quinta-feira, maio 28, 2009

Gosto

Do trabalho d' O Inimputável.

"A Arma Secreta"

“A arma secreta” é o título de uma crónica do eurodeputado cessante do CDS-PP, José Ribeiro e Castro. Para quem esteja distraído, é importante reparar que o partido de Paulo Portas não é apenas um cálculo mesquinho sobre as legislativas, das quais espera sair em posição de se tornar uma espécie de avençado de José Sócrates, ou, por outras palavras, um partido a recibos verdes contratado por um PS sem maioria absoluta. Não, o actual CDS não é apenas isso: é pior.

“Amigos meus criticam-me o facto de não abordar o CDS-PP nestas crónicas. Têm razão. Por isso, reparo a omissão.
No anúncio da lista para o Parlamento Europeu, o CDS indicou que busca eleger três candidatos. O falado trio de cabeças-de-lista tinha esse propósito. E, há dias, Paulo Portas assegurou que o seu partido será o que mais vai subir. A aposta é forte.
Tem surpreendido, assim, que a candidata número 3, a deputada Teresa Caeiro, vice-presidente do partido, a mais-valia decisiva da lista e baliza da ambição de conquista, ainda não tenha aparecido: nem na pré-campanha, nem nesta primeira semana. Nuno Melo anda com o líder do partido. Diogo Feio já apareceu. Mas de Teresa Caeiro… nada! Até poderia dar a ideia de que pretendem mantê-la escondida.
O meu pensamento é outro: está certamente guardada para a última semana, como a arma secreta do CDS-PP, trampolim para a eleição dos três eurodeputados.
Não seria a primeira vez que Teresa Caeiro faz esse sacrifício dos últimos minutos. No referendo para liberalização do aborto, em 2007, a deputada Teresa Caeiro aguardou exactamente o último dia de campanha para anunciar na imprensa, dois dias antes do voto, que divergia do partido e não votaria “Não”. Deixou a ideia de que votou “Sim”. E, seguindo essa linha, tem-se destacado também na defesa do casamento homossexual, afirmando, em entrevista, sentir a missão de mostrar que a direita não é tacanha e retrógrada.
A posição estratégica como terceira candidata traduz por certo a exposição desta nova modernidade pela direcção do CDS-PP. E nisso assenta a minha convicção de que Teresa Caeiro não está escondida; antes guardada para arrasar na recta final em defesa da liberalização do aborto e do casamento homossexual, temas que são frequentes nos debates no Parlamento Europeu.”

José Ribeiro e Castro

Entre Dupond e Dupont

"O ex-ministro Nuno Morais Sarmento entrou hoje inesperadamente na campanha para as europeias de 7 de Junho. E logo para dizer que não sentiu nem percebeu as diferenças entre o candidato do seu partido, Paulo Rangel, e o do PS, Vital Moreira. Talvez por se discutir mais política nacional que europeia, admitiu o dirigente social-democrata, presente no almoço de hoje no American Club, em que Paulo Rangel era o convidado." (aqui)
Foi pena que ninguém lhe respondesse que eles não podem discutir política europeia precisamente por nada terem para discutir: a esse respeito é que não há absolutamente nenhuma diferença de opinião entre as candidaturas.
Como já tinha sido explicado na blogosfera: "(...) o discurso europeu dos sociais-democratas não se distingue do discurso europeu dos socialistas. Nas questões essenciais, os dois partidos estão de acordo, como aliás se tem visto debate após debate. Vital Moreira é um entusiasta declarado do Tratado de Lisboa, Paulo Rangel também. Vital Moreira acha normalíssimo que o PS tenha violado a promessa eleitoral de referendar o Tratado Constitucional (de que o de Lisboa é um óbvio sucedâneo), Paulo Rangel faz como ele. O PS aplaude a entrada da Turquia na União Europeia, embora sem explicar aos portugueses quanto nos custaria essa adesão, e o PSD também aplaude, contrariando aliás as posições já assumidas por Angela Merkel e Nicolas Sarkozy. Mesmo na recondução de Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia Manuela Ferreira Leite e José Sócrates já mostraram sintonia: estão ambos de acordo."
Resta-lhes, obviamente, no tempo que falta até às eleições, tentar simular o que não existe. Haverá um crescendo de tensão, um avivar de crispações, à volta de questiúnculas tipo papa maizena, para abrir os telejornais e tentar mobilizar os adeptos.
Estes farsantes nem um voto merecem. Espero e desejo que todos os portugueses sintam o mesmo. Se lhes apetecer riscar, risquem os dois.

terça-feira, maio 26, 2009

Eleições

Abstenções, votos em branco e votos nulos? Desses desejo eu muitos aos nossos inimigos..

segunda-feira, maio 25, 2009

LOGOS

Dos políticos católicos, livrai-nos Senhor!

Exposição sobre D. Afonso Henriques e a sua época

Foi inaugurada hoje na Sociedade Histórica da Independência de Portugal a exposição "D. Afonso Henriques e a sua época - de 1109 a 1185", da autoria de Manuel Ribeiro Rodrigues.
Estará disponível até ao dia 15 de Junho. A não perder!

domingo, maio 24, 2009

E ainda outro

Estado Sentido

Outro blogue do dia

Direito de Opinião

Um blogue do dia

O Inimputável

sexta-feira, maio 22, 2009

Eu reparei...

O que ninguém reparou na sondagem da eurosondagem por João Gomes de Almeida.

