domingo, novembro 30, 2008

O ESPÍRITO DA RESTAURAÇÃO

"No momento em que Portugal está a caminho de ficar sob tutela internacional, que outro espírito pode e deve e tem, necessariamente, de animar-nos (e cada vez mais, daqui por diante), senão aquele puro espírito que, na manhã de 1 de Dezembro de 1640, conduziu este Povo à restauração da independência nacional, ao cabo de sessenta anos de presúria e de ocupação estrangeiras?!...
Portugal é hoje, e de novo, um país ocupado por forças e por ideologias que nos são, de resto, muitíssimo mais estranhas, e que se têm revelado incomparavelmente mais devastadoras e espoliatórias do que o foram as de há 336 anos — ao ponto de estarmos agora, para aqui, à beira de deixarmos de ser coisa que se veja... Tanto ou talvez mais do que sob a dominação dos Filipes, o nosso país, a estas horas, é fronteira aberta ao invasor — que nos ocupou, física, psíquica e metafisicamente, confiscando-nos parasitariamente o sangue e o suor de cinco séculos de História honrosamente acumulados.
Atentaram mortalmente contra o território, invadiram-nos a alma e o pensamento. Dir-se-ia que fomos acometidos de uma amnésia de quinhentos anos de passado glorioso."

Assim escrevia há alguns anos um português angustiado, de alma nobre e sensível, a quem a Pátria doía. Apelava ele a que nos iluminasse "a chama desse espírito, cem por cento orientado para o resgate nacional, e que procede, em linha recta, da gloriosa alvorada dos Restauradores."
Como ele, não queremos nem podemos deixar passar em claro a histórica data do 1.º de Dezembro. Como ele, deixamos nesta página onde alguns amigos nos podem ler o apelo veemente para que todos, nos corações e nas almas, guardem e vivam o espírito da Restauração.
Para que um dia possa amanhecer de novo um Portugal Restaurado.

1º de Dezembro nos Restauradores, em 2007

1º de Dezembro em Bragança, ano 1962

sábado, novembro 29, 2008

Cá se fazem cá se pagam

sexta-feira, novembro 28, 2008

1º de Dezembro comemorado em Santo Aleixo da Restauração

A freguesia de Santo Aleixo da Restauração, no concelho de Moura, vai acolher, uma vez mais, as comemorações do 1º de Dezembro, data que assinala a vitória portuguesa nas guerras da restauração da independência.
Santo Aleixo da Restauração teve um papel crucial durante as batalhas que se seguiram a 1640, e o seu povo defendeu a sua terra de forma corajosa, derrotando os exércitos espanhóis. A bravura deste povo encontra-se perpetuada no monumento situado na Praça dos Restauradores, naquela freguesia, assim como no monumento da Praça dos Restauradores, em Lisboa.
A organização das comemorações é da Câmara Municipal de Moura e da Junta de Freguesia de Santo Aleixo da Restauração.
(ver programa)

O Alentejo vive a Restauração


A Banda Filarmónica 14 de Janeiro, de Elvas, toca o Hino da Restauração, na Sociedade Recreativa 1º de Dezembro, em Elvas, no ano passado.

Viva o 1.º de Dezembro!

Comunicado do Grupo dos Amigos de Olivença:

No próximo 1.º de Dezembro comemoram-se 368 anos da Restauração da Independência.
Logo em 5 de Dezembro de 1640, Olivença, assim que lhe chegaram notícias da revolta, repudiou o domínio filipino e fez jus à divisa que lhe fora outorgada pelos Reis de Portugal: NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA!
Ocupada militarmente em 1801, desde então sob administração espanhola e forçadamente separada das demais terras portuguesas, Olivença constitui alerta eloquente para todos aqueles que querem um Portugal verdadeiramente livre e independente.
Lembrando a NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA, e apelando à participação cívica de todos na defesa da sua portugalidade, o Grupo dos Amigos de Olivença participará como habitualmente nas comemorações públicas do Dia da Restauração.
Convidam-se todos os associados e apoiantes a integrarem a Comitiva do Grupo dos Amigos de Olivença que se concentrará, no dia 1.º de Dezembro, às 15:30 horas, frente à Casa do Alentejo, dali saindo para comparecer nas cerimónias oficiais que terão lugar às 16:00 horas, na Praça dos Restauradores, em Lisboa.
Para Lembrar e Reencontrar Olivença!

Lx., 23-11-2008.
A Direcção

Coito & Tranquada

Ainda estou a rir com a pequena crónica de Manuel António Pina no JN. Ora leiam.

Os advogados Coito e Tranquada, deputados da respeitável associação política que dá pelo nome de PSD Madeira, vieram esclarecer clientes, amigos & povo em geral que não têm, nem nunca tiveram, nada a ver com o BPN. Se percebi bem, houve só qualquer coisa relacionada com umas instalações. Por mim, estou esclarecido e continuarei a depositar total confiança em Coito e Tranquada.
O presidente da República também já informou o país de que não tem nada a ver com o BPN. Dias Loureiro, como se sabe depois ter ido à RTP e de o ter jurado "solenemente" em Belém, é quem menos tem a ver com o BPN. O próprio Oliveira e Costa, apesar de preso, já terá garantido ao Ministério Público (estou a violar o segredo de justiça mas é por uma boa causa) que nem sequer sabe o que é o BPN e que a primeira vez que ouviu falar de tal coisa foi quando a Polícia lhe bateu à porta. Verifico, inquieto, que sou o único português que tem alguma coisa a ver com o BPN. De facto, há um balcão do BPN a 20 metros de minha casa e já lá fui ao Multibanco, pelo que começo a temer que seja eu quem vai pagar as favas do escândalo.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Pablo La Noche

Para aqueles leitores que cultivam a funesta mania de ler romances, que já Camilo fustigava, atrevo-me a fazer nesta quadra pré-natalícia uma recomendação surpresa: descubram Marcello Mathias (não o filho, mas o pai).
Surgiu há pouco nas livrarias, editado pela Quetzal, uma nova edição do romance "Pablo La Noche", de Marcello Mathias.
A obra apareceu originalmente em 1973, com o título "Lusco-Fusco", sendo o autor identificado como Pablo La Noche.
Ninguém sabia à época quem fosse o misterioso escritor que se acobertava com tal pseudónimo (Pablo La Noche é também o nome do narrador e personagem central do romance), e o livro fez alguma sensação nos meios literários lusos. Foi então o vencedor do prestigiado Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências.
Já em 1976, o romance foi editado em França, pela Robert Laffont, tendo aí o título "Pablo La Noche". Obteve então o Prémio Rayonnement Français da Academia Francesa.
Depois foi o esquecimento.
Entretanto decorreram 35 anos, sem que o Embaixador Marcello Mathias (1903-1999) reincidisse na ficção (nem na poesia, em que também fez incursão esporádica). Só surgiu entretanto uma obra mais expectável da sua imagem de homem público: a sua correspondência com Salazar.
Agora, "Pablo La Noche" está de novo disponível e sujeito ao escrutínio de todos os amadores das letras. Vão por mim: é uma boa surpresa. Na Quetzal.

Céline: um inconformista como nós?

A propósito da edição de Céline pela Ulisseia:

"Talvez em nenhuma outra fase, em nenhuma outra das suas obras, se tenha dado uma tão feliz confluência entre conteúdo e estilo do que nesta trilogia final (Castelos Perigosos, Norte e Rigodon) que a Editora Ulisseia vai pela primeira vez publicar na íntegra em Portugal. Ainda há poucas semanas, aliás, num artigo publicado no Nouvel Obervateur, a propósito da saída, em França, da obra de Henri Godard, Un Autre Céline, considerava Philippe Sollers que esta trilogia fazia parte dos seus «mais belos livros». E acrescentava, num toque assassino «há ainda alguns atrasados que pretendem limitá-lo à Viagem»."

quarta-feira, novembro 26, 2008

A reacção é a vida: "O Pasquim da Reacção"

Honro-me hoje com as respostas do Corcunda, que desde Março de 2004 contribui poderosamente para elevar o nível médio desta blogosfera em que vivemos. Sem grandes resultados, aceita-se - porque com tanta gente a puxar para baixo dificilmente a média se altera, por maiores que sejam as alturas a que ele nos eleva. Porém, o que for feito permanece - e a obra do Pasquim da Reacção aí está para o provar a todos. Estultícia ou estupidez, será a explicação para a atitude dos que disserem nada ter a aprender ali. Até o Rui A. anda fascinado, pese embora lhe doa o visível desamor ao liberalismo ostentado no sítio. Há lugar para a esperança, ou que o Rui venha à tradição ou que a tradição chegue ao Rui.
E esta, estava eu aqui a falar do jovem Corcunda e acabei a falar no Rui Manuel, que já não é tão jovem assim (meu Deus, é que eu ainda sou menos!...).
Vamos então ao que interessa, que são as respostas do Pasquim da Reacção (eu só dei as deixas).

1 - Alguém afirmou em tempos que "um jornal é um organizador". Um blogue pode ser um organizador?
- Um blogue pode ter essa função de concertação de acções que o velho Lenine atribuía aos jornais. O Pasquim não. Tem como única função a organização de ideias e o contacto dos leitores com formas de pensar que não são dadas a conhecer nos meios habituais de comunicação.
2 - O que faz reagir o Pasquim? (Contra ou a favor... )
- O Pasquim reage contra a Injustiça. Não com as várias injustiças de que se vão fazendo os nossos dias, mas com a fonte de todos esses males. Quem combate sintomas e não causas está condenado a uma vida de trabalhos e de resultados nulos. Esta é uma reacção contra o nosso tempo e todo um sistema de pensamento que visa manter a obediência pela criação de uma ficção (o progresso, a liberdade, a igualdade, a semelhança morfológica) que está desligada da verdade, desligada da escolha essencial de qualquer sociedade (o bem ou o mal) e desligada mesmo das condições para proceder a essa escolha.
3 - No Alentejo diz-se que lavar a cabeça a burros é estragadouro de sabão. No Pasquim já se sentiu o mesmo?
- Numa era em que a visibilidade não vem da ponderação e da razoabilidade, mas da capacidade de fazer barulho e agitação, os burros têm sempre uma palavra a dizer. Não é, contudo, para esses que a mensagem deve ser dirigida, porque esses são sempre conduzidos... O problema são aqueles que não sendo burros, fecham os olhos a qualquer verdade. Há dias, quando saía de uma discussão sobre o Casamento Homossexual, fui abordado por duas alunas universitárias. Estas diziam que achavam que os meus argumentos eram escorreitos e não encontravam forma de os rebater. Perguntei-lhes depois se tinham mudado de opinião. Responderam-me que não e que embora tendo compreendido o que lhes estava a dizer, achando razão nos meus argumentos, não podiam mudar de posição, porque se tinham decidido a defender a legalização dessas uniões. Pior que a falta de inteligência é a transformação da inteligência em instrumento da vontade. Isso não é senão ideologia.
4 - Olhando para o caminho andado, valeu a pena fazer o Pasquim?
- O Pasquim foi sempre mais caminho do que destino. Mas um caminho árduo, com muitas noites perdidas para escrever textos que ninguém comentou, que foram mal-recebidos, insultados e alvo de interpretações malévolas. Isso só é compensado pelos leitores fiéis, por comentadores inteligentes, por gente que discorda, mas que quer compreender. O Pasquim é um diário de bordo de um percurso espiritual, moral, intelectual e político. A forma como tem afrontado as más intenções de uns e os erros de outros é apenas um feliz efeito secundário.
5 - É verdade que entre nós os que têm princípios não têm meios e os que têm meios não têm princípios?
- Vai me parecendo que os que têm meios já não estão entre nós. Não falo do “nós” no sentido gregário de “igrejinha”, da “direita almoçadeira”, da sacristia socialista e dos solidários profissionalizados. Quando alguém da Direita ganha notoriedade, a primeira coisa que faz é moderar-se para proteger esse bem essencial. Como a notoriedade é dada por terceiros, os escritores, articulistas, pensadores de Direita, acabam por encarreirar naquele segmento de gente que não acredita em nada a não ser em preservar a sua notoriedade, ser aceite nos círculos, think-tanks e empresas dos que têm capacidade para lhes dar difusão. Acabamos sempre com uma Direita desnatada, “standardizada” e ultra-pasteurizada, que não sabe a nada... Quais foram os grandes avanços, propostas e ideais da Direita portuguesa dos anos 80 e 90? O que é que conseguiram?
Quando vejo alguns líderes da Direita de outros tempos, em cargos e colunas de opinião que defendem o contrário do que sempre defenderam, não vejo vencedores. Nem sequer gente que sinceramente mudou de opinião. Apenas gente que achou que era mais importante que os fins por que lutava.
O anonimato tem, também, esta virtude de ser uma dieta para o ego.

