domingo, fevereiro 28, 2021

FALEMOS ENTÃO DO MRPP

 Um tema curioso a explorar seria o impulso policial que sempre esteve presente no MRPP. Depois do 25 de Abril são conhecidos os episódios dos sequestros e perseguições por parte do MRPP, inclusivamente com prisões particulares (o que implicou organizar gente e casas secretas já como um embrião de polícia política). Os relatos vindos a público sobre Marcelino da Mata e os restantes dessa ocasião são uma afloração disso (lembro o Conselheiro Agostinho Veloso e seu filho, mais tarde Professor José António Velozo). Mas não se julgue que a obsessão persecutória virada contra os "fascistas" em 74 e 75 era limitada a esse combate "anti-fascista". Desde o início a preocupação de policiar estava também virada contra os seus próprios membros. Daí os acontecimentos ocorridos quando das dissidências, e a violência que assumiram. Insere-se nisso o episódio recentemente recordado de Maio de 76 em que o dirigente Fernando Rosas comandou uns capangas de pistola em punho no assalto às casas de uns dissidentes, com o respectivo espancamento, para lhes retirar o espólio que diziam pertencer ao partido (a questão do arquivo fotográfico do fotógrafo Eduardo Miranda tem a ver com isto, as notícias não explicavam). Quem tiver memória pode lembrar-se daquilo a que chegaram os combates entre a "gloriosa linha vermelha" do "grande educador do proletariado" Arnaldo Matos contra a excomungada "linha negra" do "renegado Saldanha Sanches". Mas deve dizer-se que a purga muito mais recente contra Garcia Pereira, ainda comandada por Arnaldo Matos, assumiu contornos verbais muito semelhantes (neste caso parece que só verbais). Porém, parece-me acertado observar que o impulso policiesco e terrorista esteve sempre presente no movimento, logo nos anos iniciais, antes do 25 de Abril (e não se trata só da Ana Gomes..) Como algo significativo, deu-me para reparar na quantidade de militantes da primeira vaga, como Ana Gomes, que na altura de normalizar as suas vidas ingressaram no Ministério Público, onde fizeram excelente carreira. Assim de repente e só de memória: Maria José Morgado, Dulce Rocha, Lucília Franco (agora PGR), Carlos Morgadinho Gago (marido da actual PGR), Liliana Palhinha, Aurora Rodrigues, Teresa Almeida ... Outro pormenor interessante, é a transição de outros para o universo jornalístico. O que sempre assegurou uma excelente cobertura para as carreiras de uns e outros.

terça-feira, fevereiro 23, 2021

LEMBRANDO A REVISTA TEMPO PRESENTE

O aparecimento, em 1959, da revista tempo presente, que tinha como director Fernando Guedes, um conselho de redacção formado por António José de Brito, António Manuel Couto Viana, Caetano de Melo Beirão e Goulart Nogueira e secretário, João Manuel Pedra Soares – e, a partir do segundo ano, número 13, também Artur Anselmo, único secretário no último ano – e, como editor e proprietário José Maria Alves, veio contribuir para um debate que, não sendo novo entre nós, ganhava, então como hoje, uma premente actualidade. O debate era amplo e versava várias questões. Logo à partida, o que se entende por cultura e cultura portuguesa, pois de uma revista portuguesa de cultura se tratava. Uma segunda nota é que a cultura é sempre uma cultura viva, que alia o pensamento e acção ou transforma o pensamento em acção. TEMPO PRESENTE


domingo, fevereiro 21, 2021

ESPANHA NA CORDA BAMBA

 É da natureza da Espanha viver perigosamente. A sua situação normal é à beira do abismo. Actualmente tem um governo formado por dois partidos em coligação. Um deles precisa de manter a ordem pública, sob pena de tudo desabar e lhe cair em cima, e o outro precisa de apoiar a desordem da rua, porque as suas hostes não lhe permitem outra atitude.

Podia pensar-se que o governo está por dias, dada a incompatibilidade e a guerrilha constante entre os parceiros, e até pode acontecer que a corda se parta. Mas não é fácil. O PSOE está farto do Podemos e animado com as sondagens, mas teme avançar para eleições e a seguir apesar dos bons resultados precisar novamente de negociar com os mesmos (os bons resultados quase certos não são a maioria absoluta). O Podemos sabe que tem que ser fiel ao seu revolucionarismo congénito, sob pena de se esboroar a base, mas também sabe que em eleições antecipadas ficaria a perder. E as benesses do poder não são nada para deitar fora.


Assim, mesmo detestando-se é provável que se esforcem por aguentar o arranjinho.
Do lado direito não se perfila uma solução viável que permita a governabilidade. Se as eleições fossem agora o conjunto dos três partidos que contam nessa área talvez atingisse 40% dos votos, divididos pelos três. Se demorarem mais tempo, e a manter-se a tendência actual, é muito provável a modificação do equilíbrio entre os três. Mas os três somados provavelmente ficarão no mesmo patamar.
Só poderá alguma vez alterar-se esta situação se a direita conseguir captar o eleitorado da esquerda, o que a meu ver só poderia ser tentado pelo VOX, com muito mais vocação popular, já que o PP e o Ciudadanos não têm essa apetência (podia aproveitar neste ponto para dizer que em Portugal o mesmo se passa, e que o Chega deve dedicar-se a conquistar o eleitorado popular que tem sido abandonado para a esquerda e que agora se sente abandonado pela esquerda, mas espero que os meus leitores entendam isso mesmo sem eu dizer nada).
Voltando a Espanha, de momento, tanto quanto se alcança, não há solução. Estes não conseguem governar, e os outros ainda menos.

A GUERRA PELA HISTÓRIA


A 14 de Fevereiro último saiu no Público um artigo do investigador Duncan Simpson sobre o tema das relações entre a sociedade portuguesa e a PIDE em que logo para abrir um excerto me chamou a atenção (pareceu-me ter um tal potencial explosivo que só mesmo um estrangeiro podia ter escrito aquilo sem se dar conta disso).
É este: "desde Abril de 1974, quando as forças “antifascistas” asseguraram o domínio da memória colectiva sobre a PIDE, as relações entre a sociedade portuguesa e a polícia política do Estado Novo têm sido analisadas exclusivamente sob o prisma da repressão exercida sobre a pequena minoria de portugueses que se envolveu na oposição ao regime."
O autor dizia expressamente que só uma pequena minoria de portugueses se envolveu na oposição ao Estado Novo, e que só sobre essa pequena minoria tinha sido exercida a correspondente repressão.
Ora isto é verdade, é uma evidência, uma banalidade, um truísmo - mas é algo que não se pode dizer.
Dizer que só uma pequena minoria de portugueses se envolveu na oposição ao antigo regime, é violar um tabu, uma interdição absoluta. Só mesmo um estrangeiro diria aquilo com aquela naturalidade.
Neste excerto o tal Duncan atacou em cheio um dos mais sagrados mitos fundacionais do regime. Anátema! Blasfémia!
Pareceu-me logo que os donos da verdade oficial nunca mais o iriam largar. Não poderiam admitir tal desaforo, e deixá-lo sem resposta.
E efectivamente não me enganei. Saltaram logo os cães de guarda da verdade obrigatória.
Primeiro Luísa Tiago de Oliveira, depois Luís Farinha, depois Irene Flunser Pimentel, com grau de violência sempre crescente, a historiografia institucional instalada veio ao Publico desancar no herege. Creio que não se ficarão pelos três artigos. Faltam uns quantos que não quererão faltar. Ainda não apareceu o Rosas, nem o Loff, nem surgiu nenhum manifesto de indignação e desagravo.... Ainda nem fizeram nenhuma petição a mandar o Duncan para a terra dele!
Mas lá chegaremos. Bem pode o Duncan protestar que sempre foi de esquerda. A dizer coisas daquelas nem o Pacheco Pereira lhe perdoa.
Eles sabem o que Orwell ensinou: "Quem domina o passado, domina o futuro. E quem domina o presente, domina o passado". É preciso dominar o presente, sob pena de se perder o domínio do passado e por essa via perder também qualquer domínio sobre o futuro.

