08, 2006

Nostalgia



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A melancolia trouxe-me de novo a Sarita Montiel.
Como aves precursoras/ de Primavera/ em Madrid aparecem/ las violeteras...

domingo, maio 07, 2006

Porque hoje é Domingo

Nada como recordar o que é a Missa, obscurecida pelas assembleias dominicais que por aí pululam: do Santo Sacrifício da Missa e dos seus fins.

O 3 de maio de 1808


Em quantos pontos do mundo se repete hoje a noite terrível de 3 de Maio de 1808?

sábado, maio 06, 2006

O estranho caso do ministro iberista

Passado o tempo suficiente para fazer o ponto da situação, algumas breves observações.
A primeira nota para constatar o silêncio generalizado. Não há já ninguém que não saiba, mas a generalidade dos actores da nossa vida pública, sobretudo os habitualmente mais palradores, preferem manter-se calados.
Sobre o destino dos pinguins do Ártico ou o problema das dietas de Verão estão sempre cheios de opiniões, e enchem telejornais. Sobre o futuro do nosso destino colectivo como portugueses nada têm para dizer.
Até ao momento só li na grande imprensa um pequeno artigo interior no "Correio da Manhã", aquilo que saiu no "Independente", a crónica de Fernando Madrinha no "Expresso" e o artigo de Jorge Ferreira no "Semanário". Isto na imprensa escrita, porque na outra creio que o black-out foi absoluto.
A segunda nota tem que ser para os partidos. Significativamente, até agora nem um partido ou agrupamento político disse uma palavra que fosse sobre esse facto insignificante de termos como governante um que exprime como programa seu eleito o projecto de dar fim ao que governa. A sida mental que vem inevitavelmente da pertença a multinacionais ideológicas resulta nisto: aceita-se passivamente que o melhor tratamento para Portugal seja a eutanásia.
Fica a constatação: nenhum político, nenhum homem público com responsabilidades no país, nenhum grupo ou associação política portuguesa, grandes ou pequenos, se sentem já incomodados em ter por governantes aqueles que por opção assumida gostariam de pôr fim a Portugal.

Sobre a Revolução Conservadora

Um interessante artigo de Robert Steuckers traduzido no Batalha Final.

Notícias Portuguesas 2029

Alinhamento do telejornal num dia de 2029, em antevisão no Duas Cidades.

sexta-feira, maio 05, 2006

Encontro no forum


Um sítio para encontrar amigos e conversar sobre o que mais interesse: Forum Portugal.

Tempos modernos

Uma notícia das mais interessantes dos últimos dias foi indiscutivelmente a das falsificações das assinaturas proponentes da candidatura de José Alberto Pereira Coelho no PSD.
Não só pelos acontecimentos em si, mas também pelo modo displicente e ligeiro com que foram apresentados pelos meios de comunicação social.
O tratamento noticioso foi o reservado normalmente aos conteúdos de circunstância, inseridos em tom corriqueiro e banal na segunda linha dos noticiários.
Há temas assim, que são notícia mas não são novidade. O render da guarda no Palácio de Belém, a audiência papal das quartas-feiras, o anti-ciclone nos Açores...
A indiferença dos noticiários diz tanto sobre a degradação dos hábitos políticos em Portugal como os próprios factos acontecidos.
Numa eleição para a liderança do maior ou segundo maior partido nacional foi-se a ver da autenticidade das assinaturas que propunham um candidato e foi um tropeçar em assinaturas falsas, não duas ou três, mas muitas centenas, que incluíam até gente morta e mesmo alguns dos verificadores...
Dadas as dimensões do caso, e a forma como se processou, não é possível deixar de observar que quem agiu assim não foi um indivíduo solitário que o fez de forma esporádica, escondida e envergonhada - ao contrário, foram as hostes de uma candidatura que procederam descontraidamente como estão habituadas a fazer e a ver fazer, falsificando assinaturas às centenas, provavelmente em animados e improvisados grupos de trabalho reunidos apressadamente nas sedes partidárias em volta de listas desactualizadas de militantes.
Estamos perante a vida partidária em todo o seu esplendor - mas em plena habitualidade. Aquela gente reproduziu o que aprendeu e é costume.
Acontece que abusar deste modo da assinatura de outrem constitui crime, evidentemente. Ninguém, de entre tantos que organizaram os dossiers da candidatura, terá ficado perturbado com esse contributo para a criminalidade em larga escala.
E entre o pessoal da nossa imprensa o assunto também não causou emoção. As coisas são assim. É a vida.