6 - A blogosfera pode ser o meio que faltava? Para que fins?
- A blogosfera só pode servir para mostrar esses princípios e a sua importância, mas padece de um defeito estrutural. O blogue tem de ser procurado e, portanto, só atinge aqueles que se dispõem a saber o que estes dizem. Os meios de sucesso, detidos pelas empresas que se encontram enleadas nos grandes jogos de poder e recursos mundiais, são brutalmente mais invasivos e têm como destinatário os que os querem e os que os não querem ouvir. São o meio imprescindível para o controlo de um sistema político em que toda a diferença é permitida e, contudo, a uniformidade impera. Quando foi a última vez que ouvimos uma grande apologia da democracia na comunicação social? Esta, apesar de não fundamentada, é apresentada como um bem-essencial e quem a questione sabe que vai ter vida difícil, sobretudo por gente que não sabe do que é que esta se trata.
Se a blogosfera conseguir ser um veículo de contacto entre gente que não quer ser inserida a expensas das suas crenças mais fundamentais, já é uma ferramenta mais útil que quase tudo o que se tem feito.

terça-feira, novembro 25, 2008

O drama do universitário

Recordando Afonso Botelho, um grande senhor, e um texto com mais de 50 anos: o drama do universitário.

Os equívocos da obamania


O advento de Obama comentado por Alain de Benoist, Yvan Blot, et alia, no POLEMIA.

"Do Portugal Profundo" - a paixão da verdade e da justiça

O blogue "Do Portugal Profundo" assinala os seus cinco anos com uma festa, em Alcobaça, para a qual convida os seus amigos. Quem diz "Do Portugal Profundo" diz António Balbino Caldeira, o professor alcobacense que lhe deu corpo, e alma. Foi também por isso, pelo aniversário, mas sobretudo pelo seu longo combate, pela sua capacidade para resistir e persistir, tão arduamente demonstrada nestes cinco anos, que quis fazer-lhe esta entrevista, que é também uma homenagem. Embora possa não o parecer, a quem repare só na impertinência das perguntas, é realmente uma homenagem. A um homem que a cada dia se me revela um homem de virtudes teologais- um homem de fé, um homem de esperança, e a quem não falta a caridade (como se constata nas suas respostas).
Eis então o diálogo. No sábado que vem, será a festa de aniversário.


1 - Promove no próximo dia 29 uma festa de comemoração dos cinco anos do blogue. Que razões tem para comemorar?
- Teria nenhumas e tenho todas. Nenhumas porque não sou masoquista e desagrada-me o sofrimento e dos meus. Todas porque tenho durado e vencido as ciladas do sistema.
2 - Como se sente após o seu calvário judicial? Valeu a pena?
- O calvário judicial não foi decisão minha. Foi imposto, teve custos. A satisfação nem sequer é da vitória: quatro processos-crime colocados contra mim (um do MP por desobediência a um despacho judicial que proíbia a divulgação de peças processuais do caso Casa Pia a jornalistas e a que só tive autorização de aceder no dia da minha absolvição; dois colocados pelo dr. Paulo Pedroso, que terminaram um arquivado e outro com desistência do próprio; e um de José Sócrates por causa do Dossiê que terminou também arquivado), além de outro cível que coloquei contra Paulo Pedroso e o irmão João Pedroso e no qual acabaram condenados. A satisfação é da honra de não ter traído o sofrimento dos jovens abusados nem do povo; e do firmar de uma posição irredutível em defesa das crianças, da dignidade e da humanidade, da verdade e da justiça, num tempo de pusilanimidade.
3 - O processo Casa Pia há-de um dia chegar ao fim. Parece-lhe mais provável que o fim seja por prescrição, por absolvição geral ou por condenação? E nesta última hipótese, alguém além de Carlos Silvino?
- O processo da Casa Pia não chega ao fim agora. Um dia se conhecerá a verdade e se libertará o Estado desta indignidade.
4 - Pela sua experiência parece-lhe que a imprensa tradicional vive bem com a blogosfera, ou mantém com esta uma relação difícil? Porque será?
- Como em todas as profissões há duns e doutros. Creio que é a relação habitual, transmutada, do jornalista com as fontes e com os comentadores, sob a dependência dos editores de confiança do poder num país cada vez mais pobre. Todavia, creio que o jornalismo português, apesar do controlo editorial promíscuo, precisa de evoluir muito em termos éticos, no rigor, na referência e na citação.
5 - Se fosse engenheiro queria ser um engenheiro como António José Morais ou um engenheiro como José Sócrates?
- Se fosse engenheiro, gostaria, socraticamente, de ser um engenheiro moral.
6 - Imagina mais facilmente José Sócrates como Ministro do Ambiente de Manuela Ferreira Leite ou esta como Ministra das Finanças de José Sócrates?
- Não desejo tal castigo à dra. Ferreira Leite e acho que não incorrerá nessa pena. Nem forçada.
7 - Que avaliação fazem os professores dos seus sindicatos? São melhores do que a Ministra?
- Os sindicatos seguem as ordens dos partidos em vez de defenderem a corporação dos professores. A ministra já era...
8 - Pensando no imediato: caso estivesse na sua mão que medidas tomaria para acalmar a situação nas nossas escolas e criar as condições para encontrar um rumo?
- Além de demitir os responsáveis pelo descalabro das escolas? Libertar o ensino da burocracia; racionalizar programas; reempossar os professores na função digna de ensinar, disciplinar as escolas; avaliar mesmo os alunos. Um program de sensatez bastaria para a recuperação.
9 - Foi recentemente noticiado que a língua portuguesa representa 17 % do PIB. Trata-se portanto do activo nacional com maior peso relativo. Os internautas portugueses podem com a sua acção na rede global tornar-se eles mesmos instrumentos de valorização dessa realidade? E o Governo?
- A internet portuguesa representa a parte mais dinâmica da sociedade. Não creio que essa parte - além do Hi5 e dos canais de conversação - interessem mesmo ao Governo. Por exemplo, os blogues são vistos como perigosos para a manutenção do sistema. Sinto que há uma distância muito grande em termos de preocupações públicas entre Portugal, o Brasil e os países africanos de língua portuguesa. A internet é uma ferramenta muito mal explorada para a comunhão inter-cultural necessária para a valorização do património comum.
10 - Tem insistido no apelo à mobilização e intervenção cívica dos cidadãos. Com que objectivos? Sente que há lugar para a esperança?
- Mais democracia. Reformar a democracia representativa, instituindo a democracia directa. Sinto que quando mais difícil é a situação do País mais se torna útil a esperança activa.
11 - Qual o papel da blogosfera nesse combate cívico? Terá força para ultrapassar a inércia e os bloqueios situacionistas?
- Os blogues portugueses são faróis da esperança de liberdade e de democracia real - porque criam e difundem informação e geram contactos. Mas constituem também um estádio inicial de evolução democrática que terá de ser seguido pela intervenção construtiva e tangível na política nacional.

Novo CD de José Campos e Sousa


"Mensagem de Fernando Pessoa à beira-mágoa": pedidos directamente ao José Campos e Sousa, pelo email largodocarmo@gmail , ao preço unitário de 17 Euros.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Do Portugal Profundo

Amanhã continuarei com a publicação das minhas entrevistas. Será a vez de António Balbino Caldeira (Do Portugal Profundo).
Até amanhã.

Gravitas


Um cobrador da Carris em dia de folga? Não!!! É o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa!

(com a devida vénia à Casa de Sarto)

"A RTP é a lavandaria do regime"

Crónica de Manuel António Pina no Jornal de Notícias, com o título "Minha querida lavandaria". Generaliza-se a chacota em relação ao caso BPN. A acompanhar a sensação de que tudo isto é ridículo, e vão: na banca tradicional, por onde anda o dinheiro velho, ou com mais mundo, as práticas não são muito diferentes - mas tudo feito com muito mais perfeição. Fica uma espécie de número de revista, a queda do capachinho à banca pimba, que ficou com a careca à mostra. Não a outra, que até se está a rir com indisfarçável gozo.

A RTP é a lavandaria do regime. Não há vítima de cabala que não lave a consciência naquela espécie de Santa Casa da Misericórdia dos aflitos.
Desde a entrevista a Carlos Cruz lavado (o termo é apropriado) em lágrimas, os queridos telespectadores já não choravam como choraram com Dias Loureiro (talvez com excepção da entrevista a outra perseguida, a dolorosa mártir Fátima Felgueiras).
Dias Loureiro, um homem, como aquele Malaquias, de Manuel de Lima, barbaramente agredido, foi aos estúdios de baraço ao pescoço e sem bigode, confessando que, sim, era administrador da SLN, mas, enquanto aconteciam no BPN as trapaças que têm vindo a público (e as que hão-de vir), calhou sempre de estar a olhar para outro lado. Assinava as contas sem as ler, pois só lê biografias e romances policiais (as contas do BPN eram um romance policial, mas como podia Dias Loureiro sabê-lo?). Por isso está, obviamente, de consciência limpa.
Eu acredito em Dias Loureiro (que diabo, é um conselheiro de Estado!) e não em cínicos como Stanislaw Lec, para quem a melhor forma de manter a consciência limpa é não lhe dar uso.

domingo, novembro 23, 2008

"JOGOS AFRICANOS"

O lançamento deste livro de Jaime Nogueira Pinto, que conta a história da África Austral lusófona, entre 1974 e 2002, da descolonização ao fim da guerra civil angolana, decorre na próxima segunda feira, dia 24 de Novembro. A apresentação do livro, editado pela Esfera dos Livros será feita pelo Embaixador Francisco Seixas da Costa.
O local é o Salão Nobre da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE LISBOA, na Rua das Portas de Santo Antão, 89 (em frente ao Coliseu), pelas 18.30.