Sobre as sondagens e as eleições europeias

O "Expresso" divulgou uma nova sondagem feita pela "Eurosondagem" sobre as intenções de votos dos portugueses nas próximas eleições europeias.
De acordo com os resultados publicados, daqueles que tencionam votar há 34,3 % que dizem ir votar PS, 32,1 % que declaram ir votar PSD, 10,1 % que têm o propósito de votar BE, 8,9 % que planeiam votar CDU, e 6,9 % que estão decididos a votar CDS.
Houve 21,9 % que ficaram incluídos nos "não sabe/não responde".
E houve 7,7 % que disseram ir votar noutros partidos (portanto substancialmente mais do que os que se propõem votar no CDS, quinto classificado da lista)
Da informação disponível não consta qual a percentagem dos que pura e simplesmente não tencionam votar.
Talvez amanhã o "Expresso" revele mais, na ficha técnica. Em que data foi feita a sondagem? Quantos foram os sondados? E quem foram, como se caracteriza o universo dos sondados? Qual foi a técnica usada? Qual o questionário apresentado?
A escassez dos dados não permite extrair conclusões seguras, mas justificariam algumas considerações sobre as limitações das próprias sondagens e sobre o papel das mesmas no condicionamento dos resultados eleitorais.
Enfim, para já duas observações que não podem deixar de ressaltar a qualquer analista distraído: houve 21,9 % dos que tencionam votar que não revelaram opção de voto; e houve 7,7% dos que disseram já ter feito a opção que declararam ir votar "noutro partido" que não algum dos cinco propostos pelos sondadores.
Considerando que ninguém prevê que haja menos de 40 % de abstenção (na realidade, é provável que se aproxime mais dos 60 % ...) e verificando-se que de entre os que estão decididos a votar há 21,9 % que não sabem ou não querem dizer em quem, e que há 7,7 % que estão decididos a votar "noutro partido", ficam-nos algumas interrogações. Mas ficam para a próxima.

terça-feira, maio 19, 2009

Disto já havia de sobra

O candidato do PSD às europeias, Paulo Rangel, trouxe-me irresistivelmente à memória o célebre princípio de Peter. É verdade, eu considerava-o razoavelmente competente para os lugares onde até agora tinha aparecido...
Os últimos dias têm trazido ao de cima a inconsistência, ou a verdadeira consistência, da personalidade em causa. Foi primeiro o desastrado cartaz de campanha onde apela aos piores vícios do assistencialismo arreigado nos hábitos lusos (uns bloguistas mais letrados explicaram que aquele programa "os fundos é que nos salvam" é keynesianismo aplicado, provavelmente para atazanar os liberais). Como se isso não bastasse para desorientar as hostes, o candidato descobriu agora que é um federalista convicto e como ele só há mesmo o dr. Soares (já se felicitaram um ao outro, o que mais uma vez confirma que les bons esprits se rencontrent).
O que eu descubro nisto tudo é uma ânsia notória de se situar e ser aceite rapidamente no círculo mais restrito da nomenklatura do regime, denotando uma formatação mental que eu desconhecia no jovem.
A mesma observação faço quanto às vulgaridades sobre a orientação da Igreja Católica (Rangel diz-se católico progressista, e como se sabe não há católico progressista que não se sinta com vocação para Papa). Adianta Rangel (oh surpresa!) que a Igreja deve evoluir quanto às questões da moral sexual, tem que repensar o problema da não orientação das mulheres, tem que tornar-se mais aberta e tolerante em relação à homossexualidade, tem que repensar o celibato sacerdotal e mais não sei o quê... (Enfim, em síntese, em matéria de costumes é um liberal, disse ele). Tudo revelações do mais alto calibre intelectual, e de profunda originalidade.
O que lhe vale é que o povo PPD é parecido com o do Benfica, é desse clube porque sim e não muda haja o que houver. Quando não, parece-me que já não havia ninguém contente com as descobertas recentes.
Pela minha parte, o Diabo que o carregue, mais o seu federalismo, o seu keynesianismo q. b., e o seu liberalismo de conveniência, o seu progressismo de vulgata chic intelectualóide e burguesa.
Disto já havia muito por aí à solta.

segunda-feira, maio 18, 2009

Europa é tudo o que eu digo, e mais o que eu não sei dizer

As respostas dos cabeças de lista às próximas eleições europeias à pergunta feita pela LUSA sobre "Quais devem ser os limites geográficos, culturais ou políticos do alargamento da União Europeia" dão bem ideia da loucura demencial que se apoderou de grande parte da classe política europeísta, vergada ao peso das conveniências e tabus da correcção política.
A verdade é que com o conteúdo que resulta da maioria das declarações (a Europa não tem limites!) não haverá nenhum projecto político que resista. Pode haver, quando muito, literatura, e nada realista.
O PSD admite que a União Europeia possa estender-se até ao Pacífico, integrando a Rússia, e recusa estabelecer "uma definição cultural" para a Europa. Diz que temos que fazer entrar pelo menos a Sérvia, a Albânia e a Bósnia, e a Turquia, a Moldávia, e porventura a Ucrânia, e depois os países do Cáucaso e a Bielorrússia, e finalmente a Rússia, sem esquecer países como a Suíça, a Noruega e a Islândia, que têm sempre a porta aberta (naturalmente, digo eu). Dá a impressão que a África, a América e a Oceania ficam de fora, ao menos por enquanto, mas pode ser só impressão.
Para a cabeça-de-lista da CDU, igualmente o alargamento da UE deve ir até onde quiserem os "povos dos Estados-membros e dos países candidatos" (talvez a China, Cuba e o Vietname!). Para o candidato do BE, idem: os limites da UE devem ser "os que a política determinar e os povos quiserem". Para o PCTP-MRPP, também "não se pode falar em limites". A candidata Laurinda Alves "apoia a entrada de novos membros", e veria como "uma excelente notícia para o Mundo" a adesão da Turquia. O candidato do Partido Humanista concorda com isso e acrescenta que não deve "haver outros limites, designadamente culturais". O candidato do PPM concretiza e avança, propondo a "futura integração do arquipélago de Cabo Verde na UE".
É uma maravilha, um fartote, uma verdadeira "Europa global".
Ah, antes que me esqueça, diz a notícia da LUSA que "o candidato do PNR, Humberto Nuno de Oliveira, contestou "a Europa das fronteiras escancaradas" e defendeu em seu lugar "uma aliança entre Estados soberanos" em que os povos possam "escolher sozinhos o seu futuro", fechada a "países que não partilhem da herança civilizacional europeia, como é o caso da Turquia". Não posso deixar de sorrir: é o meu amigo Humberto Nuno. É mesmo do contra!