sábado, fevereiro 20, 2021

O “25 de Abril” queimou livros das escolas

Despacho assinado pelo secretário de Estado da Orientação Pedagógica, Rui Grácio, de 17 de Outubro de 1974:
«Tendo sido informado de que nas Bibliotecas dos estabelecimentos de ensino existe quantidade apreciável de livros e revistas de índole fascista, determino que seja elaborada uma circular ordenando a destruição das publicações com esse carácter, depois de arquivados um exemplar, pelo menos, de cada revista e alguns livros a seleccionar, que fiquem como documento ou testemunho de um regime.»
Em 26/3/75, a directora-geral da Educação Permanente, Maria Justina Sepúlveda Fonseca, anuncia aos encarregados das bibliotecas, através da circular nº 1/75, que "é chegada a oportunidade" de se passar, "com urgência", ao "saneamento dos livros que não reúnam condições ideológicas, literárias ou técnicas para continuarem a ser dados à leitura".
Nesse período eram ministros da Educação: Vitorino Magalhães Godinho e Major António Emílio da Silva.
Entre os autores a cujas obras foram queimadas em algumas escolas, cumprindo as ordens das autoridades escolares, estavam as dos historiadores António Matoso e José Hermano Saraiva (Ministro da Educação Nacional 1968-1970) que declarou ao Publico em 24/7/05: «Os professores em geral não queriam [cumprir as instruções do Ministério] e muitos guardaram os livros. Mas quem é que ousava protestar sem ser logo caluniado? Eu próprio não o fiz. Era pobre, não tinha nenhuma reforma, e concerteza que me mandavam para Caxias. Tinha amigos lá presos por menos do que isso. Até 25 de Abril de 1974 havia 88 presos em Portugal; três meses depois eram três mil. A liberdade acabou com o 25 de Abril».

TEM QUE SER O POVO

 Para qualquer observador que queira ver, há uma verdade indiscutível: a Leste como a Oeste, quando o comunismo caiu isso ficou a dever-se às classes populares. 

Foi o povo, na Rússia ou em Budapeste, em Portugal ou no Brasil, quem fez a história recente, e rejeitou uma ideologia que sempre representou uma violentação da natureza.

Não foram os intelectuais, que desde o início se viciaram nesse ópio. Não foram os jornalistas cúmplices. Não foi a classe política medrosa e calculista. Não foi a universidade, rendida a todas as aberrações. Não foram os ricos, sempre dispostos ao compromisso, ao negócio e à desonra. 

Não foram as elites, sempre disponíveis para transigências, abdicações e traições.

Foi realmente o povo que os vomitou, e só não o fez noutros sítios porque a força das armas ainda o consegue reprimir.

Esta lição é válida, actual e urgente em Portugal. Quem quiser fazer política deve falar para o povo. Directamente para o povo, e simplesmente para o povo. Sem rótulos, porque esquerda e direita são rótulos.

O que importa é falar para quem trabalha, para quem vive nas nossas aldeias e nas nossas cidades e enfrenta as dificuldades do quotidiano, para todos aqueles que sentem ainda que confusamente que os seus valores são desprezados, as suas tradições agredidas, os seus interesses esquecidos.

Se existe ainda um reservatório moral da nação, está nas classes populares. Falemos para esses, dêmos-lhes a palavra,  façamos ouvir a sua voz.

sexta-feira, fevereiro 19, 2021

O único jornal da direita que não é do centro?


 

quinta-feira, fevereiro 18, 2021

O VOTO EM ESPANHA


Trago para aqui as estimativas sobre os hipotéticos resultados de eleições gerais em Espanha, segundo sondagem hoje divulgada.

Chamo a atenção dos leitores, para que façam a sua própria análise, mas a mim impressionou-me muito a semelhança com a evolução do voto em Portugal.
Não pode ser um acaso, coisa circunstancial, porque a repetição e a manutenção destas tendências, em Portugal como em Espanha, só permitem concluir que estamos perante uma tendência que se consolida e sedimenta nas duas nações ibéricas.
Assim, lá como cá, o Partido Socialista recolhe cada vez mais os votos da massa instalada ou resignada, e fortalece a sua primeira posição.
Muito longe, e cada vez mais incapaz de sair dessa posição, surge o PP de lá, que é o PSD de cá.
E em terceiro lugar, como terceira força em ascensão, rompendo por entre os bloqueios, aparece o VOX, que é o CHEGA de lá.
O resto é residual, é a dura luta pela sobrevivência dos esquerdismos vários.
O Podemos, BE, PCP, etc., na realidade só já estão a competir entre eles, e a batalhar para descer o menos possível.
(O CDS e a IL também ali estão, nos 9% do Ciudadanos).
Os particularismos existem, mas o quadro em traços largos é este.

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

JOÃO CAUPERS

O novo presidente do Tribunal Constitucional está a provar o acerto das suas considerações sobre a força mediática de certas minorias.
Apetecia-me dizer que é bem feito, porque na verdade ele toda a sua vida de adulto andou encostado ao PS tanto quanto lhe convinha.
Mas não podemos ignorar como isto é perigoso. A força extraordinária de certos grupos de pressão contamina e distorce todo o espaço público. O homem está a ser cilindrado na comunicação social por dizer umas quantas banalidades, como por exemplo "resulta da natureza que os filhos têm mãe e pai".
Creio que o próprio terá ficado surpreendido com o poder das forças atacantes. Nós não, porque já temos experiências anteriores, mas convém ter presente a lição. Qualquer um pode ser designado como alvo, e contra estes poderes instalados dificilmente se consegue sobreviver.
A guerra pela captura e controlo dos meios de comunicação social continua a ser decisiva nas nossas sociedades altamente mediatizadas. Não abandonemos as trincheiras!

domingo, fevereiro 14, 2021

HEROÍSMO

"O gosto pelos ideais alevantados ergue o homem do domínio da Natureza bruta, liberta-o da escravidão dos instintos e faz com que ele não se reduza à satisfação das necessidades materiais, antes valorize, sobretudo, aquilo onde se reflecte o Bem, a Beleza e a Verdade. Esse gosto é espiritualidade, é a noção de que o Bem, a Beleza e a Verdade estão na luta que travamos para emergir da bruta lei da necessidade, para nos não submetermos à matéria, para nos negarmos ao egoísmo. Esse gosto é a noção de que podemos ser melhores e isso consiste em nos darmos ao que é melhor. Sabendo que a procura e a afirmação destas coisas aparecem em cada um em grau diferente, ficamos a ter consciência de um gradualismo, de uma hierarquia segundo essa procura e afirmação. Os que vão à frente são personalidades excepcionais. Os que mais lutam, que mais renunciam à egoísta satisfação, que correm mais riscos e vencem mais obstáculos - são os heróis. Deste gradualismo resulta um sentido de Justiça."

