quinta-feira, junho 30, 2005

Comunicado do movimento Juntos Pela Vida

MINISTRO DA SAÚDE PAGA A CLÍNICAS PRIVADAS?
1.O anúncio feito há dois dias por um jornal diário, de que “O Estado vai pagar abortos em clínicas privadas”, numa notícia em que não é claro o contexto da mesma (o Ministro declarou isso mesmo? Onde e em que data?) mas é assinada por uma jornalista, conhecida activista pró-aborto, reproduz com fidelidade o estado da discussão desta questão em Portugal.
2.Inconformados com os resultados do referendo sobre cuja data se celebrou anteontem o 7.º aniversário, vitimas das suas próprias pressas e trapalhadas parlamentares, receosos do resultado de um novo referendo sobre a matéria, os defensores do aborto livre pretendem “ganhar na secretaria, o que perderam no jogo”...
3.Para esse efeito invocam um incumprimento da lei de 1984 que está por demonstrar (em 21 anos de vigência da mesma não existe uma só queixa ou denúncia legais no Ministério da Saúde ou nos Tribunais) e pretendem que ao abrigo da previsão “perigo para a vida física e psíquica da mulher” sejam realizados os abortos a pedido da mulher até às 10 ou 12 semanas (ou mesmo 16 como no projecto do PS recentemente aprovado).
4.Ou seja, enquanto não há novo referendo e não vá o azar tecê-las os defensores do aborto livre pretendem que seja realidade aquilo que o povo, directamente ou através dos seus representantes, lhes vem sistematicamente negando desde 1997.
5.Mas um último absurdo nos aguardava ainda: perante a incapacidade do sistema nacional de saúde (num país que sofre de tantos problemas a esse nível e tem uma lista de espera cirúrgica cuja dimensão é conhecida) e a natural objecção de consciência da esmagadora maioria dos profissionais de saúde (o que honra a tradição humanitária de um país que se conta entre os primeiros a abolir a pena de morte e a escravatura), o Ministério da Saúde, a ser verdadeira a notícia, tem a brilhante ideia de incentivar a instalação em Portugal das clínicas abortistas da vizinha Espanha!
6.Vale a pena recordar neste momento que a situação de Espanha é a de um país onde o aborto legal cresce todos os anos (quase 80 mil em 2003, mais 67% do que em 1994) e onde a percentagem dos realizados em estabelecimentos públicos não ultrapassa os 2.86%.
7.E como ainda ontem e no mesmo jornal, um médico português reconhecia, 95% dos abortos em Espanha (ou seja, em clínicas privadas) são realizados em condições de clara ilegalidade (isto é, fora dos casos e prazos da tal lei “igual à nossa”).
8.Assim sendo, a nossa posição perante essa decisão do Ministro da Saúde é de clara rejeição e sobretudo de algum espanto por se continuar a abordar de forma errada, um problema verdadeiro.
9.Nesse sentido apelamos de novo a todos os grupos parlamentares no sentido de que seja finalmente processada e discutida em plenário a petição Mais Vida Mais Família, subscrita em quatro semanas por 217 mil portugueses, que, em Março de 2004, reclamaram da Assembleia da República e do Governo exigindo legislação e medidas políticas adequadas à protecção do embrião humano, à promoção da instituição familiar e ao apoio às grávidas em dificuldade.
10.Hoje, como na noite daquele dia 28 de Junho de 1998, repetimos o nosso compromisso: “Não pararemos enquanto houver nas nossas cidades, uma mulher que possa dizer: eu abortei porque não encontrei quem me ajudasse”!
Juntos Pela Vida
30 Junho 2005

Noites à Direita, ou a direita acidental

Um grupo de conhecidos cidadãos lançou um conjunto de iniciativas que denominou "NOITES À DIREITA". Entre elas o blogue, para o qual remeto, e uma série de conferências que terá começo no próximo dia 5 de Julho, no Café Nicola, em Lisboa.
Quanto ao essencial da ideia, lançaram um manifesto explicativo, que convido os meus leitores a ler com atenção.

"1. Está a chegar o tempo de começar a fazer alguma coisa de novo à Direita, para além dos partidos, mas nunca contra qualquer partido.
2. Está a chegar o tempo de afirmar a existência de novas direitas, que só sabem viver em Democracia e que não a trocam por nada deste mundo.
3. Está a chegar o tempo de uma Direita que não acredita em utopias, porque conhece a realidade e sabe que esta não se transforma só com boas intenções.
4. Está a chegar o tempo de uma Direita que sabe ouvir e quer discutir com quem tem espírito independente, seja de Esquerda ou de Direita, para poder avançar com novas propostas. Uma Direita que sabe que há vários tipos de liberais e o que os une é a ideia de que as decisões fundamentais sobre o modo de vida de cada um devem ser assumidas pelos indivíduos, e não pelo poder político.
5. Está a chegar o tempo de uma Direita que já não se revê em velhos costumes e bandeiras ultrapassadas, mas que também não se resigna à agenda política da Esquerda.
6. Está a chegar o tempo de uma Direita que assuma uma atitude mais liberal. Mais liberal nos costumes, na economia, na política e na sociedade, nomeadamente no modo como olha e se relaciona com os media.
7. Está a chegar o tempo de uma Direita que acredita na liberdade de cada pessoa e na responsabilidade individual como valores primeiros da Democracia.
8. Está a chegar o tempo de uma Direita que defende o princípio de que a interferência do Estado na esfera privada do cidadão deve ficar circunscrita ao mínimo indispensável.
9. Está a chegar o tempo de uma Direita que acredita no liberalismo económico como factor vital para o aumento de produtividade da economia portuguesa, essencial ao bem-estar dos cidadãos.
10. Está a chegar o tempo de uma Direita que não acredita no fim das ideologias e defende que a Democracia precisa de Esquerda e de Direita porque vive da alternância e o centro não é alternativa."


Sem querer de modo algum hostilizar os promotores de tão louvável iniciativa, mas apenas contribuir para o debate de ideias que eles dizem procurar, convido agora os meus pacientes leitores a lerem com a mesma atenção o texto que se segue.

"1. Está a chegar o tempo de começar a fazer alguma coisa de novo à Esquerda, para além dos partidos, mas nunca contra qualquer partido.
2. Está a chegar o tempo de afirmar a existência de novas esquerdas, que só sabem viver em Democracia e que não a trocam por nada deste mundo.
3. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que não acredita em utopias, porque conhece a realidade e sabe que esta não se transforma só com boas intenções.
4. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que sabe ouvir e quer discutir com quem tem espírito independente, seja de Direita ou de Esquerda, para poder avançar com novas propostas. Uma Esquerda que sabe que há vários tipos de liberais e o que os une é a ideia de que as decisões fundamentais sobre o modo de vida de cada um devem ser assumidas pelos indivíduos, e não pelo poder político.
5. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que já não se revê em velhos costumes e bandeiras ultrapassadas, mas que também não se resigna à agenda política da Direita.
6. Está a chegar o tempo de uma esquerda que assuma uma atitude mais liberal. Mais liberal nos costumes, na economia, na política e na sociedade, nomeadamente no modo como olha e se relaciona com os media.
7. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que acredita na liberdade de cada pessoa e na responsabilidade individual como valores primeiros da Democracia.
8. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que defende o princípio de que a interferência do Estado na esfera privada do cidadão deve ficar circunscrita ao mínimo indispensável.
9. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que acredita no liberalismo económico como factor vital para o aumento de produtividade da economia portuguesa, essencial ao bem-estar dos cidadãos.
10. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que não acredita no fim das ideologias e defende que a Democracia precisa de Direita e de Esquerda, porque vive da alternância e o centro não é alternativa."


Como poderão constatar os atentos, limitei-me ao exercício simples de elaborar um segundo texto copiando o primeiro mas substituindo sempre as palavras Direita e Esquerda uma pela outra. Onde estava Direita aparece Esquerda, e vice-versa.
Para os leitores fica o exercício de imaginação restante: calcular quem poderia lançar e assinar o segundo texto.
E fico por aqui, por pensar que cheguei ao ponto crucial das minhas dúvidas sobre as posições apresentadas com ruído e espalhafato pelos ilustres responsáveis deste projecto. Com efeito, desde há muitas décadas a gestão das principais sociedades do ocidente europeu tem sido assegurada à vez por uma autodesignada esquerda e por uma autodesignada direita. Como se reconhecerá por qualquer breve análise histórica, a direita em questão pode subscrever inteiramente o que consta do manifesto agora apresentado com o brilho de novidade. E a esquerda a que me referi também já lançou em múltiplas ocasiões e lugares manifestos que em nada se distinguem do que generosamente lhe redigi.
Em suma, a excursão histórica que propus conduz à conclusão inevitável de que com essa direita tratou-se sempre de alternância, e nunca de mudança. E traz a inevitável suspeita que o teor do manifesto atirado ao vento mais não seja que mais do mesmo.
Acrescento ainda como comentário final que é natural que assim seja, visto que, como é observável no exercício de substituição que me ocorreu, nada há no tal manifesto que não pudesse ser dito e assinado pela esquerda.

O "interesse público" e o aborto privado

Na página de opinião do "Diário de Notícias" saiu um oportuno artigo de Alexandra Teté, da Associação Mulheres em Acção, sobre a prioridade das prioridades dos nossos governantes socialistas.

Na passada terça-feira, o senhor ministro da Saúde anunciou que vai recorrer a clínicas privadas para garantir às mulheres portuguesas um aborto legal, quando este não é "resolvido" nos hospitais públicos. Assim, seria prosseguido o "interesse público", torneando o alegado incumprimento da lei naquelas instituições e a invocação de objecção de consciência por parte dos médicos. Não sabemos bem se esta é uma determinação do Governo ou o desabafo de uma aspiração pessoal do senhor ministro com os jornalistas. De qualquer modo, trata-se de uma orientação "chocante", precipitada e perigosa, como passo a explicar.
Em primeiro lugar, não está provado que em Portugal os hospitais incumpram a lei. Não se conhecem números, queixas, relatórios, etc. Infelizmente, sobre esta matéria pouco ou quase nada sabemos. Por isso mesmo, é da maior importância o famoso estudo encomendado pelo Parlamento para conhecer realmente a realidade do aborto (legal e clandestino) em Portugal, que finalmente foi aprovado. Parece que o senhor ministro prefere as suas suspeitas.
Por outro lado, não se vê porque é que nas clínicas privadas estaria garantida a uniformidade de critérios que se alega faltar nos hospitais públicos. Não se compreende porque é que os critérios que seriam seguidos nas clínicas privadas seriam mais justos, razoáveis ou equilibrados que os que vigoram nos hospitais públicos. Nem se percebe porque é que nas clínicas privadas haveria menor recurso à objecção de consciência.
Será que se está simplesmente a tentar legalizar um conjunto de clínicas que não só trabalham em Portugal de forma ilegal como praticam o aborto a pedido? A notícia de terça-feira neste jornal "Não dá jeito agora o bebé, não é?..." parece apontar nessa direcção.
É difícil perceber qual é a ordem de prioridades deste Governo e, em particular, do senhor ministro da Saúde, nos assuntos relacionados com a saúde dos Portugueses. Há dias afirmava ser "irrelevante" que milhares de Portugueses estejam em lista de espera para cirurgias nos hospitais. Porque não se lembrou o senhor Ministro de protocolar estas cirurgias com clínicas privadas? Não são estas do interesse público?
Ou será que na base desta preocupação do senhor Ministro da Saúde com o "interesse público" está a secreta esperança de que as clínicas privadas não sejam demasiado escrupulosas e dispensem pruridos de consciência? Assim, o senhor Ministro conseguiria liberalizar o aborto, na prática, passando-o para o sector privado e para a opacidade, a expensas dos contribuintes.
E porquê esta prioridade nas vésperas de um referendo que se assume vir a liberalizar o aborto? Porque a liberalização do aborto, para alguns, corresponde a uma obsessão ideológica, uma obstinação radical em recusar o valor intrínseco da vida humana. Senhor ministro: é isto o "interesse público"?

quarta-feira, junho 29, 2005

"O futuro da União Europeia"

É já amanhã o colóquio promovido pelo estimado Lápis de Minas.
A entrada é livre, e aprende-se sempre.