Pelos fundos é que vamos

"Combater a crise com fundos europeus" é a mensagem do primeiro cartaz divulgado pelo PSD na presente campanha para as eleições europeias. A mensagem do PS quanto à Europa não é em nada diferente. A classe política portuguesa continua a olhar para a União Europeia como um vitelo mamão olha para uma vaca leiteira. Sem lhe ocorrer que enquanto ela, classe política e empresarial dependente, pode medrar com o leitinho, o país vai vegetando e morrendo de inanição.
Noutra comparação, lembram-nos a ciganada subsidiodependente a pensar na segurança social, rendimento mínimo, subsídios de desemprego, Caritas, Misericórdias, e mais não sei quantas formas de fugir ao trabalho, esse castigo bíblico que o Senhor inventou para atormentar Adão até ao fim dos seus dias.
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto", é a sentença que apavora a classe dirigente, e que ninguém quer ler aos portugueses.
Admito que quem o disser claramente corre sérios riscos de não ganhar nenhuma eleição nesta nossa terra, mas não tenho dúvidas que a haver salvação para Portugal esta tem que passar pelo trabalho esforçado dos portugueses. Aquilo que fizermos, aquilo que conquistarmos, aquilo que produzirmos - será a nossa riqueza, a nossa sobrevivência.
O que nos derem será sempre o preço para deixar de ser. A anestesia para a eutanásia.

domingo, maio 17, 2009

A defesa da "cultura geral"

Há pouco tempo tinha lido no "Le Monde" um artigo de Edgar Morin que versava precisamente sobre este tema: a defesa da "cultura geral" no ensino, contra a lógica de afunilamento a que conduz a hiperespecialização, e o consequente, e dramático, empobrecimento que todos podemos observar.
Pareceu-me muito interessante, sobretudo pela repercussão que a notoriedade pública do autor trouxe a essa discussão. Anotei a importância desse contributo de Edgar Morin, agora na recta final da sua existência terrena. A velhice, por vezes, pode realmnente trazer sabedoria.
Havia algumas fragilidades nos discurso, aliás apontadas de imediato por alguns leitores: por exemplo, a proposta de criação como propedêuticas nos diversos cursos universitários de cadeiras específicas de "cultura geral", o que nunca deixaria de ser um remendo exótico para um sistema onde globalmente faltasse a necessária perspectiva integrada desde o inicio.
Porém, o alerta só por si merece o maior aplauso.
Verifico que Edgar Morin persiste. Estará no Instituto Piaget, em Lisboa, na próxima sexta-feira, e anuncia que defende "reforma radical" no ensino para acabar com "hiperespecialização".
É uma extraordinária mudança de paradigma na abordagem do sistema de ensino: "o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin defende uma "reforma radical" do modelo de ensino nas universidades e escolas, salientando a necessidade de passar da actual 'hiperespecialização' para uma aprendizagem que "integre as várias áreas do conhecimento".
"Edgar Morin, considerado um dos maiores pensadores vivos, defende que apenas com esta mudança de paradigma no ensino as pessoas serão "capazes de compreender e enfrentar os problemas fundamentais da humanidade, cada vez mais complexos e globais".
Li a notícia no "Público".

sexta-feira, maio 15, 2009

Desertai do sono que vos prende

Como escrevia um querido Amigo, há muitos anos, com um acerto que hoje fere, "o conservador lembra comida de conserva, enlatada; e intoxica."
Que quereis vós conservar? Que temos nós para conservar? Da conservação do que está, sabemos bem o que se pode esperar; a mudança, ao menos, abre uma porta à esperança - da alteração das coisas é que nasce todo o porvir.
Evidentemente que "não se trata de defender uma atitude de pura destruição, nem de anarquismo, nem de futurismo desgarrado, nem de progressismo utópico"... mas é certamente, firmemente, uma atitude de frontal rejeição, de radical inconformismo.
Longe, decididamente longe, do conservadorismo resignado, que em nome do realismo aceita hoje o que recusava ontem, e irá aceitar amanhã o que rejeita hoje, caminhando de mal menor em mal menor até aos mais fundos abismos do mal.
Agora como sempre, "a direita conservadora quer a tranquilidade e a segurança — e para isso venderá a alma ao diabo e acabará enterrando na adega quantos ideais houver. Não admite é sobressaltos, violências, extremismos." Arrepia-se e protesta se blasfemam contra Deus, se nos desfazem a Pátria, se atacam a Família, se destroem todos os equilíbrios sociais num lodaçal de corrupção, de desordem, de imoralidade? Sim, "mas se a coisa vier docemente, empantufada, com flores e por aliciantes arroios — com boas maneiras, sim! —, já o caso muda de figura. A direita conservadora fica a escutar violinos, ao canto da lareira, a ver televisão ou ronronando, tolera, fecha os olhos, abranda, deglute o bolo às migalhas e acaba por ser habituar. Sobressaltos, violências, extremismos é que não!"
Assim vivemos as últimas décadas em Portugal; desfeito que foi o sobressalto do PREC, passados uns fugazes sustos com os acessos esquizofrénicos da esquerda vasconça, veio a esquerda burguesa e cordata - e a direita sossegou, permitindo tudo o que nos quiseram fazer.
Alguém quis reagir? Oh, sim, claro, mas... "o espírito e o ideal são precisos e bons; mas não exageremos, nem vamos perder o sossego e o bem estar, em aventuras, perigos e aflições, por causa das ideias, de espiritualismos e quejandos enxoframentos de adolescente cabeça ardorosa"...
Neste caminho, sempre a descer, chegámos onde estamos.
E a direita conservadora, como está? Como sempre esteve: centrista, sempre centrista, irremediavelmente centrista, vogando beatamente ao sabor dos ventos da História, sem se importar de deslizar para qualquer banda, desde que seja sem sobressaltos, sem prejuízos materiais e sem violências...
Ah, querido Amigo, como tu tinhas razão!

