segunda-feira, janeiro 31, 2005

As eleições na SHIP

Como tinha sido anunciado, decorreu hoje a assembleia geral da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com a eleição dos órgãos sociais para o próximo triénio.
De acordo com os resultados anunciados, ganhou a lista A, presidida pelo Dr. Jorge Rangel, com 284 votos, contra 154 da lista B, encabeçada pelo Coronel Rosas Leitão.
Endereço daqui os meus parabéns à lista vencedora, com um abraço aos amigos que tornaram possível essa vitória.
A todos os consócios, apoiantes que foram de uma ou de outra, cabe agora a palavra decisiva no futuro da associação do Palácio da Independência. Que todos em comunhão de esforços sejamos capazes de honrar a instituição, para que esta possa cumprir os objectivos que estiveram no espírito dos seus fundadores.

CARTA DO CANADÁ, de Fernanda Leitão

LASTIMOSA CEGUEIRA
Sim, lastimosa cegueira e perigoso rebaixamento, este que levou Santana Lopes e Francisco Louçã, um que se julga de direita e outro que acredita ser de esquerda, a deitarem mão de argumentos de alcova por evidente falta de competência política e do (ao que parece) moribundo cavalheirismo lusitano nas hostes eleitorais.
Disse Louçã a Portas, perante todo o país através da TV, em ar de grande desprezo, que o solteiro não podia discutir o aborto por não saber o que é fazer um filho e conhecer-lhe o sorriso. Que lástima de argumento! E que cegueira a de Louçã ao não perceber que o país inteiro está cansado de ver que a esquerda radical faz do grave problema do aborto uma arma de arremesso eleitoral, e nada mais do que isso. Do mesmo modo, certa direita radical só chama a terreiro o crime de Camarate, em que perderam a vida Francisco Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e seus acompanhantes, quando entra em derrapagem, esquecida que era poder quando o crime ocorreu e nada fez para que a investigação fosse em profundidade, doesse a quem doesse.
Afirmou Santana Lopes, no meio de mil mulheres, que é contra os “casamentos homossexuais”, desafiando, em tom reguila de galã de Alcântara, os outros candidatos a dizerem o mesmo, ao mesmo tempo que deitava olhos compridos às senhoras presentes e pedia colinho. Esquecido que o povo, formado pela moral católica, rejeita por igual esse arremedo de “casamento” e também aqueles sujeitos que exibem vários divórcios, filhos de várias mães, a infidelidade conjugal como regra, a promiscuidade de várias ligações publicitadas pela chamada imprensa cor de rosa, e a imagem do femeeiro, na linguagem queiroziana, ou a do burro da Quinta da Cardiga, para usarmos os castiços falares ribatejanos.
Pelo meio, milícias de imbecis andaram a espalhar alterações nos cartazes dos partidos, com soezes conotações sexuais, que logo outros divulgaram, o que dá bem a imagem terceiromundista de tudo isso.
É a completa baixaria, a mais ordinária peixeirada que as eleições em Portugal já mostraram. Nada que eu não tivesse previsto, há poucas semanas, quando escrevi sobre o tradicional respeito e pudor com que os jornalistas da Europa não anglo-saxónica tratam a vida privada das figuras públicas. Porque, disse então, essa baixaria é tradicional, sim, entre jornalistas anglo-saxónicos, com os Estados Unidos à cabeça, de pronto imitados pelos brasileiros que melhor fariam em copiar a administração inglesa. Em países civilizados, às figuras públicas pedem-se contas da sua actuação pública ou, se for o caso limite, do mau uso de dinheiros públicos com a sua vida privada.
Como se fosse pouco, a esta lástima se junta o incomparável ridículo de Paulo Portas a gritar que vêm lá os comunistas... É espantoso como o Malraux da Moderna, segundo recente nomeação de Nobre Guedes, não percebeu que estava a causar o riso geral ao dar largas ao seu pânico, sem contenção nem bom senso.
Tudo isto me faz lembrar um grupo de cachopos, malcriados, bardinas, que os pais deixaram a tomar conta da casa no fim de semana e, depois de muita asneirada, começam a tremer olhando os ponteiros do relógio.
Não estou pessimista. Pelo contrário, acho que esta foi uma grande vacina. Há partidos que vão ter de meter obras de alto a baixo e fazer uma salutar travessia do deserto, enquanto outros têm de meter travão às quatro rodas para evitarem caír no mesmo. A ser assim, é Portugal quem fica a ganhar.

Crónicas do tempo dos santanas

A reunião
O Regedor, embezerrado, a cara congestionada e mais vermelhuda do que a trunfa cor de cenoura, gemia e gesticulava no topo da mesa:
- Oh pá! Isto está a ficar embrulhado pá! Não se pode ser prior nesta freguesia pá! Não me digam que isto não vai dar nada pá!
Do lado direito da mesa, sentado com o seu eterno ar de menino gordo-que-é-o-melhor-da-turma, o Aspirante tentava concentrar as atenções:
- Não dá nada, não é bem assim… Olhem, eu já estou a ser vítima de uma violenta e descabida agressão…
Ao mesmo tempo o jovem Eleito esganiçava-se desafiador para um magote de jornalistas:
- O que interessa é destacar que temos de optar entre a mudança e a continuidade… o que importa é realçar que temos de optar entre a mudança e a continuidade… o mais relevante é sublinhar que temos de optar entre a mudança e a continuidade…
O Regedor quase explodia:
- Calem o gajo pá! Nem com mais seis meses de ensaios! Olhem, ao menos deixem falar o Pequenino…
E logo um anãozinho de ar vivaço e sorridente ocupou a tribuna, usando um estrado que os Assessores encontraram à pressa esquecido nos bastidores.
- Amanhem-se por cá, que a mim ninguém mais me apanha aqui, eu de Bruxelas ninguém me tira, as novas fronteiras…
O Regedor estava apopléctico:
- Irra! Mas este também não tem noção do que diz?
A outro canto da sala um Beato de olhar severo e reprovador declamava em tom solene:
- A experiência é a madre de todas as cousas… Desmanchos? Não tendes o direito de falar, pois se os não fizestes…. Homossexualidade? Como podeis opinar, se não experimentastes… Calai-vos, pois, ó gente ignara!
(Um empertigado mascarado de gentleman inglês engolia em seco e mordia o lábio).
O Regedor olhava em desespero para os papéis espalhados pela mesa, os rostos obtusos dispostos em volta, os trajes amontoados pela sala, os figurantes esforçando a pose por todo o espaço em roda.
- Arre! Não pode ser! Ou a troupe afina ou não há Carnaval este ano!

Ecos de campanha

Neste momento em que decorre de facto a campanha eleitoral, obrigatório é ver também a conclusão de Nuno Oliveira, de acordo com Garcia Pereira, sobre as mudanças na sociedade portuguesa: onde "havia um lobo, agora há uma alcateia".

A natureza do mal

Não se privem de ler este oportuníssimo artigo de Helena Matos: "A Natureza do Mal", no "Lusitana Antiga Liberdade". Que logo imediatamente antes, por acaso ou não, apresenta um artigo valioso e intemporal de Plínio Salgado, sobre "Personalidade Nacional".
Vamos lá, ponham a leitura em dia.

domingo, janeiro 30, 2005

Senhora do Monte

O Senhora do Monte tem vindo a melhorar. Melhorou mesmo. Estive a ler e verifiquei isso. Já é uma coisa boa neste domingo cinzento e frio. Chiça, coisas boas são bens escassos...
Continua de vez em quando a descair-se num ping-pong de amabilidades chochas, vénias rituais entre bétinhos e alfacinhas. Mas melhorou com as aquisições, e os que estavam primeiro já tentam ultrapassar a conversa de circunstância. Se progredir em verdade e autenticidade, e romper com a banalidade e o civilizadismo diletante, ainda pode ser um caso sério.

A encruzilhada política do Brasil

Passados meses sobre as eleições municipais, o Brasil vive um impasse político, decorrente dessas mesmas eleições.
O resultado das urnas mostrou um público disposto a barrar o caminho à marcha esquerdizante que se vinha desenrolando no País. Como consequência mais imediata e visível da derrota do PT/Governo, algumas figuras importantes da esquerda abandonaram ou foram afastadas do governo Lula da Silva.
Também como consequência da derrota eleitoral, o governo tem visto esboroar-se sua base de apoio. Dois partidos da aliança governamental manifestaram intenção de abandoná-lo.
As notas de indefinição e de incerteza talvez sejam as que mais se desprendem do actual momento político. Muitos apontam como necessária uma correcção de rumos do governo, a qual pode trazer em seu bojo alguns inesperados.
Nesse sentido, já chama a atenção a defesa feita por dois ministros e pelo
Presidente do Senado, aliado do governo, de uma mudança do mandato
presidencial de quatro para seis anos.
Por outro lado, arvorando a bandeira do combate ao "trabalho escravo" (que não define), o governo Lula, coadjuvado pelos ditos movimentos sociais, monta mais uma ofensiva contra a propriedade privada no País e mais concretamente contra o agronegócio.
Entre as frentes abertas por essas alas da esquerda governamental e dos ditos "movimentos sociais" para atacar o agronegócio, está a luta contra o
denominado "trabalho escravo".
Numa campanha orquestrada, os "movimentos sociais", largamente bafejados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), acusam os proprietários de terras de se utilizarem de mão de obra escrava, ou semelhante à escravidão, para manter seus altos níveis de produtividade.
Concomitantemente, as autoridades, sobretudo a Polícia Federal e os delegados do Ministério do Trabalho, têm lançado, com grande aparato armado e estardalhaço publicitário, operações de "resgate de escravos". Chegando de surpresa a fazendas, inclusive algumas altamente produtivas, consideram "escravos" trabalhadores cujo exercício da profissão possa ferir algum detalhe do complexo emaranhado de leis trabalhistas do País, ou cujas condições de alojamento e trabalho possam aparentar descuido ou descaso.
Os produtores rurais, muitas vezes ameaçados de prisão, mostram-se temerosos com esta campanha, pois qualquer deslize, mesmo involuntário, pode levá-los às manchetes dos jornais como "escravocratas", além do sério risco de expropriação da propriedade. Até a falta de carteira de trabalho assinada é apontada como factor que caracteriza a "escravidão", sem se atentar para o ridículo de tal classificação num país como o Brasil, em que 58% do trabalho é realizado na informalidade (ou seja, sem carteira de trabalho assinada), fruto da complexa e socialista legislação trabalhista.
A ferocidade da perseguição governamental, totalmente desproporcionada,
contrasta com a aberta conivência das autoridades diante das violações da
lei, perpetradas pelos seguidores do MST e da CPT, como invasões de
propriedades, de prédios públicos, cortes de rodovias, manutenção de
pessoas em cárcere privado e, nos últimos tempos, até mortes.
Além desta ofensiva governamental e publicitária, está em andamento no
Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional para expropriar, sem qualquer indemnização, a propriedade rural em que for localizado "trabalho escravo". Tal projecto não define o que seja o "trabalho escravo", e as terras assim expropriadas serão destinadas à Reforma Agrária socialista que o governo vem pretendendo levar a cabo no País. Na realidade, trata-se de uma nova investida contra a propriedade privada que poderá abalar o regime de livre iniciativa no País.
Para dar força a sua investida, o governo Lula da Silva tem feito ecoar
internacionalmente estas denúncias, juntamente com a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), e com a colaboração de certa mídia que vê na figura de Lula um dos últimos ícones da esquerda mundial a preservar custe o que custar.
Numa atitude claramente ideológica e considerada vergonhosa para o País, o Brasil, através de seu embaixador Tadeu Valadares, foi o único país a
reconhecer em reunião oficial da ONU a existência de "formas
contemporâneas de escravidão". Nem os países africanos, onde ainda existe
a escravidão legalizada, fazem tal propaganda. Muito menos a China e os
países comunistas que mantêm os "trabalhadores do povo" em regime forçado, reconhecem a existência de escravidão.
Após o primeiro impacto dessa ofensiva legal-propagandística, vozes
esclarecedoras começam a se fazer ouvir, apontando o absurdo dessa propaganda e mostrando que ela visa golpear a fundo o instituto da propriedade privada.
Como escreveu o Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança: "Uma perseguição à propriedade particular a pretexto de “trabalho escravo”, ou qualquer outro, poderia afectar a fundo a produção nacional, encaminhando o País nas sendas tenebrosas de um miserabilismo de tipo cubano, tão amado dos D. Balduínos e seus companheiros da Comissão Pastoral da Terra - CPT. Não só a CPT, mas também o MST, na coerência de sua inspiração marxista, têm sido os arautos da luta contra o agronegócio no Brasil. Tais movimentos ficariam entusiasmadíssimos com o governo atual, caso este iniciasse um combate ao “trabalho escravo” que redundasse numa perseguição ao agronegócio".
De igual modo o jornal "O Estado de S. Paulo" estampou um artigo do presidente da mais importante entidade rural do País, o qual também denunciou o carácter ideológico da campanha contra o "trabalho escravo" no Brasil.
(adaptado, da TFP)

