FALEMOS ENTÃO DO MRPP
Um blogue às direitas em tempos sinistros
O aparecimento, em 1959, da revista tempo presente, que tinha como director Fernando Guedes, um conselho de redacção formado por António José de Brito, António Manuel Couto Viana, Caetano de Melo Beirão e Goulart Nogueira e secretário, João Manuel Pedra Soares – e, a partir do segundo ano, número 13, também Artur Anselmo, único secretário no último ano – e, como editor e proprietário José Maria Alves, veio contribuir para um debate que, não sendo novo entre nós, ganhava, então como hoje, uma premente actualidade. O debate era amplo e versava várias questões. Logo à partida, o que se entende por cultura e cultura portuguesa, pois de uma revista portuguesa de cultura se tratava. Uma segunda nota é que a cultura é sempre uma cultura viva, que alia o pensamento e acção ou transforma o pensamento em acção. TEMPO PRESENTE
É da natureza da Espanha viver perigosamente. A sua situação normal é à beira do abismo. Actualmente tem um governo formado por dois partidos em coligação. Um deles precisa de manter a ordem pública, sob pena de tudo desabar e lhe cair em cima, e o outro precisa de apoiar a desordem da rua, porque as suas hostes não lhe permitem outra atitude.
Podia pensar-se que o governo está por dias, dada a incompatibilidade e a guerrilha constante entre os parceiros, e até pode acontecer que a corda se parta. Mas não é fácil. O PSOE está farto do Podemos e animado com as sondagens, mas teme avançar para eleições e a seguir apesar dos bons resultados precisar novamente de negociar com os mesmos (os bons resultados quase certos não são a maioria absoluta). O Podemos sabe que tem que ser fiel ao seu revolucionarismo congénito, sob pena de se esboroar a base, mas também sabe que em eleições antecipadas ficaria a perder. E as benesses do poder não são nada para deitar fora.
Para qualquer observador que queira ver, há uma verdade indiscutível: a Leste como a Oeste, quando o comunismo caiu isso ficou a dever-se às classes populares.
Foi o povo, na Rússia ou em Budapeste, em Portugal ou no Brasil, quem fez a história recente, e rejeitou uma ideologia que sempre representou uma violentação da natureza.
Não foram os intelectuais, que desde o início se viciaram nesse ópio. Não foram os jornalistas cúmplices. Não foi a classe política medrosa e calculista. Não foi a universidade, rendida a todas as aberrações. Não foram os ricos, sempre dispostos ao compromisso, ao negócio e à desonra.
Não foram as elites, sempre disponíveis para transigências, abdicações e traições.
Foi realmente o povo que os vomitou, e só não o fez noutros sítios porque a força das armas ainda o consegue reprimir.
Esta lição é válida, actual e urgente em Portugal. Quem quiser fazer política deve falar para o povo. Directamente para o povo, e simplesmente para o povo. Sem rótulos, porque esquerda e direita são rótulos.
O que importa é falar para quem trabalha, para quem vive nas nossas aldeias e nas nossas cidades e enfrenta as dificuldades do quotidiano, para todos aqueles que sentem ainda que confusamente que os seus valores são desprezados, as suas tradições agredidas, os seus interesses esquecidos.
Se existe ainda um reservatório moral da nação, está nas classes populares. Falemos para esses, dêmos-lhes a palavra, façamos ouvir a sua voz.
"O gosto pelos ideais alevantados ergue o homem do domínio da Natureza bruta, liberta-o da escravidão dos instintos e faz com que ele não se reduza à satisfação das necessidades materiais, antes valorize, sobretudo, aquilo onde se reflecte o Bem, a Beleza e a Verdade. Esse gosto é espiritualidade, é a noção de que o Bem, a Beleza e a Verdade estão na luta que travamos para emergir da bruta lei da necessidade, para nos não submetermos à matéria, para nos negarmos ao egoísmo. Esse gosto é a noção de que podemos ser melhores e isso consiste em nos darmos ao que é melhor. Sabendo que a procura e a afirmação destas coisas aparecem em cada um em grau diferente, ficamos a ter consciência de um gradualismo, de uma hierarquia segundo essa procura e afirmação. Os que vão à frente são personalidades excepcionais. Os que mais lutam, que mais renunciam à egoísta satisfação, que correm mais riscos e vencem mais obstáculos - são os heróis. Deste gradualismo resulta um sentido de Justiça."