Família moderna, 2000


Um quadro já antigo de Herbert Smagon.
Nota-se algum anacronismo: entretanto a visão cosmopolita da família evoluiu bastante, e ultrapassou notoriamente os arquetipos tradicionais retratados pelo artista. Os progenitores A e B ainda são apresentados como de sexos diferentes!

Futuro Presente


Se ainda não têm, tratem de encontrar a revista Futuro Presente. É uma revista tão boa tão boa que até consegue dizer bem de mim.

quinta-feira, maio 04, 2006

O homem ainda é Ministro?

Ninguém é obrigado a querer ser português... mas para ser Ministro de Portugal é exigível querer ser português!
Não pode ser governante de uma Nação quem tem como ideal a dissolução dela. Ou é um Governo ou uma comissão liquidatária!
Os portugueses que querem continuar a sê-lo, e nunca conferiram a ninguém mandato para a liquidação, devem protestar de imediato!
E já que nos meios de comunicação o nosso protesto não passará, protestemos junto de quem se proclama o presidente de todos os portugueses.
Digamos todos ao Sr. Presidente da República belem@presidencia.pt o que pensamos do Sr. Mário Lino.
O Dr. Cavaco precisa de quem o ajude a cumprir o seu mandato com dignidade.

Encontro de blogues


A odisseia de um Encontro de Blogues na terra de Florbela

quarta-feira, maio 03, 2006

Só visto

Comentário lido em "O Diabo":
"Uma mãe alemã anda apertada pela justiça por via de uns nove filhos que matou à nascença.
Parece uma injustiça!
Se a senhora fosse mais expedita, teria, em vez das maçadas da gestação e das dores do parto, tratado de abortar a tempo e horas. E em vez das chatices dos tribunais, teria agora o reconhecimento das abortadeiras de todo o mundo e até o senhor Louçã a apontaria como exemplo a seguir."
É tão rigorosamente verdade que não chega a ser irónico.
Por mim, recordo a propósito outra incongruência que frequentemente assalta certos discursos: é o proclamado desvelo com os direitos dos cidadãos deficientes na boca de quem em público ou em privado não resiste a argumentar com esses "casos" como evidências justificativas da bondade do aborto. Preocupam-se com a qualidade de vida daqueles a quem nem reconhecem o direito à vida!

Foi mesmo

(...) a primeira eleição democrática da era cristã foi ganha por Barrabás.

terça-feira, maio 02, 2006

Um livro para ler


O presente e o futuro de Portugal, por Augusto Fuschini. Edição Fronteira do Caos.

Sobre a pedagogia nova

O luciferino olhar do Dragão: analfabrutismo com todos.

CATARINA DE SENA

Um artigo de Gustavo Corção, como sempre precioso de ensinamentos; a arte e a profundidade, reunidos na prosa do grande escritor católico.