(Goulart Nogueira)

SERVIÇO E MISSÃO

Há frases que são como chaves ou orientação. Há frases que são divisa e norma de vida, que são expressão de toda uma atitude, significado de todo um universo. Por isso, devemos tê-las sempre presentes, repeti-las mil e umas vezes, trazê-las sempre na memória, no afecto, na acção, martelá-las constantemente para que as gentes se repassem delas. Uma dessas frases iluminadoras e criadoras é a afirmação de Nietzsche: «O mundo só tem o sentido que nós lhe dermos».
Nesta hora confusa e turbulenta, nesta época demissionária e mentirosa, neste globo enlouquecido e tomado pela inversão de valores, nós precisamos de avançar, firmes, e tornarmo-nos conscientes de que «o mundo só tem o sentido que nós lhe dermos».
Podem vir os comunistas, os materialistas dialécticos, as gentes da moda, as multidões como carneiros, podem vir falar-nos no sentido da História, na fatalidade, na irresistível marcha de um progresso materialista e subjugado às forças económicas. Nós sabemos que, contra a força da matéria, triunfará a força do espírito, sabemos que, contra a fatalidade da economia ou da moda ou duma avalanche de acontecimentos, se levanta o comunicante e criador fogo do ideal e da vontade, sabemos que, contra a bruta imposição da quantidade, surge, a resistir-lhe ou a transformá-la e orientá-la, a qualidade. «O mundo só tem o sentido que nós lhe dermos.»
Parecerá loucura não cedermos aos ventos da moda e aos tristes sinais dos tempos. De facto, Portugal parece estranhamente deslocado num globo tal como vai, estranhamente antiquado numa época de progressismo, de abandono e de libertações apressadas. O raro exemplo que damos ao mundo é coisa escandalosa, singular empresa. Mas nós não cedemos à maioria nem às afirmações de fatalismo, não cedemos a esta moda estúpida, nem à onda avassaladora que ordena à civilização que se demita. Estamos numa encruzilhada da História. Talvez estejamos às portas duma nova invasão de bárbaros, talvez seja o termo da nossa Idade Moderna, pois que, como no fim do império romano, os herdeiros da civilização andam, amolecidos, gozadores e cobardes, a lisonjear a barbárie e a abastardar as antigas virtudes. Talvez a Europa, o Ocidente, fiquem, de novo, presa dos infiéis. Mas nós, como Covadonga, resistiremos. A nossa vontade e a nossa fé triunfarão por fim. «O mundo só tem o sentido que nós lhe dermos.»
Reune-se contra nós uma barafunda confrangedora: barulhentas gralhas, pegas ladroeiras, tigres sanguinolentos, ridículos saguis, cobras rastejantes, panteras traiçoeiras, crocodilos de lágrimas fingidas, asnos muito asnos, avestruzes que metem a cabeça no chão, escorpiões que envenenam com a cauda. É um pandemónio. É uma gritaria. É um nojento coro de hipócritas indignações. Povos meio selvagens arrogam-se o estandarte da civilização. Gentes em guerra fratricida temem pelas ameaças à paz. Esmagadores de populações patrióticas e quase indefesas falam em afirmação dos direitos. Aprisionadores de nações elogiam a autonomia e a liberdade. Estados onde há escravatura esganiçam-se pela dignidade humana. Plutocráticos exploradores dos países chamam-nos imperialistas, a nós. E eles o que são? Hipócritas e mentirosos, assassinos e tiranos. Ei-los em chinfrineira atroadora, num tropel ameaçador. Mas nós não desistimos. Não nos entregamos à corrente despenhada, à balbúrdia. Porque «o mundo só tem o sentido que nós lhe dermos». A nossa vontade poderá mais do que a multidão insana, saqueante e suicida. O mundo, como a História, é uma criação humana, uma criação do espírito. Não é um produto da matéria bruta. É a revelação de Deus.
Noutras épocas, demos «novos mundos ao mundo», criámos e difundimos civilização, dilatámos a Fé e o Império. É essa a nossa vocação: serviço. É essa a nossa missão: serviço. Portugal quer servir a causa da humanidade, os valores supremos. Portugal eleva, material e espiritualmente, os povos que descobriu e conquistou, trá-los ao convívio da civilização e da cultura, arranca-os ao estado primitivo e selvagem, desenvolve-os e aumenta-os, consolida-os e dá-lhes fisionomia nacional, portuguesa, integra-os, adopta-os, considera-os filhos como realmente são, porque a alma deles forma-se para a vida das sociedades e do mundo ao bafo criador de Portugal. Portugal sabe que o valor mais alto é a unidade, não a dispersão, e, por isso, em vez de separar os povos de si, vai-os gerando e fazendo crescer no próprio corpo a alma de Portugal. Esses povos descobertos por Portugal não possuem, autenticamente, outra realidade que não seja Portugal. Na História de Portugal se confundem. A História de Portugal não existe sem eles. Cortá-los de Portugal é como quem mutilasse alguém, cortando-lhe braços, dedos, lábios. Eles são Portugal. Arrancá-los de nós é crime contra a nossa Pátria Portuguesa e contra o ideal humano também. Os traidores e os nossos inimigos estrangeiros, a moda e a estupidez, querem criar nações artificialmente, autonomias do que não tem personalidade histórica e civilizadora à parte. Querem interromper a nossa acção civilizadora e o nosso serviço a favor das integrações e da unidade. Querem dispersar, separar violentamente, criar a divisão, fomentar as rivalidades, gerar o ódio e o ressentimento, provocar a inveja, acicatar a revolta, despertar o egoísmo, soltar a subversão. Os ventos da loucura sopram no planeta, os demónios, como nuvem de gafanhotos, tudo toldam e ensarilham. Portugal resiste, porém. Ergue-se, dentre a poeira e a tempestade; como herói, ergue-se, furando a lama e desafiando os projécteis, ergue-se com a face para as alturas. Mais uma vez estamos em minoria e em recursos minguados. Mas Portugal quer dizer serviço e missão. «O mundo só tem o sentido que nós lhe dermos.» Portugal dará um sentido a mundo. Portugal é Pátria e condutor. Portugal é alma e gloriosa terra herdada. Portugal não pode morrer. 