(Goulart Nogueira)
Não se trata de defender uma atitude de pura destruição, nem de anarquismo, nem de futurismo desgarrado, nem de progressismo utópico ou que vai sumir-se no ventre da esquerda, nem de revolução total e cega. Existem valores permanentes, realidades a conservar, naturezas a assumir, existem coisas que se transmitem, com justiça, através dos tempos e no concreto.
Para compensar o silêncio ou a hostilidade dos media tradicionais, que nunca poderemos contrariar no mesmo terreno, é forçoso investir a nossa energia militante no activismo cibernético.
E talvez que isso acabe por ser uma vantagem, pois este é o único meio de comunicação que está em crescimento, e em crescimento vertiginoso.
Aceleradamente tende a suplantar, substituir ou determinar todos os restantes. A nossa época é a época das redes, para usar a expressão de Alain de Benoist.
A rede das redes é esta. Ainda bem que cada vez mais gente nossa começou a compreender que a tarefa
de erguer aqui a sua própria rede é a única forma de escapar à situação
de fazer política sempre na dependência dos 30 segundos que os outros
queiram benevolamente conceder.
O trabalho na internet, de informação, formação, divulgação, de criação
de poder através de uma rede o mais alargada possível de modo a tocar o
maior número possível de destinatários, é essencial e decisivo nos
tempos actuais. É a batalha do futuro.
- Ó mocidade, a voz do mar
Que diz?
- Mistério.
- Acorda bem. Torna a escutar.
Que diz?
- Império.
Levanta-te e vai! Vive! Luta
Olhos no céu!
Reza! Grita, que quem te escuta
É o mar, que é teu.
Luta! Mil anos vais levar
Dois mil ou três?
Começa! Tens de começar
Alguma vez.
Que importa o sol, a chuva, o vento,
Mil anos são um só momento
Na eternidade.
Olha o caminho que é direito.
O fim lá está.
Levanta os olhos! Dilata o peito
E vai! Vai já!
Fernando Lima
In «Agora», n.º 289, pág. 10, 17.12.1966.
Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.
Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do Verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo...
Por outro lado, o esforço contínuo de um homem para se exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção e de acento, em idiomas estranhos - isto é: o esforço para se confundir com gentes estranhas no que elas têm de essencialmente característico, o Verbo - apaga nele toda a individualidade nativa. Ao fim de anos, esse habilidoso, que chegou a falar absolutamente bem outras línguas além da sua, perdeu toda a originalidade de espírito, porque as suas ideias forçosamente devem ter a natureza incaracterística e neutra que lhes permita serem indiferentemente adaptadas às línguas mais opostas em carácter e génio. Devem, de facto, ser como aqueles corpos de pobre, de que tão tristemente fala o povo, que cabem bem na roupa de toda a gente.
Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo servil de não sermos nós mesmos, de nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio - o Vocábulo. Ora isto é uma abdicação da dignidade nacional.
Não, minha Senhora! Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! ...
Eça de Queiroz (in "A Correspondência de Fradique Mendes", 2ª. ed. Porto, 1902. pág. 142)
Nestes tempos em que a lucidez mandaria limpar armas, a imagem oferecida pela área dos que se dizem nacionalistas é deveras desoladora. Para os que guardam a ilusão de que tudo poderia ser diferente deve ser mesmo angustiante. Numa época em que todos os sinais dos tempos parecem indicar a iminência de grandes coisas, quando o mundo em que nascemos parece abanar por todos os lados e estar em vias de afundamento, seria de esperar que os que a si mesmos se elegeram paladinos de uma Nova Idade ao menos se erguessem em vigilância tensa, aptos e disponíveis para os combates que não podem deixar de vir.
Mas não. É como se os nacionalistas portugueses à força de “viver habitualmente” lhe tivessem tomado o gosto. Mesmo quando tudo aconselha a fazer o contrário. Parece que a habitualidade lhes corroeu a imaginação e a audácia, a inteligência e a fé. Assim, enquanto muitos dormem outros fazem flores.