Comandos de Portugal

Encontrei a página dos Comandos de Portugal, com natural contentamento. A história dos comandos honra a nossa história militar, enobrece-nos a nós e a eles, bem merece um lugar de destaque na memória colectiva do povo que somos há nove séculos.
Gostei de saber que ao menos uma página na internet existe orgulhosa a recordar as tropas comando, a contar a sua história, a exibir as suas recordações, a projectar para o futuro a mística desse corpo especial.
Alegremo-nos, pois. Todavia... não é possível calar a mágoa. Não digo indignação, porque há actos que são tão destituídos de sentido que só apoucam e diminuem quem os pratica. Como é possível contar a história dos comandos omitindo o nome de Gilberto Santos e Castro? Estará a associação de comandos esquecida daquele que proclamou em tempos como o comando n.º 1 (porque o era!)? Pode falar-se dos comandos sem evocar quem sonhou, idealizou, lutou e realizou esse projecto? Será que alguém quer apagar da história dos comandos o nome do fundador?
É estúpido e mesquinho demais para ser verdade. Porém, é o que parece quando se procura ali qualquer referência ao primeiro de todos os comandos.

O Professor Trocado

Há nomes que são uma premonição. O jovem Dioguinho já nasceu Trocado. Herdou do avô, o amigo de Salazar. Ao que parece era um homem de bem, o professor Josué Trocado. Mas isso o Dioguinho não herdou. Nasceu trocado no carácter, e troca-tintas na vida e nas ideias. Cresceu assim. Quem o segue há trinta anos, e lhe conheça a crónica, já está à espera e antecipa a próxima. Mesmo assim há ainda uns ingénuos que se espantam.
O bloguista João Pedro Dias, normalmente comedido, não resistiu a zurzi-lo fortemente, agora a propósito das últimas piruetas do figurão (que não serão as últimas, certamente). Como não conheço João Pedro Dias, não sei onde ele o terá conhecido; mas pelo que escreve conheceu-o com toda a certeza.
Eu podia desfiar aqui um longo rol de sem-vergonhices, desde os tempos de 1974, em que a palavra de ordem era a sobrevivência a todo o custo, até esta fase em que seja na GALP seja na CGD a ideia é comer por um lado e encher-se pelo outro. Quais incompatibilidades éticas qual carapuça...
Da obsessão presidencial não vale a pena falar, já todo o mundo falou (o rebento Domingos, fino como um alho e mimoso como o pai, lembrava-nos altruísta que o papá já foi "presidente do mundo"; que generoso ele é em querer ser nosso presidente!)
O melhor é parar, que hoje estou azedo e mal-disposto. Não falo mais do Prof. Diogo Pinto Trocado. Mas sempre vos digo que eu nem para a troca o queria.

sábado, janeiro 29, 2005

O triunfo das bananas

Ao que contam, El-Rei Dom Carlos terá dito uma vez que este era um país de bananas governado por santan... perdão, por sacanas... Um país de bananas governado por sacanas.
Depois disso, infelizmente, a retórica das/dos bananas nunca nos abandonou de todo.
E nos momentos piores cresce a sensação difusa e geral da bananice que nos assola como fatalidade recorrente.
Então agora, o sentimento alastrou e assentou por todos os sectores.
Até na blogosfera, assaltou monárquicos e republicanos, eborenses e lisboetas.
Vejam só isto, bem a propósito: de Évora para o mundo ergue-se a República das Bananas; de Lisboa para o universo levanta-se o Reino das Bananas. Seja qual for a forma política, a imagem heráldica não muda.

Reforma Agrária: "chave" do governo Lula da Silva

A política agrária que decida seguir daqui para a frente será, por certo, uma das "chaves" para se entender a orientação mais ou menos socialista que o governo Lula adotará na segunda metade do mandato.
A esquerda, particularmente a chamada "esquerda católica", influenciada pela Teologia da Libertação, busca há décadas implantar no Brasil uma Reforma Agrária socialista, que fira mortalmente o direito de propriedade e instaure um sistema coletivista no campo.
Lula da Silva, sempre intimamente ligado à "esquerda católica", tem proclamado, em sua vida pública, como meta primordial de sua atuação implantar tal Reforma Agrária no País.
Ao ser alçado à Presidência da República, logo deu amplo assento no governo (inclusive no Ministério do Desenvolvimento Agrário e no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA) a elementos intimamente ligados à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem-terra (MST), principais mentores das invasões de propriedades rurais no Brasil. Também anunciou com grande alarde a realização de um Plano Nacional de Reforma Agrária, elaborado a seu pedido por um dos próceres da esquerda católica no País.
Como ao longo das décadas a esquerda tem fracassado em seu propósito de impor, de modo maciço e generalizado, seu modelo coletivista, a agricultura brasileira, pelo sadio dinamismo da livre iniciativa, e sem especiais incentivos de órgãos governamentais, foi-se expandindo largamente, alcançando altos níveis de produtividade e de aperfeiçoamento técnico, reconhecidos internacionalmente.
Apesar de tais êxitos, que desmentem de modo clamoroso a propaganda
agro-reformista, esta prossegue em seu afã obstinado de impor ao Brasil um regime miserabilista de estilo cubano, supremo modelo dos teólogos da Libertação.
Há meses passou ela a investir com mais afinco contra esse modelo agrícola de sucesso, o chamado agronegócio, a quem acusa, segundo o velho jargão marxista, de gerar alta renda à custa da miséria dos trabalhadores e, mais genericamente, da população.
A manifesta animosidade contra o agronegócio, por parte dos elementos da esquerda, enquistados no governo Lula da Silva, ficou patente em recentes declarações do Presidente do INCRA, Rolf Hackbart, quando afirmou que o governo está do lado do MST contra o agronegócio. Tais declarações causaram espanto no País. O editorial da "Folha de S. Paulo" as considerou escandalosas e, fazendo menção a pronunciamentos do Ministro Miguel Rossetto, ressaltou que não são fato isolado no governo: "O ministro do Desenvolvimento Agrário [Miguel Rossetto] e o presidente do
INCRA cumprem hoje duas funções essenciais. De um lado, administram a tutela do movimento sem-terra por parte do governo. De outro, promovem a instrumentalização da máquina pública com vista a "acumular forças" para uma futura "revolução" rural" (O "lado" do governo, 25/11/2004).
(TFP)

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Blogues de campanha, à direita

Dentro da anunciada política de abrir um blogue representando cada círculo eleitoral o PND de Évora já tem o seu.
Estive a ler, e está fraquinho de conteúdos. Até parece blogue dos partidos instalados no sistema, que não têm tempo para isso de blogues e portanto, enquanto não houver empresas que lhes faça esse trabalho, quando abrem um aquilo até parece uma montra, um outdoor, ou um cartaz que para ali fica parado em exposição num canto perdido da net.
Com mais movimento e substância me pareceram os blogues das candidaturas do PNR-Europa e do PNR-Santarém, únicos que vi aparecerem até agora vindos de candidaturas deste partido a intervir de forma presente e activa na campanha eleitoral dos respectivos círculos, e a fazer efectivamente política.
Claro que não esqueço os dos candidatos do PNR-Aveiro e do PNR-Portalegre, mas estes são blogues que já estavam activos há muito.
Estarei atento e curioso para ver se esta campanha vai corresponder às minhas previsões quanto à sua expressão na blogosfera.

Interrogação

Se não contar com as cátedras do Corcunda e do Maltez fica algum lugar na blogosfera onde se fale de política com conhecimento que ultrapasse (digamos assim) o saber empírico de quem tropeça no objecto a cada passo? Havia o Caminhos Errantes... mas por onde se terá perdido o Alexandre?

Portugal Secreto

Também através do Corcunda (quantas surpresas guardará aquele rapaz?) encontrei este sítio, inteiramente dedicado ao Portugal eterno e misterioso.
Um rico manancial para todos os que se interessam pelos caminhos heterodoxos da espiritualidade portuguesa.

Revista de Teoria Política

Estou maravilhado e indignado: descobrir a Revista de Teoria Política, com um conteúdo realmente de luxo, foi um acontecimento maior. Mas como perdoar ao Corcunda esta omissão? Nunca nos havia dado conta da existência de tal sítio! Será que queria aquilo só para ele?!!

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Carl Schmitt, Bin Laden e o Terrorismo Pós-Moderno

Para quem se interesse por estes temas, recomendo o livro de Nuno Rogeiro.
Podem mesmo ler um capítulo da obra, como aperitivo oferecido pela editora (a Gradiva).

Vagas de fundo

O fundador do CDS, Freitas do Amaral, apelou esta quinta-feira ao voto no PS, como «cidadão independente, que não pertence a nenhum partido», defendendo uma maioria absoluta para os socialistas num artigo de opinião publicado pela revista "Visão".
O porta-voz do PS, Pedro Silva Pereira, em declarações à SicNotícias, logo considerou as declarações de Freitas do Amaral «um apelo ao bom senso» e «um sinal de um movimento muito alargado de apoio ao PS".
Eu bem os entendo: ao Freitas, que assim continua a estratégia que começou logo a partir da sua derrota nas presidenciais (criar as condições para conseguir em nova candidatura os votos e os apoios da área PS que lhe faltaram em 1986) e aos centros ocultos que estão por trás disto tudo (crescem os sinais de que o PS não alcançará o objectivo da maioria absoluta).
Curiosamente uma nova sondagem divulgada em simultâneo confirma o que se sentia: mesmo com os desastres e asneiras de Santana o adversário que lhe escolheram, Sócrates, consegue fazer tão mal que a confirmarem-se os resultados o PS deixará escapar o pássaro que teve na mão.
A maioria absoluta préfabricada pelas centrais do poder provavelmente não se verificará, e então o país acordará no dia a seguir às eleições ainda mais ingovernável do que antes.
Eis a razão que os está a deixar em pânico - e já está a provocar nos bastidores intensa movimentação com vista às coligações e entendimentos do dia seguinte, enquanto ao mesmo tempo são mobilizadas as tropas disponíveis para tentar ainda forçar a maioria absoluta.
Aguardamos agora a capa do "Expresso" de sábado próximo.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Um alentejano em brios

Às vezes vale a pena picá-los. Tinha-me metido com o Alentejano-SA, que não actualizava aquilo quase desde o tempo da inauguração da barragem de Alqueva, e a resposta veio logo.
O rapaz anda a estudar, tem frequências, e tal e tanto, e mata-se a trabalhar lá por Castelo Branco. Tem desculpa, pronto - não se fala mais nisso.
Aproveitou para me apresentar outro colega, do Redondo mas também em Castelo Branco nos mesmos afazeres (dizem que estudam...)
É o Reticências, e também não tem muito tempo para actualizar. A última entrada é do ano passado, pá! Atão lá no Redondo pararam em 2004?

(Outro para o TUDOBEN...)

Concerto de José Campos e Sousa

O anunciado jantar-concerto em homenagem a Rodrigo Emílio ocorrerá no próximo dia 29 de Janeiro, sábado, pelas 20.30 horas, num restaurante de Lisboa.
A organização está a cargo do blogueiro do Nova Frente, e as inscrições podem fazer-se por mail para novafrente@clix.pt ou pelo tel. 961221530.
Podem agendar para sábado à noite.

