sábado, setembro 30, 2006

A politic of fear and desinformation

Bloggers e Media

Bush na Europa

Debates

Mais sobre Céline

Escolhas do dia

Yussupov e os cigarros do meu avô

Hemingway, o criminoso de guerra

O Compromisso Portugal

Bizarro Conservatism - And its discontents

Refundações

Refundar a Escola Primária

Entrevista com Laurent Lafforgue: «Il faut refonder l’école primaire».

Petição: Apelo pela refundação da escola.

(Sublinho a importância de ler todo o apelo, a pensar na realidade portuguesa).

Mentiras e Consequências

"Não havia nada que Aznar e o “bando dos quatro” das Lajes soubessem então que lhes permitisse fundamentar a invasão do Iraque, e o que hoje se sabe de novo é apenas a confirmação de que eles mentiram então. "
(Miguel Sousa Tavares, no "Expresso")

Direita: as oportunidades e a substância

"Além dos suspeitos do costume, há novos candidatos ao «take-over» ou à inspiração do “povo da Direita”. E a marca “direita”, desvalorizada pelo «marketing» político desde Abril de 1974, tornou-se atractiva."
(Jaime Nogueira Pinto, no "Expresso")

sexta-feira, setembro 29, 2006

A pedido


Tendo sido solicitado o célebre cartaz da manifestação do 28 de Setembro, com a representação da "maioria silenciosa" no traço de Francisco Hipólito Raposo, aqui fica o dito cujo. Muito a contragosto, que isto de apelar ao Caco Baldé, e falar em apoio a monóculo de tão curto alcance, e ao "programa do MFA", ainda hoje me dá voltas no estômago. Coisas da política...
A propósito, também recordou o 28 de Setembro o Interregno.

Sorry!

Peço desculpa: a falta de tempo não me tem permitido actualizar o blogue com produção própria. Mas não quero deixar o respeitável público sem animação. Ela aí está.

Humor no Abu Dhabi

True lies

Guantanamo tales

quinta-feira, setembro 28, 2006

Diogo Freitas da Costa

Ver:
Catálogo
Ilustrações
Desenho livre

Onde se lembrou o 28 de Setembro

A Voz Portalegrense
O Futuro Presente
O Povo
Atlântico

quarta-feira, setembro 27, 2006

Because he said so!

Interlúdio humorístico

Interlúdio humorístico

Glórias efémeras

Há glórias muito passageiras. São como rosas de um dia.
Como eu desconfiava, o estranho entusiasmo gerado à volta do Papa Bento XVI na sequência do seu já célebre discurso de Ratisbona não resistiu à passagem de uns breves dias.
Muitos dos elogios e encorajamentos não se baseavam no que se disse, que era aliás geralmente ignorado, antes aproveitavam para tentar cavalgar uma onda, visando intenções de todo alheias às do Papa.
Não me refiro às reacções ocorridas no mundo islâmico, as quais obviamente também não é possível situar numa relação causa-efeito com o teor do discurso e, ao contrário, são completamente independentes do que foi dito.
Refiro-me antes ao coro suspeito e pouco afinado que se fez ouvir do lado de cá. Com efeito, no mundo ocidental as palavras do Papa têm ainda razoável audiência e foram ao depois divulgadas. Ora se no universo islâmico essas palavras não interessam, sendo indiferente o seu conteúdo, a verdade é que do lado de cá a divulgação do discurso teve uma consequência fulminante: gelou boa parte do auditório, e calou o coro.
Desde que o discurso começou a ser lido veio ao de cima o mal estar; e o Papa começou a apanhar de todos os lados, como é destino inevitável de quem ouse levantar a voz contra o espírito do tempo, e o seu programa de realização.
Fanaram-se as rosas; tudo regressou à normalidade.

SOS Racismo

Manifestação Anti-Racista no Porto, no próximo sábado.

O homem que queria ser rainha de Inglaterra

Segundo leio nas gazetas, abrilhantadas por fotos felicíssimas da personalidade em causa, sempre exibindo o reluzente marfim, em sorriso rasgado de orelha a orelha, o Prof. Cavaco está muito satisfeito.
Numa das notícias assegura que está muito contente porque a área ardida na época dos fogos deste ano foi inferior à do ano passado.
Noutra notícia faz saber que também o encheu de satisfação a escolha do novo Procurador-Geral da República, pessoa de altíssimas qualidades.
Em múltiplas notícias à volta exibe-se o seu contentamento com o nosso relacionamento com a Espanha, que atravessa, como é de sublinhar, o melhor momento de sempre.
Não há como não reparar: o Prof. Cavaco está contente. Afinal, a boa moeda triunfou sobre a má moeda. Ele é Presidente da República! E a Maria também!
Não se julgue que esta alegria resulta de alguma reencarnação tardia do Dr. Pangloss.
Nem se pense que nasce de alguma crença ingénua em teorias lidas outrora nos livros de economia, sobre expectativas. Não senhor, só um cínico pensaria nesses termos sobre o povinho (vamos injectar-lhe optimismo, que se eles creditarem que tudo vai bem as coisas ficarão certamente melhores).
Não senhor, aquilo é genuíno, isento de qualquer cálculo mesquinho. O homem anda mesmo contente.
Vai dedicar-se jubilosamente às tarefas que idealiza como sendo as presidenciais. Muita representação, muita cerimónia. Só dignificação e institucionalismo. Sobretudo, nada de crispações. Solidariedade é que é. Um Presidente tem que chegar ao fim do mandato muito mais consensual do que começou.. A meta é sair pela porta grande, por entre a veneração geral. Mesmo que para isso seja necessário tornar-se uma completa irrelevância meramente ornamental, que a Rainha de Inglaterra aliás não é – ao contrário do que se julga na corte de Lisboa.

terça-feira, setembro 26, 2006

Descobertas, descobertos e descobridores

Este fim de semana que passou travei conhecimento, sem querer, com uma transcendente polémica que segundo parece dá para aquecer ânimos lá pelo imenso Brasil.
Encontrei um brasileiro, velhote, em visita turística a Portugal, que a propósito e a despropósito repetia, de dedo em riste, suplicando a emenda de um erro histórico: “mas Cabral não descobriu o Brasil, não!!!”.
A insistência surpreendeu-me, percebi que aquilo era importante para ele, e não o contrariei. Diga-se aliás que ninguém o contraditou, apesar das tentativas dele para encontrar alguém com quem discutir o seu ponto de vista.
A bem dizer, sorri para dentro: ele tem razão, se pensarmos com um pouco de rigor. Cabral não descobriu o Brasil, evidentemente. O Brasil formou-se com o tempo, foi uma construção que custou mais de trezentos anos de esforço, de sacrifício, de trabalho sem fim. Muito sangue, suor e lágrimas, como diria o outro, e o Brasil nasceu. Tinham passado mais de trezentos anos desde que Cabral havia desembarcado.
De maneira que não me apeteceu contrariar o brasileiro velhote (pareceu-me aliás que ele não devia sofrer de manias nativistas, na verdade tinha ar de filho de português e não de índio), e nem quis concordar com ele da pior forma, que seria lembrar-lhe que o Brasil era então coisa inexistente, que Cabral nunca poderia por isso descobrir.
A obsessão é talvez inofensiva, mera fruta da moda, e não merece excessiva atenção.
Pensando no assunto recordei um encontro de há uns anos com o famoso antropólogo Cláudio Villas-Boas, então de visita à Universidade de Évora.
O conhecido estudioso e protector dos índios do Amazonas, a que dedicara décadas da sua vida, não era um defensor de nenhuma das ideias feitas que circulam com geral aceitação da vulgata em uso. Não andava a espalhar moeda falsa.
Explicava melancolicamente que não acreditava na “preservação das culturas índias”, de que tantos faziam bandeira. Percebia perfeitamente que a História está repleta de culturas que desaparecem. E que a assimilação da sua gente significa efectivamente o desaparecimento daquelas sociedades, que só poderiam sobreviver num isolamento tornado impossível.
Mas Villas Boas questionava mais longe e mais fundo: podemos nós, os civilizados, passar o tempo a proclamar os direitos fundamentais de todos os homens à educação, à habitação, à saúde, etc. etc. – e ao mesmo tempo propor como programa (a bem da preservação das sociedades indígenas!!) que certos grupos predefinidos de seres humanos sejam acantonados em reservas (zoos?), cuidadosamente separados do resto do mundo, para que possam continuar a viver na idade da pedra?
Afinal, esse programa tem por fim garantir a felicidade deles, que “têm direito ao seu modo de vida”, ou visa apenas dar-nos satisfação a nós, que somos cultos e civilizados e gostamos de ver ursos e bisontes em parques naturais e fotografar “homens primitivos” em reservas exóticas?
Cabral não descobriu o Brasil. Mas não há dúvida que os ameríndios que ele lá encontrou também nunca o descobriram, nem nunca o teriam descoberto.

Terceiro Milénio

Teoria Política para o Novo Século

A gravidez é uma doença sexualmente transmissível?

Um oportuníssimo comunicado da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Ventos de leste

"A estratégia da mentira", ou a situação na Hungria vista por Rodrigo Nunes.

Matutinas

Ibéria, nossa salvação? (crónica)

Osama bin Laden, R.I.P.?

domingo, setembro 24, 2006

Destaques

A elevação do "Je Mantiendrai", ou um pungente "Destes já não reza a nossa História".
A promessa d' "O Estado do Tempo", ou uma força de que estamos precisados.
Finalmente em tradução portuguesa, as palavras de Bento XVI na Universidade de Regensburg.

Céline em português





Secundando modestamente os propósitos do Dragão de dar batalha à mediocridade infestante, abre-se uma excepção (este lugar é normalmente parco em bonecada) e aqui ficam as capas de alguns dos títulos de Céline traduzidos para português.

Mencken

H. L. Mencken: The Joyous Libertarian - by Murray N. Rothbard.
Uma interrogação que há muito trago comigo: porque será que a enorme tribo dos americanos de expressão portuguesa, que enchem a tela e os jornais, sempre ignorou ou fingiu ignorar Mencken?
Se mesmo Rothbard se prostra a seus pés; se dificilmente se encontra maior ... de onde nasce tão notório silêncio?
Solicitam-se explicações de quem as saiba, que as fracas luzes deste sítio não chegam.