Jogos Africanos

Jaime Nogueira Pinto também publicou memórias:
Jogos Africanos, na Esfera dos Livros.
Para apresentar a obra concedeu uma entrevista ao Correio da Manhã.
E apareceu uma "pré-publicação" no Jornal de Noticias.

Memórias de Adriano

"A Espuma do Tempo. Memórias do Tempo de Vésperas"
Adriano Moreira iniciou a publicação das suas memórias, na Almedina.

Castelo perigosos

Céline publicado pela Ulisseia

Odisseia - à maneira de Ulisses

Obra de um bloguista já veterano, o Odisseia apresenta-se como a expressão da procura e da inquietação de um explorador irrequieto e inconformado.
Inteligente e crítico, também - daqueles que não temem olhar-se, e aos seus, com a mesma inteligência crítica que usam para os estranhos. Um espaço frequentemente polémico, mas onde porém a polémica surge não do culto estéril da discussão fútil e vã mas da honesta busca do esclarecimento e dos consensos possíveis.
Um barco para Ítaca, de vela feita à tempestade. Sou dos que acompanham na blogosfera o Atrida desde a sua estreia. Diariamente, a minha viagem passa por lá.
Gostava eu que muitos mais nos acompanhassem nesta Odisseia.
Deixo-vos então com o pequeno diálogo em que veio a resultar a entrevista que lhe propus.


a) O que é o "Odisseia"? Porquê "Odisseia"?
- O Odisseia é um espaço que criei após se ter esgotado o projecto Horizonte (http://linha-horizonte.blogspot.com/), que tivera a mesma função face ao Santos da Casa que, na sua versão II (http://santoscasa.blogspot.com/) estava longe do fulgor da versão I (http://santosdacasa.weblog.com.pt/), que continua a ser o único projecto blogosférico que me realizou. É verdade que na altura estava numa fase da minha vida em que tinha mais tempo livre, podendo investir várias horas por semana em pesquisas que muito enriqueceram o blogue. Por outro lado, 2004 e 2005 foram anos de grande euforia na blogosfera, um entusiasmo que já desapareceu e que possivelmente nunca mais tornará.
Esta variedade de páginas que se foram alternando revela a minha instabilidade a nível de projectos mas também a incapacidade de deixar o meio, seja pelo vício da escrita, seja pela necessidade de não frustrar amigos e leitores fiéis, tudo factores a contar bem mais que a convicção de que possa fazer algo de efectivamente útil para que Portugal e a sua dignidade não sejam coisas do passado.
O nome "Odisseia" foi escolhido como imagem para a situação de um país que deveria estar em demanda da sua Ítaca - a sua grandeza e exemplo de País digno dos seus maiores -, mesmo que tal viagem, como a de Ulisses, pareça interminável, com inúmeros obstáculos que, em alguns casos, quase convenceram o herói de que nunca tornaria ao lar. Na verdade, sobreviver a um Cíclope ou aos cantos das sereias parece bem mais fácil que levantar uma Nação envilecida e hoje indigna da sua história.

b) É um blogue que navega à bolina ou tem um projecto próprio? Qual?
- Se calhar nem uma coisa nem outra. O projecto, em linhas gerais, seria não deixar morrer a ideia acima mencionada mas, pelo desânimo por tudo o que nos rodeia, acabo por deixar o barco muitas vezes à bolina, se calhar à espreita da brisa favorável. Outras vezes refugio-me na cultura, nas artes e letras, para manter temas que se calhar são bem mais interessantes para reflexão que listar as trafulhices dos democratas que fazem de coveiros de Portugal.
c) Viaja melhor quem viaja sozinho? Ou são melhores os blogues colectivos?
- Ambos têm virtualidades. Um blogue individual expõe um universo próprio, que pode ou não ser coerente e interessante de se partilhar; os blogues colectivos são projectos em comum em prol de algo que se pensa alcançar melhor trabalhando em conjunto. Na blogosfera há óptimos e péssimos exemplares de ambos.
d) É verdade que a cultura precede a política? E que as transformações políticas são anunciadas na literatura?
- Em muitos casos assim é. A Revolução Francesa, a bolchevique ou a nossa dos cravos pareciam anunciar-se nas páginas da Enciclopédia, de Dostoievski ou de José Gomes Ferreira, para dar apenas alguns exemplos. Mas a literatura mostra uma inquietação, um mal estar ou simplesmente uma conspiração em curso, não é ela em si, necessariamente, um factor detonador. Como os historiadores inconformistas demonstraram, as revoluções surgem de conspirações na sombra que podem levar décadas a medrar, englobando amiúde facções que, na aparência, são inconciliáveis, o que tem o efeito frequente de que aquilo que é anunciado no seu eclodir não ser realmente o que se pensa implementar. Dito isto, hoje em dia qualquer um que pretenda lutar contra um sistema cuja característica e motivação básicas é a eliminação das Nações, deve privilegiar a acção e divulgação culturais e não enredar-se num sistema político onde mesmo os maiores sucessos (aparentes) não logram abalar as fundações do regime - frequentemente reforçam-no mesmo. Basta pensar o que é a França hoje após três décadas de afirmação do Front national.
e) Parece-lhe que a internet pode constituir um quinto poder? Ou pode ser o primeiro?
- Parece um lugar comum dizê-lo mas num país como o nosso em que pouco se lê, em que se não cultiva a reflexão e em que não há preocupação com a coerência e persistência na afirmação de princípios, a internet parece mais uma trincheira onde se debatem as facções que desdobraram a luta que já conduziam nas assembleias políticas, nos jornais, nas lojas. Os poucos que aparentemente se preocupam com a cultura não hesitam em usar as mais baixas armas (desonestidade intelectual, demagogia, insultos gratuitos) nas suas lutas mesquinhas. A internet passou a ser apenas mais um meio nessa luta.
Só na área dita nacional é que ela parece ter sido realmente uma revelação, pois permitiu divulgar autores e ideias que estavam confinados aos alfarrabistas, aos textos policopiados, aos jornais confidenciais. Por isso, é um meio inestimável para todos os que se não resignam a esta podridão anti-nacional que governa a vida dos povos ocidentais.

f) Os homens de direita não são feitos para a política? Ou não o são para tempos mornos? Só as circunstâncias excepcionais mobilizam a direita política?
- Se pensarmos em "homens de direita" como aqueles que crêem que qualquer sociedade sã deve ser hierárquica, pelo mérito e não pelo privilégio (familiar ou económico) e que não pode dispensar o melhor da Tradição no seu ordenamento, se calhar chegamos à conclusão de que essa é uma espécie em vias de extinção. Hoje os chamados nacionalistas albergam mais gente que - alguns mesmo sem o saberem - são de esquerda, têm o "mind set" da esquerda; infelizmente confunde-se capitalismo globalizado com economia de mercado - algo que denuncia fraca formação teórica e ainda menor reflexão - e parte-se para o "socialismo", seja o socialismo nacional ou apátrida, como solução mágica. Desdenham-se os empreendedores honestos - que são das coisas que este ou qualquer outro país mais precisa - e apresenta-se a cartilha socialista como panaceia; tudo isto denuncia uma grande preguiça - preguiça mental e preguiça de quem nunca quererá arriscar, fazer algo de útil para a sociedade pelo esforço e repousa os seus anseios societários nos milagres dos gabinetes e na burocracia estatal. Enfim, mais uma face do problema e não a sua solução. Neste sentido, não é o grupo parlamentar do CDS que cabe num táxi mas sim os homens de direita.
g) Não lhe parece um fenómeno estranho este de durante mais de 40 anos Portugal ter sido governado, com apreciável estabilidade e consenso, por um regime de direita, e desaparecido este ter-se verificado de súbito que não só o regime não tinha ninguém como nem existia direita em Portugal?
- Nem por isso. Portugal sempre foi um país com um fundo anárquico, pouco disciplinado e que, entre duas crises em que o caos sobrevém, procura um guia que reponha alguma estabilidade e tranquilidade. Salazar desempenhou esse papel se calhar durante mais tempo do que os portugueses pretendiam; não conseguiu assentar as raízes de uma ideologia nacionalista, patriótica, hierárquica, tradicional; tão só desmantelado o regime já os portugueses se compraziam em desdenhar o que é nacional - um mal histórico - e em se adaptar aos ventos da globalização - que hoje, também com a maior desenvoltura, tanto criticam.
Os integralistas tinham razão quando diziam que um regime republicano, mesmo que num determinado período histórico tenha à frente um líder excepcional, será sempre incapaz de assegurar perenemente uma boa e sã governação porque lhe falta o garante desta: o monarca, como depositário da Tradição, dos valores que permitem a uma Nação sobreviver e da sua independência. Infelizmente, hoje os valores maçónicos, como uma praga, corroeram até o próprio corpo de valores monárquico, de tal forma que os reis sem trono só nos fazem dó, pela forma patética com que se tentam adaptar aos ventos da história. É uma comédia trágica.

h) Qual a explicação para a ausência da direita na vida política portuguesa, mesmo passados mais de 30 anos sobre essa formidável desaparição massiva?
- Creio que atrás já deixei algumas pistas para responder a esta questão. Refiram-se o baixo nível cultural da chamada direita, que não consegue passar para as gerações mais novas valores coerentes; a ditadura cultural de esquerda, infelizmente bem eficaz, conseguindo deslocar o centro ideológico para posições que há trés décadas seriam seguramente de esquerda, senão mesmo de extrema-esquerda; e, também grave, a ilusão que foi a identificação com a direita de sectores que apenas estavam apostados em lutar contra o comunismo e a Constituição de 1976 para salvaguardar os seus interesses materiais; aliados provisoriamente à direita ideológica, possivelmente nutriam quase tanto desprezo por ela como pela esquerda. Por isso, talvez não se deva falar em "desaparição massiva" mas sim em "ilusão massiva" que foi pensar-se que por sermos um país católico a maioria silenciosa seria convictamente de direita. Na verdade, o português é bastante crédulo e vai sempre atrás de quem lhe vende melhor um produto ideológico.
i) A blogosfera de que somos parte, já com mais de 5 anos, trouxe algo de novo? Quais os méritos que lhe atribui, e quais as insatisfações que mantém em relação a ela?
- A blogosfera, no meio de muitos espaços numerosos de facciosismo e fanatismo, tem sido uma surpresa agradável nas situações, felizmente não tão pouco numerosas, em que consegue expressar livremente opiniões e correntes que só muito pontualmente poderiam chegar a um jornal, uma rádio ou um programa de televisão, com a independência de quem não procura outra coisa que, com verticalidade, denunciar iniquidades do regime ou promover ideias e pensamentos completamente censurados pela mídia. É gratificante constatar-se como ainda há umas boas dezenas de pessoas com convicções firmes e com independência de pensamento, que não aceitam-se confinar-se ao molde politicamente correcto que tenta trucidar a liberdade de pensamento. Não falo em liberdade de expressão mas sim de pensamento pois o pc procura actuar na mente das pessoas antes da formulação de uma reflexão, condicionando a própria forma de desenvolvimento de uma ideia. É sem dúvida uma maneira tão eficaz quanto sinistra de tornar as pessoas uns cãezinhos de Pavlov, como o comunismo também tentou. É por isso que, estando fechadas todas as outras formas de comunicação, a blogosfera tem tanta importância, constituindo-se como um dos últimos redutos para os homens livres deste tempo.
Por isso, em vez de desfiar um rol de defeitos da lusa blogosfera, prefiro elogiar o papel que pessoas em maior número do que eventualmente julgaríamos têm tido na luta pela sobrevivência da dignidade humana - não a da cartilha pc mas a verdadeira.