Cidadania em acção

No seguimento do que tinham já anunciado, os bloguistas Azurara, Ruvasa, Sulista e Tira Nódoas vêm anunciar a criação informal de CIDADANIA EM ACÇÃO, movimento cívico e apartidário que se bate pela gestão criteriosa e isenta dos recursos públicos e pela moralização da política portuguesa, com sede na morada http://cidadaniactiv.blogspot.com, onde esperam a visita de todos os interessados que queiram, ou não, aderir ao movimento e com ele colaborar.
Vem mesmo a propósito.

Manobras baixas

Como explicam fontes diversas, a ideia dos estrategas do PS de ressuscitar o tema do aborto, de modo a situar uma campanha e um referendo em pleno Dezembro, não tem finalidades meramente lúdicas (distrair os portugueses dos verdadeiros problemas do país). Um dos cálculos que determinaram a decisão foi também o de condicionar por essa forma as presidenciais, que estarão logo a seguir...
Ainda pior, portanto.
O que custa ver confirmado assim todos os dias é que não há subjacente a estas mesquinhas jogadas políticas qualquer noção que ultrapasse o interesse individual ou de grupo, qualquer réstea de sentido nacional ou de Estado. E eles são Governo!!!
Sobre esta iniciativa da camarilha no poder, o "Portugal Diário" inaugurou de imediato um forum em que é de todo o interese participar. Ao menos desabafamos.

O estado a que isto chegou

Ou o nível a que isto desceu...
O "Diário de Notícias" diz hoje em título que "PS recupera aborto para tentar calar a esquerda".
E prossegue explicando que "Num momento politicamente delicado, com a crescente contestação nas ruas e os erros, ou incorrecções, no Orçamento Rectificativo, os socialistas decidiram ontem tirar um "coelho da cartola". Nem mais nem menos que o aborto, que já tinha marcado politicamente os primeiros tempos do consulado de Sócrates. O PS anunciou que reservou a discussão no plenário do Parlamento do próximo dia 8 de Julho para a discussão de projectos de lei visando encurtar os prazos para realização de referendos em Portugal. Na prática, trata-se da tentativa de ver realizado o referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez até final deste ano".
Traduzindo: é a política e a governação reduzidas a truques de prestidigitação, números de ilusionismo, habilidades de malabarista, programas de circo, cenários de feira.
E não me digam que sou eu que digo.

terça-feira, junho 28, 2005

A agenda socialista

Sócrates pronunciou-se hoje a favor da realização de um novo referendo sobre o aborto «para breve», argumentando que já passaram sete anos sobre o primeiro, e que a consulta ao Tratado Constitucional europeu foi adiada. «Não há agora razões nenhumas para que os portugueses não sejam consultados em breve sobre a IVG», afirmou.
Em resumo: não podendo fazer-se um faz-se o outro, não ficamos é sem referendo.
Há umas horas vi na televisão o deputado Alberto Martins a declarar que o Partido Socialista iria fazer tudo para que o sr. Presidente da República marque o referendo sobre a legalização do aborto para o período entre as eleições autárquicas e as presidenciais.
Nota-se assim que houve decisões sobre a estratégia política, a nível do estado-maior que determina a agenda mediática a seguir.
Teremos portanto circo, ainda que o pão vá escasseando.
Referendo sobre o aborto entre as autárquicas (que serão a 9 de Outubro) e as presidenciais (em Janeiro). Respeitando 60 dias após as eleições, cairá em meados de Dezembro. A intenção deve ser associar-se ao Advento.
São de fino gosto, estas celebrações do Natal.

Acabar com os privilégios - todos ou só alguns?

O PCP entregou hoje no Parlamento um projecto para acabar de imediato com as subvenções dos titulares de cargos políticos e para impedir os regimes especiais de aposentação no Banco de Portugal e na Caixa Geral de Depósitos, entre outros.
Actualmente os deputados que exerçam funções durante 12 anos têm direito a uma subvenção vitalícia quando completarem 55 anos de idade.
O PCP propõe ainda acabar de imediato com o subsídio de reintegração a que os deputados e membros do Governo têm direito quando cessam funções (um mês de vencimento por cada semestre completado no Parlamento ou no Executivo).
O universo de aplicação da lei do PCP abrange o primeiro-ministro, membros do Governo, juízes do Tribunal Constitucional que não estejam na carreira da magistratura, deputados, deputados portugueses no Parlamento Europeu, representantes da república nas regiões autónomas, governadores civis e autarcas.
O PCP propõe também que nenhuma entidade pública ou privada em que o Estado tenha direito de veto "pode criar regimes especiais de reforma, aposentação, indemnização ou prémio de qualquer natureza por cessação de funções, aplicáveis aos respectivos administradores ou dirigentes", de modo a acabar "com qualquer tipo de regimes especiais, como os que existem no Banco de Portugal ou na Caixa Geral de Depósitos e que permitem aos administradores acumular reformas ou indemnizações milionárias quando saem". O deputado António Filipe adiantou que o diploma do seu partido proíbe também a acumulação de vencimento dos titulares de cargos políticos com reformas ou subvenções e lembrou que o PCP sempre se bateu contra "qualquer tipo de privilégios dos políticos".
Eu fiquei sinceramente agradado com esta proposta do PCP. Aplaudo o que lá está, e só me incomoda o que não está lá.
Com efeito, e só para ajudar, lembro que ainda há poucos dias apareceu no "Diário da República", II Série, um despacho assinado pelo Primeiro-Ministro Sócrates que concede uma pensão vitalícia ao dirigente comunista José Casanova, membro do Comité Central, de 61 anos, com fundamento nos relevantes serviços por este prestados "à liberdade e à democracia" antes do 25 de Abril.
Em tempo de combate a despesismos e imoralidades, não seria descabido tomar posição sobre o Decreto-Lei, já com uns bons anos, que estabelece um regime especial de pensões aos cidadãos que o requeiram com base nos tais excepcionais e relevantes serviços que terão prestado a essas respeitáveis entidades antes da veneranda data.
Ignora-se quantas pessoas beneficiam deste regime; ignora-se como e com que critérios são apreciados os pedidos; ignora-se quanto custou e custa este sistema especial de subvenções a uma categoria específica de cidadãos; ignora-se quais são em concreto os "serviços" que conferem tão especialíssimo direito. Sabe-se apenas que de vez em quando lá surge mais um premiado.
Em suma, eu não faço ideia de quais as façanhas de José Casanova e dos restantes contemplados para merecerem essas regalias; sei porém que pelas minhas opções ideológicas e políticas nunca ninguém me pagou, nem nunca delas tirei qualquer benefício - e como eu está a generalidade dos portugueses. E sei ainda que tinha vergonha se isso acontecesse. Como sei que tem sido habitual ultimamente a conversa sobre a impossibilidade de manter os gastos injustificados do Estado, nomeadamente para sustentar as benesses auferidas pela classe política.

As cores da pátria

Mais um artigo de Nuno Rogeiro na revista SÁBADO:

Fosse eu um demagogo à antiga, e explicava que a noção de Portugal multirracial não se compadece com a ideia do "Poder Branco". Nada é branco na Lusitânia, e só mesmo um Wim Wenders conseguia ver o branco em Lisboa (o reflexo solar não é branco, é luminoso).
Fosse eu um demagogo à antiga, e lembrava que os nacionalistas mais esclarecidos de outros tempos, crentes nessa ideia de "muitas raças, um Estado" (como etapa histórica que poderia levar a outros modelos), propuseram, um dia, que a capital política se mudasse, de armas e bagagens, do Terreiro do Paço para Luanda, ou para a pitoresca Bissau.
Fosse eu um demagogo à antiga, e ainda sobre Bissau (onde se saúda uma eleição em paz, como se cumprimenta um filho pelos anos), lembrava Honório Barreto, o administrador, o homem público, o oficial de artilharia, o estudioso da Senegâmbia, o filho da terra e o governador negro da Guiné, no fim do século XIX. E recordava, sem ter de ir a fenícios e cartagineses, que o patriotismo português se fez de goeses e macaenses sem mácula ariana, de mestiços brasileiros, carregados zairenses e claríssimos cabo verdianos, algarvios tisnados e brancos moçambicanos, futebolistas celtas e poetas negros.
Fosse eu um demagogo à antiga, e voltava a contar aos meus filhos, para que contassem aos meus netos, a História de Portugal que me ensinaram, onde até a “'Raça" era uma meta-etnia, feita de espírito, e não de pele.
Fosse eu um demagogo à antiga, e diria que me sentia mais português numa roça anónima de São Tomé, do que na quinta das celebridades.
Vistas bem as coisas, talvez precisemos, outra vez, de demagogos à antiga.
Mas o amor pelas raízes, e pela dignidade nacional, e por este povo que tem sofrido as passas do Algarve, não nos desobrigam de olhar a realidade de frente, e com olhos de ver.
Ora o que olhamos é uma sociedade sem regras, um Estado sem princípios, uma nação sem valores. Dir se á que é assim por todo o lado: primeiro viver, depois filosofar. O ritmo das ocupações, a nossa condição de térmitas em fila para o matadouro, a rotina e a sobrevivência deixam pouco tempo para a "moral".
Por outras palavras, é a selva. Nela cresce um conjunto de tribos que, aproveitando a falta de vínculos, o egoísmo, o isolamento, a inabilidade pública, a divisão, olha para os cidadãos como cordeiros de sacrifício.
O tempo pertence aos bandos. É sempre assim com poderes fracos, ou em dúvida.
Do que precisamos é de, antes que a serpente cresça, destruir os seus ovos. De uma vez por todas, a guerra aos gangues sem quartel nem desculpas é uma condição mínima de existência.
Do que precisamos é de indignação cívica face à insegurança, à violência, aos grupos que se apropriaram de parte das cidades e dos bairros.
Não precisamos de manifestações acéfalas, que vendam gato por lebre: o racismo – branco ou preto – é uma forma de insegurança.
E Portugal, como diria o demagogo à antiga, não tem cor.
Nem tem preço.

segunda-feira, junho 27, 2005

A liberdade que mata a liberdade

Porque gostei de o ler, trago para aqui o último artigo de João César das Neves no "Diário de Notícias".

"A liberdade tem de ser protegida. Esta é a verdade secular que distingue as muralhas da cidade dos muros da prisão. Depressa perderia a liberdade quem, em nome dela, demolisse tribunais, esquecesse cintos de segurança, desmobilizasse a polícia. Num avião o passageiro só é livre se estiver preso ao seu lugar, não sentado na asa, "livre como um passarinho".
Na busca permanente do equilíbrio delicado entre protecção da liberdade e opressão em nome da segurança, as sociedades livres e democráticas criaram múltiplas instituições para estabelecer e abrigar a sua autonomia. Das leis laborais ao Código da Estrada, as actividades humanas são regulamentadas para permitir o exercício pleno da liberdade. Todas menos uma.
A família é aquele campo em que, tolamente, a sociedade moderna preconiza uma liberdade radical, sem limites. Precisamente no aspecto humano mais influente e na área onde, historicamente, mais hábitos e prescrições vigoraram, defende-se hoje, em maciças campanhas mediáticas, o libertarismo mais absoluto.
Enfraqueceu-se o matrimónio pelo divórcio e as uniões de facto. Agora pretende-se descaracterizá--lo com o casamento de homossexuais. Qualquer aliança entre duas pessoas passaria a ser considerável como casamento. Imagine os urros de indignação de empresas e sindicatos se coisa semelhante se passasse nos contratos de trabalho. Mas no campo sexual a única regra admissível é fazer-se o que se quer, sem ninguém ter nada com isso. Não é assim no tabaco, automóvel, bebida, economia, em todo o lado. Mas no sexo tem de ser.
A vulnerabilidade da liberdade leva, como sempre, ao poder do mais forte e ao sacrifício do inocente. As crianças são descartadas antes de nascer pelo aborto e mal- -amadas depois pelo divórcio. Os idosos são esquecidos em vida nos lares e apressados na morte pela eutanásia. Estas são hoje propostas políticas defendidas furiosamente em nome da liberdade.
A mulher é sempre a grande sacrificada. Vivemos no tempo que mais a agride, despreza e oprime. O facto passa despercebido porque, paradoxalmente, tudo é feito em nome da sua libertação. Este magno embuste cultural é já o segundo da nossa era. O feminismo radical é paralelo ao marxismo, que destruiu a condição dos trabalhadores em nome da defesa dos seus interesses.
A opressão actual da condição feminina é fácil de demonstrar. Quais as principais vítimas da degradação da família? Da liberalização do aborto? Da banalização da pornografia? Objectivamente, a nossa cultura de ambição, violência e competição é, em múltiplos aspectos, diametralmente oposta aos valores femininos. A mulher foi influente em épocas que preferiam a honra ao sucesso, a estabilidade ao progresso, a beleza à eficácia, a tradição à novidade.
No campo sexual a agressão é mais cínica. Vemos há décadas um esforço intenso para mascarar como natural um modo de vida promíscuo, hedonista, descomprometido. Esta filosofia nada tem de moderno. Ou feminino. Apregoada há milénios pelos clientes de tabernas e bordéis, saltou agora para telenovelas, romances e conversas de café, sendo apoiada pelas próprias vítimas. Temos meninas de escola a aclamar uma atitude tradicionalmente preconizada por marialvas e chauvinistas. A "mulher desinibida" é a realização do sonho mais machista de Casanova e Don Juan, em nome da paradoxal "libertação da mulher".
Mas a igualdade radical e o libertarismo familiar deram agora mais um passo e os termos da questão estão a mudar. Recusa-se já a existência de atitudes típicas de cada sexo. Vive-se a própria negação da identidade feminina, exaltando homens efeminados e mulheres másculas. Na nebulosidade de conceitos, deixam até de existir "sexos" e aparecem "géneros".
Estas questões estraçalham hoje a sociedade espanhola, corroem a cultura holandesa, incendeiam os estados norte-americanos. Perante os patéticos esforços de demolição da família, podemos dizer como Madame Roland contemplando a guilhotina "Oh liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!"