Goulart Nogueira
(In Tempo Presente, n.º 22, págs. 3 a 5, 1961)

HONRA AOS HERÓIS!

 O funeral do Tenente-Coronel Marcelino da Mata, herói militar português, será na próxima segunda-feira, dia 15, às 11 horas no Cemitério de Queluz (Talhão dos Combatentes).

 


sexta-feira, fevereiro 12, 2021

LIBELO CONTRA A DIREITA CONSERVADORA

 Não se trata de defender uma atitude de pura destruição, nem de anarquismo, nem de futurismo desgarrado, nem de progressismo utópico ou que vai sumir-se no ventre da esquerda, nem de revolução total e cega. Existem valores permanentes, realidades a conservar, naturezas a assumir, existem coisas que se transmitem, com justiça, através dos tempos e no concreto.

O que eu combato é a posição de rotina e o materialismo prático. Insurjo-me contra a mediocridade (quer seja dourada e espampanante, quer seja frugal e austera), a mediocridade esperta ou burra, a mediocridade sentada, a mediocridade de pedra e cal. O conservador lembra comida de conserva, enlatada; e intoxica. O conservador possui uma boa escrita, contabiliza; muito previdente, não se arrisca a perder nem se vota a sonhos e grandes empreendimentos de alma. O conservador pensa na arca e na barriga. O conservador opõe-se, no fundo, ao espírito, ao espírito ilimitado e viajeiro; de espírito, só admite um grão de sal, para não parecer animal de todo, mas a vasta substância é matéria, grave, pesada, a suar e resfolegar experiência. Tem pé de chumbo, pupilinha acesa, abundosa nádega roçando na lareira ou encaixada na poltrona dum conselho de administração.
O conservador, como o porco, defende a gamela e, se tem ambições, é a de uma gamela maior. Burocrata, administrador, tecnocrata, aí o vemos sempre sensato. Detesta qualquer espécie de loucura. Teme, despreza, censura e combate os apaixonados, os idealistas, os desmedidos. Não percebe a raça de gente como Afonso Henriques, Nun`Álvares, os descobridores, os bandeirantes, Afonso de Albuquerque, os conjurados de 1640, Mouzinho de Albuquerque, Camões. Engalinha especialmente com os poetas, com os artistas, lunáticos inveterados, quando a conservação está em refocilar bem os pés na terra. Aí, sim!
Dizem que o conservador pertence às direitas. Talvez, mas então será a sua degradação e caricatura, a sua doença e o criminoso da família. Porque nem toda a direita é aquilo. Aliás, eu não me interessa que nos coloquemos simplesmente nas direitas. O fascista real — e não aquele que pintam — situa-se para além de direitas e esquerdas. Em primeiro lugar, porque as não reconhece legítimas; em segundo lugar, porque descende de umas e outras; em terceiro lugar, porque alcançou uma posição mais avançada.
A direita conservadora quer a tranquilidade e a segurança — e para isso venderá a alma ao diabo e acabará enterrando na adega quantos ideais houver. Não admite é sobressaltos, violências, extremismos. Tem um arrepio e lança uns protestos indignados, quando conspurcam as glórias pátrias, atacam a nossa herança ultramarina, fazem a demolição ciclónica da religião, ameaçam frontalmente dissolver a família, ou clamorosamente, em regabofe, praticam e trombeteiam o amor livre. Mas se a coisa vier docemente, empantufada, com flores e por aliciantes arroios — com boas maneiras, sim! —, já o caso muda de figura. A direita conservadora fica a escutar violinos, ao canto da lareira, a ver televisão ou ronronando, tolera, fecha os olhos, abranda, deglute o bolo às migalhas e acaba por ser habituar. Sobressaltos, violências, extremismos é que não!
A direita conservadora é moderada. Claro que existem coisas más, feias, indignantes. Mas não é preciso reagir de dentuça arreganhada, ao tabefe e com pulso de ferro, ou de arma aperrada e fulgurante. Claro que o espírito e o ideal são precisos e bons; mas não exageremos, nem vamos perder o sossego e o bem estar, em aventuras, perigos e aflições, por causa das ideias, de espiritualismos e quejandos enxoframentos de adolescente cabeça ardorosa.
A direita conservadora não quer pensar muito; nem sentir muito. Disso, um condimentozinho, apenas; q. b. Livra, que doses altas podem tirar o sono ou dificultar a digestão! Portanto, adoram um governante que pense por ela, como ela sensatamente, tolerante, de fino trato, prático, livre da terrível praga da ideologia; e que sinta? Também sim, que sinta que ela, direita conservadora, não quer sobressaltos e que não se importa de deslizar para qualquer banda, no caso de ser sem prejuízos materiais e sem violências. A direita conservadora é centrista e, assim, voga, beatamente, se preciso, segundo os ventos da História — mas sem o dizer.
A direita conservadora é um molusco. E no entanto, resulta num penhasco gigantesco e obstrutor para o movimento revolucionário de Justiça e Ideal.
Goulart Nogueira
In «Política», n.º 19, pág. 6, 30.09.1970

A época das redes

 Para compensar o silêncio ou a hostilidade dos media tradicionais, que nunca poderemos contrariar no mesmo terreno, é forçoso investir a nossa energia militante no activismo cibernético.

E talvez que isso acabe por ser uma vantagem, pois este é o único meio de comunicação que está em crescimento, e em crescimento vertiginoso. 

Aceleradamente tende a suplantar, substituir ou determinar todos os restantes. A nossa época é a época das redes, para usar a expressão de Alain de Benoist.

A rede das redes é esta. Ainda bem que cada vez mais gente nossa começou a compreender que a tarefa de erguer aqui a sua própria rede é a única forma de escapar à situação de fazer política sempre na dependência dos 30 segundos que os outros queiram benevolamente conceder.
O trabalho na internet, de informação, formação, divulgação, de criação de poder através de uma rede o mais alargada possível de modo a tocar o maior número possível de destinatários, é essencial e decisivo nos tempos actuais. É a batalha do futuro. 

Levanta-te e anda!

- Ó mocidade, a voz do mar
Que diz?
- Mistério.
- Acorda bem. Torna a escutar.
Que diz?
- Império.

Levanta-te e vai! Vive! Luta
Olhos no céu!
Reza! Grita, que quem te escuta
É o mar, que é teu.

Luta! Mil anos vais levar
Dois mil ou três?
Começa! Tens de começar
Alguma vez.

Que importa o sol, a chuva, o vento,
Mil anos são um só momento
Na eternidade.

Olha o caminho que é direito.
O fim lá está.
Levanta os olhos! Dilata o peito
E vai! Vai já!