Portas

O Dr. Paulo Portas multiplica-se em recados na comunicação social para recordar que estará disponível para entender-se com o PS e/ou com o PSD. Ninguém duvida, nem era preciso tanto recordatório. Todo sabem que há portas que dão para os dois lados.

sábado, novembro 22, 2008

Integralmente magnífico

Esquecendo agora o numerozinho foleiro do Dr. Dias Loureiro a fazer de marido enganado, a edição de hoje do DN traz um artigo soberbo do Eurico de Barros.
Recomendável para quem se interesse por arte, coleccionismo, banda desenhada, e nostalgia...

O último a saber

Muito se divertem os nossos jornalistas. Leia-se este excerto da crónica de João Marcelino no Diário de Notícias.

"Dias Loureiro, na entrevista a Judite de Sousa (já que o PS não o quer no Parlamento), disse coisas pouco habituais num homem experiente, ex-ministro, gestor de sucesso. Sobretudo, repetiu "não sei", "não sabia", "acreditei", "era o que me diziam", "não achava nada". Esclareceu ainda que no BPN "não havia reuniões" (supõe-se que da Administração do banco) e que Oliveira e Costa "falava (despachava?) individualmente" com cada colaborador. O mais que a sua atenção conseguiu foi "ouvir vozes", um "bruáaa", detectar "ali um certo mal-estar", o que até o levou em Abril de 2001 a referir isso mesmo a um elemento do Banco de Portugal. Só depois (em 2002) conseguiu arranjar forças para declarar a Oliveira e Costa que "não gostava do modelo de gestão". E depois disto tudo, quando bateu finalmente com a porta, o presidente, "homem brilhante", ainda lhe retribuiu com um indelicado "você não sabe de contabilidade" quando ele não viu reflectido nas contas, que no entanto assinou, os 71 milhões que se tinham evaporado com um negócio em Porto Rico. Foi pura sorte, então, que a actual crise no BPN não lhe tenha apanhado um cêntimo do milhão de contos que lá chegou a ter.
Só houve uma deselegância: chamar para ali a amizade de 30 anos com Cavaco Silva. Mais um pouco e também invocava a apresentação que fez do livro de José Sócrates - o que, isso sim, já seria demais."

sexta-feira, novembro 21, 2008

Palavras dos outros

Nó górdio

Oliveira e Costa fez o BPN. Mas Oliveira e Costa não era nada. Foi Cavaco Silva que fez Oliveira e Costa. Lembro a evidência para realçar a magnitude das questões que vão surgindo à medida que se vai desenrolando o novelo BPN.
Anote-se a galeria dos nomes que vão aparecendo embrulhados na polémica. Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Eduardo Catroga, Arlindo de Carvalho, Duarte Lima, Joaquim Coimbra, Couto dos Santos, Daniel Sanches, Miguel Cadilhe, Miguel Beleza, Américo Amorim, Saúl Maia Campos, Rodrigo Carvalho Santos, Abdool Vakil... Pelo meio, personagens menos conhecidos: Luís Caprichoso, Francisco Valgode, Joaquim José dos Santos Oliveira...
Luís Filipe Menezes vai calar-se, ou dizer que todos são gente acima de qualquer suspeita (é a natureza dele). Os que vão falar irão jurar que pelo lado deles tudo foi lisura e transparência, e que quanto aos outros não sabem nada. Dos jornalistas também não vai haver quem possa levantar muito o cabelo (basta ver de quem são os jornais).
Quem julgar que o sistema judicial pode vir a fazer alguma coisa contra o icebergue que se descortina, ou é parvo ou faz-se. Ninguém caça elefantes com fisgas.
Obviamente, os 700 ou 800 milhões de que se fala evaporaram-se, definitivamente.
Se fosse possível, o que eu sugeria aos portugueses comuns era que tentassem salvar os mil milhões que voarão por conta do BCP, e os 750 milhões que iremos pagar pelo BPP... e o mais que ainda soará. Não sei é como hão-de fazê-lo. Os portugueses comuns estão efectivamente despojados de qualquer capacidade de intervenção, de qualquer poder real.

Quando as línguas se desatam

Sob o título "A nódoa no cavaquismo", o director-adjunto do "Correio da Manhã", Eduardo Dâmaso, publica hoje o artigo que reproduzo a seguir. Notoriamente escrito à pressa, com erros de concordância e frases inteiras que o autor agora retiraria se pudesse, o pequeno texto é um documento notável. Eduardo Dâmaso é um jornalista que sabe muito. Receio, porém, que nunca chegue a dizer mais do que deixou agora escrito a quente. Pela minha parte gostava muito de saber, por exemplo, quem é que cobrava mil contos à cabeça "só para obter uma reunião de perdão da dívida". Apelo ao Dâmaso para que escreva um livro! Um jornalista que se prezasse também não teria medo de...

Oliveira e Costa foi detido pelos magistrados do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). Seja qual for o resultado desta investigação, uma coisa é certa: foi detido o homem que metaforicamente corporizou uma das maiores nódoas no cavaquismo. Na Justiça, Oliveira e Costa responderá pelos actos ilícitos associados à gestão do BPN.
Perante os cidadãos e contribuintes com memória, Oliveira e Costa responderá pela forma como deixou estigmatizar a transição de regimes fiscais que a entrada de Portugal na CEE criou. Mandatado para negociar 800 mil casos de dívidas ao Fisco, nos anos 80, Oliveira e Costa deixou que este imenso poder se transformasse num mar de suspeição. Esta negociação era inevitável e foi um meio de salvar muitas pequenas e médias empresas. Mas foi também um dos maiores atoleiros políticos de que há memória, dando um impulso gigantesco ao que se chama hoje Bloco Central de Interesses. Esse banco informal de uma incalculável soma de milhões foi negociado de forma secreta, vampirizando recursos do Estado a favor de interesses muitíssimo particulares.
Em nome do financiamento ao PSD constituiu-se fortunas e bancos. Havia quem cobrasse mil contos à cabeça só para obter uma reunião de perdão da dívida. Isto pode ser arqueologia, mas um Parlamento que se prezasse procuraria apurar toda a verdade!

Pensamento da manhã

Há divórcios que provam a solidez do casamento: o de Oliveira e Costa é um deles.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Fiel amigo


Estava com esta cara apreensiva depois de ouvir o Paulo Rangel. Entretanto falei-lhe no Jansenista e ele ficou muito mais esperançado na nossa ciência jurídica.

Exortação

"Prega a palavra, insiste, quer agrade quer desagrade, repreende, adverte, exorta com toda a paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir. E afastarão os seus ouvidos da verdade para os abrirem às fábulas."
São Paulo (II Tim 4, 2-4)

quarta-feira, novembro 19, 2008

Greves

Hoje deu-me para pensar na greve, essa famosa arma dos trabalhadores.
Por causa de um facto cada vez mais constatável nas sociedades contemporâneas: é que na prática só têm hipóteses de fazer realmente greves, e sobretudo greves eficazes, aqueles sectores que, de acordo com a imagem romântica da figura, não precisariam disso.
Por outras palavras: grupos sociais que já são dos mais privilegiados, comparativamente aos que constituem a grande massa economicamente desfavorecida e desprotegida que constitui a base da pirâmide social.
Os que são na verdade mais desfavorecidos são os que não têm trabalho ou só têm trabalho precário (para não falar na multidão dos pensionistas), e nem podem pensar em fazer greve. São esses todos que ocupam hoje o escalão mais mal tratado das nossas sociedades, a camada mais desprotegida, e a mais numerosa, e também aquela com menor capacidade de reacção e autodefesa.
Hoje em dia quem pode fazer greve nas sociedades contemporâneas são grupos sociais que se caracterizam por um lado pelo seu pequeno número e por outro lado por se situarem num qualquer ponto estratégico, numa actividade essencial, que lhes dá uma insuperável capacidade de chantagem. Aqueles que sendo poucos podem afectar milhões, e causar prejuízos de dezenas de milhões. E nenhum Estado tem força para agir contra esses grupos: não é viável despedir todos, seja por falta de base legal, seja por falta de autoridade política, seja simplesmente por falta de força.
Nesta situação a greve torna-se um instrumento que contribui para agravar as diferenças sociais e as injustiças na distribuição dos rendimentos, e não para as eliminar.

Socratismo forever?

Diferentemente do que parecem indicar certos alaridos, a sensação que eu tenho é que se está a instalar brandamente na sociedade portuguesa a conformação perante a continuidade do que está. Enquanto se aproximam as legislativas, está generalizadamente digerida e interiorizada a inevitabilidade da governação socialista, mesmo entre muitos que vão esbracejando ritualmente. Os sectores que podiam fazer a diferença já não estão dispostos a essa guerra. Preferem guardar anéis e dedos, como sempre foi norma em Portugal.
Com o esboroar da oposição partidária à direita, e a óbvia irrelevância da oposição à esquerda (por razões históricas, insusceptíveis de ser alteradas por transitórias agitações), o Partido Socialista corre o risco de ficar numa situação semelhante ao seu defunto antepassado, o Partido Republicano Português. Havia um partido dominante, e havia uma diversidade de outros partidos, caracterizáveis sobretudo como cisões ou dissidências no regime, que nunca lograram apresentar-se como alternativa real de poder.
Ironias da história: já houve um tempo em que se falou abertamente num "sonho mexicano" do PS. Já houve outra altura em que se falava na ressurreição hodierna do rotativismo do tempo da monarqua, protagonizado pelo duopólio PS/PSD. Agora, com a aceitação passiva do socratismo por mais quatro anos e as perspectivas de autodestruição do PSD, o que se vislumbra é novamente o espectro do regime de partido dominante.