Sobre a tortura, ou o enfraquecimento da ideia de Direito

Torture Chic: Sign of Decadence - by Allan Bock.

He Wrote the Book on Torture - by James Bovard.

Sugestões de leitura

Dois livros, a não esquecer nas próximas visitas às livrarias:
"Portugal como Problema" (I vol.), antologia organizada por Pedro Calafate e José Luís Cardoso.
"História Diplomática Portuguesa", de Jorge Borges de Macedo.

Para esta manhã, o apontamento de Nuno Rogeiro: "Os cavalos de Tróia".

sábado, setembro 23, 2006

Artigo de fundo

Aquecimento Global, por Manuel Brás.

Notícia do dia

Navega de novo o Euro-Ultramarino.

A última estação

Louis Ferdinand Céline, por ele mesmo.

sexta-feira, setembro 22, 2006

António de Navarro e o fio dos sentidos

No"Ave Azul", de Martim de Gouveia e Sousa, um valiosissimo ensaio: António de Navarro e o fio dos sentidos.
Aprendi muito com a leitura. O meu conhecimento sobre a obra do poeta datava dos seus anos do fim, e era um conhecimento em marcha-atrás: do fim para o princípio. O estudo do "Ave Azul" levou-me aos primórdios e à maturidade criativa do poeta que só conheci já velho, desgostado e fragilizado pela doença e por tudo o mais que lhe tinha ferido a alma.
Era um íntimo da redacção de "A Rua", onde aliás saíram os seus últimos versos, levados por ele em mão ou trazidos pela mão amiga de Couto Viana. Nas páginas de "A Rua" ficaram também importantes contributos para o conhecimento do homem e da sua obra, saídos da pena generosa e sabedora de António Manuel Couto Viana.
Dessa época ficaram dois livros, "Guitarras em Madeira d'Asa" e "O Acordar do Bronze".
E não falarei mais de tristezas, como teria de fazer se continuasse a lembrar o ocaso de António de Navarro, só e amargurado. O que conta é o que ficou, e a descoberta e valoração literária dessa herança caberá à gente da arte e da literatura, no caminho do que fez agora o "Ave Azul".

Em força

Passou a gripe ao Direita Conservadora: voltou em força!

O Rui Teixeira Santos é um pândego!!!

Um lugar de culto

Satânico? Luciferino? Fogo dos deuses? Sarça ardente? Sei lá!! Magnífico Dragoscópio! Que nunca essa chama nos falte!
"O Ocidente há muito que se entrega ao repasto dos vermes. O vírus anda a carcomê-lo há séculos. Já tem lombrigas que lhe cavalgam os miolos, ratazanas a minar-lhe os alicerces, bolores até à medula. Parece uma velha gaiteira, podre de gorda, toda besuntada de cremes, botokes e silicones, toda aparelhada de próteses e sobressalentes, toda esticada a plásticas. Mas o ocidente está oco, é um espantalho sem nenhuma alma lá dentro, com uma cruz de madeira a imitar esqueleto, mas carcomida e minada pelo caruncho. Uma reles máquina automática de salsicharia; uma burocracia de semi-robôs ao leme de subgorilas."

Recomenda-se

World Politics and Show Biz, by Justin Raimondo.

Achamento

Acrescentei nas ligações a Estrada de Damasco.
Ide por lá...

O clima espiritual da época

No excelente site da revista Permanência encontro um interessante estudo de Gladstone Chaves de Melo sobre "A decadência da língua literária". Vale bem a pena imprimir e ler. São só 16 páginas, e quantas verdades!
Uma das causa da "decadência da língua literária", segundo Gladstone, está no "clima espiritual da época". Julgai por vós mesmos.

O ambiente espiritual do nosso tempo é, em geral, de horror ao esforço, de imediatismo, de falta de sólida e madura preparação para a vida. A grande arma de vitória é a improvisação e a grande virtude, a audácia.
Uma perigosa filosofia do êxito fácil, conjugada com a filosofia do conforto, insinuou-se profundamente entre a nossa mocidade, alterando a concepção geral da vida, pela subestima dos valores éticos e privativamente humanos. Daí aquele horror ao esforço, a fuga à reflexão, a ausência de formação longa e fecunda. Daí uma atitude de espírito excessivamente independente, desrespeitadora dos valores morais essenciais e das autoridades naturais ou constituídas. Daí um obscurecimento da noção profunda de "dever", entendido como uma necessidade moral, como uma fidelidade do homem a si mesmo, um corolário da sua Personalidade. Substituiu-se esse conceito verdadeiro pela ideia de "dever" imposição exterior, a que se satisfaz por atos externos, superficiais, formais, faltos de toda substância moral, pois eles serão sonegados, falsificados ou defraudados quando falte o olho policial. É o espírito farisaico que se generaliza, a ética de aparências. Donde decorre e se alastra com pavorosa rapidez uma mentalidade de "sabotagem". Há uma forte tendência para desumanizar o trabalho, procurando cada qual tirar, na atividade que exerce, o máximo de proveitos, lícitos ou ilícitos (aliás é esta uma distinção que se vai esmaecendo!), e dar o menos possível de sua pessoa. Nada de trabalho entendido como dever moral e muito menos como obra de arte, em que o homem é pessoa cônscia de sua dignidade, e artista cioso de sua criação.
Não quero exemplificar para não ferir suscetibilidades, mas não se terá dificuldade em colher amostras.
Há dias, no interior, visitava eu a oficina de um velho marceneiro siciliano, habilíssimo no seu ofício, em que atingiu invejável perfeição. E, admirando a finura do lavor e o impecável acabamento de um guarda-roupa, lamentei que tão belo espécime se destinasse a pessoa da roça. Respondeu-me o artífice, na sua meia-língua: "Mas a obra é muito mais minha do que do freguês".
Estranhei e me alegrei de encontrar num homem rude tão bela concepção do trabalho, concepção essa que vai ficando anacrônica, mas que precisa de reviver a todo preço. No caso citado, a mentalidade corrente aplicaria o aforismo "para quem é bacalhau basta".
Pois bem: é essa falsa mentalidade, que se vai generalizando a ponto de constituir a "atmosfera" da nossa época a primeira responsável pela decadência da língua literária.
Alguém poderia achar quixotesca esta última sentença. Mas não o é. Tal decadência é apenas um sintoma, ou, se quiserem, um dos muitos efeitos daquela grande causa. Escrever bem exige observação atenta, meticulosa, estudo, reflexão, planejamento, e, depois, retoque, polimento. Tudo isso briga com o espírito da época.

Uma visão católica

Frescos

A DIREITA QUE NÃO HAVIA, por Jorge Ferreira (para ser lido mesmo pelos que legitimamente duvidam que já haja).

A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA, por Maria José Nogueira Pinto (um artigo notável, acreditem).

quinta-feira, setembro 21, 2006

Breves e leves

1- Parece-me que Jaime Nogueira Pinto e Miguel Freitas da Costa estão a apanhar-lhe o jeito e o gosto. Será que temos bloguistas, ou será sol de pouca dura? (Agora não é piada para o outro, o Sol de papel).
2- Aplaudo a lembrança dos documentários de António Lopes Ribeiro, e faço votos para que este grande esquecido venha a ser devidamente recordado na blogosfera. Ele foi realmente o "senhor cinema português", e era uma personalidade extraordinária. Uma das poucas personalidades extraordinárias que me foi dado conhecer. (Das ordinárias e das extra-ordinárias perdi-lhes a conta).
3- Quem podia falar da graça inigualável e inesgotável do António era o ACR. Agora que já cá não está o Manuel Maria Múrias, que ainda chegou a escrever quanto o considerava e o admirou sempre - terá que ser Cruz Rodrigues, que está habilitado como poucos para esse efeito.
4 - A Pós-Modernidade, ao determinar a impossibilidade da existência de qualquer essência, de qualquer natureza permanente (o “naturalismo” rortyano, por exemplo, vê a natureza como “mutabilidade” sem qualquer possibilidade de referência permanente ao outro) que transcenda a perspectiva individual, impede a existência de uma racionalidade de carácter vinculativo.
Pois é.

Confidência

Numa ocasião uma minha conhecida interpelou-me sorridente e gracejadora:
- Sabes o que é um chato?
E logo, perante a minha cara de ponto de interrogação:
- É alguém a quem perguntamos "como está?"... e ele diz!
A conclusão causou-me um arrepio, que nunca me passou. Regressa de todas as vezes que alguém me cumprimenta, e pergunta...
Obviamente, respondo "bem, muito obrigado". Mas sinto um gelo cá dentro que não vos diria se não fosse aqui atrás do computador.

Partidas

O que fazer?
Quando abruptamente deparo com a notícia triste do encerramento de um diálogo que eu mantinha mesmo à distância, mesmo no silêncio e no isolamento, no hábito todos os dias renovado de visitar um sítio que também já sentia meu, sinto-me sem palavras que possam dizer o que gostaria de dizer.
Por um lado tolhe-me o pudor de tentar intervir, repetindo como se só eu pensasse aquilo que pode já ter sido pensado e repensado muitas vezes (e doer). O desconhecimento do outro obriga ao respeito, miseráveis ignorantes que somos do seu ser e da sua circunstância.
Todavia, se não posso dizer, não posso evitar um profundo sentimento de perda. Nesta blogosfera esforcei-me sempre por estimular um espírito de comunidade, uma ideia de caminhada em conjunto que sai enfraquecida de cada vez que há baixas.
O Euro-Ultramarino é uma baixa importante.
Soma-se a perda a uma notória quebra de ritmo, uma ausência de vibração, que tomou conta da blogosfera por onde circulo, num reflexo desencantado do que se vai vivendo no mundo que não é o virtual.
A este respeito, e da progressão do cinzentismo entre os blogues, como lei fatal "da sociedade dos rebanhos, dos vazios de imaginação", comentou aqui o leitor BigMac.
Ai de mim, se for dele a razão. Apostei na singularidade do meio por conter uma hipótese de fuga à normalização que vai nivelando a comunicação tradicional. Se calhar, perco a aposta, como me costuma acontecer.
O leitor JSM dá razão aos meus remoques em relação às seringas, "salas de chuto e outras medidas de encorajamento das dependências por parte do Estado". Não é grande consolo ter razão nesses assuntos, dada a usual inutilidade do gesto.
Mas agradeço as atenções de ambos, BigMac e JSM.
O que não esqueço é o desgosto do outro, o que fechou a porta.