Fernando Lima
In «Agora», n.º 289, pág. 10, 17.12.1966.

quinta-feira, fevereiro 11, 2021

Da língua portuguesa

 Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.
Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do Verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo...
Por outro lado, o esforço contínuo de um homem para se exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção e de acento, em idiomas estranhos - isto é: o esforço para se confundir com gentes estranhas no que elas têm de essencialmente característico, o Verbo - apaga nele toda a individualidade nativa. Ao fim de anos, esse habilidoso, que chegou a falar absolutamente bem outras línguas além da sua, perdeu toda a originalidade de espírito, porque as suas ideias forçosamente devem ter a natureza incaracterística e neutra que lhes permita serem indiferentemente adaptadas às línguas mais opostas em carácter e génio. Devem, de facto, ser como aqueles corpos de pobre, de que tão tristemente fala o povo, que cabem bem na roupa de toda a gente.
Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo servil de não sermos nós mesmos, de nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio - o Vocábulo. Ora isto é uma abdicação da dignidade nacional.
Não, minha Senhora! Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! ...

 
Eça de Queiroz (in "A Correspondência de Fradique Mendes", 2ª. ed. Porto, 1902. pág. 142)

Pensamento e acção

 Nestes tempos em que a lucidez mandaria limpar armas, a imagem oferecida pela área dos que se dizem nacionalistas é deveras desoladora. Para os que guardam a ilusão de que tudo poderia ser diferente deve ser mesmo angustiante. Numa época em que todos os sinais dos tempos parecem indicar a iminência de grandes coisas, quando o mundo em que nascemos parece abanar por todos os lados e estar em vias de afundamento, seria de esperar que os que a si mesmos se elegeram paladinos de uma Nova Idade ao menos se erguessem em vigilância tensa, aptos e disponíveis para os combates que não podem deixar de vir.
Mas não. É como se os nacionalistas portugueses à força de “viver habitualmente” lhe tivessem tomado o gosto. Mesmo quando tudo aconselha a fazer o contrário. Parece que a habitualidade lhes corroeu a imaginação e a audácia, a inteligência e a fé. Assim, enquanto muitos dormem outros fazem flores.
Alguns limitam-se a repetir erros antigos; no entusiasmo gregário de fardas, hinos e bandeiras, esquecem as ideias, que são sempre o mais importante. Movem-se em círculo fechado, parados no tempo, fazendo gala de uma estética ultrapassada e de uma linguagem que só ela constituiria barreira suficiente para impedir a aceitação pela massas, cujo espírito crítico é apesar de tudo capaz de rejeitar a retórica balofa de quem nada traz de novo.
Outros nem se dão ao luxo de cometer erros. Encerraram-se nas suas torres de marfim, inventaram alibis mais ou menos consoladores para as próprias consciências, e esperam em casa que a história lhes vá bater à porta.
Poucos são os que, no cepticismo de quem conserva a cabeça fria e o espírito lúcido, se mantêm no seu posto sem desânimo nem descrença, sabendo que o futuro começa agora e que Deus costuma ajudar aqueles que se ajudam. Na trincheira que a cada um de nós coube sabemos que é preciso dar forma nova às verdades eternas, deixar morrer o que merece ser enterrado para afirmar no seu fulgor imaculado os princípios que nos comandam. Dentro da linha de modernidade e vanguardismo que é própria dos que se querem construtores do Futuro.
Apesar do panorama traçado não se julgue que pensamos haver razão para derrotismos. Antes pelo contrário: pensamos que o desespero é uma estupidez desprezível. Parece-nos que nada há de estranho em que as coisas sejam como são, e as explicações nem são muito difíceis de encontrar. E acreditamos que o fermento constituído por aqueles que nunca desistiram de intervir, e conhecem o mundo e a história, e sabem o caminho, há-de ser bastante para vencer a ganga que ao passado pertence e imprimir o rumo que leva à vitória.
Para os que não percebem muito bem o que isto quer dizer, deixamos uma frase para reflexão, esperando não os deixar ainda mais perplexos: “Todas as juventudes conscientes das suas responsabilidades tentam reajustar o mundo. Tentam pelo caminho da acção e, o que é mais importante, pelo caminho do pensamento, sem cuja constante vigilância a acção é pura barbárie”.
A frase é de José António e é sempre grata de recordar por quem sente que ela, por direito adquirido, também lhe diz respeito.

Formar um escol

 «Vencer a matéria pelo espírito. O que seria preciso era a formação de um escol. A Filosofia Portuguesa é que tem o segredo da espiritualidade necessária para a transformação do Mundo. Não podemos esquecer Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Sampaio Bruno, Álvaro Ribeiro, José Marinho, Agostinho da Silva, e muitos outros. Mas, se é a Filosofia Portuguesa que tem o segredo dessa espiritualidade, os mais novos é que têm o segredo da transmutação. Se os jovens forem na corrente actual, então está tudo perdido. Nota-se, de facto, muitos jovens interessados no pensamento português. Se daqui resulta algo, só Deus é que sabe. Nós temos é de fazer as coisas.»

 (António Telmo)

Orientações

 Na nossa ordem política, a primeira realidade é a existência independente da Nação Portuguesa (...)
Desta forte realidade e desta primeira afirmação, outras derivam imediatamente: a primeira é que estão subordinadas aos supremos objectivos da Nação, com seus interesses próprios, todas as pessoas singulares e colectivas que são elementos constitutivos do seu organismo; em contraposição e garantia da eficácia superior deste sacrifício afirma-se também que a Nação não se confunde com um partido, um partido não se identifica com o Estado, o Estado não é na vida internacional um súbdito mas um colaborador associado. Em palavras mais simples: temos obrigação de sacrificar tudo por todos; não devemos sacrificar-nos todos por alguns.
Tão evidentes e naturais são estes princípios que defini-los pode parecer uma superfluidade. Mas a quem considerar algumas das ideologias que estão tendo o favor do nosso tempo, tais pontos de partida hão-de aparecer como a primeira necessidade do nosso direito público. São-no na vida interna como princípio informador da nossa actividade e clara afirmação de todo o nosso destino, perante nós próprios enfraquecidos na unidade nacional pelo espírito de partido, roídos nos interesses materiais pelo espírito de parasitismo e de favor. São-no diante do mundo numa época de intensa vida e colaboração internacional e eivada de vários internacionalismos e cosmopolitismos, e são-no ao menos nos momentos decisivos em que daí possam provir ameaças, restrições, negações dos nossos títulos jurídicos
".