Demo-cracia

Como não se pode suspender a democracia, ao contrário do que sugere a Dra. Manuela, lá teremos que a aturar. Diga-se aliás que a ideia dela só demonstra quão longe da realidade anda aquela cabeça. Infelizmente, como isto está, não era em seis meses que se podia endireitar grande coisa (por mais suspensa que estivesse a dita cuja). E depois, que jeito é que tem andar seis meses a arrumar minimamente a casa para logo voltar tudo ao mesmo? A suspendê-la, que fosse por uma corda e com um nó corredio à volta do pescoço.

terça-feira, novembro 18, 2008

Paradoxos

A política para a educação do actual Governo combina a obsessão com a avaliação dos professores com uma violenta alergia a qualquer ideia de avaliação dos alunos.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Encontros

Esta iniciativa das entrevistas já me trouxe algumas compensações.
Primeiro, o gosto do encontro com novos visitantes. Tinha sido o Intromissões, hoje destaco o Planetas Politik.
Acresce que são novos visitantes e visitantes novos - o que é sempre agradável para quem já vai ficando entradote (típico looser de meia idade, no dizer dos críticos).
Soma-se o prazer da inteligência, da natural, obviamente, que nisto de inteligência, diga-se o que se disser, e por mais que se fale em inteligência artificial, ou se tem da verdadeira, ou não... (e nesse caso é preferível respeitar as determinações da natureza, como se explica magistralmente em antigamente calavam-se...)

domingo, novembro 16, 2008

Jorge Ferreira, ou o imperativo de tomar partido

A entrevista de hoje é com Jorge Ferreira, o autor do "Tomar Partido". Na verdade é mais um diálogo, datado de 15 de Novembro de 2008, em que opinamos os dois... e o mais fica por dizer, como quase sempre acontece. Aqui ficam então as palavras de Jorge Ferreira, homem da comunicação, advogado, professor, político, blogador, que muito vêm enriquecer esta minha casa.
Para ajudar a vencer o medo atávico de... Tomar Partido.

1 - Num dos seus poemas, António Manuel Couto Viana fala do "pudor brando de tomar partido" que assolaria a nossa terra... Tem sentido isso? Não tem nada que ver com o seu blogue?
- Não é bem isso que sinto, embora perceba a que se refere António Manuel Couto Viana. O "pudor brando" é assim uma espécie de torpor de indiferença, que alguns tentam salvar qualificando-o de sageza, mas que atentos os resultados práticos, me parece uma sub-espécie da indolência mental, ancestralmente estimulada por pseudo-elites contemporizadoras e chico-espertas. As nossas elites preferem comer fast ideas, do que dar-se a muitas trabalheiras de pensamento. Quanto à acção, nem falar… O que sinto mais e é sobretudo contra isto que dirijo o Tomar Partido é a cultura medíocre de desancar políticos, futebolistas, manequins nos cafés e andar às palmadinhas nas costas dos mesmos, mal se tem uma oportunidade ou uma câmara de televisão à mão. Isto é a cobardia pura. Bem sei que somos todos primos uns dos outros e que nos encontramos nas mesmas ruas, nas mesmas praças. Esse é o principal factor que leva os portugueses a tomar um partido cúmplice, porque inconsequente. Sucede que numa época de cavalgada dos relativismos, dos permissivismos e da ausência de valores, acho que a atitude de tomar partido é ainda mais necessária. Mesmo que nos custe solidões, pobreza ou desencanto. É como se o círculo mental coimbrão tivesse tomado conta do país. Um professor de Coimbra expõe a tese a favor, a tese contra e depois constrói uma tese própria, que é a “eclética”, que traz um bocadinho de cada uma e assim vamos ficando de bem com Deus e com o Diabo.
2 - Há muito que se convencionou chamar à imprensa o quarto poder. Poderá a internet vir a ser o quinto?
- Aqui para nós, que ninguém nos ouve…, eu creio bem que já é. Mas é um poder muito mais vasto ou devastador, se se preferir, do que era o poder que a imprensa recebeu como o quarto. O quarto poder era essencialmente um anti-poder político. A imprensa como refúgio de denúncia, como respiradouro das democracias corrompidas. O poder que a Internet é, é muito mais aliciante e perigoso. É uma virtualidade que tende a tornar-se totalitária se não tivermos cuidado. Orwell, Orwell…
3 - O Jorge Ferreira tem já uma longa experiência política. Observando hoje a cena política portuguesa, parece-lhe que há um caminho à direita? Ou o sistema partidário está fechado, e não é possível romper o círculo?
- O sistema político está claramente fechado. Todas as portas estão devidamente bloqueadas pelos partidos parlamentares. Eles fazem as leis e os orçamentos que impedem novos alvarás partidários. Eles fazem, todos, do Bloco ao CDS, embora cada um à sua maneira, os negócios do regime, que não começaram agora com os escândalos recentes. Eu próprio, enquanto deputado, tive a oportunidade e o poder de denunciar alguns, numa altura em que ainda não era moda e sei bem o que passei. Ora, o caminho à direita eu tenho a certeza que há, mas esse caminho político e ideológico esbarra nos vários cadeados do sistema e no pudor brando do eleitorado, que não está disposto a arriscar numa mudançazinha por mínima que seja. Mas também acredito que isto não é eterno, e que há que continuar o combate, nem que seja apenas nos blogues… as mudanças surpreendem justamente porque não se prevêem.
4 - A blogosfera complementa os meios de comunicação social tradicionais, substitui-os, ou confronta-os? Em que medida se pode dizer que os blogues são a voz dos que não têm voz em tais meios?
- A blogosfera faz isso tudo. Complementa-os, porque proporciona um tipo de comunicação que não se encontra nos meios tradicionais. Substitui-os, porque hoje, talvez infelizmente para os meios convencionais, há informação censurada nesses meios que nos blogues não há como impedir. E confronta-os, na exacta medida em que os complementa e substitui. Creio, aliás, que os meios de comunicação convencionais ainda não perceberam ou não conseguiram reagir completamente a esta nova realidade. Eu diria, felizmente hoje há blogues. Basta ver como teria sido muito mais calma a vida deste desgoverno socialista sem eles. Pela primeira vez assistimos a políticos a porem processos judiciais a blogues: Sócrates ao Do Portugal Profundo, o ministério das Finanças ao Jumento. Como diria o humorista, vai muito meduncho por aí…
5 - Um amigo dizia-me que em Portugal só há lugar para um partido, o país só dá para alimentar um partido; por isso vivemos tendencialmente sempre em partido único, que por vezes assume a aparência de um rotativismo alternadeiro... Se o Estado Novo funcionou com um, e a Primeira República funcionava com outro, o rotativismo monárquico funcionava com dois que na realidade se combinavam perfeitamente para rodar de vez em quando os lugares de topo sem afectar o essencial (não tirar a gamela a ninguém), e esta república tende a organizar-se de forma idência, com o PS/PSD, novamente o um em dois. O que se lhe oferece comentar sobre a tese?
- Eu sempre tentei refutar esse fatalismo, que não é novo. Bem como aquele fatalismo iberista, que deve ser a base de raciocínio do ministro iberista Mário Lino, que nos diz que um país que apenas consegue obter um PIB como o da Catalunha, não tem o direito nem as condições para aspirar a uma soberania no mundo de hoje. Sempre militei nas margens do sistema e tive a alegria de, em certas circunstancias, sentir que é possível dar luta. Dar luta, dar sempre luta, é isso que o sistema não gosta, porque se é certo que é guloso, também é verdade que está anafado e preguiçoso. A alternativa é fechar o país ou desistir. Não vou por aí.
6 - Fazer o "Tomar Partido" tem sido um exercício estimulante, uma perda de tempo, ou um empreendimento de sucesso?
- Tem sido, sobretudo, um imenso gozo da minha liberdade. Escrever o que quero, quando quero e quando me apetece. Isto não tem preço. De são e de jornalista, todos temos um pouco. Ora, algum dia, caro Manuel, pensou ser tão fácil e tão barato ter um jornal só para si?... Na medida em que é resultado da minha liberdade é muito estimulante. Agora sucesso, não lhe sei responder. Devolvo a pergunta: o que é o sucesso de um blogue?

sábado, novembro 15, 2008

"Alma Pátria" - agir localmente, pensar globalmente

Para todos nós, o Vítor Ramalho é um exemplo: de tenacidade, de persistência, de determinação, de generosidade sem limites. O seu empenho nas causas a que se dedica, o seu idealismo sem mácula, tinham que necessariamente impregnar o blogue em que todos os dias comunica connosco: o Alma Pátria.
Por isso, escusado seria dizer, o Alma Pátria é um blogue de causas. Das pequenas e das grandes, de Coimbra e de Cantanhede ou de Portugal inteiro. Nelas está também a alma, inteira, do Vítor Ramalho.
Honro-me pois de publicar também neste blogue as respostas do Vítor ao questionário que lhe enviei. E uma chamada de atenção para o encontro de blogues marcado para o próximo dia 29, em Cantanhede.

1 - O "Alma Pátria" é um blogue com fortes raízes locais, e muito envolvido nas causas comunitárias. Considera que essas são condições necessárias para que um blogue tenha efectiva audiência no meio a que se destina?
- O Alma Pátria pretende ser um blogue local e nacional, no entanto para que um blogue tenha visitantes, para que a mensagem passe, para que de pequenas causas se passe a causas grandes, considero ser importante falar de questões locais.
2 - Por aquilo que chega ao seu conhecimento, o blogue tem visitantes sobretudo nas zonas geográficas a que se dirige (Coimbra, Cantanhede, Figueira da Foz, etc.) ou conseguiu fidelizar um público próprio a nível nacional?
- Pelo que posso analisar pelos medidores de visitas, querer-me parecer que quando coloco uma questão local, consigo cativar visitantes dessa zona. No último ano o blogue sofreu um considerável aumento nas visitas e deparei-me com um facto novo; recebo diariamente alguns emails de pessoas a informarem-me sobre os mais diversos assuntos.
Depois o blogue tem algumas ligações a blogues regionais o que a meu ver ajuda a fidelizar público da sua zona de influência.

3 - Julga que a blogosfera já deu o que tinha a dar, ou pensa que se trata de um meio fundamental para a formação de opinião, com potencialidades de maior influência no futuro?
- Penso que é um campo que ainda vai dar pano para mangas, mas visto sempre numa perspectiva global. Na rua é que se ganham as batalhas, a net pode e deve servir para despertar as consciências, mas não podemos ficar fechados em casa enquanto tudo se desenrola lá fora.
A blogoesfera não deve nem pode substituir os outro meios de informação e formação. No entanto, face à censura por omissão levada a cabo pelos meios de informação do sistema, os blogues transformaram-se numa arma poderosa que o sistema tenta controlar.