Eclesiologia

Tem sido divertido observar o empenho da multidão dos comentadores no aconselhamento e correcção de Sua Santidade o Papa Bento XVI.
De um ponto de vista católico, é difícil aceitar que o Espírito Santo tenha agora passado a assisti-los a eles nas matérias da condução da Santa Igreja.
Mas não deixa de ser um prodígio, eventualmente explicável pela intervenção divina (os Seus desígnios são insondáveis!) ver tanta gente que não acredita em nada, que sempre se vangloriou de não ter religião nem fé, a esforçar-se tanto por ensinar o Pai Nosso ao Papa.
Ainda assim, eu prefiro a Palavra d’Ele.

Ironias da vida

Uma notícia que está a causar estupefacção nas redacções é a da iniciativa dos reclusos que decidiram recorrer às vias judiciais para tentar impedir a introdução nas cadeias das famigeradas máquinas de distribuição de seringas.
O pessoal dos jornais, habituado a pensar apenas naqueles presos que dão o cu e matavam a avó só por uma dosezinha e uma seringa, não consegue entender esta anomalia. Exactamente como a gente que infesta os gabinetes ministeriais, com quem aliás costuma encontrar-se à noite para beber uns copos e trocar umas impressões, a rapaziada das redacções ignora tudo sobre o universo prisional.
Trata-se de um mundo complexo, onde coexiste muita gente que tenta sobreviver como pode. Uma parte muito significativa tenta precisamente sobreviver aos riscos que vêm das drogas, das seringas, das infecções, das doenças, das chantagens, da violência.
É difícil conseguir que o tempo passe e no fim sair incólume de tudo isso.
A avançada medida saída dos bestuntos das luminárias que nunca lá puseram os pés não ajuda nada, nem certamente contribui para a tranquilidade geral.
Eu recomendaria atenção a este irónico sinal de esperança: há muitos presos com infinitamente mais bom senso do que os governantes no que toca à condução da política prisional.

quarta-feira, setembro 20, 2006

A marcha da indiferenciação

As minhas insignificantes congeminações sobre o triunfo da uniformidade no universo mediático já foram superiormente corroboradas.
Joaquim Fidalgo escreveu no "Público": "Tenho, de há anos, a sensação de que [os jornais] vêm ficando cada vez mais parecidos uns com os outros: nos temas em que apostam, no grafismo com que se "refrescam", nos colunistas que fazem rodar entre si, no género de títulos, nas primeiras páginas até".
É de um homem se sentir reconfortado. Observa aqui calado e sozinho na solidão das berças, e chega aonde chegam as estrelas do firmamento observado.
Tenho para mim no entanto que mais profundo, perspicaz e interrogativo vem a ser o comentário do visitante Clark59:
"Não é só na imprensa que estas coisas acontecem. A uniformização do gosto, da estética e do conhecimento dá-se em variadíssimas actividades. Veja o Manuel, por exemplo, o caso do cinema europeu; ou das marcas de roupa; ou das sardinhas em lata. Estamos numa espécie de adolescência social em que a afirmação se dá pelo rebanho e não pela diferença."
Calhando, estamos mesmo. Um tempo em que a afirmação se faz pelo rebanho e não pela diferença...
Vou ficar alerta. Desde que a maleita não chegue aos blogues... Mas, como se calcula, não é provável que o fenómeno fique à porta.
Seja como for, julgo que estou vacinado. Nem em rebanhos nem em matilhas; a mim não me apanham nisso.

A ler

What's Wrong With American Foreign Policy?

terça-feira, setembro 19, 2006

O triunfo dos M-L

Eu ainda sou do tempo em que a luta política em Portugal pareceu cingir-se ao confronto Soares/Cunhal.
Era o que alguns de nós expressivamente descrevíamos como um combate entre a “esquerda Pestana & Brito” e a “esquerda sobrancelha e bruto”.
Diga-se que nunca levei muito a sério a possibilidade, que durante algum tempo parecia desenhar-se, de vitória do projecto político protagonizado pelo representante local da gerontocracia moscovita. A hipótese sentia-a tão exótica e extravagante como a criação de ursos polares na Amareleja.
Não partilhava portanto o susto da burguesia nacional, já aflita com a sorte das pratas. Não só porque nisso não podia acompanhar-lhe as dores, visto que não tinha pratas que me doessem, mas sobretudo porque acreditava eu, e quer-me parecer que muito realisticamente, que logo após cumpridos os deveres, que era sobretudo encaminhar para boas mãos todo o país de além-mar, sossegariam os próceres locais da estratégia sovietista. Os patrões eles mesmos lhes puxariam os freios, que não estavam para pagar preços disparatados e correr riscos incomportáveis para alimentar fantasias cubanas no Oeste da Europa. Medo disso tinham eles.
Ao mesmo tempo, encerrada a fase de deitar país fora, suspiraria aliviada a burguesia entretanto esquerdizada (aquela que tão bem se encontra nas memórias de Maria Filomena Mónica, que para este efeito de caracterização é documento valioso). Logo, ingressaria satisfeita e ronronante no regaço anafado do camarada Soares, com quem seguramente não corriam perigo as pratas e não havia a recear ultramares.
Triunfaria pois a “Europa”, no fim, como efectivamente triunfou. Teríamos muita democracia e eleições abundosas, como temos tido.
No entretanto, muito sofrimento ficaria para trás. Nos breves anos em que o panorama político se desenhava assim houve em Portugal mais presos políticos do que nos cinquenta anos anteriores. Morreu mais gente em certas semanas em que o Diabo esteve à solta, só em Angola ou Moçambique ou Timor, do que no total de todos os teatros de operações durante os famosos treze anos de guerra. Houve mais destruição, do Minho a Timor, do que em todas as calamidades naturais dos últimos cem anos, devidamente somadas.
Mas o que a História diz é o que dizem os que a fazem, e a verdade é que todas essas fatalidades só deixaram para as lamentar a direita a que veio agora a chamar-se dura, aquela que pagou o preço necessário – tanto no que se refere ao fim do “pesadelo africano” que afligia a “direita mole” como no que se refere ao enfrentar da ofensiva comunista, em que ainda tratou de tirar do lume, com as inerentes queimaduras, as castanhas que os triunfadores haveriam de comer.
Para além do soarismo/cunhalismo, havia uma colorida troupe de esquerdismos vários, a que também nunca concedi muita importância. Não porque seja verdade que fossem “um bando de fanáticos que não faziam mal a ninguém”, como recentemente pintou a Dra. Maria José Morgado. Faziam e fizeram muito mal a muita gente. Quando digo que não conseguia vê-los como realmente relevantes refiro-me ao futuro dos respectivos projectos políticos, que mais pareciam delírios de esquizofrénico febril.
Para ser franco, sempre me pareceram meros aguadeiros a correr por conta de outros. Com estes, os corredores de fundo que entretanto se resguardavam, é que era preciso contar nas etapas seguintes.
Aqui chegados, confesso que me enganei. Subestimei as capacidades de adaptação da espécie, ou as suas faculdades miméticas, ou o seu poder de recuperação, ou o seu golpe de rins, fosse lá o que fosse.
Hoje, não se consegue dar um pontapé numa pedra que não se tropece em dois ou três M-L. E não se pode abanar uma árvore que não caiam de lá quatro ou cinco. Se encalharmos então numa estação de televisão, num conselho de ministros, numa redacção de jornal, num encontro de empresários liberais, ou num colóquio de fazedores de opinião, é certo e sabido: são às dúzias.
Eu, que ainda sou do tempo que comecei por descrever, quedo-me espantado com o fenómeno: olho-os e continuo a vê-los de punhos cerrados e cabeleiras hirsutas ao vento, recortados sobre enormes cartazes vermelhos com figuras barbudas, e um fundo sonoro de gritos e palavras de ordem que já não distingo com nitidez.
O que é que querem, é a geração da minha mocidade!

Presenças literárias

O poeta António de Navarro recordado n' A Voz Portalegrense, as poetisas Judith Teixeira e Fernanda de Castro evocadas no Ave Azul.

Evocando Miguel Reale

Pela leitura apressada de “O Diabo”, esta manhã, fiquei a saber que o volume mais recente da Revista Brasileira de Filosofia, expressão do labor do Instituto Brasileiro de Filosofia (uma e outro obra da energia criadora do grande Mestre) surge quase inteiramente dedicado a Miguel Reale.
Entre os colaboradores que marcam presença encontramos apenas um português, António Braz Teixeira (é justo dizer que ele só tem feito mais pelo diálogo cultural luso-brasileiro do que todos os organismos oficiais que seria suposto cumprirem essa tarefa).
Embora não tendo ainda acesso ao referido volume, sabem os leitores, por apontamento anterior, que o passamento do ilustre filósofo me tinha suscitado um renovado interesse pela tradição filosófica luso-brasileira e especificamente pela Filosofia do Direito (duas enjeitadas do nosso ensino oficial).
Cabe reconhecer como normal esse interesse da parte de quem sempre deu particular importância à problemática da filosofia portuguesa, como manifestação vital da autonomia de Portugal. É o caso de Braz Teixeira, e modestamente o seguimos.
Vem a propósito lembrar que Miguel Reale, mesmo não sendo esse campo o foco dos seus trabalhos, não estava alheio à problemática conhecida entre nós como a das filosofias nacionais.
Tocando de passagem essa questão, escreveu Miguel Reale, de certo modo afirmando aquilo que parecia negar “(…) sobre os problemas universais da filosofia, os quais nunca deixam de revelar algo de próprio e peculiar às nações a que pertencem”; e adiantou que “não há, em verdade, “filosofias nacionais”, a não ser como expressão do que resulta da pluralidade dos idiomas, sendo a língua, no dizer de Heidegger, o solo da cultura; e também pela opção e o predomínio dos temas universais preferidos em cada uma das comunidades nacionais (…)”.
E para terminar com uma curiosidade, porque a política surge a cada passo a exigir quando não a pretender monopolizar a nossa atenção, talqualmente aconteceu a Miguel Reale ao longo da sua vida, encontro-me com uma coincidência: antes de tropeçar na notícia sobre a homenagem da Revista Brasileira de Filosofia tinha eu encontrado num artigo de Miguel Reale sobre a tragédia da classe política uma expressão que me tinha deliciado. Estava a saborear-lhe o gosto. Explica o filósofo, analisando as fraquezas da classe política brasileira e as naturais incapacidades que delas resultam, que na ausência de habilitações para cumprir apropriadamente as funções de sua incumbência esta dedica-se a “atividades de mostração”.
O professor brasileiro estava a olhar para os seus políticos; mas podemos nós olhar para os nossos. O que fazem eles? Legislar, governar, administrar - como seria formalmente de esperar de quem ocupa as cadeiras do legislativo, do executivo, do poder político? Não, para isso eles não têm preparação. Cairiam no ridículo se tentassem, sequer. Numa feliz síntese, a acção política dos políticos reduz-se hoje a “atividades de mostração”.