CARTA DO CANADÁ, por Fernanda Leitão

O FOLHETO
Um dia destes recebi, dentro de um envelope que exibia o remetente do PSD no bairro da Lapa, em Lisboa, um folheto, em papel couché impresso a várias cores, que propagandeava, com abundância de elogios e fotografias, os candidatos daquele partido ao círculo da emigração que se optou por designar Fora da Europa depois de o mesmo partido ter chamado muitos anos aos emigrantes desse círculo o Resto do Mundo.
Fiquei profundamente irritada e considerei o folheto uma obscenidade, um insulto atirado à cara dos portugueses residentes fora da Europa por esse partido ter o descaramento de apresentar, como cabeça de lista, o mesmíssimo José Cesário que, depois de ter andado uns poucos de anos pendurado na burra da política, a comer à conta de todos nós sem produzir nada de útil para o país, conseguiu ser depois o pior secretário de estado das Comunidades de que há memória nos últimos 30 anos. Uma nódoa. Uma afronta à inteligência, à decência, ao bom senso. Uma estupidez, só de presença, ainda por cima assumida por todo um (des)governo liderado sucessivamente por um que fugiu para Bruxelas e o seu sucedâneo piroleiro, troca-tintas e sem legitimidade.
Mais irritada fiquei ainda quando pensei, com natural lógica, que esse folheto tinha sido mandado às dezenas de milhar para os círculos eleitorais Fora da Europa. É assim que os partidos gastam os milhões que o povo, farto de aturar maus políticos até por cima dos olhos, é obrigado a pagar por força de legislação concebida e parida pelos que vivem dos dinheiros públicos palrando numa coisa que enfaticamente se chama parlamento e não passa de um pátio de cantigas. Um país que está de tanga, e sem norte, a ser espremido até à última gota por um bando de mentecaptos descarados.
Nos dias que se sucederam pude verificar, ao vivo, que a minha irritação era a mesma que sentiam muitos que receberam o tal folheto. E assim, facilmente se perceberá que a visita à comunidade portuguesa do Canadá dos rapazes que vinham naqueles retratos, realizada há dias, tenha sido um fracasso completo. Ninguém lhes ligou importância, embora a agência noticiosa LUSA diga o contrário, o que se compreende porque o seu delegado local é um homem que tem vivido pendurado no PSD pelo menos desde há 25 anos. Foi um afilhado querido de Manuela Aguiar, a deputada crónica que, ao fim destes anos todos, sai de cena sem glória nem apreço, sem nada ter feito de útil em favor dos portugueses expatriados.
E eis que leio nos jornais da irritação e nojo de autarcas, vários mesmo do PSD, ao receberem a granel a fotografia de estado, leia-se em estilo pavão, do Pedrocas das Larocas que tem estado, com uma carrada de santanetos e de santanetas, do seu partido e do CDS, a brincar aos governos no palácio de São Bento. Muitos, com uma franqueza saudável, afirmaram aos jornais que deitaram as fotografias para o lixo, indignados com o balúrdio gasto por um político vaidoso que já estava demitido, agoniados com esta insistência cheirando “à Outra Senhora”. O problema é esse. O salazarismo foi um vírus propagado pelo Palácio Foz, ali onde, à boa moda da Europa onde pontificavam Hitler e Mussolini, foi inventada a propaganda do regime. Viu-se no que deu essa propaganda cega: um 25 de Abril de 1974 que, em vez de derrubar um regime até às últimas consequências, através da Educação e da Economia, se meteu numa revolução de enredos, intrigas, perseguições, traições e corrupção. Uma revolução medíocre em que os doentes desse vírus têm tido caldo de cultura para se irem governando.
Nenhum social democrata decente, digno, inteligente, se pode rever num partido que é, nos dias de hoje, o maior insulto à memória de Francisco Sá Carneiro. Nenhum português de lei pode calar-se por mais tempo a este esquartejar da Pátria.
Fernanda Leitão

O Mito de Portugal

"O materialismo nega que as Pátrias sejam entidades reais, que elas tenham uma existência para além do nome. Esta negação corresponde ao erro lógico do Nominalismo que entende certas categorias do pensamento como simples recursos vocabulares para abstrair do real, quer dizer, do único real que são as coisas. Um radicalismo nominalista é o que anuncia a prédica - as coisas são apenas coisas - ou rejeita que nos nomes haja outra realidade, como ocorre num verso de Álvaro de Campos, para quem não há metafísica nenhuma. E, todavia, as Pátrias são entes reais, de natureza espiritual, por isso a muito clássica tese de que as Pátrias são como que segundas causas pelas quais a Providência garante à ínfima espécie que é o indivíduo (pessoa) as condições de vivência, de convivência e de comunhão em vista de um ideal, ou de uma causa final ou teleológica.
O Estado pode sofrer de precariedade, de apenas se resumir a um consenso transitório, mas a Pátria antecede e poscede a realidade do Estado, sobretudo quanto este se resume a mero formalismo jurídico, por não incarnar o cerne da Pátria. Há sempre Pátria, mesmo que não haja Estado. As Pátrias são entes dinâmicos, inerem muito mais ao mito do que ao facto, muito mais ao finalismo essencial do que ao acidentalismo da história positiva."

(Pinharanda Gomes, comentando nas páginas de "O Diabo" o recente livro de José Eduardo Franco intitulado "O mito de Portugal", editado pelas Fundação Maria Manuela e Vasco Albuquerque d'Orey)

Brasil: o impasse político decorrente do revés eleitoral do PT

Alguns meses se passaram desde o término das eleições municipais, e o País continua a viver um impasse político, decorrente dessas mesmas eleições.
O Presidente Lula da Silva e seu governo, comandado pelo Ministro da Casa civil José Dirceu, tinham em marcha um projeto de poder marcadamente socialista e, para firmá-lo, contavam com o bom desempenho eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais. Visando esse fim o governo conferiu dimensão nacional ao pleito, centrado de modo inequívoco na reeleição em São Paulo da Prefeita Marta Suplicy do PT.
Entretanto, as urnas trouxeram uma surpresa, pois o PT sofreu derrota muito marcante em São Paulo e em outras cidades importantes do País. Do ponto de vista do simbolismo ideológico destacou-se Porto Alegre, a capital dos Fóruns Sociais Mundiais.
Convém recordar que o próprio Presidente Lula se engajou pessoalmente nas disputas mais cruciais para o Partido. Sua alegada taxa de aprovação popular, no entanto, não conseguiu reverter os resultados, chegando em alguns casos sua intervenção no processo eleitoral a tornar os índices ainda mais desfavoráveis ao PT.

Tensão ideológica e correcção de rumos
Nestes dois anos de governo, foi-se verificando na opinião pública uma crescente tensão ideológica, que afectou a grande massa, preponderantemente centrista e conservadora. Os métodos autoritários utilizados para combater opositores, até mesmo os opositores internos do PT; o assalto partidário à máquina pública; a leniência em relação aos movimentos revolucionários de esquerda, como os sem-terra e os sem-tecto, que viram o caminho praticamente livre para a agressão impune do direito de propriedade; a instabilidade no ambiente econômico, pela violação de contratos e indefinição de regras; a política externa, com fortes notas de anti-americanismo, privilegiando alianças ideológicas em detrimento dos interesses comerciais do País, tudo acabou por gerar uma crispação da opinião pública em relação ao governo de Lula da Silva e a seu partido. Crispação que teve sua culminância na eleição municipal.
O processo eleitoral, muito mais do que favorecer esta ou aquela agremiação política, mostrou que o público, sobretudo a classe média de grandes centros urbanos, estava decidido a barrar o caminho à marcha esquerdizante, com tintas autoritárias, que se vinha desenrolando.
Diante de tal resultado o ambiente mudou irremediavelmente. O PT tentou um verdadeiro malabarismo para minimizar a derrota, ou até mesmo negá-la, e, sobretudo, para salvar o Presidente Lula da responsabilidade do fracasso eleitoral. Esforço não muito eficaz, pois até entre as hostes do PT houve larga troca de acusações para apurar as razões ou os culpados pelo ocorrido, apontando alguns a responsabilidade ao próprio Presidente.
Após a clara derrota político-ideológica do PT/Governo, muito se tem falado da necessidade de uma correcção de rumos e de uma ampla reforma ministerial, a qual, entretanto, não se define e tem sido seguidamente postergada.
Os assessores próximos a Lula parecem estar, sobretudo, preocupados em articular uma base política que permita a reeleição do Presidente em 2006. Esse esforço de articulação, que não se tem mostrado fácil, estaria atrasando a própria reforma.
O que se verifica no momento é uma paralisia da atual administração, tomada por uma indecisão de rumos. Como observou alguém, de tanta certeza na vitória eleitoral, o governo Lula da Silva nem sequer tinha um plano B para a derrota.

Esboroamento da base de apoio político do governo
Como consequência mais imediata e visível do resultado das urnas, algumas figuras importantes da esquerda abandonaram ou foram afastadas do governo Lula da Silva.
É de destacar o pedido de demissão de Frei Betto, assessor especial do Presidente, destacada figura da "esquerda católica" e da Teologia da Libertação, amigo íntimo e até conselheiro espiritual de Lula. Ele articulava a relação do governo com as Comunidades Eclesiais de Base e os movimentos ditos sociais, como o MST. Um dos responsáveis do Programa Fome Zero e de programas sociais do governo - por meio dos quais tentou criar organizações populares ao estilo dos conselhos da revolução de Cuba -, Frei Betto alegou motivos pessoais para abandonar o governo.
Também se destaca a decisão de Lula da Silva de afastar Carlos Lessa, Presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), representante de uma corrente de economistas socialistas e nacionalistas, ligados ao PT. Adversário do assim chamado neo-liberalismo, Lessa, com seus assessores, tinha promovido um verdadeiro expurgo no BNDES, subvertendo a organização interna do órgão, afastando, por motivos ideológicos, profissionais altamente capacitados; e defendia em público um regime econômico fortemente estatizado, com sérias restrições a capitais privados, sobretudo internacionais.
Também como conseqüência da derrota eleitoral o governo Lula da Silva tem visto esboroar-se sua base de apoio. Dois partidos da aliança governamental manifestaram intenção de abandonar o governo Lula. O primeiro deles é o PMDB, o partido com maior representatividade parlamentar e que conquistou o maior número de prefeituras, nas recentes eleições municipais. O governo de Lula da Silva tem tentado alimentar uma divisão interna no PMDB, através de alguns elementos do próprio partido, favoráveis ao governo, como o Presidente do Senado, José Sarney, na esperança de manter a aliança com o Partido.
O segundo partido, o PPS, sucessor do antigo Partido Comunista Brasileiro, se bem que registrando igualmente uma divisão interna, anunciou formalmente sua decisão de abandonar o governo.
Numa estranha intervenção do governo na vida interna de outras agremiações políticas, Lula da Silva pediu aos Ministros dos dois partidos que não acatem as decisões de seus órgãos internos e permaneçam no governo.
Um outro fruto das recentes eleições foi a antecipação, na arena política, do tema da sucessão presidencial de 2006. O PT dá muita importância à reeleição de Lula da Silva e suas articulações políticas no momento parecem levar muito em conta essa meta. O PFL, partido de oposição, já anunciou candidato à sucessão de Lula. Outras articulações estão em curso.
Neste quadro, chamou também a atenção a intervenção na cena pública do ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Até agora vinha ele mantendo uma atuação discreta, pontuada aqui e ali com ponderações, por vezes até ligeiramente críticas, que nunca foram consideradas sérios ataques ao atual governo. Numa mudança de tom que chamou muito a atenção e teve larga repercussão na imprensa, Fernando Henrique formulou contundentes críticas ao governo Lula da Silva.