No dia 30 de abril a Igreja comemora a festa de Santa Catarina, que viveu numa das épocas mais perturbadoras da história do Ocidente tanto para o mundo, que nos fins do século XIV se despedia da civilização medieval e preparava os critérios de uma nova civilização, como para a Igreja, que sofria a divisão, o cisma, a crise do papado, e já começava a sentir as aflições que cem anos mais tarde produziriam a Reforma.
Tudo foi paradoxo e contraste na vida de Catarina. Alma contemplativa, nasceu numa turbulenta família italiana e teve de se envolver nos mais intrincados problemas da política de seu tempo. Humilde filha de um tintureiro de Sena, tornou-se pela força das circunstâncias conselheira dos Papas, diretora espiritual de seu diretor, e mãe de sua mãe. Analfabeta, deixou no seu Epistolário e no Diálogo, obras ditadas aos fiéis secretários que se revezavam na árdua tarefa de acompanhar os passos e os ensinamentos da santa, uma doutrina que até hoje serve de guia espiritual para muitas almas que procuram o caminho do Reino de Deus. Realmente, tudo foi contraste na vida da moça impetuosa que é a Joana d’Arc da Itália e que nada fica a dever à heroína francesa.
Lembrei-me de escrever estas linhas de homenagem à dolce mamma Catarina, porque ultimamente tenho pensado muito na moleza e na tolerância dos tempos modernos, que nos mais altos lugares são apregoados como virtudes máximas. Apeguemo-nos à adamantina dureza da santidade. Santa Catarina de Sena jamais abriria a boca, jamais emprestaria o seu sorriso de virgem ardorosa e pura para pronunciar melosas declarações de incondicional tolerância e falsa bondade. Catarina de Sena tinha ódios. Santa Catarina de Sena não saberia, jamais, fazer um programa de promoção do Reino de Deus naquele tom de amaciamento da vontade e de derrame sentimental. O que nos ensinam os santos, com palavras e obras, é que não basta o sentimento enternecido, nem basta traçar na areia a tênue linha que separa o bem e o mal. O que nos ensinam os santos é que é preciso, resolutamente, entre os céus e os infernos, erguer muralhas de ódio, e cavar abismos de amor. E o que nos ensina com particular insistência essa moça de vinte e poucos anos, Catarina, filha do tintureiro Benincasa, de Sena, é que devemos andar como os paladinos do Santo Sepulcro, entre duas cruzes, no peito e nas costas: a cruz do santo ódio e a cruz do santo amor. E é por isso que a Igreja, no dia de sua festa, dizia no Intróito da missa: Dilexisti justitiam et odisti iniquitatem, fórmula que bem exprime o claro-escuro, ou melhor, o preto-e-branco da vontade bem polarizada pelos mandamentos de Deus.
Santa Catarina de Sena poderia ser chamada a pregadora da santa nitidez. E não só a da vontade, a do preto-e-branco do ódio e do amor, mas também a da inteligência. Toda a doutrina ensinada por Catarina de Sena gira em torno de dois eixos principais que têm particular importância em nossos dias. O primeiro, relativo à ordem do conhecimento, consiste no preceito: “conhece-te a ti mesmo, em Deus”, que Etienne Gilson chamou de socratismo cristão, e que marca toda a espiritualidade da Idade Média, desde Agostinho até Catarina. O segundo consiste no preceito de combater e esmagar a vontade própria, fonte e origem de todos os pecados.
De início convém notar que o “conhece-te a ti mesmo” de Catarina de Sena não tem o sentido de introspecção psicológica, nem o mais alto de exame de consciência. Ambos são bons e úteis, cada um em sua ordem, mas o conhecimento básico que Catarina tem como preceito é de ordem ainda mais elevada. É preciso que a alma se conheça em Deus, que se reconheça como criatura, como ser sustentado pela Causa Primeira, mantido na existência pela vontade criadora de Deus. É preciso que a alma se ponha diante do Senhor e que, nesse refulgente espelho, descubra o seu Nada, o Não-Ser que só é ser por favor, por misericórdia, por bondade de Deus.