O discurso de que não se fala

Uma perspectiva católica: O discurso do Papa em Regensburg

Uma análise política: Le Pape piégé par l’Empire

segunda-feira, setembro 18, 2006

Aleluia!

Ainda há Caminhos Errantes!

Leituras da tarde

Soljenitsyne, a Rússia e os Judeus, Mendo Castro Henriques, a revista "Portugueses", Gorbachev e o doutor Jivago, o historiador Joachim Fest - tudo evocado no excelente A Voz Portalegrense.
A lição do Papa (Faith, Reason and the University - Memories and Reflections) para os que preferem a reflexão serena ao barulho da propaganda.
Revisionismo e manipulação, na Taberna dos Inconformados - para os que não desistem de pensar.

Nota de imprensa da Associação Portuguesa Maternidade e Vida

Na edição deste fim-de-semana do semanário "Expresso", é noticiado que responsáveis de uma clínica espanhola de abortos vêm a Lisboa negociar com o Ministro da Saúde um protocolo que permita a abertura de clínicas de aborto legal em Portugal. Na mesma edição, o Ministro afirma estar interessado nos serviços de clínicas estrangeiras para fazer cumprir a lei.
O que se leu este fim-de-semana no referido jornal não mereceu, até agora, qualquer desmentido por parte do Ministro da Saúde, portanto acresce que é verdade.
Assim sendo, a Associação Portuguesa de Maternidade e Vida vem dizer o seguinte:
1. Nem o Ministro da Saúde, nem a Direcção-Geral de Saúde, disponibilizaram, nem tornaram públicos, quaisquer dados numéricos de abortos permitidos por lei que não foram feitos por impedimentos ou objecções dos hospitais públicos. O país desconhece em absoluto esse número;
2. Nem o Ministro da Saúde, nem a Direcção-Geral de Saúde, tornaram públicas as razões que pelas quais não se cumpriu, se é que não se cumpriu, a lei nos hospitais;
3. Ontem, na apresentação do Orçamento de Estado, notou-se a necessidade de uma contenção financeira, logo não se entende quais os critérios do Ministro da Saúde que prevê e anuncia o corte na comparticipação dos anticonceptivos, ao mesmo tempo que anuncia protocolos com instituições privadas, para a realização do aborto previsto na lei;
4. Não entendemos que a comparticipação dos anticonceptivos não faça parte de uma politica de planeamento familiar, nem que politica de planeamento familiar tem o Ministro da Saúde quando anuncia que, por constrangimento orçamental, se vai deixar de comparticipar a pílula anticonceptiva, mas encontra dinheiro para pagar a clínicas de aborto;
5. O Ministro da Saúde ainda não explicou o porquê do recurso aos protocolos com clínicas privadas para, no fundo, fazer a jusante o que deveria ter sido feito a montante;
6. Nos últimos dias percebeu-se claramente que quem está em lista de espera neste momento não são as mulheres para fazer aborto legal nas instituições públicas, mas sim as clínicas privadas à porta do ministério, à espera de legalização.
Com estas atitudes, o Ministro da Saúde mostrou que não está interessado no planeamento familiar, mas sim num negócio de clínicas.
Francisco Coelho da Rocha
Presidente da Direcção

Estrelas da manhã

In Defense of Pope Benedict, by Justin Raimondo.

Declínio e queda da história filosófica, por João César das Neves.

O Papa e o Profeta, por Nuno Rogeiro.

domingo, setembro 17, 2006

Escrevendo na areia

Eis um acertadíssimo artigo de Manuel Brás, provavelmente condenado a passar despercebido (até junto dos destinatários imediatos...).

REQUIEM ESCOLAR
E lá foram mais 39. Os “novos tempos” reservam ao Ministro da Educação, seja ele, ou ela, quem for, o papel de coveiro. E foi isso que a ministra foi fazer a Trás-os-Montes, por muitos sorrisos que tenham brilhado, e por muito bem que isso tenha parecido.
Mais importante que lamentar a pertinência de tais medidas, que têm a sua justificação em termos financeiros, importa conhecer detalhadamente as suas causas. E dessas, quase todos têm medo de falar.
Essa causa é o declínio demográfico da população portuguesa dos últimos trinta anos. E é evidente que um logro desses não se consegue sem criar uma mentalidade em que a maternidade é vista, em princípio, como uma coisa má e nefasta, a evitar, caindo para um lugar insignificante da vida de muitas pessoas, como mais uma opção como tantas outras.
Ora, chegou-se a este ponto, em boa medida, através da mentalização escolar, mais elaborada nos últimos anos através da chamada “educação sexual”. Aliás, muitos professores estão a começar a colher as tempestades dos ventos que eles próprios, ou outros, começaram a semear há 30 anos.
Quem tiver dúvidas, é só olhar para a “evolução” da taxa de natalidade.
Também aqui, e como é costume, as responsabilidades não se apuram e a ninguém é apontado o dedo. Foi tudo espontâneo, tudo espontâneo.
O resultado é este: há professores a mais para, cada vez, menos alunos e escolas operacionais, parecendo não haver outra solução que dispensar professores, mesmo com o Estado a tomar medidas e a governar mais em função do preenchimento de horas lectivas de professores do que das reais necessidades académicas dos alunos. De pouco ou nada adiantará, em termos de eficácia académica, criar mais disciplinas para “aguentar” um maior número de professores e entreter durante mais tempo um menor número de alunos.
Pior ainda, são aquelas pessoas que com isto se conformam, preferindo ignorar que a nossa sobrevivência enquanto Povo e Comunidade começa a ficar ameaçada
Aqui está uma boa causa – a do declínio demográfico e suas consequências – para a Nova Direita pegar.
Mais uma herança do monopólio cultural da esquerda, perante a qual a “direita” à moda do Prof. Marcelo se curvou – e curva – religiosamente.

sábado, setembro 16, 2006

O concentracionarismo

Em 1972 ou 1973, e considerando apenas a imprensa escrita que diariamente se publicava só em Lisboa, a opinião publicada abrangia um leque notoriamente mais vasto e diversificado do que acontece hoje no universo da imprensa escrita de expansão nacional.
Não é uma impressão subjectiva: basta agarrar nuns quantos exemplares dos jornais de então ("Diário de Notícias", "O Século", "Diário de Lisboa", Diário Popular", "República") e verificar.
A comparação com os órgãos de referência de hoje ("Expresso", "O Sol", "Público", "Diário de Notícias") é assustadora.
O grau de cinzentismo, de oficialismo, de uniformidade, que se atingiu a nível de produção de opinião é aterrador. Os grandes jornais nacionais disputam os mesmos comentaristas, os mesmos títulos, as mesmas opiniões, invariavelmente institucionalistas no pior sentido do termo. Note-se que se o estudo se alargar às publicações não diárias nacionais e locais de há 35 anos a comparação ainda resulta mais desequilibrada. Saíam então a "Política", o "Observador", a "Seara Nova", "O Tempo e o Modo", e mais uma mão cheia de periódicos de expansão mais larga ou mais limitada, que podiam ir dos maoístas do "Comércio do Funchal" até aos católicos conservadores da "Resistência" ou aos monárquicos da "Gil Vicente".
O leque fechou-se drasticamente. Os jornalistas agora quando se encontram não discutem ideias e opiniões, discutem marketing e mercado. As variações de tom ou de cor são só as que resultam das preocupações com as tiragens: no resto, tudo é monótono e monocromático.
A concentração da opinião, bem patente na imprensa, acompanha a concentração do poder, político e económico. Que em nada se altera com a titularidade, pública ou privada, do capital accionista.
O que é certo é que o pluralismo autêntico, em todos os campos, se apresenta mais e mais diminuído à medida que observamos o passar das décadas.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Excursões

Continuo mais inclinado à leitura que à escritura...
Olhem, estive a fazer um primeiro exame ao sítio do novo Sol. Sinceramente, pareceu-me sol de inverno. Não aquece nem arrefece.
Fogo mesmo é no Dragoscópio: The Frankenstein Way(ne) ou O Apocalipse nato.

SOS RACISMO

Uma peça "contra os brancos"?

Diário da Manhã

The Hoekstra-Harman Hoax, by Justin Raimondo.

"Nine-eleven": um ponto sem retorno, por Maria José Nogueira Pinto.

Congresso Extraordinário do CDS é inevitável

“Sol” versus “Expresso” A hora da verdade

quinta-feira, setembro 14, 2006

Para ler ainda hoje

UM, DOIS, ESQUERDA, DIREITA - por Jorge Ferreira.

O Obsceno e a Sublime Liberdade - no Pasquim da Reacção.

Cartas de Estalinegrado - no Dragoscópio.

... e o regresso do inigualável NOVA FRENTE!...

Por vezes a História repete-se

Recomeçou a confrontação entre a Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) e as necessidades da agenda de Washington?
Leia-se:
US Iran report branded dishonest
IAEA protests "erroneous" U.S. report on Iran
Quem tem memória pode falar em "déjà vu of the pre-Iraq war period". Mas quem se lembra ainda de Hans Blix e das célebres inspecções da ONU que espiolhavam o Iraque? Até ao momento ainda não vi em lado nenhum qualquer balanço da polémica de então, apesar de quer o tempo decorrido quer a sequência dos acontecimentos já bastarem para fundamentar conclusões (autocríticas não são de esperar; admitir a sem razão de ontem estragaria a propaganda de hoje).