4 - Parece-lhe mais importante a intervenção na hora que passa, com a participação activa nos debates e combates que fazem a actualidade, ou trazer para a net todo um acervo cultural e doutrinário que de outro modo corre o risco de permanecer esquecido e desconhecido nas bibliotecas? Deve-se privilegiar a informação, ou a formação? Trabalhar para o imediato, ou apostar no trabalho de fundo?
- Uma coisa não invalida a outra, pelo contrário complementam-se. O meu blogue é sobretudo de combate, mas na nossa área politica existem muito bons blogues de formação. Agora é importante funcionar em rede. Divulgar iniciativas, bons textos, livros etc. Pensar para fora e nunca para dentro.
O trabalho imediato tem que ser feito, sob pena de perdermos o contacto com a realidade, mas sempre com os olhos postos no futuro. Portanto informação, intervenção e formação.
Um blogue como o meu que aposta na informação e intervenção, terá sempre nos tempos que correm muitas visitas, por isso procuro regularmente divulgar textos de formação, mesmo que para isso tenho de fazer algumas traduções. O funcionamento em rede é muito importante neste particular.

5 - O Vítor Ramalho faz questão de nunca separar a sua militância política da sua actividade bloguista. Que explicação tem para a falta de persistência e continuidade de tantos blogues da sua área política?
- Bem, temos uma boa quantidade de blogues, que são exemplos de persistência. Lembro-me até de ter lido aqui há tempos num blogue espanhol, que a blogoesfera portuguesa da área nacionalista era em maior número e de muito boa qualidade.
Nos tempos que correm escrever ou é uma "seca" ou não sabem escrever, a escrita não é incentivada nas nossas escolas. Todos nos lembramos dos saudosos jornais de turma, os blogues daqueles tempos. Todos nos lembramos que podíamos chumbar a Matemática devido aos erros de português. Hoje em dia escreve-se mal ou não se escreve. Para já não falar daqueles textos encriptados, tão ao gosto da nossa juventude e que me recuso terminantemente a ler. Face a este panorama não é fácil fazer com que um jovem escreva nos blogues.
Apostar nos blogues colectivos ou abrir os blogues individuais a novos colaboradores pode ser um bom contributo para trazer gente nova para a blogoesfera, mantendo uma razoável actualização. Um bom exemplo são os blogues Terra Portuguesa, que parecendo concorrer entre si, conseguem manter uma actividade regular e de alguma qualidade.

6 - Está a organizar um encontro de blogues no próximo dia 29 de Novembro, em Cantanhede. Quais são os objectivos desse encontro e quais são as suas expectativas em relação a ele?
- O objectivo principal será sempre o convívio entre blogueres da mesma área politica que muitas vezes só se conhecem pelo nome ou pelo blogue. Depois tentar unir esforços em prol da Causa Nacionalista. Alguns já me avisaram que se trata de uma tarefa impossível, mas essa palavra não existe no meu dicionário e como acredito que é muito mais o que nos une que o que nos divide, pelo menos nesse dia gostaria de ver o meu sonho cumprido. juntar todos à mesma "mesa".
Lembro a todos o exemplo do blogue Pela Vida e das duras "batalhas" que unidos soubemos travar.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Pena & Espada

Assumindo deliberadas ressonâncias camonianas, Pena e Espada é o nome do blogue pessoal de Duarte Branquinho. Nele vão ficando partilhados, dia a dia, os interesses do autor: a História, a Política, a Cultura em geral. Não da cultura que se encerra em torres de marfim, mas da cultura que vive e participa no seu tempo. E que combate os combates do seu tempo. Desde Abril de 2004, é um blogue que me habituei a visitar todos os dias - e que nos dias em que nada publica me deixacom a sensação de frustração e de inquietação de quem não encontra um amigo onde esperava vê-lo.
Logicamente, também importunei o Duarte com um pequeno questionário, a que ele pacientemente respondeu.
Publico a seguir o resultado, exortando os leitores a lançar-se ao caminho: Pena e Espada!.

a) Um blogue é uma arma?
- Pode e deve ser uma arma de "desintoxicação cultural", que é o que necessitamos cada vez mais. Mas, infelizmente, há quem não resista à tentação de o usar como arma de maledicência e difamação.
b) O que tem o "Pena e Espada" que os outros não tenham?
- Como é um blog pessoal, acho que a diferença substancial reside nesse cunho próprio.
c) Isto vai com a pena, ou só à espada?
- A eterna questão... Acho que a escolha do título deste blog demonstra bem a minha preocupação em transmitir a necessidade desse dificílimo equilíbrio, essencial ao nosso combate.
d) Leu o texto sobre o "gramscismo tecnológico", de Jean Yves Le Gallou? O que se lhe oferece comentar?
- Li com bastante agrado, é um texto excelente e de leitura obrigatória. O Polémia é, aliás, uma das minhas visitas habituais.
Não vou repetir agora a importância da internet e todas as possibilidades que esta abre na batalha das ideias. Vou referir uma questão que acho bastante importante, a de que a internet não é o substituto, mas sim o complemento das edições tradicionais, nomeadamente livros ou revistas. Estou inteiramente de acordo e acho que no nosso país, onde na nossa área há uma incrível falta de publicações de todos os quadrantes, a internet pode ser o óptimo motor de arranque para projectos editoriais. Não só porque permite a prática da escrita, da crítica e da edição, bem como o conhecimento rápido e a fácil troca de informações entre autores e outros envolvidos, mas porque é um óptimo meio de divulgação dessas publicações.

e) Cinco anos depois do aparecimento de uma corrente nacional na blogosfera, em Julho de 2003, qual é hoje o balanço?
- Como "bom português" deveria responder qualquer coisa do género: "não serviu para nada", ou "no início é que era bom, mas agora..." No entanto, tenho a opinião exactamente contrária. Gosto sempre de pensar que tudo demora o seu tempo e quem espera resultados imediatos rapidamente desiste. Não nego que esperava e gostaria que muitas coisas se tivessem passado... mas não é assim a vida?
Congratulo-me por ter conhecido muitas pessoas válidas e interessadas, das quais me tornei amigo, que na blogosfera encontraram uma montra para o seu talento e uma motivação para a sua luta diária. Os efeitos profundos da blogosfera, como espaço de combate cultural que é, sentir-se-ão a longo prazo.

f) "Politique d'abord" é uma máxima actual? Ou acredita que hoje tem que ser "culture d'abord"?
- Estou convicto, e sou amiúde criticado por isso, que é a cultura primeiro. Mas tal não significa só a cultura. É claro que o combate político é sempre necessário e importante, mas na ordem actual de prioridades arrisco-me a dizer "métapolitique d'abord".
g) Pode a internet ser o meio para escapar à tirania mediática?
- Afirmo que é, neste momento, o único meio para escapar à tirania mediática. De tal forma que a grande dor de cabeça das brigadas do pensamento único é como controlá-la eficazmente. Infelizmente temos assistido a várias tentativas de censura da internet e a situação só tende a agravar-se. Depois do combate na internet livre, será o combate pela liberdade na internet.

Amanhã em Moura: pensar a direita

Neste sábado, dia 15/11/2008, no Restaurante Celeiro, em Moura, realizam-se duas conferências/debate que têm por fim reflectir sobre intervenção política e social, na perspectiva da direita.
Promove e convoca o CDS-PP de Moura.
Os trabalhos iniciam-se às 10 horas, com a conferência intitulada "Um olhar sobre Portugal".
Para a tarde está marcada a conferência "Um olhar sobre a direita", pelas 14.30 horas.
A iniciativa inclui também o almoço, pelas 12.30 h., e o lanche, para encerrar a jornada.
(Para mais informação, ler em Terras do Carmo).

quinta-feira, novembro 13, 2008

Nonas, sempre de serviço à blogosfera

Nonas é nome de blogue e nome de bloguista. Já era do bloguista antes de ser do blogue. O blogue só nasceu após muitas e variadas insistências, entre as quais deste que aqui vos fala. Antes disso, porém, e muito antes, já o Nonas era visita diária, e constante colaborador deste espaço, com encorajamento e não só - que ninguém como ele ajudou na tarefa de o preencher. Pode apresentar-se o Nonas como o maior contribuinte para a permanente saturação das nossas caixas de correio - e isto desde há praticamente cinco anos. Não é dizer pouco. Aqui se deixa público manifesto de gratidão à permanente disponibilidade do Nonas.
E quanto ao blogue homónimo, o melhor é visitá-lo - e entrar decididamente no círculo de amigos do Nonas.
Nesta nossa casa vou então deixar a entrevista que (também) fiz ao Nonas.


1 - Há muito que se convencionou chamar à imprensa o quarto poder. Poderá a internet vir a ser o quinto?
- Não sei se a internet será, alguma vez, o quinto poder pela simples razão que não é controlável pelo Poder, salvo se aplicarem a expectável lei de Delito de Opinião ao abrigo do dogma da liberdade de expressão.
Assim, a Imprensa é controlada política e economicamente pelos grandes grupos económicos que criam e formam a opinião das pessoas, sob a capa dessa abstracção chamada Opinião Pública, que não é mais do que opinião publicada pelos “grandes comentadores” e “comentadores de referência”.
Na internet, tal já não acontece embora sejam conhecidas as tentativas de proibição de sítios (sites) ou de blogues como foi o caso do "Portugal Profundo". Sabemos que existe a vigilância policial da chamada blogosfera nacional.
A internet é um mundo controlável e gerido pelos satélites de comunicação mas que poderá tornar-se incontrolável.

2 - O Nonas andou muito tempo pela blogosfera como observador e comentador, até passar a ter o seu próprio blogue. Valeu a pena?
- Quero crer que sim, porque acredito que quando se planta uma semente ela vai germinar desde que se regue a mesma.
A criação do blogue deveu-se a pressões de alguns bloguistas com quem tenho uma profunda e inabalável amizade e que me criticavam por ficar apenas no comodíssimo papel de comentador. Posso confidenciar que o Nonas foi criado em dois minutos pelo BOS, em minha casa, após mais uma curta e simples pressão de cerca de meia hora.
Na verdade, naquela altura, não tinha tempo para abrir mais uma trincheira e hoje vejo-me em grandes dificuldades para a ocupar honrada e dignamente porque o nosso ideário assim o exige, devido à enorme falta de tempo.
Cá estou e continuarei enquanto tal me for possível até ao (i)limite da minha força e vontade.

3 - No seu blogue tem sido visível a prioridade dada à cultura: livros, autores, arte e artistas... Pensa que o esvaziamento de referências culturais implica o esgotamento de uma área política?
- Sem dúvida! Aprendi com Gramsci e com Rodrigo Emílio que o combate cultural antecede o político. Ou se quiserem, o combate cultural deverá alinhar ao lado do combate político. Não é possível dissociar o Pensamento da Acção e vice-versa. Sem Pensamento não há Acção e isso já vem desde os tempos imemoriais do Monge-Guerreiro, que também foi uma das finalidades das escolas da Ordem SS.
A Pena e a Espada devem viver e conviver num só para a criação do homem total, ou homem totalitário, se preferirem! A tridimensionalidade Físico, Espírito e Alma têm de estar presentes, permanecentes e permanentes.
Exemplo histórico, entre nós, e que foi marcante quer para Salazar quer para o Estado deu-se quando meia dúzia de energúmenos anões, incultos e invejosos fizeram a mala a António Ferro e o despacharam - a alta velocidade – para Berna. Aí, Salazar perdeu o seu braço direito e esquerdo. Porque António Ferro, na felicíssima expressão do Rodrigo Emílio, era a vitamina do Estado Novo.
Essa gentinha que tinha vontade de ser gente e que era gente feita à pressa acabou por assumir o péssimo papel de Comissão Liquidatária do Estado Novo ao mutilarem o Estado Novo da sua componente estética e do magistério imaginativo e desvitaminarem o Estado Novo pela falta de Ferro. A solidez férrea do Estado Novo foi sendo corroída pela praga acéfala e subversiva do neo-realismo literário e político no qual ainda hoje permanece ditatorialmente, tendo como cereja no topo do bolo, Saramago como Prémio Nobel.
A ditamole política do Estado Novo passou a conviver com a ditadura cultural da esquerda e foi a tragédia que se viu e que se vê!