A cultura e o poder

Hoje como ontem a esquerda monopoliza a cultura e os meios de comunicação. É essencial compreender as causas e os efeitos desta situação. Hoje a herança estratégica do comunista Gramsci foi assumida pelos partidos socialistas ocidentais. Recordamos que Gramsci insistia no primado da infiltração cultural, em detrimento da violência, como caminho para a conquista do poder no Ocidente.
Trata-se de conquistar as superestruturas do poder (a imprensa, o cinema, o teatro, a rádio, a cátedra, as academias, a música, as salas de arte, os círculos intelectuais, etc.) para assim conquistar a sociedade civil e tomar o poder. O mundo da educação, o da cultura e o da informação são os objectivos preferenciais da infiltração esquerdista.
Decorridos já tantos anos desde a queda do Muro de Berlim, os comunistas, reciclados em social-democratas, continuam controlando a cultura e a informação em todo o Ocidente. A estratégia gramsciana passou de mãos comunistas para mãos socialistas, e os partidos socialistas ocidentais entregaram-se à sua admiração pela inteligência e o êxito que essa estratégia demonstrou. O fracasso do comunismo foi devido ao espantoso desastre económico, tecnológico e espiritual dos países que integravam o bloco soviético, mas a estratégia gramsciana de infiltração foi e continua a ser um êxito esquerdista no Ocidente.
O socialismo ocidental assumiu a linha da frente e a sua matraca ideológica bombardeia-nos diariamente por terra, mar e ar a partir da sua privilegiada posição no alto da colina cultural e informativa.
E é bem sabido que quem domina a informação domina o poder político ou não tardará a consegui-lo. O mundo cultural e o informativo são as duas chaves que abrem a porta do poder político.
De pouco servirá à pusilânime e lerda direita liberal esgrimir êxitos económicos, se está condenada ao fracasso e à derrota devido aos seus complexos, mimetismo, cobardia e vazio cultural.
A frente ideológica é movimentada por uma infinidade de peões situados estrategicamente no universo da comunicação. Aplaude o progressismo desagregador na Igreja. Defende o aborto, estimula o divórcio, justifica a droga, regozija-se com a imoralidade sexual, ridiculariza a moral cristã, persegue o patriotismo, fomenta a homossexualidade, descristianiza a sociedade, ataca a família, manipula a informação, distorcendo, inventando ou silenciando notícias. A ditadura intelectual condiciona escritores, músicos, cantores, pintores, pois só permite o elogio aos que se manifestem numa linha determinada, enquanto vilipendia ou silencia os outros, com o que garante a subversão geral da cultura.
A ditadura intelectual instalada dedica-se a pastorear o rebanho do snobismo intelectual. Zomba da história. Fascina-se com a decadência, degeneração e depravação social que ela mesma contribui para criar. É capitalista no económico e esquerdista no moral e no espiritual, triste resultado da união bastarda entre a finança e o progressismo. A direita liberal (igualmente bastarda) não pode nem quer contrariar a influência mediática e cultural da esquerda, e passa rapidamente do vazio ideológico e cultural ao seguidismo mimético.
Sujeita ao asfixiante domínio da cultura de esquerda, a opinião pública permanece confundida e anestesiada pelo terrorismo intelectual do sistema. E assim se garante a manutenção do status quo, quando não o deslizar seguro no caminho do abismo, o caminho do suicídio das sociedades em que essa gangrena se instalou.

Levantar hoje de novo

O que surpreende qualquer analista não é a gravidade da situação portuguesa, seja qual for o ângulo de visão. Essa já é conhecida há muito, e está ampla e generalizadamente diagnosticada. O que surpreende é a passividade e a indiferença dos portugueses. Quase todos se limitam a sobreviver (para muitos não é fácil), e todos a encolher os ombros. Muitos contam anedotas, e vão-se rindo com a desgraça. Uns poucos aproveitam, e perante a apatia geral devoram avidamente o que resta.
O que choca não é, portanto, ver o estado a que isto chegou. É constatar o consentimento, a cumplicidade, daqueles de quem seria de esperar a reacção. O que custa não é a presença do inimigo, é a ausência dos amigos.
Portugal é um problema dos portugueses. E os portugueses são o problema de Portugal.
Em outras épocas, nas horas críticas houve sempre quem marcasse encontro com a História. Não duvido que fossem poucos, certamente uma minoria decidida, mas houve gente para levedar a massa e erguer triunfantes as bandeiras que ameaçavam perder-se no chão do esquecimento.
Na hora que passa, parece que somos já apenas uma massa amorfa que se sentou a ver a história pela televisão. E o pior de tudo é ver tantos e tantos com responsabilidades a reservarem para si lugares de espectador. Não posso conformar-me, não compreendo, não aceito.