“LOOSE CHANGE”

Ao que anuncia, a RTP2 vai voltar a transmitir o documentário "11 de Setembro: Conspiração Interna", o famoso "Loose Change" que deu que falar na blogosfera.
A transmissão está prevista para hoje Quinta-feira às 23.50 e para Domingo às 19 horas.
A obra é apresentada como "um documentário controverso, uma denúncia séria sobre o 11 de Setembro".
Pelo que li hoje, Pacheco Pereira discorda frontalmente dessa caracterização. Eu não sei, não vi.
Se Vossas Excelências puderem, digam-me o que entenderem justo e acertado.

Um Sol no ocaso?

O diário parisiense "Libération" publica hoje um aflito SOS, em forma de apelo desesperado a que quem possa e queira venha depressa salvar o jornal.
Uma espécie de apelo à OPA que não há: venha a que vier, será bem vinda.
Saliente-se que o episódio já é uma repetição: não há muito tempo tinha sido atendido in extremis pelo senhor Edouard de Rothschild, que em nome da boa consciência do grande capital e da solidariedade militante da esquerda soixante-huitard lá entrou com a massa.
Nessa altura, como quem dá o sustento também tem as suas prerrogativas, Edouard de Rothschild impôs a partida do fundador e director do quotidiano, o emblemático Serge July.
Ainda nem mês e meio se passou e ao que parece a corda está cada vez mais apertada no pescoço do jornal de referência de toda a esquerda caviar.
Anunciam-se perdas de exploração de cinco milhões de euros só no primeiro semestre do ano.
Em suma: a esquerda está a morrer, o caviar está a acabar, e o "Libé" não está nada bem.
Os signatários do apelo ainda lançam um brado lancinante: "Edouard de Rothschild doit prendre ses responsabilités pour assurer la pérennité du titre".
Não se sabe qual a interpretação que eles, ou o visado, farão da velha profecia leninista que falava em cordas e burguesia. Mas é de crer que haja um limite.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Citações

Um socratismo muito antigo

Suspeito seriamente que em Portugal não há lugar para mais do que um partido.
A sociedade portuguesa é pequena e pobre, não dá para alimentar mais do que um.
Por isso a tendência é sempre para a formação de "união nacional", declarada ou oculta, expressa ou tácita.
Os poucos momentos históricos que parecem desmentir a regra, pela proliferação de partidos, mais servem para a confirmar.
Se olharmos bem, vemos que esses períodos foram curtíssimos. O último episódio foi o pós-25 de Abril, e veja-se a sua duração e a sua relevância histórica ou sociológica.
Por uns momentos parecia que estava tudo a partir-se; o país abanou, a sociedade assustou-se. E reagiu, refez o centrão. Sem grande demora tornou-se ao consenso habitual, ao viver histórico e habitual.
Como é evidente nos tempos de rotativismo, isto implica um entendimento essencial segundo o qual nunca se tira a gamela a ninguém. Nem todos podem estar no governo, mas sempre se arranja um lugar numa empresa pública.
A "união nacional" vigente durante toda a primeira república, protagonizada pelos "democráticos", antecedeu aquela que vigorou durante umas décadas de salazarismo e caetanismo.
Mas o tempo do rotativismo monárquico, com a coexistência alternante de dois grandes partidos, não se apresenta substancialmente diferente desse viver unipartidário - e parece-se ainda mais com o actual regime PS/PSD.
As alturas históricas de perturbação, como foi essa aludida fase do após 25 de Abril, ou terá sido a época após 28 de Maio, ou o período do 5 de Outubro, ou antes disso o setembrismo, assemelham-se a momentos de ajustamento. Passam depressa e depois volta tudo ao normal.
Estabelece-se um círculo relativamente limitado onde tudo se passa, onde todos se conhecem e onde os interesses de cada um dependem do equilíbrio do todo. Depois, os lugares vão-se negociando à medida das voltas e reviravoltas da política - que é precisamente reduzida a esse processo negocial permanente.
Fala-se muito em divórcio entre os governados, a massa, e essa classe governante. Também não é novo, sempre se falou.
Mas provavelmente tem que ser mesmo assim: no círculo que delimita o estabelecimento não cabe mais ninguém. Os recursos só dão para garantir alimento aos que estão, e mesmo assim a níveis pouco satisfatórios para as expectativas de boa parte deles. E o fenómeno não é grave, nem implica instabilidade: quem está de fora pesa muito pouco, conta muito pouco.
As crises, quando as houve, vieram sempre de dentro.

E não sabe ele a metade...

O jornalista chileno Mário de Queiroz escreve sobre Portugal: Neoliberalismo, la nueva fe de los ex maoístas.

Selecção de hoje

A Casa de Sarto
Alma Pátria
Interregno
O Pasquim da Reacção
Portugal Contemporâneo

Outra análise sobre a Síria

Terror in the Levant, by Justin Raimondo.

terça-feira, setembro 12, 2006

A Estrada de Damasco

O noticiário de hoje atirou a Síria para o centro das atenções.
Ao que parece as forças de segurança sírias frustraram um violento atentado contra a Embaixada Americana em Damasco, com vários mortos de ambos os lados.
A senhora Rice já agradeceu “very much” aos sírios.
Como se calcula, a notícia em questão provocou algum aborrecimento e contrariedade entre os frenéticos da propaganda neocon mais primária.
Então andaram eles a desunhar-se, pintando em todas as paredes o negro retrato do Eixo do Mal, e agora os sírios surgem a estragar a pintura? Vejam só, os sponsors do terrorismo a salvar vidas americanas, a morrer em defesa da propriedade americana…
Deve haver aqui fumos de Satanás! Próprio do Mal é querer confundir…
Porém, quem acompanhe com mais frieza os acontecimentos não ficará muito surpreendido. Sabe-se que a realidade é muito mais complexa do que os pobres esquemas mentais do fanatismo. O regime sírio confronta-se desde há muitos anos com um sério problema interno devido ao fundamentalismo islâmico. Com efeito, trata-se de um regime essencialmente laico, o último dos que nasceram sob o impulso modernizante do baasismo. Obviamente que se trata de uma ditadura, segundo os padrões em uso, mas certamente que não é uma ditadura islâmica. Tem por isso uma história de confrontações sangrentas com os grupos de inspiração islamista. Ficou registada a repressão impiedosa exercida pelo pai Assad sobre a Irmandade Muçulmana.
Consequentemente, para os seguidores da Al Qaeda e afins trata-se de um regime infiel, a abater por todos os meios. Como aliás acontecia com o de Saddam Hussein no Iraque…
Já no consulado de Assad filho o problema deu sinais de estar a agudizar-se. Como exemplos conhecidos dessa persistência de uma guerrilha larvar, recordamos que em Abril de 2004 tinha havido situação semelhante à de agora, também no bairro das embaixadas, quando a polícia se confrontou com um ataque que teria por alvo a Embaixada do Canadá. E em Junho último houve fortes combates quando de uma tentativa de ataque à televisão estatal.
O que se passou agora relaciona-se com tudo isso, e pode vir a despoletar uma sequência de acontecimentos que por agora só é possível imaginar.
Como se disse, a senhora Rice já exprimiu a sua gratidão aos sírios. Foi simpática. Outras vozes surgem a recordar os tempos não muito remotos em que os serviços de inteligência sírios eram as melhores fontes da CIA no combate a esses inimigos comuns que eram os loucos de Alá. E não poucos analistas americanos insistem em lembrar que o inimigo afinal é o Irão, teimando que é preciso falar com os sírios.
Não seria grande a surpresa para o autor destas linhas se o namoro fosse declarado.
Muitos estrategas americanos defendem que a jogada é de mestre: deixava isolado o Irão, rodeado de aliados americanos por todos os lados, e anulava o Hezbolá, perdido no seu feudo libanês.
O jovem Assad filho e seus fiéis provavelmente também encontrarão vantagens na transacção. Por um lado não parece provável que se sintam muito entusiasmados numa guerra em que seriam as primeiras vítimas, apanhados no meio do eventual confronto entre americanos/israelitas e iranianos. Por outro lado, o instinto de sobrevivência, como aconteceu com Kadhafi, aconselha a cartada americana; com estes as hipóteses de bom sucesso parecem francamente melhores do que com os islamistas.
Claro que estamos a especular. Nem se sabe muito bem de quem é a responsabilidade pelos atentados. E é de crer que nunca se saberá com rigor, como acontece com muitos outros acontecimentos que se passam naquela região.
Ademais o entendimento referido seria complicado pelas questões pendentes. Israel o que diria? E que seria feito dos Golan? Assim é, mas por isso mesmo é que seria necessário negociar.
Mas nada é impossível. Todo o mundo é composto de mudanças, e este é muito mais.

A Star is Born: Muammar Kadhafi

Em Roma, um passo separava o Capitólio e a Rocha Tarpeia.
Na Nova Roma o trânsito entre o Céu e o Inferno, num sentido ou noutro, faz-se com muito maior facilidade e rapidez.
Não vou dizer que perguntem a Ben Laden, ou a Saddam Hussein. Os caídos nas profundezas, enquanto tal, deixam de contar na Cidade do Bem, onde todos radiosamente vivemos felizes.
Mas podem confirmar com uma entrevista/reportagem junto de Muammar Kadhafi, a mais recente conversão prodigiosa.
Ainda há pouco, há poucochinho, era um símbolo do Mal. Ei-lo agora refulgente modelo para as hostes do Bem.
O fenómeno foi já autenticado pela visita de Blair, que se não é ainda uma visita do Papa equivale pelo menos a uma certificação pelo Cardeal Diácono.
Nada de estranhar, se atentarmos no formidável progresso que este Século Americano está a trazer à humanidade.
Claro que alguns malevolentes insinuam que se trata de uma conversão pelo menos muito interessada, pondo em dúvida que seja movida por Fé sincera (o protagonista, progressivamente entalado entre forças hostis de sentidos opostos, procuraria escapar-se para onde sente a força que lhe poderá assegurar sobrevivência).
Mas isto são dúvidas daquelas que só aproveitam ao inimigo, como lembrou Rumsfeld. E o debate sobre estas questões só enfraquece as forças do Bem, como avisou Cheney.
Não devemos portanto contrariar os ensinamentos desses grandes timoneiros que nos orientam lá de longe, onde irradia o Farol da Nova Humanidade. Até por prudência: os zelotas de cá excedem em ardor os vigilantes de lá, e não tarda começam a tomar providências radicais. Os traidores, já se sabe, estão devidamente listados e identificados.
Nós nem por sombras quereríamos embaraçar a marcha triunfal da civilização, da liberdade e da democracia. Que marchem, que marchem!...