 
SALAZAR

quarta-feira, fevereiro 10, 2021

Inauguração da Ponte Salazar


 

Toledo libertada


 

DA POLÍTICA E DO PENSAMENTO

Não há acção coerente e estável que não seja iluminada por uma doutrina, como não há teoria, por mais neutra que pretenda ser, que não tenha uma projecção (ainda que meramente negativa) na prática. Por isso mesmo, é que qualquer política tem, na sua base, uma concepção do mundo e sobretudo, do homem. Se a esquerda, como muito bem sublinhou Vasco Pulido Valente, se caracteriza pela paixão da liberdade e da igualdade, é porque assenta numa ideia de homem optimista, directamente bebida em Pangloss. É claro que o homem deve ser livre, se for naturalmente bom, se o mal não lhe puder ser imputado, se tudo o que fizer se encontrar alheio às catástrofes e malfeitorias de que o universo está repleto (os culpados sendo a sociedade, o fascismo, a reacção, etc). Pois como se compreenderia que fossem colocados obstáculos, peias, limites a um ente que é a bondade em pessoa? Como seria legítimo que o submetessem ao que quer que fosse, que o governassem, que sobre ele impendesse uma autoridade? A anarquia é, assim, a meta lógica da ideologia da liberdade. E se o homem é naturalmente bom e o mal não lhe pode ser imputado, todos os actos humanos serão louváveis, sem discriminação. Nessa altura, serão também equivalentes entre si, isto é, por outras palavras, serão iguais. Mas, se todos os actos humanos são iguais, os sujeitos que os praticam sê-lo-ão da mesma forma, uma vez que se não pode distinguir entre os que agem com equilíbrio e seriedade e os que agem dispatarada ou torpemente. Em suma, não há padrão valorativo que permita destrinçar os vários homens e submetê-los a um juízo axiológico. Não existe, portanto, coisa alguma que esteja acima deles e, da igualdade, exactamente como da liberdade, se deduz, sem hesitação, o anarquismo. Este é o cerne, a conclusão básica dos princípios da esquerda. Em contrapartida, uma concepção do homem que veja nele um ser imperfeito, imagem de Deus, sim, muito afastada, porém, do seu infinito modelo, dotado de um querer livre e falível, capaz de tanto realizar o bem como o mal, já não implica a idolatria da liberdade e da igualdade, antes conduz a ver nas tendências anarquistas um enorme absurdo. Se há ente que precisa de ser governado é o homem, muito mais do que as forças da natureza e os animais. À liberdade do homem há que pôr todas as barreiras para que só se exerça no sentido que é valioso, para que não ofenda os seus semelhantes e, em especial, não atente contra as normas superiores que do Absoluto derivam. Autoridade é, portanto, um dogma fundamental, a condição necessária de toda a civilização, ainda que não seja condição suficiente. E quem diz autoridade diz submissão da liberdade ao que a controle e guie. Por outro lado, se os homens não são o bem personificado, haverá sempre que distingui-los em função do seu comportamento e, até, das suas capacidades para, com maior ou menor eficiência, servirem os valores (o que não implica já uma apreciação moral e tão só uma apreciação exclusivamente técnica). De qualquer modo, no lugar da igualdade aparece-nos uma outra exigência — a da hierarquia: hierarquia de méritos e hierarquia de competências. E quem diz hierarquia, diz sobreposição de poderes de grau em grau até ao poder mais alto. Em vez da anarquia, de novo nos surge o requisito da autoridade. Simplesmente, um problema se levanta aqui. Autoridade, sim, dir-se-á, autoridade que tenha por finalidade o estabelecimento e a garantia do que seja objectivamente válido, com plena independência do arbítrio dos homens; autoridade, enfim, guardiã dos interesses da Pátria concebida como um ser que engloba e ultrapassa os indivíduos e estes têm por obrigação categórica de respeitar. Tudo isso estaria óptimo e seria esplêndido. Só acontece que a autoridade unicamente pode ser exercida por homens e que se os homens são imperfeitos e capazes de praticar o mal, como é que a autoridade lhes será confiada? Se no entanto não lhes for confiada não há afinal quem a exerça. Mais ainda: como é que a autoridade, exercida por homens, conseguirá obviar aos defeitos deles, se são eles que a manejam? A dificuldade, se é de monta, não a consideramos insuperável. Repare-se que, se os homens exercem a autoridade, não são a autoridade. As instituições podem enquadrá-los de tal maneira que eles, exclusivamente, ponham em acto um poder impessoal que não se identifique com os seus quereres subjectivos. Por certo que as instituições são criadas pelos homens, mas estes criam-nas superando-se a si próprios, vencendo a sua particularidade e as suas limitações. Já Maurras afirmava que «par l`institution l`homme s`éternise». Com efeito, as instituições ficam, os homens passam. As instituições boas são, assim, a eternização do que o homem tem de bom. Nessa medida, e dada a sua perenidade, é-lhes possível transformar e objectivar as transitórias vontades dos homens que corporizem a soberania. A questão institucional é, assim, das decisivas. Impõe-se fomentar as instituições em que a autoridade se aproprie dos homens que a executem e não estes se apropriem da autoridade para os seus projectos privados. É óbvio que esta solução assenta na tese que aos homens é possível superar-se e erguer algo para além das suas individualidades passageiras. Para quem negue semelhante possibilidade, instituições não passam de palavras, de meros nomes a que não corresponde nenhuma espécie de realidade. Há aqui uma divergência ontológica acerca das potencialidades humanas com repercussões políticas patentes, tal como têm repercussões políticas as divergências axiológicas acerca das relações entre o homem e o bem. Resumindo: não há noção do Estado e da comunidade, que não assente numa Weltanschauung, uma visão do mundo e da vida. E como uma Weltanschauung, quando racionalmente justificada e estruturada, é uma filosofia, supomos lícito sustentar que não há conceitos sólidos de governação e de sociedade que não necessitem de uma filosofia. 

António José de Brito 
(In «A Rua», n.º 200, pág. 7, 10.04.1980)

terça-feira, fevereiro 09, 2021

Pela Mocidade Portuguesa!


 QUANDO A JUVENTUDE ARREFECE, O MUNDO INTEIRO TREME!

Declaração de Viena dos partidos e movimentos europeus patrióticos e nacionais

Um documento com as orientações comuns para as direitas europeias:

Assumindo a nossa responsabilidade comum perante as nações europeias; compreendendo a variedade de culturas e línguas representadas por elas; tendo presentes os valores inalienáveis do Cristianismo, da Lei Natural, da Paz e da Liberdade, que conformam o ser da Europa; preocupados perante a ameaça que, para os valores europeus, supõe a globalização e a imigração massiva; sendo conscientes da negação de todas estas realidades por parte dos representantes do denominado “discurso politicamente correcto”, nós, os representantes dos partidos e movimentos patrióticos e nacionais da Europa, comprometemo-nos a reclamar:
1. A criação de uma Europa das nações. Nações, livres e independentes, segundo o modelo de uma federação de estados nacionais soberanos.
2. A oposição a qualquer projecto de promulgar una constituição que implique a criação de um superestado centralista europeu.
3. A rejeição, clara e rotunda, da expansão ilimitada da União. Sobretudo para áreas da Ásia e África que, geográfica, cultural, religiosa e etnicamente, devem entender-se como não-europeias , tais como a Turquia.
4. A protecção eficaz da Europa contra aqueles que a ameaçam: o terrorismo, o islamismo agressivo, o imperialismo exercido por uma super potência e a agressão económica proveniente dos países de baixos salários.
5. A detenção imediata do fenómeno da imigração indiscriminada em todos os estados da União Europeia, incluindo a suspensão dos processos de reunificação familiar.
6. A colocação em marcha de uma política de família pronatalista. Política que considerará a infância como um dos principiares valores a proteger, de acordo com o modelo da família tradicional.
7. A solidariedade entre as nações europeias na sua luta contra os efeitos negativos, tanto sociais como económicos, da globalização..
8. A restauração dos sistemas de protecção social dentro dos Estados membros da União, e a busca da justiça social nas nações europeias.