A isto se chama governar-se

"Os partidos políticos do sistema, os que têm o poder de legislar e decidir, ou seja, os partidos, todos, com assento parlamentar permitem-se tudo e julgam que tudo lhes é permitido, tal é a convicção de impunidade que têm. Há muito pouco tempo permitiram-se aumentar, em plena crise, as subvenções estatais para o seu próprio financiamento."
(Ler mais aqui).

quinta-feira, maio 14, 2009

Lição de microeconomia

A JP Sá Couto ganhou a liderança do mercado nacional de portáteis no primeiro trimestre de 2009 em virtude das vendas do portátil Magalhães. Neste período, a empresa portuguesa apresentou um crescimento de 3.311,4% face ao mesmo período de 2008, o que correspondeu a 212 mil unidades vendidas.

Os números obtidos neste trimestre pela JP Sá Couto (empresa que antes até devia dinheiro ao Estado) representam assim um crescimento de 3.300 % em relação a igual período do ano passado.
Percebem porque para ser empresário bem sucedido se deve ser amigo de quem governa? E que a montante da corrupção propriamente dita se situa um problema nacional ainda mais profundo e muito mais difícil de resolver?

quarta-feira, maio 13, 2009

Declaração de voto

Na hora que passa é fundamental conseguir fazer história aproveitando as oportunidades que a própria história nos oferece. Pelo seu valor simbólico e moral, dar uma bofetada ao regime nas próximas eleições europeias seria um acontecimento da maior relevância.
No próximo dia 7 de Junho, na Eleição para o Parlamento Europeu, os portugueses precisam de dar um sinal claro de que querem mudar o rumo de Portugal. Por isso, eu voto em Humberto Nuno de Oliveira e no PNR.

Gregarismos

Um homem só que tenha razão tê-la-à contra o mundo todo... Procuro conforto nessa certeza, quando me sinto fraquejar. É um consolo para a obstinação, talvez uma desculpa para a vaidade autocomplacente - mas não deixarei que a solidão leve a melhor. O instinto gregário é frequentemente uma fraqueza: a necessidade de sermos acompanhados, apreciados, talvez amados, leva-nos a todas as cedências e negações. Antes só.
Aqui ao lado, o mais constante e encorajador dos amigos, João Marchante, escreveu também sobre as suas "pessoalíssimas obsessões", declarando "preocupante que tanta gente se interesse pelos meus pensamentos e sentimentos, na medida em que eles não batem certo com cartilhas de nenhuma espécie"... Anime-se: podem ser só coincidências pontuais. Eu, por exemplo, que o visito todos os dias, fico sempre horrorizado com os seus gostos musicais... Mas quase sempre encontro no tasco algo de que verdadeiramente gosto.
O que conta, como disse outro, é que cada um se identifique completamente com o seu próprio caminho, mesmo que não consiga descortinar-lhe um luminoso final.
Querer, querer, e lá vamos...

O Homem e a Cidade

Um amigo, e cúmplice, FSantos, fala hoje sobre "o desespero e a estranheza do homem moderno num mundo frio e sem valores", discorrendo sobre "A solidão na grande cidade". Do cinema que fala não posso falar eu, que o não conheço, mas dos sentimentos evocados...
O que pensei logo dizer-lhe foi que passo todo o tempo numa pequena cidade (há muito muito tempo!) e as mesmas sensações me acompanham aqui, como lá...
A verdade é que o mundo é o mesmo em qualquer lado (deve ser a isto que chamam a mundialização). E nisto está o drama do nosso tempo: ou um homem se deixa pouco a pouco vencer, afundando-se na rotina e na futilidade, ou caindo em abismos ainda piores, ou não pode fugir dessa frieza e desse desespero... Fico desolado quando alargo o olhar a tantos conhecidos, de tanta vida passada. A vida mata mesmo muita gente... Por vezes, ainda é a solidão que nos salva.

terça-feira, maio 12, 2009

Na SHIP, a 15 de Maio: homenagem a António Manuel Couto Viana

No próximo dia 15, António Manuel Couto Viana será alvo de mais uma homenagem pela sua vida e obra.
Os conferentes são os drs. João Bigotte Chorão e António Leite da Costa, e haverá ainda a participação musical de José Campos e Sousa.
Um serviço à cultura portuguesa, a crédito da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com encontro marcado no Palácio da Independência.

segunda-feira, maio 11, 2009

O estranho caso dos pastéis anões

Apesar do título, não se justifica a intervenção de Mr. Poirot. Esta é apenas outra nota de excursão, em jeito de desabafo, ou queixume, dirigido aos amigos lisboetas. Com efeito, o caso a que me refiro não tem mistério de maior e a explicação está ao alcance de qualquer um. A quem conheça a famosa casa dos pastéis de Belém desde há uns trinta anos e passe por lá de tempos a tempos é impossível não reparar o modo extraordinário como as instalações cresceram, furando por todo o quarteirão, e os preços acompanharam o crescimento, trepando a alturas antes inimagináveis... O espaço e o preço responderam à procura, que faz do sítio um corropio permanente de turistas consumidores, alinhados em longas filas, àvidos de provar também o emblemático manjar. O pior, porém, aconteceu aos pastéis. Com eles passou-se um fenómeno inverso ao aumento das instalações e dos preços: encolheram, encolheram, e hoje parecem pastéis miniatura, daqueles feitos para amostra.
Qualquer dia começam a ser vendidos em comprimidos, pré-embalados em caixas de seis e de doze.
E, para ser franco, estão cada vez mais sensaborões.

Notas lisboetas

1- Foi bom ver o velho Cais das Colunas, de novo no sítio. Valeu a pena rodear o imenso quadrado de altos taipais que ocupa e esconde o Terreiro do Paço, vencer os obstáculos semeados por ali para dificultar a marcha do indígena mais paciente. Junto ao rio, a transparência da tarde deixava ver até ao outro lado. Os perfis da margem denunciam as enormes mudanças, com prédios altos a marcar a linha do horizonte em diversas zonas onde nada havia. Mas o Tejo, era o mesmo Tejo.