Será útil, a cada um de nós, o conhecimento de sua fisionomia psíquica e de sua situação moral, mas nada é menos socrático e menos freudiano do que o conselho de Catarina de Sena. Tanto o antigo como o moderno, cada um em sua pauta cultural, anunciavam a recuperação do homem por uma tomada de consciência e por uma recuperação de si mesmo por seu próprio esforço. Há um racionalismo antropocêntrico em Sócrates e em Freud, que é o oposto do ensinamento catarineano. O “conhece-te a ti mesmo” de Catarina é um conhecimento teologal, um conhecimento em confronto com Deus, um conhecimento que coloca a recuperação do homem num ato primeiro de renúncia, de apagamento e de humildade.
Não se trata de apreciar as peculiaridades de meu ser singular concreto, não se trata de começar por esse tipo de experiência que está na base de todos os existencialismos modernos, e sim de uma experiência fundamental, primeira, em que a alma se reconhece existente por um ato da vontade criadora de Deus, e daí, dessa primeira confrontação tira a fundamental atitude para a vida de relação com o mundo e com seu Criador. Não se diga, porém, que o “conhece-te a ti mesmo” catarineano é uma fórmula puramente essencial, puramente relativa à natureza universal do homem criado à imagem e semelhança de Deus. Não se trata de pensar somente em termo universais, assim como quem diz: o homem é uma criatura de Deus. Não. Trata-se de uma experiência mística, com toda a força existencial, com todas as dimensões do presente concreto e prático.
Quem se conhece, conheça-se a si mesmo, João ou Maria, conheça-se como alma existente diante de Deus. E descubra que é Nada se pretende por si mesma a ser alguma coisa; e reconheça que deve tudo, não somente os adjetivos que a adornam como também o substantivo nuclear de seu ser. A fórmula catarineana não exclui outros conhecimentos mesmos e posteriores, mas exclui categoricamente a primazia de qualquer outro conhecimento reflexo que não seja feito em confronto com o Ser divino.
Mais de uma vez Catarina adverte os seus discípulos contra as introspecções puramente humanas que só geram pecado e confusão. Para descermos aos nossos porões, para nos apalparmos e nos descobrirmos, é preciso antes de qualquer passo inseguro, acendermos a vela da Fé, o lumen Christi que vem da mesma fonte de onde emanou o nosso ser.
Repouse, leitor, o espírito perturbador pelas agitações do dia e pondere bem o que devemos a Deus. Aos homens devemos muita coisa que nos qualifica e nos valoriza. Aos nossos próprios pais devemos um dos mais importantes elos, mas ainda um elo da cadeia que se prolonga e que deve estar presa em algum Ser imóvel e não causado. A outros homens devemos coisas menores e mais superficiais: um favor, um ensinamento, um conselho, uma ajuda. A Deus devemos o existir que é coisa mais ampla e fundamental do que o viver. E é essa meditação que Catarina coloca na base de sua doutrina. “Conhece-te a ti mesmo, em Deus” é um primeiro ato de humildade, um primeiro e fundamental juízo de valor.
O mundo, depois de Catarina de Sena, seguiu caminhos diferentes. Não foi “na doce cela do conhecimento de si mesmo e da bondade de Deus” que o mundo ocidental construiu a nova civilização do individualismo orgulhoso. Estamos hoje em outro ponto da história em que, depois de tantas e tão cruéis experiências, talvez se encontrem ouvidos para a doutrina que coloca o homem no seu justo lugar: elevado, se ergue as mãos para Aquele que o pode enaltecer; rebaixado, se por si mesmo pretende subir. Há muitos problemas materiais e espirituais no mundo de hoje. Há milhares de problemas técnicos, desde o aproveitamento da energia nuclear até o aumento da produtividade agrícola. Há problemas políticos e culturais; há anseios de novas formas no domínio das artes, e anseios de novas experiências em todos os domínios da vida. Uma coisa, entretanto, permanece invariável. E enquanto não soubermos reconhecer a verdadeira colocação de nosso ser, enquanto não soubermos o que somos e o que não somos, vãs serão todas as pesquisas do universo e, de todos os esforços de todos os estudos, só tiraremos pecado e confusão.