Indefinição de rumos e o advento de algum factor inesperado
As notas de indefinição e de incerteza talvez sejam as que mais se desprendem do atual momento político. O senador Pedro Simon, do PMDB, alertou há dias que o País vive um momento muito perigoso.
Muitos apontam como necessária uma correção de rumos do governo. Mas, fruto dessa mesma incerteza, torna-se difícil fazer previsões sobre o rumo que adoptará a actual administração, não se podendo até descartar o advento de algumas medidas inesperadas.
Talvez um desses inesperados seja o anúncio da intenção do governo de conferir ao mandato presidencial a duração de seis anos, na discussão próxima da reforma política.
Simultaneamente, o Ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o Presidente do Senado, José Sarney, aliado do governo, defenderam em público um mandato presidencial mais longo, sem direito a reeleição.
Logo em seguida foi a vez de Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência da República, defender a tese da extensão do mandato presidencial para seis anos. Gushiken, fundador do PT, ex-trotskista que permanece fiel ao marxismo, e que, juntamente com José Dirceu, integra o núcleo duro do governo, alegou em favor de sua proposta o inconveniente para o País da repetição frequente de debates eleitorais.
Os três pronunciamentos - talvez propositalmente -, foram dúbios, pois não
deixaram claro se tal mudança prevê a ampliação do actual mandato de Lula, ou se a duração de 6 anos valeria apenas para o próximo mandato.
Entretanto, segundo a imprensa, sabe-se que a tese da ampliação do mandato de Lula tem ganhado terreno dentro do governo. De qualquer modo a mudança, ainda que só no próximo mandato presidencial, visaria beneficiar Lula da Silva.
Cabe uma pergunta: diante da crescente frustração e descontentamento público face ao projeto esquerdizante do PT, estará o governo Lula da Silva disposto a levar a cabo uma série de reformas políticas - até mesmo constitucionais - que garantam a manutenção de Lula e do PT no poder, para consumarem a "revolução social" anunciada por José Dirceu nos primeiros dias de governo? Ou seja, trilhar a via do Presidente venezuelano, Hugo Chávez, que reforçou, por todos os meios (nova constituição, aumento do mandato presidencial, etc.), os mecanismos legais, a fim de permanecer no poder para levar a cabo sua revolução bolivariana? Não seria esta a única afinidade e semelhança entre o processo político dos dois governos.

(TFP)

terça-feira, janeiro 25, 2005

Sons da Terra

Comunicam-me que está em sério risco de vida, por falta de apoios oficiais ou de particulares, o Centro de Música Tradicional Sons da Terra, instituição sem fins lucrativos que muito tem feito pela recuperação da música tradicional étnica portuguesa, nomeadamente a recuperação da Gaita de Foles, seja através da constituição de um assinalável acervo fonográfico, seja através da organização de mais internacional dos nossos festivais de música étnica, o Festival de Sendim.
O alerta foi lançado pela Associação Gaita de Foles, em cujo site está disponível uma petição on-line dirigida ao Ministério da Cultura, à Câmara de Miranda do Douro, ao Instituto das Artes e à Delegação Regional de Cultura do Norte.
Todos os interessados na causa da música tradicional portuguesa agradecem o vosso apoio, e a divulgação junto dos vossos contactos.

Analogias

Em recolhida meditação sobre a estupidez dei por mim a rememorar os meus tempos de estudioso de economia.
Porquê, perguntarão intrigados. Que associação mais extravagante - dirão outros. É simples. Eu explico. Lembrei-me do que se estudava sobre o fenómeno inflacionista. A tipologia é parecida. A cada passo encontramos estupidez rastejante, e, quando não é controlada e passa dos limites, deparamos com estupidez galopante.
Em qualquer dos casos convém tomar cautelas, e não alimentar a bicha.

Falta-lhes pedalada!

Outro dia dei conta de vários blogues com raiz em Vila Viçosa, tentando espicaçá-los para ver se se mexiam porque lhes encontrei o defeito de estarem muito parados.
De resto nada a dizer; são todos magníficos...
Agora topei com outro, através do TUDOBEN. É o Alentejano-SA, e também me parece que em matéria de posts anda ao ritmo do lá vem um, quando calha...
Caramba, estes gajos ainda dão má fama aos alentejanos... Então criam um blogue e depois descansam?

Direitistas

A época de campanha eleitoral é sempre um consolo para qualquer direitista empedernido.
Não é que leve a coisa muito a sério, que um direitista é por natureza muito resistente a convencimentos fáceis e a ilusões desejosas, mas é sempre agradável (do ponto de vista do tal direitista, claro está) observar o fenómeno de direitização generalizada que se apodera da vida política nestas temporadas.
Não há quem não queira fugir da sinistrose que em tempos normais fica bem e é de bom tom.
O fenómeno é intrigante, sem explicação racional mormente nestes tempos em que a aceditar nos estudos e sondagens a esmagadora maioria do eleitorado palpita e anseia por uma esquerdização dos rumos da governança.
Deve ser algum estranho gás, que se propaga no ar, e de súbito todos surgem a reclamar pergaminhos e bandeiras que pouco antes rejeitavam com horror.
E lá está: falando sábado, no Porto, o presidente do PND, Manuel Monteiro, considerou que o seu partido é "a verdadeira alternativa de ruptura à direita".
O uso do português não é brilhante ("alternativa à direita" pode ser naturalmente a esquerda) mas parece-me que ele quis dizer que o PND é "a verdadeira alternativa de ruptura", e que a mesma e o mesmo se localizam "à direita".
Ora nem mais. Ainda há pouco, há poucochinho, o Dr. Monteiro e restantes responsáveis do agrupamento ficavam de todo enxofrados se alguém lhes atribuísse esse posicionamento na geografia política.
Só pode ser o tal gás misterioso.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Lá como cá

Em França a crise da imprensa escrita tem atacado todos.
Sucedem-se as situações de aperto, mesmo entre os que se julgavam imunizados.
A última notícia de sensação veio do "Libération", o célebre e emblemático jornal do esquerdismo francês (e não só...)
Pois o "Libé" esteve quase a encerrar portas, tantas foram as aflições. Mas para já tudo se resolveu: Monsieur le Baron Édouard de Rotschild entrou generosamente com vinte milhões de euros, vinte milhões fresquinhos, e a crise ficou afastada - até à próxima.
Depois do longo romance do "L'Humanité", esse património da humanidade, órgão do velho PCF, que nos últimos anos tem perdido milhões e milhões e tem mobilizado os favores dos mais altos vultos do capitalismo francês (e recursos do Estado, em subsídios intermináveis despoletados com pompa e circunstância pelo próprio Chirac, que declara não poder perder-se tão precioso monumento) foi agora a vez do "Libération" provar como é grande e sensível o coração dos donos do mundo.
Lá como cá, não dá para entender como é que a esquerda ainda se queixa dos capitalistas. Que o diga o Miguel Portas.

TEMPOS DE LULA

(ou uma quase crónica brasileira)

Que ninguém se espante se, no final dos quatro anos de seu mandato (se é que chega lá), Dom Lula estiver bem mais gordo e balofo, um verdadeiro Rei Momo.
O deslumbre com o poder é tanto que até na hora da comida exagera nas compras.
No palácio do planalto, é bom lembrar, o programa fome zero funciona.
Fome e sede zero. Todos querem, literalmente, se entupir de comida e bebida.
O processo de licitação de número 00140.000226/2003-67, publicado no Diário Oficial da União, previu a compra de 149 itens para o palácio.
Dentre eles constam: sete toneladas de açúcar; duas toneladas e meia de arroz; 400 latas de azeitona; 600 quilos de bombons; 800 latas de castanhas de caju; 900 latas de leite condensado...
Tudo altamente calórico e exagerado. O pior é que pelo prazo da licitação, tudo isso deverá ser consumido em 120 dias.
Mas tem mais. Constam ainda: dois mil vidros de pimenta; dois mil e quinhentos rolos de papel alumínio; quatrocentos vidros de vinagre; quatrocentos e sessenta pacotes de sal grosso e ainda seis mil barras de chocolate.
Se você, caro leitor, apanhar uma calculadora, vai concluir que a turminha de Dom Lula está consumindo por dia: 58 quilos de açúcar (ou dona Marisa faz muito bolo ou Lula toma muita caipirinha...); 22 quilos de arroz; 50 barras de chocolate; 15 vidros de pimenta...pimenta???
Como a repercussão dessa compra foi negativa, Rei Momo mandou tirar do site oficial do governo o processo de licitação, que já havia sido publicado na edição número 463 do Diário Oficial.
Rei Momo é assim: num dia esconde o que faz, noutro camufla o que compra.
Deslumbrado é pouco. E a coisa vai mais longe.
Em outra licitação (00140.000217/2003-36) dá para perceber que o Rei Momo gosta de festa. O Gabinete da Presidência comprou um pouco de tudo para beber.
Entre os itens: 129 mil litros de água mineral (consumo de mais de mil litros por dia); duas mil latas de cerveja; 35 mil latas de refrigerante; 1344 garrafas de sucos naturais; 610 garrafas de vinho (consumo de cinco por dia); 50 garrafas de licor.
A sede dos deslumbrados vai além, mesmo com muita gente morrendo por falta de água no sertão, que Rei Momo conhece bem.
Em outra licitação (00140.000228/2003-56), Rei Momo mandou comprar para seu palácio: 495 litros de suco de uva; 390 litros de suco de acerola; o mesmo tanto de suco de maracujá, laranja, tangerina e manga.
É o sede zero palaciano. Como cada litro de suco resulta em 30 copos, Momo e os bôbos da corte vão se entupir com 99.225 copos de sucos variados.
Talvez esteja aí a explicação para tanta compra de açúcar...
Ou será que ninguém conhece adoçante?
Uma outra compra diz respeito a 2.250 quilos de pó de café.
Uma conta simples resulta em 2145 cafezinhos por dia.
Desse jeito Rei Momo vai acabar perdendo o sono.
E de novo, açúcar no café? A farra não termina por aqui.
Numa outra compra (00140.000126/2003-31) Rei Momo prova que é bom de estômago - não há sal de fruta que o supere.
São três toneladas e meia de batata: duas mil dúzias de ovos; duas toneladas de cebola e uma tonelada de alho poró...
Isso na composição dá uma verdadeira bomba.
Na mesma compra tem mais: 2400 abacaxis; uma tonelada e meia de banana; outro tanto de ameixa e ainda uma tonelada de caqui.
Pelo que se entende de outra compra (00140.000227/2003-10), dona Marisa Letícia anda cozinhando pra fora, servindo marmita.
Foram comprados para serem consumidos em 120 dias: dez botijões de gás de dois quilos (deve haver alguma espiriteira no palácio): 170 botijões de 13 quilos; 20 cilindros de 45 quilos e mais 45 toneladas de gás a granel.
Continha simples: 24 botijões por dia consumidos (vai cozinhar assim na casa do chapéu).
Quer mais farra? Então vai: O gabinete da presidência mandou comprar: dois mil CDs para gravação, com as respectivas caixinhas, e 20 mil disquetes.
Estaria Rei Momo montando uma gravadora pirata?
E alguém tem idéia de quanto se paga de roupa lavada no Palácio, em 120 dias? - 54 toneladas - ou 13 toneladas e meia por mês, ou ainda, 450 quilos de roupa por dia.
Rei Momo torna feliz qualquer tintureiro.
Talvez a justificativa para a lavanderia seja uma outra compra, a de número 00140.000143/2003-78. São: 300 colchas; 330 lençóis; 300 fronhas; 50 travesseiros; 66 cobertores (cobertor em Brasília é grave, hein?); 15 roupões; 20 jogos de toalha; 20 toalhas de banho e 120 colchões. 120 colchões??? (Acho que o cara tá montando um Motel novo em Brasília).
Quando Rei Momo prá lá se mudou também tratou de providenciar todo conforto possível. A presidência comprou: dois fogões (Não tinha antes???); duas cafeteiras; quatro fornos de microondas; quatro geladeiras; oito ventiladores; seis aparelhos de ar condicionado; dois bebedouros (ué! e a água mineral é só para visitas?); sete televisores; dois aparelhos de CDs; três liquidificadores; uma sanduicheira (É pobre mesmo, no palácio comendo sanduba???); um frigobar.
E então, caro leitor (e eleitor), você ainda duvida que Dom Lula sairá de lá como um Rei Momo de gordo? E dona Marisa?
Ou será que antes de sair nós ainda vamos pagar lipoaspiração e outros tratamentos para essa cambada que está engordando feito porco? Tal como uma criança que nunca experimentou o melado, e quando o faz se farta, Dom Lula e dona Marisa estão deslumbradíssimos. Em vez do "ô meu!" agora é excelência.
Em vez de platéia de peãozada, agora são outros presidentes e primeiros ministros.
Viajar então está uma delícia. Não precisa pagar passagem, nem hotel. Um avião só para ele. Para ele e seus babaovos. E então, Rei Momo, o poder fascina?
Aproveita, porque uma hora nós nos cansaremos de pagar seu deslumbre.
O que diria o sindicalista barbudo do final dos anos 70, se o presidente da época fizesse isto????