2 - A Estação Sul e Sueste (chamava-se assim nos tempos em que eu era utente regular, Barreiro-Lisboa e Lisboa-Barreiro) está com um aspecto lastimoso. Não era pedir muito solicitar a quem tem poderes de administração sobre aquilo que mandasse caiar o edifício. Bastavam dois ou três pintores, e em menos de uma semana a estação aparecia de cara lavada aos olhos das centenas de milhares de pessoas que ali têm que passar todos os dias. Olhem que custa muito pouco, infinitamente menos do que irão pagar daqui por algum tempo a algum luxuoso atelier de arquitectos socialistas por um pomposo projecto de requalificação...

3 - Descendo a Rua da Misericórdia e prolongando a vista por toda a extensão da Rua do Alecrim, divisa-se ao longe a brilhar um belo pedaço de Tejo, em tons de azul e prata... Dali de cima, pela graça do Camões, nem se adivinham os horrores que praticaram no Cais do Sodré. Mais vale lá não ir, e virar à esquerda no Largo das Duas Igrejas.
A surpresa tão lisboeta de passar uma esquina e dar com o olhar em mais um fragmento de Tejo, adormecido lá ao fundo, nunca deixou de me provocar o mesmo deslumbramento. Fosse eu pintor, fosse eu pintor...

4- A Livraria Artes & Letras, no Largo Trindade Coelho, viradinha para São Roque e para a Santa Misericórdia, tinha uma montra que me deixou de água na boca (a expressão não nasceu para isto, mas já agora também pode aplicar-se aos livros). Tinha ali a desafiar-me e a piscar-me o olho não um, mas vários alfarrábios que eu não tenho e bem gostava de ter... Paciência.

Soltas

1 - Pensar é mais fácil do que transmitir um pensamento. Onde eu falei em balanço, ali atrás, queria essencialmente apelar a um ponto da situação. Não pensei em fechar o estabelecimento. Fica feita a rectificação: tentava olhar à distância de seis anos, e comparar o que havia e o que há, o que mudou e o que permanece, o que foi feito e o que falta fazer. Gostava que outros fizessem o mesmo exercício, mesmo que só para si mesmos.

2- Ontem na Mouraria, foi dia da procissão da Senhora da Saúde. Colchas ricas nas janelas, pétalas rubras pelo chão, almas simples, povo rude... Mais um Sol de Primavera, o repicar dos sinos a encher o ar desde a encosta do Castelo à praça da Figueira, ao Martim Moniz... Personalidades, só eu, a Maria Cavaco, e o Costa, da Câmara. E com um ar contrafeito lá ia debaixo do pálio o D. Januário, o eterno Bispo das Forças Armadas, que deve andar de mal com o Condestável.

3- Já sei que amigos meus foram para Campo de Ourique, partilhar a alegria pela canonização de São Nuno de Santa Maria. Ando sempre desencontrado.

sexta-feira, maio 08, 2009

Balanço?

Ao iniciar a minha presença na blogosfera, vai fazer seis anos, e para além de outros motivos de carácter mais pessoal, tinha presente o objectivo concreto e imediato de conferir expressão pública, por este meio, a um conjunto de ideias que há muito não a tinham. Conhecia perfeitamente a situação de bloqueio existente nos meios tradicionais, e surgiu-me como viável e até vantajoso o investimento neste campo que se abria a essa aventura. A blogosfera seria a voz dos que não a tinham nos restantes media.
Existia portanto, desde o princípio, uma visão instrumental da blogosfera e da internet, e um programa consciente e assumido. Conspiração certamente que não, já que o projecto foi rigorosamente individual e nada tinha de oculto ou inconfessável. Mas programa existiu. Tratava-se de trazer a direita (o conjunto das direitas, que eu nunca esqueço a pluralidade intrinseca no conceito) de novo para a vida pública, para o debate político, para a batalha das ideias. Era ambição demais? Admito, mas era preciso.
Primeiro que tudo construir um foco de irradiação com epicentro na blogosfera, e estar atento ao que ocorria fora dela. A seu tempo se veria o mais.
Entretanto, passaram quase seis anos, seis anos em que efectivamente houve essa presença aqui, para o melhor e para o pior. Estivemos presentes. Seja qual for o balanço a efectuar, as marcas dessa presença estão à vista, disponíveis a todos, podendo cada um fazer o seu inventário de perdas e ganhos.

quinta-feira, maio 07, 2009

A opinião que se publica

Aquilo que se convencionou chamar a esquerda ocupou e domina desde há muito os "aparelhos de condicionamento intelectual". Não só os meios de comunicação social (v. g. os jornais, as rádios, as televisões, que "fazem" eleições, mentalidades, costumes e opiniões), mas também as escolas e universidades, o teatro ou o cinema, etc., etc.
Pensemos tão só na comunicação social de massas, onde a direita normalmente soçobra.
Esta é sem dúvida uma das questões-chave da nossa época. Nem sempre é verdade que "a opinião pública é a opinião que se publica", como dizia um político português pouco lembrado, mas o certo é que tendencialmente aquilo que é publicado instala-se nos espíritos e conforma-os aos pontos de vista, à mentalidade, aos lugares comuns que são transmitidos como tal.
Os aparelhos de condicionamento mental não são meros "transmissores de mensagens", são eles próprios criadores de mensagens e modeladores da sua época.
O que fazer?
Francamente, não parece que haja soluções mágicas. E as tentações que por vezes surgem de concorrer no mesmo terreno são absurdas: não se podem criar de repente jornais "nossos", ou televisões "nossas"... Os recursos financeiros e humanos para isso não existem, nem existirão porque esses mercados estão saturados com o que está.
As únicas formas viáveis e realistas de combater no imediato esse estado de coisas consistem num combate político e cultural a prazo que neste momento passa por um lado pela aposta decidida na internet (meio privilegiado e definidor do futuro, cujo domínio e controlo está inteiramente em aberto) e por outro lado passa por pressionar sistematicamente o que existe (os jornais ou as televisões, precisamente porque dependem de um mito chamado "opinião pública", não podem resistir infinitamente a pressões conjugadas do exterior, seja de colaboradores activos que contestam a linha vigente, seja de grupos organizados que protestam contra conteúdos, que promovem campanhas, que usam largamente o mail, o fax, o telefone, o correio, para bombardear as redacções e as oficinas ideológicas, contestando o que rejeitam e reclamando o que promovem).
Num movimento em tenaz, quer utilizando a internet como o terreno privilegiado para vastos movimentos de opinião que necessariamente chegam também aos detentores dos canais da comunicação tradicional, quer fazendo sistematicamente guerrilha ideológica e psicológica sobre os alvos, as barreiras vão cedendo.
O condicionamento também pode funcionar ao contrário, desde que haja talento e vontade para aproveitar eficazmente os instrumentos disponíveis.
Como costumo dizer habitualmente em voz baixa e a mim mesmo, se houvesse cinquenta ou cem somente que percebessem o que é preciso fazer e o fizessem bem e resolutamente, a vitória estava já ali.