Alguns limitam-se a repetir erros antigos; no entusiasmo gregário de fardas, hinos e bandeiras, esquecem as ideias, que são sempre o mais importante. Movem-se em círculo fechado, parados no tempo, fazendo gala de uma estética ultrapassada e de uma linguagem que só ela constituiria barreira suficiente para impedir a aceitação pela massas, cujo espírito crítico é apesar de tudo capaz de rejeitar a retórica balofa de quem nada traz de novo.
Outros nem se dão ao luxo de cometer erros. Encerraram-se nas suas torres de marfim, inventaram alibis mais ou menos consoladores para as próprias consciências, e esperam em casa que a história lhes vá bater à porta.
Poucos são os que, no cepticismo de quem conserva a cabeça fria e o espírito lúcido, se mantêm no seu posto sem desânimo nem descrença, sabendo que o futuro começa agora e que Deus costuma ajudar aqueles que se ajudam. Na trincheira que a cada um de nós coube sabemos que é preciso dar forma nova às verdades eternas, deixar morrer o que merece ser enterrado para afirmar no seu fulgor imaculado os princípios que nos comandam. Dentro da linha de modernidade e vanguardismo que é própria dos que se querem construtores do Futuro.
Apesar do panorama traçado não se julgue que pensamos haver razão para derrotismos. Antes pelo contrário: pensamos que o desespero é uma estupidez desprezível. Parece-nos que nada há de estranho em que as coisas sejam como são, e as explicações nem são muito difíceis de encontrar. E acreditamos que o fermento constituído por aqueles que nunca desistiram de intervir, e conhecem o mundo e a história, e sabem o caminho, há-de ser bastante para vencer a ganga que ao passado pertence e imprimir o rumo que leva à vitória.
Para os que não percebem muito bem o que isto quer dizer, deixamos uma frase para reflexão, esperando não os deixar ainda mais perplexos: “Todas as juventudes conscientes das suas responsabilidades tentam reajustar o mundo. Tentam pelo caminho da acção e, o que é mais importante, pelo caminho do pensamento, sem cuja constante vigilância a acção é pura barbárie”.
A frase é de José António e é sempre grata de recordar por quem sente que ela, por direito adquirido, também lhe diz respeito.
«Vencer a matéria pelo espírito. O que seria preciso era a formação de um escol. A Filosofia Portuguesa é que tem o segredo da espiritualidade necessária para a transformação do Mundo. Não podemos esquecer Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Sampaio Bruno, Álvaro Ribeiro, José Marinho, Agostinho da Silva, e muitos outros. Mas, se é a Filosofia Portuguesa que tem o segredo dessa espiritualidade, os mais novos é que têm o segredo da transmutação. Se os jovens forem na corrente actual, então está tudo perdido. Nota-se, de facto, muitos jovens interessados no pensamento português. Se daqui resulta algo, só Deus é que sabe. Nós temos é de fazer as coisas.»
(António Telmo)
“Na nossa ordem política, a primeira realidade é a existência independente da Nação Portuguesa (...)
Desta forte realidade e desta primeira afirmação, outras derivam imediatamente: a primeira é que estão subordinadas aos supremos objectivos da Nação, com seus interesses próprios, todas as pessoas singulares e colectivas que são elementos constitutivos do seu organismo; em contraposição e garantia da eficácia superior deste sacrifício afirma-se também que a Nação não se confunde com um partido, um partido não se identifica com o Estado, o Estado não é na vida internacional um súbdito mas um colaborador associado. Em palavras mais simples: temos obrigação de sacrificar tudo por todos; não devemos sacrificar-nos todos por alguns.
Tão evidentes e naturais são estes princípios que defini-los pode parecer uma superfluidade. Mas a quem considerar algumas das ideologias que estão tendo o favor do nosso tempo, tais pontos de partida hão-de aparecer como a primeira necessidade do nosso direito público. São-no na vida interna como princípio informador da nossa actividade e clara afirmação de todo o nosso destino, perante nós próprios enfraquecidos na unidade nacional pelo espírito de partido, roídos nos interesses materiais pelo espírito de parasitismo e de favor. São-no diante do mundo numa época de intensa vida e colaboração internacional e eivada de vários internacionalismos e cosmopolitismos, e são-no ao menos nos momentos decisivos em que daí possam provir ameaças, restrições, negações dos nossos títulos jurídicos".