segunda-feira, maio 01, 2006

São os petrodólares, estúpido!

Para ler sem falta, o breve postal de Mendo Castro Henriques no Duas Cidades: a relevância da escolha entre petrodólares e petroeuros.

La barbarie intérieure

Recensão de Yvan Blot sobre o livro «La barbarie intérieure: essai sur l’immonde moderne», de Jean-François Mattei (in POLÉMIA):

Pour le professeur de philosophie Jean-François Mattei, la crise de civilisation qui nous atteint trouve ses racines dans le marxisme et, au-delà, dans la Révolution française. Mais c’est en mai 68 qu’elle a pris une nouvelle dimension, particulièrement destructrice. L’auteur prend l’exemple de l’art, qui est très probant. La peinture moderne ne représente plus ni la figure humaine, ni les paysages, ni l’homme, ni le monde. Elle représente les états d’âme du «sujet». Et l’on tombe vite dans l’immonde car le sujet replié sur lui-même, prisonnier de lui-même, est l’antithèse du monde civilisé. C’est la «terrible bête» aux cent appétits, aux instincts libérés de toute contrainte civilisatrice dont parlait Platon. A la suite de Freud et de Marx, les idéologies soixante-huitardes venues des Etats-Unis (où elles ont prospéré avec l’émigration de l’Ecole de Francfort en Amérique) n’ont cessé de prôner la libération de la bête des contraintes de la civilisation bourgeoise. Et l’on s’étonne de la montée de la criminalité aux USA puis en Europe ! La barbarie a envahi l’éducation. Aux USA, en 2000, on comptait dans les écoles 11000 agressions à main armée, 7000 vols déclarés et 4000 viols constatés. «Selon le département de la Justice, 25 % des adolescents font état de gangs à l’école et 66 % déclarent pouvoir se procurer de la drogue directement en classe. L’erreur pédagogique majeure a été d’ouvrir l’école sur la vie au lieu de la protéger contre les intrusions. De plus, l’erreur vient de ce que l’élève ou ce qu’il en reste, ne s’intéresse plus aux connaissances extérieures que l’école peut lui apporter et donc à ce qu’il pourrait devenir, un homme cultivé, mais à ses besoins intérieurs qui ne renvoient en dernier ressort qu’à sa subjectivité brute. Non seulement le sujet n’est plus en mesure de se hausser à l’excellence requise par la culture mais il n’est plus en mesure de se dépasser lui-même en sortant de son exclusion intérieure.» Il y a aussi la barbarie politique qui prend deux aspects: la férocité des totalitarismes et la «vanitas» démocratique qui fait du sujet un Dieu. Pour le professeur Mattei, «le totalitarisme ne peut advenir que sur le sol d’une démocratie préalable dont les principes ruinent les sentiments, dont le formalisme subjectif ruine la substance de l’homme. Le monde démocratique a été la matrice de ces figures de la barbarie que sont le nazisme et le communisme parce qu’il avait déjà ramené l’homme à cette figure nouvelle de l’homme masse, la foule remplaçant le peuple». Et l’auteur cite Soljenitsyne pour nous avertir: «Un monde civilisé et timide n’a rien trouvé d’autre à opposer à la renaissance brutale et à visage découvert de la barbarie que des concessions (…). C’est l’état d’âme permanent chez ceux pour qui le bien-être matériel est devenu le but principal de leur vie sur terre. »

A comédia do Estado bisbilhoteiro

Um artigo de João César das Neves, no DN Online:

O nosso tempo pode ser muito cómico, até no meio das dificuldades. Portugal está em crise e boa parte dela vem do Estado. Há problemas gravíssimos na saúde, educação, justiça, finanças. As causas são variadas, mas uma razão é paradoxal: o sector público não faz o que é da sua conta porque anda a fazer o que é da nossa.
Pagamos uma fortuna todos os anos ao Sistema Nacional de Saúde para tratar as doenças, dar consultas, cuidar enfermos; ele não faz isso bem, mas ocupa-se a proibir o fumo. Nós dedicamos muito dinheiro às forças de segurança para prenderem os ladrões e protegerem os cidadãos; em vez disso andam a discutir umas décimas no grau de alcoolemia. Nós esbanjamos milhões no Ministério da Educação para ensinar os miúdos a ler, escrever e contar; em vez disso, dedica-se a congeminar educação sexual. O Ministério das Finanças arruína o País com os seus gastos, mas anda muito preocupado com o sobreendividamento das famílias.
Há umas décadas, quem tratava destes assuntos - tabaco, vinho, sexo, poupanças - eram as tias velhas e beatas. Sendo assuntos do foro pessoal, só algumas bisbilhoteiras se atreviam a comentá-los. Nessa altura, sem pachorra para aturar os ralhetes gongóricos, repudiaram-se as abelhudas moralistas. Passou a viver-se de forma desinibida e emancipada, participando numa sociedade livre e tolerante, que respeitava o indivíduo. Esta foi a grande vitória cultural de meados do século passado.
Rodaram os anos e as coisas regressaram à caricatura do que tinham sido. Agora entregámos os mesmos assuntos, que continuam do foro privado, aos burocratas, polícias, cientistas, fiscais. Já não temos de ouvir sermões edificantes ou censuras enfatuadas, mas somos forçados a suportar inspecções policiais, pagar multas, cumprir regulamentos incompreensíveis, aturar supostos especialistas e estudar manuais escolares sobre esses temas. E chamamos à nossa uma sociedade livre e sem tabus, avançada e descomplexada.
A verdade é que vivemos um moralismo legal mais asfixiante e petulante que qualquer teocracia da Antiguidade. Os decretos ministeriais metem o nariz em tudo, do brinde do bolo-rei aos galheteiros nos restaurantes, dos coletes retrorreflectores nos carros aos locais de piquenique. Os menores detalhes da vida privada estão estatuídos em leis, códigos, despachos. A grande parte dos debates políticos da sociedade actual ocupa-se, não de problemas públicos, mas da vida íntima. Num tempo que se julga livre de dogmas e censuras, o grande tema de partidos, deputados, portarias são os hábitos e costumes, o conforto e intimidade, os valores e opções. Não há paralelo na História para esta ditadura moral, nem sequer na república florentina de Girolamo Savonarola. Chegámos ao paroxismo de governos, baseados em maiorias ocasionais, se acharem com direito a redefinir conceitos milenares, como casamento e família, vida e morte.
Como foi possível esta evolução? Como se entende que os ideólogos da sociedade aberta estejam a repetir, em pior, a atitude que mais repudiam? Há várias justificações para este paradoxo. A primeira vem do facto de, enquanto as velhas beatas estavam interessadas no bem--estar daqueles a quem ralhavam, hoje o Estado diz preocupar-se com terceiros. O motivo da lei não é a limitação da liberdade individual, mas os fumadores passivos, os acidentes rodoviários, a gravidez indesejada, o ambiente poluído, o desequilíbrio financeiro nacional.
Isso quer dizer que numa sociedade aberta é possível ser moralista e constranger as pessoas se a preocupação for com outros. A falácia está precisamente aí. A lei proíbe o fumo, mesmo se os fumadores passivos não se incomodarem ou sequer lá estiverem. O planeamento familiar e educação sexual podem impor um comportamento moral, se for sob capa de resultado científico.
Há um outro elemento curioso. O moralismo estatal de hoje julga-se progressivo porque defende o contrário do que diziam as antigas beatas. O que elas repudiavam é hoje recomendado, enquanto se proíbe aquilo que toleravam. O nosso Governo moralista facilita o divórcio e pornografia, protege os toxicodependentes e endividados. O que ele reprime violentamente é o copito a mais ao jantar, um bom charuto no bar, o lixo nas matas, o sexo sem preservativo. Isso é que são atitudes infames, inaceitáveis, que o nosso tempo tolerante não pode tolerar.
Uma coisa é evidente: as gerações futuras vão-se fartar de rir de nós.