quarta-feira, maio 06, 2009

Todos ao centro?

Anda aí de novo a febre do bloco central, partilhada aos mais altos níveis do Estado, da Finança, e da Indústria...
Comungam dela o venerável Chefe de Estado, e os mais respeitáveis pilares do regime.
Aguarda-se só o resultado das legislativas para definir os termos da negociação possível.
Todavia, até lá, interpõem-se três eleições - e o espectáculo tem que continuar.
Para já, estão aí as europeias. O desinteresse geral, os consensos moles, ameaçam matar a política. E a partir de certo nível o grau de abstenção envergonha qualquer um, mesmo os eventualmente beneficiados pela franja votante.
Que fazer?
No imediato, e quanto a estes por imperativos cénicos, a crispação entre os principais actores terá que aumentar, o tom da disputa tem que subir, sob pena de não haver nem campanha nem votação que se veja - e no fim não ficar senão um imenso bocejo e votos que não chegam para tapar o fundo às urnas.
E para os outros partidos, os que lutam para se afirmar e não o poderão fazer dançando sonolentamente ao som da música dos instalados? A esses não resta outra hipótese que não seja jogar ao ataque, radicalizar o discurso, tornar clara a sua diferença aos olhos do eleitorado. O social-civilizadismo, a respeitabilidade burguesa, o "todos diferentes, todos iguais, todos porreiros", é inevitavelmente a desistência do combate e a aceitação da derrota.
O que está não nos serve; revoltemo-nos, pois, e ousemos dizê-lo radicalmente. Não à corrupção, não à injustiça social, não à incompetência da classe dirigente mais venal e medíocre que Portugal alguma vez sofreu na sua longa história.
Ousemos assumir o Povo e a Pátria, ousemos resolutamente construir uma direita nacional, popular e social, jovem, irreverente e inconformista.

terça-feira, maio 05, 2009

Os resultados das sondagens

Nesta fase incipiente da pré-campanha para as eleições europeias as indicações fornecidas pelos resultados de sondagens divulgadas nos últimos dias motivam algumas reflexões ligeiras.
Ao observador mais superficial, o que se destaca é o empate técnico entre PS e PSD. Neste momento, o PS tem possibilidades de vitória (vitória significa ficar em primeiro lugar...) o que não é nada mau. Ninguém lá em casa lembrará a perda de deputados em relação às anteriores eleições: qualquer perspectiva de ficar à frente, depois de todas as tempestades, provoca um enorme suspiro de alívio nas hostes socialistas.
Quanto ao PSD, os resultados destas sondagens provocam um sentimento misto de decepção e de esperança. Depois de tanto descontentamento com Sócrates e o seu governo (que é real), a manutenção do PS na situação em que surge relativamente ao PSD não pode deixar de entender-se como uma manifestação de incapacidade própria. Este PSD não consegue impor-se como alternativa, não é capaz de descolar, muito menos de levantar voo. Só falei em esperança porque apesar de tudo os sinais de crescimento apontados à candidatura permitem acalentar alguns sonhos sobre os resultados de daqui a um mês. Podem ser menos maus...
Depois, surge a confirmação do Bloco de Esquerda. O partido da burguesia urbana progre acabará em terceiro lugar, mais ou menos destacado, aumentando a sua representação parlamentar. É bom para eles, inegavelmente. Há dez anos eram apenas uns filhos família a brincar às revoluções, hoje são o terceiro partido nacional - conseguindo frequentemente rebocar os maiores nas causas que lhes impõem, aproveitando o vazio ideológico destes.
A seguir ficará a CDU, obviamente. Para um partido envelhecido e cansado, muito reduzido a um eleitorado de reformados e idosos e a uma base rural em vias de desaparecimento, aguenta-se bem, embalado pela crise. O rumo da decadência não se inverte, mas atrasa-se-lhe o ritmo.
Claro que somando as votações previstas para estes dois atinge-se um número que, seja de 15% ou de 20%, significa sempre uma dimensão inaudita de votos "comunistas", o que representa um facto anómalo em qualquer país da Europa nesta época em que o comunismo ou desapareceu ou envergonhou-se. Nós não podemos deixar de sorrir: se a tanta gente repugna qualquer participação política, se tantos recusam até o gesto simples e banal de votar, como podem estranhar que aumente a expressão percentual daqueles que efectivamente marcam presença?
Finalmente, e como nota mais saliente, o descalabro do CDS. É preciso reconhecer que dificilmente o eleitor encontraria motivos para votar no CDS, pensando em termos de política europeia ou de política interna. No que se refere à Europa o CDS apagou voluntariamente qualquer traço que o distinguisse do PSD, formalizando mesmo essa mudança com a sua integração no Partido Popular Europeu. Logo, quem se reveja nessas posições mais vale votar no PSD. No respeitante à política interna torna-se demasiadamente evidente que a única finalidade da continuação do partido é arranjar uma boleia para a área governamental, seja do PS seja do PSD. Apesar de tudo, o povinho não gosta disto.
Acresce o factor Paulo Portas: este, na realidade, transformou-se no problema, depois de ter andado a vender-se como sendo solução. Actualmente, quando ouvem PP e o vêem sorrir os portugueses reparam que o sorriso é fingido e quando o ouvem falar de semblante sério e carregado sabem que também a seriedade é representação. Como político está irremediavelmente descredibilizado, e não resta quase ninguém para votar num actor.
Portas conseguiu a proeza de alienar também o eleitorado CDS, depois de ter começado por alienar e deixar na organdade o eleitorado PP. Agora nem CDS/PP, nem PP, nem CDS.
Pode esta situação abrir espaços, oferecer oportunidades? O Partido da Nova Democracia, de Manuel Monteiro, desapareceu das ofertas disponíveis neste concurso. Resta o Partido Nacional Renovador, à direita. E falta um mês para ver os resultados que contam.