Nostalgias

"Cansada de ter saudades/ Tudo fiz para esquecer./ E agora tenho saudades/ De saudades já não ter".
Era a voz de Maria Teresa Noronha, e o "Fado das Saudades".
Conforme tem sido explicado por gente muito mais competente, é o nosso fado. Vai daí o Jansenista escreveu um belíssimo texto sobre a idade dele, e ao Pedro despertou-lhe o sentimento da sua.
Ai, essa ausência que se torna presente, essa presença doce e magoada, essa iluminação do que fomos e se foi...
Nem vos digo...
"Eu vi outrora o Luar/ À porta de Santa Cruz./ Era o silêncio a rezar/ Avé-Marias de Luz".

domingo, junho 26, 2005

O caso do comedor de fetos

Uma novidade americana: a descoberta de que o dono de uma clínica legal de abortos no Kansas, o médico Krishna Rajanna ("abortion doctor", podem pesquisar no Google) adquiriu o hábito alimentar de comer os fetos das suas pacientes.
No respectivo consultório o Dr. Krishna Rajanna tinha junto da secretária um micoondas e um frigorífico. No interior deste estavam guardados, além de outros alimentos e bebidas, fetos de algumas semanas.
A situação foi tornada pública depois de uma denúncia: um funcionário da empresa dirigida pelo Dr. Krishna Rajanna relatou que ele "tirou o feto de dentro de um recipiente de vidro, colocou-o no microondas e comeu-o ao almoço".
Como se vê, nada de primitivismos: canibal, sim, mas nada de carne crua.
Entretanto, dizem as notícias que as autoridades retiraram a licença à clínica por falta de higiene das instalações: uma inspecção encontrou um rato morto numa das salas e o lixo acumulava-se por ali, pelo que foi considerado que existia perigo para a saúde pública.
Lamentável, este último aspecto. Mas nada que possa esconder o essencial: o progresso é imparável. Pouco a pouco, não haverá tabus nem preconceitos que não sejam derrubados, seja qual for a resistência dos conservantismos e das reaccionarices convencionais.
Mais um tema para desenvolver nas "workshops artísticas" do Bloco de Esquerda.

Jovem, vem aprender técnicas de desobediência civil!

Extractos de uma notícia do "Portugal Diário":
Num acampamento destinados aos jovens, o Bloco de Esquerda tem no menu um workshop, no mínimo, original. Chama-se «técnicas de desobidiência civil». A ideia é ensinar aos mais novos o «básico» para puderem estar preparados para o futuro. Sobretudo, para as futuras manifestações que a comunidade estudantil promete para os próximos tempos.
Os jovens do Bloco de Esquerda reúnem-se no próximo mês de Julho. O nome «técnico» deste workshop está incluído num programa «artístico».
José Soeiro do Bloco de Esquerda explicou ao PortugalDiário que esta actividade «consiste basicamente em ensinar as técnicas de desobediência civil». Aprender a fazer «boicotes», «ocupação de espaços públicos», «como se comportar numa manifestação» e «como resistir a uma agressão policial» serão alguns dos temas abordados. E necessários para os dias de contestação que correm.

Esta conclusão sobre a necessidade desses temas não se entende muito bem se é do dirigente do BE ou se pertence à jornalista redactora da notícia.
Mas em todo o resto é assim: a óptica com que os factos são transmitidos é no mínimo deslumbrada, limitando-se acriticamente a amplificar para o público destinatário a mensagem que os estrategos bloquistas querem transmitir sobre as suas iniciativas (a originalidade, a irreverência, a juventude, a adequação aos "dias que correm", ao "futuro" - está lá tudo, até os erros de ortografia).
Não admira nada: a gente do Bloco de Esquerda, tal como a das lésbicas, gays e afins de que falámos já, mesmo quando não coincide, é gente do lado certo, e não desperta entre a comunidade jornalística qualquer sentido crítico.
Um pouco mais à frente a jornalista informa sem se rir que "Este tema está incluído nos «workshops artísticos» que integram o acampamento do Bloco, e é já o segundo ano em que o curso é ministrado", e conclui quase batendo palmas que "na senda da irreverência característica do Bloco de Esquerda, um workshop em desobediência civil é «obrigatório» para ingressar nas fileiras da contestação".
Sentido da história: é tudo "irreverência característica do Bloco de Esquerda", obviamente admirável.
Se entre as disciplinas desses "workshops artísticos" se incluírem temas do género "cultivar cannabis no quintal", "tiro na bófia", "bombas faça você mesmo", ou outros igualmente arrojados, o jornalismo de estilo dirá em êxtase que a irreverência está ao rubro.

sábado, junho 25, 2005

Deslizes

«Nada me pesa na consciência», proclamou enfaticamente o Dr. Mário Soares nas celebrações dos 30 anos da independência de Moçambique.
Muitos comentarão de imediato que acreditam perfeitamente: a leveza da consciência sempre foi um atributo notório do sujeitinho. Isso e a falta de vergonha.
Mas eu fico desconfiado: se nada lhe pesa porque foi ele falar nisso agora?
E sobre o evento que se comemorava, não havia mais nada para dizer?
Por vezes até os mentirosos relapsos e contumazes têm lapsos reveladores.

Um ano de vida intensa

Faz a 27 de Junho um ano de vida o blogue "O Porta-Bandeira".
Apresentou-se como feito por "um adolescente, irreverente, politicamente incorrecto e com tempo livre a mais, residente na Margem Sul do Tejo".
Confesso que aquilo do "tempo livre a mais" me intrigou, e entretanto o autor também se deve ter apercebido que esse mal era passageiro: já retirou a referência.
A adolescência também me parece que é um dado ultrapassado.
Mantém-se portanto a marca pessoal da irreverência, da insubmissão perante o politicamente correcto, e a residência na Margem Sul do Tejo.
Já não é pouco: que se mantenha assim, por muitos anos. Dizendo melhor, pode mudar de residência. Todo o mundo é composto de mudança.

Marcha-atrás, ou por trás é que é o caminho

Celebra-se hoje em Lisboa o "Dia de orgulho lésbico, gay, bissexual e transgénero".
Integrada no programa realiza-se uma "marcha do orgulho lésbico, gay, bissexual e transgénero (LGBT)" que irá descer a Avenida da Liberdade, reivindicando o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Além da marcha, em sexta edição (anual), realiza-se também o nono "Arraial Pride", integrado no programa das festas de Lisboa, em Monsanto.
As iniciativas são organizadas por entidades como as Associações "ILGA Portugal", "Clube Safo", "Não Te Prives" e "Panteras Rosa", tudo gente de bem, cidadãos exemplares e cumpridores, modelos da sociedade do futuro.
Estas sim, são boas causas, merecedoras do apoio e solidariedade das figuras públicas e de todas as pessoas de bons sentimentos.
Aposto que ninguém na comunicação social se atreverá a faltar com o seu contributo para a divulgação e exaltação de realizações tão nobres, meritórias e avançadas.

Jornadas de História em Vila Viçosa

Neste sábado Vila Viçosa recebe as suas primeiras Jornadas de História, destinadas a reforçar o conhecimento e a valorização das memórias da localidade e a sua candidatura a Património da Humanidade.
As jornadas realizam-se no Cine-teatro Florbela Espanca, e têm início logo pela manhã com a comunicação do Prof. Veríssimo Serrão, presidente da Academia Portuguesa da História, sob o tema "Vila Viçosa no Estado Novo: A acção do Engº Duarte Pacheco".
Segue-se "A Fundação da Casa de Bragança: De Vila Viçosa para Vila Viçosa", por Manuela Mendonça, secretária-geral da Academia Portuguesa de História, "O Foral Novo de Vila Viçosa num contexto de mudança", por Carlos Margaça, "A Casa Real Portuguesa e a Corte Ducal de Vila Viçosa: Formas de Comunicação e Relacionamento", por Fátima Reis, e "Os Bragança e a Casa Real dos Áustria: Áreas de influência e espaços de domínio Político", por Paula Lourenço.
Fica à atenção de todos os leitores que gostam de história, e especialmente dos calipolenses.

sexta-feira, junho 24, 2005

Colóquio "O Futuro da União Europeia"

No dia 30 Junho, pelas 21h30, realiza-se no Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários de Arrifana (Santa Maria da Feira) um colóquio subordinado ao tema "O Futuro da União Europeia", em que serão oradores o Prof. Dr. Azeredo Lopes (Professor de Direito na Univ. Católica, Especialista em Assuntos Internacionais e Comentador RTP), o Dr. Manuel Monteiro (Prof. de Direito na Univ. Lusíada, ex-Presidente CDS-PP e ex-deputado, Presidente do PND), e o Dr. Fausto Correia (Eurodeputado do Grupo Socialista, ex-deputado, ex-Secretário de Estado, autarca).
Quem quiser saber mais pode contactar os organizadores, no caro confrade LÁPIS DE MINAS.

E a (não) pronúncia de Paulo Pedroso?

Sobre o esquecido processo Casa Pia continua a escrever sem temor o António Caldeira.
Um exemplo de firmeza e perseverança.
Ao que ele tem escrito ultimamente, eu acrescento uma interrogação que me tem andado a incomodar: que é feito do recurso contra a não pronúncia de Paulo Pedroso? Creio que está a completar-se um ano desde que foi distribuído no Tribunal da Relação de Lisboa...
Quando é que saberemos se existem ou não "indícios suficientes" para levar Pedroso a julgamento?
O julgamento dos pronunciados não lhe tem corrido bem... pode dizer-se que uma ausência mais presente nunca se viu!

Haja calma!

Tenham paciência, que esta casa ainda está em obras.
Aceitam-se críticas, e sugestões quanto aos acabamentos.

Movimento de Pais contra a deseducação sexual nas escolas

Continua a correr a Petição sobre o programa de Educação Sexual nas escolas, dinamizada pelo MOVE -Movimento de Pais.
Os organizadores apelam ao esforço de todos, designadamene na recolha de assinaturas online ou em papel, de modo a alcançar os objectivos desta mobilização social (a família é o elemento fundamental da sociedade e tem a responsabilidade primária pela protecção, crescimento e desenvolvimento das crianças).

As mudanças

O PSD insurgiu-se esta sexta-feira no Parlamento por ao que parece o primeiro-ministro José Sócrates já contar com 17 novas secretárias pessoais.
Recordam os sociais democratas que em Agosto de 2004 o engenheiro José Sócrates, então deputado, afirmou que o facto de o primeiro-ministro, Santana Lopes, ter 13 secretárias pessoais era «um escândalo e um despesismo exorbitante».
Em resposta o primeiro-ministro considerou «ridícula» a polémica agora levantada e adiantou aos jornalistas uma explicação simples: «Com as secretárias de Pedro Santana Lopes é que não ia ficar».
Eu não sei onde arrumam eles tanta mobília, mas compreendo perfeitamente o nosso Primeiro. As secretárias de Santana eram capazes de já estar um tanto usadas.