Viena, Novembro de 2005.

FPÖ (Áustria), Ataka (Bulgária), Frente Nacional (França), Partido da Grande Roménia, Movimento Sociale Fiamma Tricolore (Italia), Libertá d’Azione (Itália), Vlaams Belang (Flandres), Alternativa Española (Espanha), PiS (Polónia) e Dansk Folkesparti (Dinamarca).

 

segunda-feira, fevereiro 08, 2021

Sobre o imperativo da militância cibernética

A propósito da necessidade de aproveitamento das utilidades da internet para a luta política de fundo, numa aposta de médio e longo prazo, vale sempre a pena insistir. 
A verdade é que a internet é um espaço de liberdade que é muito mais difícil de censurar do que um jornal ou uma televisão. 
A grande vantagem da internet é desde logo permitir uma facilidade muito grande de criação de conteúdos. 
Pode-se criar um blogue em cinco minutos, e ter logo umas dezenas de pessoas a ler. Depende do talento de cada um.
Pode-se participar em foros ou em caixas de comentários onde centenas de pessoas irão ler o que escrevermos.
Com a mera acção de rua isto não é possível. Pode-se perder uma noite a colar cartazes, ou a distribuir panfletos, e no fim só atingir de fugida um pequeno número de pessoas, mas com um esforço em tempo e dinheiro infinitamente maior. 
Com a internet podemos ter uma audiência potencialmente tão grande como a CNN. 
A internet permite-nos fazer chegar a nossa mensagem a pessoas que pensam como nós, mas que se sentem sós, que pensam que são as únicas. 
A internet é um meio excelente de fazer chegar as nossas ideias a milhares de pessoas, com a vantagem de não estarem deturpadas pelos media. 
A internet permite que pessoas que não se identificam com o actual sistema procurem e encontrem uma alternativa.
Fazer hoje a política à moda antiga é anacrónico. Fazer um panfleto muito bonito, imprimir uns milhares, distribui-los em massa e depois ver as pessoas a passar os olhos por aquilo e a deitá-los no lixo. Não tem sentido.
Espalhar o mesmo conteúdo na internet significa a possibilidade de ser lido por um número potencialmente infinito de pessoas, e lido com muita mais atenção porque quem decide ler fá-lo com muito mais atenção, por gosto ou por curiosidade.
Aproveitem a internet, enquanto houver...

sábado, fevereiro 06, 2021

Quebrando tabus


 

Um partido nacional e identitário?

Por vezes interrogo-me sobre quais as particularidades do modelo que deve seguir um partido que pretenda assumir-se como um verdadeiro partido nacional e identitário.

A primeira ideia que me vem à cabeça é simples: um partido nacional deve ser a expressão política das comunidades que compõem a vasta comunidade de destino que é a nação; um partido identitário deve ser capaz de identificar-se com as gentes e as realidades colectivas que integram essa realidade orgânica, e fazer com que essas pessoas sintam essa identificação.
Quem conseguir criar raízes nas comunidades, numa base local e regional, que é onde as pessoas vivem, conseguirá alcançar verdadeira implantação nacional. 
Este objectivo implica combater a tendência monocórdica para a abstracção e os grandes princípios, que muitas vezes se torna a afirmação única das forças nacionais. Ora as pessoas no dia a dia não vivem dos princípios, nem comem com isso.
É preciso cultivar o concreto, dar efectiva prioridade ao real e à nossa gente (que é preciso sentir realmente como nossa, e fazer com que ela nos veja como tal).
Quando um partido conseguisse viver assim, no local e no quotidiano, onde estão as pessoas, seria verdadeiramente nacional e identitário. Criar raízes, identificar-se, o que passa por ouvir e conhecer as pessoas reais no mundo real, isto é o decisivo.
 O problema mais difícil está em fugir à tendência para viver com a cabeça nas nuvens, ou entrar decididamente em órbita, lá no infinito do espaço sideral, em vez de dar atenção ao solo e firmar bem os pés no chão. Há ardorosos militantes que perdem tempo infindo a debater assuntos próprios de seitas esotéricas - capazes de entusiasmar no máximo cinco amigos que já são amigos (e fazer com que todo o cidadão comum os encare definitivamente como malucos irrecuperáveis a carecer de internamento).

VENHAM MAIS BLOGUES!

 Estou habituado à fatalidade de ninguém dar qualquer importância ao que eu escrevo. Na realidade, às vezes sinto-me uma espécie de São João Batista, clamando no deserto - sem ter a certeza dele sobre Aquele que depois viria. Pode bem acontecer que pelo meu caminho não surja mais nada.
Designadamente quanto à minha insistência sobre o aproveitamento da blogosfera como terreno ideal para o combate das ideias, em que sistematicamente tenho insistido e sistematicamente tenho sido ignorado (na verdade têm sido bem mais os blogues da "área nacional" a fechar portas ou a paralisar do que aqueles que se lançam ao trabalho).
Será que nos próximos tempos assistiremos a um novo alvorecer? Será que finalmente um número significativo de jovens com ideias decida deixar-se de fantasiar o impossível, como pretexto para não fazer nada, e resolva arregaçar as mangas e lançar-se numa tarefa possível, realista e necessária - e de potencialidades ilimitadas em termos de difusão de ideias?
As novas correntes de pensamento e as novas necessidades da vida política exigem adequada expressão na opinião publicada. É a hora!

CASAMENTO E ADOPÇÃO


 