SALAZAR
Um documento com as orientações comuns para as direitas europeias:
Por vezes interrogo-me sobre
quais as particularidades do modelo que deve seguir um
partido que pretenda assumir-se como um verdadeiro partido nacional e
identitário.
Estou habituado à fatalidade de ninguém dar qualquer importância ao que
eu escrevo. Na realidade, às vezes sinto-me uma espécie de São João
Batista, clamando no deserto - sem ter a certeza dele sobre Aquele que
depois viria. Pode bem acontecer que pelo meu caminho não surja mais
nada.
Designadamente quanto à minha insistência sobre o aproveitamento da
blogosfera como terreno ideal para o combate das ideias, em que
sistematicamente tenho insistido e sistematicamente tenho sido ignorado
(na verdade têm sido bem mais os blogues da "área nacional" a fechar
portas ou a paralisar do que aqueles que se lançam ao trabalho).
Será que nos próximos tempos assistiremos a um novo alvorecer? Será que finalmente um número significativo de jovens com ideias decida
deixar-se de fantasiar o impossível, como pretexto para não fazer nada,
e resolva arregaçar as mangas e lançar-se numa tarefa possível,
realista e necessária - e de potencialidades ilimitadas em termos de
difusão de ideias?
As novas correntes de pensamento e as novas necessidades da vida política exigem adequada expressão na opinião publicada. É a hora!
Todos os grupos que, com justiça ou sem ela, sejam vistos como situando-se na margem da sociedade, ou como uma alternativa a esta, atraem forçosamente uma chusma de iluminados, lunáticos, mitómanos e fantasistas de toda a espécie.
Mesmo aqueles que em teoria visariam dedicar-se à acção política, e que cedendo a essas derrapagens com frequência se tornam um sucedâneo de seitas místicas, com crenças que têm mais de superstição particular que propriamente de acção política.
Já conheci organizações que pretendiam ser políticas onde pululavam exemplares únicos, como um que apregoava que o mais importante era divulgar as potencialidades do Monte da Lua (leia-se Serra de Sintra) como centro privilegiado de comunicação entre o mundo subterrâneo da terra oca e os universos extraterrestres, com inusitada frequência de discos voadores que entravam e saíam em trânsito de um destino para outro. Ou aquele que acreditava piamente que devíamos preparar-nos para a vinda de D. Sebastião e do seu exército, que inúmeros sinais anunciavam. Ou o outro que proclamava a emergência breve da Atlântida, submersa nos mares dos Açores, o que iria trazer a Portugal o esplendor do Quinto Império no imenso e rico território entre a Europa e a América. Ou uns que iam para o campo e dançavam vestidos de branco à roda de uns pedregulhos em certas noites escolhidas dizendo estar a reviver a antiga tradição druídica da nossa herança céltica.
Claro que qualquer destas pessoas era muito lida e inteligente, cheia de erudição e citações, e demonstrava os seus pontos de vista com irrepreensível e irrefutável lógica.
Tinham apenas o pequeno senão de não viverem no mesmo mundo que o comum dos mortais.
Lembrando isto o que eu aconselho a quem activamente se dedica à actividade política é que comece por olhar bem para si e para aqueles que o acompanham. E procure situar-se na perspectiva do cidadão comum, da gente vulgar, do mais normalizado dos seus conterrâneos e contemporâneos. Com esse exercício tente então calcular qual a opinião que o tal cidadão médio formará da sua pessoa, das suas acções, das suas palavras, bem como do colectivo em que actua.
Com este exercício, repetido e aprofundado com frequência, certamente se evitarão muitas asneiras, disparates e puros desastres - mesmo que no plano individual acarrete grandes desilusões aos que mergulhados no seu universo interior estavam de todo esquecidos dos outros (os outros, sim, os que aí estão por todo o lado, à nossa volta, esses personagens cinzentos que nada distingue e que nada de particular têm para dizer ou oferecer...)
A acção política implica quase sempre a procura, quanto mais não seja por razões metodológicas, do que podemos chamar o "centro", ou mesmo o "extremo-centro".