4 - O Nonas é também um conhecedor do mercado editorial e livreiro. Há ainda lugar para uma pequena editora actuando à maneira tradicional?
Na minha simples e modesta opinião, há. Para tal bastam três coisas: vontade, dinheiro e obras. Obras a editar não faltam. De e sobre de autores portugueses como Afonso Lopes Vieira, Alexandre Herculano, Alfredo Pimenta, Almada Negreiros, Amândio César, António Corrêa de Oliveira, António Ferro, António José de Brito, António Sardinha, Caetano Beirão, Camilo Castelo Branco, Carlos Eduardo de Soveral, Eça de Queiroz, Esther de Lemos, Faustino José da Madre de Deos, Fernanda de Castro, Fernando Campos, Fernando Pessoa, Frei Fortunato de S. Boaventura, João Ameal, João Lúcio de Azevedo, José Acúrsio das Neves, Luis Vaz de Camões, Manuel Maria Múrias, Natércia Freire, Rodrigo Emílio, Tomaz de Figueiredo – para só citar estes autores nacionais.Se entrarmos no panorama internacional é outra arca sem fundo.O interessante e vergonhoso é serem editoras de esquerda a publicarem autores de direita porque sabem que o lucro é garantido. Alvos dessa aposta foram Abel Bonnard, Alain de Benoist, Alexis Carrel, Carl Schmitt, D. B Yeats, D. H. Lawrence, Ernst Junger, Ernest Renan, Ezra Pound, F. T. Marinetti, Friedrich Nietzsche, Gabriele d`Annunzio, Georges Bernanos, Giovanni Papini, Gottfried Benn, Gustave Le Bon, Heny de Montherlant, Konrad Lorenz, Knut Hamsun, J. R. Tolkien, Jacques Benoist-Méchin, Jacques Ploncard d`Assac, James Joyce, Jean Mabire, Jean Markalle, Jean Raspail, Julius Evola, L. F. Céline, Louis Rougier, Luigi Pirandello, Marcel Aymé, Martin Heidegger, Max Stirner, Mircea Eliade, Oswald Spengler, Otto Rahn, Pierre Drieu La Rochelle, Raymond Abellio, René Guénon, Richard Wagner, Robert Brasillach, Roger Nimier, T. S. Eliot, Saint-Loup, Saint-Paulien, Ugo Spirito, Vintila Horia, Yukio Mishima, Mussolini e Hitler. Então, um livro com Salazar, Hitler ou uma suástica na capa é êxito garantido!
5 - O que lhe parece que pode fazer-se na blogosfera nacional para optimizar o seu funcionamento numa lógica de melhoria do seu índice de penetração no mercado blogosférico global?
- Acima de tudo (re)criar e inovar numa perspectiva vanguardista com um recorte tradicional-revolucionário e de espírito nacional-universalista. Casos exemplares são o Inconformista e o Nova Frente.
Ter uma linguagem autêntica, simples e acertada que se identifique e se reveja no sentir do Povo é essencial.
E, acima de tudo, nunca transigir nem abdicar dos princípios em nome de pseudo-estratégias, pseudo-abrangências, pseudo-infiltrações e coisas (mal) parecidas.

6 - Entre nós é frequente encontrar grandes gargantas, que têm sempre opiniões, e a respeito de tudo, mas que resistem quanto podem a escrever o mais simples escrito. Será porque as palavras voam e os escritos ficam ("verba volant scripta manent")? Ou é só preguiça?
- Sou um adepto fidelíssimo da expressão: “palavras leva-as o vento”. Há que deixar escrito o que se verbaliza de forma oral. Acho que é muita preguiça mental que leva alguns a não porem por escrito o que dizem da boca para fora. E é pena…
Lembro-lhes sempre o que seria de nós se os nossos antepassados adoptassem a via do silêncio por escrito.
As gerações vindouras têm de saber que anteriormente houve uma plêiade de pensadores de um ideário a defender todos os segundos da nossa vida para além da morte. Foi essa chama que nos transmitiram e que devemos passar de geração em geração.
Parafraseando o Rodrigo Emílio, temos que nos bater “pelas armas, pelas artes, e por pensamentos, palavras e obras (literárias..., e não só.).”

7 - Já reparou que em nenhuma área se encontram egos tão inchados, e individualismo tão feroz, como entre muitos que proclamam o anti-individualismo, e teorizam transpersonalismos? Como se explicará esse notório antagonismo, neles, entre a sensibilidade e a razão?
- Nesta área encontram-se demasiados generais e chefes. Contam-se pelos dedos os soldados.
As faltas de humildade e de reconhecimento da incapacidade chegam a ser gritantes, salvo raras e honrosas excepções.
Ao não se reconhecerem esses defeitos não se está a praticar um acto de inteligência e está-se, inconscientemente, a servir o inimigo.
O primeiro passo para o sucesso está na formação cultural e doutrinária, seguidas de humildade - porque as celebérrimas frases de Sócrates (o grego, que não era engenheiro) “conhece-te a ti mesmo” e “só sei que nada sei” aplicam-se a todo o nosso ser - e finalmente termos a consciência do que somos e do que não somos capazes de fazer para sermos e termos “o homem certo no lugar certo.”

Festa "Do Portugal Profundo": 29 de Novembro, em Alcobaça

A festa do V Aniversário "Do Portugal Profundo" está marcada para 29 de Novembro de 2008, sábado, pelas 13 horas.
A festa decorrerá no Arraial dos Capuchos em Alcobaça, e vai juntar os amigos e vizinhos, comentadores e leitores do blogue. E uma ocasião de conhecimento, convívio e troca de ideias da comunidade "Do Portugal Profundo".

Cinema: "Taken", com Liam Neeson

Há dias fui ao cinema. Vi "Taken", filme que tem como protagonista Liam Neeson, e cujo título português é "Busca Implacável".
Gostava de trocar impressões com quem tenha visto o filme.
Escrevam nos comentários S. F. F.

Os professores, as escolas, e as fantasias ideológicas

A actual balbúrdia na educação é uma delícia para os cínicos.
Os professores, quase em uníssono, espumam de indignação contra as políticas do PS. Podem ter razão, mas ninguém ignora, a começar pelos próprios, que foram eles que lá puseram esse governo. São uma fatia eleitoral tão significativa, eles e os respectivos núcleos familiares, e em que se verifica um tão esmagador domínio do voto PS, que se pode dizer sem mentir que se não fossem eles o PS não ganhava eleições. (Esta observação é verdadeira para as eleições anteriores, e vale para as próximas... Aliás, é um fenómeno que não se verifica só em Portugal: em França por exemplo tem sido amplamente documentada a caracterização do PS como um partido do professorado e do funcionalismo. A questão tem raízes muito profundas, e liga-se ao lugar central que os PSs, e a classe docente, ocupam actualmente em relação à ideologia comum nas actuais sociedades ocidentais).
Há, no entanto, bastantes outros motivos de interesse.
Desde logo, a senhora ministra. Esta enfrenta uma situação que se repete frequentemente com as pessoas da sua formação ideológica. Cresceu e formou-se como militante da extrema-esquerda, com toda a carga de fantasias que isso implica. Depois avançou em idade, subiu na vida, e pensou que as suas ideias tinham amadurecido. Viu-se em situação de se confrontar com a realidade, e constata que afinal as ideias não tinham amadurecido nada - eram um conjunto de efabulações, que é preciso esquecer ao contacto com a vida. Como também tem acontecido com frequência, este choque com a natureza das coisas pode despertar pulsões perigosas, que estavam adormecidas mas não destruídas na alma embalada pelas ilusões da doutrina. Em cada ex-esquerdista pode estar latente um temível concentracionário; querem à força corrigir o mundo, que lhes contrariou as crenças. Cuidado com eles.
Todavia, e olhando para o plano meramente pessoal, é bem real o drama interior que os dilacera.
Como pano de fundo, temos as escolas. Estas foram e são, essencialmente, vítimas da mania funesta da igualdade e da democracia. Em qualquer tarefa minimamente complexa a que os homens se dediquem, em qualquer organização humana, a natureza revela as suas leis inexoráveis. Estas apontam inexoravelmente para a diferenciação, a especialização funcional, a hierarquização. Tudo na monomania igualitarista e nas ficções democráticas vai no sentido da violentação das regras da natureza. Se levadas a sério, são falácias que destroem qualquer organização social. A democracia só funciona quando é pouca e não ultrapassa o plano das convenções e das aparências. O que tem importância não pode estar dependente de "gestões democráticas e participadas".
Assim tem acontecido com a escola: a tentativa de institucionalizar na prática ideias que se chocam com o próprio conceito de instituição, de organizar essas realidades com base em dogmas que são incompatíveis com as ideias de organização ou de organismo, não poderiam conduzir a outro resultado que não fosse o desastre que todos constatam (mesmo aqueles que não querem admitir as verdadeiras causas).
É esta a verdade, mas não se pode dizer. Não podem os professores, que a conhecem, nem pode o Ministério, que também não a ignora, e não pode a Ministra, que lhe apetecia gritá-la (sobretudo agora, que é perseguida pelos ovos e pela berraria da turbamulta histérica educada para a liberdade de expressão).
Para todos eles, a situação é dramática: como podem eles dizer agora que a deseducação geral, o falhanço da escola, é o resultado directo dos princípios que apregoam nas aulas, que proclamam nos textos de orientação, que enfatizam nos discursos, que reclamam nas ruas?

Criticavam a senhora por estar calada...

... e ela agora fala:
"Não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que transmite".
(Manuela Ferreira Leite, agência Lusa, 13-11-2008)
Imagino a gaguez e a atrapalhação que seria se alguém lhe perguntasse de imediato quem poderia então encarregar-se de seleccionar o que a comunicação social transmite, já que esta não pode ser...

Eu sempre pensei que ela valia mais calada. Não estou surpreendido. Creio que cada vez que abre a boca não tem sido para entrar mosca. Agora que ressaltam cada dia mais indisfarçáveis as notórias limitações que a afectam, como irão desenvencilhar-se da embrulhada os responsáveis morais por esta liderança?

quarta-feira, novembro 12, 2008

Intromissões

É o blogue de um novo visitante do "Sexo dos Anjos": Intromissões.
O blogador anda em Direito, na Nova, e ouviu falar de nós por lá...
Pode entrar para o círculo de amigos do "SA": façam o favor de lhe retribuir a visita.