Olha que admiração!

Anuncia-se hoje que o PCP é o partido que mais subiu em Junho nas intenções de voto, segundo o barómetro Marktest feito para a TSF e Diário de Notícias, divulgado esta sexta-feira. O PCP atingiu os 11 por cento das intenções de voto, algo que não acontecia há muito tempo.
Não me admira nada: se tivesse o mesmo tempo de antena até a Mula da Cooperativa ganhava as próximas presidenciais.
Perante estes resultados fico apreensivo com o destino dos comunistas mais idosos. Receio muito pela vida deles.

Kapput!

Como podem ver, consumaram-se uns desastres aqui na folha. Tenho tanto talento para a informática como os nossos ministros têm para a governança.
Não sou capaz de avaliar o tempo de recuperação.
Aguardem os próximos capítulos.

PCP exige que Governo encerre sites com conteúdos racistas

Das notícias:
O PCP exigiu esta quinta-feira ao Governo explicações sobre a «inacção» em relação à existência e manutenção de sites «difusores de ideias racistas e xenófobas» na Internet, defendendo que «não pode haver tolerância» para com esses valores.
«A acção do Martim Moniz, no passado sábado, estava envolta numa perigosa nuvem de racismo e xenofobia e exigem-se explicações do Governo sobre a inacção que se verifica a que se mantenham sítios na net difusores de ideias e valores que atentam contra a Constituição da República», refere o grupo de trabalho do PCP para a imigração e minorias étnicas em comunicado.
Para os comunistas, «não pode haver tolerância para com ideias racistas e xenófobas».

Inspirados

Todos a escrever sobre a Lusofonia, o ensino do Português, e de novo o ensino da língua e literatura pátrias.
Um autêntico congresso em rede.

Cem dias "sem" oposição

O jornal "Portugal Diário" titulou assim a sua análise sobre os primeiros 100 dias de governo de Sócrates.
É uma vergonha, parece provocação, mas é a verdade.
O único inimigo do governo Sócrates é a azelhice e a inépcia em que tropeça a cada passo. Não fosse isso, e estava ali de pedra e cal até o Dr. Marques Mendes ser grande.

quinta-feira, junho 23, 2005

Distracções

Esta foi minha: ao destacar aqui o Olissipo tinha estado a ler o seu conteúdo, mas nem tinha reparado na assinatura. Quis manifestar apreço ao que lá se escreve, nomeadamente em prol da cidade que, sendo um pouco de nós todos, tem sido tratada como se fosse de ninguém - estando agora como certas empresas públicas, onde se constata que foram gastos rios de dinheiro mas as ruínas e os destroços se acumulam cada vez mais. Lado a lado com esquisitos monumentos ao despesismo..
Entretanto, por um comentário de agradecimento reparei que o subscritor é Jorge Ferreira. Poderá ser outro, mas o único que me ocorre é o do Tomarpartido.
A ser assim, tenho a dizer que é obra: fazer um já não é pouco, fazer dois e mantê-los, com o ritmo e a qualidade destes, é verdadeiramente notável.
Os meus cumprimentos a Jorge Ferreira!

Calinadas

O Ministro da Saúde tem como remédio para a elevada taxa de infecções no portuense Hospital de São João que os respectivos profissionais passem a lavar as mãos.
E a Ministra da Educação entende que o Tribunal Administrativo de Ponta Delgada é um tribunal "que é dos Açores, que não é de Lisboa e não respeita à república portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema".
Aumenta a minha esperança no futuro de Portugal: um país que aguenta governantes assim é capaz de resistir a tudo.

quarta-feira, junho 22, 2005

OLISSIPO

Estive a ler o OLISSIPO. É bom. Interessante. Entre os blogues localistas passa a ser um dos meus preferidos. Quase a par do Mais Évora e do Alandroal.

Portugal não se respeita

Sabe-se lá porquê, o artigo de Vasco Pulido Valente que há dias arrepiou o unanimismo esfuziante desencadeado pela morte de Álvaro Cunhal não tem sido nada comentado. Parece-me bom republicá-lo, para ver das reacções; assim, com um agradecimento ao "Público", aqui fica o desafio.

PORTUGAL NÃO SE RESPEITA
Parece que Álvaro Cunhal foi uma figura "importante”, "central", "ímpar" do século XX português. Muito bem. Estaline não foi uma figura "importante","central", "ímpar" do século XX? Parece que Álvaro Cunhal foi "determinado" e "coerente". Hitler não foi? Parece que Álvaro Cunhal era "desinteressado", "dedicado" e "espartano". Salazar não era? Parece que Álvaro Cunhal era "inteligente". Hitler e Salazar não eram? Parece que Álvaro Cunhal sofreu a prisão e o exílio. Lenine e Estaline não sofreram? As virtudes pessoais de Álvaro Cunhal não estão em causa, como não estão as de Hitler, de Estaline, de Lenine ou de Salazar. O que está em causa é o uso que ele fez dessas virtudes, nomeadamente o de promover e defender a vida inteira um regime abjecto e assassino. Álvaro Cunhal nunca por um instante estremeceu com os 20 milhões de mortos, que apuradamente custou o comunismo soviético, nem com a escravidão e o genocídio dos povos do império, nem sequer com a miséria indesculpável e visível do "sol da terra". Para ele, o "ideal", a religião leninista e estalinista, justificava tudo.
Dizem também que o "grande resistente" Álvaro Cunhal contribuiu decisivamente para o "25 de Abril" e a democracia portuguesa. Pese embora à tradição romântica da oposição, a resistência comunista, como a outra, em nada contribuiu para o fun da ditadura. A ditadura morreu em parte por si própria e em parte por efeito directo da guerra de África. Em França, a descolonização trouxe De Gaulle; aqui, desgraçadamente, o MFA. Só depois, como é clássico, Álvaro Cunhal aproveitou o vácuo do poder para a "sua" revolução. Com isso, ia provocando uma guerra civil e arrasou a economia (o que ainda hoje nos custa caro). Por causa do PREC, o país perdeu, pelo menos, l5 anos. Nenhum democrata lhe tem de agradecer coisa nenhuma.
Toda a gente sabe, ou devia saber, isto. O extraordinário é que as televisões tratassem a morte de Cunhal como a de um benemérito da pátria. E o impensável é que o sr. Presidente daRepública, o sr.presidente da Assembleia da República, o sr. primeiro-ministro, e dezenas de "notáveis" resolvessem homenagear Cunhal, em nome do Estado democrático, que ele sempre odiou e sempre se esforçou por destruir e perverter. A originalidade indígena, desta vez, passou os limites da decência. Obviamente, Portugal não se respeita.

Pedido de ajuda

A "Associação Portuguesa de Maternidade e Vida", instituição que muito prezamos, lançou um pedido de ajuda. Fica aqui à atenção de todos.

terça-feira, junho 21, 2005

The Truth About Hillary: What She Knew, When She Knew It, and How Far She’ll Go to Become President

Não sei se estão lembrados do prodigioso Clinton e da sua hillariante mulher...
Estão de volta aos tops!
O Drudge Report tem tido um enorme êxito com a divulgação prévia de excertos do novo livro de Edward Klein, “The Truth About Hillary: What She Knew, When She Knew It, and How Far She’ll Go to Become President”.
Quem se deliciou com as anedotas sobre a presidência Clinton, pode alegrar-se: depois da saída da Casa Branca o filão não esgotou. O livro promete: about President Clinton... and about her husband too.

DE L’EUROPE SIMPLE À L’EUROPE COMPLEXE

Eis um bom texto sobre o estado das coisas após o impasse da Constituição Europeia: Jean-Gilles Malliarakis analisa o projecto europeu, na sua simplicidade e nas suas complexidades.

Monárquicos e PPM

Depois de ter sido anunciada a morte do PPM, esta continua a ser comentada entre os monárquicos.
E tudo por causa do deputado-fadista...

Leituras matinais

Hoje no semanário "O Diabo" estreia-se em papel "O Pasquim da Reacção", no sítio destinado aos blogues de excelência.
Destaco ainda a página de memórias de Walter Ventura sobre um célebre episódio de ópera bufa que foi o atentado ao Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves, na época de todas as inventonas (só não tem mais graça quando pensamos que por causa daquelas e de outras parecidas penaram na cadeia por muito tempo muitos e bons portugueses).
Finalmente: salienta-se a entrevista sobre assuntos europeus de outro bloguista, João Pedro Simões Dias, e outra grande entrevista, esta do ex-ministro Rui Gomes da Silva (há quase trinta anos uma espécie de bulldog, ou bulldozer, as opiniões dividem-se, do Pedro Santana Lopes). Parece que continua zangado, e com mau feitio.

segunda-feira, junho 20, 2005

Desafios

Atenção pessoal: surgiu o "BlogReporters”, com o projecto de constituir um blogue no qual qualquer licenciado em comunicação social, jornalismo ou jornalista desempregado à procura de emprego poderá publicar gratuitamente as suas notícias, reportagens, entrevistas ou fotografias. Um espaço no qual cada um poderá demonstrar a sua qualidade e valor.
Fica aqui o alerta aos interessados em participar. Dirijam-se ao "BlogReporters".

Nova excursão

Breve colheita blogosférica: uns pensamentos bem ajuízados e perspicazes n'"O Misantropo Enjaulado" e no "Orgulhosamente Só".

Uma confirmação: prossegue e acentua-se uma tendência que já apontei para que o maior número dos meus visitantes sejam os que partem do "Batalha Final" e d'"O Porta-Bandeira".
São os jovens...

Será que no decorrer destes dois anos destas lides (falta-me um pouco mais de um mês para atingir o segundo aniversário) o panorama da blogosfera lusa modificou-se substancialmente?

Bagatelas para um massacre

O artigo de Nuno Rogeiro na última edição da Sábado:

O “arrastão” de Carcavelos tem alguma coisa a ver com a revolta agrária em França, ou com a cruzada holandesa para ter cidades em mãos indígenas, ou com a possível declaração da Catalunha e do país Basco como "Estados nacionais"? Sim, no sentido em que esta Europa está colada com cuspo.
Claro que as Pátrias possuem "particularidades", como as famílias. Têm as suas memórias, os pergaminhos respectivos, os amores e desamores de vida, os santos, mártires e protectores, as crenças e histórias, as pegadas dos povos, as arcas (com segredos) que arcam (mesmo nos degredos).
Claro que a "instabilidade social”, seja sob a forma de 500 (ou 40) energúmenos varrendo uma praia popular de Lisboa, ou debaixo da "mobilidade" de 1.6 milhões de portugueses que mudaram de emprego, desde que se anunciou a crise, é um dos preços a pagar por comunidades libertas de um Estado policial, onde se aceita o fluxo de pessoas e bens como uma extensão do Eu. Claro que em tudo há um "lado bom": o "arrastão" provocou uma reacção policial eficaz, quase imediata, não vista em muitos sítios do (primeiro) mundo, e a "mobilidade no emprego" mostra, paradoxalmente, que há soluções (talvez improvisadas, talvez instintivas, talvez provisórias, mas soluções) para a crise.
Não podemos, porém, menosprezar o que para aí anda, e o que aí vem.
Sociólogos brasileiros, como um Hélio Jaguaribe mais jovem, ou outros mais radicais, pintaram um dia as cores do Brasil possível: e se a ausência da classe média transformasse a Pátria num conjunto de palácios onde viviam entrincheirados os ricos, com as ruas pejadas de massas desapossadas, ao assalto da prosperidade e patinando na anarquia?
A deterioração das "classes médias" europeias, ou a sua quase "proletarização", sobretudo em Portugal, podem levar a esse pesadelo de apocalipse? Há quem aposte que sim.
Por outro lado, a "desintegração" entre comunidades "autóctones" e imigrantes, a permanência de largas ilhas de delinquência, que crescem pela facilidade do lucro no crime, a associação simbólica do estrangeiro e do facínora, irão tornar mais viável, e até "natural", mecanismos de autotutela, desde a compra de armas de defesa (ligeiras e pesadas), à organização de "milícias populares".
Todos os grupos ameaçados sejam lobos ou homens encontrarão formas de agredir os agressores, e de esquecer as virtudes da fé, da esperança e da caridade.
Se a tudo isto associarmos uma "classe política" ineficaz, palavrosa, sem convicções, olhada como bode expiatório conveniente, ficamos com a receita para um desastre.
Não vale a pena fingir que é de outro modo, nem que tudo se resume a artigos de uma Constituição defunta.