(esta é colaboração especial da nossa correspondente no Brasil...)

domingo, janeiro 23, 2005

Deus nos valha!

Estive a ler com toda a atenção o Mais Évora.
Como cidadão eborense, interessado na vida da cidade, não sei o que dizer do que li.
Na verdade, nem sei definir bem o que sinto. Não é revolta, não é nojo, não é sequer indignação.
Sinceramente, neste momento é cansaço. Cansaço e desolação.

Enredos do Carnaval

Há promessas que se anulam reciprocamente.
O famoso ventríloquo que o PS arranjou para esta campanha prometeu já, como foi muito falado, criar nada menos de 150.000 novos empregos (quando for governo, pois claro). Não explicou como. E surgiu agora depois disso a prometer que vai reduzir a administração pública, reduzindo 75.000 lugares. Fiquei sem saber se os "novos empregos" serão empregos a acrescentar aos existentes (nesse caso terá que criar 225.000 novos, para compensar os eliminados e ainda aumentar os tais 150.000) ou se o número adiantado corresponde mesmo aos que prevê que faça nascer, tendo portanto que abater-se os 75.000 que extingue para ficar claro que só haverá na realidade 75.000 a mais do que no presente. A não ser que esteja a prever extinguir algures outros 75.000, e então os 150.000 criados não se traduzem em nenhum crescimento real do emprego.
Enfim, dúvidas que ficam no ar.
Entretanto, o mesmo palrador anunciou com solenidade que vai retirar 300.000 idosos da pobreza (deve ter já esclarecidas as suas notórias dificuldades com o "limiar da pobreza"). E aqui as dúvidas que me surgem ainda são mais graves. Como pensa ele fazer isto? Retirar da pobreza 300.000 (trezentos mil) idosos? Tem um plano para os tornar todos ricos ou tem algum projecto de eutanásia activa?

Notícias do bloqueio

Comentando o fútil exercício a que se dedicaram segunda à noite na RTP uns figurões que a si mesmos se acham os pais da Pátria (no que são acompanhados por uma nutrida multidão de tontos) escreveu Pacheco Pereira o seguinte:
"Por que é que o que disseram os "senadores" me pareceu inútil? Porque nem num momento só emergiu a identificação de qualquer dos obstáculos reais à mudança em Portugal. Ora, não há reformas sem identificar os interesses que as impedem e apontar os meios de os combater. Ponto. Todos eles têm razão: temos problemas de coesão social (Soares), as mudanças identitárias do país no mundo não são percebidas pela população nem pelos políticos (Moreira), o Estado funciona mal e é um obstáculo à produtividade (Cadilhe), os partidos políticos são medíocres (todos), estes entendem-se no que não deviam entender-se e no que deviam agridem-se (Balsemão), etc., etc. Tudo isto sabemos bem e são hoje lugares-comuns. Por que razão é que nada é feito e parece que não temos instrumentos, nem vontade para o fazer? Por que razão há tanto sentimento de impotência que nem os melhores sequer tentam? Por que é que tudo parece sólido betão, resistindo a todas as tentativas de mudança, engolindo as veleidades reformadoras, engendrando uma mediocridade que lhes é salvífica? Porque há poderes e interesses poderosos, identificáveis, nomeáveis, com cabeças individuais e institucionais, e eles estão firmes que nem uma rocha e mandam em Portugal. Existem nos sindicatos, nas fundações, nos partidos, na comunicação social, nas associações empresariais, nas fundações, nos grandes grupos económicos, nas ordens profissionais, nos grandes escritórios de advogados, nos clubes de futebol, nas autarquias, na "cultura" organizada. É normal que seja assim em democracia, o que não é normal é que seja tão difícil exercer a autoridade democrática contra eles, ou para além deles, quando é necessário pelo bem comum.
É que isto não vai com pactos, porque se fosse já tinha ido. O sistema político é suficientemente racional para que se fosse possível, numa mesa de negociações, unir PS e PSD para diminuir as despesas de saúde, ou de segurança social, ou modernizar a administração pública - as diferenças ideológicas, que já são pequenas, não impediriam um acordo em cinco minutos. O problema é que por detrás de todos os "problemas" estão interesses de todo o tipo, a começar pelos interesses económicos poderosos e a acabar pelos "interesses" da pobreza, do remedeio, da baixa qualificação, do mundo protegido da competição, da preguiça, da apatia, típico das sociedades excessivamente dependentes do Estado e do subsídio - se sobrevivo assim, mais ou menos, porquê arriscar um mundo que me pode ser mais hostil? Os partidos políticos estão mergulhados nestes interesses, a montante e a jusante, e, frágeis como são, precisam de "comprar" eleitorado com a promessa de que nada muda na mediocridade.

Concordo com o diagnóstico. Não vejo como seja possível qualquer reforma que parta dos que dependem precisamente dos "poderes e interesses" que se opõem e oporão a qualquer mudança. Confesso que na minha visão do poblema o Dr. José Pacheco Pereira também é estrela dessa constelação, mas essa é outra conversa.

Escolha a loja que lhe convém

Não, não vou falar de lojas de chineses, de lojas dos trezentos, de lojas de secos e molhados, ou de outro género de estabelecimento de porta aberta.
Estou aqui a rir-me divertido com as observações dragoscópicas sobre as categorias lojísticas em que se dividem, ou se juntam, os nossos pedreiros, pedreiras e aparentados.
Fiquem os leitores sabendo que podem escolher conforme for a vossa preferência, seja uma loja só para homens, uma para mulheres, outra unissexo, outra do outro sexo (estas usam o triângulo em cor-de-rosa), e têm mesmo opções de grande utilidade familiar, lojas para juvenis por exemplo.
Também há aventais para todos os gostos e medidas.
Até vos digo mais, que o Dragão não sabia. No palácio pedreiral, ali ao BA, até estão a pensar instalar uma creche, logo à entrada, e um pequeno aparcamento para cães, lá no quintal, onde possam permanecer os elementos familiares necessitados enquanto os veneráveis irmãos e irmãs (ou tal e coiso) se dirigirem à galeria comercial para os seus respectivos estabelecimentos.

Legislativas na net

Como já tinha falado, esta campanha para as legislativas caracteriza-se por um uso intensivo da internet. Generalizou-se, já não há cão nem gato que viva sem ter um blog ou abrir um site.
O que ontem era novidade hoje tornou-se comum. Temos assim os políticos em força no ciberespaço, e as nossas caixas de correio com mensagens de Sócrates a par das que anunciam drogas milagrosas. Julgo que vai subir muito o preço das listas de endereços.
No meio de tudo o que apareceu nos últimos dias quero destacar o Especial Legislativas do SAPO, que me pareceu muito útil para ir acompanhando a presente campanha.
Apresenta as ligações para os partidos, para a CNE e o STAPE, noticiário e entrevistas, e blogues de alguns dirigentes partidários (penso que terão sido dirigidos convites aos partidos para este efeito).
Uma curiosidade divertida: o Dr. Garcia Pereira, dirigente do MRPP, lançou um livro intitulado "Ousar Sonhar, Ousar Lutar, Ousar Vencer"; e o Dr. Humberto Nuno Oliveira, candidato do PNR, lança no seu blogue um vibrante "Ousar Lutar para Vencer". Ele há coisas do demo!

sábado, janeiro 22, 2005

Eleições na SHIP

Como estamos em maré de eleições, também a Sociedade Histórica da Independência de Portugal vai no próximo dia 31 de Janeiro escolher os seus órgãos sociais para o triénio de 2005/2007.
Para o efeito está convocada assembleia geral, para a sede da SHIP, no Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11, em Lisboa, no referido dia 31 de Janeiro.
A votação pode ser presencial ou por procuração, e concorrem duas listas, designadas A e B.
Chamo a atenção dos meus amigos e consócios para que não esqueçam a importância do acontecimento, e não deixem de cumprir os seus deveres estatutários.

Lançamento de livro de José Adelino Maltez

Sexta-feira, dia 28, pelas 18 horas e 30 minutos, no Centro Nacional de Cultura, Galeria Fernando Pessoa, Largo do Picadeiro nº 10, 1º, ao Chiado, ocorrerá o lançamento do livro "Tradição e Revolução - uma biografia do Portugal Político do século XIX ao século XXI, volume I (1820-1910)", de José Adelino Maltez.
A apresentação da obra, editado pela "Tribuna da História", estará a cargo de José Pacheco Pereira.

As eleições do Carnaval

Se em tempos normais já o forrobodó eleiçoeiro tem notórias semelhanças com o período carnavalesco, era de recear que neste caso que enfrentamos, marcado para o entrudo por inspiração presidencial, tudo piorasse notoriamente.
Ainda por cima com os momos que protagonizam a festa.
E, parece-me não ser grande originalidade dizê-lo, os receios confirmam-se. Tudo se pode dizer, e tudo se diz, com a tranquilidade de quem sabe que tudo acabará na quarta-feira.
Esta manhã li o seguinte título: "PS quer a redução drástica da Função Pública"(!!!!)
O PS quer tal coisa??? Continuei a ler, e lá está efectivamente que: "O PS prevê reduzir a Administração Pública em 75 mil funcionários na próxima legislatura, com a regra de substituição em que a cada dois reformados só corresponderá um novo trabalhador" - o que, dizem os jornais, "afirmou sexta-feira à noite António Vitorino" no final da reunião da Comissão Nacional do PS.
É mesmo Carnaval, ninguém leva a mal...

Tendências no cenário político brasileiro

Apesar da dificuldade em determinar com certeza o rumo que adotará o governo Lula, cabe registrar certas manifestações e movimentações do cenário nacional.
a) De um lado, os petistas mais comprometidos publicamente com o caráter socialista do Partido, bem como os aliados de esquerda do governo Lula, incluídos a "esquerda católica" e os ditos movimentos sociais, exigem do governo a ruptura com o modelo econômico que qualificam de "neoliberal".
Na prática, uma forte socialização e estatização da economia, a implantação de uma Reforma Agrária radical, com a conseqüente coletivização do campo, o calote da dívida, a restrição à entrada de capitais estrangeiros, etc.
b) De outro lado, há aqueles que apontam como única saída para o governo Lula, a manutenção estrita da atual política econômica, e uma "despetização" do governo, com o afastamento de todos aqueles que vinham levando a cabo a consolidação do chamado projeto de Poder. Neste sentido, Lula já acenou para um governo de coalizão nacional. Falou-se até da necessidade do afastamento do Ministro da Casa Civil, José Dirceu, o homem forte, acusado pelos erros do governo Lula, especialmente o caráter
autoritário e agressivamente esquerdista deste.
c) A observação do quadro político indica, por outro lado, uma terceira possibilidade, a qual parece ir ganhando força nos fatos. Após o afastamento de figuras expressivas da esquerda, Lula da Silva poderia tentar manter ao máximo sua equipe governamental e prosseguir a marcha esquerdizante que vinha realizando até agora. Ou seja, garantir a relativa estabilidade econômica, enquanto assegura a manutenção do núcleo duro do governo, comandado por José Dirceu, Ministro da Casa Civil. Está nessa linha o destaque que Lula da Silva dará ao Ministro, a quem encarregou de fazer o discurso de balanço dos dois anos de governo. Vão igualmente nessa linha as recentes declarações de José Dirceu, o qual afirmou ser necessário evitar uma aventura, mas de outro lado ter audácia.
Resta saber se Lula, depois do inequívoco recado das urnas, está disposto a prosseguir sua marcha rumo a um regime autoritário, que atente cada vez mais contra a propriedade privada, enfrentando assim a opinião pública. Neste caso é de se prever que vá vendo diminuir o número dos que o apoiam e crescer o descontentamento.