Breve recolha

O meu 12 de Setembro

Como perdemos o 11 de Setembro

O Dogma Atlântico

Israel, os espiões e o 11 de Setembro

Pensamento português

Hoje tomei conhecimento da publicação de duas obras importantes.
A primeira pela leitura da Torre de Ramires, que dá conta do aparecimento em livro dos textos apresentados no «Colóquio sobre o Pensamento e a Obra de Afonso Botelho», co-realizado pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira e pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
A segunda através de "O Diabo", onde Pinharanda Gomes comenta a obra de Afonso Rocha intitulada "O mal no pensamento de Sampaio Bruno - Uma filosofia da razão e do mistério" (Imprensa Nacional).
Longe dos holofotes e dos microfones, alguns continuam silenciosamente a trabalhar pela cultura portuguesa.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Colheita do dia

Ler Marx em Setembro, por André Bandeira.

The 9/11 Enigma, Revisited, by Justin Raimondo.

11 de Setembro de 1973, por Nuno Rogeiro.

De Jünger a Céline, no Dragoscópio.

Uma estratégia portuguesa

Repito a chamada de atenção para um artigo que me pareceu de capital importância, e que lamentavelmente passou despercebido.

A organização da diáspora portuguesa - um dos principais factores de afirmação de Portugal no Mundo

A actual situação de vulnerabilidade das bases económicas e culturais da independência nacional que se manifesta não só ao nível das estruturas económicas internas, mas também ao nível de afirmação do país no contexto internacional e em particular no contexto europeu, exige dos nossos governantes a realização de uma profunda reflexão visando identificar os factores que possam reforçar a posição de Portugal no mundo na componente da mundialização.
Os responsáveis políticos e os investigadores nacionais têm orientado de um modo limitado e redutor, as suas análises e propostas estratégicas para os factores de competitividade das estruturas económicas internas, e também para a eficácia administrativa dos sectores público e privado.
Esta visão redutora leva os nossos responsáveis a consciente ou inconscientemente esquecer um factor estratégico que já é de facto, e pode revelar-se ainda mais importante no futuro para a afirmação de Portugal no sistema de poder ao nível mundial, a diáspora portuguesa : constituída por comunidades que se implantaram e desenvolveram em grande número de países de vários continentes que se aproximam hoje dos 15 milhões, sendo 5 milhões de portugueses directos, e os restantes luso-descendentes com nacionalidade portuguesa, dupla nacionalidade, ou simplesmente uma ascendência portuguesa. Pelo elevado número, e pela sua cada vez maior importância no contexto social, económico, e político, dos países de acolhimento, as comunidades portuguesas constituem sem dúvida um dos maiores vectores da influência e da afirmação de Portugal ao nível mundial.
É incompreensível em termos políticos e mesmo históricos, que os nossos dirigentes não tenham até agora «devido a uma cegueira política e ideológica que infelizmente tem afectado partidos e intelectuais» tomado consciência, nem concebido estratégias adequadas para dar expressão real à grande força de redinamização e de reforço da nação portuguesa que constitui a nossa diáspora. Esta deve ser organizada de maneira inteligente para poder dar uma nova dimensão, não só politicamente através da participação dos emigrantes na vida política dos países de acolhimento, mas sobretudo ao nível sócio económico por meio de estabelecimento de redes de cooperação empresarial e de solidariedade profissional, ao potencial de afirmação e de influência histórica dos portugueses, e ao reforço da portugalidade no mundo.
O poder político e as administrações públicas e diplomáticas de que o nosso país tem nesta conjuntura, não dispõem de meios, nem de um projecto político à altura para realizar a grande tarefa nacional que é a organização da diáspora portuguesa ao nível mundial.
Face a esta insuficiência, - incapacidade actual do estado, da administração, e do nosso sistema político, - o caminho preferível, o mais evidente, é o do fomento da auto-organização da diáspora através da sua capacidade de iniciativa e dinamismo, cujos grupos mais activos poderão suprir estas insuficiências públicas formando e dinamizando um projecto político e organizativo, um projecto naturalmente virado para defesa dos interesses dos portugueses e de Portugal no mundo, alargada a todos os países de expressão portuguesa, e regiões onde a língua e a memória portuguesa ainda subsiste, como ex. Malaca, Goa, Damão e Diu, Casamança (crioulo português), Indonésia (Flores) Togo e o Benim, sem esquecer a Europa onde em países como a França e Luxemburgo a comunidade portuguesa tem grande relevo.
Malaca, onde 3 milhares falam, cantam, sentem, vivem, e rezam à maneira portuguesa, esquecidos há muitos anos pela pátria de origem que lhes deu uma identidade, sem escolas ou apoios culturais que lhes permita não só a continuação evolutiva da língua, como da sua própria expansão nesse canto da Ásia; Guiné e Senegal onde a língua portuguesa entrou oficialmente nas universidades; S. João Baptista de Ajudá, África do Sul, que começa a despontar a importância nacional da língua portuguesa como forma diferenciada da colonização inglesa com influência e apoio de moçambicanos e angolanos, ocupa já uma posição de relevo nos lugares das línguas oficiais; na Califórnia e na Costa Leste dos Estados Unidos.
Timidamente o governo central de Lisboa começa a tomar conhecimento deste potencial, embora sem ter um projecto político à altura, nem estruturas consequentes de apoio.
Aproveitando os recursos das novas tecnologias da comunicação, há que promover a criação e multiplicação de cyberespaços e de redes Internet de contacto, diálogo e solidariedade entre os grupos que constituem a diáspora portuguesa alargada no mundo.
Existem hoje meios instrumentais e técnicos que nos permitem com facilidade organizar, auto-organizar, as centenas de milhões de indivíduos que falam português e reivindicam a portugalidade no mundo.
Esperemos que este potencial irrefutável possa ser compreendido pelos nossos responsáveis políticos.
António Sustelo
(Presidente do Centro Português de Arte e Cultura de Bruxelas )
(Artigo no CIARI- Centro de Investigação e Análise em Relações Internacionais)

America's Ideologue in Chief

domingo, setembro 10, 2006

Roda livre

O Governo anunciou que vai proibir a venda nas escolas de batatas fritas, bolos, chocolates e outras guloseimas afins, por fazerem mal à saúde.
Os miúdos estão muito gordos, e tudo isso engorda.
Consequentemente, nos bares e cantinas e nas máquinas de venda automática existentes nas escolas vão deixar de ser comercializados esses produtos nefastos.
(Note-se que a heroína e a cocaína normalmente causam emagrecimento, não estão abrangidas por essas condenações.)
Porém, era nas prisões que eu estava a falar. Continuando a pensar nas anunciadas "salas de chuto", continuo com interrogações para que não encontro resposta.
As ditas salas, tal como têm sido descritas, seriam uma espécie de locais de "injecção assistida". Um sítio onde os presos consumidores de estupefacientes por essa via poderiam fazê-lo com todas as garantias sanitárias.
Desde logo se nota uma incompreensível discriminação em relação à restante população do universo prisional. Porquê só os presos? Os guardas e restante pessoal da cadeia, da secretaria à direcção, que também estejam agarrados ao vício - continuarão a ter o seu comportamento criminalizado?
E se forem descobertos... serão presos, para poder então drogar-se livremente?
Pior, parece-me que existe nessa ideia, se for como tem sido publicitada, um intolerável favorecimento de um sector dos presos toxicodependentes em detrimento de outros, a que se junta uma inaceitável promoção por entidades públicas de um produto em desfavor de outros e de um modo de consumo em prejuízo dos restantes.
Com efeito, entre os detidos toxicodependentes há muitos que nunca se injectaram. Bastantes deles são consumidores de haxixe, só fumam. E um número apreciável dos consumidores de heroína também não se injecta, prefere fumar (até por não deixar marcas). E há os que só consomem coca, por inalação.
Pois bem: quem fuma ou snifa está tramado. Tem que habituar-se à ideia de metê-la na veia, senão tem a autoridade à perna.
Até o mercado sofre intolerável distorção. Então quem desenrasca umas pedrinhas de chamom lixa-se, e quem tem cavalo tem direito a sala legal? Todos os que entram na cadeia pelo haxixe vão ver-se obrigados a passar para a heroína?

Perplexidades

O Estado que proibe fumar em casa dos outros anunciou que vai abrir "salas de chuto" nas suas cadeias.
(Será que nelas é permitido fumar?)
Nos corredores vão aparecer máquinas automáticas para fornecer seringas descartáveis.
E a droga, de onde virá?
Os guardas prisionais vão continuar a revistar presos e visitas para impedir a entrada de droga nas prisões?
E podem apreendê-la?
Ou também está disponível nas máquinas?
É o Estado quem a vende, ou oferece-a nas tais salas?
O consumo, detenção e transporte de estupefacientes continua a ser ilícito em Portugal, ou essas salas e o percurso até lá gozarão de extraterritorialidade?
Se nas revistas aos presos e às celas forem encontradas seringas provenientes das máquinas de venda livre, também serão apreendidas?
E nesse caso os presos são reembolsados?
Parece que a par das máquinas para abastecimento de seringas também existirão máquinas para fornecimento de kits sexo seguro. (Ou talvez seja nas mesmas). Preservativos, gel lubrificante, não sei bem o que mais.
Também vai haver salas para isso? E como se chamarão tais salas?