Obviamente...

... É errado lançar ovos contra a ministra...

O descontentamento militar

Leia o importante depoimento do General Fernando Paula Vicente.

Revista Plátano, n.º 4: já cá canta!

Recebi o número 4 da revista Plátano...
Um obrigado para Portalegre!

Nova Águia Nº 2 - 2º Semestre 2008

Depois do primeiro número, sobre "A ideia de Pátria", surgiu o segundo número da "Nova Águia - revista de cultura para o século XXI".
Este número tem por tema "António Vieira & o futuro da lusofonia". O texto mais destacado é de Adriano Moreira. Segue-se O Território e o Mapa de João Teixeira da Motta. Com cartas de Agostinho da Silva, Cruzeiro Seixas, Dalila Pereira da Costa e António Quadros. E um inédito de Jean-Yves Leloup.
Para saber mais:
(inclui a lista actualizada dos lançamentos da "Nova Águia")

terça-feira, novembro 11, 2008

No sábado, em Lisboa: encontro na SHIP

No próximo Sábado, dia 15, vai ser apresentado no Salão Nobre da SHIP, - Largo de São Domingos, 11, Lisboa - às 17h, pelo Sr. Ten.-Coronel Brandão Ferreira, o livro memorialístico da autoria de Rogéria Gillemans ("Longe é a Lua") que "narra a vida de uma família de Luanda, desde os anos quarenta até Outubro de 1975", e que é uma declaração de amor pela ex-província ultramarina de Angola, recordando e descrevendo vivências que fizeram História.
É, também, um real e violento testemunho denunciador dos acontecimentos que culminaram na trágica, vil e traidora "descolonização exemplar" que vitimou Portugal a 25 de Abril de 1974 às ordens do Club Bilderberg.

Estão proibidos? Download já!


É simples: download já!

Tal qual como o outro, o célebre livro de Rui Mateus sobre "Contos Proibidos -Memórias de um PS desconhecido".

Está proibido? Imprima-se já!

Valha-nos Santa Internet!

Obamania

No "Diário de Notícias", Mário Soares proclama que "o mundo tornou-se multilateral e o hegemonismo americano arrogante vai desaparecer.".
Nas páginas de "O Diabo", Eduardo Lourenço fala de "uma vitória da humanidade" e diz que "os EUA retomaram de um dia para o outro o grande sonho americano".
Eu só me lembro de uma expressão celebrizada em tempos pelo inevitável Marcelo: estão lélés da cuca. A idade não lhes perdoou. E a realidade também não perdoa, embora eles, muito provavelmente, já estejam fora dela.
Thomas Sowell, que é preto e não é estúpido, interrogou-se se "after the big gamble on subprime mortgages that led to the current financial crisis, is there going to be an even bigger gamble, by putting the fate of a nation in the hands of a man whose only qualifications are ego and mouth?" Assim mesmo: Obama reduz-se ao ego e à boca (em Portugal julgo que se diria garganta).
Não concordo com Sowell, note-se. Obama não é só isso. Todavia, aos outros nefelibatas não é de todo possível levar a sério. A vitória de Obama não teve esses poderes miraculosos.
A História começa agora.
Entretanto, para introdução a algumas das questões-chave levantadas por esta eleição, recomendo este artigo: Obama : le choix des minorités ethniques, de l'hyper-classe mondiale et des médias.

Encontro de blogues em Borba

Agora que já passou é altura de ler as reportagens: no Alto da Praça e no Alentejanices.

"Inconformista" - Vanguarda e Tradição

Hoje o destaque vai para um sítio que em Maio trouxe um sopro de renovação à blogosfera: o Inconformista. Desde então, uma presença jovem e uma estética arrojada têm definido uma marca e um caminho. É um exemplo de como a doutrinação opera por via encantatória: pela sedução é que vamos!
Venham mais Inconformistas!

Enderecei algumas perguntas breves ao "Inconformista", e aqui vos deixo perguntas e respostas.

1) O que é o "Inconformista"?
- É uma fonte de informação e reflexão alternativa na internet, feita por um grupos de pessoas vindas de diferentes quadrantes da chamada área nacional, que se afirma pelas ideias, pela estética e pela provocação.
2) Que projecto próprio, que contributo específico, vem trazer o Inconformista?
- Apesar de ser um projecto que se inspira no Zentropa.info, em cuja rede internacional se integra, o Inconformista traz um contributo português. A sua especificidade assenta na diferença de abordagem e postura que se caracterizam por um espírito livre e inconformista.
3) Que conselhos e orientações gostaria de transmitir aos seus destinatários?
- O Inconformista tem como objectivo pôr as pessoas a pensar, não é uma cartilha nem uma tábua de mandamentos. A revolução cultural faz-se com homens pensantes, capazes de reflectir e agir, não com autómatos que papagueiam o que não entendem.
4) E que mensagem pretende deixar aqui, para os leitores do "Sexo dos Anjos"?
- Aos leitores deste espaço, que foi um dos primeiros e continua a ser uma inspiração para tantos blogues, apelamos a que não vejam a internet como um entretém, mas como uma ferramenta útil no combate cultural que nos levará um dia à concretização do sonho.

segunda-feira, novembro 10, 2008

A ditadura da fealdade

"O urbanismo sofre desde há cinquenta anos a ditadura da fealdade, do sem-sentido e do curto prazo: cidades-dormitório sem horizonte, zonas residenciais sem alma, subúrbios cinzentos que servem de esgotos municipais, intermináveis centros comerciais que desfiguram a entrada das cidades, proliferação de "não-lugares" anónimos concebidos para utentes apressados, centros urbanos exclusivamente dedicados ao comércio e aos que foram despojados do seu ambiente tradicional (cafés, universidade, cinemas, teatros, praças, etc), justaposição de imóveis sem um estilo comum, bairros degradados e entregues ao abandono ou, pelo contrário, permanentemente vigiados por guardas e câmaras de vigilância, desertificação rural e sobrepopulação urbana..."


Alain de Benoist, citado no INCONFORMISTA

"A Voz Portalegrense" - um alentejano útil

Sirvo-me da expressão cunhada há uns anos (largos...) por João Bigotte Chorão para apresentar Giuseppe Prezzolini: assenta perfeitamente no Mário Martins, o infatigável blogador que deu vida à Voz Portalegrense (desejo-lhe que viva pelo menos até aos 100, como o italiano). Letrado, aberto ao mundo, dialogante e afável, avesso ao enclausuramento provinciano, de interesses múltiplos e diversos, o blogue tem dado uma lição notável de como se conjuga o enraizamento localista com a atenção ao que é nacional, e universal, sem pretensiosismo nem artificialidade - antes obedecendo com elegância aos impulsos naturais do ser. Um estimado confrade, que muito tem enriquecido a nossa blogosfera.
Também dirigi ao Mário Martins algumas provocações, e eis como ele respondeu à minha impertinência. E não esqueçam: leiam e apreciem a "Voz Portalegrense". Sentir-se-ão de certeza bem recebidos.

- Porque nasceu a “A Voz Portalegrense”?
- “A Voz Portalegrense” nasce por uma necessidade de escrita. Desde sempre senti que gostava de deixar a notícia do que penso e faço, também dos meus sonhos e desejos, angústias e alegrias, em suma, da realidade que me cerca e da qual sou um grão de areia na imensa engrenagem que a forma.
- Um blogue pode ser um dinamizador cultural numa região deprimida?
- Pode e deve ser. Deve tentar estabelecer um diálogo construtivo com o meio em que se insere. Mas a génese d’ “A Voz” não foi essa, e hoje continua a não ser. As incursões que faz na Região, são mais conjunturais que permanentes. “A Voz” não é blogue “local” ou “regional”, talvez porque não esteja interessada em intervir localmente.
- Qual tem sido o acolhimento d’A Voz Portalegrense em Portalegre e na sua área geográfica?
- A minha participação nos “Desabafos” na Rádio Portalegre, onde sigo a mesma linha d’ “A Voz”, falando da Região de Portalegre esporadicamente, é como que um complemento do Blogue. Faço esta introdução para dizer que na Rádio tenho sido muito mais crítico em relação a Portalegre que no Blogue. Na Rádio afirmo que Portalegre é uma Cidade “esquisita”. Em Portalegre não há opinião pública, e tal faz com que não haja coragem de frontal e publicamente se falar construtivamente. Reacções ao que escrevo no Blogue existem. Uma infinitésima parte chega-me directamente, outra “fica-se” pelo anonimato. O acolhimento é como em tudo, há os que elogiam e mo dizem, e haverá outros que criticam, mas que o fazem “pela calada da noite”, como é hábito…
- Agir localmente pode ser o caminho eficaz para alcançar resultados a nível global?
- Sem dúvida alguma! Tem que se partir da “base” para se chegar ao “cimo”. Se assim não for, as “bases” serão sempre de “barro”, e desmoronar-se-ão ao mais pequeno “tremor de terra”.
- Pode dizer-se que os grandes meios de comunicação social são a opinião que se publica, e que na blogosfera está a opinião pública?
- Trocaria o verbo “poder” pelo verbo “Dever”. Isto é, deve-se dizer que os grandes meios de comunicação social são a opinião que se publica, e na blogosfera está a opinião pública.
E num meio pequeno como Portalegre, por que não há opinião pública, a existência de Blogues é condição de Serviço Público. Mas esses Blogues não podem ser anónimos, tal como os Comentários não podem neles surgir anonimamente.
- A batalha das ideias precede o combate político? A cultura está antes da política?
- Como Gramsci, primeiro o Poder Cultural, e só depois o Poder Político. E tal como Bergson, o Homem Completo é aquele que pensa como Homem de Acção e age como Homem de Pensamento. A Cultura antecede a Política, mas, infelizmente não é assim que acontece, daí a miserável em todos os sentidos Classe Política mundial. Hoje não há Líderes, mas sim Demagogos que conduzem os Povos para a sua ruína. As Utopias do Século XX falharam, e hoje vive-se perigosamente, não no sentido Nietzcheniano, mas no sentido literal da palavra. O Futuro é uma incógnita. As Gerações futuras irão sofrer com os erros que hoje os Políticos cometem. O Futuro da Humanidade está hipotecado pela usura de uma minoria face à maioria.
- A Internet é o campo de batalha do futuro?
- Hoje a Internet é um campo de batalha por excelência. Mas apenas enquanto nela houver Liberdade de Expressão. Tem havido tentativas de a censurar, e há Países onde há censura na Internet. Há que por todos os meios lutar para preservar a Internet como um Espaço de Liberdade. Pior que o Politicamente Correcto é a falta de Liberdade de se poder expressar Ideias. A Internet, ou o que graças ao avanço da Ciência a substituir, é um Bem raro nos tempos que correm.
- Quem dominar a Internet domina o mundo?
- Os Estados assim o pensam, daí as tentativas para a controlar. Os Cidadãos têm que ser responsáveis perante a Internet, e deste modo, então com toda a justeza, impedir que ela seja instrumentalizada.