(in TFP)

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Mais dois do Alentejo

Encontrei mais dois blogues alentejanos, dirigidos às terras que lhes dão nome: são o Aljustrel e o Vendas Novas.
Os dois ainda muito no início, mas temos que ter esperança. Com mais tempo e boa pedalada ainda chegam ao pelotão da frente.
Para já aqui fica a nossa saudação aos patrícios (e o nosso amigo do TUDOBEN já pode apontar mais estes!).

Podem escrever no Guestbook!

Tendo em conta o que encontro nas caixas de comentários parece-me que começo a ter leitores realmente fidelizados...

quinta-feira, janeiro 20, 2005

África e a cooperação portuguesa

Sobre o tema acima referido fala hoje João de Mendia em mais um interessante artigo no Diário Digital.
A ler por toda a gente, e em especial por quem não pretenda esquecer esse importante vector da nossa política externa.

Jantar-concerto com Campos e Sousa

Dando sequência ao êxito do anterior, vai realizar-se novo jantar-concerto de homenagem a Rodrigo Emílio e à sua poesia, no dia 29 de Janeiro, sábado, pelas 20.30 horas.
O protagonista será novamente o cantor e compositor José Campos e Sousa, que recentemente editou um CD com a mesma intenção, integralmente constituído por composições suas sobre poemas de Rodrigo.
Todas as informações (local, preço), bem como as inscrições, correm a cargo do Nova Frente.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Ninguém respeita a velhice

Leia-se este brilhante artigo do Porta-Bandeira intitulado "Bloco 1, PCP 0" e entenda-se a profundidade do drama a que está condenada a senil idade do PCP.
Como última desgraça ainda lhes faltava esta, de ser gozados, ultrapassados e olhados desdenhosamente por uma agremiação de jovens burgueses alegres e profiteurs, sem outra causa que não seja o hedonismo fácil e bon-vivant.

Sábado 22 de Janeiro: Mais Vida Mais Família

Fará na próxima semana um ano que se deu início ao processo da maior recolha de assinaturas jamais feita entre nós, a petição "Mais Vida, Mais Família", em que mais de 200.000 portugueses manifestaram a sua firme determinação na Defesa da Vida Humana, desde o momento da concepção à morte natural, assim como da Promoção da Família, resultante do casamento entre homem e mulher, como elemento fundamental da sociedade.
No momento que passa é cada vez mais importante recordar os pontos essenciais das reivindicações de então:
a) O reforço da protecção da vida e dignidade de cada ser humano, nomeadamente em sede de revisão constitucional;
b) Um regime legal de protecção jurídica de cada ser humano, na sua fase embrionária;
c) Iniciativas legislativas de promoção da família nos domínios fiscal, laboral, habitacional, da segurança social, da saúde e da educação;
d) Medidas concretas de defesa da vida e da dignidade de cada ser humano, em particular da mulher, muito em especial de apoio à mãe grávida em dificuldades, bem como ao recém-nascido.
E para assinalar este aniversário, e a fim de recordar aos partidos políticos agora envolvidos na campanha eleitoral que irão ser julgados pelos portugueses pela importância que têm dado e prevêem dar na Defesa da Vida e Promoção da Família, realiza-se no próximo dia 22 de Janeiro, no Auditório do Edifício Novo da Assembleia da República, o Fórum "Mais Vida, Mais Família".
Os organizadores convidam todos os interessados a marcar presença, de forma numerosa, de modo a expressar publicamente a relevância destes temas e a não permitir que nesta hora eles caiam num esquecimento de conveniência.
(mais informação em Juntos Pela Vida)

O fim de "O Dia"

Na verdade tratou-se só de desligar a máquina; há muito que os sinais de vida eram meras ilusões de alguns, que se esforçavam para as manter.
Segundo se anunciou agora, a edição da passada sexta-feira foi a última para o jornal "O Dia".
A "suspensão" (?) do título, conforme foi explicada, ficou a dever-se a "questões de natureza económico-financeira".
O diário era nesta última fase propriedade da "Fólio – Edições e Comunicação Social" e tinha como director Antero Silva Resende.
Tinha sido fundado em Dezembro de 1975. Quantas vicissitudes nestes vinte e nove anos de existência agitada!
O acontecimento podia ser apontado como mais um episódio da crise da imprensa escrita, e da impossibilidade prática de manter tais órgãos de informação fora da lógica de funcionamento dos grandes grupos económicos.
Porém, nesta hora do fim gostava sobretudo de recordar com saudade o grupo fundador de "O Dia", constituído essencialmente de entre os vinte e tal redactores que haviam sido expulsos meses antes do "Diário de Notícias", quando ali exercia funções de controleiro zeloso e odiento aquela criatura entretanto nobelizada, protagonista do que continua a ser o episódio mais vergonhoso da história do jornalismo em Portugal.
Ninguém imagina hoje esses tempos em que a imprensa matutina de Lisboa era representada pelo "Diário de Notícias" e por "O Século", reduzidos a meras edições diárias do "Ávante" em versão mais panfletária e radical.
O aparecimento de "O Dia", com as figuras prestigiosas de Vitorino Nemésio e David Mourão-Ferreira à cabeça, rompeu definitivamente com o universo monocolor, em violentos tons de vermelho, que dominava a imprensa escrita de então. Teve uma adesão popular que o transformou de imediato num sucesso de vendas espantoso, com tiragens hoje inimagináveis.
O êxito foi temporário, por muitas razões e desde logo porque as causas do mesmo eram em grande medida conjunturais. Sucederam-se inúmeras peripécias, num longo processo de definhamento que incluiu falência, encerramentos, reaberturas, mudanças de titulares, de instalações, de tudo... arrastando-se penosamente até ao final que se anunciava. Requiescat in pacem.

terça-feira, janeiro 18, 2005

O blogue da Portvgvesa

Um novo blogue, de uma jovem portuguesa para todos os jovens portugueses (aqui o cota também ficou assinante).

Novo blogue eborense

A Associação Cultural Trítono, com sede em Évora, criou um novo espaço na blogosfera para divulgação das suas actividades.
Entretanto o Grupo Vocal Trítono, que deu origem à Associação, continuará a manter o site próprio, sendo sua intenção estabelecer uma relação de complementaridade entre os dois espaços.
Convidamos os nossos leitores a visitar ambos, e a acompanhar as actividades ali divulgadas.

ARCEBISPO CATÓLICO RAPTADO NO IRAQUE

Um comunicado distribuído às agências noticiosas pelo director dos serviços de imprensa da Santa Sé, Joaquin Navarro-Valls, confirmou que "recebemos a notícia do sequestro do arcebispo sírio-católico de Mossul, monsenhor Basile George Casmousa". O comunicado adiante que "A Santa Sé deplora da maneira mais firme este acto terrorista ignóbil e pede que este digno pastor seja conduzido rapidamente, e incólume, ao seu ministério".
O patriarca caldeu de Bagdad, Sua Beatitude Emmanuel Delly, revelou à agência missionária "Misna" que o prelado foi raptado quando saía de uma casa onde tinha ido em visita pastoral, na diocese de Mossul, e empurrado para dentro de um carro. "Não sabemos quem o sequestrou nem o motivo de tal acção", aacrescentou o patriarca de Bagdad. E prosseguiu afirmando que "nós imediatmente demos a notícia ao Vaticano e agora estamos a fazer os possíveis para estabelecer algum contacto. Espero que consigamos salvá-lo". No final, D. Emmanuel Delly convidou todos a rezarem pela libertação do arcebispo.
Monsenhor Basile Georges Casmousa, de 66 anos, é arcebispo sírio-católico de Mossul desde 1999. A arquidiocese de Mossul conta com 35 mil fiéis. Em 7 de Dezembro dois atentados destruíram parte da igreja arménio-católica de Mossul e o arcebispado caldeu da cidade. Estes actos seguiram-se a uma série de atentados contra igrejas, que começaram nos primeiros dias de Agosto, quando foram atacadas quatro igrejas em Bagdad e uma em Mossul. Nesses ataques, dezenas de cristãos perderam a vida. Há também a registar uma onda de ataques contra propriedades de cristãos.
A agência "Fides" denunciou a semana passada que dois monges caldeus do mosteiro de Dora, ao sul de Bagdad, foram sequestrados e libertados dois dias depois.
Os cristão no Iraque são cerca de 800 mil, isto é, 3 por cento da população, dividindo-se entre católicos e ortodoxos. Os mais numerosos são os caldeus, unidos a Roma, que representam 70 por cento dos cristãos.
(agência Zenit)

UM (INSUSPEITO) DEPOIMENTO DE ANGOLA

O SOBREVIVENTE
Quando José Eduardo dos Santos foi nomeado Presidente da República Popular de Angola, em 1979, substituindo Agostinho Neto, ninguém poderia prever que vinte e cinco anos mais tarde ele ainda ocuparia a mesma posição. O mundo é que se movera muito. Na época o então jovem engenheiro de minas, formado na União Soviética, com uma breve e discreta passagem pela guerrilha, parecia ser uma figura frágil, passível de se deixar manipular pela velha guarda do MPLA, que o apoiou, sem todavia emergir como uma ameaça imediata em relação às restantes correntes do partido. Nos anos que se seguiram, porém, José Eduardo dos Santos mostrou-se capaz de controlar, quase sem levantar a voz, um movimento que muitos dos seus próprios dirigentes consideram ser um perigosíssimo ninho de vespas, ao mesmo tempo que enterrava o seu inimigo histórico, Jonas Savimbi, e se metamorfoseava de ditador comunista no melhor amigo dos americanos em África.
Metamorfose não será, aliás, a palavra mais correcta. Não é como se um girino se transformasse em rã, ou uma lagarta em borboleta - é, antes, como se uma serpente se transmudasse em pomba, sem todavia perder o veneno. Olhando para José Eduardo dos Santos e para os seus homens de confiança, para estes novos democratas angolanos, ultra-liberais, prósperos empresários e latifundiários, cuja maior ambição é a de serem fotografados ao lado de George Bush nos jardins da Casa Branca, custa a crer, de facto, que ainda há poucos anos lutassem, na "trincheira firme do socialismo em África", contra a "democracia burguesa e o imperialismo americano". Eles próprios, creio, já se esqueceram disso. Em Angola pouca gente se recorda daqueles anos. É um facto histórico, sim, mas sem qualquer relevância.
A verdade é que José Eduardo dos Santos estava talhado para sobreviver.
Nascido numa família humilde, a adesão ao MPLA possibilitou-lhe romper com o destino, num território, então colónia portuguesa, onde nascer negro e pobre era quase uma condenação. Em 1992, durante a campanha eleitoral, a UNITA desencadeou uma campanha, de uma estupidez miserável, tentando demonstrar que Eduardo dos Santos teria nascido não em Luanda, como assegura a versão oficial, mas em São Tomé. Ainda hoje muitos partidos de base bakongo, do norte de Angola, continuam a insistir nisto.
José Eduardo dos Santos terá começado a revelar um extraordinário talento para a intriga política, com a hábil utilização do silêncio e das elipses, ainda na época da guerrilha, vindo a ascender nas estruturas do movimento depois de ter conseguido reconciliar com Agostinho Neto uma facção radical dos guerrilheiros. Mais espantosa ainda é a forma como foi capaz de sobreviver sem um arranhão (físico, político, e, inclusive, moral) à violenta orgia de sangue que se seguiu ao levantamento nitista de 27 de Maio de 1977. Na sequência destes acontecimentos, vale a pena recordar, desapareceu quase metade do Comité Central do MPLA. Milhares de militantes foram presos e assassinados, juntamente com dirigentes de outras formações à esquerda do partido, além de muitos soldados e civis sem quaisquer ligações com o levantamento.
Ainda hoje não se sabe exactamente de que lado estava José Eduardo dos Santos e o que pensa sobre a tragédia. O que é certo é que pouco tempo depois de tomar o poder fez com que fossem libertados todos os presos políticos, com a excepção daqueles ligados aos movimentos armados, colocando um ponto final na grande matança, e iniciando uma nova era, muito menos violenta do que a anterior, embora mais vigiada ideologicamente. Nos anos que se seguiram, até ao colapso do mundo socialista, pouca contestação interna terá existido, havendo apenas o registro da prisão, por pouco tempo, do escritor Costa Andrade (Ndunduma), hoje deputado do MPLA, e de mais duas ou três figuras menores do partido, acusados de colocar em causa a imagem do Presidente através da encenação de uma peça de teatro.
José Eduardo dos Santos chegou assim às primeiras eleições livres em Angola, em 1992, com a imagem, relativamente positiva, de um homem avesso à violência, elegante e requintado, e de uma discrição a roçar o mistério. Contra ele, porém, já pesavam inúmeras acusações de corrupção. Nos anos que se seguiram, após as eleições (nas quais não conseguiu obter a maioria absoluta dos votos) e o recomeço da guerra, tais acusações passaram a ser cada vez mais frequentes, com diversas organizações internacionais a denunciarem a estreita ligação entre a presidência angolana e a máfia internacional do armamento. A nomeação de Pierre Falcone, comerciante de
armamento, a contas com a justiça francesa, para um cargo diplomático na UNESCO como representante de Angola, veio dar uma imprevista credibilidade a tais acusações, colocando José Eduardo dos Santos numa posição muito frágil, tanto interna quanto externamente. Este terá sido, provavelmente, o maior erro político de toda a sua longa carreira.
Em Angola, o movimento de democratização, que pode talvez ser atrasado, mas não detido, parece pouco favorável a José Eduardo dos Santos. A imprensa independente tem vindo a atacá-lo, com surpreendente ferocidade, e mesmo dentro do MPLA já é possível escutar vozes, embora mais ou menos em surdina, a exigir o seu afastamento.
Creio, no entanto, que todas as previsões são temerárias. José Eduardo dos Santos foi capaz de sobreviver à pobreza, à guerrilha, ao 27 de Maio de 1977, ao estrondoso colapso do mundo socialista e a Jonas Savimbi. Talvez - ironias da história - possa sobreviver também à democracia.