sexta-feira, fevereiro 05, 2021

A TERRA OU AS NUVENS

Todos os grupos que, com justiça ou sem ela, sejam vistos como situando-se na margem da sociedade, ou como uma alternativa a esta, atraem forçosamente uma chusma de iluminados, lunáticos, mitómanos e fantasistas de toda a espécie.
Mesmo aqueles que em teoria visariam dedicar-se à acção política, e que cedendo a essas derrapagens com frequência se tornam um sucedâneo de seitas místicas, com crenças que têm mais de superstição particular que propriamente de acção política.
Já conheci organizações que pretendiam ser políticas onde pululavam exemplares únicos, como um que apregoava que o mais importante era divulgar as potencialidades do Monte da Lua (leia-se Serra de Sintra) como centro privilegiado de comunicação entre o mundo subterrâneo da terra oca e os universos extraterrestres, com inusitada frequência de discos voadores que entravam e saíam em trânsito de um destino para outro. Ou aquele que acreditava piamente que devíamos preparar-nos para a vinda de D. Sebastião e do seu exército, que inúmeros sinais anunciavam. Ou o outro que proclamava a emergência breve da Atlântida, submersa nos mares dos Açores, o que iria trazer a Portugal o esplendor do Quinto Império no imenso e rico território entre a Europa e a América. Ou uns que iam para o campo e dançavam vestidos de branco à roda de uns pedregulhos em certas noites escolhidas dizendo estar a reviver a antiga tradição druídica da nossa herança céltica.
Claro que qualquer destas pessoas era muito lida e inteligente, cheia de erudição e citações, e demonstrava os seus pontos de vista com irrepreensível e irrefutável lógica.
Tinham apenas o pequeno senão de não viverem no mesmo mundo que o comum dos mortais.
Lembrando isto o que eu aconselho a quem activamente se dedica à actividade política é que comece por olhar bem para si e para aqueles que o acompanham. E procure situar-se na perspectiva do cidadão comum, da gente vulgar, do mais normalizado dos seus conterrâneos e contemporâneos. Com esse exercício tente então calcular qual a opinião que o tal cidadão médio formará da sua pessoa, das suas acções, das suas palavras, bem como do colectivo em que actua.
Com este exercício, repetido e aprofundado com frequência, certamente se evitarão muitas asneiras, disparates e puros desastres - mesmo que no plano individual acarrete grandes desilusões aos que mergulhados no seu universo interior estavam de todo esquecidos dos outros (os outros, sim, os que aí estão por todo o lado, à nossa volta, esses personagens cinzentos que nada distingue e que nada de particular têm para dizer ou oferecer...)
A acção política implica quase sempre a procura, quanto mais não seja por razões metodológicas, do que podemos chamar o "centro", ou mesmo o "extremo-centro".
Entenda-se com essa expressão não qualquer conceito ou ideologia, mas sim o núcleo essencial dos problemas e preocupações, reais ou imaginados, que ocupam a generalidade dos membros da sociedade sobre a qual se pretende agir. Não se pretende evidentemente com essa procura descobrir o que pensa a massa para mimeticamente a seguir; mas afirma-se que é preciso saber o que pensa e sente a massa para agir sobre ela.
A outra atitude, de desprezo altivo pela gentinha que permanece nas trevas insensível à verdade, de cultivo orgulhoso do purismo desafiante e do autismo intragrupal, é perfeitamente legítima - mas não é certamente acção política.
A política é uma actividade que tem por destinatários, precisamente, os outros. Manter-se à margem e cavar a trincheira é um direito de cada um, mas já é outra coisa que não política.
O aperfeiçoamento interior, pessoal ou do grupo, foi por exemplo o caminho dos monges do deserto, que abandonaram o mundo exactamente para se afastar das contaminações e se dedicar inteiramente à Verdade - e assim manter-se no rumo da Salvação. Mas estes nunca pretenderam que estavam a fazer política.

Blogues e política

No princípio e na essência um blogue é um diário. E um diário é algo de íntimo e pessoal, que é suposto ter como destinatário apenas o autor - e digo que é suposto ser assim porque o que se constata é que de há muito se generalizou essa prática como um género literário. Ou seja, é comum e universal a escrita de diários que têm por destino a publicação, e como alvo o público.
E se assim é com os diários propriamente ditos, não há que estranhar que também os blogues desde cedo tenham sido utilizados como um meio para outras finalidades bem diferentes do mero desabafo e análise para autoconsumo. Nomeadamente o proselitismo puro e simples.
Não encontro nada de censurável nisso, é perfeitamente legítimo. Tão legítimo como ter um blogue para escrever para a família, ou para os amigos, ou para a claque desportiva, ou para o clube de fans, ou para impressionar a namorada. E mesmo tão legítimo como manter o blogue para autocomprazimento, com mais fidelidade à ideia original.
O que importa é que, a fazer-se, se faça bem feito. Ora quem queira fazer proselitismo há-de falar para os outros. Não para os seus - estes já estão convencidos. O ensimesmamento é impulso, mas não é política. Nem as conversas em família.
Por outro lado, o talento e a vocação em política distinguem-se pela capacidade de criar atracção, fascínio, sedução, enamoramento, paixão. Conquistar - nos blogues como na vida. E como há-de conquistar quem se deleite a despoletar agressividade e repulsa?

DO BLOQUEIO MEDIÁTICO

 Todos nos queixamos, com fortes razões, do bloqueio mediático.

E como se fura o bloqueio, perguntais vós?

Responderei à maneira de Sun Tzu: um bloqueio não se fura, a não ser que se possua força de choque largamente superior à do inimigo. Não sendo esse o caso, qualquer tentativa de investir contra o bloqueio traduz-se em esbanjamento de meios, que nos conduzirá à exaustão. O inimigo estará em vantagem insuperável. Investir assim é tentação de animais de chifres.
Normalmente, um bloqueio rodeia-se - dá-se a volta, para surgir em zona que o inimigo tenha desprotegida. Para tal é preciso encontrar caminhos que não estejam bloqueados, e escapar por aí, surgindo implantado em terreno que estava desguarnecido. Um bloqueio tem sempre falhas, pontos insuficientemente guardados. O leão não os encontrará, mas a raposa sim.
Quando somos mais fortes, podemos fazer de leão. Quando somos mais fracos, teremos que ser raposas. (Leões e raposas, é metáfora de Maquiavel; mas o nosso D. João II dizia que havia tempos para usar de coruja e tempos para usar de falcão - o que quer significar essencialmente o mesmo).
Acontece, amigo, que nestes tempos de blogação temos feito a prova de alguma coisa. Digo mesmo que no campo que escolhemos o inimigo não nos levou vantagem.
E só uns poucos praticamos com idêntica compreensão do jogo. Se fossem quinze ou vinte, ou trinta, o que seria?

quinta-feira, fevereiro 04, 2021

QUE FAZER?

As revoluções antes de se fazerem nas ruas fazem-se nos espíritos. Quando descem às ruas já as ganharam antes, por força de um trabalho silencioso e persistente que há muito se desenrolava.
A batalha das ideias é hoje como ontem a decisiva. O que os homens pensam é que determina o que os homens fazem. 

Por isso a importância crucial de empenhar todas as forças na conquista dos espíritos, nas áreas desde sempre deixadas ao domínio do inimigo: a cultura, a comunicação, a informação. Nesta sociedade da informação ganha quem controlar o meio por onde a mensagem circula. Por isso creio firmemente que é de teimar na prioridade da internet e das redes sociais. Nesta época não temos outro caminho.
Insistir e aprofundar o trabalho, lançar pontes para todos os que sentem a inquietação do presente e a aspiração da mudança, é a tarefa do nosso tempo. 

Dar ânimo a quem se mexe e avança, apoiar os que se lançam na aventura, encarar com benevolência e sem dogmatismos todos os que se apresentam como portadores de um projecto e de um ideal, não fechar portas, não ditar excomunhões, não ofender nem afastar ninguém, exercer permanentemente uma acção de formação e de divulgação.

É preciso consolidar uma enorme área nacional na net. Diversificada e plural, porque assim é a vida e são os homens. Diversificada e plural porque desse modo alargamos o círculo dos amigos e estreitamos o dos inimigos. Diversificada e plural porque sendo assim é quase impossível de atacar, controlar ou silenciar.

A política, antes de ser uma ciência, é uma arte. Ousemos implantar um movimento de opinião situado e radicado, mergulhado na vida diária das populações e orientado para soluções viáveis dos problemas actuais, que mobilize todos os que se sentem identificados com o destino colectivo da comunidade a que pertencemos.