segunda-feira, maio 04, 2009

As sondagens

A um mês das eleições europeias, começou, com naturalidade, a guerra das sondagens.
Em primeiro lugar, teria que dizer-se que elas se apresentam à partida condicionantes das próprias opções de voto pela selecção prévia feita pelos responsáveis pelas mesmas. Se são contactadas telefonicamente mil pessoas com telefone fixo para lhes perguntar simplesmente "se as eleições fossem hoje diga qual seria o seu voto de entre as opções seguintes: partidos A, B, C, D, E, Outros, branco, nulo, abstenção", obviamente que a pergunta condiciona os resultados obtidos. Afasta e diminui desde logo aqueles partidos, presentes no boletim de voto, em que os inquiridos até poderiam estar tentados a votar - mas que dessa forma são como que eliminados, por reflexo condicionado... Poucas pessoas se sentem gratificadas em serem integrados nos outros, nos inominados, sendo inconscientemente atraídos para os que têm nome próprio e são individualizados na pergunta.
Depois, segue-se a conhecida tendência para manutenção de respostas dadas. Some-se a isto todo o conjunto de efeitos que a divulgação dos resultados normalmente procura induzir (desde a moralização dos adeptos daqueles que são anunciados como estando à frente até à mobilização dos partidários daqueles que são apresentados como estando logo atrás) e creio que ninguém negará que a realização e a divulgação das sondagens tem que encarar-se como fazendo parte da luta política, e não de uma eventual ciência social que se limitasse a tê-la como seu objecto.

Correcção linguística

Não resisto a partilhar com os leitores um exemplo, involuntariamente humorístico, das consequências do políticamente correcto.
O que se passa ao nível da linguagem, onde os preconceitos impostos pela correcção impõem graves limitações à liberdade de expressão, e à própria possibilidade de expressão autêntica e rigorosa, deviam ser suficientes para nos alertar sobre os perigos para a liberdade de pensamento que esta funesta mania ideológica traz implícita.
Estava aqui a reparar num "auto de denúncia", preenchido numa esquadra da PSP, onde um cidadão se queixou de que foi vítima de roubo. Trata-se evidentemente de um modelo em uso actualmente na PSP. Depois de fixar a atenção, fazendo um pequeno esforço interpretativo, entendi que o queixoso, na hora e local que refere, foi assaltado por três indivíduos jovens, um deles usando arma branca, que lhe levaram a mala com um computador e outros pertences. Dos três assaltantes dois eram brancos e outro era mulato, e aqui é que está o busílis. O modelo de "auto de denúncia" tem prevista a identificação dos "suspeitos desconhecidos" pedindo que se indique "sexo", "altura", "compleição", "estatura", "idade", "indumentária", e... bem, raça evidentemente que não podia ter. Agora ninguém tem raça, muito menos cor. Então, no sítio onde dantes constaria "raça" algum iluminado inseriu agora o item "ascendência". Confesso que neste ponto deu-me forte vontade de rir, pensando como deve ser difícil a um assaltado calcular a altura ou a idade aparentes dos assaltantes - quanto mais saber de quem eles são filhos... Mas, regressando ao sério do caso, evidentemente que ao pedir-se a "ascendência" não se está a solicitar a identificação dos progenitores (o politicamente correcto é cheio de subtilezas e subentendidos, no que se refere à semântica). Claro que aquilo que se procura saber é outra coisa; mas se é difícil perguntar também é muito difícil responder sem transgredir. Vai daí, no local onde se indica a "ascendência" dos dois assaltantes que qualquer humano normal diria que eram brancos ficou escrito "Ocidental". E no sítio onde o mesmo homo vulgaris diria mulato, ou mestiço, ou qualquer termo que exprimisse um fruto do cruzamento entre brancos e pretos, surge escrito "euro-africano".
Não será preciso observar que no "Ocidente" tanto podem nascer brancos como pretos, e que do "Oriente" tanto podem ser naturais brancos como "africanos", para sublinhar a intrínseca estupidez destes modernos códigos linguísticos.
Tem que se possuir um dicionário secreto e não escrito, onde figure a equivalência entre as designações geográficas e as características físicas que se pretende descrever, para poder interpretar o "auto de denúncia".
Assim vamos já, em Portugal. Noutras paragens dizem-me que ainda é pior.
Eu nem comento. Tento na língua, que quando menos se espera escorrrega-nos o pé para o ilícito criminal.