José Euardo Agualusa

"Em toda a parte ao mesmo tempo"

A conversa ia animada e profunda. Ultrapassadas as trivialidades, começavam a partilhar o que "vai mesmo dentro". Até que toca um telemóvel. Na atrapalhação entre atender ou desligar venceu a urgência da mensagem que vinha de fora. Como voltar agora à intimidade alcançada? No momento da elevação do cálice na missa, no silêncio que é já uma comunhão, rompe em acordes polifónicos estridentes uma chamada urgente para alguém. Rebuscam-se bolsos, corre-se apressado para a porta, ou chega-se ao cúmulo de responder: "Está lá? Agora não posso que estou na missa!"
São inúmeras as possibilidades comunicativas das novas tecnologias. O telemóvel e a internet vieram encurtar distâncias, estabelecer novas redes de comunicação, pôr o mundo inteiro à distância de um "click". Como dizia Artur Santos Silva, presidente do 14º Congresso das Comunicações, "é um processo de comunicação fascinante que nos permite estar em toda a parte ao mesmo tempo como se fôssemos Deus". "Estar em toda a parte ao mesmo tempo" talvez defina esta ligação tão profunda com o telemóvel. Como se não existíssemos quando alguém nos quer contactar e o desligámos ou esquecemos em casa! Mas ele é também, cada vez mais, um objecto de luxo, uma afirmação de um nível de vida (real ou aparente), que contrasta com a crise real que vivemos.
É verdade que a comunicação é já princípio de comunhão. Mas importa também saber o que comunicamos. Que sumo se extrai desta abundância de palavras e imagens, trocadas à velocidade de "bites" e "megas"? Que espaço existe para o silêncio que permite o pensar, aí onde germina a palavra justa, capaz de criar algo novo? E como distanciar essa palavra do contacto humano, em que um só abraço revela mais do que mil imagens?
"Podem os amantes prescindir dos beijos, dos cheiros, dos sabores, das carícias, dos seus abraços?", pergunta Alfredo Moreno, sociólogo. E responde: "Claro que sim! Pelo menos temporariamente, enquanto o prazer do discurso lhes revelar os encantos da demora; enquanto a busca for o motor dos seus desejos." Mas poderá a vida ser só busca e não encontro? Faltam-me sempre os olhos e os gestos que nenhum olho fotográfico pode colmatar. Por isso recuso a dependência ou o controle que o telemóvel traz consigo. Uso-o mas procuro não deixar que ele me use a mim.
O dom da ubiquidade ("estar em toda a parte ao mesmo tempo") não é muito para nós. Quase sempre acabamos por não estar em parte nenhuma. A unificação interior de alma e coração, corpo e pensamento, é o lugar onde encontramos Deus e nos revelamos a quem amamos. E não tenhamos medo, Deus não vai mandar um SMS a dizer quando vai ser o fim do mundo!

P. Vítor Gonçalves

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Olivença e as eleições

Do Grupo dos Amigos de Olivença recebemos a seguinte nota de imprensa:

No momento em que os portugueses vão eleger a próxima Assembleia da República, a Direcção do Grupo dos Amigos de Olivença toma a liberdade de colocar as seguintes considerações:
«A Questão de Olivença continua actual: Portugal não reconhece a soberania de Espanha sobre o território que continua a considerar, de jure, português.
«Na legislatura agora finda, apreciado o assunto em Plenário da Assembleia, foi, por todos os grupos parlamentares, ao sublinharem o respeito pela legalidade internacional, lembrado que o direito internacional continua a indicar Olivença como território português e expressa a vontade de que o Governo analise o litígio e encontre uma solução para o mesmo, como factor de grande utilidade no futuro das relações entre Portugal e Espanha.
«Entretanto o Governo português, em obediência ao comando constitucional, vem assinalando publicamente que «mantém a posição conhecida quanto à delimitação das fronteiras do território nacional» e que «Olivença é território português». Não há muito, a então Senhora Ministra dos Negócios Estrangeiros, Dra. Teresa Patrício Gouveia, veio explicitar que «o Governo português se mantém fiel à doutrina político-jurídica do Estado português relativa ao território de Olivença».
«Todavia, apesar destas posições públicas, o Estado português continua, parece-nos, a subestimar a actualidade e relevância da Questão de Olivença e, nesse campo, a nosso ver, fraqueja na defesa do interesse nacional.
«Para o Grupo dos Amigos de Olivença, é escusado, é inadmissível e é insustentável prosseguir na tentativa de esconder um problema desta magnitude. A existência política da Questão de Olivença e o mal-estar que, aliás, traz ao relacionamento peninsular, impõem que a mesma seja tratada com natural frontalidade, isto é, que seja colocada – sem subterfúgios – na agenda diplomática.
«Não é razoável nem correcto o entendimento de que tal agendamento põe em causa as boas relações com o país vizinho e prejudica outros interesses importantes. Primeiro, porque uma política de boa vizinhança entre os dois Estados não pode ser construída sobre equívocos, ressentimentos e factos (mal) consumados; depois, porque a hierarquia dos interesses em presença não se satisfaz com a artificial menorização da usurpação de Olivença.
«As circunstâncias actuais, integrando Portugal e Espanha os mesmos espaços políticos, económicos e militares, verificando-se entre eles um clima de aproximação e colaboração em vastas áreas, são as mais favoráveis para que, sem inibições nem complexos, Portugal assuma que é chegado o momento de resolver a Questão de Olivença e de dar cumprimento à legalidade e ao Direito Internacional.
«Por tudo isto, o Grupo dos Amigos de Olivença, com a legitimidade que lhe conferem 65 anos de esforços pela retrocessão do território e interpretando os anseios de tantos portugueses, apela para que a Questão de Olivença esteja presente entre as preocupações dos candidatos e que na próxima legislatura, face às considerações expostas, os deputados eleitos, sustentando os direitos de Portugal, dêem uma contribuição decisiva na solução do litígio.

De borracha é que ele é!

Todos sabemos que político de sucesso nestes tempos conturbados é o que nunca diz o que faz e nunca faz o que diz.
Mesmo assim as recentes piruetas e malabarismos de José Sócrates, nomeadamente em matéria de orçamentos, benefícios e malefícios fiscais, o disse mas já não digo e não sei se direi, mais as promessas mirabolantes sobre pensões de reforma e salários, e mais os novos empregos às centenas de milhar, e o crescimento a taxas vertiginosas, ultrapassaram todos os limites do esperado.
E andava eu a chamar-lhe o homem de plástico!... Começo a ver que me enganei. Que se trata de produto de fábrica, inteiramente artificial, não se me oferecem dúvidas.
Mas ao ver esta elasticidade, esta flexibilidade, esta maleabilidade, esta espantosa adaptabilidade a todos os ambientes e situações, esta total ausência de forma própria, definida e estável, verifico que não é de plástico que se trata.
Só pode mesmo ser de borracha.

Uma estória exemplar

Na sequência do postal anterior não resisto a escrever mais um poucochinho sobre a educativa estória do Hotel Planície.
Não irei à mais remota, a do imediato pós-revolução em que se consumou a ocupação e a "gestão dos trabalhadores", que redundou no gigantesco passivo que comprometeu irremediavelmente a empresa.
Estou a pensar nos episódios mais recentes, aqueles que assinalam o fim do Hotel Planície e o início da "Pousada da Juventude" a que fiz referência.
Passam-se estes no tempo do governo Guterres-Sócrates-Pedroso-Seguro. A pasta da juventude estava muito bem entregue.
E acontecia que o Hotel Planície ia laborando, já nas mãos de uma sociedade a que tinha ido parar no rescaldo das vicissitudes revolucionárias.
Era titular e responsável por essa sociedade e pelo Hotel o Sr. Quaresma, pessoa bem conhecida no sector hoteleiro, em Évora, pela ligação já antiga dele e da família a essa actividade (no Hotel Santa Clara).
Pois, como disse, o Hotel lá ia andando. Mas a qualquer observador era evidente que por razões financeiras o problema não tinha solução. Com efeito, o tal passivo existente fazia com que, por melhor que se trabalhasse, com índices de ocupação no máximo e receitas correspondentes, a empresa só estivesse a trabalhar para satisfazer compromissos bancários.
Nenhuma unidade hoteleira daquela dimensão pode gerar receitas que ultrapassem o peso de um passivo superior a duzentos mil contos, por melhor que trabalhe. A não ser que tenha também uma máquina de fazer dinheiro, como os tais rapazes vêem o Estado.
Mas existia um activo valioso: o edifício, sito no melhor local de Évora, e com caracteristicas que abriam a possibilidade de outros aproveitamentos.
Não evidentemente por outros interessados em hotéis, que sempre se confrontariam com a mesma dificuldade em rentabilizar algo que contava à partida com débitos da ordem que se referiu.
A solução era obviamente, como sempre se pensa em Portugal em circunstâncias destas, o Estado.
E assim aconteceu: um belo dia surgiu a notícia da aquisição do imóvel do Hotel Planície pelo Estado, para instalar a tal Pousada da Juventude, e tudo se consumou em luzida cerimónia.
Algum tempo depois começou a funcionar a Pousada da Juventude no local, até que anos depois alguém, certamente alarmado com os custos de funcionamento, e confrontado com restrições orçamentais, terá tomado a iniciativa de a encerrar invocando a necessidade de fazer obras.
Ao tempo do negócio de compra, após a excursão dos responsáveis do desgoverno de então (Seguro, Sócrates, Pedroso, Guterres), encontrei um alto dirigente do PS eborense, que foi governante, deputado, e agora é cabeça de lista às legislativas.
Não resisti a interpelá-lo sobre o assunto. Parecia-me ruinoso o que me tinham dito; segundo as informações, e grosso modo, o Estado largou mão de uns trezentos mil contos (concretamente ao que me disseram o sr. Quaresma ainda terá podido ficar com uns vinte mil contos, o resto evidentemente foi o pagamento do passivo), e isso para ficar dono de um edifício que em seguida para funcionar como Pousada de Juventude iria gerar despesas permanentes que em não muito tempo provavelmente atingiriam outro tanto. Tinham inaugurado um sorvedouro de recursos públicos. Porquê e para quê?
O político referido, com sinceridade e desfaçatez, retorquiu-me de pronto: ó pá, o que é que tu queres, isso foi discutido lá no partido, era preciso resolver o problema do Sr. Quaresma, que é bom homem, cá dos nossos, e foi isso que se arranjou... as coisas são assim, paciência...todos fazem o mesmo...
Nada mais educativo do que o convívio com os profissionais.