Crises

Nunca houve tantas leis, e há muito não se via tão enfraquecida a ideia de Direito.
Não é um paradoxo: a obsessão regulamentadora e normalizadora marcha a par da banalização e desvalorização do jurídico.
Este é um tema que eu gostaria de sugerir ao Dr. Marques Mendes, considerando as suas actuais responsabilidades no Gabinete de Estudos do Partido Socialista, embora tenha poucas esperanças de prender a atenção de alguém. Os tempos vão maus para problemática de tal fôlego especulativo, e aquilo é tudo gente virada para assuntos mais palpáveis.
Seja como for, tenho para mim que o Direito está realmente em crise. E não estou a falar, como é óbvio para os menos apressados, das infindáveis notícias sobre a "crise da Justiça". Isso versa tudo a administração da Justiça, é apenas matéria do foro técnico, mera gestão e organização.
Não é a administração da Justiça que me preocupa (sem menosprezo pela relevância prática das suas disfunções), é mesmo o Direito.
Mas - paciência! - desisto da crise do Direito, que me levaria longe demais.
E não sei por quem seria ainda entendido. Não certamente pelos legistas que enxameiam os gabinetes do poder, todos entretidos a moldar diplomas e regras como os meninos brincam com plasticina.
Entretanto, temos que sofrê-los e vamo-nos divertindo com as partes gagas.

sábado, setembro 09, 2006

Outro Manifesto de Direita

O manifesto por uma direita moderna... muito antiga, de Rodrigo Emílio.
Para ler e imprimir, imprimir e tornar a ler. Também podem levar ao Congresso da Nova Democracia.

"Expresso" com "Sol" na cabeça

O Rui Teixeira Santos é realmente mauzinho... leia-se de ponta a ponta este "confronto fatal"; é uma delícia!...

sexta-feira, setembro 08, 2006

Brilhantes

Estas considerações sobre Ecologia e Ecologismos.

A Direita e as Direitas

Uma das características do universo da Direita é haver, várias, muitas direitas.
(...)
Esta diversidade das "direitas" - supõe um denominador comum - a Direita - que, na medida em que conhece estas modalidades político-operativas e "ideológicas", tem que ser "metapolítico" ou "filosófico". Logo o que nos pareceu ser um denominador comum, presente em todas as "direitas", é o nó do problema. Como na Esquerda.

Arame de tropeço

Notas de leitura (1)

Com os recortes que vos deixo, espero que me dispensem de escrever. Leitura não vos faltará.
Só acrescento uma nota: não vão em modas. Como é sabido, rapidamente passam de moda.
O fascínio da novidade arrasta quase sempre para o abismo da superficialidade, do banal e do efémero.
O que mais há são coisas novas que não chegam a velhas. Morrem cedo. E as que persistem, vivendo, nessa mesma persistência deixam de ser novas. A qualidade ou mérito que tinham não estava na novidade.

Recortes (7)

Recortes (6)

Recortes (5)

Recortes (4)

Recortes (3)

Hoje estou de luto carregado.
(Adenda: Aqui Moçambique Livre!).

Recortes (2)

Os prisioneiros-fantasmas e o Estado subserviente.

Recortes (1)

Reforma do Código Penal ou Roteiro do Politicamente Correcto?

quinta-feira, setembro 07, 2006

SINAL DOS TEMPOS

"O recente encerramento do jornal O INDEPENDENTE, que nos últimos anos foi corajosamente dirigido por Inês Serra Lopes, antecedido do encerramento de vários outros jornais, de direita e de esquerda, como O DIA e O JORNAL, vem revelar uma pequena parte visível do iceberg que ameaça a imprensa escrita, e não só, para além de deixar a nú a falência de valores entre os que dizem bater-se por causas para, no fim de contas, se baterem por coisas que lhes convêm mais no momento."
(de uma CARTA DO CANADÁ, por Fernanda Leitão)

A ilusão do “novo”

Ao ouvir há pouco tempo declarações de um nosso conhecido político em que este insistia enfaticamente no apelo a “ideias novas”, “políticas novas”, “um novo discurso”, e mais não sei quantas coisas todas novas, dei por mim a pensar num talvez acaso que para mim ao menos se apresenta deveras intrigante.
Qual é o adjectivo que marca presença constante na apresentação de todas as iniciativas oriundas do campo político que se convencionou situar à direita?
Não há qualquer dúvida: observando os cem anos mais recentes da vida da direita, logo nos damos conta que os seus movimentos, grupos, jornais, revistas, associações, repetem com uma frequência espantosa, nas suas designações e discursos identificadores, variantes à volta da palavra “novo”.
Que me ocorram de repente, houve (e em alguns casos mais de uma vez): Ideia Nova, República Nova, Estado Novo, Ordem Nova, Força Nova, Cidade Nova, Praça Nova, Renovação, Novo Impulso, Portugal Novo, Tempo Novo, Nova Monarquia, Nova Direita. Quando não foi Novidades, Jovem Portugal, Jovem Europa, Jovem Revolução, e mais designações afins.
Certamente poderão ajudar-me com mais exemplos.
Repare-se que se considerarmos os cem anos anteriores, aqueles que vão desde a Revolução até ao esgotamento da reacção contra-revolucionária (estou a utilizar a palavra “direita” com o mesmo sentido dado por Molnar à sua “contra-revolução”) não se observa essa obsessão pelo “novo”, e em verdade ela seria impensável.
Todos os grandes autores da contra-revolução convergem na afirmação de que não querem nada de novo, mas sim o pleno reconhecimento da verdade política negada pela Revolução. Reclama-se um Rei como o tinham sido sempre os nossos reis, o respeito pelas antigas tradições e costumes.
Quem queria as novidades eram os revolucionários.
Que se passou então na viragem do século, entendendo por viragem do século aquele período que se inicia com as transformações que desembocam na Primeira Guerra Mundial e se consumam com o decurso desta?
Aparentemente, terá ocorrido algures um encontro entre a velha contra-revolução e os elementos de vária origem que conduziram ao fascismo e ao nacional-socialismo.
Constata-se que entre a parte final do século XIX e essa primeira parte do século XX atingiram a sua máxima glória as formulações positivistas, com o seu programa de uma “humanidade nova”, e vitalistas, com exaltantes visões de um “homem novo”.
Por Comte ou por Nieztsche, ou pelo hegelianismo como Gentile, o certo é que as elites intelectuais de então beberam de fontes bem diferentes do tradicionalismo e daí surgiu uma “direita revolucionária”.
Parece-me rigoroso distinguir um ciclo político longo de um século em que a direita intervém para reclamar contra o “novo”, e um outro ciclo da mesma duração e que se lhe segue em que a intervenção política da direita é feita invocando para si a novidade, em contraposição ao situacionismo.
Ao que fica dito pode dirigir-se a crítica da confusão de planos: as minhas reflexões misturam realidades observáveis ao nível da praxis política, muitas vezes explicáveis por meras razões de conjuntura e meros tacticismos, com considerandos mais pretensiosos atinentes à história das ideias políticas da família.
Assim é, mas mesmo assim não quis deixar de partilhar as perplexidades, já que respostas satisfatórias para elas não as tenho.
Questiono-me quais as razões profundas para uma mudança tão radical que faz com que a direita geralmente repudie com indignação qualquer insinuação de ser herdeira, quando antigamente o que a distinguia, e exibia orgulhosa, era a sua condição de continuadora de uma tradição que se pretendia ininterrupta. A direita queria-se defensora do permanente, olhava desdenhosa para o "novo". Depois passou a ter como questão de princípio discutir com a esquerda quem é que representa o “novo”.
Aquilo que aponto tem como consequência frequente que cada grupo direitista fala e começa como se o mundo começasse com ele. As suas proclamações começam logo à cabeça por esclarecer que nada os liga aos que os precederam, que não são sucessores, nem herdeiros, nem continuadores, de nada nem de ninguém, e consequentemente que a sua história é uma espécie de tábua rasa.
Um esquerdista típico tem para este fenómeno explicação fácil: a direita, perversa como é, pretende sempre esconder a sua verdadeira personalidade e fugir às responsabilidades. Está a disfarçar-se. Esta teoria, como se compreende, terá alguma verdade em situações em que a identificação significa incorrer em imediata condenação, quando não em ilícito criminal (v. g., é normal que na Alemanha pós-nazismo qualquer agrupamento de direita que quisesse legalizar-se escrevesse logo no intróito dos seus estatutos que nada tinha a ligá-lo ao regime anterior, independentemente da veracidade e da sinceridade da declaração).
Mas a explicação nada explica quando a pretendemos aplicar quer aos teorizadores que foram chamando para o seu lado a “revolução”, ou a “verdadeira revolução”, ou o estar “para além da revolução”, quer aos práticos que no terreno vão demonstrando todos os dias uma genuína vontade de começar do zero, de mistura com uma crença ingénua nas virtudes do “novo”, porque é “novo”, e uma convicção autêntica, embora palerma, de que são realmente algo de “novo”.

Planeta perigoso

Compromisso Portugal

Estive a ver a página do "Compromisso Portugal", surgida a propósito da anunciada 2ª Convenção, a realizar no Convento do Beato.
Fui sentindo uma sensação de "déjà vu", mas só quando cheguei às fotografias (o "promoters wall", o "sponsors wall") é que identifiquei o que aquilo me lembrava: é a promoção de uma Noite de Gala da "OLÁ/Semanário", nos bons tempos da publicação. Sem tirar nem pôr.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Regressos

Futuro Presente
Aliança Nacional
A Torre de Ramires
O Pasquim da Reacção
Último Reduto
Pena e Espada

Alguns retornados vieram dar nova vida a isto.

terça-feira, setembro 05, 2006

Oh Sole Mio!

O sole mio


Por entre o fervor e o entusiasmo populares decorreu a apresentação ao público do novo semanário de José António Saraiva.

Tout va très bien

Tout va très bien, Madame la Marquise


O novo programa-tipo da RTP.

À espera de Dodot

Sobre a "direita Dodot", síntese no Dragoscópio.