Entenda-se com essa expressão não qualquer conceito ou ideologia, mas sim o núcleo essencial dos problemas e preocupações, reais ou imaginados, que ocupam a generalidade dos membros da sociedade sobre a qual se pretende agir. Não se pretende evidentemente com essa procura descobrir o que pensa a massa para mimeticamente a seguir; mas afirma-se que é preciso saber o que pensa e sente a massa para agir sobre ela.
A outra atitude, de desprezo altivo pela gentinha que permanece nas trevas insensível à verdade, de cultivo orgulhoso do purismo desafiante e do autismo intragrupal, é perfeitamente legítima - mas não é certamente acção política.
A política é uma actividade que tem por destinatários, precisamente, os outros. Manter-se à margem e cavar a trincheira é um direito de cada um, mas já é outra coisa que não política.
O aperfeiçoamento interior, pessoal ou do grupo, foi por exemplo o caminho dos monges do deserto, que abandonaram o mundo exactamente para se afastar das contaminações e se dedicar inteiramente à Verdade - e assim manter-se no rumo da Salvação. Mas estes nunca pretenderam que estavam a fazer política.
Todos nos queixamos, com fortes razões, do bloqueio mediático.
E como se fura o bloqueio, perguntais vós?
Responderei à maneira de Sun Tzu: um bloqueio não se fura, a não ser que se possua força de choque largamente superior à do inimigo. Não sendo esse o caso, qualquer tentativa de investir contra o bloqueio traduz-se em esbanjamento de meios, que nos conduzirá à exaustão. O inimigo estará em vantagem insuperável. Investir assim é tentação de animais de chifres.
Normalmente, um bloqueio rodeia-se - dá-se a volta, para surgir em zona que o inimigo tenha desprotegida. Para tal é preciso encontrar caminhos que não estejam bloqueados, e escapar por aí, surgindo implantado em terreno que estava desguarnecido. Um bloqueio tem sempre falhas, pontos insuficientemente guardados. O leão não os encontrará, mas a raposa sim.
Quando somos mais fortes, podemos fazer de leão. Quando somos mais fracos, teremos que ser raposas. (Leões e raposas, é metáfora de Maquiavel; mas o nosso D. João II dizia que havia tempos para usar de coruja e tempos para usar de falcão - o que quer significar essencialmente o mesmo).
Acontece, amigo, que nestes tempos de blogação temos feito a prova de alguma coisa. Digo mesmo que no campo que escolhemos o inimigo não nos levou vantagem.
E só uns poucos praticamos com idêntica compreensão do jogo. Se fossem quinze ou vinte, ou trinta, o que seria?
As revoluções antes de se fazerem nas ruas fazem-se nos espíritos.
Quando descem às ruas já as ganharam antes, por força de um trabalho
silencioso e persistente que há muito se desenrolava.
A batalha das ideias é hoje como ontem a decisiva. O que os homens pensam é que determina o que os homens fazem.
Por isso a importância crucial de empenhar todas as forças na
conquista dos espíritos, nas áreas desde sempre deixadas ao domínio do
inimigo: a cultura, a comunicação, a informação. Nesta sociedade da
informação ganha quem controlar o meio por onde a mensagem circula. Por isso creio firmemente que é de teimar na prioridade da internet e das redes sociais. Nesta época não temos outro caminho.
Insistir e aprofundar o trabalho, lançar pontes para todos os que
sentem a inquietação do presente e a aspiração da mudança, é a tarefa do
nosso tempo.
Dar ânimo a quem se mexe e avança, apoiar os que se lançam na aventura, encarar com benevolência e sem dogmatismos todos os que se apresentam como portadores de um projecto e de um ideal, não fechar portas, não ditar excomunhões, não ofender nem afastar ninguém, exercer permanentemente uma acção de formação e de divulgação.
É preciso consolidar uma enorme área nacional na net. Diversificada e plural, porque assim é a vida e são os homens. Diversificada e plural porque desse modo alargamos o círculo dos amigos e estreitamos o dos inimigos. Diversificada e plural porque sendo assim é quase impossível de atacar, controlar ou silenciar.
A política, antes de ser uma ciência, é uma arte. Ousemos implantar um movimento de opinião situado e radicado, mergulhado na vida diária das populações e orientado para soluções viáveis dos problemas actuais, que mobilize todos os que se sentem identificados com o destino colectivo da comunidade a que pertencemos.