Carta aberta aos bandidos

Crónica de Ricardo Araújo Pereira, na última Visão:

Estimados bandidos:
De acordo com relatórios do Ministério da Administração Interna, a criminalidade dos gangs aumentou 460% em sete anos. Creio ser seguro afirmar que nenhuma outra actividade teve, em Portugal, um sucesso que sequer se assemelhe a este. Se alguma classe profissional tem levado a sério o apelo patriótico do Presidente da República para fazer um esforço no sentido de dar o melhor de si ao País, é a vossa.
Não posso, no entanto, deixar de colocar fortes reservas à vossa última iniciativa. É certo que a notícia correu mundo, e é inegável que isso, juntamente com os êxitos de José Mourinho, contribui para prestigiar o nome de Portugal lá fora. Mas mobilizar 500 marmelos para assaltar uma praia é simplesmente estúpido. Com meio milhar de meliantes bem organizados, vocês podiam ter assaltado a agência sede da Caixa Geral de Depósitos e trazido o cofre-forte ao colo. Duzentos e cinquenta de cada lado e levavam aquilo em peso para casa.
A assaltar uma praia, parece-me óbvio que deveriam ter escolhido praias de gente rica, como a dos Tomates, a do Ancão ou as de Vilamoura. Num dia bom, talvez conseguissem palmar o helicóptero do Manuel Damásio.
Já a praia de Carcavelos, meus amigos, o que é que tem para roubar? Por mais que me esforce, não consigo deixar de imaginar a vossa reunião após o arrastão como uma cena patética do tipo:
Bandido: Muito bem, vamos lá dividir o produto do roubo desta tarde. Este bronzeador solar de factor 30 fica para mim. Mãozinhas, ficas com este par de raquetes. Aqui o tupperware de pataniscas de bacalhau é para o Zé Naifas. E os outros 497 dividem este tacho de arroz de tomateembrulhado em papel de jornal.
RIDÍCULO, não vos parece? Sei que a minha opinião de leigo, provavelmente, conta pouco, mas não faria mais sentido dividirem se em grupos de 50 (que já assustam) e assaltarem dez praias em vez de uma? É uma questão de aritmética simples. Se me permitem a observação, estou convencido de que vocês, bandidos nacionais, são como os empresários portugueses - e digo isto sem pretender ofender-vos de modo algum. Têm iniciativa, sim senhor, mas falta-vos visão estratégica e, sobretudo, formação. Pois não é evidente que os vossos negócios se desenvolvem menos bem na praia do que, digamos, no campo? Refiro-me, especialmente, a campos de golfe. Mantém-se o contacto com a natureza e o trabalho ao ar livre - que, pelos vistos, vocês tanto prezam -, e tem duas vantagens que entendo como fundamentais: primeira, há muito mais coisas valiosas para roubar; segunda, eu vou à praia de vez em quando, mas não jogo golfe.
Pensem lá bem nisso e continuação de bom trabalho. Um abraço para todos do Ricardo.
P.S.: Não sei qual de vocês ficou, aqui há tempos, com o meu auto rádio. Se ainda não foi vendido, uma dica: lá dentro ia um CD do Sérgio Godinho, o Rivolitx. Tenham isso em atenção na altura de fazer o preço, porque é um belo álbum ao vivo.

domingo, junho 19, 2005

Ronda blogosférica

Gostei deveras:
a) das reflexões do "Portugal Profundo" sobre o apagão do arrastão;
b) dos considerandos do Santos da Casa sobre os tempos de embriaguez pós-manifestação que se vivem entre a rapaziada da área nacional (momentos sempre cheios de perigos);
c) do retrato à la minute que o inspirado Jansenista nos deu sobre três recentes desaparecidos: dois moços de fretes e um degustador de moços (a este só o conhecia por passarinho da ribeira).
E chega, que não tive tempo para ler muito.
Apreensão deixa-me o estado da coisa comunicacional; observar o fascínio e a sedução exercidos por Cunhal, que indubitavelmente os desprezava, numa chusma de profiteurs do sistema que ocupam a tempo inteiro os aparelhos de condicionamento ideológico da opinião pública, observar a submissão mental de uma burguesia instalada que só foi anti-comunista quamndo julgou que existia o perigo de os comunistas lhe chegarem aos bolsos, é pelo menos irritante para quem desde que se conhece rejeitou in toto a influência deletérea da grande heresia dos tempos modernos. Para todo o milieu, que é o poder, o comunismo é um conjunto de ideias óptimas, chiquérrimas, generosas a valer - aqui e ali com uma má aplicação, eventualmente com uns radicalismos, mas onde é que não há erros, ? De resto, tudo óptimo, tudo práfrentex, brutalmente avançado e com montes de cultura e verniz intelectual. O qué que querem?

sábado, junho 18, 2005

Valha-nos Santo António

Os portugueses foram confrontados com mais um sinal gritante de crise social, duas décadas depois da adesão europeia.
Já lá vai o tempo do país dos brandos costumes. As grandes cadeias de televisão mundiais descobriram um Portugal novo.
A imagem de centenas de jovens de cor a irromper pela praia de Carcavelos, agredindo e roubando quem gozava as delícias do sol, perante uma força policial atónita, não podia ser mais aterradora.
De facto, trinta e seis mil milhões de euros de fundos europeus depois, o arrastão é a pior forma de comemorar os vinte anos de adesão à União Europeia.
O arrastão de Carcavelos fez emergir, ainda que momentaneamente, um Portugal escondido, em que os filhos dos desempregados e dos imigrantes se assumiram como um exército organizado e ameaçador.
Não há exposições mundiais, campeonatos de futebol europeus e auto-estradas que sejam suficientes para esconder a pobreza e os excluídos.
Não basta avançar com soluções securitárias e multiplicar as explicações apressadas e atabalhoadas, cujo efeito apaziguador é mais do que duvidoso. Nem tão pouco precipitar visitas presidenciais à Cova da Moura para tentar provar que está tudo calmo e que as autoridades controlam os gangs e o dia-a-dia dos bairros degradados. Também não é só com medidas de moralização da classe política que se alcança a paz social. É preciso mais, muito mais.
O poder político tem o dever de interpretar os sinais de alarme social, no momento em que está a impor, cegamente, pesados sacrifícios aos mais desfavorecidos, nomeadamente com o aumento do IVA.
Num país em que a rede de apoio social é deficitária, muito por culpa da falta de organização e do desperdício, os mais pobres não aguentam as medidas draconianas para fazer face à crise das finanças públicas.
A uma semana de ultrapassar a barreira psicológica dos 100 dias de funções, o Governo socialista tem de empurrar a economia para o crescimento, para a criação de emprego, para a correcção das assimetrias entre o litoral e o interior, tal como prometeu José Sócrates na campanha eleitoral.
Os órgãos de soberania têm de agir. Agora, já não há desculpa para fazer de conta que não se sabe o que se está a passar e nomear mais uma comissão de avaliação para identificar o que está à vista de todos: um país à beira de um ataque de nervos e de uma explosão social e étnica.
P.S. A morte de Álvaro Cunhal e de Eugénio de Andrade deixam Portugal ainda mais pobre.
Trinta e seis mil milhões de euros de fundos europeus depois, o arrastão é a pior forma de comemorar os vinte anos de adesão à União Europeia
Rui Costa Pinto
(in Visão).

Manifestos

Hoje sugeria que se dedicassem à leitura de dois manifestos que ao tempo em que surgiram deram que falar, embora não em terra lusa: o Manifesto sobre a Nova Direita do Ano 2000, de Charles Champetier e Alain de Benoist, e o Manifiesto Contra La Muerte Del Espíritu, lançado por Javier Ruiz Portela e Álvaro Mutis.
Que tal?

Desafinações

Sobre o famoso arrastão de Carcavelos parece estar a gerar-se uma perigosa desafinação entre a imprensa oficialista.
A doutrina divide-se, oscilando entre as versões do Público (órgão do capitalismo de supermercado) para o qual as suspeitas policiais apontam para que o "arrastão" do passado dia 10 na praia de Carcavelos tenha sido acto criminoso organizado, com a devida premeditação, e a tese negacionista do diário "A Capital" (um periódico espanhol de Lisboa qué tiene también una edición digital, onde asneiam uns assalariados geralmente afectos ao berloque de esquerda) segundo a qual o arrastão nunca existiu e estamos perante uma gigantesca mistificação e uma das mais incríveis ilusões criadas em Portugal, nascida de interesses tenebrosos (os fascistas, certamente, como se explicaria este mundo sem eles...).
Por seu lado a PSP já passou pela humilhação de fornecer parágrafos a ambas as teorias, adivinha-se sob que pressões.
Aguarda-se com grande e natural expectativa a qual das orientações irá dar a sua adesão o inefável rabanete que nos preside e o grande par de costas em que o governo assenta.

sexta-feira, junho 17, 2005

Movimento Cidadão Atento

Referi-me à iniciativa do Movimento Cidadão Atento como sendo uma "expressão ingénua de insatisfação e revolta".
Não quis com isso desconsiderar ou menosprezar a iniciativa; e estava longe do meu espírito fazer uma crítica destrutiva ou malevolente.
Ao contrário: queria destacar o movimento como uma expressão genuína de insatisfação e revolta com o estado da coisa pública, nascida entre cidadãos descomprometidos e sem ambições próprias na política.
O adjectivo utilizado, ingénua, que seria fastidioso estar a tentar explicar porque respeita a outro plano de análise, não pretendia por isso menorizar os méritos do movimento nem ferir os responsáveis.
Verifico no entanto que o uso imprudente de tal adjectivação magoou desnecessariamente pelo menos o colega Ruvasa, do que lhe peço sinceramente desculpa.
Cumprimentos, e solidariedade, ao Ruvasa, e já agora também à Sulista, à Elise, e ao Azurara, que me parece terem partilhado o projecto.

Sobre Jorge Dias

Passeando pela net encontrei no Saadyroots uma citação do Professor Jorge Dias, sobre o Português:
"As virtudes e os defeitos mantiveram-se os mesmos através dos séculos, simplesmente as suas reacções é que variam conforme as circunstâncias históricas.No momento em que o Português é chamado a desempenhar qualquer papel importante, põe em jogo todas as suas qualidades de acção, de abnegação, sacrificio e coragem, e cumpre como poucos.Mas, se o chamarem a desempenhar um papel mediocre que não o satisfaz, a sua imaginação esmorece e só caminha na medida em que a conservação da existência o impele. Não sabe viver sem sonho e sem glória. Estagna assim na apatia do espírito, faz a critica acerba contra o que não está àquela altura a que aspira ou cai na saudade negativa, espécie de profunda melancolia."
Este encontro fez-me interrogar mais uma vez sobre quais as razões da escassa fortuna de que gozou sempre em Portugal a obra do Professor António Jorge Dias. Nunca percebi (sem ironia, não entendo mesmo) os motivos para o fraco conhecimento e divulgação, até nos meios universitários e nos círculos pretensamente cultos, da extraordinária obra do grande etnólogo e etnógrafo.
Um trabalho vastíssimo, criativo e original, único no nosso país, e que desde Vilarinho das Furnas a Rio de Onor aos longínquos Macondes tudo levantou e analisou com perspicácia crítica invulgar, deixando publicados mais de uma centena de títulos que trouxeram para o primeiro plano a preocupação do conhecimento científico das tradições nacionais, salvando do esquecimento usos e costumes locais, levando para o meio universitário a discussão sobre o conceito de cultura - para tudo permanecer oculto pela poeira espessa da ignorância instituída.
É uma pena. Mas aqui assinalo a citação, com a minha opinião de que as considerações de Jorge Dias sobre uma "psicologia nacional portuguesa" permanecem ainda entre o mais significativo e relevante que até agora se escreveu a esse propósito (sem deixar de referir também a importância dos dois livros de Francisco Cunha Leão - "O Enigma Português" e o "Ensaio de Psicologia Portuguesa" - que ao que julgo podem encontrar-se na Guimarães Editores), e sobre os quais também recaiu o desinteresse e o silêncio.

Não?!!!