O manifesto

A análise de Rui Albuquerque no "Portugal Contemporâneo".

segunda-feira, setembro 04, 2006

Em jeito de prefácio para um balanço

Engano-me muitas vezes e vivo quase sempre enredado em dúvidas, não sou como o outro que é agora rainha de Inglaterra onde uns por receios vãos e outros por esperança interessada o queriam ver rei absoluto.
Mas nisso não me enganei, pareceu-me sempre que o sonho dele era esse mesmo.
Falando deste blogue, por exemplo, logo surge uma prova viva das hesitações. Em Julho tinha pensado dar por finda a viagem mesmo no fim desse mês, quando se completassem os três anos da partida. Mas a decisão foi sempre digamos que indecisa, a verdade é que a vontade de continuar era pouca e a vontade de acabar também não era muita.
A continuação aborrecia-me e a conclusão fazia-me pena.
Ocorreu então o que temia. Um razoável número de opinantes falaram-me à vaidade, disseram-me que era lido, que lhes fazia falta, que não os abandonasse, etc. e tal. Como não tinha razões para desconfiar da sinceridade das declarações e elas me faziam bem ao ego, caí para esse lado. E o “Sexo dos Anjos” prosseguiu, sem grande convicção, au plaisir de Dieu.
Passado um pouco mais de um mês, continuo sem certezas.
Por um lado, sei da singularidade deste espaço. Sou um fulano sem amigos, que não é candidato a nada, longe de tudo e marginal a quase tudo. Posso perfeitamente dizer o que penso, e não preciso de calar o que em consciência julgo ser a verdade.
Poucos podem fazer o mesmo.
Por outro lado, se tenho as vantagens desse estatuto de marginalidade também carrego o fardo que ele acarreta. Como não sei de conveniências, posso bem ser inconveniente. Mas sei que estarei sozinho, que não terei o apoio do grupo ou do clan, que serei sempre um estranho para todas as mafias, negras, vermelhas ou brancas, que por aí pululam. Fui aprendendo que a blogosfera reproduz em muito o mundo de que emana, mesmo nos vícios. Quem não faça parte de algo identificável, não possa apresentar certificado de inclusão nos conformes, não conta na nossa pobre terra. Sofre a mais negra exclusão, na vida ou na tela. Mentiria se dissesse que tudo isso me é indiferente.
A blogosfera trouxe também para a rede, a par dos desalinhados como eu que nunca poderiam aspirar a exprimir-se fora dela (e por isso lhe estou grato), os hábitos enraízados das cooperativas de elogio recíproco, do fulanismo institucionalizado, do amiguismo mais mesquinho. O reconhecimento não decorre do mérito, mas de outras habilitações que o antecedem e o dispensam.
Generalizadamente as ideias não são consideradas por elas mesmas mas por quem as subscreve, e quem as subscreve não é avaliado por elas mas pela classificação que já tinha antes delas. Também entre os bloguistas domina o princípio antes de ser já o era.
Alguma frustração, algum azedume, sim senhor. Não deixei de ver na blogosfera as virtualidades e as potencialidades que de modo insistente lhe exaltei. Mas reconheço que ao menos por ora ela ainda é em grande medida um mundo virtual que espelha o mundo real, até nas deformações.

Uma verdadeira alternativa de direita

O bem-bom do poder

Durezas, ou divagações sobre a “direita mole”

Temos então devidamente esclarecido o figurino da direita proposto pelos atlânticos.
O modelo propugnado é a “direita mole”, formalmente catalogada e caracterizada por Rui Ramos, deste modo assumido como o Lenine do agrupamento.
E o paradigma do “direitista mole” está no Professor Freitas do Amaral, apontado como exemplo vivo do ideal defendido.
Não se estranha a clarificação e pode mesmo dizer-se que ela exprime um consenso notório, que abrange críticos e entusiastas do movimento.
Desde o começo que uns e outros vinham convergindo na observação de que se trata de uma direita acidental, isto é, uma escolha táctica e momentânea em que o determinante é apenas o não querer ser de esquerda.
Assim mesmo a define o teórico: “a direita liberal está à direita porque não quer ser de esquerda”.
Como se verifica, o elemento de distinção não é ser de direita, é estar à direita. E está à direita... porque não quer ser de esquerda, ignorando-se porque razão ou fundamento não o quer.
Podia pensar-se que é por ser de direita; mas por aí não vai o definidor.
De feito, o que se afirma é apenas uma vontade: não quer ser de esquerda. Pode legitimamente suspeitar-se que até é realmente de esquerda e por qualquer motivo obscuro ou circunstancial não aceita a condição. A não ser que seja questão de moda. Ou exclusivamente por birra.
A mesma escolha semântica já se tinha notado a propósito das “noites à direita”, que me fizeram logo perguntar pelos dias – se eram à esquerda, ou talvez ao centro.
Desoladoramente, constata-se a voluntária renúncia a qualquer tentativa de afirmação que vá além da localização acidental. Nada de substancial, de essencial ou permanente tem lugar entre as congeminações do grupo.
Ao contrário: rejeita-se esse caminho. Segundo se pode entender pela apresentação da dicotomia, por aí caminha-se para a “direita dura” – que é precisamente aquela que a boa, a virtuosa, a mole, rejeita vigorosamente.
Fica portanto o vazio de ideias, onde a “direita mole” se sente à vontade.
Não é de esperar que a classificação de Rui Ramos venha a ultrapassar em glória a divulgada em tempos por Crane Brinton, mas parece-me ainda assim que não é totalmente desprovida de utilidade prática (a elevação teórica é duvidosa). Permite conhecer e fixar com suficiente nitidez os traços identificadores dos indivíduos (eles repudiariam a ideia de uma identidade colectiva) agora reunidos sob essa bandeira. O clube de fans do Professor Ciclóstomo.

Postas fresquinhas

De Roberto de Moraes sobre os piratas de Gilles Lapouge.
De Rodrigo Nunes sobre os reprovados de Ernst Von Salomon.

E mais

Três notas sobre a direita, por Rui Albuquerque.
O Maior Défice, por O Corcunda.
A refundação da direita, por Paulo Gusmão.

domingo, setembro 03, 2006

Mais

A direita e o PSD, por João Morgado Fernandes.
Criar novo partido de direita é última hipótese para Ferraz da Costa.

Mais

O estado particular da direita, por Jorge Ferreira.
Monteiro, Portas e a (nova) Direita, por Orlando Castro.

sábado, setembro 02, 2006

Reductio ad Hitlerum

Reductio ad Hitlerum, reductio ad Hitlerem, argumentum ad nazium...
Não é uma figura de estilo, é uma técnica de debate. E por mais falaciosa que seja a sua lógica de associação (Hitler gostava de cães; tu adoras cães; logo...) o seu uso intensivo e generalizado não dá sinais de desaparecer dos hábitos sociais e políticos.
A popularidade da técnica e a sua frequente utilização levaram mesmo à formulação da conhecida Lei de Godwin: "As an online discussion grows longer, the probability of a comparison involving Nazis or Hitler approaches one".
Quanto mais se prolonga uma discusão, mais aumentam as probabilidades de surgir o argumento: Hitler, ou os nazis, disseram, ou fizeram... a comparação fica, a evocação do Mal Absoluto paralisa qualquer possibilidade de análise séria do que estava em discussão.
Nós, e acreditamos que todos os que nos lêem, conhecemos bem o funcionamento prático da lei, muito antes da internet existir, e de Godwin a ter apresentado, em 1990.
Ao que parece o primeiro a mencionar e autonomizar a categoria referida foi Leo Strauss, em 1950, no seu "Natural Right and History":
"In following this movement towards its end we shall inevitably reach a point beyond which the scene is darkened by the shadow of Hitler. Unfortunately, it does not go without saying that in our examination we must avoid the fallacy that in the last decades has frequently been used as a substitute for the reductio ad absurdum: the reductio ad Hitlerum. A view is not refuted by the fact that it happens to have been shared by Hitler."
Infelizmente, por mais falaciosa que seja a técnica, e por ridículas ou caricatas que sejam por vezes as situações resultantes, ela constitui uma arma terrível e exerce uma atracção irresistível, sobretudo quando todos os argumentos faltam.
Podemos portanto estar certos que em qualquer troca de ideias, e sobretudo na falta delas, não deixaremos de continuar a observar o uso recorrente da falácia; o efeito instantâneo de condenação e de inibição continuará a garantir o seu sucesso.

Olhando o futuro

Preparando o pós-Bush (presidenciais à vista): Newt Gingrich opposed to U.S. strike on Iran.

Correcções necessárias

As direitices dos direitistas

Já há muito dei a conhecer a minha impressão gustativa quanto à direita nova que por aí se pavoneia: é tão parecida com a direita como um bife de soja se parece com uma boa posta à mirandesa.
A minha relutância não me impede porém de seguir com atenção respeitosa as suas movimentações (como aliás também faço com a esquerda); lá por não ser para o meu paladar não posso deixar de admitir em abstracto que aquilo seja comestível.
E digo comestível sem piada para a direita alegre que, segundo consta de todos os obituários recentemente publicados ácerca de O Independente, despontou radiosa no país com o advento do finado semanário.
Confesso ainda assim que o debate narcisista que de forma recorrente assalta os diversos clubes da direita que discute a patente me provoca algum aborrecimento e indiferença.
Na verdade, se nunca senti complexos de esquerda, como em geral me é reconhecido, também nunca me senti vinculado a complexos de direita, o que parece mais difícil de fazer aceitar.
Apaixona-me e angustia-me a procura da Verdade, da Beleza, da Justiça. Nisso sinto o mesmo sobressalto e entusiasmo dos 15 anos.
Já a discussão sobre se isto ou aquilo é mais ou menos de direita, confesso, não me aquece nem me arrefece. Nunca quis a marca, e nunca tive paciência para taxinomias. Parecem-me sempre manias de coleccionador de selos ou borboletas.
Estou a pensar nestes assuntos por mor dos actuais destaques que o tema tem vindo de novo a merecer. Foi o Manifesto da Direita protagonizado por Manuel Monteiro, foi o alvitre de um novo partido de direita relacionado com Pedro Ferraz da Costa, foi o Compromisso Portugal relançado por António Carrapatoso, é um pulular de direitismos.
Foi até o recente esforço classificativo de um mancebo que apareceu com uma inovadora distinção, entre direitas "moles" e "duras". Só com relutância consigo referir aqui último desarrincanço, já que me parece ser conversa francamente imprópria para este blogue - que nunca foi dado a pornografias nem é consultório de urologia. Mas não resisto a consignar a minha perplexidade quanto às virtudes que o ilustre teorizador atribui às "moles". Que lhe faça bom proveito.