O Estado e o dinheiro

Todos os dias passo várias vezes no Largo Álvaro Velho, lugar que dito assim nenhum eborense conhece mas que todos reconhecerão se esclarecer que é aquele pequeno Largo onde fica o Hotel Planície.
Num dos dias do final da última semana deparei ali com uma banca improvisada onde três ou quatro meninos e meninas recolhiam assinaturas dos transeuntes, sobre qualquer assunto que era anunciado por uns cartazes improvisados com que adornavam a banca e publicitavam a empreitada.
Aproximei-me, movido pela curiosidade, e fiquei a saber: estavam ali para recolher assinaturas a favor da imediata reabertura da Pousada da Juventude, que está escandalosamente encerrada há anos.
Afastei-me, esclarecido e reprovador quanto à "justa causa", mas não resisti a umas reflexões.
Saberão estes jovens o que estão a defender? Será que eles pensam?
Eu explico. A "Pousada da Juventude" é um albergue juvenil que durante algum tempo funcionou nas instalações que foram as do Hotel Planície, que toda a cidade conhece.
A responsabilidade era do organismo governamental coordenador das actividades de juventude, o Instituto Português de Juventude.
A dada altura, já nem sei quando, aquilo fechou com a alegação de conveniência de que iria para obras. E assim continua, há muito tempo.
Penso eu, como também deduziram os rapazes do abaixo-assinado, que alguém tomou a decisão de encerrar o estaminé mas sem os inconvenientes de o dizer abertamente (o medo das "jotas" é uma das características permanentes dos políticos nomeados para esses organismos).
Mas, e aqui chego ao ponto onde eu me espanto com a rapaziada, será que a ninguém ocorrem os motivos singelos e evidentes para tal decisão?
Com efeito, parece-me a mim que não é difícil mesmo ao mais inexperiente raciocinar um pouco sobre os custos (diários, semanais, mensais, anuais...) do funcionamento de instalações como são as do Hotel Planície. Basta lembrar o pessoal necessário, as despesas indispensáveis, só as das contas básicas a que não se pode fugir.
Em resumo: para na maior parte dos dias não ter ali ninguém, e de vez em quando ter ali a dormir uns quatro ou cinco jovens turistas de mochila às costas, que passam uma noite e pagam menos do que se fossem ao cinema, será sempre preciso que o Estado suporte custos na ordem dos milhares de contos, que facilmente e em pouco tempo atingem dezenas de milhares e centenas de milhares.
Sem nenhuma receita em contrapartida, obviamente (e são escusadas explicações retóricas e politicamente correctas sobre os deveres do Estado para com a juventude viajante...)
O encerramento daquilo é uma medida do mais elementar bom senso, uma necessidade evidente para qualquer cidadão minimamente preocupado com a boa administração pública, e com a aplicação do nosso dinheiro.
E continuei a pensar naqueles jovens que ali se entregavam a tão nobre empresa de reivindicação. Que noção têm eles do que seja o Estado? É evidente à análise mais superficial que eles pensam que o Estado é algo que tem o dever de lhes dar isto e aquilo.
A educação que lhes deram não ultrapassou esse conceito. Na visão que lhes instilaram o Estado é pouco mais do que uma máquina que fabrica dinheiro, e que deve estar ao serviço deles.
Nem lhes ocorre que o dinheiro que o Estado tem somos nós que lho damos.
É o nosso rico dinheirinho, tantas vezes gasto em folias e brincadeiras.

Novos blogues!

Uma das causas para a proliferação de blogues está em que estes são um instrumento único para aqueles que querem dar a sua opinião sem que ninguém lha tenha pedido.
É o meu caso, mas julgo que é caso vulgar.
Seja como for que se analisem, tornaram-se uma arma. Uma arma poderosa, e ao alcance de qualquer um.
Dito de outra forma, todos os que querem jogar mas estão excluídos pelos donos da bola acabam por sentir uma atracção irresistível pelo meio.
Isto mesmo está a ser entendido por cada vez mais gente, e cada dia o será mais. Daí o recurso cada vez maior ao instrumento em questão.
Quem se distrair e se deixar ultrapassar estará a atrasar-se estupidamente.
Eis o que tenho procurado transmitir a todos os meus amigos, muitas vezes sem sorte nenhuma.
Mas não desisto da empresa. Precisamos de mais e mais jogadores em campo. E as armas não são demais numa guerra desigual, longa, dura e difícil.

domingo, janeiro 16, 2005

CDS de Évora

Através do blogue da Juventude Popular de Évora fique a saber o resultado das eleições para a Concelhia de Évora do CDS.
As eleições decorreram nesta sexta-feira, dia 14, e foram a votos duas listas concorrentes.
Ao que eles dizem a participação foi invulgarmente elevada, fruto da rivalidade entre as duas listas, e no final sagrou-se vencedora a Lista B, encabeçada por Rui Amante.
Entrou assim em força nos órgãos concelhios uma nova geração, que também se está a fazer notar pela sua presença na blogosfera: espreitem o Frescos Campos, o Axónios Gastos e o Lides Alentejanas.
São a mesma geração que faz o Geraldo Sem Pavor, mas estes últimos escolheram outro caminho, todo de laranja colorido.

O senhor dos dias

O tempo comum da liturgia é exactamente isso: a celebração do tempo onde aparentemente nada acontece, sem festas de maior, a não ser aquelas que o tempo foi semeando dentro da notoriedade das pessoas ou dos acontecimentos. Quando arrumamos os presépios e as prendas se sujeitam ao natural desgaste de perderem a novidade, a vida retoma o seu tom natural, com os fins-de-semana ou a perspectiva dos feriados transformados em sucedâneos do dia sagrado dos crentes. Nos nossos lados, mesmo para os não cristãos, o domingo acabou por imperar socialmente como o dia de repouso.
Há alguns cristãos que julgam prestar um enorme favor a Deus pelo facto de, ao domingo, d'Ele se lembrarem, dando-se mesmo ao incómodo de interromper o merecido descanso para irem ao templo e assistirem a uma celebração litúrgica que, por muito actualizada que esteja ainda não se moldou a um fast food, refeição ligeira, aquecida apressadamente no micro-ondas e rapidamente deglutida no intervalo de dois silêncios.
O domingo é muito mais que um componente do fim-de-semana. Como também um dia santo é mais que um saboroso feriado que vem cortar a agrura dos dias intermináveis de trabalho. Precisamos revisitar continuamente o sentido sacral e ritualizado do tempo. E remeter-nos às grandes memórias onde se radica a nossa fé e a dimensão comunitária que a envolve e explica. Na lógica do consumo individual, utilitário e rentável de objectos e eventos, não chegaremos à dimensão transcendente da vivência cristã ao evocar acontecimentos como a Ceia, a Morte e a Ressureição de Cristo. Tudo isso, nessa perspectiva, não passará de rendilhado bafiento para iniciados ou apenas desiludidos da modernidade.
O domingo - lembro uma Carta do Papa - é a Páscoa da semana, a vitória sobre a morte, o primeiro dia do mundo e a prefiguração do último. O domingo está no centro do mistério do tempo, é o eixo da história com referência à origem e ao destino final da humanidade. Tem horizonte muito mais amplo que qualquer fim-de-semana alucinante ou o estado de distensão que o descanso semanal propicia. Raramente nos lembramos que é o dia em que somos arrancados das grandes solidões, convidados para a Ceia, para celebrar, em abundância, o banquete da Palavra e do Pão. Sair de casa para visitar alguém, participar numa liturgia, partilhar a alegria ou uma mágoa, é mais indispensável à vida do que parece.
Esta teoria não é contra ninguém. Mas precisa vir ao de cima no tempo comum, onde aparentemente nada acontece.

António Rego

sábado, janeiro 15, 2005

Ainda Vila Viçosa

Em contraposição à hiperactividade da arena política, os blogues de Vila Viçosa (a terra que durante bastantes anos foi presidida por Leopoldo Portas, avô desse em que estão a pensar) têm mostrado alguma apatia. Veja-se o Calipolense e o próprio Partido Socialista, sem actualizações há tempo demais para o que se espera de um blogue.
Mais dinâmico tem andado o mais recente, Aljubarrota é quando um homem quiser. Pode ser que este honre a blogosfera.
E termino esta sequência sobre os de Vila Viçosa acrescentando ainda um esclarecimento, que me parece útil para os intervenientes na cena política local e para os observadores da respectiva fauna.
É isto: não se julgue surpreendente o fenómeno que apontei sobre o Miguel Patacão que ainda há menos de nove anos asseverava que era marxista-leninista até à morte e esconjurava os traidores do povo que consituíam o PS de Vila Viçosa, e agora escreve um blogue inteiro a promover a sua candidatura pelo PS à Presidência da Câmara que antes desempenhou pelo PCP.
Com efeito, a qualquer observador não escapava então que o PCP já tinha abandonado Patacão, receando ser gravemente envolvido nos processos judiciais. E o próprio, embora lançado na sua retórica muito própria, sentia já que estava sozinho.
Efectivamente, assim cumpriu o tempo de cadeia a que foi condenado.
Ora quem visse e ouvisse com atenção o discurso de Patacão (e muito fala o homem!) não podia deixar de observar que se trata de uma das personalidades mais narcísicas, egolátricas, egomaníacas, ou lá como melhor se diga, que alguma vez me foi dado encontrar. E a sua obsessão é aquele cargo, a missão providencialista que tem como Presidente de Vila Viçosa.
Consequentemente, não podendo regressar pelo PCP, não resistiu a tentar o regresso pelo PS.
Porém, veja-se tudo o que escreve no blogue "do Partido Socialista de Vila Viçosa": atira-se por todas as formas ao executivo municipal, que é comunista, mas por este não ter conseguido prosseguir a grandiosa obra dos executivos a que ele Patacão presidiu, então eleito pelo PCP. Obra essa que teve então como principal opositor e incansável adversário o PS de Vila Viçosa...
Resumindo: não se trata de PS ou de PCP. Trata-se dele e só dele. Bom presidente foi só ele, e quanto ao futuro qualquer Presidente será bom desde que seja ele.

Patacão com todos

Escrevi o postal anterior sob a influência da leitura do blogue "Partido Socialista de Vila Viçosa", que encontrei na habitual revista ao TUDOBEN.
Foi uma leitura deveras interessante. Desde logo porque à medida que lia ia constatando inevitavelmente que o blogue não é na realidade "do Partido Socialista de Vila Viçosa", como se apresenta, mas sim de Miguel Patacão Rodrigues (a não ser que não haja já diferença entre uma coisa e outra).
Claramente, um blogue pessoal de Miguel Patacão a preparar as eleições autárquicas e a atirar-se ferozmente ao actual Presidente, o Prof. Condenado.
Em suma, mais um episódio da guerra dos condenados: o condenado de facto contra o que só o é de nome.
A leitura trouxe-me recordações. Por exemplo, lembrou-me Miguel Patacão, já na cadeia, a jurar a pés juntos para quem o queria ouvir que era e continuaria comunista, e não um comunista qualquer mas sim um marxista-leninista, firme e ortodoxo... enquanto espumava de raiva contra os socialistas de Vila Viçosa, que o tinham colocado naquela situação.
E era verdade: ao longo de anos tinha sido a secção do PS de Vila Viçosa que tinha estado à frente do combate contra a ditadura pessoal instaurada na Câmara pelo então presidente comunista Patacão Rodrigues. Sem o trabalho da gente do PS, nomeadamente alguns vereadores e dirigentes concelhios, nunca teria sido possível quer a publicação sucessiva no jornal "O Diabo" de provas documentais dos desmandos presidenciais, quer o esclarecimento policial dos factos mais relevantes para o processo judicial, quer a própria condenação em tribunal.
Onde estará agora esse PS de Vila Viçosa dos fins dos anos setenta e primórdios dos anos 80, da sacrificada militância anti-comunista?
Será que se reconhece neste PS onde se encavalitou o regressado Patacão depois de rejeitado pelo PCP, como o instrumento para voltar à Presidência da Câmara?