O líder da federação distrital socialista do Porto, Francisco Assis, alertou, na quinta-feira, que uma eventual candidatura de Fátima Felgueiras a Felgueiras «nada tem a ver com o PS e não é um problema do PS», sendo que, a acontecer, «não pode ser levada muito a sério».
Este rapaz vai longe...

Cidadania atenta e exigente

O mau estar e a saturação que tenho mencionado, e que começa a expressar-se de diferentes modos em sectores sociais cada vez mais vastos e habitualmente acomodados, quando não anestesiados pelos ditames do politicamente correcto e pelos controleiros do pensamento, surge ainda de modo inorgânico e emocional, mas surge como um fenómeno cada vez mais sensível e generalizado.
Não estou a referir-me às greves que alastram (essas por enquanto não escapam das mãos dos serventuários do sistema instalado, e convêm a uns, os que estão no governo, e a outros, os seus alternadeiros da falsa oposição, para que tudo continue na mesma).
Estou a pensar por exemplo na iniciativa do Movimento Cidadão Atento, expressão ingénua de insatisfação e revolta, ou na manifestação convocada para amanhã em Lisboa por um grupo de cidadãos, em nome da reivindicação de ordem e tranquilidade públicas e pelo combate à criminalidade - num impulso voluntarista que apesar das preocupações legalistas dos organizadores despoletou de imediato uma onda de reprovação da parte dos detentores do poder mediático e político.
Mais exemplos de como é difícil ultrapassar a barreira da ditadura intelectual vigente, que garante aos que têm certificados de conformidade o exclusivo da praça pública enquanto nega aos reprovados o direito de cidade, impondo a todos o alinhamento ou o silêncio.

Trabalho político

Se dúvidas existissem, os últimos dias bastariam para fazer a prova de como a direita portuguesa, para ganhar existência e consistência de realidade, carece antes do mais de se dedicar a um trabalho político em profundidade, por natureza longo e sem compensação imediata.
Aponto como exemplo o espantoso clima que envolveu as cerimónias fúnebres de conhecidas personalidades que o Santo António entendeu por bem levar de entre nós.
Foi tal o aluvião propagandístico, a enchente de banalidades e lugares comuns que não resistem à menor crítica histórica, a histeria da esquerda dominante e a inteira submissão mental da direita consentida, que como sempre troteia embevecida ao seu comando, que dir-se-ia estarmos regressados ao frenesim dos tempos do PREC.
E todavia, examinadas as coisas com algum distanciamento, aquelas ideias e aquele universo mítico parecem já nada ter a ver com a realidade do nosso tempo e da nossa sociedade. Estão porém tão solidamente implantados no pequeno mundo que conforma e deforma a opinião pública, no país mediático que cria as imagens e representações, que uma visão do mundo falsa e grotesca, quase caricata e infantil, se ergue perante as multidões como epopeia de altos ideais e intangível valor.
Será assim enquanto outra cultura e outros homens, livres das sujeições intelectuais que aprisionam o situacionismo, não se prepararem devidamente e se aprestarem a tranquilamente ocupar as trincheiras nos aparelhos de condicionamento ideológico.

A Câmara de Lisboa

A batalha eleitoral em Lisboa conta com novo protagonista: depois de Manuel Carrilho, Carmona Rodrigues, Sá Fernandes e Ruben de Carvalho foi agora anunciado por Ribeiro e Castro que o CDS apresentará a candidatura de Maria José Nogueira Pinto.
Eu preferia que fosse o próprio Ribeiro e Castro. Para falar verdade até já tinha idealizado uma campanha personalizada para lançamento do chefe democrata-cristão.
Com efeito, ele tem sobre os outros uma vantagem significativa: o pai já foi vereador e Presidente da Câmara de Lisboa. Como todos mais ou menos sabemos, nessas coisas a hereditariedade tem muita importância. O saber adquire-se, e normalmente o primeiro local de transmissão de saberes é a própria família.
Portanto não tinha nada que saber: fazia-se uma campanha à base de grandes cartazes em que aparecia de um lado o Eng. Santos e Castro, em tom esbatido, amarelecido, sépia de fotografia antiga, e na outra metade em contraponto a imagem de Ribeiro e Castro, com um ar colorido e vigoroso, recebendo o testemunho. O passado no presente. A renovação na continuidade. Os slogans podiam adaptar-se à situação, do género "filho de peixe sabe nadar" (o povo gosta de se reconhecer nas suas frases, não compreende a maior parte daquelas mensagens cifradas inventadas pelos publicitários).
Não pode ser, paciência. Fica a ideia.
Mas a campanha lisboeta promete ser bem interessante.

quinta-feira, junho 16, 2005

A cólera dos homens comuns

Por toda a parte o homo vulgaris entra em revolta contra o experimentalismo social e os poderes fácticos que controlam o pensamento e a política nas sociedades ocidentais: os resultados dos referendos em França e na Holanda tiveram ao menos esse significado. As élites votaram sim, o povo foi votar não.
Em Espanha a adesão à manifestação da Associación de Víctimas del Terrorismo já tinha sido um sinal da profunda perturbação que o ideologismo do governo Zapatero instalou na sociedade espanhola.
E para sábado próximo anuncia-se uma mobilização acima de todas as expectativas iniciais para uma nova manifestação em Madrid, esta do Foro Español de la Família, em protesto contra os ataques legislativos à família tradicional (que conferiu prioridade à satisfação de grupos de pressão que lograram atingir um peso político totalmente desproporcionado à sua representatividade numérica no corpo social, como é o caso dos homossexuais). E o mais importante é que o crescente afastamento dos cidadãos em relação ao país institucional se polariza a partir de associações representativas de sectores e de faixas de opinião da própria sociedade, rejeitando o alinhamento no jogo viciado da partidocracia (afastar uns para que outros se sentem, só porque não cabem todos nas cadeiras - mas não mudando uma vírgula nem as ideias nem as políticas).
O homem da rua, afundado na descrença, custa a mexer-se - mas se o faz não é em torno de bandeiras partidárias. Quem quiser entender e agir tem que levar em conta essa nova disposição.

O progresso, de 1896 para hoje

Não resisto a reproduzir as palavras de Guerra Junqueiro, in "Pátria", livro editado em 1896, trazidas à blogosfera pelo Humberto Nuno.
Leiam, e digam lá o que vos parece.

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo (...)
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

Sobre a direita acidental

"Para uma direita de lugares-comuns, que anda a reboque da mentalidade e visão de esquerda, que não vê para além da pós-modernidade e relativismo-pragmático, já temos os partidos portugueses".
Um certeiro diagnóstico de uma lusa voz.

quarta-feira, junho 15, 2005

"O Diabo"

Na mais recente edição do semanário "O Diabo" destaco a secção "Imagens de Literatura e Filosofia", com a recensão crítica de Pinharanda Gomes sobre o livro de Paulo Ferreira da Cunha, saído nas Edições Caixotim, "Lusofilias".
E continuando nas minhas preferências anoto ainda as páginas de Walter Ventura ("O Diabo a Sete" e "Pégadas de Pégaso"), o artigo de Pedro Guedes na coluna dedicada à blogosfera, e a colaboração de José Adelino
Maltez
, a "Conciliar nacionalismo e europeísmo".
São algumas razões para comprar o velho pasquim da Alexandre Herculano.

O português Cristóvão Colombo

Foi actualizado o site do Núcleo de Amigos de Cuba, nomeadamente com uma síntese da recente conferência sobre o estado da polémica em torno da nacionalidade portuguesa do descobridor da América.
Para quem ainda não conhece os trabalhos de investigação de Mascarenhas Barreto, ou os aditamentos do Dr. Manuel Luciano da Silva, aconselho a que comece por aqui: o excelente trabalho de divulgação dos Amigos da Cuba.

terça-feira, junho 14, 2005

Encontro de bloguistas

Almoço no Porto, no dia 25 de Junho.
Vejam o ponto da situação.

Panhonhices

O fogo do Dragão desta vez acertou em João Pereira Coutinho.
Ainda bem: só se perdem as que cairem no chão.

Direitos consuetudinários

Segundo noticia o "Jornal de Negócios", o governo de José Sócrates em dois meses e meio já fez 1094 nomeações, ultrapassando as 1034 do ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, em idêntico período.
Comentando o facto, José Sócrates afirmou hoje, em Lisboa, que as nomeações que o seu Governo fez desde a tomada de posse são "estritamente políticas" e "cumprem a lei".
Que são "estritamente políticas" ninguém duvidava; que "cumprem a lei", também não custa admitir. Se a lei foi feita para isso, como haviam de estar contra a lei?
Observo apenas que o âmbito da notícia (a "entrada de pessoal para fazer funcionar os gabinetes" e "a habitual dança de cadeiras entre gestores públicos") não fornece nem uma pálida imagem do que se passa um pouco por todo o país.
Quando se olha para o número e a identidade (sobretudo esta) das pessoas agora nomeadas para os múltiplos cargos que a nível local são alvo da cobiça dos notáveis partidários (nomeadamente nos Institutos e organismos desconcentrados ou descentralizados da administração pública, seja o Instituto da Juventude, o Inatel, o IFADAP, o INGA, as CCRs, as Administrações Regionais de Saúde, as Direcções Regionais do Ensino, as Direcções Regionais da Agricultura) não pode disfarçar-se um sentimento de desalento.
Porque a escala torna mais visível o fenómeno, e em cada distrito existe uma lista de umas dezenas de lugares que são objecto de partilha negociada entre a pequena casta dos politiqueiros locais, para quem reside numa cidade do interior, pense-se em Bragança ou em Évora, a partidarização da vida pública e da própria administração é uma realidade muito mais notória e pesada do que para quem vive e trabalha em Lisboa ou no Porto.
Mas é a vida - como dizia o Eng. Guterres - e temos que viver com aquilo que temos - como já dizia o anafado camarada Soares.

segunda-feira, junho 13, 2005

Blogues pelo Não

O movimento Blogues pelo Não pede a todos que enviem ligações de textos e artigos sobre o tema.
Mobilizem a blogosfera em torno desta ideia simples: blogues pequenos e grandes, populares e impopulares, ilustres ou desconhecidos, de um ou vários autores, de esquerda, centro ou direita. Blogues unidos num só movimento, por um só Não. Porque afinal, o Não só tem um quadradinho no boletim de voto.
Para que a classe política nos ouça e nos respeite, é preciso gritar-lhe que nós não somos YesMen!

domingo, junho 12, 2005

Sobre Évora

Alguns têm estranhado que eu não tenha escrito nada sobre Évora, desde há tempos que já vão dilatados.
Não é distracção ou desinteresse. É antes embaraço, ou desilusão, ou frustração.
O que posso eu escrever quando se aproxima uma disputa eleitoral da maior relevância em que apenas estão presentes as candidaturas PS/Ernesto Oliveira/Capoulas Santos e PCP/Andrade Santos/Abílio Fernandes?
Se os outros optaram pela ausência e pelo silêncio, como poderei eu intervir?
Se arranjar disposição, farei ainda, certamente, alguns comentários. Entretanto, reduzo-me ao papel de observador.
Vou acompanhando o que sai no Mais Évora, que tem mantido o mesmo elevado nível com que se impôs (gostava eu que lhe faltasse a razão!) e o Geraldo Sem Pavor, a mais consolidada esperança entretanto aqui nascida.
Mas confesso que a minha cidade me dói.

O Pacense

Uma falta minha tem sido a ausência de referência ao blogue "O Pacense".
Trata-se de um comprovinciano, e de valor. Tem vida verdadeira (o autor é professor em Beja) e uma boa escrita. Recomendo.

De Borba

Para não deixar esquecer que este blogue é antes do mais um blogue regionalista, aqui vão uns copitos de Borba.
Que a nobre vila não é só vinhos, queijos, enchidos e mármore: está também bem representada no ciberespaço.
Além do já conhecido Alto da Praça, que tem desempenhado importante função de dinamizador local, assinalamos o Túnel do Bosque, e já agora as presenças na rede de outros lugares borbenses: Vila de Borba, de Carla Carvoeiro, a página de São Tiago de Rio de Moinhos, e as páginas pessoais de Rui Brinquete e Jorge Barroso.
Estive também de visita aos vizinhos e rivais de Vila Viçosa, mas estes, estranhamente, depois de um período de grande animação blogosférica, entraram em crise, aparentando quase todos um estado letárgico ou comatoso. Só mexe o D. Nuno Álvares Pereira...
Que se terá passado com o amigo Alentejano SA?

Uma batalha necessária

Para fazer política é preciso encontrar causas que possam constituir factores de mobilização e escolher os combates possíveis e viáveis em cada momento - se quisermos alcançar amanhã o impossível de hoje.
Agora, em Portugal, uma batalha se apresenta a exigir o empenhamento realista de todos - o não à constituição europeia, para preservar as condições da esperança.

Outro identitário!

"Lisboa não pode ser mais administrada por uma Câmara que se tornou numa permanente ameaça à sua identidade".
Não restam dúvidas: ser identitário é o que está a dar...

sábado, junho 11, 2005

De 1977 a 2005

Continuando com uma valente crise de preguicite aguda que me indispõe para alinhar prosa própria, mas não querendo privar-vos de alimento espiritual, acrescento outro artigo de Manuel Maria Múrias - este publicado em 1977. Falando de emigração, veja-se como se chega à imigração...

UM SUBSÍDIO PARA MATAR PORTUGAL
No dia 10 de Junho, o Presidente da República disse na Guarda o seguinte:
Os erros de concepção política, a falta de visão sobre os destinos do mundo moderno e a consequente insuficiência do ritmo do desenvolvimento no nosso país lançaram nos caminhos da emigração, nas últimas décadas, mais de um milhão dos nossos compatriotas. Este facto, se outros não houvesse, bastaria para condenar o regime que governou o País até Abril de 1974.
No dia 20 de Julho, uma nota do Conselho de Ministros anunciava-nos que se ia promover a emigração nos seguintes termos:
O plenário do Conselho de Ministros aprovou um decreto-lei, de acordo com o qual os portugueses que pretendem emigrar e tenham asseguradas condições de trabalho ou de residência no país do destino poderão vir a beneficiar de concessão de subsídio reembolsável desde que façam prova de insuficiência económica.
Quer dizer: por um lado o Presidente da República condena o regime anterior por ter promovido inconscientemente a emigração: era a falta de visão política e insuficiente ritmo de desenvolvimento que a provocava; por outro, o seu governo promove conscientemente a emigração, subsidiando-a generosamente através de empréstimos reembolsáveis, sem juro ou a juro baixo.
Entramos assim em pleno reino do absurdo, da impotência — e das contradições vergonhosas.
Vamos aceitar sem discutir que o anterior regime, depois de cem anos de incompetência dita democrática que nos colocou na cauda dos países mais pobres do mundo, poderia ter enriquecido Portugal em meio século, partindo do zero e com várias guerras internacionais a rondar-lhe a porta. Vamos partir do falso princípio histórico que não se electrificou o país, não se fez nem uma fábrica, não se lançou nem um porto nem um quilómetro de estrada. Vamos considerar como dado objectivo e dogmático que o dr. Salazar e o dr. Marcello Caetano eram duas bestas quadradas — e que o dr. Palma Carlos, o Gen. Vasco Gonçalves, o dr. Mário Soares e o Gen. Eanes é que são grandes estadistas. Vamos ainda, sem fazer prova, afirmar que, depois do 25 de Abril, o progresso deste país tem sido espectacular e brilhante. Vamos esquecer o ouro acumulado nos ominosos tempos e que foi desbaratado pelos vários ministros das Finanças mais ou menos socialistas que nos governam desde Abril de 74... Vamos dar tudo isso (que é gigantesco) como abono à argumentação do sr. Presidente da República.
Pedimos-lhe em contrapartida que nos mostre um instrumento legal do anterior regime (só um...) em que se incentive a emigração, subsidiando-a financeiramente.
Que, perante o crescimento económico do mundo inteiro, nós não tivéssemos podido pôr-nos ao lado das nações mais ricas do universo e não tivéssemos, por isso mesmo, satisfeito as necessidades básicas das populações e, deste modo, houvéssemos promovido indirectamente a emigração — é uma coisa. Que haja hoje em Portugal um governo com o despudor de fomentar a emigração — é outra.
Serve para condenar o regime anterior o êxodo maciço e involuntário de um milhão de portugueses. Não serve para demitir este governo a promoção planeada e subsidiada de não se sabe quantos outros milhões? Não se condena este regime pelo mesmo motivo? Não se auto-condena o sr. Presidente da República pela mesma razão?
Entramos em pleno reino do absurdo e da impotência. Somos governados por quem nos quer expatriar. Boa parte dos tostões que pagamos ao Estado para criar novos empregos e sarar a chaga vergonhosa da emigração vão ser gastos pelo Estado em pagar a emigração. Enquanto a França oferece 70 contos por cada português emigrante que regresse à Pátria, Portugal oferece outro tanto, ou mais, para que os portugueses se exilem. Chegámos a um nível de degradação inimaginável. Estabiliza-se a democracia, expulsando de Portugal os portugueses. Legalizam-se todas as infâmias cometidas até ao 25 de Novembro. Vivemos o gonçalvismo sem gonçalves. O governo que se condena pela política da emigração continua a merecer a confiança do Presidente da República.
Sabíamos que tudo se passaria assim. Assistimos, na prisão, ao exílio de mais de uma centena de milhar de técnicos, expulsos da Pátria por serem «fascistas». Vimos, entre náuseas, o dr. Mário Soares viajar por todo o mundo, tentando colocar os nossos excedentes de mão-de-obra. Ouvimos (muito cépticos) o discurso crítico do Presidente da República na Guarda. Lemos aterrorizados a nota do Conselho de Ministros anunciando o fomento da emigração...
Somos, realmente, concretamente, objectivamente uma nacionalidade moribunda. Para aguentar no poder um governo incapaz — expulsamos de Portugal os portugueses. Iremos ver, daqui a nada, como na União Indiana da senhora Ghandi, lançada uma campanha de esterilização colectiva às nossas mulheres — com prémios a quem não tiver filhos, com castigos a quem tiver muitos. Suicidamo-nos conscientemente. Suicidam-nos os nossos senhores do poder.
Nada nos resta senão o exílio. O exílio ou a revolta interior. Portugal é Portugal. Transcende as instituições democráticas. Para se defender a Democracia, não se pode matar Portugal. Isso é o que estamos a fazer. Friamente. Planeadamente. Desgraçadamente.
(In A Rua, n.º 69, pág. 3, 28.07.1977)

Sampaio apela ao patriotismo dos portugueses

Dos jornais:
"No seu último 10 de Junho enquanto Presidente da República, Jorge Sampaio apelou à esperança e ao reavivar do patriotismo para que seja possível ultrapassar a actual crise que Portugal atravessa".
As palavras parecem-me acertadas, e é verdade que mais vale tarde que nunca, mas não posso deixar de estranhar esta devoção súbita pelo patriotismo. Descobriu a Pátria depois dos 60?
"Na sua intervenção, Sampaio identificou duas crises que afectam o país: uma financeira, do Estado, que não tem dinheiro para pagar as despesas e gasta mais do que deve; e uma crise económica porque Portugal está a produzir cada vez menos riqueza, o que acaba por acentuar a crise financeira."
Aqui já o reconheço. São as pobres ideias feitas. As de sempre. Que só conseguem descortinar "uma crise económica e uma crise financeira".
Por aí, nunca Portugal resolverá crise nenhuma.

PORTUGAL, S.A.R.L.

No final do ano de 1980 vivia-se a formação do governo Balsemão. Tinha desaparecido Sá Carneiro, o presidente era Eanes, as personalidades mais destacadas no novo executivo em formação eram Balsemão e Freitas. Foi o governo da Quinta da Marinha, que ainda assim, apesar da homogeneidade visível brevemente se desentendeu.
Manuel Maria Múrias publicou então o artigo que transcrevo a seguir, por ao lê-lo agora se me apresentar bem actual em muitas das observações. Infelizmente.

Por um daqueles esquecimentos históricos muito vulgares nos homens de génio, Marx esqueceu-se de nos dar uma definição rigorosa de classe social. Ao teorizar a luta de classes considerou como um dado, cientificamente caracterizado a priori, o conceito de classe: a partir daí nem os marxistas conseguiram entender-se sobre o termo — tudo o que se tem dito, e escrito, e discutido acerca do assunto pouco tem adiantado.
Já agora até os sociólogos entendem que a famosa divisão da sociedade entre proletários e burgueses é redondamente falsa. A vida social é muito mais complexa do que isso; as classes sociais (se é que existem) dividem-se e subdividem-se em hierarquias até ao infinito, tomando formas diversas conforme as diversas organizações dos poderes, assumindo-se com várias características consoante as diferentes latitudes. Falar de uma classe de explorados e outra de exploradores é hoje considerado estulto à luz da sociologia. A sociedade estrutura-se espontânea e naturalmente em grupos mais ou menos fechados com interesses próximos e comuns; os vínculos aglutinadores nascem, em cima, através, através de grandes realidades consuetudinárias (como a Língua, a Religião, a Paisagem Maternal e o próprio Clima) e consolidam-se, em baixo, pelo sexo, pela maneira de viver, pela comunidade dos valores morais, pelo grau comparável de cultura ou, pelo menos, (como diz Gonnard) de cultura orientada na mesma direcção — e pela mesma maneira de viver em sociedade. Lucaks, pensador marxista, afirmava que não há classe social sem consciência de classe. Desomogeneizada, a sociedade apresenta-se-nos concretamente como uma vasta teia de classes que se interpenetram; a existência de intelectuais proletaróides que renegam o seu burguesismo é tão vulgar como a existência de proletários intelectualóides que recusam o proletarismo. As classes sociais surgem do chão como os cogumelos na relva; a organização política do poder e o modelo de projecto económico têm um papel criador dominante no teor das malhas que unem os homens.
Dizia Tarde que as pessoas que se casam entre si, que comem à mesma mesa sem sentirem repugnância mútua, que se conformam aos mesmos padrões sociais e que têm a mesma ideia sobre as distinções de classe constituem uma classe socialmente homogénea a despeito das suas diferenças ocupacionais. Há uma classe governante e uma grande classe governada. Destruindo os estamentos a revolução democrática bipolarizou inconscientemente a vida social; criou uma classe política determinada com rigor quase geométrico; separou a Nação do Estado, caracterizando este como um aparelho burocrático e hierarquizado, fenomenologicamente igual em Portugal e na China. Há uma classe política.
O que, neste momento, se passa neste país para a formação do novo governo é negócio que só interessa à classe política. O chamado povo soberano tem a consciência plena de que não pode, nem deve interferir no assunto. Ao dar a representação política a um partido, abdicou da sua soberania; fechada em si como um mexilhão na casca, a classe política governa-nos e governa-se dentro de regras próprias, incompreensíveis para o comum dos mortais.
O governo de Balsemão deve ser encarado, por isso mesmo, não como o governo dos portugueses (quer dizer; escolhido pelos portugueses) mas sim como o governo da classe política. Foi escolhido e organizado ao sabor de interesses muito restritos de uma classe muito restrita; é o produto acabado da conjugação desses interesses dentro do cínico ditame de que a política é a arte do possível.
Pelo que se tem visto o Dr. Francisco Balsemão tem orientado a formação do seu governo condicionando-a a meia dúzia de determinantes fundamentais: — em primeiro lugar tratou de defender os interesses pessoais do pessoal do Partido Social Democrata; depois tratou de acautelar os interesses da Aliança Democrática, prevendo o seu desintegrar; a seguir olhou cautelosamente pelo futuro da partidocracia que, além dos partidos aliancistas, também garante a existência de todos os outros partidos (incluindo o comunista), logo após não deixou de se lembrar dos amigos e colegas de escritório; por fim procurou gerar um clima de eficácia operacional, limando os pontos de fricção latentes com o Presidente da República. O interesse nacional foi relegado para a cauda das preocupações imediatas. Com a sua experiência de gestor o Dr. Balsemão futurou o próximo Conselho de Ministros como o Conselho de Administração de qualquer sociedade anónima. O projecto da Aliança Democrática foi objectivado em termos exclusivamente económicos; o seu governo, por conseguinte, pretende gerir este país com lucro. Governar é outra coisa.
A ideia não é de hoje nem de ontem — é de há muitos anos. Despolitizar o político tem sido o sonho de quantos tecnocratas têm passado por S. Bento desde Salazar. Sendo o país o conglomerado de pessoas economicamente necessitadas, o seu governo deve ter como alvo essencial a satisfação dessas mesmas necessidades. O marxismo define um modelo de sociedade anónima, o capitalismo define outro. Para existir com felicidade, deve bastar a Portugal manter um nível de vida suficientemente alto; para não sentir constrangimentos patrióticos deve poder equiparar-se ao nível de consumos dos mais gastadores países da Europa.
Aqui há uns anos, no «Expresso» de que foi director o Dr. Balsemão, escrevia-se que o maior erro político da História de Portugal tinha sido a revolução de 1640. Explicava-se naturalmente a afirmação pelo tempo histórico já decorrido: — se tivéssemos cedido à ânsia centralizadora do Conde-Duque de Olivares, se não tivéssemos seguido o pendão irredentista dum grande senhor alentejano, nós agora seríamos como a Navarra, como a Galiza, como a Catalunha, ou como os Andaluces, maior província de Castela — e vivíamos abastadamente no seu grande espaço político-económico, parte maior duma grande potência europeia. Não seríamos portugueses, mas seríamos ricos. Um ponto de vista económico adaptado à soberania, minimiza a soberania; sendo o país apenas o conglomerado duns milhões de pessoas economicamente necessitadas, se a satisfação dessas necessidades passa pela perda da soberania — faz-se um bom negócio, cumprindo-se um mandato. O que o povo quer é viver; se para viver melhor for preciso transferir o capital para Madrid (ou para Estrasburgo) que se transfira para aí o capital.
Longe de nós estarmos aqui a insinuar que o governo do Dr. Balsemão tem como projecto escondido a União Ibérica, Limitamo-nos a concatenar os factos — e a tentar compreender porque tendo de organizar um Conselho de Ministros o Primeiro-Ministro indigitado parece pretender constituir somente um Conselho de Gestão. No fundo o que separa o projecto político da Aliança Democrática do projecto comunista é a forma de organizar a economia: onde um pretende sociedades anónimas, pretende o outro Unidades Colectivas de Produção ou Empresas Públicas. Os valores éticos subjacentes ao conceito de Nação como mais alguma coisa que um mero aglomerado de pessoas economicamente necessitadas, desvanece-se nesses projectos. Aos gestores comunistas (muito maus) que nos governaram nos primeiros anos da revolução sucedem-se os gestores capitalistas (menos maus) nascidos na contra-revolução novembrista.
Natural é, portanto, que personalidades cujas preocupações não são apenas económicas, se afastem do novo governo. Apesar de menormente, Sá Carneiro pretendia ser um estadista; o Dr. Francisco Balsemão deseja somente ser o Presidente do Conselho de Administração de Portugal S.A.R.L.
Que o Conselho Fiscal o apoie e ele seja aclamado em Assembleia Geral são os nossos votos sinceros.

(In A Rua, n.º 237, pág. 16, 26.12.1980)

sexta-feira, junho 10, 2005

Juan Donoso Cortés

Ao ver o entusiasmo de Rafael Castela Santos perante uma referência no "Fascismo em rede" a Juan Donoso Cortés resolvi dar o meu contributo para a evocação do grande pensador extremenho.
A minha sugestão de leitura é o "Ensayo sobre el catolicismo, el liberalismo y el socialismo" (de 1851).
Como poderão ver começa em interessante diálogo com Proudhon, e continua de princípio até final sem nunca perder a profundidade, a densidade e vigor que caracterizam o pensamento do autor.
Um nome a conhecer e a estudar: "Yo represento la tradición, por la cual son lo que son las naciones en toda la dilatación de los siglos. Si mi voz tiene alguna autoridad, no es, señores, porque es la mía: la tiene porque es la voz de nuestros padres.»
Já agora aconselho que procurem entre os títulos disponíveis em "La Editorial Virtual".
A oferta é notável: de Ortega y Gasset a Jaime Balmes, de Carl Schmitt a Alexandre Soljenytsine... Mais que uma editorial, trata-se de uma biblioteca.
A última obra digitalizada é sobre Leonardo Castellani.
Como é pobrezinha a net de língua portuguesa!

quinta-feira, junho 09, 2005

Os caminhos das visitas

Como já declarei, gosto de verificar de onde vêm os visitantes que chegam ao meu blogue. Os que deixam marca, obviamente. Fico a saber quais as ligações mais utilizadas, nomeadamente quais os blogues de onde partem os viajantes que aqui aportam.
Neste mês de Junho, até agora, o maior contribuinte líquido para a glória deste blogue é o Nova Frente, o que não constitui novidade.
Porém, está a ser perseguido muito de perto pelo Batalha Final, o que, isso sim, já representa um dado novo.
Segue-se a grande distância o Porta-Bandeira, e um pouco atrás dele o Último Reduto (pronto, está fora do pódio, mas também um quarto lugar não deixa de ser honroso; é aliás uma situação profundamente portuguesa, não ganha medalha por um triz).
Conclusão do estudo: estes indicadores representam mudanças sensíveis nos índices de popularidade dos blogues em análise. Com notória afirmação das gerações mais novas. Assim seja.

Sobre Olivença

O Grupo dos Amigos de Olivença fez sair mais um número do Boletim Olivença-Portugal, para o qual chamo a atenção dos leitores deste espaço.

quarta-feira, junho 08, 2005

Commentaires sur le non au référendum du 29 mai 2005

Um artigo de Alain de Benoist, no GRECE:

Le vote par lequel les Français ont massivement rejeté le projet de traité constitutionnel qui leur était soumis par référendum est évidemment un vote historique. Mais il n'est pas historique seulement par son résultat: 55% de "non" opposés à un texte confus dans lequel on pouvait à la fois trouver des choses positives, mais aussi et surtout des orientations générales inacceptables. Il l'est tout autant, sinon plus, parce qu'il a de nouveau fait apparaître, de façon fracassante, le fossé qui sépare aujourd'hui le peuple de la classe politico-médiatique et de ses supposés "représentants".
Le 28 février dernier, les députés et les sénateurs français réunis en Congrès à Versailles avaient adopté par 91,7% des suffrages le projet de loi constitutionnelle préalable à la ratification du traité. Au cas où le projet aurait été soumis en France au seul vote du Parlement, ainsi que cela a été le cas en Italie, en Allemagne et en Autriche, le texte aurait donc été adopté par plus de 90% des voix. Or, il a été rejeté par 55% des électeurs, avec un taux de participation au scrutin de 70% et un écart entre les "oui" et les "non" de 2,5 millions de voix. 90% d'un côté, 55% de l'autre : la simple confrontation de ces deux chiffres montre que la représentation nationale ne représente plus rien.
Tous les grands partis "de gouvernement", à commencer par le parti socialiste et l'UMP de Jacques Chirac, s'étaient en effet prononcés en faveur du "oui". Il en allait de même tous les grands quotidiens, de tous les grands hebdomadaires, de toutes les grandes chaînes de radio et de télévision, de tous les grands éditorialistes, bref, de tout ce qui en France commande, plastronne, moralise et prétend parler au nom de l'opinion publique. C'est pourtant le non qui l'a emporté. On mesure ainsi le décalage entre les préoccupations des citoyens et les réponses de l'oligarchie qui détient le pouvoir.
A ce contraste entre le peuple et les élites, s'ajoute le fossé qui sépare les électorats de la direction de leurs partis. C'est particulièrement évident à gauche. Le parti socialiste (PS), dont la direction s'était prononcée pour le "oui", a été massivement désavoué par ses électeurs (55% de "non"). Il en est allé de même pour les Verts (62% de "non"), qui s'obstinent depuis des années dans une alliance contre-nature avec les socialistes, et qui ont mené en faveur du "oui" une campagne inaudible et sans conviction.
Le secrétaire général du PS, François Hollande, déjà connu pour son manque de charisme et d'autorité, subit une défaite personnelle qui menace sa position. Il se retrouve à la tête d'un parti écartelé, en total désarroi, dans lequel le choc des ambitions va plus que jamais prendre le pas sur la confrontation des idées et qui va aborder l'échéance présidentielle d'avril 2007 dans la pire des positions, sans ligne politique claire ni dirigeant incontesté.
Le référendum traduit en fait ce que le centriste François Bayrou a appelé une "gravissime crise française". Une crise que le vote n'a pas créée, mais qu'il a révélée au grand jour.
La fracture n'est pas seulement politique, mais aussi sociologique. L'analyse du vote montre que 60% des jeunes, 80% des ouvriers et 60% des employés ont voté "non". Mais aussi, contrairement à ce qui s'était passé lors du référendum sur le traité de Maastricht, qu'il en a été de même de la majorité des salariés, dont près de 56% des cadres moyens (contre 38% en 1992). Le "oui" n'a finalement été majoritaire que dans la haute bourgeoisie, chez les cadres supérieurs, les inactifs et les retraités. Ce basculement d'une fraction notable des classes moyennes dans le camp du "non" est un fait nouveau.
Le clivage droite-gauche, quant à lui, apparaît encore une fois complètement obsolète, puisqu'il y avait à gauche comme à droite des "oui" et des "non". Les partisans du "oui", en dénonçant le caractère hétérogène du "non", ont d'ailleurs clairement laissé entendre que le "oui" de Valéry Giscard d'Estaing ou de Nicolas Sarkozy était "compatible" avec celui de François Hollande ou de Lionel Jospin. Ils auraient voulu montrer que la division gauche-droite ne correspond plus à rien qu'ils ne s'y seraient pas pris autrement !
Mais le plus remarquable, au lendemain du vote, a été de constater que la classe politico-médiatique, qui avait cru au départ que le vote en faveur du "oui" était acquis d'avance, n'a apparemment tiré aucune leçon de son désaveu. Au lieu de faire son autocritique, elle s'est seulement repentie amèrement d'avoir eu recours au référendum. En clair: d'avoir pratiqué la démocratie directe en donnant la parole au peuple. La conclusion qu'elle en tire est visiblement qu'il faut le moins possible donner la parole au peuple, dont le comportement "imprévisible" est toujours à redouter.
Il en va de même de Jacques Chirac qui, s'étant personnellement engagé avec force dans la campagne en faveur du "oui" au risque de confirmer les opposants à sa politique à se prononcer pour le "non", s'est borné à annoncer une "nouvelle impulsion", c'est-à-dire la nomination d'un nouveau Premier ministre, alors qu'il a subi un incroyable camouflet personnel et que sa popularité est en chute libre, à l'instar de Silvio Berlusconi, de Toni Blair ou de Gerhard Schröder.
On comprend que, chez les partisans du "non", Philippe de Villiers, qui réclamait des élections anticipées, n'ait pas manqué de citer la célèbre phrase de Bertolt Brecht qui disait, ironiquement, qu'en cas de divergence totale entre le peuple et le gouvernement, il n'y a que deux solutions: changer de gouvernement ou changer de peuple!
Tout cela signifie, a écrit le sociologue Jean Baudrillard, "la faillite du principe même de la représentation, dans la mesure où les institutions représentatives ne fonctionnent plus du tout dans le sens "démocratique", c'est-à-dire du peuple et des citoyens vers le pouvoir, mais exactement à l'inverse, du pouvoir vers le bas".
Autour du projet de Constitution ne s'en est pas moins déroulé, pour la première fois depuis longtemps, un véritable débat - dans lequel les informations diffusées par Internet ont joué un rôle de contre-pouvoir exemplaire. Plus d'un million de livres sur le traité constitutionnel se sont vendus dans les semaines qui ont précédé le vote, ce qui en dit l'ampleur.
Le 29 mai, le peuple français a exprimé un vote aux allures d'insurrection démocratique. Faisant usage de son droit à disposer de lui-même, il a dit à la fois son pessimisme et sa colère. Il ne s'est pas prononcé contre l'Europe, mais contre l'orientation actuelle de la construction européenne. Dans bien des cas, son "non" a été un "non pro-européen", comme l'a dit le socialiste Jean-Luc Mélanchon. Un "non" à ce que l'on présente depuis des années comme l'"empire du Bien", un "non" à l'Europe technocratique et à la mondialisation libérale, qui ne l'empêcherait pas de dire demain "oui" à une autre Europe.
La dernière leçon de ce vote, et certainement pas la moindre, est que la victoire globale du "non" n'a été possible que par l'addition du "non de droite" et du "non de gauche", car aucun de deux n'aurait pu à lui seul remporter la victoire. Une constatation à méditer.